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“A RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ADMINISTRAÇÃO”

COMO OBTER RESULTADOS EM SITUAÇÃO DESFAVORÁVEL?

AUTOR
Pedro Grava Zanotelli
Rua Prof. Luiz Braga, 2-66
Bauru (SP) – CEP 17041-050. Tel. (0142) 23-6382

INSTITUIÇÃO

Instituição Toledo de Ensino


Faculdade de Ciências Econômicas de Bauru
Praça 9 de Julho, 1-51
Bauru (SP) – CEP 17050-790
Tel. (0142) 34-2955. Telex (0142) 23-7235

Resumo

O objetivo é levantar questões sobre a realidade do nosso cotidiano, em busca de algumas propostas,
aproveitando a experiência das instituições filiadas à ANGRAD.

Tomando como foco as Faculdades de Administração localizadas em centros urbanos médios (150 a
300 mil habitantes), procura-se, primeiro, caracterizar a situação considerada desfavorável em relação ao aluno,
ao professor, à escola e à economia regional. Segue-se com influência dessas características no processo
ensino/aprendizagem de Administração.

O perfil do Administrador e o Mercado de Trabalho, levantados em pesquisa feita pelo CFA, são
comentados com vistas a novas informações sobre a situação, reforçando o entendimento de desfavorável.

Para se ter uma idéia do rumo a ser seguido, são apresentadas as especificações da escola da sociedade
pós-capitalista, na opinião de Peter F. Drucker.

O comentário de iniciativas e procedimentos que visam melhorar a eficiência do ensino de


Administração, procura abrir espaço para contribuições que possam ser intercambiadas entre as instituições
filiadas à ANGRAD

Palavras-chave

Ensino-Aprendizagem de Administração
Perfil do Administrador
Empresa Júnior
Estágio Supervisionado
Escola do Próximo Século.
COMO OBTER RESULTADOS EM SITUAÇÃO DESFAVORÁVEL?
AUTOR
Pedro Grava Zanotelli
Graduado em Administração e Diretor da Faculdade desde 1977
Rua Prof. Luiz Braga, 2-66
Bauru (SP) – CEP 1041-050

INSTITTUIÇÃO
ITE – INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DE BAURU

1. Objetivo

Nosso objetivo não é discutir a teoria do processo ensino/aprendizagem. Também não é o de apresentar
uma resposta para o sucesso. Nosso objetivo é levantar questões sobre a realidade do nosso cotidiano, em busca
de algumas propostas, aproveitando a experiência das instituições à ANGRAD.

2. O que caracteriza a nossa situação

Há que se distinguir as Universidades e as IES isoladas, e, entre elas, as oficiais e particulares. Há que
se distinguir, também, quanto à localização, as das capitais ou grandes centros e as do interior, de cidades
médias.
Tomando uma IES particular, de uma cidade média (de 150 a 300 mil habitantes), do interior de São
Paulo, sem esquecer, contudo, que não estamos isolados, mas em interação com a sociedade global, podemos
assinalar as seguintes características de nossa situação:

a) Ensino Exclusivamente noturno;


b) A quase totalidade dos alunos trabalhando durante o dia;
c) Grande parte dos alunos residindo em outras localidades, distantes até 100 km da sede da escola;
d) Alunos que vêm com formação deficiente do 2º grau;
e) Alunos que não contam com condições favoráveis para estudar em casa (ambiente inadequado e
falta de livros);
f) Professores com pouca qualificação;
g) Professores de tempo parcial, que vivem principalmente de outro emprego;
h) Escola cuja única fonte de receita são as mensalidades dos alunos, que são baixas;
i) Economia regional formada por pequenas e médias empresas, tanto da indústria como do comércio
e geralmente conservadora, com uma ou outra indústria manufatureira de maior porte ou agroindústria (usinas de
açúcar e álcool).

3. Influência dessas características no processo ensino/aprendizagem de Administração

Segundo Gagné (1) “a aprendizagem se realiza quando diferenças entre a performance que o indivíduo
apresenta antes e a que ele mostra após ser colocado em situação de aprendizagem”.

Ainda segundo Gagné, “deve-se, inicialmente, focalizar as habilidades da pessoa que aprende
(condições internas) e, em segundo lugar, a situação estimuladora, que é exterior a essa pessoa”.

Com essa noção em mente, tentemos analisar a influência das características da nossa situação sobre o
processo ensino/aprendizagem de Administração.

3.1 Considerando as condições do aluno

Os alunos que estudam à noite geralmente trabalham durante o dia. Assistem às aulas cansados e muitas
vezes com fome e, se vêm de outra cidade, pior ainda. Chegam tarde em casa, após as aulas (meia-noite ou mais)
e precisam levantar cedo no dia seguinte.
Esses alunos geralmente vêm mal preparados do 2º grau e não possuem condições para estudar em casa
– falta de lugar adequado, barulho de crianças e televisão, falta de livros.
A primeira influência está no comportamento em sala de aula. O tempo que seria dedicado ao repouso,
após um dia de trabalho, em vez disso vai exigir deles um esforço a mais. Se, em condições normais, o estudo já
representa um sacrifício, neste caso representa muito mais. Ao cansaço, portanto, junta-se uma sensação de
desconforto. Ter que ficar na sala de aula, muitas vezes ouvindo longas exposições ou explicações de questões
matemáticas que não conseguem assimilar, quando estariam mais predispostos ao descanso, é, realmente um
sacrifício que só uma minoria se dispõe a enfrentar. Resultado: inquietação, ansiedade para sair da sala, devaneio
(enquanto o professor explica o aluno está “longe”), conversa ou brincadeira com o colega. Enfim, aquilo que é
importante para a aprendizagem, que é a atenção concentrada, fica muito difícil.

Ainda em sala de aula, quando o professor usa métodos participativos, a falta de base para a reflexão,
para a associação, para a formulação de juízos, aliada à indisposição para a concentração, dificulta o
aproveitamento. O resultado é que se gasta muito tempo com um mínimo de conteúdo. Na exposição de trabalho
de grupo, na exposição dialogada e na apresentação de filmes com comentários no final, não raro a participação
se polariza em alguns alunos, com desligamento da maioria.

Outra influência está na “lição de casa”, no estudo extra-classe. Após uma semana de trabalho durante o
dia e aulas à noite, pouco ânimo sobra para mais estudo. Se juntarmos à pouca disposição para mais esse esforço,
a falta de condições – falta de livros e de local adequado (casas pequenas, sem acomodação e a presença de
muitas pessoas, principalmente crianças, mais rádio e televisão), teremos uma situação ainda mais difícil.
Salvam-se uns poucos esforçados que se reúnem e buscam algum abrigo onde possam estudar.

3.2 Considerando as condições do professor

São muitos os professores que começam a lecionar logo após a graduação ou só com a graduação,
recrutados assim, pela escassez de oferta e por serem de tempo parcial. Assumem as aulas fracos de
conhecimentos e despreparados pedagogicamente. Tornam-se professores, às vezes bons, juntando disposição
para enfrentar os fracassos com forte disposição de estudar, e às vezes nem tão bons, caindo na rotina das aulas
repetitivas e do desinteresse pelo aproveitamento dos alunos, com tolerância da disciplina.

Aos que têm vontade de melhorara, mesmo quando a instituição financia cursos de pós-graduação, as
limitações são muitas. Começa com a inexistência de pós-graduação na localidade e culmina com a
impossibilidade de freqüentar tais cursos durante a semana, por serem de tempo parcial e dependerem de outro
emprego, de onde não podem se afastar. Resultado, a pós-graduação fica restrita a raros casos de mestrado e a
cursos de especificação em fins de semana, nem sempre satisfatórios. É comum o professor fazer curso de
especialização que pouco ou nada tem a ver com a matéria que leciona, apenas para o cumprimento de exigência
legal e por ser a única oportunidade que encontra. É comum, também, o curso de especialização não
corresponder a um aprofundamento na matéria, montado com o propósito de atender a exigência legal, mas
oferecendo um programa com bordagem superficial de diversas matérias.

A primeira influência está no desempenho em sala de aula. Não conseguem despertar o interesse dos
alunos, não mantêm a disciplina e quando conseguem, é as custas de ameaças e intimidações. Para não se
exporem ao ridículo usam métodos pouco eficazes mas seguros para o professor, como ditado ou cópia dos
pontos na lousa, com comentários em cima do que está escrito, ou trabalham rigorosamente com o livro texto. É
comum, também, encobrirem as deficiências com uma suposta metodologia participativa – no início do período
letivo o professor divide a classe em grupos, dá um trabalho para cada grupo, faz um calendário para as
apresentações e, a partir daí até o final do período, são os alunos que dão aulas através das apresentações.

Outra influência está na avaliação da aprendizagem. Ou fazem provas elementares, para aprovarem todo
mundo e evitar reclamações, ou fazem provas difíceis para castigar os alunos. Nestes casos é comum não
mostrarem as provas aos alunos, depois de corrigidas. Nos exames, isso motiva muitos pedidos de revisão e o
professor simplesmente confirma a nota, sem maiores explicações.

A conseqüência é um ensino pobre e desmotivante.

3.3 Considerando as condições da escola


Vivendo só das mensalidades, que não podem ser altas devido às condições econômicas dos alunos, as
condições oferecidas pela escola, geralmente, não são satisfatórias. Às vezes são em alguns aspectos, mas não o
são em outros.

A escola pode ter boas instalações, razoáveis recursos didáticos, mas um quadro de professores
deficiente, mal remunerado. Outras vezes oferece uma remuneração razoável, mas instalações precárias e sem
recursos didáticos. E às vezes fica num meio termo. De qualquer forma, as condições não favorecem muito as
atividades, quer dos professores, quer dos alunos.

A primeira influência é sobre o ensino, isto é, sobre o desempenho do professor. Não encontrando
recursos adequados para trabalhar e sem estímulos que o motivem, seu desempenho será fraco. Não raro o
professor junta o desestímulo ao despreparo, o que torna a situação pior.

A outra influência é sobre a aprendizagem, isto é, sobre o desempenho do aluno. A precariedade das
instalações ou falta de recursos didáticos e de biblioteca adequada afeta o aproveitamento do aluno. Afeta tanto
pela falta em si dos recursos como pela desmotivação. Peter Drucker (2) afirma: “O que atrai as pessoas para
uma organização são os padrões elevados, porque estes criam auto-respeito e orgulho”.

3.4 Considerando as condições da economia regional

Os fatores anteriormente considerados afetam o processo ensino/aprendizagem independente do seu


objeto. No que se refere à economia regional, entretanto, a sua influência sobre o ensino/aprendizagem de
administração é particularmente significativa.

Empresas pequenas e médias, caminhando a reboque do progresso, pouco têm a dar. Não contribuem
nem para a aprendizagem em si, nem como estímulo a futuro emprego. Não servem de bom exemplo do que se
aprende na escola, nem são receptivas à sua aplicação. Quando de voltam para o progresso, só vêem o aspecto
tecnológico – informatização e automatização. São fracas em planejamento, finanças/contabilidade e
administração de pessoal. Esta última, que hoje assume maior relevância, é reduzida ao aspecto legal e às vezes,
ainda é executada por um escritório de contabilidade externo, que registra os empregados, faz folha de
pagamento, recolhimento das contribuições sociais, etc. Sobre Seleção e Treinamento, nem falar. O salário toma
por base o piso da categoria, fiscalizado pelos sindicatos, e, daí para a frente, os valores são discricionários, sem
critério que leve em conta o valor do cargo.

Essa situação influi primeiro no ensino, que toma exemplos internacionais ou nacionais distantes da
realidade do aluno; em seguida na aprendizagem, onde conceitos e princípios não encontram evidências na
realidade. Não que se veja isso pelo ângulo estreito da preparação de administradores que permaneceriam na
região, mas, seguindo o princípio do “pensamento global e ação local”, em que esta deve estar em consonância
com aquela.

4. O perfil do Administrador e o Mercado de Trabalho

A pesquisa recentemente divulgada pelo Conselho Federal de Administração (3), levantando o perfil do
Administrador, confirma que trabalhamos em situação desfavorável.

4.1 Referente ao Mercado de Trabalho

A maior parte dos Administradores encontra emprego no setor de serviços (61%), que como diz a
pesquisa, “corresponde à tendência do emprego em países adiantados”, e, aqui no Brasil, nos grandes centros.
Nos centros menores, que é o caso enfocado, os serviços, com o entendimento acima, resumem-se a extensões
dos grandes centros (filiais de bancos, escritórios regionais, etc.), que não oferecem as mesmas oportunidades.
Quanto à indústria (27%) e comércio (15%), são representados por pequenas e médias empresas que absorvem
menos (47% até 500 empregados) e os cargos são mais simples. Apesar de 47% estarem empregados em
empresas de até 500 empregados, 85% dos entrevistados afirmam que a utilização dos serviços de Administração
por pequenos e médios empresários é muito restrita. Entre os principais motivos estão: desconhecimento do
profissional Administrador (69%); a empresa não está preparada para absorver (36%); a faixa salarial é baixa
(21%) e o Administrador é preparado para grandes organizações (19%).
4.2 Referente à continuação dos estudos

A maior parte dos graduados não continuou os estudos (63%). Apenas 37% fizeram cursos de
especialização; 4% defenderam tese de mestrado e 0,4% defendeu tese de doutorado. Desse pequeno número, a
maior parte ainda se concentrou em São Paulo e Rio de Janeiro. Nos centros menores a grande maioria fica no
nível de graduação, procurando melhorar com eventuais cursos de extensão universitária, seminários e
autodidatismo. E é aí que encontramos os professores.

4.3 Referente ao perfil desejado

Os atributos e habilidades procurados pelos empregadores, na opinião de mais de 70%, são:


responsabilidade, liderança, iniciativa, capacidade de trabalho em equipe, tomada de decisões, criatividade,
comunicação pessoal, honestidade, autoconfiança e planejamento.

Entre 50% e 66% estão: motivação pessoal, espírito inovador, negociação, relacionamento pessoal,
capacidade de assumir riscos, convivência com pressões, estabilidade emocional, aparência, visão generalisa,
audácia, pontualidade e administração de conflitos.

Abaixo de 50% estão: sentimento de prioridades, operacionalização de idéias, administração do tempo,


ambição, delegação, capacidade de síntese, adaptabilidade, intuição e exercício do poder.

A aprendizagem se realiza dentro e fora da escola. Alguns fatores, como planejamento, tomada de
decisões, liderança, etc., se aprendem na escola e se desenvolvem fora, na experiência profissional. Outros
fatores, como responsabilidade e honestidade, se aprendem na escola e se desenvolvem fora, na experiência
profissional. Outros fatores, como responsabilidade e honestidade, se adquirem na convivência social (família,
trabalho, associações) e se reforçam na escola. Outros, como criatividade, iniciativa, espírito inovador, etc., são
potencialidades desenvolvidas na escola e fora, conforme as oportunidades.

O que chama a atenção é que , na hora de apontar as deficiências, a mais indicada (48%) foi a “falta de
conhecimento prático”. A questão especifica o tipo de conhecimento, mas dá para concluir que são
conhecimentos relacionados com as tarefas, mesmo porque logo a seguir vem “inexperiência profissional”, com
44%.

“Capacidade gerencial deficiente”, “falta de visão de conjunto” e “dificuldade em tomar decisões”, que
são outras deficiências, entre 31% e 42%, são compatíveis com os atributos e habilidades procurados. Mas 32%
reclamam de “bagagem teórica insuficiente”.

4.4 Influência no ensino/aprendizagem de Administração

A pesquisa do CFA confirma que enfrentamos uma situação desfavorável à eficiência e à eficácia do
ensino de Administração. O mercado, para o qual nos voltamos, se de um lado, no discurso, reclama a
modernização, de outro, na prática, é conservador e resistente à mudança. E a escola? Se opta pela vanguarda
distancia-se da realidade e, se opta pela prática, deixará de lançar um facho d luz para as futuras gerações” e
ficará olhando com a “lanterna na popa”, na expressão de Roberto Campos.

5. A Escola do próximo século

A onda de modernização e globalização, certamente, vencerá essa inércia, empurrando empresas e


escolas para a frente. A escola, geradora e transmissora de conhecimento, deveria estar à frente, puxando o
progresso, mas, infelizmente, mesmo nos lugares mais adiantados isso não acontece. É significativo o que diz
Ducker (4):

“Tenho falado de instituições, ao invés de empresas. Isto é intencional. Numa economia de mercado, as
inovações chegam mais facilmente às empresas. Na verdade, elas são igualmente importantes em todos os outros
campos do conhecimento. Porém, embora os princípios de inovação e caráter empreendedor sejam igualmente
aplicáveis a instituições governamentais ou universidade, a prática é diferente. Não há nada mais reacionário que
um corpo docente liberal em uma universidade. É o máximo em reacionarismo. O lema das universidades dos
Estados Unidos é que, quando um assunto fica totalmente obsoleto, então deve-se criar um curso a sua volta.
Para sobreviver e ter utilidade, as universidades precisam aprender a inovar”.

5.1 O modelo ultrapassado

Aprendemos e ainda trabalhamos em cima do modelo americano de administração industrial, mas os


novos tempos estão a reclamar outro modelo.

Karl Albrechet (5) diz que a General Motors criou o modelo de gestão, na administração industrial, e
que a Harvard Business School tem sido o templo-mor dos preceitos desse modelo, mas que, com a revolução
em serviços (para onde estão se deslocando os administradores) esse modelo se tornou obsoleto. Faz, entretanto,
uma ressalva importante: “Quando falamos de sua obsolescência em relação à administração de empresas de
serviços, devemos ter o cuidado de não jogar fora tudo aquilo que ele tem de valor. Qualquer paradigma que
substitua precisará oferecer soluções para a maioria dos problemas que são resolvidos pelo evangelho segundo
Harvard, além de proporcionar uma mudança de orientação. Deve ser dado crédito onde ele é merecido, e não
cair na tentação de dispensar a herança intelectual das últimas três ou quatro décadas, como se ela não fosse
válida para coisa alguma. Mas, é importante identificar os elementos do modelo Havard tradicional de gestão
que talvez não se apliquem mais no contexto de serviços”.

5.2 O novo modelo

Vale a pena conhecer o que diz Peter Drucher em Capítulo sobre “A Escola Responsável” (6).

Ali ele comenta que a escola tem sofrido o impacto de revoluções tecnológicas e das quais devemos
tirar lições. Diz que a primeira foi causada pelo uso do livro impresso, há alguns séculos, e cita Jan Amos
Comenius (1592 – 1670) como o “pai da escola moderna”, com a invenção da cartilha e do livro texto.

Uma outra revolução tecnológica vem ocorrendo agora, com os computadores de mesa e transmissão
via satélite diretamente nas salas de aulas, transformando a maneira de ensinar e aprender e mudando a economia
da educação de “intensiva de mão-de-obra por intensiva de capital”.

A primeira lição “é que a adoção de nova tecnologia de ensino e aprendizado é um pré-requisito para o
sucesso nacional e cultural – e também para a competitividade econômica”.

A “Segunda lição, igualmente importante: a tecnologia em si é menos importante do que as mudanças


que ela provoca na substância, no conteúdo e no foco do ensino da escola. São essas mudanças que realmente
importam e elas são eficazes mesmo que as mudanças na tecnologia do aprendizado e do ensino sejam
mínimas”.

“A tecnologia, apesar da sua importância e visibilidade, não será a característica mais importante da
transformação no ensino. O mais importante será repensar o papel e a função da educação escolar – seu foco, sua
finalidade, seus valores. A tecnologia será importante, mas principalmente porque irá nos forçar a fazer coisas
novas, e não porque irá nos permitir que façamos melhor as coisas velhas”.

“Portanto, o verdadeiro desafio que temos diante de nós não está na tecnologia, mas no uso que fazemos
dela. Até agora, nenhum país conta com o sistema de ensino de que necessita a sociedade do conhecimento.
Nenhum país tentou satisfazer as principais exigências. Nenhum conhece “as respostas”; nenhum pode fazer
aquilo que é necessário. Mas podemos ao menos fazer as perguntas. Podemos definir – embora vagamente – as
especificações para o ensino e as escola que poderão responder às realidades da sociedade pós-capitalista, a
sociedade do conhecimento”.

“Essas especificações exigem uma escola tão diferente daquela hoje existente quando a escola
“moderna”, cujas especificações Comenius elaborou há trezentos e cinqüenta anos, diferia daquela que existia
antes do livro impresso”.

“Aqui estão as novas especificações:


- A escola de que necessitamos deve prover uma educação universal de orem superior – muito além
do que “educação” significa hoje.
- Ela precisa imbuir os estudantes de todos os níveis e de todas as idades de motivação para aprender
e da disciplina do aprendizado permanente.
- Ela tem que ser um sistema aberto, acessível tanto a pessoas altamente educadas como a pessoas
que, por qualquer razão, não tiveram acesso a uma educação avançada anteriormente.
- Ela precisa comunicar conhecimento como substância e também como processo – aquilo que os
alemães chamam de Wissen e Konnen.
- Finalmente, o ensino não pode mais ser um monopólio das escolas. Na sociedade pós-capitalista, a
educação precisa permear a sociedade. As organizações empregadoras de todos os tipos – empresas, agências
governamentais, instituições sem fins lucrativos – também precisam se transformar em instituições de
aprendizado e ensino. As escolas devem, cada vez mais, trabalhar em parceria com os empregadores e suas
organizações”.

6. Transformando as dificuldades em oportunidades

Ao falarmos das nossas dificuldades e das novas exigências da sociedade em relação às escolas, não
estamos abordando nenhum tema novo. Há mais de meio século Kilpatrick (7) dizia como se estivesse se
dirigindo a nós:

“Antes de mais precisa análise dos modos de agir da escola, será conveniente relacionar os elementos
do nosso problema, até aqui separados. Temos de enfrentar um futuro desconhecido, em mudança tão rápida
como até agora ainda não sentida. Daí, a necessidade correspondente de que nossos alunos aprendam a adaptar-
se a uma situação, que nós, seus professores, apenas parcialmente podemos vislumbrar. Por sua vez, isso põe em
evidência a necessidade de uma novas espécie de aprendizado, não – como até agora - de respostas
preestabelecidas, mas de métodos de ação eficaz, em situações novas. Precisamos também liberar o espírito de
nossos alunos, para que possam cuidar de si, de maneira e em grau nunca alcançados pelas gerações anteriores”.

Hoje Peter Drucker (6) diz a mesma coisa com outras palavras: “Na sociedade do conhecimento, as
pessoas precisam aprender como aprender. Na verdade, na sociedade do conhecimento as matérias podem ser
menos importantes que a capacidade dos estudantes para continuar aprendendo e que a sua motivação para fazê-
lo. A sociedade pós-capitalista exige aprendizado vitalício. Para isso, precisamos de disciplina. Mas o
aprendizado vitalício também exige que ele seja atraente, que traga em si um grande satisfação”.

Tema antigo, por isso mesmo as escola não desconhecem, e cada uma, a seu modo e com seus recursos,
vem tentando cumprir a sua missão. Uma mais, outras menos criativas, todas procuram oportunidades para fazer
melhor o que se propuseram.

O que apresentamos a seguir, conforme declaramos no objetivo, não são exemplos de sucesso, mas uma
tentativa de abrir o debate para o intercâmbio de experiências que, acreditamos, seria muito valioso. Talvez até o
intercâmbio de “benchmarking” entre as escolas. O preceito a ser seguido é o de “procurar oportunidades nas
dificuldades”.

6.1 A experiência do aluno que trabalha

O aluno que trabalha está prendendo fora da escola. Muitas vezes coisas erradas, mas está aprendendo e
acumulando experiências. Esse fato tem sido motivo, às vezes, de desinteresse porque o aluno não percebe
sentido de utilidade naquilo que lhe está sendo ensinado. Isso seria útil um dia, no futuro, quem sabe! Outras
vezes o desinteresse é provocado pela presunção de que o certo é como ele está acostumado a fazer.

Essa é a dificuldade, mas pode ser a oportunidade que o professor tem de encontrar “matéria-prima” par
o seu trabalho. Um professor de Contabilidade costuma pedir a seus alunos em análise do sistema contábil da
empresa onde costuma pedir a seus alunos uma análise do sistema contábil da empresa onde costuma pedir a
seus alunos uma análise do sistema contábil da empresa onde trabalham. Um professor de R.H. faz exercício de
análise e avaliação de cargos usando os cargos dos próprios alunos. Um professor de administração da Produção
faz exercícios de “layout” com exemplos dos alunos que trabalham em indústrias. Alunos de Marketing fazem
planos para suas empresas. Alunos de O&M reorganizam as empresas onde trabalham, como exercício. Alunos
mais desenvolvidos em suas empresas. E assim se multiplicam as oportunidades.
6.2 Oportunidade também nas pequenas e médias empresas

As pesquisas do SEBRAE têm revelado grandes deficiências nas pequenas e médias empresas. A
pesquisa do CFA apontou as causas dessas deficiências: desconhecimento do profissional Administrador, não
estão preparadas para absorver o trabalho do administrador, só podem pagar pouco. A essas dificuldades
devemos acrescentar a resistência à mudança, natural nos pequenos e médios empresários, pessoas de iniciativa,
mas de formação puramente prática.

As pequenas e médias empresas geralmente não servem de modelo mas podem servir de campo de
aplicação. Heis algumas maneiras de utilizá-las:

- Como não aceitam estágio remunerado e, muitas vezes, nem serviriam par a permanência do
estagiário em suas dependências, pode-se usar o estágio supervisionado tipo consultoria. Não custa nada para a
empresa e nem causa o incômodo da permanência. Mediante a troca de correspondência a escola e a empresa o
estágio é oficializado e o aluno fica autorizado a entrar na empresa e obter as informações. O supervisor monta o
esquema e acompanha o desenvolvimento de todas as fases – levantamento, análise e projeto. Quando o aluno é
habilidoso, é comum a empresa aproveitar, mesmo que parcialmente, suas sugestões.

Esse tipo de estágio concilia também situação do aluno que trabalha e não pode assumir estágio
remunerado.

- A Empresa Júnior é a outra forma de aproximar a pequena e média empresa. Formada por alunos
em diversas fases do curso, com conhecimentos e habilidades diversos, devido ao estudo e à experiência de
trabalho, a Empresa Júnior pode prestar excelentes serviços de consultoria por um custo baixíssimo, em relação à
consultoria profissional. Vencidas as dificuldades iniciais de implantação e dos primeiro serviços, os resultados
obtidos servem para novas contratações. Os professores tanto podem ajudar, com orientações, como podem
extrair material para suas aulas. Como estímulo, em certas circunstâncias, a atividade da Empresa Júnior pode
servir como estágio.
- Usando alunos que são pequenos empresários e alunos que ocupam posições-chave é possível
promover seminários que atraiam os pequenos e médios empresários para debate de temas legados as suas
atividades.
- Pequenos e médios empresários são convidados a comporem o júri para julgamento de trabalhos
de pesquisa feitos pelos alunos.

6.3 Experiência profissional dos professores de tempo parcial

Os professores de tempo parcial têm o seu emprego principal em empresas ou no serviço público. Os
professores que atuam nas áreas que lecionam levam para a escola a vivência dos assuntos estudados. Recursos
Humanos, Marketing, Produção, Finanças, Materiais, Vendas, etc. são ministrados com mais objetividade.
Essa situação pode ser vantajosa também para a organização onde o professor trabalha. Tendo que
estudar para as aulas ele se atualiza e pode dar melhor contribuição a empresa. Mas também exige cuidados por
parte da escola, para evitar o contrário, que o professor traga para a escola uma experiência ultrapassada ou
puramente empírica.

6.4 A escola sempre pode fazer alguma coisa

Embora com recursos limitados, a escola sempre pode melhorar. Biblioteca, videocassete e TV,
micro-computadores, retroprojetores, etc., hoje estão com custos mais acessíveis. A aquisição programada
permite que a escola vá se equipando e oferecendo condições mis adequadas de ensino.

Boa parte dos professores, hoje, provêm do quadro de ex-alunos. Embora trabalhando, muitos se
dispõem a fazer curso de pós-graduação, principalmente os de especialização, em fins de semana. O pagamento
das mensalidades e das despesas de transporte e alimentação é um custo relativamente pequeno que pode ser
bancado pela escola, como incentivo.
É uma atividade que também pode ser programada, estabelecendo uma cota por período ou,
dependendo do caso, uma ajuda parcial. Quando o curso é em universidade pública, sem mensalidade, a ajuda
pode ser para cobrir as despesas de transporte, alimentação e de serviços de xerox.

Esses são exemplos de coisas que podem e que são por muitas escolas. Falta transformar isso em
metodologia que possa ser consolidada e intercambiada pelas escolas.

7. Comentário final – Em busca de significado

Trabalhar em situação desfavorável com o propósito de obter resultados que valham a pena, exige
muito esforço, uma espécie de evolução. Mas para isso é preciso que professores, dirigentes e alunos encontrem
significado naquilo que fazem.

Karl Albrecht (9) faz comentário muito interessante do que chama de “crise de significado”.

“Em muitos aspectos, a crise nos negócios atualmente é uma crise de significado. As pessoas não
estão seguras de si porque não compreendem mais a razão das coisas. Não têm mais noção de que as coisas estão
bem definidas e de que o trabalho intenso levará ao sucesso. Um número cada vez maior de pessoas sente
dúvidas e incertezas sobre o futuro de suas organizações e, conseqüentemente, sobre suas próprias carreiras e
futuros. Um número crescente de organizações e seus funcionários encontram-se em crise de significados”.

“Em muitos aspectos, a crise de significado das organizações empresariais espelha também uma crise
de significado das nações, uma crise confrontando as pessoas em muitos países. Visite qualquer país
desenvolvido no mundo e provável que você veja uma preocupação sem precedentes com as questões relativas a
objetivos, valores culturais e prioridades nacionais. Os líderes dessas nações são assediados por todos os lados
por pressões contraditórias, programas extremistas e demandas por soluções. Eles estão perguntando: Quem
somos como nação? O que desejamos? Qual deveria ser o nosso enfoque e nossas prioridades agora?”

“E no nível pessoal, um número cada vez maior de pessoas parece estar sentindo dúvidas que
decorrem dessa situação. Os valores sociais e morais estão sendo debatidos. O ativismo social está em alta;
algumas questões dividem tanto as opiniões que criam intensa animosidade e até mesmo violência. Muitas
pessoas parecem mais concentradas naquilo que as divide do que naquilo que têm em comum. há uma
necessidade profunda de um propósito comum, de um compromisso com uma causa comum”.

“Aqueles que aspiram a papéis de liderança nesse novo ambiente não devem não devem subestimar a
profundidade dessa necessidade humana de buscar sentido, a razão de ser. É um desejo humano fundamental, um
apetite que não será saciado. Em seu livro Man’s Search for Meanig, o psicólogo Victor Franfl expressa a visão
de que todos os seres humanos precisam de um propósito definido para suas vidas, algo em que possam
acreditar, ter esperança, algo para lutar. Aqueles que o perdem ou nunca adquirem se tornam improdutivos, na
melhor da hipóteses, e criminosos desajustados, na pior”.

Aquilo que pensamos, falamos e fazemos, na escola deve ter significado para nós e para os alunos.
Só isso dará disposição para ensinar e para aprender. Encerrando com Peter Drucker, já citado(2): “Quando você
vê escolas nas quais as crianças aprendem e outras nas quais elas não aprendem, não é a qualidade de ensino que
é diferente. A escola na qual as crianças aprendem espera que elas o façam”.

Bibliografia

GAGNÉ, Robert M. – Como se realiza a aprendizagem – Rio de Janeiro – Livros Técnicos e Científicos Editora
S/A – 1974.
DRUCKER, Peter F. – Administração de Organizações sem fins lucrativos – São Paulo – Livraria Pioneira
Editora – 1994.
Conselho Federal de Administração – CFA – Perfil do Administrador e Mercado de Trabalho – Brasília – 1995.
DRUCKER, Peter F. – Administrando para o Futuro – São Paulo – Livraria Pioneira Editora – 1992.
ALBRECHT, Karl – Revolução em Serviços – São Paulo – Livraria Pioneira Editora – 1992.
DRUCKER, Peter F. – Sociedade Pós-Capitalista – São Paulo – Livraria Pioneira Editora – 1993.
KILPATRICK, Willian H. – Educação para uma Civilização em Mudança – São Paulo – Edições Melhoramento
– 1965.
ALBRECHT, Karl – Programando para o Futuro – O trem da linha norte – São Paulo – Makron Books do Brasil
Editora Ltda – 1995.

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