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Construção da identidade: Primeiro e segundo nascimentos psicológicos Separação

Quem sou eu?  Diferenciação (dos 3-8 meses): durante 3 meses de vida, a mãe e o bebé vivem como
se fossem um só;
A nossa identidade começa com o nosso nome, que começa a ser pensado  Treino (treino de separação, dos 8-18 meses): locomoção – provocado por gatinhar (8
mesmo antes de nós nascermos. E a ideia de “Quem sou eu” ocorre na nossa vida toda. meses), depois começam a agarrar-se a coisas para andar 9-11 meses) e depois
andam (1 ano), devido ao desejo de compreender o espaço;
 O que sou?  Reaproximação (dos 18-24 meses): querem ir outra vez para o colo da mãe, fazem
 O que espero? birras, sobretudo nos casos em que há uma segunda gravidez, é como se tivessem
 O que gosto? medo de que os pais se afastassem, é como se quisessem ser bebés de novo.
 Como é que sou em termos pessoais, profissionais, relacionais, sexuais?
 Quais são os meus princípios? Individualização
 Quais são os meus valores?
 Qual é a minha postura ética perante adversidades/injustiça? Marcada pela consciência interna de objeto permanente (dos 24-36 meses), aqui
já têm um desenvolvimento da linguagem e começam afirmação do eu, depois do “não”.
Quais são as minhas estradas da minha vida?
Este processo de separação/individuação culmina com a afirmação da
 Quero poupar dinheiro para tirar Direito; identidade, por volta dos três anos de idade cronológica.
 Quero ter filhos;
 Quero ser voluntário; Spitz fala em 3 organizadores do Psiquismo
 Quero casar e viver com o meu parceiro.
Spitz estudou crianças pós-segundo guerra mundial e estudou a relação afetiva
Primeiro nascimento psicológico entre os bebés e os seus progenitores.

O 1º processo de separação-individuação (primeiro nascimento psicológico)  Sorriso (ocorre por volta dos dois meses de vida): primeira resposta social, ou seja, ao
descrito na obra Nascimento Psicológico da Criança. Simbiose e Individuação (Mahler, outro;
Pine & Bergman, 1977) inicia-se cerca do quarto mês de vida e vai até aos 3 anos.  Angústia do 8º mês/angustia ao estranho: caso tenha uma boa relação dos pais,
criança já sabe quem é conhecido e quem não é, por exemplo, se a mãe estiver a
É o estabelecimento do sentido de desligamento (ser destacado) do mundo real e conversas com uma amiga, a criança pode chegar a chorar e a gritar, porque compara
de relação com esse mundo, particularmente no que diz respeito às experiências do as duas e percebe que uma é estranha;
próprio corpo do sujeito, e ao principal representante do mundo como a criança o  O “não” (por volta dos dois anos de idade): diferencia o que é conhecido, do que não
experimenta, o objeto primário de amor (Mahler, Pine & Bergman, 1977) é, e está relacionado com a tomada de decisão.

Compreende fases de… Nota: por volta dos 3 anos, a criança já consegue dizer “eu quero”.

 Separação; Nota: Winnicot mencionou o jogo dos espelhos, segundo o qual, a criança toca em nós, e
 Individualização. faz o mesmo em si, por exemplo, toca no nosso nariz e depois do seu).

Este processo de separação/individuação culmina com a afirmação da


identidade, por volta dos três anos de idade cronológica.
Competências do recém-nascido Vinculação (Attatchment)

Visão  A natureza de ligação à mãe;


 Vinculação: ligação afetiva específica de um indivíduo a outro;
 Brazelton: descreve o olhar de um recém-nascido quando sentado numa cadeira com  O comportamento do bebé é constituído por um número de 5 respostas instintivas
uma inclinação de 30º. Começa por observar o ambiente com um olhar vago, as que são do início independentes. Estas respostas têm como função a ligação à mãe e
pupilas abertas e olhos com movimentos laterais brusco; aparecem com velocidades diferentes ao longo do 1º ano de vida;
 Fica com o olhar mais brilhante quando se aproxima uma bola vermelha para baixo e  Chupar, agarrar e seguir (o bebé é o primeiro ativo);
para cima a 25 cm de distância e começam a segui-la. Segue até um arco de 180º. Se  Chorar e sorrir (servem para ativar o comportamento da mãe).
se substituir a bola por uma face humana segue a 120º para cada lado ficando
fascinado, sobretudo se a face humana se mexer (exemplo: sorrir); Segundo processo de separação-individuação
 Stern: controlo da cabeça evolui de acordo com maturação do sistema motor visual;
 Todas estas atividades parecem programadas para chamar a atenção da mãe e Ocorre na adolescência com início na pré-adolescência (depois da puberdade) e
despoletar a interação; conduz à afirmação da identidade (integração do passado, consciência do presente e
 Crianças devem ser estimuladas desde o nascimento já que tem muitas capacidades. aceitação do presente projetando-se no futuro com delineamento de projetos),
separando- se emocionalmente dos pais e afirmando a individuação no final da
Audição e comunicação adolescência e no início da adultez emergente.
Este processo faz-se em primeiro lugar com os adultos e em segundo lugar com
 O bebé ao nascer já traz consigo consideráveis experiências sensoriais auditivas os pares da mesma idade:
vividas dentro do útero materno (chegam através da parede abdominal da mãe).
 Ao nascer já é capaz de identificar o som e a proveniência do som;  Primeiro na infância os meninos juntam-se aos meninos e as meninas às meninas e na
 De todos os estímulos prefere a voz humana e dentro destas a feminina; puberdade o mesmo;
 Comunica através dos sistemas sensoriais (fundamentalmente auditivo e visual);  Aos 10/11 anos querem fazer tudo o que os colegas fazem;
 Às 2 semanas de vida, a quantidade de vocalizações está relacionada com a  No entanto, na adolescência propriamente dita, os grupos são heterossexuais,
quantidade de linguagem materna. acontecem os primeiros namoros e a primeira experiência sexual e tudo o que o
 Preferem sons que ouviam na vida intrauterina. grupo diz ou faz é que é importante;
 Muitas vezes, na separação dos pais, são os pais que não se afastam:
O tato o Por um lado, vai sentir culpa e não vai conseguir afastar da mãe;
o Por outro lado, não vai conseguir encontrar companheira.
 As sensações principais da superfície da pele são a pressão, a dor, o frio e o calor  No final da adolescência propriamente dita e no início da adultez emergente, os
 Se o estímulo tátil for a palma da mão, o recém-nascido fecha-a como se quisesse outros deixam de ter tanta importância porque passam a afirmar (embora tenham
agarrar (reflexão palmar); muitos amigos pois a dimensão social é importante) mas não é vinculativa a tomada
 Se for a planta do pé ele(a) endireita-se como que procurando suportar o seu peso. de decisão;
 Nas primeiras gravidezes, casamentos costumam fazer as pazes com os pais,
O olfato aproximando-se dos mesmos, tendo em conta a opinião deles.

McFarlane (1975) demonstrou que com 7 dias de vida são capazes de se virar
sistematicamente para o lado de compressas em que foram embebidas em leite materno
distinguido de outro qualquer cheiro, foi feita uma experiência com isto, uma compressa
com leite estranho e outra com leite da mãe, e o bebé vai para a compressa da mãe.
Identidade e Intimidade Modelo de Erikson

Identidade de Erikson  Difusão de identidade: sentir-se perdido e à procura de si;


 Identidade opõe-se à difusão;
Embora Freud tenha utilizado o termo identidade interior (segundo o próprio  “o sentimento ótimo de identidade é… simplesmente vivido como um bem-estar… o
Erikson, 1980), mas apenas uma vez, e de forma acidental, para formular a sua própria sentimento de se sentir em casa dentro do seu corpo…” (Erikson, 1992).
identificação com o povo judeu), podemos considerar que o conceito de identidade, na
Psicologia, surge na década de 60 com Erikson (1963). Conceitos utilizados por Erikson cruciais na Psicologia

Experiência marcante de Erikson  A crise não é problemática, é sim um desafio, problemático é não vencer a crise;
 O conceito de moratória, isto é, um tempo de espera, um tempo de experiências
Acompanhar indivíduos que foram para a guerra do Vietname e que chegaram psicossociais prévio ao compromisso, anterior à afirmação da identidade do final da
aos EUA difusos/perdidos, porque já não eram as pessoas que tinham sido, alguns vinham adolescência e adultez emergente.
com problemas psíquicos, outros com falta de membros e a experiência de morte (refletiu
sobre as questões da identidade). Teoria da identidade psicossocial de Erikson (ocorre ao longo de toda a vida)

O conceito de identidade Concebe 8 fases ao longo da vida

 O conceito de identidade não é simples, nem novo (repare-se que já os filósofos 1. 1ª (até aos 2 anos) - confiança/desconfiança (fase oral: angústias do 8º mês);
gregos se preocupavam em responder à questão “quem sou eu”); 2. 2ª (dos 2 aos 3/4 anos) - autonomia/vergonha (autonomia esfincteriana)
 A terminologia utilizada para o definir é abrangente, expressando múltiplas aceções, 3. 3ª (dos 4 aos 6 anos) - iniciativa/culpa;
em função do modelo teórico subjacente do autor, ou da época, dificultando a 4. 4ª (dos 6 aos 12 anos) - realização/inferioridade (realização escolar- experimentar as
precisão e clareza deste conceito; aprendizagens e a inferioridade - não conseguir realizar as tarefas, sem sucesso);
 Para o conceito de identidade utiliza-se, entre outras, as expressões eu, self, self 5. 5ª (dos 13 aos 18 anos) - identidade/difusão de identidade (ter um eu afirmativo e
concept e personalidade; seguro ou sentir-se perdido e não saber quem é).
 O termo identidade expressa uma relação mútua evidenciando quer o sentido da
unidade no seu interior (auto unidade), quer a partilha persistente de um caráter Fases do adulto
essencial com os outros (Erikson, 1980).
 6ª jovem adulto - intimidade/isolamento (arranjar parceiros ou não);
Modelo de desenvolvimento psicossocial de Erikson  7ª adulto - geratividade/estagnação (ter filhos e o tomar conta ou não ter nenhuma
dedicação a nada que seja criativo);
 2 obras consagradas de Erikson: “Infância e sociedade” (1950) e “adolescência e  8ª idoso - integridade/desespero (coerência ou desespero- pessoas que não
crise” (1968); encontram um sentido para a vida nem uma realização pessoal).
 Transparece a ideia de síntese das identificações infantis, de unidade e de coerência
interna, no sentido prospetivo dos compromissos futuros (Erikson, 1968); Críticas ao modelo de Erikson
 A noção de identidade implica:
o Permanência: de certas características;  Por vezes é considerado um modelo especulativo, carecendo de investigação
o Continuidade temporal (apesar das mudanças dos tempos e dos contextos): fundamentada;
aceitar-se no passado, reconhecer-se no presente e projetar-se no futuro;  Baseia-se sobretudo na prática clínica psicanalítica;
o Unidade/coesão do eu: apesar de mudarmos, continuamos a ter o nosso eu.  Os conceitos têm uma carga moral;
 Aponta para uma sociedade idealista, onde o jovem se vai reconciliar e encontrar;
 Isto não invalida a importância do modelo de desenvolvimento psicossocial.
A vinculação e os contextos de desenvolvimento na adolescência e no adulto Concebe um modelo de desenvolvimento da identidade que passa por 4 estatutos

Abordagens 1. Difusão da identidade (identity diffusion)

James Marcia
 Divisão e descomprometimento com a vida;
 Foi influenciado por Erickson;  O indivíduo não parece possuir um núcleo interno;
 Após entrevistas a 20 rapazes, estudantes da Ohio State University (em 1964),  Tenta desempenhar papéis, mas abandona-os rapidamente;
concebeu e operacionalizou o Modelo dos Estatutos de Identidade;  Por exemplo, acontece muito com quem esta no divórcio, pessoa antes sabia quem
 Segundo Marcia (1993), o conceito complexo de identidade tem sido empregue era, o que queria e é como se tivesse perdido tudo.
tendo em conta dois critérios:
o A exploração de possibilidades; 2. Exclusão (foreclosure)
o A consequente assunção de compromissos.
A ligação do par exploração-compromisso é utilizada tanto nas intervenções  O indivíduo não viveu uma experiência de crise;
terapêuticas como nas educacionais.  Tornou-se naquilo que os outros pretendiam que ele fosse;
 Criou uma entrevista para medir a identidade na adolescência, a partir de 3  Não tomou uma decisão própria.
dimensões:
o Ideologia; 3. Moratória (moratorium)
o O comprometimento profissional;
o A implicação sexual.  O indivíduo encontra-se num período crítico, já que se questiona acerca de si e do seu
 O conceito de identidade pode ser considerado em 3 vertentes (Marcia, 1993): futuro, no entanto, a interrogação é vaga e contraditória;
o Estrutural;  Coloca várias possibilidades de escolha.
o Fenomonológica;
4. Identidade realizada (identity achiever)
o Comportamental.
 Em termos estruturais:
 O indivíduo, após passar por um período crítico, compromete-se numa preparação
o Trata-se de um estádio de crescimento do eu, cuja consolidação ocorre no
profissional e ideológica própria.
final da adolescência e no início da idade adulta (Marcia, 1993);
o Esta dimensão desenvolve os aspetos da personalidade que implicam os Ao longo da adolescência e da fase do adulto emergente, vai-se operando um
julgamentos e a eficácia; decréscimo de difusão e de exclusão e um aumento de moratória e de identidade
o Refere-se à forma como se lida com a experiência e a seleção pessoal das realizada, ou seja, o fim do desenvolvimento.
experiências mais significativas.
 Dimensão fenomenológica diz respeito à experiência de ter, ou não, um sentimento Medidas de identidade
de identidade;  Vários autores criaram medidas objetivas para medir os estatutos de identidade,
 Vertente comportamental diz respeito aos comportamentos observáveis; entre os quais Adams, Shea & Fitch (1979) que elaboram o The Objective Measure of
 O desenvolvimento da identidade é entendido como sendo unidirecional (tem que Ego Identity Status (OMEIS);
seguir a ordem dos 4 estatutos a baixo) e teleológico com o desenvolvimento  Apesar de novas tentativas para medir os estatutos de identidade, a entrevista de
psicológico. Marcia tem sido a mais utilizada;
 A Entrevista dos Estatutos de Identidade de Marcia (1980) foi traduzida para
português por Costa (1991).
Algumas conclusões dos estudos (Marcia, 1980) Conclusões dos estudos de Meeus et al.

 Os indivíduos em moratória apresentavam maiores níveis de ansiedade; Para a identidade relacional (amigos, companheiros)
 Os indivíduos em exclusão revelavam-se menos ansiosos, o que Marcia explica pelos
Os autores encontram um decréscimo com a idade da difusão e um aumento da
níveis defensivos destes sujeitos, já que são indivíduos vindos de famílias em que o
realização, indo no mesmo sentido encontrado por Marcia.
pai exerce a autoridade e incentiva os filhos a conformarem-se;
 Os indivíduos em exclusão e difusão são os que têm valores mais baixos de Para a identidade social
autonomia, tal como são mais dependentes de fatores de causalidade externa,
justificando assim o seu sucesso ou fracasso;  Os resultados expressam modificações na linearidade anteriormente encontrada, isto
 Os indivíduos em exclusão são mais rígidos e radicais e adotam valores autocráticos; é, uma diminuição da difusão, mas um aumento do encerramento;
 Os indivíduos em moratória ou identidade realizada eram os que apresentavam  Este encerramento também serve como fim do desenvolvimento da identidade,
maior autoestima e mais bem-adaptados; particularmente na identidade social;
 Os indivíduos em identidade realizada apresentavam uma visão equilibrada dos  O domínio da identidade social, em geral, manifestou ser, em parte, o prenúncio do
papéis parentais e referem sentimentos positivos em relação aos pais; desenvolvimento da identidade relacional.
 Conclui que este estatuto inclui elementos de criar e capacidade de tomar decisões.
Alain Waterman
Crítica ao modelo de Marcia

 Após estudos longitudinais, Marcia, 1980, foi mais cauteloso sobre a Após as investigações de Waterman & Waterman (1972) e Waterman (1993;
unidirecionalidade dos estatutos de identidade, afirmando que estes apenas sugerem 1999), o desenvolvimento da identidade é compreendido como não tendo um fim fixo (a
uma sequência epigenética de estatutos de identidade, não definindo a orientação; realização da identidade), e não tendo uma única direção, sempre dos baixos para os mais
 Apesar disso, surgem várias críticas (e.g. Waterman, 1993, 1999; Meeus, 1996; elevados estatutos. No entanto, o indivíduo não pode retroceder da moratória ou da
Meeus et al., 1999; Yoder, 2000). identidade realizada para a exclusão.

Estudos de Meeus, Ledema, Helsen & Vollebergh (1999) Modelo de Waterman

 Nos finais dos anos noventa, a equipa de Meeus, da Universidade de Utrecht (Meeus Moratória
et al., 1999) procedeu a um estudo com uma amostra de adolescentes holandeses  Difusão
(N=1538) (12-18 anos); Exclusão
 Através desta amostra considera quatro estatutos de identidade:
o Difusão (diffusion); Moratória
o Encerramento (closure);  Exclusão Para Waterman, os indivíduos
o Moratória (moratorium); Difusão em moratória exprimem maior
o Compromisso na realização (achieving commitment).
insatisfação com a vida escolar,
Realização enquanto os indivíduos em
 Empregou duas novas designações:
 Moratória exclusão afirmam-se mais
o Encerramento;
Difusão satisfeitos.
o Compromisso na realização.
 Os autores utilizaram duas componentes da identidade:
Moratória
o identidade relacional (amigos, companheiros);
 Realização
o identidade social (trabalho, escola, etc.). Difusão
Rodriguez-Tomé
Investigações portuguesas
Questionário
Matos et. Al (1999)
A partir de uma abordagem interacionista procura perceber a génese da
identidade. Para tal, constrói um questionário de tipo likert onde engloba 3 fatores sobre
Evidencia que, embora os adolescentes (final da adolescência) indicassem uma
a imagem própria: forte ligação com ambos os progenitores, os que se encontravam em difusão indicavam
uma vinculação menos forte aos pais (sexo masculino) e expressavam menos ansiedade
 Centrar-se em si mesmo (egotismo);
na separação.
 O domínio de si (capacidades de controlo e de persistência);
 Sociabilidade (a facilidade em estabelecer contactos). Identidade em filhos de emigrantes açorianos (Medeiros, 2001)
Respostas
 Costa Leste (EUA);
1. O adolescente preenche o questionário sobre si próprio - imagem própria;  Local de recolha de informações: Escolas Secundárias, Providence, Fall River e New
2. Pede-se ao indivíduo que formule as respostas como se fossem o pai, a mãe, os Bedford;
amigos e as amigas a responder - quatro imagens sociais;  Amostra: 106 participantes portugueses ou lusodescendentes.
3. Pede-se aos pais para responderem ao questionário e descrevem o filho ou a filha -
adolescente apercebido; Definição e caracterização da amostra
4. Por fim, o pai e a mãe formulam as respostas que segundo eles o filho escolheu para
 Sexo: 65 (61.3%) do sexo feminino e 41 (38.7%) do sexo masculino;
se descrever a si próprio - adolescente suposto.
 6º até ao 12º ano;
Resultados  Idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos;
 A maioria situa-se na faixa etária dos 15-17 anos:
 As correlações entre a imagem própria e as imagens sociais revelam correlações o Grupo 1: dos 10 aos 14 anos;
elevadas; o Grupo 2: dos 15 aos 16;
 Há maior afinidade entre as imagens sociais da mesma ordem (geração) do género o Grupo 3: dos 17 aos 19 anos.
pai-mãe;
 Quanto mais o indivíduo avança na idade mais ele dissocia a representação de si da Instrumentos
perceção que considera que os outros têm dele próprio.
 Survey: what am I?;
Recorreu à pergunta “Quem sou eu?” (1989)  Psychosocial Survey;
 Scale of Sociocultural Identity:
Organizou o conteúdo da resposta em três dimensões de personalidade: o A versão definitiva apresenta 36 itens;
 Ego-ativo: baseia-se nas referências concretas, nas atividades preferidas ou nos o Trata-se de escala de tipo likert com 4 possibilidades de resposta desde a
concordância “1. I feel exactly like this (or I agree strongly)” até “4. I don’t
gotos, sendo que encontrou esta dimensão, sobretudo, nos adolescentes mais novos,
feel this way at all (or I desagree strongly).
por exemplo, se pedirmos a um individuo para fazer um retrato de si, eles são
 Estudos de fidedignidade: Coeficiente alfa de Cronbach de 0.83
capazes de dizer: gosto do Benfica, gosto de futebol;
 Ego-estado: referências abstratas e existenciais do tipo: eu sou isto e pertenço a esta
categoria de sujeitos);
 Dimensão da sociabilidade: contempla os aspetos de personalidade e os sociais
acompanhada de satisfações de bem-estar.
Procedimentos Conclusões

 Foi feito um pedido de autorização às escolas para se proceder à  Os adolescentes distribuem-se pelos tipos de identidade considerados, mas a maior
 investigação; tendência é a afirmação da identidade sociocultural portuguesa. Não havendo neste
 Foi escrita uma carta pessoal (bilingue: versão Portuguesa e Inglesa) pedindo a caso diferenças entre os sexos;
colaboração dos pais e a assinatura dos mesmos, conferindo por escrito essa  Os adolescentes mais jovens (10-14 anos) apresentam tendência para afirmarem uma
autorização; identidade sociocultural mista, enquanto os mais velhos tendem a afirmarem se
 Passou-se os instrumentos em espaço de sala de aula com apoio de professores, na portugueses ou americanos;
sua maioria professores de Língua Portuguesa;  Só existem diferenças significativas entre os sexos aos níveis da identificação
 Os três instrumentos foram aplicados em simultâneo nos meses de maio, junho e americana e da confusão da identidade, em favor dos rapazes;
julho de 2002;  O processo de construção e desenvolvimento da identidade pode ser mais ou menos
 Os estudantes demoraram, em média, 50 minutos para responder aos três dificultado em função do espaço sociocultural (sentido abrangente) que inclui:
instrumentos. o Língua e a cultura de referência;
o País e a comunidade de pertença;
Resultados o Família;
o Escola;
 Background sociocultural (escolaridade primária e secundária): o Amigos e os pares.
o 30 (28.3%) - background português;
o 9 (8.5%) Americano;
o 65 (61.3%) mista: Português e Americano. Dois participantes não
responderam.
 Aprendizagem dos costumes e formas de vida dos portugueses:
o 96 (90.6%) aprenderam costumes e formas de vida dos portugueses.
 Aprendizagem da língua portuguesa:
o Apenas 7 (6.6%) não aprendeu português
o Língua falada em casa: Inglês e Português (32%); maioritariamente
português (24%); só português (21%), maioritariamente Inglês (17%); só
Inglês (7%).
 Autoavaliação de si próprios (identidade sócio-cultural):
o 40% dos participantes afirmam uma identidade portuguesa, 30% sentem-se
americanos e portugueses, 18% americanos, outra situação 9% e cerca de
3% afirmam que não sabem
Desenvolvimento Cognitivo Três princípios em que assenta a teoria do desenvolvimento cognitivo

Construtivismo Genético – Jean Piaget  Mudanças qualitativas: a criança não é um adulto em miniatura. Para Piaget existe
uma diferença qualitativa entre o adulto e a criança quanto ao modo de
 Como biólogo, estava interessado em questões relacionadas com ambiente, animais; funcionamento intelectual;
 Será que os seres humanos resolvem problemas da mesma forma que o animais?  Construção ativa do sujeito: para além de esquemas reflexos simples, só a
 Estudava a capacidade de adaptação; necessidade de conhecer (adaptação ao meio) é inata no ser humano.
 Nascemos programados para aprender com a interação com o meio; Desenvolvimento cognitivo opera-se pela construção ativa de estruturas que
 O comportamento e o desenvolvimento da inteligência resultam de uma construção possibilitem essa adaptação;
progressiva do sujeito em interação com o meio físico e social;  Descontinuidade: o desenvolvimento processa-se ao longo de momentos distintos
 Diz-se que Piaget é um construtivista genético, ou seja, ele acha que o sujeito (estádios) qualitativamente diferenciados.
constrói mas a partir das suas estruturas genéticas. Para Piaget as estruturas
psicológicas são isomorfas às estruturas genéticas, ou seja, elas assentam nas Piaget: conceito de inteligência
estruturas genéticas. Assim, o desenvolvimento cognitivo/psicológico acontece
devido ao genético. “Capacidade adaptativa e resolutiva do indivíduo, suscetível de crescente
estruturação (equilíbrio), através de uma sequência universal e invariante de estádios
O conhecimento é um processo de adaptação ao meio (todas as pessoas passam por estes estádios na mesma ordem”.

 O conhecimento (construção cognitiva) é um processo de adaptação ao meio, então Piaget: fatores do desenvolvimento (Piaget & Inhelder, 1979)
nos somos produto desta interação, sendo que estamos sempre a construir;
 Não somos produtos do meio;  Maturação do sistema nervoso (hereditariedade): para Piaget o desenvolvimento da
 Temos um papel ativo na construção dos esquemas ou estruturas que nos permitem inteligência constitui um prolongamento dos mecanismos biológicos de adaptação
conhecer e interpretar a realidade. É por isso que se incentiva uma pessoa idosa a (atividade reflexa, redes neuronais);
continuar a pagar as suas contas, a jogar sodoku, …  O meio e a transmissão social (experiências sociais do indivíduo): através delas a
 Através das ações do indivíduo sobre o meio é que este tem um papel na construção criança irá desenvolver a linguagem, a interação com os outros, regras de conduta,
do conhecimento. progressivamente interiorizadas e estruturadas;
 O fator de equilibração: Um fator que garante que o desenvolvimento intelectual
Princípios seja uma evolução dirigida, ou seja, um fator estruturador e direcional do
desenvolvimento.
 Construção ativa do sujeito: sujeito epistémico, ou seja, constrói o pensamento, que
muda, capaz de metacognição- pensar sobre o seu próprio pensamento; Piaget: mecanismo de equilibração
 Processo descontínuo: descontinuidade na forma de pensar; temos determinadas
respostas de um bloco, depois em determinada altura passamos para outro bloco, ou A equilibração progressiva, ou a adaptação cada vez mais perfeita, é conseguida
seja, há diferentes patamares no desenvolvimento cognitivo: estádios; através de dois mecanismos contínuos e complementares:
 Mudanças qualitativas: mudança de um estádio para o outro é uma mudança com
características diferentes. Sensório-motor é focado numa adaptação biológica, ou  Assimilação: esforço da criança, no sentido da “incorporação” do mundo exterior às
seja, nos processos biológicos mas vemos que no pensamento operatório concreto as estruturas já construídas (Piaget, 1973);
crianças já são capazes de fazer operações.  Acomodação: um mecanismo em sentido contrário, ou seja, a criança modifica-se a si
própria para se adaptar às situações novas que surjam.
Conceito de estádio
Comparação entre o pensamento da criança e o pensamento do adolescente
 Ordem sequencial e invariante: as aquisições cognitivas ocorrem numa determinada
ordem, sendo que cada estádio de desenvolvimento é o pré-requisito do estádio Infância
seguinte da hierarquia (comum a todos os sujeitos, partindo do mais elementar para
o mais complexo);  Pensamento limitado ao aqui e agora;
 Construção progressiva de estruturas traduzindo mudanças de pensamento  Resolução de problemas pelos detalhes;
qualitativamente distintas (diferenciadas, complexas…) mas contínuas;  Pensamento limitado aos objetos e situações concretas;
 Estruturas de conjunto: esquemas → operações ou forma de pensamento  Pensamento concentrado na sua perspetiva.
generalizável para as várias tarefas, mesmo podendo haver décalages (um degrau)
horizontais ou desfasamentos intra-estádio. Adolescência

Estádios de desenvolvimento cognitivo (Piaget)  Pensamento alargado a possibilidades;


 Resolução de problemas orientada pela verificação de hipóteses (situação
 Estádio sensório-motor (até aos 2 anos): aspetos sensoriais e motores, uma experimental);
inteligência física;  Pensamento alargado a ideias;
 Estádio pré-operatório (2-7 anos): antes das operações, ainda não somos capazes de  Pensamento alargado às perspetivas dos outros.
operar;
 Estádio das operações concretas (7-11/12 anos): já somos capazes de operar, por Estádio operatório formal: novas estruturas operatórias
exemplo, tenho a letra “ba”, consigo desmontar esta junção de letras como um “a” e
um “b”; são feitas através da manipulação de objetos concretos; Combinatória
 Estádio das operações formais (mais de 12 anos): operações com base em situações
hipotéticas sem ter os objetos concretos à nossa frente, em agrupamentos. A possibilidade de o sujeito agrupar ou combinar os objetos de todas as maneiras
possíveis pela generalização das operações de classificação e seriação antes adquiridas
Do pensamento formal ao pós-formal (lógica das proposições).

Estádio operatório formal: dos 11/12 aos 15 anos Três componentes essenciais para a formulação e teste de hipóteses

 Último estádio do desenvolvimento cognitivo, assim, para ele, este é o estadio em 1. Imaginar/idealizar antecipadamente todas as possibilidades de combinação entre um
que todos a partir desta idade se encontram); determinado número de elementos, classes ou proposições;
 O pensamento formal permite a reversibilidade sem o recurso à manipulação dos 2. Utilizar um método sistemático de combinação que permita verificar quais as
dados concretos estendendo-o às próprias proposições e hipóteses. Daí a combinações que existem, de facto, no conjunto das possíveis;
designação “hipotético- dedutivo” para este pensamento; 3. Tirar conclusões quanto às diversas relações que existem entre os elementos, classes
 Enquanto o pensamento concreto é a representação das ações possíveis, o ou proposições a combinar (Lourenço, 1997, p.319).
pensamento formal é, agora, a “representação de uma representação de ações
possíveis” (Piaget, 1973), ou seja, um pensamento em segundo grau ou grupo Klein; Combinatória: exemplos de problemas
 Em 1955, Piaget e Inhelder propuseram quer a crianças quer adolescentes 15
problemas de tipo físico-matemático como a oscilação do pêndulo, a flutuação dos Tomando pequenos grupos de 2, de 3 e de 4 elementos, quais os grupos que se
corpos, o equilíbrio da balança, e avaliaram as respostas através do método clínico; podem estabelecer na turma combinando o sexo e idade.
 Verificaram que os adolescentes após algumas experimentações semelhantes O conselho executivo de uma escola, confrontado com o problema de integração,
deixavam de manipular e enumeravam as hipóteses possíveis. Há assim a queria considerar todas as combinações e arranjos possíveis, a partir de 2 critérios género
subordinação do real ao possível. Estabelece-se o raciocínio hipotético-dedutivo. e etnia (branco e de cor):
1. Nenhuma criança;
2. Só rapazes brancos;
3. Só raparigas brancas;
4. Só rapazes de cor;
5. Só raparigas de cor;
6. Rapazes e raparigas brancas;
7. Rapazes e raparigas de cor;
8. Rapazes brancos e raparigas de cor;
9. Rapazes de cor e raparigas brancas;
10. Só raparigas brancas e de cor;
11. Só rapazes brancos e de cor;
12. Rapazes e raparigas brancos e raparigas de cor;
13. Rapazes e raparigas brancos e rapazes de cor;
14. Rapazes e raparigas de cor e raparigas brancas;
15. Rapazes e raparigas de cor e rapazes brancos;
16. Rapazes e raparigas brancos e rapazes e raparigas de cor.

Dupla Reversibilidade
Solução
A dupla reversibilidade (ou reversibilidade por supressão (inversão ou negação) e
reversibilidade por compensação (reciprocidade);  Ter em mente as hipóteses possíveis e testá-las;
 Em cada teste, variar um fator, enquanto o outro é mantido constante;
O “grupo das quatro transformações” (sistema INCR ou grupo Klein)  Ex: Considerando a hipótese: “O peso é um fator da velocidade do pêndulo”…

 Traduz um esquema proporcional semelhante ao equilíbrio e desequilíbrio de uma Teste da hipótese


balança em função de diferentes pesos e da diferença do comprimento do braço em
que esses pesos são colocados;  Os pêndulos devem ter os fios do mesmo tamanho (fator constante: comprimento da
 INRC: corda);
o (I) é a operação direta ou identidade:  1 pêndulo com um peso mais pesado;
o (N) a operação inversa ou negação:  1 pêndulo com um peso mais leve.
o (R) a operação recíproca ou reciprocidade:
o (C) é a operação correlativa ou negação da recíproca. Lógica das proposições (silogismos)

Exemplo: Problema da Balança Se o Paulo mentiu, então o Pedro matou o João. Se a arma do crime for uma
pistola, então o Paulo mentiu. Sabemos hoje que a arma do crime era mesmo uma
 (I) a balança está equilibrada sem qualquer dos pesos nos braços; pistola… Que se pode concluir?
 (N) se se colocar 1 peso a balança desequilibra;
 (R) se se colocar igual peso no outro braço ou se retirar o peso ela volta a estar  Pedro matou João;
equilibrada;  Paulo não mentiu;
 (C) é possível reequilibrar a balança colocando um peso no lado oposto, o qual deve  Paulo mentiu;
ser mais pesado se estiver mais perto do centro e mais leve se estiver mais longe.  Pedro não matou João;
 Nada se pode concluir.
Observações críticas O auditório imaginário

 Não se pode generalizar estes resultados, já que foram feitos em colégios da Suíça; O adolescente sente o mundo autoreferencialmente. Comporta-se perante um
 Vários estudos noutros países mostram que a origem social, as aquisições anteriores público invisível autoconstruído e centrado nele, por exemplo, as reações de um público
e a qualidade de ensino são fatores determinantes nas operações formais; de pessoas significativas que assistem à morte do próprio adolescente como se fosse um
 Lovell (1961) verificou que só 15% dos adolescentes de 15 anos tinham o cenário real em que ele mesmo é o protagonista (in Sprinthall & Collins, 1994).
pensamento formal;
 Martorano (1977) utilizando 10 provas de Piaget concluiu que os adolescentes aos 13 Estádio operatório formal: implicações pedagógicas/aquisições escolares
anos só conseguiam resolver 2,7 e que aos 17 a média das provas era de 6,1.
 Física: aceleração, velocidade, gravidade, atrito;
Implicações do pensamento formal  Matemática: proporção, equivalência de frações, números relativos;
 Desenho: perspetiva, profundidade;
 Capacidade de discutir de forma fecunda e construtiva, porque pressupõe adotar  Português: conceitos abstratos, metáfora, estilos de escrita;
hipoteticamente o ponto de vista do adversário sem adesão;  Geografia: o conceito de que a terra é redonda, conceber a localização;
 Interesse por problemas que ultrapassam o campo das experiências imediatas.  História: organização de uma cidade medieval.

Implicações do egocentrismo metafísico Críticas á Teoria de Piaget

 Uma das características do pensamento formal é o egocentrismo metafísico (Inhelder  Ao nível da universalidade dos estádios
& Piaget, 1955), em que os adolescentes “continuam a cometer um erro cognitivo o Estudos transculturais têm dado um forte contributo no
parcial ao supor que eles próprios são o objeto de pensamento das outras pessoas” reconhecimento da influência de variáveis como o nível sociocultural, a
(Sprinthall & Collins, 1994); escolaridade e a estimulação cognitiva na construção sociocultural da
 As duas características do egocentrismo dos adolescentes: inteligência, pondo em causa a universalidade dos estádios- fatores
o O auditório imaginário; sociais e culturais minimizados na Teoria de Piaget;
o A narrativa pessoal. o Esta universalidade é mais contestada no pensamento formal
 As quais foram bem estudadas por Elkind (1967). (Lourenço, 2002). Os resultados das investigações transculturais
salientam que nem todos os adolescentes e adultos atingem o estádio
Características do egocentrismo dos adolescentes (Elkind, 1967) do pensamento formal nos resultados das provas de Piaget.

 A capacidade para lidar, mentalmente, com este tipo de fantasias é o ponto central  A ausência de transições entre os estádios
do pensamento formal; o Simples descrição das mudanças entre os estádios em detrimento da
 A associação da narrativa pessoal com o auditório imaginário conduz à conclusão por sua explicação (mecanismos inerentes).
parte do adolescente de que é incompreendido pelos outros- sente-se único e
especial.  A verificação de que as provas piagetianas são menos preditores do desempenho
escolar do que os testes de Quociente de Inteligência;
A narrativa pessoal
 Questiona-se a possibilidade de transpor as estruturas e os processos operatórios
O adolescente tem a crença de que é único e que ninguém consegue do mundo físico para o mundo social, ou seja, questiona-se como é que o sujeito
compreendê-lo para além dele próprio, e então constrói uma narrativa, muitas vezes epistémico (sujeito do conhecimento) se comporta perante o mundo dos objetos
melodramática, que conta a si próprio e aos outros, mas que não é verdadeira (exemplos: sociais repleto de “incoerências, contradições e idiossincrasias”, uma vez que o
história de adoção e de orfandade) (Sprinthall & Collins, 1994); sujeito epistémico tem uma “preferência sistemática para se envolver nos problemas
e nos acontecimentos dizendo respeito aos objetos do mundo físico” (Ibidem);
 O excessivo peso da explicação das estruturas cognitivas em detrimento dos Objetivos
conhecimentos, capacidades, etc
o Pinto (1994) afirma que o modelo lógico-matemático por ser demasiado Pretende-se que os estudantes sejam capazes de:
complexo e limitado, não se adequa ao pensamento nem do
adolescente nem do adulto;  Compreender as mudanças no desenvolvimento cognitivo no estudante do ensino
o Marchand (1992) conclui que adultos com elevados níveis académicos e superior, a partir de modelos cognitivodesenvolvimentistas;
ligados ao ensino secundário e superior não resolveram 2 provas de  Analisar os méritos, os limites e as confluências dos sobreditos modelos;
combinatória, próprias do pensamento formal (apenas 59% resolveram  Refletir sobre os resultados e as implicações de investigações portuguesas sobre os
utilizando o raciocínio formal). níveis de desenvolvimento cognitivo do estudante do Ensino Superior;
 Deduzir implicações educacionais na promoção do desenvolvimento cognitivo para o
 A própria generalização do pensamento formal a todos os indivíduos e a todas as grupo-alvo em análise.
áreas no mesmo indivíduo, sem contemplar as diferenças individuais. Muitos jovens
e adultos não estão situados no nível das operações formais (Marchand, 1992) Investigação sobre o desenvolvimento do estudante do ensino superior
o Esta última autora defende que as limitações encontradas dependem de
algumas variáveis como: a natureza da tarefa, o material e as diferenças  Evidencia-se nos anos sessenta e setenta, especialmente, nos EUA (Sanford, 1962;
individuais - desvalorização de fatores da performance; Heath, 1968; Marcia, 1966; Chickering, 1969; Keniston, 1965; 1971; Kohlberg, 1969;
o Acrescente-se que Piaget no final da sua obra, em 1972, refere que as Perry, 1970);
operações formais podem manifestar-se apenas em áreas mais  Nos anos oitenta, ocorreu um grande salto qualitativo e quantitativo, sendo uma das
específicas da atividade académica ou da atividade profissional, mais significativas linhas de investigação na Psicologia (Pascarella & Terenzini, 1991).
admitindo, assim, a não generalização.
Investigação do estudante do ensino superior em Portugal
 A questão do terminus da inteligência se restringir ao pensamento formal
o Vários autores, ao invés, defendem que o desenvolvimento cognitivo  Refira-se, como marco significativo, o artigo de Hood & Ferreira (1983), intitulado
continua para além da adolescência, num processo de diferenciação e “Stages in the cognitive Development of university students”;
integração progressiva para um novo estádio- o estádio pós-formal  Assume-se que o estudante “tradicional” do ensino superior:
o Se encontra no período da adultez emergente (Arnett, 2000; 2004), período
Pensamento Pós-Formal marcado pela exploração de identidade, instabilidade, auto-centração,
vivência do sentimento “in-between” e idade das possibilidades;
Estrutura o Ao nível do seu desenvolvimento cognitivo, se enquadra para além do
pensamento formal.
1. O desenvolvimento cognitivo do estudante do ensino superior para além do
pensamento formal; 1. Desenvolvimento cognitivo do estudante do ensino superior para além do
2. Modelos de desenvolvimento cognitivo pós-formal pensamento formal
a. Modelo de Desenvolvimento Intelectual e Ético (Perry, 1970, 1981, 1999);
b. Modelo de Julgamento Reflexivo (Kitchener & King, 1981, 1994);  Atinge-se o patamar de equilíbrio do pensamento formal por volta dos 14-15 anos
c. Modelo de Reflexão Epistemológica (Baxter Magolda, 1992, 1995, 2002, (Inhelder & Piaget, 1955);
2004);  Este pensamento pode ser considerado final em relação aos estádios ulteriores
d. Modelo dos Quatro Estádios de Género Neutro (West, 1996; 2004). (estado adulto), atendendo a que não se modificará durante o resto da vida, ainda
3. Investigações com estudantes portugueses; que seja integrado em sistemas mais amplos (lógicas polivalentes)
4. Implicações educacionais e estratégias de promoção do desenvolvimento cognitivo  Esta conceção de télos do sujeito epistemológico, que termina o seu
no estudante do ensino superior. desenvolvimento cognitivo com as operações formais, operações complexas com
base numa lógica matemática (Inhelder & Piaget, 1958), despertou muitas críticas;
 A investigação subsequente (Kitchener, Lynch, Fischer & Wood, 1993) centrou-se, Modelo de Desenvolvimento Intelectual e Ético (Perry, 1970)
essencialmente, na demonstração de que:
o As operações formais não são adequadas para descrever as capacidades Níveis e Posições
cognitivas dos adultos;
o As tarefas usadas para investigar as operações formais têm pouco significado Nível: Dualismo
nos problemas dos adultos;
o Nem todos os adultos se enquadram nas operações formais. Posição 1: Dualismo Básico

Estádio pós-formal Os estudantes têm uma visão dicotómica e absolutista do mundo; os


conhecimentos são vistos como bipolares; entendem que existem respostas corretas que
Kramer (1983) descreve três características do pensamento pós-formal: são conhecidas pelas autoridades científicas e acreditam que elas distinguem
inquestionavelmente o correto do incorreto.
 Ser capaz de compreender a relatividade da natureza do conhecimento;
 Aceitar a contradição como parte da realidade; Posição 2: Multiplicidade pré-legítima
 Proceder a uma abordagem integrativa do pensamento.
 Ocorre um simples pluralismo;
O pensamento do adulto é cada vez mais subjetivo, pessoal e não-racional  Os estudantes aceitam a diversidade de opiniões e a incerteza do conhecimento não
(Labouvie-Vief, 1992). porque existem dois tipos de respostas, mas entende-se que as autoridades pouco
qualificadas lançaram a confusão do conhecimento;
2. Alguns modelos de desenvolvimento cognitivo pós-formal  Acreditam que a informação não é nem absoluta nem controlada externamente
porque cada pessoa tem o direito de ter a sua opinião própria.
Os modelos que iremos apresentar assentam nos pressupostos comuns de que:
Posição 3: Multiplicidade subordinada
 A complexidade do pensamento do estudante do ensino superior resulta de uma
sequência de conhecimentos diferenciados e reintegrados, de complexidade As avaliações dos estudantes são baseadas no contexto e na evidência; aceitam a
cognitiva crescente, assentes em formas/modos de conhecimento que substituem, diversidade e a incerteza do conhecimento como legítima, mas apenas temporariamente,
progressivamente, as abordagens mais simples do conhecimento; em áreas onde as autoridades ainda não descobriram a resposta certa.
 As experiências de aprendizagem dos estudantes são influenciadas pelo nível de
desenvolvimento cognitivo e pelos padrões de análise. Nível: Relativismo

W.Perry Posição 4: Os estudantes podem encontrar-se em uma de duas posições

 Iniciou as suas pesquisas em 1953, no Bureau Study Counsel (Centro de  A multiplicidade correlacionada: uma forma de oposição à autoridade, devido à
aconselhamento e acompanhamento tutorial), da Harvard University (Boston); compreensão da legitimidade da incerteza, argumentando que todas as opiniões são
 Aplicou um instrumento sobre conceções educativas acerca da natureza do válidas. O estudante compreende a incerteza do conhecimento como legítima e
conhecimento e da aprendizagem, a uma amostra de 313 estudantes do sexo aceita a diversidade de opiniões sobre o mesmo tema;
masculino, na licenciatura. Desta amostra selecionou 30 estudantes para entrevista;  Relativismo subordinado: o estudante é mais moderado na sua oposição à
 Em 1960, recorreu de novo à entrevista para uma nova investigação com estudantes; autoridade. As suas respostas são no sentido da comparação de diferentes pontos de
 Assim, a partir dos estudos de Piaget e de Kohlberg e dos resultados das suas vista, equacionando as vantagens e as desvantagens das suas respostas perante o
investigações nas universidades de Harvard e Radcliffe (recorrendo à entrevista e a que o professor deseja; é um pseudo-relativismo.
estudos longitudinais), publica a obra: “Forms of intellectual and ethical
development in the College Years: a scheme” (Perry, 1970).
Posição 5: Relativismo difuso Escape

Relativismo vago. Entendem o conhecimento e os valores (incluindo os das  Tem a ver com as limitações da identidade e pode ser uma sequência da
próprias figuras de autoridade) como contextuais e relativistas e compreendem o estatuto temporização;
dos casos particulares.  Dois percursos que conduzem ao afastamento e tendo por base limitações específicas
do estudante:
Posição 6: Compromisso antecipado ou previsão do compromisso o o percurso que conduz a processos dissociativos, por exemplo, o
estudante deprimido que não tem interesse por nada e que continua à
Vislumbra-se um compromisso e os estudantes sentem necessidade de o espera de que qualquer coisa aconteça na sua vida, mantendo uma
estabelecer, uma vez que todo o conhecimento depende de inúmeras variáveis como a atitude passiva;
qualidade da investigação, os dados e a interpretação dos resultados. A própria razão é o o percurso do encerramento em si “o encapsulamento”, marcado pela
entendida como relativa. fuga/evitamento da responsabilidade pessoal.
 O ESCAPE pode ser um momento de “revolta” transitória e prévia ao compromisso.
Nível: Compromisso no Relativismo
Recuo
Posição 7: Realização de um primeiro compromisso
Recuo (retreat) Retrocesso cognitivo a posições anteriores, isto como resultado
O estudante inicia os compromissos em alguma área da sua vida, por exemplo, da reação às complexidades já vividas, ou mesmo esperadas perante os desafios de
nas dimensões afetiva ou de carreira. posições mais avançadas.

Posição 8: Implicações do compromisso Limites e críticas ao Modelo de Desenvolvimento Intelectual e Ético

O estudante analisa as implicações do seu compromisso, assume as  Preconceito de género;


responsabilidades, decide prioridades e desenvolve estratégias.  Dificuldade de operacionalização e avaliação da mudança cognitiva de uma posição
para outra, sobretudo em grandes amostras;
Posição 9: Desenvolvimento de compromissos  Dificuldade em identificar estudantes nas últimas posições;
 Não identificação do compromisso no relativismo como um nível de complexidade
O estudante afirma a sua identidade através dos compromissos, compreendendo cognitiva; as posições 6-9 são processos integrantes da dimensão psicossocial e da
que são contínuos. As decisões do passado refletem-se no presente e no futuro. afirmação da identidade;
 Dificuldades em replicar o modelo noutras populações de estudantes (como na
Posições de Desvio China) têm posto em causa a universalidade do “scheme”.

Temporização

 Uma pausa que o estudante faz no desenvolvimento, durante um semestre ou um


ano académico, como se precisasse de uma pausa para reunir forças;
 Pode ser tempo em que se opera um desenvolvimento lateral, isto é, dar a si próprio
mais tempo para consolidar a estrutura de uma posição recentemente alcançada;
 Noutros casos, uma espécie de suspensão com o argumento de que não está
preparado e mantém-se à espera que a iniciativa torne a surgir dentro de si;
 Após a temporização o estudante pode retomar a sequência da linha de
desenvolvimento ou evoluir para outra forma de desvio – o escape.
Modelo de Reflexão Epistemológica de Baxter Magolda (1992, 1995, 2002, 2004) No modo de conhecimento de transição

 Partindo da questão de investigação sobre quais os modos de conhecimento que os  O estudante entende que algumas áreas do conhecimento são certas e outras
estudantes utilizam para dar sentido às experiências de formação e de incertas, o que cria a necessidade de compreender ideias complexas e geradoras de
aprendizagem; conflito;
 Baxter Magolda recorreu à investigação longitudinal e transversal, em 1986, com  O estudante escuta os pontos de vista do outro e estabelece interações entre colegas
estudantes predominantemente brancos, da classe média de ambos os géneros, da acerca dos conhecimentos, explorando trocas ativas de pontos de vista alternativos.
Universidade de Miami; Coloca ênfase no processo de aprendizagem e não apenas na aquisição de
 Partindo dos modelos de Perry (1970), de King & Kitchener (1981) e dos resultados da informação;
investigação de Belenky, Clinchy, Goldberger & Tarule (1986) (acerca das formas de  O papel do professor neste modo de conhecimento de transição é a promoção de
conhecimento das mulheres), Baxter Magolda (1992), foi para além daqueles métodos que apelem à compreensão, às trocas e à aplicação dos conhecimentos:
modelos centrando-se nos padrões de conhecimento em função do género;  De forma coerente o papel da avaliação é o de averiguação da compreensão dos
 Com uma amostra de estudantes da Universidade Miami, de ambos os géneros, conteúdos, ideias e experiências.
desenvolve um modelo construtivista de epistemologia pessoal explicativo do
pensamento dos estudantes do ensino do ensino superior; No modo de conhecimento independente
 A investigação longitudinal teve início em 1986, com 101 estudantes
(predominantemente brancos, da classe média) da Universidade de Miami. Os  A maioria do conhecimento é entendido como pessoal e, portanto, como incerto,
estudantes foram entrevistados em cada ano do curso. Destes, 70 estudantes dependente das crenças;
estiveram envolvidos na investigação 5 anos em que o estudo durou;  Os estudantes neste estádio reconhecem que tanto eles como os pares podem
 Procura estudar os padrões de conhecimento em função do género (mestria; assumir uma posição de autoridade na criação de ideias e esperam que os
impessoal; individual; de recetividade; interpessoal e interindividual); professores os encorajem a pensar e a expressar-se; reservam-se ao direito de
 Os modos de conhecimento foram estruturados em função de cinco domínios, a discordar e tomar decisões com base nas suas opiniões;
saber:  Os estudantes esperam que o papel do professor seja o de promover a troca de
o o aluno opiniões e o pensamento independente;
o os colegas  Coerentemente a avaliação é entendida como uma recompensa para o pensamento
o os professores independente.
o a avaliação
o a natureza do conhecimento No modo de conhecimento contextual

No modo de conhecimento absoluto  Os estudantes procuram validar com conhecimentos especializados os seus
argumentos e procedem criticamente em relação às opiniões de outrem;
 O conhecimento é entendido como certo e é apanágio de certas autoridades;  Esperam que os professores estimulem a análise crítica de problemas, ideias e
 O estudante adquire conhecimentos através da fonte de autoridade académica (o perspetivas e comprometem os pares e os professores a trocarem opiniões, de modo
professor), e este tem como papel transmitir os conhecimentos e assegurar-se de que a validarem o seu conhecimento;
foram compreendidos;  Baxter Magolda (1995), com base num estudo longitudinal de sete anos, concluiu
 A incerteza do conhecimento existe apenas quando os estudantes não conhecem a que o pensamento absoluto decresce ao longo da frequência do ensino superior,
resposta certa. Através da avaliação, o professor afere se os conhecimentos foram ou sendo pouco expressivo nos últimos anos da licenciatura;
não adquiridos;  Tal como os modelos atrás referidos, a autora encontrou uma progressão cognitiva
 De acordo com Bock (1999), este modo de conhecimento assemelha-se ao nos estudantes, indo de níveis de menor elaboração (nos primeiros anos da
pensamento dualista do modelo de Perry (1970). licenciatura) para níveis de complexidade crescente, nos anos terminais da
licenciatura e na pós-graduação (sobretudo o conhecimento contextualizado);
 Baxter Magolda (1992) verificou uma relação entre padrões de conhecimento e Investigações do desenvolvimento cognitivo pós-formal com estudantes portugueses
género nos três estádios iniciais;
 No homem estudante encontrou os seguintes padrões de conhecimento:
o mestria (no conhecimento absoluto);
o impessoal (no conhecimento de transição);
o individual (no conhecimento independente).
 Na mulher estudante os mais característicos foram:
o recetividade (no conhecimento absoluto);
o interpessoal (no conhecimento de transição);
o interindividual (no conhecimento independente).
 Não encontrou qualquer relação no modo de conhecimento contextual;
 Acrescentou que estes padrões não são exclusivos de qualquer um dos géneros; pois
homens e mulheres evidenciavam mais semelhanças do que diferenças;

Conclusões

 Apoiando-se num estudo longitudinal de sete anos, Baxter Magolda (1995) chegou à
conclusão de que o pensamento absoluto decresce ao longo da frequência
do ensino superior, sendo quase inexpressivo nos últimos anos da licenciatura;
 Verificou uma progressão cognitiva nos estudantes, indo de níveis de menor
elaboração (nos primeiros anos da licenciatura) para níveis de complexidade
crescente, nos anos terminais da licenciatura e na pós-graduação (o conhecimento
contextualizado observa-se sobretudo na pós-graduação).

Méritos do modelo de reflexão epistemológica

 O modelo tem os méritos de reconhecer o papel ativo do estudante do ensino


superior no processo de aprendizagem, de valorizar a experiência do estudante na
aprendizagem, de evidenciar as aprendizagens significativas e colaborativas, e de
conceber a avaliação de uma forma integrada, em consonância com o modo de
conhecimento e as metodologias utilizadas;
 Releva o professor como facilitador de aprendizagens promovendo a interação da
aprendizagem, as experiências e os pensamentos dos estudantes (Baxter &
Terenzini, 1999);
 Tem a vantagem de evidenciar a importância das crenças no processo educativo e de
se poder inferir implicações educacionais para a otimização do desenvolvimento
cognitivo do estudante do ensino superior.

Limites do modelo

Crítica: A forma como os professores percebem a natureza do conhecimento e o nível de


cada curso influenciam o contexto de aprendizagem (Welte, 1997).
Implicações educacionais e estratégias de promoção do desenvolvimento cognitivo no
estudante do ensino superior

Mudança epistemológica no Ensino Superior

 A mudança epistemológica com o processo de Bolonha está interrelacionada com a


mudança cognitiva que se espera nos estudantes e implica:
o passar de uma lógica de consumo de conhecimentos e da manutenção
de práticas pedagógicas, centradas na reprodução de conhecimentos,
para uma nova lógica de produção, de construção mútua, ou de co
construção entre o professor e os estudantes;
o desde o espaço estrito das salas de aulas, ao trabalho independente
elaborado pelo estudante, até à organização da instituição do ensino
superior, entendida, globalmente, como comunidade aprendente.

Formação inicial

 Implica:
ocontemplar a mobilização de um pensamento reflexivo em Psicologia;
osaber lidar com a diversidade de personalidades, culturas e contextos,
com a incerteza e os comportamentos de risco;
o saber partilhar conhecimentos e práticas;
o delinear estratégias em equipa para a resolução de problemas bem e ou
mal estruturados.
 Esta formação pressupõe a aquisição das capacidades de organização, de comparação
e coordenação de múltiplos pontos de vista, com o intuito de facilitar o processo de
tomada de decisão e de intervenção em contextos incertos e ambíguos.

Estratégias de promoção do desenvolvimento cognitivo no estudante

• Discussão sobre tópicos controversos;


• Confrontação com dilemas;
• Questionamento;
• Debate;
• Exposição de temas e análise crítica integrando diferentes abordagens;
• Apresentação e discussão sobre os resultados dos estudos exploratórios;
• Elaboração de problemas bem e mal estruturados envolvendo discussão conjunta
sobre os mesmos;
• Colaboração em projetos de investigação;
• Discussão de problemas emergentes da comunidade ou da universidade e
problematização de estratégias de ação;
• Participação em eventos científicos (organização e comunicações).
Desenvolvimento Moral Abordagem de Aprendizagem Social (Burton, 1976; Mischel & Mischel, 1976; Bandura,
1991)
O que é a moralidade?
A tónica é posta na ação moral, nas normas concretas e específicas, na
Falar de moralidade é falar no respeito por certas normas e princípios. Normas e orientação para códigos de conduta e na aprendizagem social. Ou seja, o que eu vejo os
princípios que são sociais e prescritivos ou normativos (Lourenço, 1998, p. 19) outros fazerem, no entanto, não há determinismo, ou seja, nem todas as crianças vão ser
marginais se viverem num bairro.
A moralidade está ligada ao:
Abordagem estrutural-construtivista (Piaget e Kolhberg)
 Dever mais do que ao ser;
 Domínio da justiça.  Jean Piaget (1932) foi pioneiro na procura da génese do desenvolvimento moral;
 Depois Lawrence Köhlberg foi até hoje quem melhor estou o desenvolvimento moral.
Diferença entre Normas e Convenções (Lourenço, 1998) Concebeu o desenvolvimento moral em níveis e estádios de desenvolvimento (1971,
1976, 1984, 1987).
Normas morais
O enfoque é colocado no raciocínio moral, nos princípios éticos universais (ex:
 Têm a ver com a justiça e o bem-estar do outro; não matar). Os princípios morais são construções racionais do sujeito em interação social.
 São obrigatórias e reguladas socialmente.
Estudo do Desenvolvimento Moral
Convenções sociais
Em Portugal
 (ex: dar os bons dias, chamar o médico por doutor, chamar o professor por professor,
usar máscara para nos protegermos e aos outros); Quem mais estudou o desenvolvimento moral foi o professor Orlando Lourenço
 Não são obrigatórias, mas são uniformidades comportamentais; (Professor reformado de Psicologia do Desenvolvimento da Faculdade de Psicologia da
 Tem a ver com a sociedade em que nos encontramos. Universidade de Lisboa).

O conceito de desenvolvimento moral Piaget (1932)

 Refere-se aos domínios do dever, da justiça, dos valores, do respeito por certas Distingue 2 fase (termo mais flexível, porque pode haver elementos de
normas e princípios; autonomia moral numa criança heterónoma, e vice-versa do desenvolvimento moral:
 É um conceito diferenciado em função das perspetivas teóricas (Lourenço, 1998).
 Fase da moral heterónoma:
Abordagens do Desenvolvimento Moral o Moral da obediência, do constrangimento e do respeito unilateral;
o Esta fase é mais frequente em crianças mais pequenas, grosso modo até aos
Abordagem Psicodinâmica/Psicanalítica (Freud, 1968) 8/9 anos;
o Criança faz algo para evitar o castigo.
O enfoque é colocado na identificação com os valores e padrões morais das  Fase da moral autónoma:
figuras de referência (a postura moral é dada pelos mais velhas, principalmente pelos pais o Uma moral que já não se rege pela obediência ou evitamento do castigo,
e a criança cresce com este modelo de referência). Nesta perspetiva, a influencia das mas sim pela cooperação e pelo respeito mútuo;
figuras de referência é fundamental. o Mais frequente nas crianças e pré-adolescentes a partir dos 10/11 anos, nos
adolescentes e nos adultos;
o Adulto faz porque acha que é o melhor.
Kӧhlberg (1984)  A criança confunde moralidade com castigo (os grandes chefes são os pais e os
professores: poder físico e exterior);
 Essência da moralidade reside no sentido da justiça, do que no respeito pelas normas  A ação é tanto mais injusta quanto maior for o dano causado e a transgressão deve
morais ou sociais; levar ao castigo como reação automática;
 A moralidade tem mais a ver com considerações de igualdade, de equidade (retidão,  Comparando com o modelo do desenvolvimento moral de Piaget trata-se de uma
imparcialidade), de contratos sociais e de reciprocidade das relações humanas; moral heterónoma, ou seja, externa à pessoa (Piaget, 1973) – pensamento pré-
 Avaliação empírica, através do questionamento e justificação pessoal sobre dilemas operatório;
morais (9 dilemas) *exemplos de dilemas na página 249*;  O sujeito (a criança) nunca se coloca no ponto de vista de outrem;
 Concebe o desenvolvimento moral como sendo um processo de evolução do  Não distingue perspetivas diferentes da sua; quando tenta coordenar as ações, não
raciocínio moral, de diferenciação e integração, de patamar em patamar, e vai além de operações de justiça por critérios externos, físicos e materiais. (Lourenço,
hierarquizado em três níveis; 1998)
 O desenvolvimento moral assenta no desenvolvimento cognitivo, isto é, quanto mais
estruturado e elaborado for este, mais elevado será o nível de raciocínio moral; Exemplos do estádio 1, a partir do dilema de Heinz
 Defende uma hierarquização de conceções e cognições morais, resultantes de um
processo de construção pessoal, orientado para princípios éticos universais e  “Heinz não devia roubar o medicamento porque não tinha autorização”;
reversíveis tais como a justiça.  “Heinz deve roubar porque se não a mulher bate-lhe”;
 “Só podia roubar se fosse um roubo muito pequeno; aqui não pode roubar porque o
Os 3 níveis do desenvolvimento moral de Köhlberg remédio custa muito dinheiro”

Níveis/estádios Estádio 2: moral do interesse

 Cada nível de desenvolvimento moral tem dois estádios de desenvolvimento;  A decisão é feita em função do prazer imediato, do interesse pessoal (calculado sem
 Sempre com vista a um estádio final, a um telos, isto é, o nível pós-convencional e um ter em consideração a relação interpessoal);
estádio ideal moral (o estádio seis), duma moral universal.  Não são ainda interiorizadas as convenções, as regras e normas;
 As regras e normas, ao invés, são entendidas como sendo externas ao próprio
Estes são os níveis: indivíduo;
 As ações são consideradas justas quando permitem satisfazer desejos, interesses e
 Nível Pré-Convencional: corresponde ao pensamento concreto do desenvolvimento necessidades do próprio;
cognitivo de Piaget;  As crianças já distinguem as perspetivas em confronto, mas ao coordená-las fazem-
 Nível Convencional: corresponde ao desenvolvimento pensamento formal no nas de um ponto de vista individualista e concreto;
desenvolvimento cognitivo de Piaget;  São calculistas, pragmáticos e hedonistas (prazer) (ou seja, em caso de conflito, cada
 Nível Pós-Convencional: corresponde ao pensamento pós-formal do um que se arranje) (Lourenço, 1998);
desenvolvimento cognitivo dos adultos emergentes e adultos, mas concebidos pelos  Ex: pede um par de sapatilhas sem ter em conta se o pai tem dinheiro.
pós-piagetianos como Perry, 1970; Commons, Richards & Armon, 1984.
Exemplos do estádio 2, a partir do dilema de Heinz
Nível Pré-Convencional
 “Heinz deve roubar porque estava atrapalhado; se eu tivesse lá também roubava”;
Estádio 1: moral do castigo  “Heinz não deve roubar porque a sua mulher sempre foi má para ele”;
 “Heinz não deve roubar acabava sempre por ser descoberto” “Heinz deve roubar, em
 Obediência à autoridade para evitar o castigo; outra altura é ele que vai precisar que a mulher lhe faça um favor”;
 Orientação para a obediência à autoridade (os mais velhos) para evitar o castigo;  “Por que razão devia roubar se não gosta da mulher?”;
 “Ele deve roubar porque a sua mulher não queria morrer.”
Nível Convencional Nível Pós-Convencional

Estádio 3: moral do coração Estádio 5: da relatividade da lei

 Moral do bom menino, boa esposa, bom marido, bom profissional; moral da  A lei é relativa, não é absoluta, isto porque os princípios imperam sobre as leis;
aprovação social;  A lei não está acima dos valores como a vida e a liberdade, são feitas por grupos e as
 Caracteriza-se pela moralidade relacional e interpessoal, humanizada e afetiva, pelo minorias tem que ser defendidas independentemente das leis (Lourenço, 1998);
respeito com as convenções, com as regras sociais, com o bem comum da sociedade  A postura dos sujeitos já não é de manutenção do equilíbrio social, mas de
e pela atitude comportamental do agradar aos outros (um certo altruísmo ingénuo transformação social, em prol da utilidade social, da defesa da igualdade e da
de transformação do mundo, de justiça social), da submissão das posições pessoais à universalidade.
tomada de decisão dos pares;
 O estádio 3 é o estádio mais frequente dos adolescentes, na fase da adolescência Exemplos do estádio 5, a partir do dilema de Heinz
propriamente dita.
 O Henrique deve roubar mesmo que a pessoa doente seja um inimigo. O direito à
Exemplos do estádio 3, a partir do dilema de Heinz vida é básico e universal;
 Uma sociedade que não garante o direito à vida é no mínimo injusta;
 O Henrique deve roubar porque o farmacêutico foi duro e cruel em relação à sua  O Henrique deve roubar. O dever moral de salvar uma vida quando isso é possível
mulher; deve ser assumido. Se alguém o não reconhece deve-se assinalar que desse modo
 O Henrique devia roubar. Se fosse ele a pessoa doente também não gostaria que lhe não assume a sua ação como universal e reversível.
salvassem a vida?;
 Agiu por amor, não deve ser condenado. Estádio 6: razão universal

Estádio 4: moral da lei  É o estádio final, isto é, o telos do desenvolvimento moral;


 Há uma consciência clara da universalidade e da reversibilidade dos princípios éticos;
 A maioria dos adolescentes encontra-se no nível de desenvolvimento convencional;  Reversibilidade → Teria eu a mesma solução se trocasse de posição?);
 Só uma minoria de adultos, com idades superiores a 20-25 anos, se situa no nível pós-  Sacrificar a sua vida pelo bem de muitas vidas;
convencional e designadamente no estádio 5 da relatividade da lei;  O estádio 6 foi abandonado por Kohlberg, do ponto de vista empírico, no final da sua
 Os indivíduos passam a ter em conta a relação interpessoal; obra, dada a raridade de casos encontrados (seriam exemplos figuras como Gandi,
 As pessoas no estádio 4 estão mais orientadas para as normas e leis gerais para o Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá).
equilíbrio do sistema social;
 O indivíduo coloca-se essencialmente como cidadão, numa posição de compromisso Exemplos do estádio 5, a partir do dilema de Heinz
com as regras sociais e com os deveres de cidadão cumpridor dos deveres no
exercício de cidadania.  Se o Heinz for levado a tribunal, o juiz vai ter de confrontar-se com uma situação
delicada: ter ao mesmo tempo de defender as leis do estado, e de testemunhar que
Exemplos do estádio 4, a partir do dilema de Heinz essas leis são manifestações imperfeitas de princípios mais elevados. Deve absolver
Heinz e, por razões públicas suspender-lhe a pena;
 O facto de gostar da sua mulher não lhe permite roubar o medicamento. Se a decisão  Heinz deve roubar. O dever moral de salvar uma vida deve sempre ser assumido. Se
de obedecer às leis fosse do foro de cada um, lá se ia a justiça e abriam-se todos os alguém não o reconhece deve-se-lhe assinalar que desse modo não assume a sua
precedentes?; ação como universal e reversível.
 O Henrique deve roubar. A lei que proíbe o roubo não se pode aplicar naquele caso,
mas deve estar preparado para aceitar as consequências do seu ato e pagar uma
indemnização ao farmacêutico.
Avaliação do Desenvolvimento Moral Promoção do Desenvolvimento Moral

Críticas e limites ao Modelo de Desenvolvimento moral de Kohlberg Tratam-se de programas de promoção do raciocínio moral, através da discussão
de situações que impliquem a descentração social, o conflito de interesses, o posicionar
 Uma parte das medidas de avaliação advêm da própria concetualização de Kohlberg; se perante perspetivas e valores em confronto (através de conflito cognitivo ou sócio-
 Uma parte devido à oposição a Köhlberg, a partir das críticas de Carol Gilligan; cognitivo). Em suma, uma educação para o pensamento autónomo e auto-crítico.
 Medidas de entrevista (Sara & Shibley, 2000):
o Aplicação de dilemas pró-sociais de Eisenberg et al. (1983); Programas de desenvolvimento moral
o Entrevista de Julgamento Moral de Köhlberg (Colby & Kohlberg, 1987).
 Medidas objetivas (Sara & Shibley, 2000): Constam de discussão de dilemas, evidenciam-se os de:
o Care Response Orientation (Atunzu, 1986);
o A Ethic Care Interview (ECI, de Shoe e Marcia, 1991);  Blatt (1969):
o Defining Issues Test (DIT, de Rest, 1979). o Discussão uma vez por semana dos dilemas de Köhlberg a alunos do 6º ano
de escolaridade;
As críticas tem sido, sobretudo, em relação a… o Após estudo experimental com avaliação inicial e final (e grupo de controlo),
verificou-se que os estudantes do grupo experimental tinham evoluído no
 à universalidade dos estádios morais; mesmo estádio, ou até mesmo mudado de estádio.
 ao não contemplar a influência do meio e das diferenças culturais;  Smetana (1981) e Gilligan (1982): programas constam de discussão de dilemas reais.
 à não consideração do efeito da variável género (e.g. Carol Gilligan);
 à não valorização das características de personalidade, da dimensão afetiva e das
competências sociais.

Críticas de Carol Gilligan

Críticas sobretudo em relação às diferenças de género

 Na obra famosa “In a different voice” (1982), Gilligan critica a metodologia de


Kohlberg como sendo sexista, uma vez que Kohlberg utilizou uma amostra
predominantemente masculina e as mulheres eram esquecidas;
 As mulheres tendiam a ser avaliadas no estádio 3 pelas suas preocupações com
cuidado, com o amor e com a benevolência, enquanto os homens no estádio 4,
porque se preocupam mais com a justiça, os direitos e deveres;
 Apresenta uma alternativa ao modelo de Köhlberg (baseado na justiça e em
princípios universais) e coloca o foco na igualdade, na responsabilidade, na
afetividade e na interdependência;
 Mulheres centram-se no cuidado e na resposta aos outros do que moral da justiça;
 Estudos posteriores não corroboraram por completo as críticas de Gilligan (Azevedo,
1988; Sara & Shibley, 2000);
 A polémica não deixa de ser interessante e despertou muita investigação, mas no
geral as diferenças de género (a favor de um ou outro género) não são significativas;
 Mas ainda não temos uma resposta conclusiva se as mulheres tem uma orientação
preferencialmente para o cuidado e os homens para a justiça.

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