Você está na página 1de 84

Inspeção de Carga e Vagões

Valer – Universidade Corporativa Vale

Edição, Revisão e Design Instrucional – ID Projetos Educacionais


Design Gráfico e Produção – Laborativa Educacional

Conteúdo
Vale

Conteudistas
Ailton Elias – Belo Horizonte (MG)
Jader Cordeiro – Belo Horizonte (MG)

Janeiro / 2008

Impresso pela Laborativa Educacional no Brasil.


Cada árvore utilizada foi plantada para esse fim.

É proibida a duplicação ou reprodução deste material,


ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem autorização
expressa da Vale.
“A morte do homem começa no instante que ele desiste
de aprender”.
(Albino Teixeira, poeta português)
APRESENTAÇÃO

Caro Empregado,

As Trilhas Técnicas são currículos que


propõem itinerários de formação e o apren-
dizado contínuo dos profissionais que atuam no
nível técnico-operacional, como você.

Os treinamentos contidos nas trilhas possibilitam o apri-


moramento das competências técnicas exigidas para o pleno
exercício da sua atuação na Vale.

A Valer – Universidade Corporativa Vale – construiu esta Trilha Técnica


em conjunto com os profissionais da Ferrovia, que participaram aumentando
a legitimidade e a eficiência do currículo proposto.

Uma das ações de desenvolvimento que fazem parte da Trilha Técnica de Operação
Ferroviária, para o público dessa área, é o curso de Inspeção de Carga e Vagões.

Este curso foi desenvolvido com o objetivo de orientar os inspetores de cargas da operação
ferroviária quanto aos procedimentos e cuidados necessários à tarefa de inspecionar e respon-
der tecnicamente pelas operações realizadas em pátios e terminais.

Com ele, você desenvolverá competências técnicas exigidas para o desempenho de sua fun-
ção, agindo seguramente em conformidade com os procedimentos estabelecidos pela Vale.

Além disso, você terá a oportunidade de interagir com seus colegas, podendo trocar informações
e esclarecer dúvidas.

Vale a pena participar!


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO______________________________________________ 9

1 NOÇÕES DE FÍSICA ______________________________________10


Leis de Newton_ ________________________________________10

Física aplicada à ferrovia_ ________________________________15

2 INSPEÇÃO DE VAGÕES_ __________________________________21


Tipos de vagões _ _______________________________________21

Identificação dos componentes dos vagões ___________________28

Irregularidades em vagões ________________________________34

3 DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS________________________________41
Padronização do carregamento ____________________________41

Transporte de cargas diversas _____________________________46

Transporte de cargas especiais ____________________________60


4 DESCARGA DE VAGÕES___________________________________64
Regras gerais _ _________________________________________64

5 SEGURANÇA E SAÚDE____________________________________68
Acidentes à vista________________________________________68

Atendimento em caso de acidentes_ ________________________70

REFERÊNCIA______________________________________________75
INTRODUÇÃO
Para começar, é importante saber que o objetivo da inspeção de carga e vagões é assegurar que a
operação de carga e descarga seja realizada conforme os procedimentos pré-estabelecidos.

Além disso, ela é necessária para estabelecer o correto aproveitamento dos vagões, garantindo segu-
rança e integridade das cargas transportadas nas ferrovias, cumprindo a meta de volume de transporte.

Para que a carga circule na ferrovia dentro de seu padrão de carregamento, também é muito impor-
tante respeitar a capacidade (volume e peso) de cada vagão.
Por isso, suas cargas precisam estar dentro do limite de gravidade, que é de 1,83 m para bitola métri-
ca. Estas e outras questões você vai conhecer melhor ao longo do curso.
Nele, você vai aprender a usar adequadamente as ferramentas para inspecionar vagões e cargas de
acordo com os procedimentos estabelecidos, garantindo a segurança da composição.
Bom estudo!
1 NOÇÕES DE FÍSICA
Pode não parecer, mas a Física é importante para que seu trabalho seja feito corretamente. Por isso,
este capítulo vai abordar assuntos como leis de Newton, inércia e tipos de forças aplicadas à ferrovia.

LEIS DE NEWTON
Em 1687, Isaac Newton publicou a primeira teoria sobre a movimentação dos corpos, estabelecendo
as relações entre eles e o movimento.

Foi a partir desse trabalho que surgiram as três leis básicas conhecidas como leis de Newton.

Mas antes de conhecer como funcionam essas leis, será necessário entender outro conceito: o de força.

É comum associar força ao movimento e à ação de puxar ou empurrar alguma coisa que está se deslocan-
do. Embora correta, essa idéia está incompleta, pois existem forças que atuam sem que haja movimento.

Na estrutura de um prédio ou de uma ponte, por exemplo, atuam muitas forças com ações invisíveis.

10
Inspeção de Carga e Vagões

Mas o que é força?


Força é a interação entre dois corpos que pode gerar efeitos como movimento, sustentação e defor-
mação de um corpo.

Ao chutar uma bola, por exemplo, o pé exerce sobre ela uma força que, além de deformá-la, faz com
que a bola inicie um movimento.

A força pode ser de dois tipos:


• contato;
• campo.

A primeira precisa do contato físico entre os corpos para atuar, como é o caso de uma pessoa empur-
rando um carro para que ele se movimente. Veja a figura a seguir.

Já a segunda atua à distância. Ou seja, os corpos não precisam estar em contato. Um exemplo é a
força que um imã exerce sobre um prego.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 11


Peso de um corpo
O peso de um corpo está relacionado à quantidade de força que a Terra é capaz de exercer sobre ele.
Nesse caso, existem dois aspectos interessantes, a saber:
• a força puxa para baixo, isto é, em direção ao centro da Terra;
• a força é proporcional à massa de cada corpo. Quanto mais massa, maior é a força.

Também é importante saber que toda força provoca uma aceleração. Portanto, quanto maior a força,
maior será o grau de aceleração.

Mas, para entender melhor a força, é necessário conhecer um pouco sobre as leis de Newton. Veja
quais são a seguir.

Primeira Lei de Newton ou Lei da Inércia

De acordo com ela, um corpo que está em movimento ou em repouso tende a manter seu estado inicial.

Isso quer dizer que todos os corpos são “preguiçosos” e não desejam modificar seu estado de movimento.

Ou seja, se estão em movimento, continuam em movimento. Mas, se estão parados, não desejam se
movimentar. É nesse momento que a inércia se faz presente.

Vale saber!
Na linguagem cotidiana, inércia quer dizer falta de ação, falta de atividade ou algo
semelhante. É justamente por isso que ela é facilmente associada ao repouso.

No entanto, essa definição não corresponde exatamente ao sentido que a Física dá ao termo. De ma-
neira mais abrangente, o significado físico da inércia é “ficar como está”.

O exemplo mais comum dessa lei é quando um ônibus, em movimento, pára de repente. Essa parada
inesperada faz com que os passageiros continuem em seu estado de movimento.

12
Inspeção de Carga e Vagões

Isso quer dizer que, se um corpo está em movimento, vai querer continuar assim. Mas, se está parado,
não vai querer se mexer.

A partir disso, um referencial só é considerado como sendo referencial inercial quando é possível
aplicar a primeira lei de Newton.

No exemplo a seguir, você verá que, quando alguns cálices são colocados sobre a mesa de um trem,
verifica-se que as leis de Newton não se aplicam.

Isso ocorre porque o trem não circula com velocidade constante. Ou seja, os cálices só se movimen-
tam quando ocorre uma variação de velocidade.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 13


Segunda Lei de Newton ou Princípio Fundamental da Dinâmica

Nesse caso, a resultante das forças que agem em um corpo é igual ao produto de sua massa pela
aceleração adquirida. Ou seja, a resultante dessas forças não é nula.

Isso quer dizer que você sempre fará mais força para empurrar o carrinho mais pesado. Por outro
lado, quando ele está vazio, fica muito mais fácil fazê-lo andar.

Terceira Lei de Newton ou Lei da Ação e Reação

Segundo ela, para toda força aplicada, existe outra força igual, na mesma direção, mas em sentido
oposto. Um exemplo prático dessa lei é a brincadeira do cabo de guerra.

Nele, cada equipe puxa uma corda para o lado que lhe dará a vitória. Veja a figura abaixo.

14
Inspeção de Carga e Vagões

FÍSICA APLICADA À FERROVIA


Você conhecerá dois exemplos de forças que podem ser observadas ao longo de uma malha ferroviária.

Força centrípeta
É a força que puxa o corpo para o centro da trajetória em um movimento curvilíneo ou circular.

Quando um carro faz uma curva em alta velocidade, por exemplo, os passageiros têm a impressão de
estarem sendo empurrados para fora da curva.

Veja na figura a seguir como as forças atuam sobre os passageiros no momento em que o carro faz
uma curva.

Como o carro e os passageiros realizam um movimento circular, a força resultante centrípeta está
direcionada para o centro da pista.

Veja ainda como atua a força centrípeta quando um vagão está parado em uma curva para a esquer-
da. A superelevação faz com que o vagão seja puxado para dentro da curva.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 15


Fcp

Força centrífuga
A força centrífuga também atua em todos os corpos que realizam um movimento curvilíneo. Só que,
nesse caso, ela empurra os corpos para fora da curva.

Na figura a seguir, enquanto o carro faz a curva, os passageiros tendem a ser empurrados para fora dele.

16
Inspeção de Carga e Vagões

No entanto, eles se mantêm no carro em razão da força de atrito que existe entre eles e o banco. E é
justamente essa força de atrito que mantém os passageiros no banco do carro, evitando que sejam
jogados para fora dele.

No caso de um vagão que circula por uma curva para a esquerda, a superelevação gera força centrípeta.

Contudo, quando o vagão está em movimento, ela é anulada pela força centrífuga.

Fcp Fcf

Atrito
Nos exemplos citados anteriormente, você pôde notar que a existência da força de atrito faz toda a
diferença na movimentação dos corpos.

O atrito é a fricção entre duas superfícies, que gera resistência ao movimento, possibilitando a troca
de forças entre os corpos.

Atrito estático

O atrito estático é a força resultante que atua sobre um corpo para mantê-lo em repouso. Ou seja, é a
força que ocorre enquanto não existe movimento.

A figura a seguir mostra uma caixa que não se movimenta. Isso significa que o atrito estático realiza
uma ação para impedir o movimento dessa caixa.

Em razão disso, enquanto a caixa não se deslocar, a força de atrito estático é a força resultante.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 17


Atrito cinético

Ocorre em um corpo que está em movimento.

Isso quer dizer que atrito cinético é a resistência verificada durante o deslocamento de um corpo
sobre outro.

Veja a figura abaixo.


a

fac

a = atrito
fac = força de atrito cinético

Agora é o momento de você colocar em prática o que aprendeu neste capítulo.

Teste seus conhecimentos com os exercícios a seguir.

18
Inspeção de Carga e Vagões

Vale a pena relembrar!


1) Correlacione.

a) Primeira lei de Newton;

b) Segunda lei de Newton;

c) Terceira lei de Newton.

( ) A resultante das forças que agem em um corpo é igual ao produto da massa vezes a aceleração.

( ) Em toda força aplicada, existe outra força igual, na mesma direção, mas em sentido diferente.

( ) Um corpo em movimento ou em repouso tende a manter seu estado inicial.

2) Complete a cruzadinha.

a) Força que atua sobre um corpo, mantendo-o em repouso.

b) A terceira lei de Newton também é conhecida como?

c) Na Física, o que quer dizer falta de ação ou de atividade?

d) Que tipo de força atua à distância?

e) Quem publicou a primeira teoria sobre a movimentação dos corpos?

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 19


3) Um trem está fazendo uma curva na malha ferroviária. Nesse momento, você sente seu corpo se
deslocar para fora do vagão. Que tipo de força está atuando sobre você nesse instante?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

20
Inspeção de Carga e Vagões

2 INSPEÇÃO DE VAGÕES
Este capítulo foi desenvolvido para que você conheça a forma adequada de inspeção dos vagões.

Nele, você aprenderá o que deve ser checado nos vagões, quais são seus componentes, como é feita
a padronização do carregamento, entre outros assuntos.

TIPOS DE VAGÕES
É muito importante saber que o limite de carga dos vagões está ligado ao tipo de eixo que eles possuem.

Vagão com manga de eixo “D” (GFD, HAD, PED), por exemplo, suporta um peso bruto máximo de 80
toneladas. Já o vagão com manga de eixo “E” (GDE, GFE, PME, PEE) tem capacidade para agüentar
até 100 toneladas.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 21


No quadro a seguir, você vai conhecer as características e as particularidades de cada tipo de vagão

Tipo Sigla Descrição Carga Descarga Utilização


Gôndola para descarga em Por cima ou em car Minério, carvão, coque
Gôndolas GD Por cima
car dumper dumper etc.
Por cima ou pelo
Gôndola com bordas fixas Granéis sólidos,
GF Por cima fundo móvel (drop
e fundo móvel (drop bottom) expostos ao tempo
bottom)
Gôndola com bordas bascu-
Granéis sólidos,
GH lantes ou semi tombantes com Por cima Bordas laterais
expostos ao tempo
fundo em lombo de camelo
Por cima ou pelas
Por cima (bordas Produtos diversos,
GT Gôndola com bordas tombantes laterias (bordas
tombantes) expostos ao tempo
tombantes)
Granéis sólidos
Porta lateral
Fechados FE Fechado com escotilhas Porta lateral ou ensacados
e escotilha
ou carga geral
Fechado com escotilhas
FB Escotilhas Bordas laterais Granéis sólidos
e bordas basculantes
Granéis sólidos
Fechado com escotilhas Porta lateral Portas e/ou tremo-
FH ou ensacados
e tremonhas e escotilha nhas laterais
ou carga geral
Fechado com portas laterais
FL Porta lateral Porta lateral Cargas paletizadas
deslizantes (all door)
Granéis sólidos
Fechado com escotilhas e Portas e/ou tremo-
FQ Escotilhas ou ensacados
fundo móvel (drop bottom) nhas laterais
ou carga geral
Fechado convecional, caixa Transporte
FR Porta lateral Porta lateral
metálica com revestimento de carga geral
Fechado convecional, caixa Transporte
FS Porta lateral Porta lateral
metálica sem revestimento de carga geral
Tremonhas (cen- Granéis sólidos,
Hopper HA Hopper aberto Por cima
tral/lateral) expostos ao tempo
Granéis sólidos que
Tremonhas (cen-
HF Hopper fechado Escotilhas não podem ficar
tral/lateral)
expostos ao tempo
HT Hopper tanque Escotilhas Tremonhas (central)
Produtos siderúrgicos,
Plataforma convencional com
Plataforma PE Por cima Por cima contêineres, blocos de
piso metálico
pedra etc.
Produtos siderúrgicos,
Plataforma convencional com
PM Por cima Por cima contêineres, blocos de
piso de madeira
pedra etc.
PC Plataforma para contêineres Por cima Por cima Contêineres
Plataforma convencional, com
PD Por cima Por cima Contêineres
dispositivos para contêineres
Plataforma adaptada para
PQ Por cima Por cima Toretes de madeira
transporte de toretes

22
Inspeção de Carga e Vagões

Veja também mais algumas características dos vagões.

Vagões Plataforma
São utilizados no transporte de produtos siderúrgicos acabados ou semi-acabados. Podem ainda
transportar estruturas metálicas, contêineres e demais equipamentos.

Esse tipo de vagão tem assoalho metálico e fueiro articulável. Confira a figura abaixo.

Fueiro
articulável

Vagão exclusivo para transporte de toretes (PQD)

Nesse tipo de vagão, a operação de carga e descarga é feita por meio de gruas, o que facilita o apa-
recimento de empenos e trincas nos fueiros.

Por isso, os vagões devem ser inspecionados antes e depois de cada carregamento.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 23


Vagões Gôndolas GFE e GFD
Normalmente são usados no transporte de granéis.

Trincos e travas das portas Montantes

Em cada porta, as duas travas do conjunto de fechamento devem ficar devidamente posicionadas em
seu curso final ou a no mínimo ¾ do mesmo. Confira um exemplo na figura a seguir.
Porta travada de forma correta

Fique atento e verifique se o batente da porta não está quebrado. Caso esteja, ele pode travar a radia-
ção do truque, ocasionando acidentes.
Porta aberta

24
Inspeção de Carga e Vagões

Vagão Tanque
Precisa de atenção especial devido ao tipo de carga que transporta (produtos perigosos, combustí-
veis). Ao lidar com o vagão tanque, esteja atento ao seguinte:
• fixação da braçadeira;
• fechamento da tampa do domo;
• vazamento de carga.

Veja alguns dos componentes desse vagão.

Corrimão

Braçadeira de fixação

Porca de fixação

Domo

Válvula de segurança

Registro lateral
de descarga

IMPORTANTE: o vagão tanque não pode circular com a porta do domo aberta.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 25


Vagão Hopper
É usado no transporte de grãos e granéis que não podem molhar. Veja alguns detalhes sobre
esse vagão.

Escotilha

Trava de
segurança

Portais
inferiores

Tremonha

Alavanca

Trava de
segurança

26
Inspeção de Carga e Vagões

Vagão GDE
Utilizado no transporte de minério de ferro e carvão.

O vagão GDE possui dois tipos de freios:


• freio manual lateral;

Volante
Manilha de união
Corrente

• freio manual testeira.

Quadrante Garfo

Aparelho de choque

O aparelho de choque do vagão GDE é usado juntamente com chapas de apoio. Veja a seguir.

Mangueira de freio
A mangueira de freio é formada pelos seguintes componentes:
• haste de ligação;
• braçadeira;
• aparelho de choque;

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 27


• placa bypass;
• colar.
Braçadeira
Haste de ligação

Colar cruzeta
Placa bypass Aparelho
de choque
Quando são usadas as mangueiras de freio?
• 1 3/8’’ x 19’’ – usadas em carros de passageiros;
• 1 3/8” x 22’’ – usadas em vagões de cargas em geral;
• 1 3/8’’ x 30” – usadas em vagões de minério (GDE);
• 1 3/8’’ x 34” – usadas em vagões de carga geral (HAD), com torneiras retas;
• 1 3/8’’ x 68’’ – usadas em vagões de minério (GDE) para ligar os vagões geminados;
• 11/8” x 64” – usadas em vagões de minério (GDE) para ligar o encanamento do cilindro de freio
entre os dois vagões.

Agora que você já conhece os tipos e as características dos vagões, é preciso conhecer também seus
componentes. Eles são essenciais para que os vagões possam circular corretamente pelas ferrovias.

A identificação de alguns deles é o assunto que você estudará a seguir.

IDENTIFICAÇÃO DOS COMPONENTES DOS VAGÕES


Agora você conhecerá mais alguns componentes dos vagões.

Fueiro
Cabeceira
ou extremo
PXX 299999-9 do vagão

Lateral do vagão
Terço médio

28
Inspeção de Carga e Vagões

Fueiros
São peças em formato de quadrado ou U, que são colocadas nas laterais e nas extremidades do vagão.

Terço médio
É a parte central do vagão.

Lateral do vagão
É a área situada próxima aos fueiros laterais.

Cabeceira ou extremo do vagão


É a área do vagão situada próxima aos engates.

Truque
Os componentes do truque são:
• molas;


• trava de segurança;


• barra de compressão;

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 29


• castanha de ampara-balanço;


• coxim;


• prato-pião;


• disco de desgaste;

30
Inspeção de Carga e Vagões

• bojo.

A figura a seguir mostra outras peças que também fazem parte do truque.
12 1 2 3
11

10
4

8 7 5
9 6
1 – Triângulo de freio;
2 – Sapatas de freio;
3 – Disco intermediário;
4 – Rolamento caixa de graxa;
5 – Travessa do truque;
6 – Mola do truque;
7 – Cunha de fricção;
8 – Lateral do truque;
9 – Adaptador para rolamento cartucho;
10 – Rolamento cartucho;
11 – Eixo;
12 – Roda.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 31


Sistema de freio do truque

O sistema de freio do truque é composto pelas seguintes peças:


• contra-sapata;


• ponteira.

A diferença entre a sapata de freio boa e a sem condição de uso é simples. A primeira tem espessura
maior que 10 mm. Confira na figura abaixo.

Já na sem condição de uso, a espessura do material fenólico é menor que 10 mm.

32
Inspeção de Carga e Vagões

Como deve ser o encaixe do caixão do vagão ao truque?

O encaixe do caixão do vagão ao truque deve ter folga mínima de 5 mm entre as faces horizontais,
superior e inferior, das bordas do centro do pião. Veja a figura abaixo.

Folgas castanhas de ampara-balanço

As castanhas de ampara-balanço são os componentes mecânicos do vagão que, como o próprio


nome já diz, limitam seu balanço.

Através da castanha de ampara-balanço, é possível verificar como está a centralização transversal


da carga.

Nessa figura, a medida x deve ser feita em linha tangente e nivelada. Nesse caso, a folga padrão
será de:
• 4,75 a 7,9 mm ou 3/16 a 5/16” (no campo);
• 4,75 a 6,35 mm ou 3/16 a 1/4” (na oficina).

Dessa maneira, é possível garantir o melhor aproveitamento dos vagões.

Mas, mesmo com essa preocupação, ainda são encontradas algumas irregularidades nos vagões. É
justamente o que você verá a seguir.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 33


IRREGULARIDADES EM VAGÕES
Você conhecerá alguns exemplos de irregularidades encontradas em cargas e vagões. Vale a pena
prestar atenção, pois muitas vezes esses problemas passam sem que você perceba.

Carga descentralizada
A crista do carregamento não coincide com o centro do vagão.

É preciso ficar atento, pois a carga descentralizada pode ocasionar acidentes.

34
Inspeção de Carga e Vagões

Veja na figura a seguir, alguns exemplos de carga descentralizada.

Carga concen-
trada fora do
eixo do vagão

Borda suja
A borda suja gera o baixo aproveitamento dos vagões, porque parte deles não é preenchida corretamente.

Baixo
Borda suja aproveitamento

Carga irregular
Ocorre quando existe um excesso de volume nos vagões.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 35


Desalinhamento entre vagões
Esse problema ocorre quando há a evidência da condição irregular na carga, vagão ou linha.

Descarregamento incorreto
Ocorre quando somente uma das portas abre para o descarregamento. Tal problema pode ocasionar
descarrilamento e, dependendo da carga, até tombamento de vagões.

Resíduos de óleo, carga ou embalagens no vagão


Após a descarga, os vagões devem ser devolvidos em condições de uso por outro cliente. Por isso,
fique atento com a limpeza dos vagões.

36
Inspeção de Carga e Vagões

Vagão com vazamento


Nesse caso, é preciso tentar garantir a menor contaminação possível do meio ambiente. Para isso,
colete o produto e acione a equipe de manutenção para que o problema seja resolvido.

Mau condicionamento da carga no interior do vagão


Como mostra a imagem abaixo, isso gera o deslocamento da carga durante a circulação.

Deslocamento do fueiro
O fueiro não pode ser colocado nas laterais do vagão proteção, pois é nesse lugar que a carga do
vagão principal avança.

O deslocamento do fueiro pode restringir a passagem do vagão em curvas, além da quebra do fueiro
e do descarrilamento.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 37


Defeito em rodas
Roda escamada

Friso quebrado

Roda trincada

Bandagem quebrada

38
Inspeção de Carga e Vagões

Vale a pena relembrar!


1) Sobre os tipos de vagões, marque (V) para as afirmações verdadeiras e (F) para as falsas.

( ) Vagões do tipo gôndola, além de granéis sólidos, também são usados para transportar minério
e carvão.

( ) A descarga em vagões fechados é feita por cima ou pelo fundo móvel.

( ) Nos vagões do tipo Hopper, o carregamento só pode ser feito por cima ou através de escotilhas.

( ) Os vagões Plataforma transportam, por exemplo, produtos siderúrgicos, contêineres, blocos de


pedra e bobinas.

( ) Somente nos vagões do tipo Gôndola a descarga é feita pelas bordas laterais.

2) Identifique na figura abaixo as peças que fazem parte do truque.


12 1 2 3
11

10
4

8 7 5
9 6

1 – ______________________________________________________________________________

2 – ______________________________________________________________________________

3 – ______________________________________________________________________________

4 – ______________________________________________________________________________

5 – ______________________________________________________________________________

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 39


6 – ______________________________________________________________________________

7 – ______________________________________________________________________________

8 – ______________________________________________________________________________

9 – ______________________________________________________________________________

10 – _____________________________________________________________________________

11 – _____________________________________________________________________________

12 – _____________________________________________________________________________

40
Inspeção de Carga e Vagões

3 DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS
Neste capítulo, você será orientado a como carregar corretamente os vagões.

Para isso, você estudará o passo a passo de como verificar as dimensões da carga, checar os pa-
drões para o transporte, enfim, acompanhar e avaliar a distribuição das mesmas.

PADRONIZAÇÃO DO CARREGAMENTO
Para compreender a padronização dos carregamentos, é preciso saber que seu objetivo é:
• reduzir os riscos de acidentes;
• padronizar parâmetros de inspeção;
• garantir o aproveitamento correto dos vagões;
• garantir a produtividade dos ativos (vagões, estrutura de carregamento, malha ferroviária etc.).

Para isso, é necessário que o carregamento seja distribuído de maneira uniforme. Confira um exemplo
na figura a seguir.

Vale ressaltar que, caso toda a carga fique no terço médio do vagão, o peso limite dessa carga será de
no máximo 75% da capacidade do vagão. Veja como ficaria essa distribuição na figura abaixo.

75%

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 41


Por outro lado, o vagão poderá ser carregado com 100% de sua capacidade na parte central, desde
que o tamanho da carga ou a distância entre os apoios não seja inferior a 6 metros.

100%

6m

Por essa razão, a seqüência do carregamento irá variar conforme o número de cargas.

Carregamento do vagão com duas peças


No carregamento do vagão com duas peças, é necessário posicionar uma peça sobre cada truque.

A distância entre essas peças e a cabeceira do vagão deverá ser de 50 cm.

Carregamento do vagão com três peças


Já no carregamento com três peças ocorre o seguinte: a peça mais leve deverá ficar no centro, tendo
a mesma distância entre as peças da cabeceira. Veja a figura a seguir.

42
Inspeção de Carga e Vagões

Carregamento do vagão com quatro peças


Nesse caso, as peças das cabeceiras deverão ser posicionadas primeiro. Em seguida, serão posicio-
nadas as peças mais leves, que ficarão no centro da plataforma.

Cálculo da distribuição estática de cargas em plataformas


Na figura a seguir, você vai conferir como é feito o cálculo da distribuição de uma carga com 70 tone-
ladas em um vagão.

70 tons
A B

4550 5250

9100

9800

Peso da carga (tons) 70


Distância centro da carga até centro do truque A (mm) 4550
Distância centro da carga até centro do truque B (mm) 5250
Distância entre centro de truques (mm) 9800
Reação em A 32,5 = (70*4550)/9800
Reação em B 37,5 = (70*5250)/9800
Diferença entre reações truques A e B (%) 15,38 = (37,5-32,5)/32,5*100

Diferença admissível 7%

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 43


Já com cargas que tenham diferentes pesos, a distribuição tem de ser feita da seguinte maneira.
3 peças
3
1 2

20 tons 20 tons 25 tons

1960 1960 1960 1960 1960

9800

Peso da peça 1 (tons) 20


Peso da peça 2 (tons) 20
Peso da peça 3 (tons) 25
Distância centro da peça 1 até centro do truque B (mm) 9800
Distância centro da peça 2 até centro do truque B (mm) 5880
Distância centro da peça 3 até centro do truque A (mm) 9800
Distância centro da peça 2 até centro do truque A (mm) 3920
Distância entre centro de truques (mm) 9800
Reação em A 33
Reação em B 32
Diferença entre reações truques A e B (%) 3,13

Diferença admissível 7%

Cálculo da capacidade estática do terminal


A capacidade estática de um terminal é a quantidade de vagões que cabem estacionados em todas
as suas linhas.

Quando você considera, por exemplo, vagões que tenham aproximadamente 15 metros, a capacidade
estática de um terminal ficaria da seguinte forma:
• 66 + 95 + 53 = 214 vagões.

44
Inspeção de Carga e Vagões

Linha de circulação

Linha 1 – 1.000 metros (66 vagas)

Linha 2 – 1.440 metros (95 vagas)


Linha 3 – 800 metros (53 vagas)

940 m 500 m

A padronização dos carregamentos também depende da checagem das cargas nas plataformas. Por
isso, lembre-se de checar:
• a centralização da carga;
• o aproveitamento correto do vagão;
• a proteção lateral (fueiros);
• a apeação (amarração);
• o calçamento;
• o balanço;
• a proteção da carga (condição de enlonamento);
• a aspersão (excesso de poeira).

Conheça também alguns elementos utilizados no carregamento.

Pá carregadeira
Determina a quantidade de caçambas por vagão, de acordo com o peso da carga de cada caçamba e
com a capacidade de carga líquida do vagão.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 45


Silo
Determina o volume de carga de acordo com o peso específico do produto, sendo responsável pela
lotação do vagão.

Balança dinâmica
É o equipamento responsável pela pesagem da locomotiva. Para que essa pesagem seja eficiente, é necessário:
• manter a velocidade constante do primeiro até o último vagão;
• não arrancar com a locomotiva sobre a balança.

Por fim, em função das características das ferrovias (curvas e passagens às margens de cidades e
povoados), não pode haver falhas no acondicionamento das cargas transportadas.

Por isso, a qualidade do acondicionamento tem de ser muito bem feita para que seu trabalho não seja
passível de questionamentos.

Portanto, ao identificar alguma irregularidade na carga de um vagão circulando pela malha ferroviá-
ria, corrija o problema para que a carga seja preservada e a segurança no transporte seja mantida.

TRANSPORTE DE CARGAS DIVERSAS


A qualidade de um carregamento depende da perfeita centralização da carga. Por isso, antes de car-
regar o vagão recomenda-se:
• escolher a plataforma com piso em boas condições, dando preferência aos pisos metálicos;
• posicionar o vagão em linha reta e nivelada;
• avaliar a estrutura do vagão, observando a existência de empenos;
• medir e registrar as folgas das castanhas de ampara-balanço.

46
Inspeção de Carga e Vagões

E, para bem distribuir a carga, também é preciso saber calcular seu centro de gravidade.

Por exemplo, quando a altura do assoalho em relação à base é de 1 m, soma-se o peso da tara com o
peso da carga.

Confira a tabela a seguir.

Tara do vagão plataforma (tonelada) 13


Altura do CG da plataforma (metro) 0,75
Peso da carga (tonelada) 30,48
Altura do CG da carga ao boleto do trilho (metro) 2,2955
Peso total do vagão carregado (tonelada) 43,48

Limite de Hcg permitido pela ABNT (metro) 1,83

Hcg vagão carregado 1,833414

Para visualizar melhor a informação da tabela, veja como é feito esse cálculo.
Fórmula
(Tara vagão x CG vagão) + (Peso da carga x CG carga)
CG =
30,48 tons 2.591 mm (Tara vagão + Peso da carga)

(13 x 0,75) + (30,48 x 2,2955)


1.000 mm CG = = 1,833
(13 + 30,48)

Conceito de densidade ou peso específico


Esse conceito tem como base a quantidade, em tonelagem, para que um determinado produto caiba
em um recipiente de 1 m³.

Ou seja, dizer que um produto qualquer tem densidade de 2,5 toneladas/m³, por exemplo, é o mesmo
que dizer que em 1 m³ cabem 2,5 toneladas desse mesmo produto.
1m

1m

1m

1m x 1m x 1m = 1m3

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 47


Para isso, também é preciso determinar o peso do produto que será colocado dentro do recipiente.
Esse cálculo é feito através da cubagem. Ou seja, do volume multiplicado pelo peso específico do
produto. Veja a figura.
0,564 m

0,80 m

Tambor de
200 litros

Se no exemplo acima o produto contido no tambor tivesse peso específico de 2,8 toneladas/m³, o cál-
culo da cubagem de volume ficaria da seguinte forma:

{3,14 x (0,282)2 x 2,8 ton/m3 = 560 kg

É importante ficar atento a isso. Mesmo uma pequena quantidade de carga, quando colocada a mais
no vagão, terá seu resultado final modificado.

48
Inspeção de Carga e Vagões

Transporte de granéis
O transporte de granéis em vagões abertos deve ser feito de maneira que a carga seja despejada de
forma centralizada e bem devagar, para que o vagão não seja deslocado do prato-pião.

Agora, veja um exemplo de carga mal distribuída no vagão.

Material com peso específico baixo.


Material com peso específico alto.

Na figura, você percebe que, por ter peso específico maior que a carga destacada em marrom, o pro-
duto laranja concentrou o peso na lateral direita do vagão.

Mesmo com essa diferença, nota-se ainda que, visualmente, a carga está bem distribuída.

Granéis com peso específico alto

A centralização longitudinal e transversal da carga é indispensável; no entanto, ela deve ser uniforme.

Pode até mesmo haver uma pequena concentração de carga sobre os truques, mas, ainda assim, essa
diferença de peso tem de ser inferior a 7%.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 49


Granéis em vagões fechados

Ao transportar granéis, o vagão deve estar centralizado sob o carregador de vagões. O mesmo vale
para a linha férrea. Veja a figura a seguir.

Folga castanha de ampara-


balanço (4 e 8 mm)

50
Inspeção de Carga e Vagões

A próxima figura representa um vagão fechado com seus principais componentes e carga bem distribuídos.

Fazendo uma comparação com a figura anterior, você poderá verificar que, na figura a seguir, a carga
está distribuída dentro do padrão aceitável.

Porém, se você notar com mais atenção, perceberá que a carga está com uma pequena diferença. Confira.

Folga castanha
de ampara-balanço
(4 e 8 mm)

IMPORTANTE: essa pequena diferença pode ocasionar problemas no transporte.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 51


Transporte de minério
É preciso ter bastante cuidado ao carregar vagões GDE com minério. Confira algumas recomenda-
ções que você precisa ter quando for fazer esse tipo de carregamento.
• Despeje as primeiras caçambas no vagão devagar e de forma centralizada;
• Retire a carga que cair sobre a borda, estrutura e aparelho de choque do vagão;
• Limpe, se necessário, o silo ou o circuito da correia transportadora;
• Faça a aspersão da carga de minérios finos e superfinos, após o carregamento.

O objetivo da aspersão é eliminar o arraste eólico, minimizando a perda de minérios finos e superfinos
durante o transporte ferroviário.

A aspersão também ajuda a reduzir os impactos ambientais.

Altura da carga do minério granulado

Na figura abaixo, você vai ver qual é a altura ideal para o transporte de minério granulado.
Ângulo de 22º
0,5 m

52
Inspeção de Carga e Vagões

Altura da carga do minério fino

Veja como deve ser feito o carregamento da carga de minério fino.


Ângulo de 38,5º
0,8 m

Transporte de bobinas
Nesse caso, o apoio das bobinas é feito diretamente no piso do vagão. E, para garantir o perfeito apoio
da base do produto, podem ser utilizados pedaços de borracha.

A borracha serve para compensar as irregularidades da bobina e os pequenos empenos existentes


no piso do vagão.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 53


Vale saber!
Em todas as situações, o corpo da bobina, que fica na direção da viga central, deve
estar completamente apoiado.

Em eixo horizontal, a condição ideal para transportar bobinas é nivelar o piso do vagão, apoiando por
completo a base dos berços.

Os berços utilizados para o transporte de bobinas devem ser padronizados de acordo com o diâmetro
da mesma. Isso significa que o corpo da bobina não pode encostar no piso do vagão.

Berço

54
Inspeção de Carga e Vagões

Berços utilizados no transporte de bobinas


• Berço USIMINAS;


• Berço CST.

Transporte de bobinas fio máquina em vagão plataforma

Esse transporte é feito juntando as duas bobinas das extremidades da parte inferior com as três da
camada superior, para formar um volume único. Veja a figura abaixo.

Transporte de bobinas em vagão GFD arranjo 1 x 2

Para o carregamento de bobinas com diâmetro maior que 1.200 m, o arranjo ideal é o 1 x 2.

E, para garantir a centralização do carregamento, dois berços de madeira são colocados sob cada
bobina da primeira fileira da carga.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 55


A seguir, você pode visualizar o carregamento visto de cima e o detalhe da amarração entre as bobinas.

Transporte de bobina em vagão GFD arranjo 2 x 1

56
Inspeção de Carga e Vagões

Transporte de peças fundidas


O transporte dessas peças deve ser feito da seguinte forma:
• calce as peças carregadas na posição horizontal;
• calce as cabeceiras com dormentes e cunhas;
• não deixe espaço entre as peças.

Já as lingoteiras e mastro sem grafite, carregadas na posição vertical, devem ser fixadas com cunhas
de madeira.

Transporte de chapas largas com excesso lateral


Para transportar essas chapas, é necessário colocar os fueiros laterais sobre a carga e amarrá-los
em feixe.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 57


Utilização de contêineres no transporte de cargas diversas
Características gerais:
• são caixas construídas em aço para o transporte único de mercadorias, sendo suficiente-
mente fortes para resistirem ao uso constante;
• têm padronização mundial;
• têm unidades de medidas (pés e polegadas) que padronizam suas dimensões.

As medidas dos contêineres referem-se a suas medidas externas. Já seu tamanho está associado a
seu comprimento, que poderá ser de 20’ ou 40’ (pés).

Procedimento para estufagem

Estufar ou ovar é o ato de encher o contêiner com mercadorias que podem ser a granel, embaladas
ou paletizadas.

Nesse procedimento, o contêiner precisa estar totalmente ocupado. No entanto, quando a carga não é su-
ficiente para isso, ela precisará ser amarrada com cordas, cabos, extensores, ou até mesmo escorada.

NOTA: os espaços entre as cargas também podem ser preenchidos com qualquer estrutura ou objeto
que impeça a carga de se movimentar dentro do contêiner.

As mercadorias mais pesadas devem ser colocadas sob as mais leves. Caso sejam em menor quanti-
dade, elas devem ser estivadas no meio dos contêineres, para preservar o centro de gravidade.

A disposição do contêiner na plataforma deve ser centralizada em relação aos batentes laterais da
mesma, admitindo apenas uma pequena excentricidade lateral de 30 mm.

00 60 mm

58
Inspeção de Carga e Vagões

Veja alguns tipos de contêineres.


• Carga seca geral (dry box);


• Ventilado (ventilated);


• Frigorífico (reefer);

..........
........................
...
.........
...


• Aberto (open top);

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 59


• Plataforma (flat rack);


• Tanque (tank).

TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS


O transporte de cargas especiais segue algumas rotinas específicas, como:
• verificar as dimensões das cargas, para saber se estão de acordo com os padrões de transporte;
• solicitar a avaliação da carga pela equipe de engenharia mecânica da empresa e da via férrea;
• respeitar as normas de distribuição de peso;
• posicionar a carga de forma a manter as folgas das castanhas de ampara-balanço;
• fazer a amarração para que a posição original da carga seja mantida até o destino final.

Vale saber!
O carregamento deve ser acompanhado por um inspetor de cargas, que liberará o
vagão para a entrada em trem junto à programação e CCO.

60
Inspeção de Carga e Vagões

É o inspetor de cargas que, dependendo da proximidade do limite de gabarito, acompanha o trem


durante todo o seu trajeto.

E, para ter parâmetros no momento de inspecionar as cargas durante o trajeto, o inspetor deve:
• garantir a qualidade da madeira e a perfeita acomodação da carga sobre ela durante todo
o percurso;
• garantir a padronização do tensionamento da amarração em todo o carregamento;
• fazer a marcação do posicionamento das peças.

Veja a seguir alguns exemplos de cargas especiais.

Peças de 50 toneladas

Amarração na bolsa
do fueiro

Estruturas metálicas com 28 m de comprimento x 4,5 m de altura

Estruturas metálicas da UMSA de VIC para VPM

A descarga de vagões será estudada a seguir.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 61


Vale a pena relembrar!
1) Baseado nas informações a seguir, assinale a alternativa correta.

I – O princípio básico que garante a qualidade de um carregamento é a distribuição uniforme da carga


ao longo do vagão.

II – O vagão pode ser carregado com 100% de sua capacidade na parte central, mesmo quando o
tamanho da carga e a distância entre os apoios é inferior a 6 metros.

III – A seqüência do carregamento varia conforme o número de cargas.

IV – A distância entre a cabeceira do vagão e as peças deverá ser de 50 cm.

(A) Todas as alternativas estão corretas.

(B) Todas as alternativas estão incorretas.

(C) Somente as alternativas I e II estão corretas.

(D) As alternativas I, III e IV estão corretas.

2) Com relação à figura abaixo, marque a alternativa correta.

I – A carga está, visualmente, bem distribuída no vagão.

II – O produto laranja concentrou o peso na lateral direita do vagão por ter peso específico maior.

III – A carga está mal distribuída no vagão.

62
Inspeção de Carga e Vagões

(A) Todas as alternativas estão corretas.

(B) A alternativa I está incorreta.

(C) Somente a alternativa I está correta.

(D) As alternativas I e II estão corretas.

3) Qual é a definição de estufar?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 63


4 DESCARGA DE VAGÕES
Neste capítulo, você estudará as regras gerais para a operação de descarga de vagões. Seguindo
essas regras, você terá mais segurança e qualidade em seu trabalho.

REGRAS GERAIS
Após o recebimento dos vagões e antes do início das operações, você deve estar atento às regras
gerais para realizar a descarga de vagões.

Quanto às normas internas de cada terminal


O acesso dos operadores da descarga será somente após o término das manobras para posiciona-
mento dos vagões, o Equipamento de Proteção Individual (EPI).

E, de acordo com as regras estabelecidas no Regulamento de Operação Ferroviária (ROF), a comuni-


cação deverá ser feita via rádio.

Lembre-se de que, no momento da descarga, deverão ser verificados e conferidos os seguintes aspectos:
• lacres;
• dados da documentação do produto;
• condições da carga transportada;
• condições de estacionamento dos vagões;
• freios manuais acionados conforme o ROF;
• utilização de calços, quando aplicáveis;
• escoamento da carga e comportamento do vagão.

IMPORTANTE: quando forem detectados problemas durante o processo de descarga, as operações


deverão ser suspensas, O problema encontrado deverá ser comunicado ao responsável ou superior
imediato da malha ferroviária.

Fique atento também ao movimento dos vagões ao se posicionarem. Nesse momento, é necessário se
afastar da linha férrea.

O vagão descarregado só poderá ser movimentado após a autorização do operador responsável


pela descarga.

64
Inspeção de Carga e Vagões

Feito isso, verifique a possível existência de resíduos, para que sejam retirados com o auxílio de ala-
vancas, vassouras etc.

Todo vagão descarregado é equipado com válvula “vazio-carregado”, de operação manual, que de-
verá ter esse dispositivo virado para a posição de “vazio”.

Vagões com descarga por gravidade

Ao abrir esses vagões, o responsável deve se preocupar em ficar fora do raio de ação das portas
laterais ou das cargas.

Vagões fechados

Na descarga dos vagões fechados, as portas devem ser deslocadas no sentido lateral. Deve-se ainda
suspender as comportas com auxílio da alavanca e soltá-las.

Durante esse procedimento, é preciso ter muita atenção e cuidado para evitar qualquer tipo de acidente.

Vagões com líquidos inflamáveis ou produto perigoso

A descarga deve ser feita com a presença permanente dos operadores responsáveis por acompanhar
esse trabalho.

Não é permitido o descarte de resíduos poluentes na água.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 65


Vale saber!
Nos terminais que operam com produtos inflamáveis, só deverão ser utilizados
calços de madeira.

Seqüencial para abertura das portas


• Um operador;

1–2–4–3–5–6–8–7
• Dois operadores.

1e2–3e4–5e6–7e8

1 3 5 7

2 4 6 8

66
Inspeção de Carga e Vagões

Vale a pena relembrar!


1) Numere as colunas de acordo com as regras de descarregamento de cada vagão.

1 – Vagão com carga por gravidade.

2 – Vagão fechado.

3 – Vagão com líquidos inflamáveis.

( ) São descarregados com as portas deslocadas em sentido lateral.

( ) Só são descarregados com a presença permanente dos operadores responsáveis por acompa-
nhar o trabalho.

( ) Ao descarregá-los, fique fora do raio de ação das portas laterais.

2) Quais aspectos devem ser verificados no momento da descarga dos vagões?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 67


5 SEGURANÇA E SAÚDE
Neste último capítulo, você entenderá como realizar procedimentos em terminais, cargas e vagões, a
fim de evitar acidentes. Preste muita atenção.

ACIDENTES À VISTA
Veja como pequenas incorreções nos vagões e cargas podem causar acidentes na ferrovia.

Piso do vagão em condições inadequadas


Quando o piso do vagão se encontra em condições inadequadas, pode causar deslocamento da carga
e descarrilamento (tombamento) do vagão.

Material remanescente em vagões


Na imagem a seguir, o material remanescente utilizado para fixação da proteção da carga (lonas) na
estrutura do vagão pode causar:
• acidentes pessoais;
• acúmulo de material nos ganchos;
• dificuldades em novas fixações;
• poluição visual.

68
Inspeção de Carga e Vagões

Gancho de fixação solto


Quando o gancho de fixação das bobinas, por exemplo, está solto sobre o piso do vagão, pode ocasio-
nar queda da carga e descarrilamento do vagão.

Vagão transportando produto perigoso sem identificação


Nesse caso, o vagão precisa estar identificado com painel de segurança e rótulo de risco.

Vagão com rechego descentralizado


Na imagem abaixo, o vagão com rechego descentralizado causou tombamento devido à carga excên-
trica e prisão da castanha de ampara-balanço.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 69


ATENDIMENTO EM CASO DE ACIDENTES
Para atendimento em um acidente ferroviário, é necessário o porte de todos os EPIs, bem como dis-
posição física.

Nesses casos, o PRO 801 GEOPT norteia a forma de se trabalhar. Ele garante a segurança e a eficiência
da coleta dos dados necessários para a investigação e tratamento correto das causas do acidente.

Durante o atendimento inicial, é preciso ter as seguintes iniciativas:


• tomar o controle da situação;
• assegurar os serviços de emergência e os primeiros socorros;
• controlar acidentes secundários;
• identificar fontes de evidências;
• preservar evidências;
• determinar potencial de perdas;
• informar a gerência apropriada.

Também é recomendada a utilização da ferramenta Técnica de Análise Sistemática de Causas (TASC).


É ela que direciona a investigação, possibilitando tratar as causas do acidente, para que não ocorram
outros futuramente.

70
Inspeção de Carga e Vagões

Exercitando pra valer!


1) Complete as frases com as palavras destacados no quadro.

plataforma fueiro cubagem

gôndola castanha de ampara-balanço borda suja

a) Os vagões __________________________ são usados no transporte de produtos siderúrgicos


acabados ou semi-acabados.

b) A __________________________ é um componente mecânico que limita o balanço do vagão.

c) Os vagões __________________________ normalmente são usados no transporte de granéis.

d) A __________________________ gera o baixo aproveitamento dos vagões, porque parte deles


não é preenchida corretamente.

e) Os __________________________ são peças em formato de quadrado ou U, colocadas nas late-


rais e extremidades dos vagões.

f) __________________________ é o volume multiplicado pelo peso específico do produto.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 71


2) Marque a alternativa correta quanto ao conceito de força.

(A) Pode ser de contato e não contato.

(B) É a interação entre dois corpos que pode gerar movimento, sustentação ou deformação.

(C) Um exemplo de força de contato é ação de um imã sobre o prego.

(D) Quanto maior a força, menor será a aceleração do corpo.

3) A respeito dos tipos de contêineres usados para transportar cargas, relacione a primeira coluna
de acordo com a segunda.

a) Carga seca geral ( ) ..


............
...........................
..
...
...
...

b) Ventilado ( )

c) Frigorífico ( )

d) Aberto ( )

72
Inspeção de Carga e Vagões

e) Plataforma ( )

f) Tanque ( )

4) Hoje você é o responsável pela inspeção de cargas dos vagões que chegarem ao terminal. Ao re-
alizar o trabalho notou que, além das irregularidades da bobina, o piso do vagão também apresenta
pequenos empenos. O que você deve fazer para compensar esse problema?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

5) Marque (V) para as afirmações verdadeiras e (F) para as falsas.

( ) A carga descentralizada ocorre quando a crista do carregamento não coincide com o centro do vagão.

( ) O fueiro deve ser colocado nas laterais do vagão para proteger as cargas.

( ) Terço médio é a parte central dos vagões.

( ) O sistema de freio do truque é composto por contra-sapata e ponteira.

( ) O peso da carga colocada no terço médio do vagão terá de ter exatamente 75% da capacidade
do mesmo.

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 73


6) O que você deverá verificar no momento da descarga dos vagões?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

7) Qual é o objetivo da aspersão?

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

74
Inspeção de Carga e Vagões

REFERÊNCIAS
Site http://www.efisica.if.usp.br

Site http://www.cepa.if.usp.br

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 75


GABARITOS
VALE A PENA RELEMBRAR!
CAPÍTULO I
1) B – C – A

2)

A t r i t o e s t á t i c o
L e i d a a ç ã o e r e a ç ã o
I n é r c i a
F o r ç a d e c a m p o
I s a a c N e w t o n

3) Força centrífuga.

CAPÍTULO II
1) V – F – V – V – F

2)

1 – Triângulo de freio;

2 – Sapatas de freio;

3 – Disco intermediário;

4 – Rolamento caixa de graxa;

5 – Travessa do truque;

6 – Mola do truque;

7 – Cunha de fricção;

8 – Lateral do truque;

9 – Adaptador para rolamento cartucho;

76
Inspeção de Carga e Vagões

10 – Rolamento cartucho;

11 – Eixo;

12 – Roda.

CAPÍTULO III
1) d

2) a

3) Estufar é o ato de encher o contêiner com mercadorias que podem ser a granel, embaladas ou
paletizadas.

CAPÍTULO IV
1) 2 – 3 – 1

2) A descarga deve ser feita com a presença permanente dos operadores responsáveis por acompa-
nhar esse trabalho, não sendo permitido o descarte de resíduos poluentes na água.

EXERCITANDO PRA VALER!


1)

a) plataforma

b) castanha de ampara-balanço

c) gôndola

d) borda suja

e) fueiro

f) cubagem

2) b

3) C – D – F – B – A –E

4) O que deve ser feito é colocar pedaços de borrachas para apoiar as bobinas no piso do vagão.

5) V – F – V – V – F

Trilha Técnica da Operação Ferroviária 77


6) Nesse momento, os seguintes itens devem ser verificados:
• lacres;
• dados da documentação do produto;
• condições da carga transportada;
• condições de estacionamento dos vagões;
• freios manuais acionados conforme o ROF;
• utilização de calços, quando aplicáveis;
• escoamento da carga e comportamento do vagão.

7) O objetivo da aspersão é eliminar o arraste eólico, minimizando a perda de minérios finos e superfi-
nos durante o transporte ferroviário.

78
Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Anotações

Você também pode gostar