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CADERNOS

VOLUME 1 | EDIÇÃO 10 | FEVEREIRO 2021

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM DAS DISFUNÇÕES DA


ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

EDITORA DO “CADERNOS SBDOF”


CAMILA MEGALE ALMEIDA-LEITE

REVISÃO CIENTÍFICA
LEONARDO RIGOLDI BONJARDIM
YURI MARTINS COSTA

AUTORES DESTE FASCÍCULO


LUCIANO AMBROSIO FERREIRA

DIRETORIA DA SBDOF

PRESIDENTE: PAULO AFONSO CUNALI


VICE-PRESIDENTE: RODRIGO TEIXEIRA
SECRETÁRIO: LEONARDO BONJARDIM
DIRETOR FINANCEIRO: DANIEL BONOTO
DIAGNOSTICO POR IMAGEM DAS DISFUNÇÕES DA
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
O conhecimento sobre a indicação dos distintos (DTM) articulares, discutir suas indicações e orien-
exames de imagem é fundamental para a obten- tar sucintamente sua interpretação.
ção de informações complementares, muitas Didaticamente, as DTM são classificadas em
vezes esclarecedoras para a conclusão diagnóstica disfunções dolorosas (mialgias, artralgias e cefa-
e relevantes para o tratamento das disfunções que leia por DTM) e articulares (disfunções intra-articu-
acometem a articulação temporomandibular lares e degenerativas). Estima-se que a última está
(ATM). A interpretação correta orienta a condução presente de forma assintomática em torno de 30%
clínica e favorece maior acurácia na pesquisa cien- da população, compreendendo os deslocamentos
tífica. Além de ser um documento legal, o exame de disco e as remodelações corticais resultantes da
imaginológico facilita a comunicação com o osteoartrose1-3. Ainda assim, esses e outros subti-
paciente e o entendimento de sua condição. pos de DTM articulares2,3 podem ser motivo de
O objetivo deste texto é explorar as informações queixa dos pacientes, sendo necessária a investi-
dos principais exames de diagnóstico por imagem gação por exames complementares de imagem
destinados às disfunções temporomandibulares (Quadro 1).

Classificação Taxonômica das Disfunções Temporomandibulares

I. DISFUNÇÕES DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR II. DISFUNÇÕES DA MUSCULATURA


MASTIGATÓRIA

1. Dor articular 3. Doenças articulares 1. Dor muscular


A. Artralgia A. Doença articular degenerativa A. Mialgia
B. Artrite 1. Osteoartrose 1. Mialgia local
2. Osteoartrite 2. Dor miofascial
2. Disfunções articulares B. Artrites sistêmicas 3. Dor miofascial referida
A. Distúrbios do disco C. Condilise/reabsorção condilar idiopática B. Tendinite
1. Deslocamento do disco com redução D. Osteocondrite dissecante C. miosite
2. Deslocamento do disco com redução E. Ostronecrose D. Mioespasmo
e travamento intermitente F. Neoplasma
3. Deslocamento do disco sem redução G. Condromatose sinovial 2. Contratura
com abertura limitada
4. Deslocamento do disco sem redução 4. Fraturas 3. Hipertrofia
sem abertura limitada
B. Outros distúrbios de hipomobilidade 5. Transtornos congênitos / de 4. Neoplasia
1. Aderências / aderência desenvolvimento
2. Anquilose A. Aplasia 5. Distúrbios do movimento
a. Fibrosa B. Hipoplasia A. Discinesia orofacial
b. Óssea C. Hiperplasia B. Distonia oromandibular
C. Transtornos de hipermobilidade
1. Deslocamentos 6. Dor muscular da mastigação atribuída a
a. Sublaxação distúrbios de dor sistêmica / central
b. Luxação A. Fibromialgia / dor generalizada

III.CEFALEIA IV. ESTRUTURAS ASSOCIADAS

1. Cefaleia atribuída à DTM 1. Hiperplasia do processo coronoide

Quadro 1 - Classificação Taxonômica das Disfunções Temporomandibulares2,3.


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O diagnóstico da DTM articular é realizado pela cabeça da mandíbula e o osso temporal, sendo inefi-
avaliação da história clínica e exame físico4. No entan- cientes para a visão de tecidos moles. Por esse
to, os métodos de imagem da ATM são utilizados para motivo e por impedirem uma visualização clara e
mensurar o grau de integridade física e a relação totalmente desobstruída da ATM, sua indicação deve
espacial / funcional durante o movimento limítrofe considerar: a necessidade de detalhes estruturais, o
ou parcial durante a abertura bucal, confirmar a distúrbio clínico específico sob suspeita, a quantida-
extensão ou o estágio de progressão da doença, além de de informações sintomatológicas clinicas disponí-
de avaliar e documentar os efeitos do tratamento já veis, o baixo custo desses exames e sua menor dose
instituído4,5. Ainda, são necessários para análise de de irradiação. As técnicas radiográficas mais utiliza-
fraturas, mudanças oclusais pós traumáticas com das na rotina de tratamento das DTM envolvem as
limitação de abertura bucal repentina, presença de radiografias panorâmica, tomadas transcranianas e
ruídos articulares inespecíficos, doenças sistêmicas transfaciais4,5,6.
de manifestação articular, suspeita de infecção e insu- As radiografias panorâmicas favorecerem uma visão
cesso de tratamentos conservadores mal indicados . 4,5
geral dos maxilares e, devido a isso, são úteis no diag-
Atualmente, as principais técnicas de representação nóstico diferencial de alterações odontogênicas que
por imagem da ATM e estruturas adjacentes abran- se sobrepõem às manifestações de DTM ou geram
gem os exames ionizantes bidimensionais (radiogra- sintomatologia à distância, como algumas dores de
fias), a tomografia computadorizada (com destaque origem endodôntica. Possíveis alterações articulares
para a técnica de feixe cônico - TCFC), a imagem por podem ser identificadas pela panorâmica, tais como:
ressonância magnética (IRM) e a ultrassonografia fraturas, desvios de dimensão e forma óssea, evidên-
(indicada para terapias infiltrativas guiadas)5. cias degenerativas e flogísticas, tumores ósseos
maxilares, metástases e anquiloses4,5,6. É também
Exames radiográficos indicada quando o paciente apresenta abertura
As radiografias fornecem informações sobre as carac- bucal reduzida e o diagnóstico diferencial de uma
terísticas morfológicas dos componentes ósseos da alteração inflamatória / infecciosa de origem perio-
ATM e sobre certas relações funcionais entre a dontal, odontogênica ou alveolar se faz necessária4.

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Figura 1 – Exame panorâmico evidencia a hiperplasia coronóide bilateral relacionada à queixa clínica de diminuição da abertura bucal. Fonte: arquivo do autor.
3

Uma variação da radiografia panorâmica consiste na coronal, registra a relação da cabeça da mandíbula
obtenção de imagens ósseas da região da ATM, deno- com a fossa mandibular em máxima intercuspidação
minadas “planigrafias”, “transfaciais” ou “panorâmicas habitual (MIH) e na extensão final da excursão duran-
modificadas para a ATM” . 5,6
te a máxima abertura bucal (MAB). Propicia a compa-
O atual avanço biomédico das tecnologias dos equipa- ração direta entre os lados quanto à hipo, normo ou
mentos de imagens odontológicos favorece a apresen- hiperexcursão condilar, sendo muito útil na confirma-
tação desses exames com considerável precisão, mini- ção da suspeita clínica da alteração da mobilidade. É
mização de distorções e de sobreposições5. Tal técnica útil também para avaliação morfológica e de dimen-
permite avaliar o contorno periférico das estruturas são, análise dos espaços articulares, fraturas e anqui-
ósseas articulares e adjacentes à ATM, como o processo loses condilares.
estiloide, processo mastoide e arco zigomático5,6. Assim como a planigrafia, o exame transcraniano favo-
A imagem, que pode ser obtida nos planos sagital ou rece uma boa avaliação anatômica da ATM4,6. Nessa

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Figura 2 - Exame radiográfico pela técnica de planigrafia. As imagens centrais representam a posição terminal da excursão condilar. Em cada extremidade,
a posição articular em MIH. Fonte: arquivo do autor.

Figura 3 - Exame radiográfico pela técnica transcraniana. ATM direita em posição de MIH (à esquerda) e MAB (à direita). Fonte: arquivo do autor
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técnica, as porções centrais e mediais da cabeça da da minimização de ruídos e da geração de reconstru-


mandíbula são observadas, tornando o exame útil ções tridimensionais por softwares específicos7. O
para a identificação de alterações corticais, visualiza- tempo de exame curto e a dose de radiação reduzida
ção de fraturas altas, avaliação da excursão e determi- (cerca de seis vezes menor) diferem a TCFC da técnica
nação dos espaços articulares radiográficos . 4,6
fanbeam4-7.
Este tipo de projeção produz uma imagem com As principais indicações da TCFC incluem a avaliação
grande sobreposição dos ossos cranianos e é comu- óssea minuciosa da ATM e determinação precisa do
mente requisitada em urgências de traumatologia local e extensão de fraturas, neoplasias, anquiloses;
hospitalar6 (Figura 3). alterações degenerativas erosivas, pseudocísticas ou
osteofíticas; remodelações ósseas; avaliação de condi-
Tomografia Computadorizada ções pré e pós-cirúrgicas; hiperplasias do processo
Consiste em um conjunto de imagens obtido por uma condilar, coronóide e estiloide; persistência do forame
técnica sofisticada e altamente precisa quando com- de Huschke; assim como calcificações intrarticulares
parada aos exames radiográficos. A tecnologia de derivadas da condromatose sinovial ou artrite meta-
tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC), bólica4-8 (Figura 4).
ou cone beam, vem sendo especificamente utilizada Contudo, muito pouco detalhe é fornecido sobre
para o diagnóstico odontológico craniofacial . Seu 5,7
tecidos moles, não sendo possível a visualização do
promissor advento ocorre em função das estruturas disco articular. Como desvantagens, pode-se citar o
ósseas serem observadas em diferentes profundida- custo do exame e a exposição a níveis maiores de
des e planos (sagital, coronal e axial), da aplicação de radiação, quando comparada às técnicas radiográficas
filtros de imagens, da medição precisa de estruturas, convencionais7,8.

Figura 4 – Exames de TCFC de diferentes ATM em cortes coronais (A,E) e parassagitais (B,C,D). Erosão cortical em A; presença de esclerose óssea,
irregularidade cortical e formação osteofítica em B,C e E; cistos subcondrais em E; aplainamento e diminuição do espaço articular em D; alteração
degenerativa avançada em E. Fonte: arquivo do autor

Imagem por Ressonância Magnética (IRM) como: avaliação da forma do disco articular; observa-
A IRM tem sido considerada o método mais versátil ção da integridade dos tecidos ligamentares e retro-
para visualização das alterações da ATM8-12. Entretan- discais; análise do conteúdo inflamatório retrodiscal e
to, sua utilização e interpretação é subestimada pelos sinovial dos espaços articulares; observação da
clínicos, seja pela dificuldade de obtenção e custo ou integridade da musculatura mastigatória adjacente;
pela necessidade de treinamento específico para avaliação do grau de degeneração na cortical dos
interpretação de suas informações4-8. tecidos ósseos; presença de áreas escleróticas, necró-
Além da rotineira avaliação espacial do disco articular ticas ou de edema medular em tecido ósseo; proces-
em relação aos componentes ósseos, é possível elen- sos neoplásicos primários e metastáticos, além de
car preciosas informações obtidas por esse exame, alterações resultantes de doenças reumatológicas
5

sistêmicas10-15. de efusão inflamatória, líquor e gordura em hipersinal


A técnica permite a análise tridimensional, assim (brilhante).
como na tomografia, entretanto sua acurácia é menor De forma a abordar uma avaliação completa de todos
para avaliação da cortical óssea8. os componentes articulares, preconiza-se a utilização
A literatura sugere que os protocolos de diagnóstico de três ponderações distintas para a completa avalia-
deste exame incluam o registro das posições de MIH ção articular9,10,14-16. Cada ponderação é definida por
e MAB, sendo possível também o registro de uma ou uma configuração específica do ressonador, que irá
mais aberturas intermediárias, que representariam a determinar o comportamento dos átomos de hidro-
cinemática dos componentes articulares 4,8,14
. gênios de diferentes tecidos e de situações patológi-
Nos exames de IRM, avaliamos principalmente os cas. Sendo assim, são obtidas as ponderações defini-
planos sagital e coronal 15,16
e as imagens teciduais são das como:
apresentadas em hipossinal (sinal fraco, cor cinza T1, para a avaliação cortical óssea8;
escuro) e hipersinal (sinal forte de cor branca). A corti- T2, para a detecção de efusão inflamatória14; e
cal óssea se apresenta como hipossinal (cinza escuro), Densidade de Prótons (DP), para a avaliação de
os tecidos de densidade intermediária (disco) em tecidos de densidade intermediária, como o disco
hipossinal de menor intensidade, enquanto a presença articular, ligamentos e músculos4-6 (Figura 5).

Figura 5 – IRM da ATM em ponderação T1 (nota-se maior nitidez da cortical óssea); em T2 (nota-se ausência de efusão inflamatória e o brilho característico
do hipersinal liquórico) e em DP (nota-se delineamento preciso do disco articular). Fonte: arquivo do autor

A possibilidade de se utilizar o recurso de supressão de lita a avaliação da integridade e relação anatômica das
gordura facilita a identificação dos tecidos articulares e estruturas nervosas que, quando comprimidas por
a presença de inflamação, enquanto o contraste por processos tumorais ou vasculares, por exemplo,
gadolíneo é recomendado para o diagnóstico reuma- produzem dor orofacial neuropática por possível
tológico e neoplásico 4,5,13,16
. Além das avaliações desmielinização e desaferentação4-6.
descritas anteriormente, é possível detectar rupturas, Considera-se que os equipamentos com maior resolu-
necroses, edemas, neoplasias e derrames articulares ção (maior campo magnético, medido em Tesla) confe-
nas imagens específicas da ATM9-16. rem melhor apresentação das estruturas anatômicas,
A IRM de base craniana e de trajetos nervosos possibi- menor granulosidade de imagem e de apresentação
6

de artefatos. Consequentemente, possuem maior ção da superfície articular relacionada à osteoartro-


sensibilidade e especificidade diagnóstica4,9,12. se/osteoartrite ou ao comprometimento sistêmico
Toda essa gama de informações é obtida por um reumatológico2,4-8. Ao serem interpretados, deve-se
procedimento não invasivo e que não oferece exposi- levar em consideração que os sinais de osteodegene-
ção à radiação ionizante. Entretanto, há contraindica- ração presentes variam de acordo com fatores como
ções para o exame: pacientes claustrofóbicos, porta- tempo de instalação da doença; intensidade e
dores de marca-passo, próteses cardíacas metálicas, frequência de forças direcionadas à ATM; propriedade
corpos ferromagnéticos e mulheres grávidas4-9,14-16. adaptativa reacional e individual; condição funcional
dos tecidos envolvidos; qualidade e quantidade de
Interpretação das imagens de TCFC lubrificação articular; presença de inflamação intra-ar-
Conforme a correta indicação dos exames, orientamos ticular; grau de reparação celular do revestimento
didaticamente a avaliação de tecidos duros pelos capsular e da fibrocartilagem; condição elástica prote-
métodos ionizantes, com destaque para a TCFC; tora dos tecidos moles adjacentes e fatores genéticos
enquanto as alterações em tecidos moles são nortea- e bioquímicos determinantes à manifestação da doen-
das pela IRM. Ambas as técnicas oferecem registros ça2,4-9.
meticulosos relacionados à morfologia e funcionalida- Vale ressaltar que, em sua instalação, a condição dege-
de das estruturas analisadas4-9. nerativa afeta inicialmente o tecido fibrocartilaginoso
A condição de normalidade das estruturas duras da da superfície articular, o que não pode ser observado
ATM revela a integridade de seus componentes na nos exames de imagem citados. Na presença da dege-
TCFC, observada pela homogênea densidade óssea neração cortical, deve-se relacioná-la à degradação
cortical e espessura e continuidade uniformes distri- prévia da matriz fibrocartilaginosa e à alteração em
buídas sobre a cabeça da mandíbula, o tubérculo volume, qualidade e densidade do líquido sino-
articular e a fossa mandibular4,7,8. vial4,6,8,10.
Nos exames bi e tridimensionais, o aspecto regular e Geralmente, o processo condilar é a primeira estrutura
convexo deve ser observado nos dois primeiros com- a demonstrar sinais imaginológicos de alteração
ponentes, enquanto uma concavidade proporcional é morfológica degenerativa (Figura 4). Sua deformação
apresentada na fossa3-5. Em condição de normalidade, inicial ocorre na superfície cortical com aumento, dimi-
haverá uma equivalência dimensional entre as formas nuição ou deteriorização de sua superfície, definida
ósseas, ou seja, simetria e compatibilidades entre as principalmente pelos seguintes sinais imaginológicos:
estruturas mandibulares e temporais. esclerose óssea subcondral, erosão cortical, formação
As alterações dimensionais, quando presentes, são osteófítica, aplainamento da superfície articular e
mais frequentemente visualizadas no processo condi- desenvolvimento de cisto (pseudocisto) subcondral.
lar, uni ou bilateralmente. O aumento ou a diminuição Tais sinais poderão se apresentar isolados ou combina-
volumétrica são geralmente condicionadas a manifes- dos, dependendo da evolução da doença e grau de
tações sindrômicas, de crescimento ou adquiridas. Sua remodelação8,10.
avaliação exige sempre a comparação entre os lados e A observação espacial dos componentes ósseos na
a observação das estruturas adjacentes4,5. TCFC deve ser realizada em pelo menos duas posições
Os processos crônicos intra-articulares são expressos funcionais: MIH e MAB. Sua avaliação em MIH determi-
tardiamente nessa modalidade de imagem como na a preservação ou não do espaço destinado ao disco
sinais de osteodegeneração decorrentes da degrada- articular e tecidos retrodiscais. (Figura 6)
7

Figura 6 – TCFC de diferentes ATMs do lado direito. Observa-se o espaço articular preservado na imagem da esquerda, a diminuição do espaço articular
posterior na imagem do meio e a diminuição do espaço articular anterior na imagem da direita. Fonte: arquivo do autor.

A posição final da excursão condilar em MAB alinhamento desses pontos tem sido considerada
relaciona o ponto mais superior da cabeça da man- compatível com a normalidade4-6 (Figura 7).
díbula ao ponto mais inferior do tubérculo articular. Para a avaliação do movimento excursivo, sugere-
Esse é um parâmetro que quantifica o grau de mobi- -se a adoção da mensuração interincisal durante
lidade da ATM, classificado como hiperexcursão, o exame de imagem, a fim de se comparar os
hipoexcursão ou normoexcursão. Contudo, uma resultados obtidos durante o exame e a avaliação
distância de 3 a 4 milímetros aquém ou além do clínica.

Figura 7 – TCFC de ATMs do lado direito registrando a posição final da cabeça da mandíbula no movimento translatório em MAB. Da esquerda para a
direita: hipoexcursão, normoexcursão e hiperexcursão. Fonte: arquivo do autor

Interpretação das IRM exame permite a constatação do sinal de efusão infla-


O exame IRM é elencado como o de primeira escolha matória (hipersinal) nos espaços supra e infradiscais,
para caracterizar o diagnóstico dos desarranjos que nos tecidos retrodiscais e medulares pela ponderação
comprometem as relações funcionais entre tecidos T24,6,11. Sequencialmente, a presença de sinais osteoar-
duros e o disco articular1-6. tríticos nos componentes ósseos é avaliada pela
Inicialmente, o diagnóstico deve ser direcionado pela ponderação T14,6,11. Esse conjunto de informações
análise morfológica, dimensional, funcional e espacial imaginológicas corroboram para a elaboração do
do disco articular em relação aos componentes ósseos, estadiamento da disfunção articular (Figura 8).
realizado na ponderação de DP4,6. Adicionalmente, o As aquisições em diferentes ponderações (T1, T2 e DP)
8

devem ser observadas nos planos sagital e coronal. Para a determinação do diagnóstico de deslocamento e
recaptura do disco articular, deve-se comparar as imagens em MIH e MAB, avaliando sua disposição espacial.

Figura 8 – Na imagem e diagrama da esquerda, a IRM da ATM em ponderação T1 evidencia o aplainamento da superfície cortical da cabeça da mandíbula
associado ao deslocamento anterior do disco articular. Na imagem e diagrama do meio, a IRM da ATM revela o hipersinal de efusão no espaço supra e
retrodiscal. A imagem e diagrama da direita consiste em IRM da ATM esquerda em ponderação DP e revela a disposição anterior do disco articular em
relação à cabeça da mandíbula. A forma bicôncava do disco pode ser observada, assim como o afilamento da banda posterior.

Considerações finais sobre diagnóstico por confirmações de cunho judicial e da relação profis-
imagem das DTM articulares sional-paciente.
Ressalta-se que uma das falhas no processo de elabo- Nos casos de sintomatologia inespecífica (inflama-
ração do diagnóstico e plano de tratamento ocorre ções, neoplasias e traumatismos), os exames comple-
pela indicação equivocada ou desnecessária de mentares de imagem são fundamentais para o escla-
exames complementares para fins que não são desti- recimento diagnóstico, definição da terapêutica
nados4-6. Tal fato ocorre pela carência de conheci- adequada ou mesmo a necessidade de encaminha-
mento por parte dos profissionais sobre as indica- mento. Destacam-se as situações associadas a malig-
ções dos exames aplicáveis. nidade prévia, linfadenopatia persistente ou inexpli-
O princípio básico de que o exame complementar cável, alterações neurológicas sensoriais ou motoras,
está somente indicado quando a avaliação clínica disfunção articular incapacitante, assimetria facial e
não for suficiente para elaboração do diagnóstico e edema facial inespecíficos, trismo profundo, epistaxe
plano de tratamento norteia o profissional quanto ao abrupta ou recorrente, secreção facial purulenta,
controle de solicitações desnecessárias3-6. anosmia persistente, redução ipsilateral da audição,
Além disso, os exames de imagem obtidos nas fases suspeita de artrite séptica e alterações oclusais
de pré, trans e pós-terapia cumprem com a necessi- comórbidas a traumas faciais, crescimento ósseo
dade de registro diagnóstico e legal do paciente4. Tal repentino ou doença degenerativa4,5.
registro deve garantir a autenticidade, integridade e Os exames de imagem, do mais simples ao mais
confidencialidade das informações, necessárias para complexo, apresentam diferentes graus de sensibili-
9

dade e especificidade, propriedades que os confe- ça do estalido terminal.


rem poder diagnóstico. De maneira geral, a IRM e a Os fatores que devem ser avaliados durante a esco-
TCFC são métodos com maior acurácia, quando lha e indicação dos exames de imagens da ATM
comparados à radiologia convencional. Entretanto, envolvem a necessidade da determinação da
exames de baixa complexidade técnica podem apre- presença da doença e seu prognóstico; a dúvida no
sentar alta precisão diagnóstica, como, por exemplo, diagnóstico diferencial antes da instituição terapêu-
em casos de hiperexcursão da cabeça da mandíbula tica; a determinação do estágio de desenvolvimento
(subluxação) em pacientes com a apresentação clíni- da doença; a necessidade de documentação legal; o
ca de estalido articular terminal4-5. Nesse caso, reite- preparo pré-operatório; a avaliação da evolução do
ra-se que os critérios clínicos para o diagnóstico de tratamento e a segurança e acurácia do exame espe-
subluxação apresentam sensibilidade e especificida- cífico a ser indicado.
de satisfatórias, sendo o fator de confusão a presen-

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