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REVISÃO CIENTÍFICA
LEONARDO RIGOLDI BONJARDIM
YURI MARTINS COSTA
DIRETORIA DA SBDOF
O diagnóstico da DTM articular é realizado pela cabeça da mandíbula e o osso temporal, sendo inefi-
avaliação da história clínica e exame físico4. No entan- cientes para a visão de tecidos moles. Por esse
to, os métodos de imagem da ATM são utilizados para motivo e por impedirem uma visualização clara e
mensurar o grau de integridade física e a relação totalmente desobstruída da ATM, sua indicação deve
espacial / funcional durante o movimento limítrofe considerar: a necessidade de detalhes estruturais, o
ou parcial durante a abertura bucal, confirmar a distúrbio clínico específico sob suspeita, a quantida-
extensão ou o estágio de progressão da doença, além de de informações sintomatológicas clinicas disponí-
de avaliar e documentar os efeitos do tratamento já veis, o baixo custo desses exames e sua menor dose
instituído4,5. Ainda, são necessários para análise de de irradiação. As técnicas radiográficas mais utiliza-
fraturas, mudanças oclusais pós traumáticas com das na rotina de tratamento das DTM envolvem as
limitação de abertura bucal repentina, presença de radiografias panorâmica, tomadas transcranianas e
ruídos articulares inespecíficos, doenças sistêmicas transfaciais4,5,6.
de manifestação articular, suspeita de infecção e insu- As radiografias panorâmicas favorecerem uma visão
cesso de tratamentos conservadores mal indicados . 4,5
geral dos maxilares e, devido a isso, são úteis no diag-
Atualmente, as principais técnicas de representação nóstico diferencial de alterações odontogênicas que
por imagem da ATM e estruturas adjacentes abran- se sobrepõem às manifestações de DTM ou geram
gem os exames ionizantes bidimensionais (radiogra- sintomatologia à distância, como algumas dores de
fias), a tomografia computadorizada (com destaque origem endodôntica. Possíveis alterações articulares
para a técnica de feixe cônico - TCFC), a imagem por podem ser identificadas pela panorâmica, tais como:
ressonância magnética (IRM) e a ultrassonografia fraturas, desvios de dimensão e forma óssea, evidên-
(indicada para terapias infiltrativas guiadas)5. cias degenerativas e flogísticas, tumores ósseos
maxilares, metástases e anquiloses4,5,6. É também
Exames radiográficos indicada quando o paciente apresenta abertura
As radiografias fornecem informações sobre as carac- bucal reduzida e o diagnóstico diferencial de uma
terísticas morfológicas dos componentes ósseos da alteração inflamatória / infecciosa de origem perio-
ATM e sobre certas relações funcionais entre a dontal, odontogênica ou alveolar se faz necessária4.
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Figura 1 – Exame panorâmico evidencia a hiperplasia coronóide bilateral relacionada à queixa clínica de diminuição da abertura bucal. Fonte: arquivo do autor.
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Uma variação da radiografia panorâmica consiste na coronal, registra a relação da cabeça da mandíbula
obtenção de imagens ósseas da região da ATM, deno- com a fossa mandibular em máxima intercuspidação
minadas “planigrafias”, “transfaciais” ou “panorâmicas habitual (MIH) e na extensão final da excursão duran-
modificadas para a ATM” . 5,6
te a máxima abertura bucal (MAB). Propicia a compa-
O atual avanço biomédico das tecnologias dos equipa- ração direta entre os lados quanto à hipo, normo ou
mentos de imagens odontológicos favorece a apresen- hiperexcursão condilar, sendo muito útil na confirma-
tação desses exames com considerável precisão, mini- ção da suspeita clínica da alteração da mobilidade. É
mização de distorções e de sobreposições5. Tal técnica útil também para avaliação morfológica e de dimen-
permite avaliar o contorno periférico das estruturas são, análise dos espaços articulares, fraturas e anqui-
ósseas articulares e adjacentes à ATM, como o processo loses condilares.
estiloide, processo mastoide e arco zigomático5,6. Assim como a planigrafia, o exame transcraniano favo-
A imagem, que pode ser obtida nos planos sagital ou rece uma boa avaliação anatômica da ATM4,6. Nessa
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Figura 2 - Exame radiográfico pela técnica de planigrafia. As imagens centrais representam a posição terminal da excursão condilar. Em cada extremidade,
a posição articular em MIH. Fonte: arquivo do autor.
Figura 3 - Exame radiográfico pela técnica transcraniana. ATM direita em posição de MIH (à esquerda) e MAB (à direita). Fonte: arquivo do autor
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Figura 4 – Exames de TCFC de diferentes ATM em cortes coronais (A,E) e parassagitais (B,C,D). Erosão cortical em A; presença de esclerose óssea,
irregularidade cortical e formação osteofítica em B,C e E; cistos subcondrais em E; aplainamento e diminuição do espaço articular em D; alteração
degenerativa avançada em E. Fonte: arquivo do autor
Imagem por Ressonância Magnética (IRM) como: avaliação da forma do disco articular; observa-
A IRM tem sido considerada o método mais versátil ção da integridade dos tecidos ligamentares e retro-
para visualização das alterações da ATM8-12. Entretan- discais; análise do conteúdo inflamatório retrodiscal e
to, sua utilização e interpretação é subestimada pelos sinovial dos espaços articulares; observação da
clínicos, seja pela dificuldade de obtenção e custo ou integridade da musculatura mastigatória adjacente;
pela necessidade de treinamento específico para avaliação do grau de degeneração na cortical dos
interpretação de suas informações4-8. tecidos ósseos; presença de áreas escleróticas, necró-
Além da rotineira avaliação espacial do disco articular ticas ou de edema medular em tecido ósseo; proces-
em relação aos componentes ósseos, é possível elen- sos neoplásicos primários e metastáticos, além de
car preciosas informações obtidas por esse exame, alterações resultantes de doenças reumatológicas
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Figura 5 – IRM da ATM em ponderação T1 (nota-se maior nitidez da cortical óssea); em T2 (nota-se ausência de efusão inflamatória e o brilho característico
do hipersinal liquórico) e em DP (nota-se delineamento preciso do disco articular). Fonte: arquivo do autor
A possibilidade de se utilizar o recurso de supressão de lita a avaliação da integridade e relação anatômica das
gordura facilita a identificação dos tecidos articulares e estruturas nervosas que, quando comprimidas por
a presença de inflamação, enquanto o contraste por processos tumorais ou vasculares, por exemplo,
gadolíneo é recomendado para o diagnóstico reuma- produzem dor orofacial neuropática por possível
tológico e neoplásico 4,5,13,16
. Além das avaliações desmielinização e desaferentação4-6.
descritas anteriormente, é possível detectar rupturas, Considera-se que os equipamentos com maior resolu-
necroses, edemas, neoplasias e derrames articulares ção (maior campo magnético, medido em Tesla) confe-
nas imagens específicas da ATM9-16. rem melhor apresentação das estruturas anatômicas,
A IRM de base craniana e de trajetos nervosos possibi- menor granulosidade de imagem e de apresentação
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Figura 6 – TCFC de diferentes ATMs do lado direito. Observa-se o espaço articular preservado na imagem da esquerda, a diminuição do espaço articular
posterior na imagem do meio e a diminuição do espaço articular anterior na imagem da direita. Fonte: arquivo do autor.
A posição final da excursão condilar em MAB alinhamento desses pontos tem sido considerada
relaciona o ponto mais superior da cabeça da man- compatível com a normalidade4-6 (Figura 7).
díbula ao ponto mais inferior do tubérculo articular. Para a avaliação do movimento excursivo, sugere-
Esse é um parâmetro que quantifica o grau de mobi- -se a adoção da mensuração interincisal durante
lidade da ATM, classificado como hiperexcursão, o exame de imagem, a fim de se comparar os
hipoexcursão ou normoexcursão. Contudo, uma resultados obtidos durante o exame e a avaliação
distância de 3 a 4 milímetros aquém ou além do clínica.
Figura 7 – TCFC de ATMs do lado direito registrando a posição final da cabeça da mandíbula no movimento translatório em MAB. Da esquerda para a
direita: hipoexcursão, normoexcursão e hiperexcursão. Fonte: arquivo do autor
devem ser observadas nos planos sagital e coronal. Para a determinação do diagnóstico de deslocamento e
recaptura do disco articular, deve-se comparar as imagens em MIH e MAB, avaliando sua disposição espacial.
Figura 8 – Na imagem e diagrama da esquerda, a IRM da ATM em ponderação T1 evidencia o aplainamento da superfície cortical da cabeça da mandíbula
associado ao deslocamento anterior do disco articular. Na imagem e diagrama do meio, a IRM da ATM revela o hipersinal de efusão no espaço supra e
retrodiscal. A imagem e diagrama da direita consiste em IRM da ATM esquerda em ponderação DP e revela a disposição anterior do disco articular em
relação à cabeça da mandíbula. A forma bicôncava do disco pode ser observada, assim como o afilamento da banda posterior.
Considerações finais sobre diagnóstico por confirmações de cunho judicial e da relação profis-
imagem das DTM articulares sional-paciente.
Ressalta-se que uma das falhas no processo de elabo- Nos casos de sintomatologia inespecífica (inflama-
ração do diagnóstico e plano de tratamento ocorre ções, neoplasias e traumatismos), os exames comple-
pela indicação equivocada ou desnecessária de mentares de imagem são fundamentais para o escla-
exames complementares para fins que não são desti- recimento diagnóstico, definição da terapêutica
nados4-6. Tal fato ocorre pela carência de conheci- adequada ou mesmo a necessidade de encaminha-
mento por parte dos profissionais sobre as indica- mento. Destacam-se as situações associadas a malig-
ções dos exames aplicáveis. nidade prévia, linfadenopatia persistente ou inexpli-
O princípio básico de que o exame complementar cável, alterações neurológicas sensoriais ou motoras,
está somente indicado quando a avaliação clínica disfunção articular incapacitante, assimetria facial e
não for suficiente para elaboração do diagnóstico e edema facial inespecíficos, trismo profundo, epistaxe
plano de tratamento norteia o profissional quanto ao abrupta ou recorrente, secreção facial purulenta,
controle de solicitações desnecessárias3-6. anosmia persistente, redução ipsilateral da audição,
Além disso, os exames de imagem obtidos nas fases suspeita de artrite séptica e alterações oclusais
de pré, trans e pós-terapia cumprem com a necessi- comórbidas a traumas faciais, crescimento ósseo
dade de registro diagnóstico e legal do paciente4. Tal repentino ou doença degenerativa4,5.
registro deve garantir a autenticidade, integridade e Os exames de imagem, do mais simples ao mais
confidencialidade das informações, necessárias para complexo, apresentam diferentes graus de sensibili-
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10. Jung YW, Park SH, On SW, et al. Correlation between clinical
symptoms and magnetic resonance imaging findings in patients
with temporomandibular joint internal derangement. J Korean
Assoc Oral Maxillofac Surg 2015; 41:125-132.
14. Vogl TJ, Lauer HC, Lehnert T, et al. The value of MRI in patients
with temporomandibular joint dysfunction: Correlation of MRI
and clinical findings. Eur J Radiol 2016; 85: 714-719.