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MANUAL PRÁTICO

TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL
REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA,
MANUTENÇÃO DAS MUDANÇAS
E PREVENÇÃO DA RECAÍDA
Na TCC, os significados atribuídos pelo paciente às situações experienciadas são
identificados e analisados pelo último, em conjunto com o terapeuta, considerando-
-se o contexto no qual ocorreu. Assim, quando houver sofrimento emocional decor-
rente de interpretações distorcidas, o terapeuta ensinará a correção delas através de
técnicas de modificação cognitiva4. Ressalta-se que não há relação causal, mas sim
interação recíproca entre as cognições, os sentimentos, as sensações e os comporta-
mentos que devem ser sempre analisados tomando por base o ambiente6,8.
Desse modo, o paciente é ensinado a automonitorar seus pensamentos automáticos,
examinando as evidências que apoiam ou não tais pensamentos, substituindo os dis-
torcidos ou desadaptativos por outros mais condizentes com a realidade. Para que
isso ocorra, diferentes estratégias podem ser utilizadas, dentre elas: pedir para o pa-
ciente descrever uma situação-problema tentando relembrar possíveis pensamen-
tos; dramatizar com o paciente uma situação que possa auxiliá-lo na rememoração
dos pensamentos envolvidos; usar formulários ou realizar perguntas diretivas3.
Os formulários de Registro de Pensamento Disfuncional (RPD) são apresentados
ao paciente que será orientado a preenchê-los diariamente com as situações mo-
bilizadoras, as cognições que emergiram imediatamente a ocorrência da situações,
as emoções sentidas e as atitudes tomadas. Inicialmente, este processo é feito du-
rante as sessões, sendo, posteriormente, acordado o preenchimento do RPD entre
elas trabalhados durante as sessões2,5.
O RPD incentiva os pacientes a reconhecer seus pensamentos automáticos, identi-
ficar erros cognitivos, examinar as evidências, gerar alternativas racionais, observar
resultados positivos em seus esforços para modificar seu pensamento, entre outros.

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O conteúdo produzido proporciona um material importante para discussões em
terapia além de auxiliar na seleção de futuras intervenções para modificação de
pensamentos automáticos.

Registro Diário de Pensamentos Disfuncionais

Pensamento Emoção
(O que passou pela (O que sentiu?)
Comportamento
Situação sua cabeça?) Meça cada
(O que fez?)
Meça cada pensamento emoção (0
(0 a 100%). a 100%).
Voltando para
casa após ter
Minha filha não precisa Não aceita novos
passado o feriado Triste (80%).
mais de mim (70%). convites da filha.
com minha filha,
genro e meu neto.

Entrega do relatório Ele vai ficar insatisfeito Não consegue


Tenso (100%).
mensal ao chefe com minha se concentrar no
Preocupado
que o deposita vendas (90%). trabalho até o final
(80%).
sobre a mesa. Serei despedido (65%). do expediente.

Discutindo com a Briga com a


Ela quer sempre estar
esposa sobre qual Irritado (80%). esposa e desiste
no controle (100%).
filme assistir. de assistir filme.

Outra forma de examinar os pensamentos automáticos é através do questiona-


mento socrático. Este último corresponde a uma série de perguntas abertas feitas
pelo terapeuta no intuito de levar o paciente a realizar uma exploração ativa de di-
versas formas de interpretar a mesma situação vivenciada. Esta técnica proporcio-
na melhor compreensão do problema pelo paciente que explora possíveis soluções
através do levantamento de alternativas, construindo formas de pensar mais obje-
tivas e realísticas sendo caracterizada por4:
z Ser uma forma de questionamento sistemático e orientado para o problema;
z Trazer informações à consciência do paciente;
z Estimular o exame, ponderação, avaliação e síntese de diversas fontes de informação;

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z Objetivar construir um raciocínio autônomo através da avaliação independente
e racional dos problemas apresentados e de soluções possíveis;
z Ensinar o paciente a converter sofrimento psíquico em autoexploração inquisitiva.

O questionamento socrático não corrige respostas, uma vez que não estabelece
certo ou errado, mas sim proporciona um insight proporcionando uma nova organi-
zação cognitiva no paciente reestruturando suas cognições4. Essa técnica propicia
uma intensificação da relação terapêutica aumentando o engajamento ativo do
paciente na terapia. Uma vez aprendida a lógica de seu processamento cognitivo o
cliente torna-se capaz de utilizá-la no cotidiano, podendo detectar os pensamentos
disfuncionais e construir pensamentos alternativos.

Manutenção das mudanças


Após a etapa inicial de ensino do modelo cognitivo e compreensão e aplicação das
técnicas que propiciam as reestruturações cognitivas, será feita uma revisão deta-
lhada dos avanços do paciente e quais são os problemas que permanecem. Nesse
momento, o terapeuta, juntamente com o paciente, formula um plano de curto
prazo tendo clareza sobre as queixas e os problemas que serão trabalhados, como
o paciente processa as informação recebida nessas circunstâncias, levando-se em
consideração o ambiente e suas capacidades3. Nos transtornos alimentares, isso in-
clui trabalhar mais a verificação do corpo e a evitação de comida, além de estimular
o paciente a manter seus esforços para desenvolver novos interesses e atividades1.
Podem ser construídos, por exemplo, cartões de enfrentamento com o resumo dos
frutos do trabalho de reestruturação cognitiva realizado na sessão7.

Prevenção de recaídas
As recaídas são deslizes que, geralmente, ocorrem em graus, geralmente desen-
cadeadas por um evento adverso. Nos transtornos alimentares estão relacionadas
à forma física (um comentário, uma perda de peso que não ocorre, um pequeno
ganho de peso, entre outros) ou uma situação de conflito ou intenso estresse em
decorrência das demandas sociais.

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A TCC propõe o uso de alguns recursos para prevenir a ocorrência de recaídas, são eles3:
z Educar o paciente sobre o risco de recaída;
z Identificar situação de risco ou “gatilhos” para a ocorrência de antigos pensamentos
ou crenças;
z Continuar executando o automonitoramento, ou seja, identificar pensamentos
e crenças que geram sofrimento e questionar sua validade;
z Enfatizar a importância de detectar os problemas cedo, antes de eles se tornarem
arraigados;
z Identificar a sequência de eventos que antecedem uma recaída no caso do paciente;
z Preparar estratégias de enfrentamento mesmo antes que situações de risco
ocorram, promovendo maior autoeficácia;
z Construir com o paciente um plano de ação elaborado para usar no futuro, caso
surja algum problema;
z Discutir quando o paciente deveria buscar mais ajuda e orientá-lo a se distanciar
da cena e avaliar objetivamente;
z Caso esteja fazendo uso de medicações psicoeducar sobre a necessidade de
continuar o uso sob orientação médica.
z Caso ocorram recaídas recorrer às estratégias aprendidas na terapia ou buscar
sessões de apoio com o terapeuta, avaliando o que deu errado.

Indica-se que o término do tratamento não ocorra abruptamente, mas sim possa
haver um espaçamento das sessões com avaliações periódicas no intuito de rea-
valiar o estado do paciente, bem como se haverá ou não necessidade de mais tra-
tamento. Além disso, deve-se analisar se o paciente está implementando o plano
de manutenção de curto prazo construído pela díade. Nesse momento discute-se
como o paciente enfrentou os reveses, sendo feita a revisão do plano de manuten-
ção de longo prazo se for necessário1.

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MAPA CONCEITUAL

Identificar
Reestruturação Identificar
Pensamentos
cognitiva gatilhos
Questionar

Manutenção Plano Curto prazo Estratégias Enfrentamento

Prevenção Plano Maior


de recaídas futuro autoeficácia

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REFERÊNCIAS

1. Almeida PEM, et al. Comportamento alimentar e transtorno alimentar: uma


discussão de variáveis determinantes da anorexia e da bulimia. Rev. Bras.
Ter. Comport. Cogn. [Internet]. 2014 Abr [citado em 27 Nov. 2020];16(1):21-29.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1517-55452014000100003&lng=pt.
2. Caballo VE. Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos
psicológicos. São Paulo: Editora Santos; 2007.
3. Oliveira MS, Andretta I (orgs.). Manual prático de terapia cognitivo-
comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011.
4. Knapp P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto
Alegre: Artmed; 2004.
5. Knapp P, Beck AT. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa
da terapia cognitiva. Rev. Bras. Psiquiatr. [Internet]. 2008 [acesso em 2020 set
20];30(2):54-64. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1516-44462008000600002&lng=en. https://doi.org/10.1590/
S1516-44462008000600002.
6. Rangé B. (org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com
a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 2001.
7. Wenzel A. Inovações em Terapia cognitivo comportamental: intervenções
estratégicas para uma prática criativa. Artmed; 2018.
8. Wrigth JH, Basco MR, Thase ME. Aprendendo a terapia cognitiva
comportamental. Porto Alegre: Artmed; 2008.

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