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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL, IP

CENTRO DE EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ENTRE DOURO E VOUGA


* SAÍDA PROFISSIONAL: Geriatria * AÇÃO N.º: 21
* FORMADOR: Rosário Barros * DATA INICIO: 04-12-2012 * DATA FIM: 21-12-2012

Deontologia e Ética Profissional

Código da UFCD: 3539

Área de Formação: 762

Local: Centro Social de Arrifana

Formadora: Rosário Barros

* UFCD: 3539 * DESIGNAÇÃO: Deontologia e ética profissional * Página 1 de 42

AÇÃO FINANCIADA PELO FUNDO SOCIAL EUROPEU E ESTADO PORTUGUÊS


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* SAÍDA PROFISSIONAL: Geriatria * AÇÃO N.º: 21
* FORMADOR: Rosário Barros * DATA INICIO: 04-12-2012 * DATA FIM: 21-12-2012

Objectivos do Módulo:

 Reconhecer e aplicar os princípios fundamentais da deontologia e ética profissional, na função


de acompanhamento de pessoas idosas.
 Reconhecer e respeitar os direitos da pessoa humana.

Conteúdos Programáticos

Princípios fundamentais
• Deontologia e ética profissional
• Actos lícitos e ilícitos
• Actos legítimos e ilegítimos
• Responsabilidade
• Segredo profissional

Direitos da pessoa humana


• Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa em particular
• A vida e a morte
• O Agente em Geriatria e a morte

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* FORMADOR: Rosário Barros * DATA INICIO: 04-12-2012 * DATA FIM: 21-12-2012

1. Princípios fundamentais
1.1. Deontologia e Ética Profissional
Existem conflitos éticos nos cuidados aos idosos. Mas não somente no mundo da
investigação genética ou onde a alta tecnologia faz pensar na bondade e justiça do seu uso, dos
seus custos, da sua proporcionalidade. Também existem conflitos éticos no cuidado com as
pessoas idosas em situações simples e diárias.
É de importância crucial que nos familiarizemos com a bioética, a fim de poder detectar e
analisar racionalmente os conflitos e humanizar a assistência a pessoas idosas.
Do grego “ethiké” ou do latim “ethica” (ciência relativa aos costumes), ética é o domínio da
filosofia que tem por objectivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o
comportamento correcto e o incorrecto. Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes,
pelas quais o homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia moral dignificante.
Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que não é
pouco frequente os termos ética e deontologia serem utilizados indiferentemente.
O termo Deontologia surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa dever e
“lógos” que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim, a deontologia seria o tratado do
dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adoptadas por um determinado grupo
profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada ao exercício da uma
profissão.

Noções de bioética
Historicamente, a bioética surge da chamada “ética médica tradicional”, centrada na
relação médico-paciente. Então a bioética apresenta-se como um ramo do saber que se serve
das ciências biológicas para melhorar a qualidade de vida e de reflexão em volta dos desafios
postos pelo desenvolvimento da biologia ao nível do meio ambiente e da população mundial;
mas também como ciência que combina o conhecimento biológico com o conhecimento dos
sistemas de valores humanos.
Os abusos na investigação científica por detrás dos horrores nazis promovem o desejo de
que essas situações não se repitam, dando lugar à proclamação de normas para proteger os
sujeitos das investigações.
Hoje, fenómenos como a Sida, a distribuição dos recursos médicos e sanitários, a
globalização e as questões transculturais fizeram com que se preste mais atenção ao princípio
de justiça, que tinham passado para segundo plano ante o da autonomia. A justiça e a dimensão
comunitária e social podem ser, sem dúvida, a preocupação mais importante da bioética do novo
milénio.
São três os princípios fundamentais pelos quais se orientam a bioética:
1. Respeito pelas pessoas;
2. Beneficência (inclui a obrigação de não fazer o mal como promover o bem alheio);

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3. Justiça.
Tendo em conta estes princípios, elaborou-se a “teoria dos quatro princípios”:

1. O princípio do respeito da autonomia


Refere-se à capacidade que as pessoas têm para autogovernar-se, livres não só de
influências externas que as controlem como de limitações pessoais que as impedem de fazer
uma verdadeira opção. O indivíduo autónomo age livremente, segundo um plano de acção que
ele próprio escolheu.
Aplicado ao nosso campo, este princípio obriga a respeitar a liberdade e os valores da
pessoa idosa e a não impor decisões pessoais.
Define-se acções autónomas como aquelas em que o agente moral actua:
intencionalmente, com compreensão, sem influências externas que determinem ou controlem a
sua acção.
O respeito pela autonomia da pessoa exige que as suas acções autónomas não sejam
sujeitas a controlos externos que as limitem ou as impeçam. Dito positivamente, o princípio
obriga-nos a favorecer o exercício de autonomia pessoal (revelar a informação necessária para
tomar decisões, etc).
Há-de respeitar-se o princípio quando a pessoa idosa reúne uma série de condições
mínimas de competência. Nos casos em que não se pode fazer uma assunção de
responsabilidade pessoal, será preciso contar com um tutor ou representante legal que vele
pelos interesses do idoso da maneira mais ética possível.
A autonomia define-se segundo a capacidade ou incapacidade da pessoa para agir e a
competência de que dispõe para decidir responsavelmente as suas acções e as consequências
que delas derivam. A avaliação da autonomia é complexa e requer que se distinga entre
competência e capacidade.
Todos os indivíduos, enquanto não se demonstre o contrário, devem ser tratados como
autónomos e que as pessoas cuja autonomia esteja minguada ou diminuída, devem ser objecto
de protecção.

2. O princípio da não maleficência


Este princípio consiste na afirmação essencial da obrigação de não causar dano
intencionalmente. Vale a máxima “Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti.”
Obriga assim a que cada um se abstenha de causar dano a outra pessoa.
A não maleficência refere-se aos danos injustos, aqueles que são atribuídos à vontade
humana e que implicam uma violação dos legítimos direitos e interesses de uma pessoa.
Os referentes máximos deste princípio são: evitar a negligência; a ignorância; não quebrar
a confidencialidade; evitar o mal físico, próprio ou alheio.

3. O princípio de beneficência

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Significa “fazer o bem”. A vida moral vai além das exigências do respeito pela autonomia
alheia. Este princípio exige actos positivos para promover o bem e a realização dos outros,
independentemente de não causar dano e de respeitar as suas decisões autónomas. Portanto,
implica colocar os conhecimentos, habilidades e valores ao serviço dos destinatários do trabalho
profissional.
Muitos actos de beneficência não são obrigatórios, mas existe uma obrigação geral de
ajudar os outros a promover os seus interesses legítimos e importantes.
O conflito surge quando o bem, que consideramos exigível, actua contra a vontade ou
autonomia do interessado; quer dizer, trata-se de fazer o seu bem, não o nosso. Ao mesmo
tempo, o bem não é quimicamente puro ou absoluto, pois nunca poderemos fazer todo o bem
esperado ou espectável.

4. O princípio da justiça
Este princípio tem a ver com o que é devido à pessoa, com aquilo que de alguma maneira
lhe pertence ou lhes corresponde. Quando uma pessoa tem benefícios ou encargos na
comunidade, estamos perante uma questão de justiça. A injustiça pressupõe que se negue ou
retire a alguém aquilo que lhe era devido, que lhe correspondia como seu.
A origem da justiça está no reconhecimento expresso da dignidade de todo o ser humano
enquanto tal, sem mediar motivos como a raça, a inteligência, o nível cultural ou económico, a
idade, etc. Por isso, obriga a que se tratem todas as pessoas com a mesma consideração e
respeito.
A justiça que mais interessa no campo da biomedicina é a justiça distributiva, que se
refere À distribuição equitativa de direitos, benefícios e responsabilidades ou obrigações na
sociedade.

Como enfrentar os conflitos éticos nos lares


No cuidado com as pessoas idosas em lares, surgem conflitos éticos. Alguns deles que
podemos encontrar, são por exemplo os relacionados com as directrizes antecipadas, ou
testamento vital, os maus tratos, as restrições físicas, a tutela, a negação de tratamentos ou
indicações terapêuticas e a oportunidade ou não de persuasão, assim como quanto tem que ver
com as atitudes nos cuidados e a formação adequada dos cuidadores.
No mundo hospitalar é fácil encontrar ajuda em situações difíceis, uma vez que existem
Comités de Bioética. Em contrapartida, estes ainda não existem nos lares. Como também ainda
não se difundiu o hábito de enfrentar os conflitos mediante o diálogo e a deliberação.

Os comités de bioética
Quando é preciso enfrentar os conflitos éticos nos lares, o ideal é reconhecer a autoridade
do diálogo na procura do bem. Por isso, estes comités, constituem um foro ideal para dar espaço
ao diálogo deliberativo.

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Um comité não passa de uma comissão consultiva e interdisciplinar, criada para analisar
e assessorar na resolução de possíveis conflitos éticos que surgem durante a prática clínica nas
Instituições de Saúde como os lares, e cujo objectivo final é melhorar a qualidade dessa
assistência de saúde.
As funções desse comité são:
1. Promover a formação bioética tanto dos próprios membros do comité, como dos
trabalhadores da instituição;
2. Proteger os direitos dos doentes e seus familiares;
3. Analisar casos particulares para facilitar a tomada de decisões;
4. Formular orientações, directrizes e protocolos.
Nos lares, não é fácil criar comités que reúnam todas estas características.
No entanto, esperamos que nos próximos anos se criem, onde for possível.
A deliberação
A deliberação é um procedimento de diálogo, um método de trabalho quando se quer
abordar em grupo um conflito ético. Parte-se do pressuposto de que ninguém é detentor da
verdade moral e de uma vontade racional: cada um dá as suas razões e está aberto a que os
outros possam modificar o seu ponto de vista pessoal.
Algumas condições para que se produza a deliberação:
 Ausência de restrições externas;
 Boa vontade;
 Capacidade de dar razões;
 Respeitar os outros quando se discorda;
 Desejo de entendimento, cooperação e colaboração;
 Compromisso.
Atrás da atitude deliberativa está um modo de conceber o conflito ético não só como
dilema, mas também como problema. Quem vê nos conflitos somente dilemas, quando dialoga
arranca de um ponto de partida inamovível (crenças, preferências…), considera as questões
éticas como algo que tem sempre de ter resposta e para as quais tem sempre de haver uma
solução apropriada, já que formula um dilema entre duas posições, defendendo-se a que se
julga mais correcta. Em contrapartida, quem vê nos conflitos éticos sobretudo problemas e não
dilemas, situa-se de maneira aberta no debate ético, considera que não tem a solução desde o
início, que se pode mudar de ponto de vista, que o ponto de chegada será decisões prudenciais
e não certezas nem soluções únicas (a ética não é matemática).

A persuasão
Frequentemente, ao cuidar-se das pessoas idosas, é necessário recorrer a persuasão,
particularmente ante as negativas a indicações terapêuticas e, de modo especial, quando tal
negativa tem repercussões indesejáveis sobre terceiros ou graves consequências na saúde.
Pode acontecer que o caso seja tão simples como a pessoa idosa não deixar que a ajudem a
tratar da sua higiene pessoal ou não querer comer ou ir ao hospital fazer uma análise ou exame.

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Se é verdade que é importante acompanhar um idoso a adoptar estratégias construtivas,


adaptativas e favoráveis ao processo terapêutico, também não nos escapa a dificuldade que tem
a persuasão por ter uma relação tão próxima com a manipulação.
De preferência recomenda-se aos Agentes de Geriatria que evitem a tentativa de
persuadir os ajudados, dando maior importância aos processos de tomada de decisão
autónomos individuais. Caso contrário, está-se a contribuir para o perigo de criar novas atitudes
de dependência relativamente ao ajudante, alimentando assim a imaturidade psíquica.
Na relação entre o agente e a pessoa idosa, há situações em que podemos falar
claramente de persuasão.
Está claro que, diante de um paciente que não quer lavar-se, diante de uma pessoa que
não quer abandonar atitudes anti-sociais, o agente terá de adoptar estratégias de persuasão,
mas com alguns critérios, entre os quais os seguintes:
 A prudência e a humildade de quem não quer conduzir a vida dos outros nem se
considera dono da verdade;
 Acompanhamento na tomada de decisões responsáveis e saudáveis para si mesmo e
para os outros;
 Promoção do máximo de responsabilidade;
 Facilitação para que as condutas sejam adoptadas por razões que o ajudado encontre
dentro de si como válidas, ou descubra a sua validade, embora inicialmente venha de
fora;
 O segredo está:
- No peso dos argumentos em si
- Na bondade da intenção
- No modo de induzir o outro (os meios utilizados)
- Nos valores que orientam quem persuade
- No objectivo da persuasão, não centrado na lei nem na norma, mas na pessoa e as
suas possíveis repercussões sobre terceiros.
Aqui a relação de ajuda tem de entrar em diálogo aberto com as posições éticas de
respeito pela autonomia da pessoa idosa, em possível conflito com os outros princípios éticos.
Convém ter sempre em atenção que a linha divisória entre a persuasão, a manipulação e
a coerção, é muito subtil….
Finalmente, a persuasão é a influência intencional e conseguida de induzir uma pessoa
mediante procedimentos racionais, a aceitar livremente as crenças, atitudes, valores, intenções
ou acções defendidas pelo persuasor.
As pessoas persuasivas geram confiança, segurança e são consideradas “credíveis” e
“desinteressadas”. Como conseguir criar essa imagem? E, sobretudo, quais são as
características das suas mensagens, da sua maneia de se comunicar?
A pessoa persuasiva é quase sempre uma pessoa assertiva, que sabe mover-se de
maneira harmoniosa. Quanto às mensagens “persuasivas”, é preferível que sejam
argumentadas (que expliquem os motivos que aconselham esta ou aquela recomendação), mas

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sem expor os prós e os contras das alternativas, a não ser que o nosso interlocutor tenha um
elevado nível cultural. Se prevemos oposição ao nosso conselho, tornar-nos-emos mais
persuasivos se começarmos com os argumentos que o apoiam para, no fim, introduzir a
recomendação. Não sendo este o caso, preferiremos iniciar sempre a nossa intervenção
directamente pelas conclusões e, depois, argumentá-las de maneira conveniente.
Os apelos ao medo (“Se não fizer esta dieta, pode ter um enfarte”) costumam ter um grau
moderado de eficácia, mas perdem-no completamente se houver colorações dramáticas.

Código ético e deontológico dos agentes de geriatria


É considerado profissional de Geriatria (adiante designado de Agente de Geriatria - A.G.)
toda a pessoa habilitada desde que legalmente reconhecido com certificação profissional
legalmente reconhecida.
A geriatria tem em consideração os aspectos deontológicos da conduta profissional e do
exercício da profissão de acordo com este código, assenta em quatro princípios
interdependentes:
1. Respeito pelos direitos e dignidade da pessoa
2. Competência
3. Responsabilidade
4. Integridade

Respeito Geral
Os A.G. defendem e promovem o desenvolvimento dos direitos fundamentais, dignidade e
valor de todas as pessoas. Respeitam os direitos dos indivíduos à privacidade,
confidencialidade, autodeterminação e autonomia. No exercício da profissão o A.G. deve:
 Respeitar a diversidade individual e cultural, nomeadamente, decorrente da raça,
nacionalidade, etnia, género, orientação sexual, idade, religião, ideologia, linguagem e
estatuto socioeconómico dos idosos com quem se relaciona;
 Respeitar o conhecimento experiência de todos os idosos com quem se relaciona;
 Respeitar a diversidade individual resultante das incapacidades dos idosos, garantindo
assim igualdade de oportunidades;
 Não impor o seu sistema de valores perante as pessoas.

Privacidade e Confidencialidade
No exercício da profissão o A.G. respeita o direito à privacidade e à confidencialidade dos
idosos. Este tem o dever de manter a confidencialidade, e fornecer apenas a informação
estritamente relevante para o assunto em questão.

Limites da Confidencialidade
No exercício da profissão, deve informar os idosos, quando considerar apropriado, acerca
dos limites legais da confidencialidade, divulga informação dos relatórios a terceiros quando tal

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lhe seja imposto com legitimidade jurídica e, neste caso, informa, obrigatoriamente o idoso. No
exercício da profissão o A.G. tem o dever de informar, de forma compreensível para o idoso e
para terceiras partes relevantes, todos os procedimentos que vai adoptar e obter destes o
consentimento explícito. Quando a relação com o idoso for mediada pela terceira parte relevante
é a esta que compete o consentimento informado.
Autodeterminação
No exercício da profissão o A.G. deve:
 Respeitar e promover a autonomia e o direito à autodeterminação dos idosos; Assegurar-
se de forma fundamentada que é respeitada a liberdade de escolha do idoso no
estabelecimento da relação profissional;
 Respeitar e promover o direito do idoso de iniciar, continuar ou terminar a relação
profissional;
 Ter em conta que a autodeterminação do idoso pode ser limitada pela idade, capacidades
mentais, nível do desenvolvimento, saúde mental, condicionamentos legais ou por uma
terceira parte relevante.
Os Agentes em Geriatria empenham-se em assegurar e manter elevados níveis de
competência na sua prática profissional. Reconhecem os limites das suas competências
particulares e as limitações dos seus conhecimentos. Proporcionam apenas os serviços e
técnicas para os quais estão qualificados mediante a educação, treino e experiência;
 Ter um conhecimento aprofundado e actualizado deste Código Deontológico.
 Ter uma reflexão crítica contínua sobre a sua conduta e em qualquer contrato que o A.G.
estabeleça, deve ter em conta o preconizado no Código Deontológico, tendo um
conhecimento aprofundado e actualizado da lei geral, no que concerne na sua prática;
 Fornecer apenas os serviços para os quais está legalmente habilitado e estando atento as
suas limitações pessoais e profissionais, sempre que o A.G. não tenha necessária
competência profissional ou pessoal para trabalhar com determinados idosos deve, na
medida do possível encontrar soluções alternativas;
 Apenas utilizar métodos e técnicas cientificamente validadas e ter obrigatoriamente em
conta as limitações dos métodos e técnicas que utilizam, bem como os dados que
recolhe, e deve manter-se actualizado a nível profissional e justificando a sua conduta
profissional á luz do estado actual da ciência;
 Estar particularmente atento às limitações físicas e psicológicas, temporárias ou
impeditivas de uma adequada prática profissional. Caso estas existam, não deve dar
inicio ou manter qualquer actividade profissional. “Os A.G. estão conscientes das suas
responsabilidades profissionais e cientificas para com os seus clientes. A comunidade e a
sociedade em que trabalham e vivem;
 Evitar causar prejuízo e ser responsável pelas suas próprias acções, assegurando eles
próprios e tanto quanto possível que os seus serviços não sejam mal utilizados;
 Contribuir para o desenvolvimento da disciplina de Geriatria responsável pela qualidade e
consequências da sua conduta profissional e deve assegurar a manutenção de elevados

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padrões de integridade e conhecimento científico e deve trabalhar em instalações


convenientes e locais adequados que garantam a dignidade dos seus actos profissionais
e o Idoso;
 Assumir a responsabilidade de uma difusão adequada da Geriatria, quando se dirige ao
público em geral e aos media;
 Evitar causar dano ou prejuízo a qualquer pessoa, deve ponderar de forma sistematizada
os prejuízos que a sua acção possa vir a causar, utilizando todos os dispositivos para os
minimizar. Nas circunstâncias em que o prejuízo seja inevitável, os A.G. devem avaliar de
forma fundamentada a relação custo/ benefício da sua acção.

Aptidão necessária ao A.G.


 Maturidade e capacidade de adaptação (trabalhar para o idoso e não só com o idoso;
 Empatia e sensibilidade (colocar-se no lugar do outro para melhor compreender o que ele
sente, aceitá-lo e respeitá-lo);
 Amor pelos outros (o idoso é um ser humano global cujo potencial é necessário
conhecer);
 Objectividade e espírito crítico (estas qualidades permitem que os A.G. tenham uma visão
alargada dos problemas ligados ao envelhecimento e á morte e que possam estabelecer
soluções adequadas);
 Sentido social e comunitário (trabalhar de forma a manter a população idosa no máximo
de autonomia facilitando a abolição de atitudes sociais negativas);
 Flexibilidade e polivalência (ser capaz de se adaptar ao ritmo do idoso e trabalhar em
parceria com profissionais de saúde);
 Criatividade (campo em que cada um deve exercer a sua criatividade).

Responsabilidade alargada
No exercício da profissão, A.G. é também responsável pelo cumprimento do presente
Código Deontológico por parte daqueles que com ele colaboram, colegas de profissão
hierarquicamente superiores ou inferiores apoiando-os, nas necessidades deontológicas e
profissionais.

Resolução de Dilemas
No exercício da profissão o A.G. deve ter consciência da potencial ocorrência de dilemas
éticos e da sua responsabilidade para os resolver de uma forma que seja consistente com este
Código Deontológico. No exercício da profissão, quando confrontado com um dilema ético, o
A.G. deve procurar com os colegas o objectivo de encontrar a melhor solução. Se ocorrer um
conflito de interesses entre as obrigações para com o idoso ou terceiras partes relevantes e os
princípios deste Código Deontológico, o A.G. é responsável pelas suas decisões. Se estas
contrariarem este Código Deontológico, o A.G. tem o dever de informar os idosos e/ou as
terceiras partes relevantes fundamentando a sua relação.

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Reconhecimento das limitações profissionais


No exercício da profissão de evitar situações que possam levar a juízos enviesados e
interfiram com a sua capacidade para o exercício da prática profissional. O A.G. deve procurar
apoio profissional e/ou supervisão para a resolução de situações pessoais que possam
prejudicar o exercício da profissão.

Honestidade e Rigor
No exercício da profissão o A.G. deve:
 Reger-se por princípios de honestidade e verdade;
 Assegurar-se que as suas qualificações são entendidas de forma inequívoca pelos outros;
 Ser objectivo perante terceiras partes relevantes, acerca das suas obrigações sob o
Código Deontológico, e assegurar-se que todas as partes envolvidas estão conscientes
dos seus direitos e responsabilidades;
 Assegurar que terceiras partes relevantes ou outros (pessoas ou entidades) estão
conscientes de que as suas principais responsabilidades são, geralmente, para com o
idoso;
 Expressar as suas opiniões profissionais de forma devidamente fundamentada.

Franqueza e Sinceridade
No exercício da profissão o A.G. deve:
 Fornecer aos idosos e terceiras partes relevante, de forma clara e exacta, informação
sobre a natureza, os objectivos e os limites dos seus serviços;
 Tentar, por todos os meios possíveis, minimizar a ocorrência de erro. Se este ocorrer
deve, de forma clara e inequívoca, accionar os mecanismos para a sua correcção;
 Evitar todas as formas de logro na sua conduta profissional.

Conflito de interesses e exploração


No exercício da profissão, o A.G. não se pode servir as suas relações profissionais com
os idosos com o objectivo de promover os seus interesses pessoais ou de terceiros.

Relações entre colegas


As relações entre os A.G. devem basear-se nos princípios de respeito recíproco, lealdade
e solidariedade. O A.G. deve apoiar os colegas que lhe solicitem ajuda para situações
relacionadas com a prática profissional. Quando o A.G. tem conhecimento de uma conduta
deontologicamente incorrecta por parte de um colega deve, de forma fundamentada, apresentar-
lhe a sua critica e tentar, com ele, estabelecer formas para a corrigir. Se esta conduta se
mantiver deve informar a instituição dando disso conhecimento ao colega.

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1.2 Actos lícitos e ilícitos/legítimos ou ilegítimos

O critério de distinção é o de conformidade com a lei, projectando-se esta distinção


igualmente no regime dos efeitos jurídicos do acto, é uma distinção privativa dos actos jurídicos.
A razão de ser desta delimitação reside na circunstância de a ilicitude envolver sempre
um elemento de natureza subjectiva que se manifesta num não acatamento, numa rebeldia à
Ordem Jurídica instituída. Envolve sempre uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido
a atitude adoptada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da violação – a
sanção.
Os actos ilícitos, são contrários à Ordem Jurídica e por ela reprovados, importam uma
sanção para o seu autor (infractor de uma norma jurídica).
Os actos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos. Não podemos
dizer que o acto ilícito seja sempre inválido. Um acto ilícito pode ser válido, embora produza os
seus efeitos sempre acompanhado de sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta
também a ilicitude do acto.
A distinção entre actos jurídicos simples ou não intencionais ou calculados, não põe em
causa o problema da intervenção da vontade, não obstante se atenda à relevância da vontade
no regime dos efeitos jurídicos do acto.
Há certos actos jurídicos que bastam com a vontade do agente, dirigida a uma conduta
em si mesma. Esta conduta, tem no entanto de ser querida pelo agente e necessita sempre de
uma acção humana – sendo esta apta e suficiente para que se produzam os efeitos previstos na
forma jurídica.
Os actos jurídicos intencionais, podem distinguir-se entre determinados e indeterminados.
Há nestes actos jurídicos aquilo a que alguns autores chamam: a nota finalista da conduta
humana.
Na modalidade dos actos jurídicos intencionais é possível distinguir-se a vontade humana,
sendo que esta é considerada para o direito, como a génese da voluntariedade de determinar
Direito – vontade expressa de uma certa acção. Noutros casos para além dessa voluntariedade,
atende-se também ao facto de o agente querer expressar uma determinada conduta de
pensamento.
A vontade funcional encontra-se sempre nos actos intencionais, não tendo no entanto em
todos eles a mesma extensão, processando-se a distinção nos termos seguintes. Em certos
actos jurídicos intencionais, a vontade, embora se refira aos efeitos do acto, não estipula esses
efeitos. O agente tem de acatar os efeitos não patrimoniais do casamento. Não são, neste caso,
os nubentes que definem os efeitos não patrimoniais do acto. Os efeitos do acto indeterminado,
não são fixos tão só pela norma jurídica, como também pelo agente.
Nem a norma nem o agente determinam os efeitos do acto em termos absolutos. A norma
confere uma certa liberdade ao agente na determinação dos efeitos. (ARTIGO 154º DO
CÓDIGO COMERCIAL)

* UFCD: 3539 * DESIGNAÇÃO: Deontologia e ética profissional * Página 12 de 42

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Actos lícitos e ilícitos, legítimos e ilegítimos


 Os actos ilícitos envolvem sempre uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido
atitude adoptada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da violação –
a sanção.
 São contrários à Ordem Jurídica e por ela reprovados, importam uma sanção para o seu
autor (infractor de uma norma jurídica).
 Os actos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos. Não podemos
dizer que o acto ilícito seja sempre inválido.
 Um acto ilícito pode ser válido, embora produza os seus efeitos sempre acompanhado de
sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta também a ilicitude do acto.
Nada melhor, para o debate deste tema que o estudo de casos práticos, para que assim
se possa distinguir actos ilícitos dos ilícitos, como dos legítimos dos ilegítimos.

Caso Prático 1
Cármen é uma senhora de 87 anos que tem a doença de Paget, uma patologia degenerativa dos ossos que
lhe provoca terríveis dores nas costas. Já está há muito tempo de cama sem se poder mexer por causa dessas
dores.
- Olá Cármen. Como está hoje?
- Mal. Muito mal. Não suporto mais as dores. Não posso mais.
- Venho tirar sangue para uma análise.
- Por favor, peço-lhe: não me façam mais malvadezes. Estou muito cansada. Deixem-me morrer em paz.
- Mas Cármen, é para seu bem!
- Não quero mais sofrimento. Parece-lhe pouco o que já passei?
- Os médicos dizem que é preciso fazê-lo.
- Não, por favor. Não me faça mais. Você que em conhece… sabe o que tenho sofrido durante estes dois
anos. Deixe-me estar!
- (Eu quase não podia falar. Extraí-lhe o sangue e saí do quarto. Instantes depois voltei para lhe pôr uma
sonda nasogástrica. Ordem médica.) Cármen, tenho de lhe pôr uma sonda. Custa-me ter de fazer isto. Desculpe-me
mas precisa dela, e tenho de fazer isto. (Enquanto a colocava, custou-me muito o que lhe estava a fazer. Esforçava-
me por animá-la com as minhas palavras, dizendo que ela se estava a portar muito bem e que assim era mais fácil.)
- Estou a morrer. Porque não me deixam? Estou preparada.
- Não diga isso. Ninguém sabe o tempo que lhe resta.
- Sim, vocês sabem. Não me engane. Sabe que não posso aguentar nem uns dias…
- Nós as duas sabemos quantas situações difíceis já venceu: um enfarte, uma pancreatite, pneumonias….
- Sim, é verdade. Mas antes eu tinha força. Agora já não tenho nenhumas.
- (Os meus olhos ficaram embaciados. Ela percebeu!)
- (Pegando na minha mão.) A única satisfação que tenho é ter-vos a vocês!
- Tem muitas dores, não tem?
- Tenho. Tirem-me estas dores e deixem-me. Quero morrer já.
- Vou dar-lhe um calmante e verá que descansa.
- Eu quero outro descanso. É o único descanso que desejo.
- Já venho… (Vou buscar-lhe o calmante. Quando volto, diz-me)
- Ana, cuida muito bem dos teus filhos. Quero que os vejas crescer, que sejais muito felizes; e cuida muito
bem das tuas costas, que não tenhas de passar por este sofrimento que estou a passar.

* UFCD: 3539 * DESIGNAÇÃO: Deontologia e ética profissional * Página 13 de 42

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- Fá-lo-ei, de verdade.
(Cármen morreu nessa mesma tarde.)

Caso Prático 2: Maria não quer ir ao hospital

Maria tem 79 anos. A sua família mais próxima é formada por dois netos e uma nora que a visitam de vez
em quando. Entrou num Lar da Terceira Idade, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de suicídio planeado
juntamente com o seu marido; sobreviveu, porque recuou no último momento.
Sofre de cirrose hepática, tem varizes esofágicas e síndrome depressiva. Durante a sua estada no Centro,
teve outros episódios depressivos, depois dos quais voltava a mostrar interesse pela vida. Está a ser atendida pela
equipa do Lar, no qual se incluem vários médicos que examinam diariamente os casos mais agudos. Há um mês,
teve um episódio que, por decisão dos médicos, obrigou a que fosse transferida para um hospital especializado,
onde pudessem fazer uma transfusão de sangue e fazer outros tratamentos específicos. Além disso, já lhe
amputaram uma perna e tem diabetes.
Maria não gostou de ser transferida. Como conhecia a prática dos lares, nestes casos, havia já algum tempo
que dizia que, se lhe acontecesse alguma coisa, não a levassem para um hospital. Na última vez, portanto, quando
regressou, voltou a insistir que não queria mais ser transferida. Confessava que o lar era a sua casa e era nele que
queria morrer.

Situação actual
Actualmente, o quadro volta a repetir-se e, de novo, padece de hemorragias. A situação clínica, descrita
pelo médico, é a seguinte:
- O hemograma exige que se faça uma transfusão de sangue;
- Reactivação da síndrome depressiva.
Perante este quadro, a opinião dos médicos é a de novamente enviá-la para o hospital. Ela opõe-se,
manifestando o desejo de ficar no lar. O médico percebe que, devido à sua depressão, a doente deseja morrer.
A opinião da enfermagem não coincide totalmente com a avaliação feita da situação anímica da paciente,
argumentado que:
- Pelo que conhece da paciente, no momento actual, ela tem capacidade de decidir;
- Tivera outra experiência anterior e a sua decisão estava em linha com as manifestações anteriores sobre
este ponto, tomadas com serenidade e lucidez.
Também a assistente social, que conhece a paciente, afirma que Maria está consciente do seu estado e das
suas expectativas de vida, e que a sua vontade de morrer serenamente e no lar é independente de que seja agora
ou depois do tratamento, que ela consideraria agressivo.
O padre, conhecedor do agravamento da situação de Maria, também a visitou, como vinha fazendo
assiduamente nos últimos dias. Maria reitera o seu desejo de não ir para o hospital. O padre fala com o médico e
informa-se exactamente das possíveis consequências dessa decisão. É muito provável que venha a falecer se não
for transferida. Então, volta a falar com Maria e explica-lhe abertamente a situação: “A Maria está mal. Como vê,
perdeu sangue. O médico pensa que deveria ir ao hospital, para ser tratada com meios que aqui não há. Se não for,
pode morrer.” Maria insiste que não quer ser levada. Também fala abertamente, dizendo que sabe perfeitamente o
que está a acontecer, que sabe que chegou o fim, que o aceita, que ela própria enfrentará Deus e fará contas com
Ele. O padre garante-lhe que falará com a equipa.
Na equipa, fala-se sobre a situação e parece não haver acordo, de modo que se decide consultar o director
como responsável último da Instituição. O director fala novamente com a paciente e recebe a mesma mensagem:
deseja ficar, aceitando que muito provavelmente morrerá, embora, se fosse transferida, ainda houvesse alguma
possibilidade de superar o momento actual. O director decide que Maria só será levada ao hospital, se ela mudar de
opinião.

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Caso Prático 3: O amolador da Praça de Espanha

O caso seguinte baseia-se no testemunho recolhido por uma assistente social que trabalha num lar.
Transcreve-o assim:

Novembro
Tenho a certeza que já todos viram o Fernando na Praça de Espanha, com a sua bicicleta de amolador,
sentado ao sol ou afiando alguma faca. Segundos dizem os daqui, os que já viveram muitos anos nessa pequena
cidade, ele é o Amolador do Bar Lisboa.
Analfabeto, embora tenha nascido em Lisboa. Ele é daqui, também desde sempre. Viveu nesta cidade com
os seus pais e o seu único irmão, sempre em casa alugada. Já está sozinho há muito tempo, solteiro, já sem
ninguém. Mas não deixou um só dia de ir para o “trabalho”, onde o esperam diariamente, nem “de estar com os
amigos”. Poucos dias amola. Por vezes, umas tesouras, outras umas facas, outras nada. Pede 400, mas logo lhe
dizem que fique com o troco, de modo que costumam ser 500. Agora com o euro, deve ter tido de arredondar e não
creio que tenha sido para baixo.
Há três meses, saiu da sua casa cedo, como sempre, para ir ao Bar Lisboa colocar-se com a sua bicicleta
de amolador. E voltou, como sempre, à tarde. A sua casa tinha ardido: tenha deixado o aquecedor ligado e pegou
fogo ao colchão. Levaram-no para um lar para passar a noite. E já lá vão todas as noites de três meses que passou
nesse lar.
Fernando não vê. Ele diz que o médico lhe disse uma vez que tinha a “vista muito delicada” e que não lhe
podem fazer nada. Também já perdeu muito o ouvido, embora seja possível a comunicação, mas não muito
complicada. No início da sua estada no lar, não o deixavam sair de lá e ele não entendia muito bem porquê. Por
isso, teve de abandonar o seu trabalho durante mais de uma semana. Na verdade, no lar não conheciam muito bem
a sua história nem as suas capacidades, tinham medo que lhe acontecesse alguma coisa se saísse sozinho, que
fosse atropelado por um carro, que se perdesse, que se fosse embora e não quisesse voltar. Até chamaram os seus
amigos do Bar Lisboa e, então, perceberam que Fernando não podia faltar ao seu encontro diário com a sua
bicicleta de amolador e que deviam adaptar-se para que ele pudesse continuar com a sua rotina e com a sua vida
quotidiana.
Porque Fernando sabe muito bem o que quer. É verdade que não tem hábitos de higiene, que a sua casa
se encontra em muito mau estado, embora tivesse um auxiliar de ajuda ao domicílio que lhe fazia a limpeza; mas
ele nunca quis que ninguém se imiscuísse na sua vida e, muito menos, que o obrigassem a lavar-se ou a manter a
sua casa em ordem. Além disso, diz que ele sozinho dá perfeitamente conta do recado. Os vizinhos não pensam o
mesmo, especialmente quando deixa as torneiras abertas e lhes inunda a casa, quando deixa o rádio ligado com o
volume no máximo durante a noite, quando cheira mal… E receiam que, no próximo incêndio, não possam sair
como desta vez.
Fernando disse-nos de modo muito claro: não quer ir para o lar, onde já esteve duas vezes, e lá não dão de
comer nem se está bem. Além disso, o que vai acontecer com o seu trabalho? Se não for, vão todos perguntar por
onde anda. Ele está melhor só: come a sua fruta (porque os médicos dizem na televisão que tem muitas vitaminas),
come por onde calha, às vezes dão-lhe alguma coisa no Bar Lisboa, às vezes ele paga um guisado barato… e o
seu tabaco, que com o pouco que lhe dão de pensão já não lhe chega para mais. É um mistério onde gasta o
dinheiro; mas isso nunca saberemos, porque todos os seus tesouros andam no fundo do seu eterno sobretudo, que
só tira para dormir e o mete debaixo da almofada. Embora no lar lho tirem e lavem; ele é que fica levado dos diabos
porque já chega de quererem lavar-lhe a roupa que está limpa!
Este é o Fernando, uma personagem da sua pequena cidade. Qualquer dia, um carro atropela-o ou cai ou
apanha uma infecção a comer o que deixa em casa dias e dias… Ele sabe muito bem o que quer e quer continuar a
viver como até agora: só, sujo, organizado à sua maneira, satisfeito com a sua desordem.
Tem impedimentos para viver só? Muitíssimos. Não vê. Não ouve. Não sabe manter a higiene.
Provavelmente estará mal alimentado. Mas gosta de sair todas as manhãs a caminho do seu “trabalho”, embora a

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maioria dos dias volte dizendo que não amolou nada. Gosta de, à noite, voltar para “a sua casa”. Provavelmente
estaria melhor num lar. Mas não estaria feliz. Estaria melhor? Quem pode decidir o valor das coisas? Vale mais a
segurança física ou emocional? Vale mais um quarto asseado e uma boa alimentação ou a segurança da rotina
conhecida e amada? Vale mais morrer bem atendido numa cama limpa do que atropelado por um carro, a caminho
daquilo que a pessoa sente como “seu”?

Junho seguinte
Passam os meses e Fernando continua no mesmo lar para onde o levaram, para passar duas noites, há
quase seis meses. Na realidade, a sua casa já está arranjada, mas nunca lho disseram. A sua rotina foi
apresentada ao Tribunal para que o declarassem incapaz, nomeassem um tutor e o metessem num lar, onde possa
ser bem atendido. Entretanto, espera, porque dentro de alguns dias vai a julgamento para que se acabe de decidir
se é ou não capaz. De quê? Ele já disse ao juiz que sozinho se amanha mal, mas que para o lar nem pensar.
Ocorreram novos acontecimentos que voltam a colocar-nos mais dúvidas sobre a capacidade de Fernando
viver só. Iam levá-lo ao Registo Civil para tirar o Bilhete de Identidade. Mas eram precisas fotografias. Um dia voltou
com as fotografias, pois já se tinha aborrecido de perguntar onde se fazia isso. Noutro dia, explicou aos do lar que
não o levassem a tirar o Bilhete de Identidade, porque ele já o tinha feito. Não havia maneira de acreditarem nele,
por isso teve de lhes mostrar o documento com que iria levantá-lo. Como se ele não soubesse que a Repartição do
Registo Civil está naquela praça e que é preciso ir lá de manhã e que depois, passados uns dias, é preciso voltar lá
para levantá-lo! E ele já o tinha feito.
Também não tinha o Cartão da Segurança Social e disseram-lhe onde podia tirá-lo. O pior é que é um
edifício muito grande, com muitos andares, e é preciso apanhar o elevador e ele não sabia onde era. Um dia, um
voluntário foi ao Bar Lisboa e acompanhou-o a tirar o cartão. E não acreditaram quando Fernando lhes disse que
um funcionário muito simpático tinha-lhe arranjado tudo. Só acreditou quando ele lho mostrou.
Além disso, no lar levaram Fernando a um oftalmologista. O médico disse-lhe que tinha um olho perdido,
mas que podiam operar o outro e iam pô-lo como prioritário na lista de espera. Ele está contente, porque quer que o
operem e quer ver. Isto também me anima a mim, porque desde há bastante tempo que está cada vez pior, como
se estivesse a perder faculdades. Pergunto-me se não aconteceu com Fernando o mesmo que acontece com
outros idosos que, retirados do seu meio ambiente, atingem o “limite” da sua capacidade de adaptação.
A verdade é que Fernando se sente cada vez menos autónomo; pelo menos, é o que penso cada vez que
vejo que ele aceita melhor a ajuda e quando fica no lar, em vez de sair para a rua, se o dia amanhece mais frio ou
nublado.
Dentro de uns dias terá de voltar ao Tribunal para ver como se resolve o seu problema da incapacidade.
Ainda não se sabe nada da operação. No lar, preferiram não acelerar a operação para que, no dia do julgamento,
ele não apareça com a vista melhorada e que o juiz pense que ele poderia amanhar-se sozinho. Por esse mesmo
motivo, também nada fizeram para que ele pudesse ir para casa. Fernando não pergunta nem pela sua casa nem
quando vai sair daqui. E parece que, realmente, está pior do que quando veio.
Tudo isto me suscita muitas perguntas sobre o que será eticamente correcto, sobre o que será mais justo,
sobre o que será melhor para o Fernando e para a sua incapacidade, e sobre a melhor maneira de agir… Perguntas
que, no meu íntimo, ficam por resolver e que tenho que analisar com outros.

1.3. Responsabilidade do Agente de Geriatria

Deveres e direitos do Agente de Geriatria (A.G.)

Ponto 1- Em relação a si mesmo e à profissão

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1. O A.G. deve reger o seu trabalho pelo critério da eficiência e competência profissional,
tomando como referência a ética profissional.
2. O A.G. tem o direito e o dever ao seu desenvolvimento profissional, através de actividades de
formação permanente, sendo também promotor da sua auto-formação para que assim se
mantenha actualizado, constituindo-se assim como um agente activo.
3. O A.G. deve assumir responsabilidade profissional nas matérias para as quais esteja
capacitado pessoal e tecnicamente e com as quais se compromete.
4. O A.G. deve desenvolver uma atitude de análise crítica e reflexiva permanente em relação a si
próprio e ao seu desempenho profissional.
5. O A.G. não deve praticar e tem o dever de denunciar às entidades competentes qualquer
situação anti-ética, prejudicial ou com efeitos nocivos quer para o utente, para as instituições ou
para a sociedade, praticados por A.G. ou por outros profissionais.
6. O A.G. deve contribuir através da sua acção profissional para a dignificação social da sua
profissão.
7. O A.G. deve defender e fazer respeitar os direitos e deveres inerentes à sua profissão, tal
como os constantes neste código.
8. O A.G. deve ter para com os seus colegas respeito, consideração e solidariedade que
fortaleçam o bom conceito da categoria.
9. O A.G. deve esforçar-se para desenvolver em si qualidades pessoais que optimizem o seu
desempenho profissional, tais como a paciência, a tolerância, o autocontrole, a empatia, o
altruísmo, o equilíbrio.
10. O A.G. deve associar-se e prestigiar as associações e órgãos representativos da profissão,
contribuindo para a harmonia e coesão profissional e para o desenvolvimento da profissão.
11. O A.G. deve programar e planificar as suas tarefas, não as deixando ao acaso e à
aleatoriedade.
12. Deve-se considerar A.G. o profissional que detém uma formação adequada.
13. O A.G. deve gozar de privacidade na sua vida particular, devendo no entanto ser coerente
com a sua postura profissional durante o seu relacionamento informal, considerando a
pedagogia do exemplo.
14. O A.G. tem direito ao exercício autónomo e reconhecido da sua profissão nas instituições
públicas e privadas.

Ponto 2- Em relação aos utentes


1. É dever do A.G. informar, esclarecer e promover a participação dos utentes nos diversos
momentos do seu processo de vida.
2. O A.G. deve procurar desenvolver nos utentes competências que lhes permitam uma positiva
integração social no contexto em que vivem. Deve procurar o desenvolvimento integral da
pessoa sustentado em atitudes de respeito, criatividade, iniciativa, reflexão, coerência,
sensibilidade, autonomia, fomentando a confiança e auto-estima.

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3. Durante a relação com o utente, o A.G. não deve manter um relacionamento com o utente que
condicione nocivamente a boa prestação do seu desempenho profissional.
4. O A.G. deve consciencializar o utente do problema que ele atravessa e esclarecer os
objectivos e a amplitude da sua actuação profissional.
5. O A.G. deve desenvolver com os utentes uma relação desinteressada.
6. O A.G. deve guardar o sigilo profissional, não utilizando indevidamente as informações que
dispõe sobre os utentes e as famílias.
7. O A.G. não deve ter atitudes que afectem a dignidade dos utentes, respeitando a sua
integridade.
8. O A.G. deve ser cauteloso mas objectivamente crítico nas afirmações que profere e nos juízos
que efectua sobre questões que possam dar azo a estigmatizações.
9. O A.G. não deve na sua prática profissional criar expectativas no utente que não sejam
possíveis de concretizar.
10. O A.G. deve respeitar os direitos das famílias com relação aos utentes numa postura de
cooperação entre a família e a equipa, entendendo a família como agente de socialização
essencial ao utente.
11. O A.G. deve ser conhecedor do contexto familiar da sua intervenção, desenvolvendo o
contacto directo e contínuo de forma coordenada com a família.
12. O A.G. tem o direito ao respeito por parte dos utentes e das famílias.

Ponto 3- Com relação às instituições


1. O A.G. deve respeitar de forma plena os compromissos assumidos com os contratadores,
assim como, cumprir as normas institucionais vigentes.
2. O A.G. deve salvaguardar a autonomia de critérios e procedimentos essenciais ao
desempenho da sua função profissional, podendo recusar tarefas que comprometam a sua
integridade profissional.
3. O A.G. não deverá aceitar substituir profissionalmente um colega que tenha sido exonerado
por defender os princípios e normas deste código no exercício da profissão.
4. O A.G. deverá ver garantida a confidencialidade dos documentos e arquivos do seu uso
profissional, assim como a inviolabilidade do local de trabalho.
5. O A.G. tem direito a um contrato de trabalho e remuneração adequados às funções que
desempenha, assim como de usufruir de condições e recursos adequados à sua prática
profissional e de ser correctamente informado das tarefas que deverá desempenhar.
6. O A.G. deve assumir a identificação com os objectivos e com o projecto institucional, desde
que não contrariem os seus princípios deontológicos.
7. O A.G. deverá ser promotor de princípios de parceria entre instituições, quando essa
estratégia for ao encontro dos objectivos da prestação profissional.
8. O A.G. tem direito a despender de algumas horas do seu horário de trabalho para
actualização das suas competências profissionais através de experiências formativas.

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Ponto 4- Com relação aos outros profissionais


1. O A.G. deverá manter em relação aos outros profissionais, princípios de cooperação
interdisciplinar, sem desrespeito pela autonomia e pelas competências específicas de cada
profissional.
2. O A.G. não deve tecer comentários pejorativos e desvalorizadores em relação ao trabalho
desenvolvido por outros profissionais. A sua crítica deve ser construtiva e dirigida ao profissional,
assumindo o agente plena responsabilidade por ela.
3. O A.G. não deverá compactuar com o exercício ilegal da profissão, correspondendo-lhe o
direito de denunciar actos ilícitos, usurpadores ou faltas éticas dos outros profissionais.
4. É dever do A.G. fornecer à equipa ou seu substituto, toda a informação necessária à
prossecução e continuidade positiva do trabalho.
5. O A.G. não deve prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional,
nem imiscuir-se na prestação e no relacionamento profissional dos outros profissionais.
6. No seu desempenho profissional o A.G. deve atribuir prioridade ao profissionalismo em
detrimento da afectividade no relacionamento com os elementos da equipa de trabalho.
7. O A.G. deve assumir como suas aquando da implementação, as decisões apuradas em
equipa de trabalho, mesmo quando haja manifestado a sua discordância no momento da
decisão.
8. O A.G. deve elaborar e planificar em parceria com os outros profissionais da equipa um
projecto que oriente a sua intervenção.
9. O A.G. tem direito ao apoio, à informação sobre o trabalho, à participação como elemento de
voz activa e a ser consultado e informado das decisões, em contexto de trabalho de equipa.

Ponto 5- Com relação à sociedade em geral


1. O A.G. deve caracterizar a sua relação pelo critério da igualdade, sem aceitar ou permitir
discriminações em função do sexo, idade, raça, ideologia, credo, origem social e cultural,
condições socioeconómicas, nível intelectual, promovendo o respeito pela multiculturalidade e
pela diferença.
2. O A.G. deve manter uma postura isenta valorizando equitativamente e procurando um
relacionamento equilibrado com os diversos actores sociais, individuais ou colectivos, com os
quais se cruza na sua prestação profissional.
3. O A.G. deve participar e contribuir activamente para o progresso da sociedade, numa
perspectiva de valorização e promoção dos aspectos socioculturais locais.
4. O A.G. deve subordinar a sua actuação profissional a princípios como a igualdade de direitos,
o exercício da liberdade, a promoção da paz, a prática da justiça, o exercício da tolerância e o
respeito para com a Natureza.

1.4. Sigilo Profissional

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Ao reflectir sobre este tema dei-me conta que actualmente somos expostos a inúmeras
fontes de informações, o que torna difícil manter o tão falado sigilo frente a algo.
Então, fui assaltada por perguntas como: afinal, o que é o sigilo? A quem se destina?
Parece-me que o sigilo está ligado a duas outras coisas também importantes: o silêncio e o
cuidado.
A palavra sigilo está relacionada à ideia de segredo, ou ainda, com algo que precisa de
ser guardado frente a uma verdade. Assim definido o sigilo podemos concluir que se procura
estabelecer vínculos de confiança. Contudo, gostaria de apresentar o sigilo não como um
imperativo técnico ou moral na relação que mantemos com o outro mas sim como uma
dimensão ética da própria relação.
Manter sigilo é calar-se, ou seja, silenciar frente a algo que se encontra posto. A partir
deste contexto, podemos entender que o sigilo parece indicar antes de um uso técnico, uma
acção que se prolonga no mundo como espaço para a escuta do silêncio. Este silêncio torna o
homem detentor de uma verdade ao mesmo tempo que aberto para outras possibilidades de
constituir sentido e significado ao vivido. Do sigilo ao silêncio parece ser a postura esperada.
Concluindo podemos afirmar que constitui obrigação do agente de geriatria:
 A salvaguarda do sigilo sobre os elementos que tenha recolhido no exercício da sua
actividade profissional, porém, se utilizar alguns desses elementos deverá ter o cuidado
de não identificar as pessoas visadas.
 Obrigação de, quando o sistema legal exige divulgação de dados, fornecer apenas a
informação relevante para o assunto em questão e, de outro modo, manter
confidencialidade.
 O sigilo é referido à difusão oral, ou escrita da informação.
A violação da confidencialidade é o desrespeito por uma determinada pessoa, é uma
irresponsabilidade do profissional, já que o seu papel é responsabilidade perante a sociedade.
Manter o sigilo profissional ajuda o utente a manter a sua própria integridade moral.

2. Direitos da pessoa humana

2.1. Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa em particular

Carta Internacional dos Direitos Humanos


Declaração Universal dos Direitos do Homem
Adoptada e proclamada pela Assembleia Geral na sua Resolução 217A (III) de 10 de Dezembro de 1948.
Publicada no Diário da República, I Série A, n.º 57/78, de 9 de Março de 1978, mediante aviso do Ministério dos
Negócios Estrangeiros.

Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os
povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a
constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e
liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a

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* FORMADOR: Rosário Barros * DATA INICIO: 04-12-2012 * DATA FIM: 21-12-2012

sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem
distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do
território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a
alguma limitação de soberania.

Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas,
são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica.

Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção
igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação.

Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem
os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um
tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação
em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente
provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam
asseguradas.

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2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto
delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a
que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua
correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem
direito a protecção da lei.

Artigo 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao
seu país.

Artigo 14.º
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum
ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de
raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade
de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em
comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado
pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por
qualquer meio de expressão.

Artigo 20.º
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.º

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1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamente,
quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicos do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições
honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo
equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a
satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação
internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de
trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma
existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção
social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para a defesa
dos seus interesses.

Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração do
trabalho e a férias periódicas pagas.

Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou
fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino
elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o
acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das
liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos
os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária
ou artística da sua autoria.

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Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar
plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração.
Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da
sua personalidade.
2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas
pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a
fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das
Nações Unidas.

Artigo 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado,
agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a
destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

Desde sempre se soube que se deve ajudar os pais na velhice quando estes não têm
condições de prover o próprio sustento. Contudo, observa-se que não são raros os casos de
abandono dos pais pela própria família.
A constituição determina que os idosos devem ser amparados preferencialmente em seus lares
no entanto, as instituições de longa permanência estão lotadas de pessoas que ali foram
colocadas por familiares.
Os direitos dos Idosos representa uma expressão legal da vontade do poder público, que,
somente por esse instrumento, não tem como assegurar ao idoso o seu integral cumprimento.
Só a acção cidadã e participativa de toda a comunidade evitará que como tantas outras leis, ele
se perca no esquecimento, deixando de cumprir a sua função que é a de garantir a pessoa idosa
direitos para uma velhice com dignidade.

Direitos dos Idosos


Princípios das Nações Unidas para o Idoso
Resolução 46/91 - Aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas
16/12/1991

INDEPENDÊNCIA
 Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a ter apoio
familiar e comunitário.
 Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de
rendimentos.
 Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho.
 Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e requalificação
profissional.
 Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam
passíveis de mudanças.

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 Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.


 
PARTICIPAÇÃO
 Permanecer integrado na sociedade, participar activamente na formulação e
implementação de políticas que afectam directamente o seu bem-estar e transmitir aos
mais jovens conhecimentos e habilidades.
 Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade, trabalhando como
voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades.
 Poder formar movimentos ou associações de idosos.
ASSISTÊNCIA
 Beneficiar da assistência e protecção da família e da comunidade, de acordo com os
seus valores culturais.
 Ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar físico, mental e
emocional, prevenindo a incidência de doenças.
 Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem
protecção, reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, num ambiente
humano e seguro.
 Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de
autonomia, protecção e assistência.
 Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em instituições que
lhe proporcionem os cuidados necessários, respeitando-o na sua dignidade, crença e
intimidade. Deve desfrutar ainda do direito de tomar decisões quanto à assistência
prestada pela instituição e à qualidade da sua vida.

AUTO-REALIZAÇÃO
 Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento de suas potencialidades.
 Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer da sociedade.
DIGNIDADE
 Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração e maus-tratos
físicos e/ou mentais.
 Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia, deficiências,
condições económicas ou outros factores

2.2. A vida e a morte

É preciso toda a vida para aprender a morrer.


Quem ensina o homem a morrer, ensiná-lo-á também a viver.
Não temas a morte, mas apenas a inutilidade da vida.

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Nascemos velhos, é preciso procurar morrer jovens.

Todos os seres vivos, incluindo os humanos, estão sujeitos ou condenados à morte.


Nascer é começar a morrer. Todavia, embora se possa morrer em qualquer idade e sem aviso
prévio, os idosos, sabem com certeza que não lhes resta muitos anos de vida (segundo a
sabedoria popular: quem não vai de novo, de velho não escapa; hoje com saúde, amanhã no
ataúde; contra a morte não há remédio).
A criança vai compreendendo progressivamente a inevitabilidade, a irreversibilidade e a
universalidade da morte. O adulto sabe bem que vai morrer (ele e todos) colocando-se o
problema sobre o modo como se confronta ou vive esta realidade em primeira pessoa (a sua
própria morte), em segunda pessoa (a morte dos entes queridos) e em terceira pessoa (a morte
dos outros menos significativos).
Neste capítulo, debater-se-á o modo como se confronta ou vive esta realidade em
primeira pessoa (a sua própria morte) e em segunda pessoa (a morte dos entes queridos).

O que é a morte?
A morte ainda hoje é um tabu, a nível pessoal, embora seja exibida em altas doses nas
televisões, jornais, etc. Todo o ser humano, mais cedo ou mais tarde, confronta-se com esse
drama existencial e mais ainda à medida que a vida vai declinando, assumindo o morrer e a
morte não apenas como uma dimensão biológica (de doença e cuidados contínuos), mas
também psicológica (consciência da finitude e fragilidades da vida) e sociológica (isolamento do
moribundo e outros problemas sociais).
Em todo o caso, preparar a própria morte é uma das tarefas mais importantes, senão a
mais importante, de todo o ser vivo pensante e mais ainda o idoso. A morte deve ser encarada
com naturalidade e não como um fatalismo ou fracasso da medicina. Para além de que a
aceitação ou não desta fase terminal depende, com frequência, do grau com que a pessoa idosa
continua a situar-se em relação à família, aos amigos, à sua comunidade, assim como aos seus
valores e à sua consciência de continuar a ser útil aos outros.
A morte pode ser vista por diversos pontos de vista, variando de indivíduo para indivíduo.
Assim sendo, a fase terminal da vida pode ser encarada pelo adulto das seguintes formas:
 Organizador do tempo: a partir de uma certa idade, começa-se a pensar e a contar o
tempo não tanto desde o nascimento, mas do que resta para a morte (contagem
decrescente);
 Punição do mal feito (tal visão é mais natural nas crianças);
 Transição para uma vida melhor e imortal : variando muito consoante a crença numa vida
eterna para além da morte, dependendo da religião de cada um);
 Perda de novas experiências: impossibilidade de realizar todos os objectivos de vida.
Questões relacionadas com a atitude face à morte e os idosos, incluindo a avaliação face
à morte, o (micro) suicídio (dos que são deixando morrer aos poucos, por exemplo, através da
depressão, mas também dos que atentam directamente contra a vida), o tratamento

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discriminatório dos cuidadores (que se podem deixar influenciar pelo racismo), o tratamento
hospitalar, a espiritualidade e o aconselhamento dos idosos.
Apresenta-se mesmo uma prospectiva (positiva, mas não sem algumas apreensões)
quanto à velhice no século XXI, supondo-se que a ansiedade face à morte pode evoluir
positivamente em alguns aspectos mas também negativamente noutros; por exemplo, no futuro
pode-se ter mais medo de ser vítima de violência e também, a nível mais pessoal, de ficar
suspenso entre a vida e a morte, considerado nem vivo nem morto, dadas as possibilidades da
tecnologia e da medicina. Mas em geral, pode supor-se que o envelhecimento e a morte se
tornarão menos marginais e mais integrados socialmente.
Os idosos podem beneficiar com o pensamento consciente sobre as suas preferências a
respeito da qualidade vs quantidade de vida ou sobre o género específico de tratamento e do
contexto que preferem a sua morte.
Ainda a respeito do pensamento da morte, os idosos tendem também a fazer mais
seguros de vida, a preocupar-se com o testamento, a fazer (alguns deles) uma autobiografia ou
ao menos a transmitirem oralmente as suas vontades, para além de outros comportamentos
psicossociais, como voltar-se mais para si mesmos, relativizar certos acontecimentos, etc.

Medo da morte
Uma das temáticas mais estudadas neste âmbito, é o medo da morte ou a ansiedade face
a ela, também designada por tanatofobia. Este medo relaciona-se na maior parte das vezes com
o processo de morrer, de ser destruído, de deixar as pessoas mais significativas, medo do
desconhecido, da sorte do corpo, etc.
A morte não só bate à porta dos idosos como também dos jovens. É comum a todas as
idades, embora o jovem espere durar ainda muito tempo, enquanto tal expectativa não a pode
ter o velho, a menos que seja insensato; neste sentido, o idoso encontra-se em melhor situação
por já ter alcançado o que esperou.
Uma boa atitude face à morte leva a uma melhor vivência do tempo no presente: passam
as horas, os dias, os meses, certamente os anos; o tempo que passou já não volta e
desconhecemos o futuro; deve cada um contentar-se com aquela porção de tempo que lhe foi
dada para viver. Mais importante que a quantidade é a qualidade do tempo: o tempo para se
viver, ainda que breve, é suficientemente longo para se viver bem e com honra.
Uma pesquisa de Tomer e Elianson (2000) propuseram um modelo compreensivo (mais
aplicável ao idoso) da ansiedade face à morte, em três etapas:
1. Em relação ao passado: ao se fazer a revisão de toda uma vida, surgem por vezes
lamentos por não se terem atingido todos os objectivos e realizados os sonhos;
2. Em relação ao futuro: lamentações por já não se poder atingir todos os objectivos
pessoais, profissionais ou familiares que se pretendiam realizar, dentro de um
determinado plano de vida;

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3. Busca de pleno significado para a morte: entendimento do final do ciclo da vida, altura
em que surgem interrogações quanto ao verdadeiro significado da vida e da morte, com
abertura para o transcendente.
Importante será acrescentar, que em todos estes momentos, muito pode ajudar o apoio
espiritual e o aconselhamento ao idoso. Assim como, este receio da morte é causado por muitas
variáveis, sendo que cada uma delas poderá ter mais ou menos preponderância consoante o
percurso de vida de cada um, a sua educação ou personalidade.
Os estudos demonstram que os principais índices de avaliação são os seguintes:
IDADE: existe uma maior carga de ansiedade face à morte a meio da adultez do que na velhice,
dando a entender que esta aflição tende a diminuir do meio da vida para o fim, estabilizando nas
últimas décadas. Este maior medo da morte entre as pessoas de meia-idade pode dever-se aos
sintomas que vão aparecendo como o declínio da saúde, o medo de deixar os seus (filhos)
sobre quem ainda se sentem responsáveis e ao facto de verem morrer os seus pais ou outros
familiares significativos. Em geral, o receio por parte do idoso não só diminui como é mesmo
desejável, dependendo das condições de saúde e do ambiente em que vivem. Os mais velhos
também se preocupam com a morte, pensam e falam nela mais do que os mais novos. Contudo
parecem temê-la menos do que as pessoas de meia idade, uma vez que se mentalizaram já da
sua inevitabilidade e relativa proximidade, vendo desaparecer as pessoas da sua geração;
fazem assim, de algum modo, um pacto inconsciente com ela. Mais do que temê-la em si,
temem o modo ou o processo como ocorrerá (com ou sem sofrimento, lenta ou repentinamente)
ou o tempo que a precede (quem cuidará deles se perderem a independência, etc.) (Marshall e
Levy, 1990).
GÉNERO: há uma maior tendência a temer a morte no sexo feminino.
RELIGIOSIDADE: a espiritualidade e o aconselhamento nos idosos pode diminuir a carga de
ansiedade, particularmente se a psicoterapia e o aconselhamento incorporam a espiritualidade e
a transcendência, levando o idoso a compreender e a enquadrar melhor o sentido da vida e da
morte (cf. Barros, 2007).
INTEGRIDADE DO EU: normalmente, quem é possuidor de uma personalidade mais integrada
e com maiores objectivos de vida, demonstra ser menos ansioso diante do pensamento da
morte, assim como quanto maior é a maturidade ou desenvolvimento psicossocial, menor é o
medo frente à morte. A nível psicológico dá-se uma diminuição progressiva, sob os aspectos
cognitivo, e afectivo que pode modificar o carácter ou a personalidade do idoso tornando-o
diminuído na sua vitalidade e iniciativa, desmotivado, desinteressado, por vezes apático, menos
fluído, mais rígido, cristalizado, teimoso, desconfiado, egoísta, conservador, intolerante, o que se
traduz por menor capacidade de adaptação e maior vulnerabilidade.
PROBLEMAS FÍSICOS E PSICOLÓGICOS: existe de facto uma correlação positiva entre a
ansiedade face à morte e os problemas físicos (de saúde, podendo até, em caso de doença
grave e dolorosa, a morte significar uma libertação) e mais ainda em relação aos problemas
psicológicos, significando que as diversas mazelas físicas, que aumentam com a idade, fazem

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crescer o medo da morte e mais ainda quando se trata de problemas psíquicos, como a
depressão ou o luto.
INSTITUCIONALIZAÇÃO: em geral os estudos demonstram que existe uma maior carga de
ansiedade da morte nos idosos institucionalizados (em lares) em relação aos que vivem mais
independentemente nas famílias.
Sofrendo mais ou menos de tanatofobia, conforme a sua maturidade psicológica,
religiosidade e outras variáveis, o idoso desenvolve diversas formas de lidar com a situação,
usando também diversos mecanismos de defesa mais ou menos frequentes e intensos, como a
hipocondria, a sublimação, a agressividade, a racionalização, a dissociação, a negação, e ainda
mecanismos mais positivos, como o humor e o altruísmo. Isto leva o idoso a atitudes mais ou
menos negativas, neutras ou positivas diante do morrer e da morte.

Moribundos, doentes terminais, cuidados paliativos


A maioria das pessoas esperam ter uma boa vida quando atingirem uma idade avançada
e dedicam décadas a preparar-se para isso. No entanto, são poucas as que procuram imaginar
como podem viver com uma doença potencialmente letal ou como vão morrer. Assim, a maioria
não fala sobre o que sente nem elabora planos adequados para assegurar que são cumpridos
os seus desejos.
Até há pouco tempo não havia muito que pensar sobre a morte e o processo de morrer.
Muitas pessoas morriam muito rapidamente depois de contraírem uma infecção ou de sofrerem
uma lesão. No entanto, nas últimas gerações o tema mudou muito. Algumas pessoas ainda
morrem repentinamente, mas em muito menor número do que no passado. Contudo, hoje em
dia, numerosas pessoas sofrem de uma ou mais perturbações crónicas muitas vezes de certa
gravidade, com as quais vivem muitos anos antes de morrerem.
O cuidado prestado a pessoas com doenças crónicas potencialmente letais é, em geral,
eficaz para fazê-las viver mais tempo. No entanto, o sistema de saúde não demonstrou a mesma
eficácia em proporcionar consolo e apoio. O sistema falha também em explicar por que razão
tantas decisões são contrárias aos desejos de quem previamente os expressou ou por que
motivos existem tão pouca planificação nos cuidados.
Quando se pergunta a pessoas com doenças crónicas potencialmente letais que
objectivos têm, muitas vezes os que os que referem são simples e podem compreender os
seguintes:
 Alívio da dor e dos outros sintomas incómodos;
 Intervenção, quando é possível, nas decisões relativas aos cuidados;
 Certeza de que os seus desejos previamente expressos serão cumpridos e respeitados quando
já não forem capazes de participar na tomada de decisões;
 Um sentido de conclusão e alívio de qualquer carga sobre a família e os amigos;
Na maioria dos casos, o doente deve estabelecer os seus próprios objectivos, discuti-los e
revê-los periodicamente quando for o caso. Uma comunicação contínua e aberta com familiares,

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amigos e profissionais de saúde sobre os objectivos assistenciais pode constituir a diferença


entre a morte serena e a que é caracterizada por sofrimentos desnecessários.
O idoso numa fase final, descobre-se desarmado e indefeso do ponto de vista bio-psico-
social na última etapa da sua vida, mais perto do que nunca de um desfecho desconhecido,
tendendo a deprimir-se ou a negar a morte, tentando parar o tempo e podendo delirar. Para
evitar esta paragem psíquica, deve ser ajudado e compreendido de muitas formas, o que lhe
permitirá viver em tranquilidade, pois é vivendo que o caminho para a morte será mais longo e a
própria morte será adiada (Sousa, 1987).
Fala-se ainda de doentes terminais. A expressão não é de todo correcta, porque
teoricamente todos somos terminais, uma vez que desconhecemos os dias e as circunstâncias
da nossa morte. Mas, naturalmente falando, os idosos (bem como os doentes graves,
particularmente os cancerosos) são mais terminais. Há alguns sinais que indicam uma fase
terminal, como a doença incurável e progressiva, presença de muitos sintomas indicativos de
gravidade, prognóstico de vida limitado ao máximo de ano e meio, sofrimento emocional do
paciente, da família e dos cuidadores.
Devemos insistir que a verdade deve ser dita ao doente grave e moribundo, embora não
seja fácil recebê-la. Pode discutir-se o momento mais oportuno, quem a deve dizer (médico ou
algum familiar); mas andar a disfarçar é como quem anda mascarado, o que não favorece o
relacionamento, além de o doente ter direito à verdade e a participar na decisão quanto aos
tratamentos mais ou menos agressivos. Por outro lado, na maior parte dos casos, antes de lhe
ser comunicado, já ele intuiu a sua situação e a gravidade da doença, mas não se atreve
também a expressá-la aos familiares, usando por sua vez uma máscara, tornando a situação
mais dolorosa.
A comunicação da verdade, por parte do técnico de saúde, deve cumprir alguns
requisitos: ser clara, directa, num ambiente onde se respire serenidade; avaliar se é melhor dizer
primeiro ao doente ou à família ou aos dois conjuntamente, manter um contacto visual com o
doente que transmita confiança e usando uma linguagem acessível; comunicar a informação de
forma lenta, conforme a capacidade de assimilação do paciente, manter a esperança; programar
novas visitas para que o doente possa manifestar as suas emoções e esclarecer as dúvidas.
Em situação terminal ou lidando com moribundos, fala-se de cuidados paliativos. Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), a medicina paliativa inclui, entre outras coisas, o direito
do doente a participar nas decisões terapêuticas, a não morrer sozinho ou com dores, a não ser
enganado e a ter a assistência da família. A OMS diz textualmente: os cuidados paliativos
afirmam a vida e reconhecem a morte como um processo natural. Nem aceleram nem retardam
a morte, proporcionam alívio para a dor e outros sintomas angustiantes, integram os aspectos
psicológicos e espirituais do cuidado, oferecem um sistema de suporte para ajudar os pacientes
a viver.
Pode-se afirmar que um doente entra em fase terminal quando a sua qualidade de vida é
tão má que o importante deixa de ser viver o maior tempo possível mas antes viver o tempo que
resta com menor sofrimento. Não obstante, os cuidados paliativos não se devem dirigir apenas

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para apaziguar a dor, mas a proporcionar a melhor qualidade de vida possível ao enfermo. Os
cuidados paliativos devem, enfim, dirigir-se ou abarcar os aspectos físicos mas também
emocionais e espirituais do doente.
Segundo Kubler-Ross (1969), o moribundo passa por diversas fases frente à
inevitabilidade da morte:
1. A recusa ou negação (perante a percepção mais ou menos consciente da crua
realidade, procura negá-la de diversas formas, por exemplo, fazendo planos para o futuro)
2. A cólera ou revolta (a pessoa revolta-se com o seu destino, principalmente para quem
crê na religião pergunta muitas das vezes: Porquê eu? Que mal fiz a Deus?)
3. A negociação (numa tentativa desesperada, o moribundo procura fazer um contrato com
Deus: Se eu me salvar irei redimir-me de todos os meus erros, e passar a ter uma melhor
conduta.)
4. A depressão (perda do gosto de viver, em que predominam sentimentos como: mágoa,
angústia, culpa e vergonha)
5. Aceitação (fase da resignação, verdadeira ou falsa, em que a pessoa aprende a conviver
com o “mal” e se vai afastando aos poucos do mundo que a rodeia, atingindo assim uma
paz interior).
Esta ideia de estádios não é muito consensual, sendo até mesmo contestada. No fim de
contas, aqui, mais do que nunca, cada caso é um caso, cada um morre à sua maneira ou
ninguém morre em vez do outro.
Os moribundos devem ser assistidos da melhor forma possível, embora não seja fácil,
particularmente porque actualmente poucos são os que morrem em casa rodeados dos seus
parentes. Morrem antes nos hospitais ou nos lares, onde os funcionários e voluntários podem ter
um trabalho significativo, necessitando porém de formação adequada para que eles mesmos
aceitem a morte dos outros (e um dia a sua) com relativa serenidade, transmitindo essa paz aos
doentes terminais.
Estes têm diversas necessidades que, segundo Ebersole eHess (1985), inspirados na
hierarquia de das necessidades de Maslow, se poderiam descrever ascensionalmente: ser
aliviado do mal-estar físico (não sofrer); confiar nos que o tratam, sentir que lhe dizem a
verdade; ser compreendido e amado; conversar minimamente a autonomia e a identidade
pessoal; compreender, aceitar e atravessar dignamente a morte.
Quando chega a recta final, os últimos dias ou as últimas horas, é necessário preparar a
família para que possa organizar-se da melhor forma, permitir e ajudar a todos os que queiram e
possam estar presentes, não faltando com todo o apoio ao moribundo.
Ideal seria que o doente passasse os últimos dias de vida em casa, num ambiente sereno
e rodeado dos entes queridos e não no hospital. Todavia, a maior parte das vezes morre no
hospital, frequentemente sozinho, ou porque já lá se encontrava, ou porque os familiares os
levam nos últimos momentos para descargo de consciência, pensando que é necessário fazer
tudo para lutar contra a morte (ou não desejando presenciar o desenlace fatal), quando o melhor
talvez seria render-se serenamente à realidade.

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Falando de doentes graves ou terminais, mais ainda tratando-se de idosos, coloca-se


também o problema da eutanásia. Trata-se de uma espada de dois gumes que impende mais
sobre os idosos. Deve discordar-se da eutanásia directa ou activa (procurar a morte do doente a
seu pedido suicídio assistido, mas onde o pedido pode estar a significar um apelo desesperado
à vida e não à morte, um apelo à compaixão) – ou, pior, por decisão de outrem, que não tem
direito a isso), mas pode admitir-se a eutanásia indirecta ou passiva, por exemplo, dando
analgésicos ou calmantes fortes para diminuir a dor do doente mas sabendo que indirectamente
pode precipitar a morte. Todavia, se o doente está consciente, pode recusar este processo
antecipatório.
Pode também distinguir-se entre eutanásia e distanásia, isto é, tentando negar a todo o
custo a morte a quem, de algum modo, tem direito a ela (morte digna), usando processos
clínicos sofisticados que não fazem mais do que prolongar a vida artificialmente mas já sem
esperança de cura. Todavia, era desejável que antes, quando ainda o doente está consciente e
livre, se falasse destas questões e o interessado pudesse prenunciar-se.

Acompanhamento dos idosos no final da vida


A maioria das pessoas desejam conservar a sua independência. No entanto, no final,
muitos idosos necessitam de ajuda e dependem dela para desenvolver as suas tarefas, quer
sejam secundárias como fundamentais. As pessoas que proporcionam essa ajuda têm a
designação de ajudantes familiares.
A necessidade de um ajudante familiar deriva, em grande medida, dos efeitos das
doenças, que se tornam mais frequentes com o envelhecimento da população. Os tipos de
necessidades variam muito.
Algumas pessoas necessitam de ajuda para efectuar as suas actividades diárias, como
comer, vestir-se ou lavar-se. Outras precisam-na para as tarefas domésticas, como cozinhar,
limpar, fazer compras, pagar facturas, entre outras. Inclusive pessoas muito independentes,
agradecem uma ajuda de vez em quando, quer para transportá-las a casa de um amigo, quer
para transportar objectos pesados.
Os custos dos cuidados são enormes. Aos gastos para a assistência a pessoas de idade
que sofrem de incapacidade ou doenças crónicas há que acrescentar os custos indirectos, como
os de um ajudante que tem de faltar ao trabalho para socorrer um familiar e as somas adicionais
que seriam gastas se uma família e os amigos não proporcionassem cuidados gratuitos.

Quem presta os cuidados?


O número de pessoas que prestam cuidados está em aumento contínuo.
A maioria delas são os cônjuges ou os filhos, e entre eles a maioria são mulheres (que no
caso de prestar auxílio ao seu marido, se pressupõe que esteja também incluída na Terceira
Idade). Cerca de dois terços destes ajudantes familiares trabalham a tempo inteiro ou parcial,
além de cumprirem as suas tarefas de assistência. Muitos efectuam este trabalho sem que
alguma vez imaginassem que teriam de assumir a responsabilidade do casal ou do familiar e

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sem disporem de especial competência para isso. Adquirem essa competência ao praticar os
cuidados de assistência.
Outros familiares, amigos, vizinhos e membros de grupos religiosos, podem ajudar os que
prestam os cuidados, ou assumir o encargo por completo. Por vezes, as famílias contratam
profissionais de saúde, enfermeiras ou auxiliares de enfermagem, ajudantes de lar para ajudar
um parente ou um cônjuge.
Por último termos o agente em geriatria. Este é o profissional que cuida do idoso nas suas
vertentes física, mental, social e espiritual, respeitando os imperativos de segurança e de
deontologia profissional, baseando-se em conhecimentos actualizados de forma a garantir o
equilíbrio pessoal e institucional no relacionamento interpessoal.” Um bom profissional deve:

Saber-Ser:
 Responsável  Paciente
 Meiga/o  Bem disposta/o
 Educada/o  Humilde
 Assídua /o  Honesta /o
 Atenta/o  Justa/o
 Simpática/o  Bom ouvinte;
 Flexível  Competente
 Dedicado  Profissional

Saber:
 Colocar -se no lugar ou situação dos idosos;
 Prestar-lhes devida atenção;
 Respeitar o idoso, os colegas e superiores hierárquicos;
 Ter Postura e boa apresentação;
 Ter capacidades psicológicas, sociais e de relacionamento com os outros, especialmente
com os idosos.
 Considerar o idoso como um ser humano, com todas as suas necessidades;
 Mostrar disponibilidade para o idoso;
 Ajudar o idoso a desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais, promovendo ao
máximo as suas capacidades e autonomia.

Possuir os conhecimentos necessários para cuidar dos idosos em áreas como:


 Alimentação (cuidados com sondas, dietas, etc.);
 Saúde e primeiros socorros (administração de medicamentos, cuidados a ter com as
algalias, etc.);
 Higiene e prevenção de acidentes (higiene pessoal, posicionamentos, etc.);
 Comunicação e actividades de animação;

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 Processo de envelhecimento, cultura, hábitos e crenças.

A recompensa de quem cuida


Embora seja um trabalho duro e stressante, ocupar-se de idosos pode ser muito
gratificante. Muitas pessoas escolhem tratar do cônjuge ou de um familiar por respeito e amor.
Embora os seus esforços nem sempre sejam valorizados, a sua actividade dá um novo sentido à
sua vida, ao proporcionar uma melhor qualidade de vida a quem precisa. Algumas destas
pessoas dizem sentir uma grande satisfação ao devolver algo a quem lhes deu tanto. Outras
dizem que cuidar de um familiar é um bom exemplo para os seus filhos.
Já os profissionais que trabalham em hospitais ou lares devem possuir “vocação” e amor
à causa. Quem proporciona assistência por amor e por desejo de ajudar outra pessoa, obtém
um maior benefício pessoal da sua actividade do que aqueles que o fazem unicamente pelo
sentido do dever, e pelo factor remuneratório.

Os desafios de cuidar de um doente


Ninguém está suficientemente preparado para o desafio de proporcionar estes cuidados.
As tarefas e responsabilidades requeridas podem ser esgotantes, sobretudo se as pessoas são
frágeis, se forem envolvidas nesta actividade inesperadamente ou contra a sua vontade, ou se
têm de cuidar de alguém com pouca disposição para colaborar ou de comportamentos
agressivos.
Como tal, o prestador de cuidados a um doente, deve possuir os seguintes requisitos:
Requisitos físicos: os cuidados pressupõem uma carga física para quem os presta, já que
implicam ajuda ou assumir a responsabilidade total de um trabalho esgotante, como lavar a
roupa e encarregar-se dos afazeres domésticos ou também ajudar nas actividades mais básicas,
como dar banho ou ajudá-los a vestir-se. Para cuidar de uma pessoa idosa deve-se estar seguro
de que se tem a capacidade física suficiente para prestar assistência.
Requisitos psíquicos: os doentes que apresentam confusão devido a uma demência, são
muitas vezes incapazes de desenvolver tarefas quotidianas que precisão das suas capacidades
cognitivas, como recordar, organizar ou planificar qualquer tarefa. Quem cuida de um doente
nesta situação pode ter de assumir a responsabilidade da toma da medicação, ajudar o doente a
deambular pela casa ou lar. Necessita igualmente de ter a capacidade de orientar o idoso tanto
no espaço (dizer-lhe, por exemplo, onde fica o quarto), como no tempo (muitas das vezes os
doentes recordam-se de tempos passados e não do presente, aqui o ajudante deve ter a
capacidade de situar a pessoa sem que com isso a perturbe). Todas estas situações, são
sempre esgotantes para quem cuida, porque exige uma atenção redobrada e até uma certa
criatividade para a resolução de problemas.
Requisitos financeiros: muitos idosos encontram-se muito limitados com as suas
poupanças ou reforma. As perturbações da saúde que geram esta dependência pressupõem
muitas vezes um enorme gasto económico que lhes dissipa o património. Quem presta os
cuidados, ao iniciá-los, deve estar ao corrente de qualquer responsabilidade financeira que

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tenha de enfrentar. Por exemplo, os filhos podem ter de assumir responsabilidades económicas
dos seus pais dependentes e, sem ajuda económica, podem ter de gastar nessa acção as
poupanças de toda uma vida. Também pode ter de enfrentar gastos domésticos adicionais para
a alimentação, os serviços e os transportes. Se tiver necessidade de fazer uma remodelação em
casa, obrigará a gastos adicionais. E se tem um trabalho, talvez seja obrigado a reduzir o seu
horário ou a deixá-lo totalmente para proporcionar os cuidados. A perda de receitas económicas
daí resultantes pode, por sua vez, criar mais dificuldades financeiras.
Requisitos emocionais: se a pessoa que presta os cuidados é um membro da família,
geralmente experimenta sentimentos conflituosos de carinho, frustração, desejo de ajudar,
cólera, tristeza, satisfação, culpa e um sentido de perda pela deterioração da saúde ou das
capacidades do seu companheiro, cônjuge, parente ou amigo. Estas variações emocionais
podem ocorrer de forma inesperada e simultânea e piorar com as expectativas do doente a
cuidar. Por exemplo, alguns idosos esperam dos que lhe prestam cuidados muito mais do que é
necessário, outros realmente necessitados podem rejeitar qualquer tipo de ajuda, em vez de
permitirem que os membros da família atendam às suas necessidades. Além disso, muitas
mulheres que prestam cuidados, crêem que a sociedade espera delas que renunciem à sua vida
para cuidar dos outros. Os irmãos podem discutir sobre a divisão das responsabilidades, mas a
carga recai quase sempre desproporcionadamente sobre um só. A paciência dos membros a
família pode pôr-se seriamente à prova quando o familiar necessitado de cuidados vive debaixo
do mesmo tecto. Quem presta cuidados e esteja idoso, como o cônjuge de uma pessoa
carenciada, pode ter as suas próprias complicações de saúde ou económicas que requerem
quase tanta atenção como as do doente a cuidar. Para os profissionais que trabalham em lares
e hospitais, apesar de não estarem imbuídos num estado emocional tão carregado de
sentimentos negativos, também são dignos de atenção, uma vez que o seu dia-a-dia laboral é
repleto de um cuidados a idosos que na sua grande maioria dos casos, estão num elevado grau
de dependência. Como tal, é um trabalho que exige muitos sacrifícios, restrições e elevado nível
de responsabilidade.
A ausência ou défice destes requisitos, pode causar numerosos conflitos que implicam na
qualidade de serviços que são prestados aos idosos. Situações menos bem resolvidas podem
levar ao isolamento da pessoa que cuida, comprometer as suas relações com os outros,
ameaçar as suas expectativas laborais e levá-la a um estado de cólera, frustração, culpa,
ansiedade, stress, de depressão crescente e a um sentido de impotência e de esgotamento que
se conhece como Síndroma do Auxiliar Exausto. Este síndrome pode afectar qualquer indivíduo
em qualquer momento. No pior dos casos, se quem cuida não está consciente das dificuldades
que tem a enfrentar este síndrome pode levar a abandonar ou até maltratar o idoso.

Obter ajuda
Quem presta os cuidados deve encontrar um equilíbrio entre as satisfações e os desafios
de proporcionar ajuda. Embora não existam modos fáceis para encarar os desafios, há contudo
estratégias para enfrentar os conflitos e sistemas para, de vez em quando aliviar a carga.

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Determinar de que tipo de ajuda necessita uma pessoa idosa e como conseguir obtê-la obriga,
muitas vezes, a trabalhar com os mais diversos tipos de profissionais como médicos, terapeutas,
enfermeiros, entre outros.
Ajuda física: com frequência, os auxiliares que prestam cuidados podem ajudar a pessoa
idosa dependente a conseguir maior independência fazendo pequenas modificações no lar com
por exemplo:
 Instalar barras para se agarrar na cama, casa de banho, para que a pessoa se possa
levantar sem ajuda;
 A cadeira de duche ajuda a que se possa tomar banho em segurança;
 Colocar uma luz de noite na casa de banho ou uma cadeira com um urinol junto à cama
pode prevenir problemas nocturnos, como quedas.
Ajuda mental: uma agenda pode ser útil a quem presta cuidados para organizar tarefas,
assinalar informações, ou outros assuntos relacionados com a pessoa que cuidam.
Ajuda financeira: nem sempre é fácil fazer a gestão dos dinheiros, mas existem algumas
formas que nos ajudam a minimizar essas mesmas dificuldades, como por exemplo:
 Podem beneficiar das deduções das despesas médicas e de outros benefícios fiscais
declarando o idoso como dependente;
 Podem beneficiar de deduções pelas alterações efectuadas na casa com fins médicos ou
de segurança;
 Podem beneficiar de ajudas para gastos de transporte ou serviços de enfermagem ao
domicílio em estruturas estatais, locais ou religiosas
Ajuda afectiva: existem muitas alternativas para aliviar a carga emocional de quem presta
cuidados, mas a mais importante é poder desfrutar de tempos livres. Relaxar-se ou dedicar-se a
actividades recreativas ajudará a recarregar baterias. Os grupos de apoio, em que se discute
sobre as responsabilidades dos cuidados, podem ser úteis.
Ajuda da comunidade: as pessoas que prestam os cuidados procuram fazer tudo o que
podem e a ajuda que lhes chega de outros familiares e amigos é, muitas vezes, insuficiente.
Uma ajuda adicional pode vir da comunidade, como por exemplo o voluntariado. Este tipo de
ajuda proporciona ajuda e alívio nas exigências dos cuidados constantes.

Luto e viuvez
O luto é de facto um sentimento extremamente doloroso devido a uma perda irreparável
(de uma pessoa altamente significativa, como um pai/mãe, um filho ou um cônjuge), podendo
exprimir-se de muitas formas, como a depressão ou a solidão e mesmo em manifestações
exteriores (como o vestir de negro).
Após uma perda, são várias as fases pelas quais o indivíduo terá que passar. Numa fase
inicial, que coincide com os primeiros dias após a morte do ente querido, pela descrença,
sensação de irrealidade e de impotência, inquietação. Segue um tempo em que o enlutado tenta
de algum modo recuperar a pessoa perdida, pode ter a sensação de a ver, dorme mal, chora,
sente-se frustrado, pode culpabilizar-se. Numa terceira fase, predomina o desespero e a

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depressão, uma vez aceite a realidade. Finalmente, volta à realidade e reorganiza a vida sem o
outro.
Porém, outros autores pensam que os estádios fazem pouco sentido, podendo as
diversas emoções estar presentes simultaneamente ou alternadamente, sendo o mais
importante o modo como essas pessoas devem ser ajudadas e superar o luto normal.
Para que o processo de luto seja mais ou menos bem ultrapassado, é necessário:
1. Que o enlutado não continue a investir na identificação com o defunto e haja um certo
desligamento dele;
2. Vá aceitando progressivamente a inevitabilidade da morte;
3. Se necessário, procurar encontrar um substituto (ex: segundos casamentos).
Existe também muito luto mal ultrapassado, onde a pessoa se recusa a aceitar a
realidade acabando por acreditar que possa haver um retorno do ausente. Normalmente, esta
anestesia emocional impossibilita a pessoa de expressar os seus sentimentos, ficando como que
adormecido em relação à dor.
No fundo, cada pessoa faz o luto (seja ele mais ou menos normal e especial) à sua
maneira e conforme as diversas circunstâncias referentes ao enlutado ou ao defunto.
Na realidade, a chave principal de resolução positiva do luto, reside na personalidade
mais ou menos equilibrada do enlutado, embora o defunto possa ser mais ou menos
significativo. Uma personalidade mais ou menos madura pode servir-se do próprio luto para
crescer psicologicamente (e espiritualmente, se tem fé). É também muito importante, o apoio das
outras pessoas significativas.
Falar de luto, particularmente na terceira idade, é também falar de viuvez, situação que
atinge mais as mulheres, uma vez que duram em média mais 6 ou 7 anos do que os homens,
havendo cerca de três viúvas para um viúvo.
A morte do cônjuge desperta de modo particular rancor, tristeza, depressão e outras
atitudes negativas, mas também pode significar uma certa libertação e alívio, quando o falecido
dava muito trabalho, não era carinhoso ou era mesmo agressivo, exigente e não agradecido com
a assistência prestada.
Relacionado com o problema da viuvez está também o drama e a solidão, embora não
necessariamente andem juntos. É necessário que o idoso (e não só) procurem estratégias de
recursos pessoais (gerir melhor o tempo, procurar ocupação e convívio, apelar à espiritualidade,
etc.), familiares e comunitários (maior contacto e mútua ajuda de outros membros da família ou
amigos) que lhe permitam acalmar ou ultrapassar a solidão. Também aqui há diferenças por
género, a percentagem de homens a viver sós é menor que as mulheres.
Viver sozinho é uma situação bastante comum no caso dos idosos e pode pressupor
inúmeros desafios. Muitas pessoas que vivem sós costumam ser pobres e quanto mais tempo
viverem em solidão maiores probabilidades há de que isto continue assim. Geralmente as
pessoas de idade que vivem sós referem sentimentos de solidão e de isolamento. Dado que
para a maioria das pessoas comer é uma actividade social, muitas pessoas idosas que vivem
sós não preparam refeições completas e equilibradas, tornando-se deste modo a desnutrição um

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problema preocupante. Em pessoas com problemas de saúde ou dificuldade auditiva ou de


visão, é muito fácil que passem despercebidos novos sintomas de doença ou o agravamento de
sintomas prévios. Muitos idosos que vivem sós têm problemas para seguir as indicações dos
tratamentos médicos prescritos.
Apesar de todos os desafios e problemas, a maioria dos idosos que vivem sós exprimem
um vivo desejo de manter a sua independência. Muitos temem tornar-se demasiado
dependentes dos outros e preferem continuar a viver sós apesar dos problemas que isso
pressupõe. Praticar com regularidade actividades físicas e mentais e manter-se em contacto
com os outros ajudará a conservar a sua independência.
Quando já não é possível viver independentemente, será necessário escolher entre outras
formas alternativas de vida. Nalguns casos, alguém pode aceitar mudar-se para a casa da
pessoa idosa, cujo estado de dependência aumenta cada vez mais. Esse alguém costuma ser
um filho adulto, mas pode ser outro membro da família ou inclusive um amigo. A pessoa que se
muda pode oferecer unicamente companhia ou também assumir parte das responsabilidades
dos cuidados. Este sistema de organização prolonga o tempo em que a pessoa idosa continua a
viver na mesma casa e pode ser bastante satisfatório para todos. Contudo, as expectativas de
cada um devem ser claramente expressas e acordadas.
Para a pessoa idosa, a mudança para outra residência é, por vezes, uma opção
interessante, ou até uma necessidade depois da reforma ou após a perda do cônjuge ou de um
familiar. Uma pessoa de mais idade muda-se quando a degradação do seu estado de saúde
torna evidente a necessidade de supervisão e ajuda no cuidado pessoal.
Outras vezes, a decisão de mudar-se surge simplesmente do desejo da pessoa idosa de
procurar um clima melhor, mais companhia, uma maior sensação de segurança ou de estar mais
perto de um membro da família.
Geralmente, a mudança faz-se de uma habitação maior para outra mais pequena. Por
exemplo, um idoso poderá mudar-se da casa familiar par um centro de reformados e, com o
tempo, para um estabelecimento de vida assistida ou para um centro de cuidados (Lar).
As pessoas que reagem mal à mudança são, de um modo geral, as que vivem sós,
isoladas socialmente, pobres e deprimidas. Os homens reagem pior que as mulheres. A
mudança pode ser muito stressante. Grande parte do stress aparecer por as pessoas
perceberem que não têm controlo sobre a mudança e não sabem o que as espera no novo meio.
Para uma pessoa com défice de memória, a deslocação para fora do meio familiar pode
intensificar o estado de confusão e de dependência e conduzir a um sentimento de frustração.
Por outro lado, a mudança pode pressupor uma solução muito positiva pelo facto de as
pessoas oferecem reciprocamente serviços, companhia e ajuda financeira. Estas mudanças têm
mais probabilidades de ser bem-sucedidas quando a pessoa idosa está bem preparada e
quando se discutem abertamente as expectativas e as preocupações.
Muitas mudanças ocorrem de repente, mas inclusive uma preparação mínima pode ajudar
a diminuir o stress devido à mudança. Antes de tomar uma decisão em relação à mudança de
uma pessoa idosa para a casa de alguém, é importante que cada uma das pessoas implicadas

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tenha a possibilidade de participar numa discussão sobre o que se deve esperar e como tratar
os problemas. Esse tipo de diálogo pode ajudar todas as pessoas afectadas e, amiudadamente,
consegue prevenir os conflitos. As pessoas que se mudam devem conhecer, se for possível, o
novo meio com antecedência. Pode ser proveitoso visitar o futuro bairro e conhecer os prováveis
vizinhos, bem como visitar as instalações e serviços da Instituição que irá acolher o familiar.

O acompanhamento num processo de luto por parte de um agente de geriatria


Não é raro que no cuidado das pessoas idosas, surja a dúvida de se comunicar ou não a
morte de um familiar a um ancião, particularmente quando este tem também os seus problemas
de saúde ou até padece de Alzheimer ou alguma patologia. Neste último caso, será bom
discernir com a ajuda de um terapeuta, mas não compartilhamos a tendência para ocultar
sistematicamente a morte de entes queridos argumentando a debilidade dos idosos. Na
realidade, os idosos têm os seus recursos para se adaptarem à nova situação. Não podemos
pretender uma vida em que se neguem o sofrimento e a morte. Na minha opinião, têm de haver
razões sérias para argumentar que a uma pessoa idosa seja ocultado o falecimento de um ente
querido pelo facto de se encontrar débil, seja muito velho ou qualquer outro argumento.
Acompanhar as pessoas idosas nas perdas implica que se mantenha e cultive a
esperança. Mas esta passa por oferecer a oportunidade de compartilhar o que se vive, exprimir
os sentimentos, livrar-se da angústia, fazer as pazes com o passado, transmitir ao enlutado que
não será de modo algum abandonado.
Algumas crenças erróneas fomentam uma visão errada do luto nos idosos. Entre elas, a
de pensar que os idosos têm menos tempo para se poder recuperar do luto, estabelecendo
novas relações e objectivos; assume-se que os idosos têm menos recursos internos e forças
para trabalhar na reconstrução interior. Do mesmo modo, muitos idosos dificilmente reconhecem
a importância dos seus sentimentos, aprendendo assim a guardar a sua angústia para si
próprios e subestimando o poder dos seus sentimentos. Muitos deles consideram que “já
viveram as suas vidas” e que não deveriam preocupar as outras pessoas com os seus lutos.
Na verdade, há perdas em todas as idades, pelo que o luto não é específico de uma
etapa de vida nem o dos idosos é especialmente diferente do dos jovens. Os idosos em luto
respondem ao apoio e ao cuidado das pessoas próximas deles da mesma maneira que as
pessoas de outras idades. São tão inoportunas as reacções de menor consideração como as de
superprotecção. Talvez a maior dor produzida pela perda seja a que surge mais tarde provocada
pela solidão. Solidão que teria o seu tratamento mediante adequadas e qualificadas relações
significativas, familiares, voluntárias ou profissionais.
Com frequência, as práticas religiosas (oração) e a visita ao cemitério são recursos que
facilitam a aceitação da morte. Pressupõem um modo de tomar consciência da realidade tal
como ela é e uma maneira concreta de tornar palpável o que é mistério: ali está o seu marido ou
a sua esposa.
Muitas expressões se usam para dizer que os homens são mortais; que o importante não
é ter vivido muito mas de forma virtuosa, que o tempo cura todas as feridas, que aquilo que se

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* FORMADOR: Rosário Barros * DATA INICIO: 04-12-2012 * DATA FIM: 21-12-2012

perdeu nos estava apenas emprestado, que o falecido já não sofre, etc. .
Hoje, ainda, muitos estilos de acompanhamento no luto têm formulações semelhantes,
existindo um conjunto muito abundante de frases feitas com que se pretende consolar quem
sofre a perda de um ente querido.
Contudo, a experiência de quem sofre na sua pele esta dor é a de que essas frases mal
conseguem consolar a pessoa, porque efectivamente não chegam ao coração.
Daí que se realce, cada vez mais, a importância de se recorrer ao valor da escuta, do
desabafo, do acolhimento dos sentimentos sem os negar e moralizar, da importância do
contacto corporal e do permitir que se drene a dor através das lágrimas.
Nunca insistiremos suficientemente na importância da atitude empática no
acompanhamento. Ela suporá que se escute interessada e atentamente para se compreender
de maneira personalizada tudo o que o outro está a viver e o que para ele isso significa, e
veicular a compreensão mediante a linguagem verbal e não verbal, para que ele sinta que foi
acolhido e compreendido no máximo das possibilidades.
A escuta atenta da pessoa de luto pode permitir que se arejem e se debatam as
emoções. Algumas são particularmente dolorosas, como a culpa e a tristeza. Todos sabem que
algumas pessoas idosas vão ao médico em tempo de luto porque precisam de ser atendidas. Na
realidade, necessitam de ser ouvidos e de poder descarregar as suas emoções que, por não
poderem fazê-lo de outro modo, se manifestam em sintomas desagradáveis a nível físico. É
claro que não basta um tratamento farmacológico, embora este seja necessário em numerosas
ocasiões.

Suicídio
Relacionado com o tema da morte está ainda o drama do suicídio. Trata-se
verdadeiramente de um problema cadente e sempre actual. Na realidade é uma praga a nível
mundial; a OMS supõe que, anualmente, ao menos um milhão de pessoas põe termo à vida;
mas o número deve ser muito mais elevado, porque há nações que não contabilizam este
fenómeno. Além disso, muitos tentam o suicídio sem êxito; se as tentativas resultassem sempre,
poderíamos ter ao menos mais dez vezes de casos mortais. Esta triste realidade põe em causa
o sentido e o valor da vida.
Podem dar-se diversas definições de suicídio. Em sentido estrito, é considerado como
uma auto-eliminação consciente, voluntária e intencional.

Além da idade, deve ter-se em conta outras variáveis:


- Sexo: os homens suicidam-se mais, talvez devido a um índice menor de tolerância face à
frustração;
- Tradição familiar: pode acontecer novo suicídio nas famílias onde já constam outros casos;
- Estado civil: maior índice entre os solteiros, viúvos ou divorciados;
- Profissão: maior taxa entre os médicos, mas também polícias e outras profissões mais
stressantes e de risco;

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- Saúde ou a doença mental: estão mais expostos os indivíduos deprimidos, melancólicos,


votados à solidão e à marginalização social;
- Lugar de residência: maior tendência entre quem vive na cidade; ou nação, assiste-se a um
maior índice de suicídio, por exemplo, no Japão, na Hungria, talvez devido à repressão das
emoções ou a outras razões como a competitividade exagerada, o clima, etc. .
O suicídio nos idosos pode ser abordado de diversas perspectivas. Uma delas em relação
ao idadismo (estereótipos ou preconceitos que levam à descriminação das pessoas pelo facto
de serem velhas). Assiste-se a uma relação íntima entre o idadismo e o suicídio na terceira
idade. Isto verifica-se por exemplo nos Estados Unidos, particularmente entre os homens muito
idosos, cujo número é cada vez maior, ao mesmo tempo que aumentam os estereótipos em
relação aos gerontes; do mesmo modo, a tendência a admitir o suicídio assistido medicamente
torna a tentação mais atraente. De facto, o problema da eutanásia, sobretudo na velhice, é cada
vez mais debatida e praticada, com maior ou menor discrição e com maior ou menor
assentimento do idoso.
As intenções ou razões por que o suicida atenta contra a própria vida, podem ser
variadas, mais ou menos conscientes ou inconscientes, directas ou indirectas. Afirmar que se
trata sempre de uma atitude patológica, não corresponde totalmente à verdade. Pode tratar-se
de uma forma de chamar à atenção para as suas necessidades, sofrimento, desejo de ser mais
amado e valorizado, podendo funcionar como uma forma de comunicação. O idoso pode
também desejar pôr fim aos seus dias por causa de algum mal incurável ou de sofrimentos
insuportáveis, correspondendo assim o suicídio à recusa de deterioração ou de uma dor sem
esperança, à angústia de se sentir dependente, associado a um desejo de domínio, de dispor do
seu destino.
Qualquer que seja a sua intenção suicidária, incluída está sempre uma certa dose de
cobardia ou vingança.
Eis algumas formas de prevenir actos suicidários: cuidar da saúde física e psíquica, maior
sentido de pertença a um grupo, a começar pela família (talvez o grande número de famílias
desfeitas ou de divórcios pode explicar uma parte significativa dos suicídios), convicções
religiosas ou uma crença bem interiorizada, possibilidades de subsistência, apoio numa grave
crise amorosa ou económica. Enfim, meios que tentem contrabalançar as causas que levam ao
suicídio.
O possível tratamento de candidatos ao suicídio exige antes de mais uma profunda
compreensão das motivações que subjazem a esta tentação, procurando modificar a mente do
paciente e as circunstâncias que o envolvem. Além disso, deve-se estar atento a qualquer sinal
ou indício que pode funcionar como um apelo secreto a pedir socorro. Tem pouco sentido dizer-
se que quem fala ou ameaça com o suicídio geralmente o faz. Deve saber-se também que se
uma tentativa falha, outras podem seguir-se até conseguir o seu intento.

2.3. Papel do agente de geriatria face à morte

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A aceitação da morte e do luto são processos complexos. Muitas pessoas estão sós
quando se encontram perante a morte. Aqui o agente de geriatria desempenha um papel
fundamental no acompanhamento na morte, ou no auxílio à ultrapassagem do luto.
Estas duas experiências, embora muito dolorosas, podem conduzir o indivíduo a um
estado sereno face à morte ou a um novo período da sua vida no qual se sente
psicologicamente mais forte. A morte é incontornável e as nossas sociedades devem reintegrá-
la, a fim de auxiliar os idosos a partir dignamente.
É importante que o agente de geriatria se consciencialize que numa fase em que a morte
está perto, se deve transmitir serenidade e paz interior ao moribundo. Para o auxiliar a atingir
este estado, é necessário que o cuidador esteja sereno perante a morte e suficientemente
equilibrado relativamente a esta questão.
Para que o idoso ultrapasse o estado de angústia e chegue a uma fase de aceitação, são
necessárias muitas horas de diálogo e escuta. É também de extrema relevância um trabalho de
aconselhamento e de apoio aos pais, filhos amigos, etc. .
Na maior parte dos casos, o idoso apenas reclama apoio e atenção. Qualquer que seja a
sua forma, o acompanhamento na morte faz parte do direito que toda a pessoa tem de morrer
em dignidade.

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