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Objectivos do Módulo:
Conteúdos Programáticos
Princípios fundamentais
• Deontologia e ética profissional
• Actos lícitos e ilícitos
• Actos legítimos e ilegítimos
• Responsabilidade
• Segredo profissional
1. Princípios fundamentais
1.1. Deontologia e Ética Profissional
Existem conflitos éticos nos cuidados aos idosos. Mas não somente no mundo da
investigação genética ou onde a alta tecnologia faz pensar na bondade e justiça do seu uso, dos
seus custos, da sua proporcionalidade. Também existem conflitos éticos no cuidado com as
pessoas idosas em situações simples e diárias.
É de importância crucial que nos familiarizemos com a bioética, a fim de poder detectar e
analisar racionalmente os conflitos e humanizar a assistência a pessoas idosas.
Do grego “ethiké” ou do latim “ethica” (ciência relativa aos costumes), ética é o domínio da
filosofia que tem por objectivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o
comportamento correcto e o incorrecto. Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes,
pelas quais o homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia moral dignificante.
Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que não é
pouco frequente os termos ética e deontologia serem utilizados indiferentemente.
O termo Deontologia surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa dever e
“lógos” que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim, a deontologia seria o tratado do
dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adoptadas por um determinado grupo
profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada ao exercício da uma
profissão.
Noções de bioética
Historicamente, a bioética surge da chamada “ética médica tradicional”, centrada na
relação médico-paciente. Então a bioética apresenta-se como um ramo do saber que se serve
das ciências biológicas para melhorar a qualidade de vida e de reflexão em volta dos desafios
postos pelo desenvolvimento da biologia ao nível do meio ambiente e da população mundial;
mas também como ciência que combina o conhecimento biológico com o conhecimento dos
sistemas de valores humanos.
Os abusos na investigação científica por detrás dos horrores nazis promovem o desejo de
que essas situações não se repitam, dando lugar à proclamação de normas para proteger os
sujeitos das investigações.
Hoje, fenómenos como a Sida, a distribuição dos recursos médicos e sanitários, a
globalização e as questões transculturais fizeram com que se preste mais atenção ao princípio
de justiça, que tinham passado para segundo plano ante o da autonomia. A justiça e a dimensão
comunitária e social podem ser, sem dúvida, a preocupação mais importante da bioética do novo
milénio.
São três os princípios fundamentais pelos quais se orientam a bioética:
1. Respeito pelas pessoas;
2. Beneficência (inclui a obrigação de não fazer o mal como promover o bem alheio);
3. Justiça.
Tendo em conta estes princípios, elaborou-se a “teoria dos quatro princípios”:
3. O princípio de beneficência
Significa “fazer o bem”. A vida moral vai além das exigências do respeito pela autonomia
alheia. Este princípio exige actos positivos para promover o bem e a realização dos outros,
independentemente de não causar dano e de respeitar as suas decisões autónomas. Portanto,
implica colocar os conhecimentos, habilidades e valores ao serviço dos destinatários do trabalho
profissional.
Muitos actos de beneficência não são obrigatórios, mas existe uma obrigação geral de
ajudar os outros a promover os seus interesses legítimos e importantes.
O conflito surge quando o bem, que consideramos exigível, actua contra a vontade ou
autonomia do interessado; quer dizer, trata-se de fazer o seu bem, não o nosso. Ao mesmo
tempo, o bem não é quimicamente puro ou absoluto, pois nunca poderemos fazer todo o bem
esperado ou espectável.
4. O princípio da justiça
Este princípio tem a ver com o que é devido à pessoa, com aquilo que de alguma maneira
lhe pertence ou lhes corresponde. Quando uma pessoa tem benefícios ou encargos na
comunidade, estamos perante uma questão de justiça. A injustiça pressupõe que se negue ou
retire a alguém aquilo que lhe era devido, que lhe correspondia como seu.
A origem da justiça está no reconhecimento expresso da dignidade de todo o ser humano
enquanto tal, sem mediar motivos como a raça, a inteligência, o nível cultural ou económico, a
idade, etc. Por isso, obriga a que se tratem todas as pessoas com a mesma consideração e
respeito.
A justiça que mais interessa no campo da biomedicina é a justiça distributiva, que se
refere À distribuição equitativa de direitos, benefícios e responsabilidades ou obrigações na
sociedade.
Os comités de bioética
Quando é preciso enfrentar os conflitos éticos nos lares, o ideal é reconhecer a autoridade
do diálogo na procura do bem. Por isso, estes comités, constituem um foro ideal para dar espaço
ao diálogo deliberativo.
Um comité não passa de uma comissão consultiva e interdisciplinar, criada para analisar
e assessorar na resolução de possíveis conflitos éticos que surgem durante a prática clínica nas
Instituições de Saúde como os lares, e cujo objectivo final é melhorar a qualidade dessa
assistência de saúde.
As funções desse comité são:
1. Promover a formação bioética tanto dos próprios membros do comité, como dos
trabalhadores da instituição;
2. Proteger os direitos dos doentes e seus familiares;
3. Analisar casos particulares para facilitar a tomada de decisões;
4. Formular orientações, directrizes e protocolos.
Nos lares, não é fácil criar comités que reúnam todas estas características.
No entanto, esperamos que nos próximos anos se criem, onde for possível.
A deliberação
A deliberação é um procedimento de diálogo, um método de trabalho quando se quer
abordar em grupo um conflito ético. Parte-se do pressuposto de que ninguém é detentor da
verdade moral e de uma vontade racional: cada um dá as suas razões e está aberto a que os
outros possam modificar o seu ponto de vista pessoal.
Algumas condições para que se produza a deliberação:
Ausência de restrições externas;
Boa vontade;
Capacidade de dar razões;
Respeitar os outros quando se discorda;
Desejo de entendimento, cooperação e colaboração;
Compromisso.
Atrás da atitude deliberativa está um modo de conceber o conflito ético não só como
dilema, mas também como problema. Quem vê nos conflitos somente dilemas, quando dialoga
arranca de um ponto de partida inamovível (crenças, preferências…), considera as questões
éticas como algo que tem sempre de ter resposta e para as quais tem sempre de haver uma
solução apropriada, já que formula um dilema entre duas posições, defendendo-se a que se
julga mais correcta. Em contrapartida, quem vê nos conflitos éticos sobretudo problemas e não
dilemas, situa-se de maneira aberta no debate ético, considera que não tem a solução desde o
início, que se pode mudar de ponto de vista, que o ponto de chegada será decisões prudenciais
e não certezas nem soluções únicas (a ética não é matemática).
A persuasão
Frequentemente, ao cuidar-se das pessoas idosas, é necessário recorrer a persuasão,
particularmente ante as negativas a indicações terapêuticas e, de modo especial, quando tal
negativa tem repercussões indesejáveis sobre terceiros ou graves consequências na saúde.
Pode acontecer que o caso seja tão simples como a pessoa idosa não deixar que a ajudem a
tratar da sua higiene pessoal ou não querer comer ou ir ao hospital fazer uma análise ou exame.
sem expor os prós e os contras das alternativas, a não ser que o nosso interlocutor tenha um
elevado nível cultural. Se prevemos oposição ao nosso conselho, tornar-nos-emos mais
persuasivos se começarmos com os argumentos que o apoiam para, no fim, introduzir a
recomendação. Não sendo este o caso, preferiremos iniciar sempre a nossa intervenção
directamente pelas conclusões e, depois, argumentá-las de maneira conveniente.
Os apelos ao medo (“Se não fizer esta dieta, pode ter um enfarte”) costumam ter um grau
moderado de eficácia, mas perdem-no completamente se houver colorações dramáticas.
Respeito Geral
Os A.G. defendem e promovem o desenvolvimento dos direitos fundamentais, dignidade e
valor de todas as pessoas. Respeitam os direitos dos indivíduos à privacidade,
confidencialidade, autodeterminação e autonomia. No exercício da profissão o A.G. deve:
Respeitar a diversidade individual e cultural, nomeadamente, decorrente da raça,
nacionalidade, etnia, género, orientação sexual, idade, religião, ideologia, linguagem e
estatuto socioeconómico dos idosos com quem se relaciona;
Respeitar o conhecimento experiência de todos os idosos com quem se relaciona;
Respeitar a diversidade individual resultante das incapacidades dos idosos, garantindo
assim igualdade de oportunidades;
Não impor o seu sistema de valores perante as pessoas.
Privacidade e Confidencialidade
No exercício da profissão o A.G. respeita o direito à privacidade e à confidencialidade dos
idosos. Este tem o dever de manter a confidencialidade, e fornecer apenas a informação
estritamente relevante para o assunto em questão.
Limites da Confidencialidade
No exercício da profissão, deve informar os idosos, quando considerar apropriado, acerca
dos limites legais da confidencialidade, divulga informação dos relatórios a terceiros quando tal
lhe seja imposto com legitimidade jurídica e, neste caso, informa, obrigatoriamente o idoso. No
exercício da profissão o A.G. tem o dever de informar, de forma compreensível para o idoso e
para terceiras partes relevantes, todos os procedimentos que vai adoptar e obter destes o
consentimento explícito. Quando a relação com o idoso for mediada pela terceira parte relevante
é a esta que compete o consentimento informado.
Autodeterminação
No exercício da profissão o A.G. deve:
Respeitar e promover a autonomia e o direito à autodeterminação dos idosos; Assegurar-
se de forma fundamentada que é respeitada a liberdade de escolha do idoso no
estabelecimento da relação profissional;
Respeitar e promover o direito do idoso de iniciar, continuar ou terminar a relação
profissional;
Ter em conta que a autodeterminação do idoso pode ser limitada pela idade, capacidades
mentais, nível do desenvolvimento, saúde mental, condicionamentos legais ou por uma
terceira parte relevante.
Os Agentes em Geriatria empenham-se em assegurar e manter elevados níveis de
competência na sua prática profissional. Reconhecem os limites das suas competências
particulares e as limitações dos seus conhecimentos. Proporcionam apenas os serviços e
técnicas para os quais estão qualificados mediante a educação, treino e experiência;
Ter um conhecimento aprofundado e actualizado deste Código Deontológico.
Ter uma reflexão crítica contínua sobre a sua conduta e em qualquer contrato que o A.G.
estabeleça, deve ter em conta o preconizado no Código Deontológico, tendo um
conhecimento aprofundado e actualizado da lei geral, no que concerne na sua prática;
Fornecer apenas os serviços para os quais está legalmente habilitado e estando atento as
suas limitações pessoais e profissionais, sempre que o A.G. não tenha necessária
competência profissional ou pessoal para trabalhar com determinados idosos deve, na
medida do possível encontrar soluções alternativas;
Apenas utilizar métodos e técnicas cientificamente validadas e ter obrigatoriamente em
conta as limitações dos métodos e técnicas que utilizam, bem como os dados que
recolhe, e deve manter-se actualizado a nível profissional e justificando a sua conduta
profissional á luz do estado actual da ciência;
Estar particularmente atento às limitações físicas e psicológicas, temporárias ou
impeditivas de uma adequada prática profissional. Caso estas existam, não deve dar
inicio ou manter qualquer actividade profissional. “Os A.G. estão conscientes das suas
responsabilidades profissionais e cientificas para com os seus clientes. A comunidade e a
sociedade em que trabalham e vivem;
Evitar causar prejuízo e ser responsável pelas suas próprias acções, assegurando eles
próprios e tanto quanto possível que os seus serviços não sejam mal utilizados;
Contribuir para o desenvolvimento da disciplina de Geriatria responsável pela qualidade e
consequências da sua conduta profissional e deve assegurar a manutenção de elevados
Responsabilidade alargada
No exercício da profissão, A.G. é também responsável pelo cumprimento do presente
Código Deontológico por parte daqueles que com ele colaboram, colegas de profissão
hierarquicamente superiores ou inferiores apoiando-os, nas necessidades deontológicas e
profissionais.
Resolução de Dilemas
No exercício da profissão o A.G. deve ter consciência da potencial ocorrência de dilemas
éticos e da sua responsabilidade para os resolver de uma forma que seja consistente com este
Código Deontológico. No exercício da profissão, quando confrontado com um dilema ético, o
A.G. deve procurar com os colegas o objectivo de encontrar a melhor solução. Se ocorrer um
conflito de interesses entre as obrigações para com o idoso ou terceiras partes relevantes e os
princípios deste Código Deontológico, o A.G. é responsável pelas suas decisões. Se estas
contrariarem este Código Deontológico, o A.G. tem o dever de informar os idosos e/ou as
terceiras partes relevantes fundamentando a sua relação.
Honestidade e Rigor
No exercício da profissão o A.G. deve:
Reger-se por princípios de honestidade e verdade;
Assegurar-se que as suas qualificações são entendidas de forma inequívoca pelos outros;
Ser objectivo perante terceiras partes relevantes, acerca das suas obrigações sob o
Código Deontológico, e assegurar-se que todas as partes envolvidas estão conscientes
dos seus direitos e responsabilidades;
Assegurar que terceiras partes relevantes ou outros (pessoas ou entidades) estão
conscientes de que as suas principais responsabilidades são, geralmente, para com o
idoso;
Expressar as suas opiniões profissionais de forma devidamente fundamentada.
Franqueza e Sinceridade
No exercício da profissão o A.G. deve:
Fornecer aos idosos e terceiras partes relevante, de forma clara e exacta, informação
sobre a natureza, os objectivos e os limites dos seus serviços;
Tentar, por todos os meios possíveis, minimizar a ocorrência de erro. Se este ocorrer
deve, de forma clara e inequívoca, accionar os mecanismos para a sua correcção;
Evitar todas as formas de logro na sua conduta profissional.
Caso Prático 1
Cármen é uma senhora de 87 anos que tem a doença de Paget, uma patologia degenerativa dos ossos que
lhe provoca terríveis dores nas costas. Já está há muito tempo de cama sem se poder mexer por causa dessas
dores.
- Olá Cármen. Como está hoje?
- Mal. Muito mal. Não suporto mais as dores. Não posso mais.
- Venho tirar sangue para uma análise.
- Por favor, peço-lhe: não me façam mais malvadezes. Estou muito cansada. Deixem-me morrer em paz.
- Mas Cármen, é para seu bem!
- Não quero mais sofrimento. Parece-lhe pouco o que já passei?
- Os médicos dizem que é preciso fazê-lo.
- Não, por favor. Não me faça mais. Você que em conhece… sabe o que tenho sofrido durante estes dois
anos. Deixe-me estar!
- (Eu quase não podia falar. Extraí-lhe o sangue e saí do quarto. Instantes depois voltei para lhe pôr uma
sonda nasogástrica. Ordem médica.) Cármen, tenho de lhe pôr uma sonda. Custa-me ter de fazer isto. Desculpe-me
mas precisa dela, e tenho de fazer isto. (Enquanto a colocava, custou-me muito o que lhe estava a fazer. Esforçava-
me por animá-la com as minhas palavras, dizendo que ela se estava a portar muito bem e que assim era mais fácil.)
- Estou a morrer. Porque não me deixam? Estou preparada.
- Não diga isso. Ninguém sabe o tempo que lhe resta.
- Sim, vocês sabem. Não me engane. Sabe que não posso aguentar nem uns dias…
- Nós as duas sabemos quantas situações difíceis já venceu: um enfarte, uma pancreatite, pneumonias….
- Sim, é verdade. Mas antes eu tinha força. Agora já não tenho nenhumas.
- (Os meus olhos ficaram embaciados. Ela percebeu!)
- (Pegando na minha mão.) A única satisfação que tenho é ter-vos a vocês!
- Tem muitas dores, não tem?
- Tenho. Tirem-me estas dores e deixem-me. Quero morrer já.
- Vou dar-lhe um calmante e verá que descansa.
- Eu quero outro descanso. É o único descanso que desejo.
- Já venho… (Vou buscar-lhe o calmante. Quando volto, diz-me)
- Ana, cuida muito bem dos teus filhos. Quero que os vejas crescer, que sejais muito felizes; e cuida muito
bem das tuas costas, que não tenhas de passar por este sofrimento que estou a passar.
- Fá-lo-ei, de verdade.
(Cármen morreu nessa mesma tarde.)
Maria tem 79 anos. A sua família mais próxima é formada por dois netos e uma nora que a visitam de vez
em quando. Entrou num Lar da Terceira Idade, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de suicídio planeado
juntamente com o seu marido; sobreviveu, porque recuou no último momento.
Sofre de cirrose hepática, tem varizes esofágicas e síndrome depressiva. Durante a sua estada no Centro,
teve outros episódios depressivos, depois dos quais voltava a mostrar interesse pela vida. Está a ser atendida pela
equipa do Lar, no qual se incluem vários médicos que examinam diariamente os casos mais agudos. Há um mês,
teve um episódio que, por decisão dos médicos, obrigou a que fosse transferida para um hospital especializado,
onde pudessem fazer uma transfusão de sangue e fazer outros tratamentos específicos. Além disso, já lhe
amputaram uma perna e tem diabetes.
Maria não gostou de ser transferida. Como conhecia a prática dos lares, nestes casos, havia já algum tempo
que dizia que, se lhe acontecesse alguma coisa, não a levassem para um hospital. Na última vez, portanto, quando
regressou, voltou a insistir que não queria mais ser transferida. Confessava que o lar era a sua casa e era nele que
queria morrer.
Situação actual
Actualmente, o quadro volta a repetir-se e, de novo, padece de hemorragias. A situação clínica, descrita
pelo médico, é a seguinte:
- O hemograma exige que se faça uma transfusão de sangue;
- Reactivação da síndrome depressiva.
Perante este quadro, a opinião dos médicos é a de novamente enviá-la para o hospital. Ela opõe-se,
manifestando o desejo de ficar no lar. O médico percebe que, devido à sua depressão, a doente deseja morrer.
A opinião da enfermagem não coincide totalmente com a avaliação feita da situação anímica da paciente,
argumentado que:
- Pelo que conhece da paciente, no momento actual, ela tem capacidade de decidir;
- Tivera outra experiência anterior e a sua decisão estava em linha com as manifestações anteriores sobre
este ponto, tomadas com serenidade e lucidez.
Também a assistente social, que conhece a paciente, afirma que Maria está consciente do seu estado e das
suas expectativas de vida, e que a sua vontade de morrer serenamente e no lar é independente de que seja agora
ou depois do tratamento, que ela consideraria agressivo.
O padre, conhecedor do agravamento da situação de Maria, também a visitou, como vinha fazendo
assiduamente nos últimos dias. Maria reitera o seu desejo de não ir para o hospital. O padre fala com o médico e
informa-se exactamente das possíveis consequências dessa decisão. É muito provável que venha a falecer se não
for transferida. Então, volta a falar com Maria e explica-lhe abertamente a situação: “A Maria está mal. Como vê,
perdeu sangue. O médico pensa que deveria ir ao hospital, para ser tratada com meios que aqui não há. Se não for,
pode morrer.” Maria insiste que não quer ser levada. Também fala abertamente, dizendo que sabe perfeitamente o
que está a acontecer, que sabe que chegou o fim, que o aceita, que ela própria enfrentará Deus e fará contas com
Ele. O padre garante-lhe que falará com a equipa.
Na equipa, fala-se sobre a situação e parece não haver acordo, de modo que se decide consultar o director
como responsável último da Instituição. O director fala novamente com a paciente e recebe a mesma mensagem:
deseja ficar, aceitando que muito provavelmente morrerá, embora, se fosse transferida, ainda houvesse alguma
possibilidade de superar o momento actual. O director decide que Maria só será levada ao hospital, se ela mudar de
opinião.
O caso seguinte baseia-se no testemunho recolhido por uma assistente social que trabalha num lar.
Transcreve-o assim:
Novembro
Tenho a certeza que já todos viram o Fernando na Praça de Espanha, com a sua bicicleta de amolador,
sentado ao sol ou afiando alguma faca. Segundos dizem os daqui, os que já viveram muitos anos nessa pequena
cidade, ele é o Amolador do Bar Lisboa.
Analfabeto, embora tenha nascido em Lisboa. Ele é daqui, também desde sempre. Viveu nesta cidade com
os seus pais e o seu único irmão, sempre em casa alugada. Já está sozinho há muito tempo, solteiro, já sem
ninguém. Mas não deixou um só dia de ir para o “trabalho”, onde o esperam diariamente, nem “de estar com os
amigos”. Poucos dias amola. Por vezes, umas tesouras, outras umas facas, outras nada. Pede 400, mas logo lhe
dizem que fique com o troco, de modo que costumam ser 500. Agora com o euro, deve ter tido de arredondar e não
creio que tenha sido para baixo.
Há três meses, saiu da sua casa cedo, como sempre, para ir ao Bar Lisboa colocar-se com a sua bicicleta
de amolador. E voltou, como sempre, à tarde. A sua casa tinha ardido: tenha deixado o aquecedor ligado e pegou
fogo ao colchão. Levaram-no para um lar para passar a noite. E já lá vão todas as noites de três meses que passou
nesse lar.
Fernando não vê. Ele diz que o médico lhe disse uma vez que tinha a “vista muito delicada” e que não lhe
podem fazer nada. Também já perdeu muito o ouvido, embora seja possível a comunicação, mas não muito
complicada. No início da sua estada no lar, não o deixavam sair de lá e ele não entendia muito bem porquê. Por
isso, teve de abandonar o seu trabalho durante mais de uma semana. Na verdade, no lar não conheciam muito bem
a sua história nem as suas capacidades, tinham medo que lhe acontecesse alguma coisa se saísse sozinho, que
fosse atropelado por um carro, que se perdesse, que se fosse embora e não quisesse voltar. Até chamaram os seus
amigos do Bar Lisboa e, então, perceberam que Fernando não podia faltar ao seu encontro diário com a sua
bicicleta de amolador e que deviam adaptar-se para que ele pudesse continuar com a sua rotina e com a sua vida
quotidiana.
Porque Fernando sabe muito bem o que quer. É verdade que não tem hábitos de higiene, que a sua casa
se encontra em muito mau estado, embora tivesse um auxiliar de ajuda ao domicílio que lhe fazia a limpeza; mas
ele nunca quis que ninguém se imiscuísse na sua vida e, muito menos, que o obrigassem a lavar-se ou a manter a
sua casa em ordem. Além disso, diz que ele sozinho dá perfeitamente conta do recado. Os vizinhos não pensam o
mesmo, especialmente quando deixa as torneiras abertas e lhes inunda a casa, quando deixa o rádio ligado com o
volume no máximo durante a noite, quando cheira mal… E receiam que, no próximo incêndio, não possam sair
como desta vez.
Fernando disse-nos de modo muito claro: não quer ir para o lar, onde já esteve duas vezes, e lá não dão de
comer nem se está bem. Além disso, o que vai acontecer com o seu trabalho? Se não for, vão todos perguntar por
onde anda. Ele está melhor só: come a sua fruta (porque os médicos dizem na televisão que tem muitas vitaminas),
come por onde calha, às vezes dão-lhe alguma coisa no Bar Lisboa, às vezes ele paga um guisado barato… e o
seu tabaco, que com o pouco que lhe dão de pensão já não lhe chega para mais. É um mistério onde gasta o
dinheiro; mas isso nunca saberemos, porque todos os seus tesouros andam no fundo do seu eterno sobretudo, que
só tira para dormir e o mete debaixo da almofada. Embora no lar lho tirem e lavem; ele é que fica levado dos diabos
porque já chega de quererem lavar-lhe a roupa que está limpa!
Este é o Fernando, uma personagem da sua pequena cidade. Qualquer dia, um carro atropela-o ou cai ou
apanha uma infecção a comer o que deixa em casa dias e dias… Ele sabe muito bem o que quer e quer continuar a
viver como até agora: só, sujo, organizado à sua maneira, satisfeito com a sua desordem.
Tem impedimentos para viver só? Muitíssimos. Não vê. Não ouve. Não sabe manter a higiene.
Provavelmente estará mal alimentado. Mas gosta de sair todas as manhãs a caminho do seu “trabalho”, embora a
maioria dos dias volte dizendo que não amolou nada. Gosta de, à noite, voltar para “a sua casa”. Provavelmente
estaria melhor num lar. Mas não estaria feliz. Estaria melhor? Quem pode decidir o valor das coisas? Vale mais a
segurança física ou emocional? Vale mais um quarto asseado e uma boa alimentação ou a segurança da rotina
conhecida e amada? Vale mais morrer bem atendido numa cama limpa do que atropelado por um carro, a caminho
daquilo que a pessoa sente como “seu”?
Junho seguinte
Passam os meses e Fernando continua no mesmo lar para onde o levaram, para passar duas noites, há
quase seis meses. Na realidade, a sua casa já está arranjada, mas nunca lho disseram. A sua rotina foi
apresentada ao Tribunal para que o declarassem incapaz, nomeassem um tutor e o metessem num lar, onde possa
ser bem atendido. Entretanto, espera, porque dentro de alguns dias vai a julgamento para que se acabe de decidir
se é ou não capaz. De quê? Ele já disse ao juiz que sozinho se amanha mal, mas que para o lar nem pensar.
Ocorreram novos acontecimentos que voltam a colocar-nos mais dúvidas sobre a capacidade de Fernando
viver só. Iam levá-lo ao Registo Civil para tirar o Bilhete de Identidade. Mas eram precisas fotografias. Um dia voltou
com as fotografias, pois já se tinha aborrecido de perguntar onde se fazia isso. Noutro dia, explicou aos do lar que
não o levassem a tirar o Bilhete de Identidade, porque ele já o tinha feito. Não havia maneira de acreditarem nele,
por isso teve de lhes mostrar o documento com que iria levantá-lo. Como se ele não soubesse que a Repartição do
Registo Civil está naquela praça e que é preciso ir lá de manhã e que depois, passados uns dias, é preciso voltar lá
para levantá-lo! E ele já o tinha feito.
Também não tinha o Cartão da Segurança Social e disseram-lhe onde podia tirá-lo. O pior é que é um
edifício muito grande, com muitos andares, e é preciso apanhar o elevador e ele não sabia onde era. Um dia, um
voluntário foi ao Bar Lisboa e acompanhou-o a tirar o cartão. E não acreditaram quando Fernando lhes disse que
um funcionário muito simpático tinha-lhe arranjado tudo. Só acreditou quando ele lho mostrou.
Além disso, no lar levaram Fernando a um oftalmologista. O médico disse-lhe que tinha um olho perdido,
mas que podiam operar o outro e iam pô-lo como prioritário na lista de espera. Ele está contente, porque quer que o
operem e quer ver. Isto também me anima a mim, porque desde há bastante tempo que está cada vez pior, como
se estivesse a perder faculdades. Pergunto-me se não aconteceu com Fernando o mesmo que acontece com
outros idosos que, retirados do seu meio ambiente, atingem o “limite” da sua capacidade de adaptação.
A verdade é que Fernando se sente cada vez menos autónomo; pelo menos, é o que penso cada vez que
vejo que ele aceita melhor a ajuda e quando fica no lar, em vez de sair para a rua, se o dia amanhece mais frio ou
nublado.
Dentro de uns dias terá de voltar ao Tribunal para ver como se resolve o seu problema da incapacidade.
Ainda não se sabe nada da operação. No lar, preferiram não acelerar a operação para que, no dia do julgamento,
ele não apareça com a vista melhorada e que o juiz pense que ele poderia amanhar-se sozinho. Por esse mesmo
motivo, também nada fizeram para que ele pudesse ir para casa. Fernando não pergunta nem pela sua casa nem
quando vai sair daqui. E parece que, realmente, está pior do que quando veio.
Tudo isto me suscita muitas perguntas sobre o que será eticamente correcto, sobre o que será mais justo,
sobre o que será melhor para o Fernando e para a sua incapacidade, e sobre a melhor maneira de agir… Perguntas
que, no meu íntimo, ficam por resolver e que tenho que analisar com outros.
1. O A.G. deve reger o seu trabalho pelo critério da eficiência e competência profissional,
tomando como referência a ética profissional.
2. O A.G. tem o direito e o dever ao seu desenvolvimento profissional, através de actividades de
formação permanente, sendo também promotor da sua auto-formação para que assim se
mantenha actualizado, constituindo-se assim como um agente activo.
3. O A.G. deve assumir responsabilidade profissional nas matérias para as quais esteja
capacitado pessoal e tecnicamente e com as quais se compromete.
4. O A.G. deve desenvolver uma atitude de análise crítica e reflexiva permanente em relação a si
próprio e ao seu desempenho profissional.
5. O A.G. não deve praticar e tem o dever de denunciar às entidades competentes qualquer
situação anti-ética, prejudicial ou com efeitos nocivos quer para o utente, para as instituições ou
para a sociedade, praticados por A.G. ou por outros profissionais.
6. O A.G. deve contribuir através da sua acção profissional para a dignificação social da sua
profissão.
7. O A.G. deve defender e fazer respeitar os direitos e deveres inerentes à sua profissão, tal
como os constantes neste código.
8. O A.G. deve ter para com os seus colegas respeito, consideração e solidariedade que
fortaleçam o bom conceito da categoria.
9. O A.G. deve esforçar-se para desenvolver em si qualidades pessoais que optimizem o seu
desempenho profissional, tais como a paciência, a tolerância, o autocontrole, a empatia, o
altruísmo, o equilíbrio.
10. O A.G. deve associar-se e prestigiar as associações e órgãos representativos da profissão,
contribuindo para a harmonia e coesão profissional e para o desenvolvimento da profissão.
11. O A.G. deve programar e planificar as suas tarefas, não as deixando ao acaso e à
aleatoriedade.
12. Deve-se considerar A.G. o profissional que detém uma formação adequada.
13. O A.G. deve gozar de privacidade na sua vida particular, devendo no entanto ser coerente
com a sua postura profissional durante o seu relacionamento informal, considerando a
pedagogia do exemplo.
14. O A.G. tem direito ao exercício autónomo e reconhecido da sua profissão nas instituições
públicas e privadas.
3. Durante a relação com o utente, o A.G. não deve manter um relacionamento com o utente que
condicione nocivamente a boa prestação do seu desempenho profissional.
4. O A.G. deve consciencializar o utente do problema que ele atravessa e esclarecer os
objectivos e a amplitude da sua actuação profissional.
5. O A.G. deve desenvolver com os utentes uma relação desinteressada.
6. O A.G. deve guardar o sigilo profissional, não utilizando indevidamente as informações que
dispõe sobre os utentes e as famílias.
7. O A.G. não deve ter atitudes que afectem a dignidade dos utentes, respeitando a sua
integridade.
8. O A.G. deve ser cauteloso mas objectivamente crítico nas afirmações que profere e nos juízos
que efectua sobre questões que possam dar azo a estigmatizações.
9. O A.G. não deve na sua prática profissional criar expectativas no utente que não sejam
possíveis de concretizar.
10. O A.G. deve respeitar os direitos das famílias com relação aos utentes numa postura de
cooperação entre a família e a equipa, entendendo a família como agente de socialização
essencial ao utente.
11. O A.G. deve ser conhecedor do contexto familiar da sua intervenção, desenvolvendo o
contacto directo e contínuo de forma coordenada com a família.
12. O A.G. tem o direito ao respeito por parte dos utentes e das famílias.
Ao reflectir sobre este tema dei-me conta que actualmente somos expostos a inúmeras
fontes de informações, o que torna difícil manter o tão falado sigilo frente a algo.
Então, fui assaltada por perguntas como: afinal, o que é o sigilo? A quem se destina?
Parece-me que o sigilo está ligado a duas outras coisas também importantes: o silêncio e o
cuidado.
A palavra sigilo está relacionada à ideia de segredo, ou ainda, com algo que precisa de
ser guardado frente a uma verdade. Assim definido o sigilo podemos concluir que se procura
estabelecer vínculos de confiança. Contudo, gostaria de apresentar o sigilo não como um
imperativo técnico ou moral na relação que mantemos com o outro mas sim como uma
dimensão ética da própria relação.
Manter sigilo é calar-se, ou seja, silenciar frente a algo que se encontra posto. A partir
deste contexto, podemos entender que o sigilo parece indicar antes de um uso técnico, uma
acção que se prolonga no mundo como espaço para a escuta do silêncio. Este silêncio torna o
homem detentor de uma verdade ao mesmo tempo que aberto para outras possibilidades de
constituir sentido e significado ao vivido. Do sigilo ao silêncio parece ser a postura esperada.
Concluindo podemos afirmar que constitui obrigação do agente de geriatria:
A salvaguarda do sigilo sobre os elementos que tenha recolhido no exercício da sua
actividade profissional, porém, se utilizar alguns desses elementos deverá ter o cuidado
de não identificar as pessoas visadas.
Obrigação de, quando o sistema legal exige divulgação de dados, fornecer apenas a
informação relevante para o assunto em questão e, de outro modo, manter
confidencialidade.
O sigilo é referido à difusão oral, ou escrita da informação.
A violação da confidencialidade é o desrespeito por uma determinada pessoa, é uma
irresponsabilidade do profissional, já que o seu papel é responsabilidade perante a sociedade.
Manter o sigilo profissional ajuda o utente a manter a sua própria integridade moral.
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os
povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a
constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e
liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a
sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórios colocados sob a sua jurisdição.
Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem
distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do
território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a
alguma limitação de soberania.
Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas,
são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica.
Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção
igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação.
Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem
os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um
tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação
em matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente
provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam
asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto
delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a
que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.
Artigo 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua
correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem
direito a protecção da lei.
Artigo 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao
seu país.
Artigo 14.º
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum
ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de
raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.
Artigo 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade
de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em
comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado
pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por
qualquer meio de expressão.
Artigo 20.º
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamente,
quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicos do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições
honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo
equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a
satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação
internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.
Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de
trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma
existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção
social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para a defesa
dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração do
trabalho e a férias periódicas pagas.
Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou
fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.
Artigo 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino
elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o
acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das
liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos
os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Artigo 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária
ou artística da sua autoria.
Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar
plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração.
Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da
sua personalidade.
2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas
pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a
fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das
Nações Unidas.
Artigo 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado,
agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a
destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.
Desde sempre se soube que se deve ajudar os pais na velhice quando estes não têm
condições de prover o próprio sustento. Contudo, observa-se que não são raros os casos de
abandono dos pais pela própria família.
A constituição determina que os idosos devem ser amparados preferencialmente em seus lares
no entanto, as instituições de longa permanência estão lotadas de pessoas que ali foram
colocadas por familiares.
Os direitos dos Idosos representa uma expressão legal da vontade do poder público, que,
somente por esse instrumento, não tem como assegurar ao idoso o seu integral cumprimento.
Só a acção cidadã e participativa de toda a comunidade evitará que como tantas outras leis, ele
se perca no esquecimento, deixando de cumprir a sua função que é a de garantir a pessoa idosa
direitos para uma velhice com dignidade.
INDEPENDÊNCIA
Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a ter apoio
familiar e comunitário.
Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de
rendimentos.
Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho.
Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e requalificação
profissional.
Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam
passíveis de mudanças.
AUTO-REALIZAÇÃO
Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento de suas potencialidades.
Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer da sociedade.
DIGNIDADE
Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração e maus-tratos
físicos e/ou mentais.
Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia, deficiências,
condições económicas ou outros factores
O que é a morte?
A morte ainda hoje é um tabu, a nível pessoal, embora seja exibida em altas doses nas
televisões, jornais, etc. Todo o ser humano, mais cedo ou mais tarde, confronta-se com esse
drama existencial e mais ainda à medida que a vida vai declinando, assumindo o morrer e a
morte não apenas como uma dimensão biológica (de doença e cuidados contínuos), mas
também psicológica (consciência da finitude e fragilidades da vida) e sociológica (isolamento do
moribundo e outros problemas sociais).
Em todo o caso, preparar a própria morte é uma das tarefas mais importantes, senão a
mais importante, de todo o ser vivo pensante e mais ainda o idoso. A morte deve ser encarada
com naturalidade e não como um fatalismo ou fracasso da medicina. Para além de que a
aceitação ou não desta fase terminal depende, com frequência, do grau com que a pessoa idosa
continua a situar-se em relação à família, aos amigos, à sua comunidade, assim como aos seus
valores e à sua consciência de continuar a ser útil aos outros.
A morte pode ser vista por diversos pontos de vista, variando de indivíduo para indivíduo.
Assim sendo, a fase terminal da vida pode ser encarada pelo adulto das seguintes formas:
Organizador do tempo: a partir de uma certa idade, começa-se a pensar e a contar o
tempo não tanto desde o nascimento, mas do que resta para a morte (contagem
decrescente);
Punição do mal feito (tal visão é mais natural nas crianças);
Transição para uma vida melhor e imortal : variando muito consoante a crença numa vida
eterna para além da morte, dependendo da religião de cada um);
Perda de novas experiências: impossibilidade de realizar todos os objectivos de vida.
Questões relacionadas com a atitude face à morte e os idosos, incluindo a avaliação face
à morte, o (micro) suicídio (dos que são deixando morrer aos poucos, por exemplo, através da
depressão, mas também dos que atentam directamente contra a vida), o tratamento
discriminatório dos cuidadores (que se podem deixar influenciar pelo racismo), o tratamento
hospitalar, a espiritualidade e o aconselhamento dos idosos.
Apresenta-se mesmo uma prospectiva (positiva, mas não sem algumas apreensões)
quanto à velhice no século XXI, supondo-se que a ansiedade face à morte pode evoluir
positivamente em alguns aspectos mas também negativamente noutros; por exemplo, no futuro
pode-se ter mais medo de ser vítima de violência e também, a nível mais pessoal, de ficar
suspenso entre a vida e a morte, considerado nem vivo nem morto, dadas as possibilidades da
tecnologia e da medicina. Mas em geral, pode supor-se que o envelhecimento e a morte se
tornarão menos marginais e mais integrados socialmente.
Os idosos podem beneficiar com o pensamento consciente sobre as suas preferências a
respeito da qualidade vs quantidade de vida ou sobre o género específico de tratamento e do
contexto que preferem a sua morte.
Ainda a respeito do pensamento da morte, os idosos tendem também a fazer mais
seguros de vida, a preocupar-se com o testamento, a fazer (alguns deles) uma autobiografia ou
ao menos a transmitirem oralmente as suas vontades, para além de outros comportamentos
psicossociais, como voltar-se mais para si mesmos, relativizar certos acontecimentos, etc.
Medo da morte
Uma das temáticas mais estudadas neste âmbito, é o medo da morte ou a ansiedade face
a ela, também designada por tanatofobia. Este medo relaciona-se na maior parte das vezes com
o processo de morrer, de ser destruído, de deixar as pessoas mais significativas, medo do
desconhecido, da sorte do corpo, etc.
A morte não só bate à porta dos idosos como também dos jovens. É comum a todas as
idades, embora o jovem espere durar ainda muito tempo, enquanto tal expectativa não a pode
ter o velho, a menos que seja insensato; neste sentido, o idoso encontra-se em melhor situação
por já ter alcançado o que esperou.
Uma boa atitude face à morte leva a uma melhor vivência do tempo no presente: passam
as horas, os dias, os meses, certamente os anos; o tempo que passou já não volta e
desconhecemos o futuro; deve cada um contentar-se com aquela porção de tempo que lhe foi
dada para viver. Mais importante que a quantidade é a qualidade do tempo: o tempo para se
viver, ainda que breve, é suficientemente longo para se viver bem e com honra.
Uma pesquisa de Tomer e Elianson (2000) propuseram um modelo compreensivo (mais
aplicável ao idoso) da ansiedade face à morte, em três etapas:
1. Em relação ao passado: ao se fazer a revisão de toda uma vida, surgem por vezes
lamentos por não se terem atingido todos os objectivos e realizados os sonhos;
2. Em relação ao futuro: lamentações por já não se poder atingir todos os objectivos
pessoais, profissionais ou familiares que se pretendiam realizar, dentro de um
determinado plano de vida;
3. Busca de pleno significado para a morte: entendimento do final do ciclo da vida, altura
em que surgem interrogações quanto ao verdadeiro significado da vida e da morte, com
abertura para o transcendente.
Importante será acrescentar, que em todos estes momentos, muito pode ajudar o apoio
espiritual e o aconselhamento ao idoso. Assim como, este receio da morte é causado por muitas
variáveis, sendo que cada uma delas poderá ter mais ou menos preponderância consoante o
percurso de vida de cada um, a sua educação ou personalidade.
Os estudos demonstram que os principais índices de avaliação são os seguintes:
IDADE: existe uma maior carga de ansiedade face à morte a meio da adultez do que na velhice,
dando a entender que esta aflição tende a diminuir do meio da vida para o fim, estabilizando nas
últimas décadas. Este maior medo da morte entre as pessoas de meia-idade pode dever-se aos
sintomas que vão aparecendo como o declínio da saúde, o medo de deixar os seus (filhos)
sobre quem ainda se sentem responsáveis e ao facto de verem morrer os seus pais ou outros
familiares significativos. Em geral, o receio por parte do idoso não só diminui como é mesmo
desejável, dependendo das condições de saúde e do ambiente em que vivem. Os mais velhos
também se preocupam com a morte, pensam e falam nela mais do que os mais novos. Contudo
parecem temê-la menos do que as pessoas de meia idade, uma vez que se mentalizaram já da
sua inevitabilidade e relativa proximidade, vendo desaparecer as pessoas da sua geração;
fazem assim, de algum modo, um pacto inconsciente com ela. Mais do que temê-la em si,
temem o modo ou o processo como ocorrerá (com ou sem sofrimento, lenta ou repentinamente)
ou o tempo que a precede (quem cuidará deles se perderem a independência, etc.) (Marshall e
Levy, 1990).
GÉNERO: há uma maior tendência a temer a morte no sexo feminino.
RELIGIOSIDADE: a espiritualidade e o aconselhamento nos idosos pode diminuir a carga de
ansiedade, particularmente se a psicoterapia e o aconselhamento incorporam a espiritualidade e
a transcendência, levando o idoso a compreender e a enquadrar melhor o sentido da vida e da
morte (cf. Barros, 2007).
INTEGRIDADE DO EU: normalmente, quem é possuidor de uma personalidade mais integrada
e com maiores objectivos de vida, demonstra ser menos ansioso diante do pensamento da
morte, assim como quanto maior é a maturidade ou desenvolvimento psicossocial, menor é o
medo frente à morte. A nível psicológico dá-se uma diminuição progressiva, sob os aspectos
cognitivo, e afectivo que pode modificar o carácter ou a personalidade do idoso tornando-o
diminuído na sua vitalidade e iniciativa, desmotivado, desinteressado, por vezes apático, menos
fluído, mais rígido, cristalizado, teimoso, desconfiado, egoísta, conservador, intolerante, o que se
traduz por menor capacidade de adaptação e maior vulnerabilidade.
PROBLEMAS FÍSICOS E PSICOLÓGICOS: existe de facto uma correlação positiva entre a
ansiedade face à morte e os problemas físicos (de saúde, podendo até, em caso de doença
grave e dolorosa, a morte significar uma libertação) e mais ainda em relação aos problemas
psicológicos, significando que as diversas mazelas físicas, que aumentam com a idade, fazem
crescer o medo da morte e mais ainda quando se trata de problemas psíquicos, como a
depressão ou o luto.
INSTITUCIONALIZAÇÃO: em geral os estudos demonstram que existe uma maior carga de
ansiedade da morte nos idosos institucionalizados (em lares) em relação aos que vivem mais
independentemente nas famílias.
Sofrendo mais ou menos de tanatofobia, conforme a sua maturidade psicológica,
religiosidade e outras variáveis, o idoso desenvolve diversas formas de lidar com a situação,
usando também diversos mecanismos de defesa mais ou menos frequentes e intensos, como a
hipocondria, a sublimação, a agressividade, a racionalização, a dissociação, a negação, e ainda
mecanismos mais positivos, como o humor e o altruísmo. Isto leva o idoso a atitudes mais ou
menos negativas, neutras ou positivas diante do morrer e da morte.
para apaziguar a dor, mas a proporcionar a melhor qualidade de vida possível ao enfermo. Os
cuidados paliativos devem, enfim, dirigir-se ou abarcar os aspectos físicos mas também
emocionais e espirituais do doente.
Segundo Kubler-Ross (1969), o moribundo passa por diversas fases frente à
inevitabilidade da morte:
1. A recusa ou negação (perante a percepção mais ou menos consciente da crua
realidade, procura negá-la de diversas formas, por exemplo, fazendo planos para o futuro)
2. A cólera ou revolta (a pessoa revolta-se com o seu destino, principalmente para quem
crê na religião pergunta muitas das vezes: Porquê eu? Que mal fiz a Deus?)
3. A negociação (numa tentativa desesperada, o moribundo procura fazer um contrato com
Deus: Se eu me salvar irei redimir-me de todos os meus erros, e passar a ter uma melhor
conduta.)
4. A depressão (perda do gosto de viver, em que predominam sentimentos como: mágoa,
angústia, culpa e vergonha)
5. Aceitação (fase da resignação, verdadeira ou falsa, em que a pessoa aprende a conviver
com o “mal” e se vai afastando aos poucos do mundo que a rodeia, atingindo assim uma
paz interior).
Esta ideia de estádios não é muito consensual, sendo até mesmo contestada. No fim de
contas, aqui, mais do que nunca, cada caso é um caso, cada um morre à sua maneira ou
ninguém morre em vez do outro.
Os moribundos devem ser assistidos da melhor forma possível, embora não seja fácil,
particularmente porque actualmente poucos são os que morrem em casa rodeados dos seus
parentes. Morrem antes nos hospitais ou nos lares, onde os funcionários e voluntários podem ter
um trabalho significativo, necessitando porém de formação adequada para que eles mesmos
aceitem a morte dos outros (e um dia a sua) com relativa serenidade, transmitindo essa paz aos
doentes terminais.
Estes têm diversas necessidades que, segundo Ebersole eHess (1985), inspirados na
hierarquia de das necessidades de Maslow, se poderiam descrever ascensionalmente: ser
aliviado do mal-estar físico (não sofrer); confiar nos que o tratam, sentir que lhe dizem a
verdade; ser compreendido e amado; conversar minimamente a autonomia e a identidade
pessoal; compreender, aceitar e atravessar dignamente a morte.
Quando chega a recta final, os últimos dias ou as últimas horas, é necessário preparar a
família para que possa organizar-se da melhor forma, permitir e ajudar a todos os que queiram e
possam estar presentes, não faltando com todo o apoio ao moribundo.
Ideal seria que o doente passasse os últimos dias de vida em casa, num ambiente sereno
e rodeado dos entes queridos e não no hospital. Todavia, a maior parte das vezes morre no
hospital, frequentemente sozinho, ou porque já lá se encontrava, ou porque os familiares os
levam nos últimos momentos para descargo de consciência, pensando que é necessário fazer
tudo para lutar contra a morte (ou não desejando presenciar o desenlace fatal), quando o melhor
talvez seria render-se serenamente à realidade.
sem disporem de especial competência para isso. Adquirem essa competência ao praticar os
cuidados de assistência.
Outros familiares, amigos, vizinhos e membros de grupos religiosos, podem ajudar os que
prestam os cuidados, ou assumir o encargo por completo. Por vezes, as famílias contratam
profissionais de saúde, enfermeiras ou auxiliares de enfermagem, ajudantes de lar para ajudar
um parente ou um cônjuge.
Por último termos o agente em geriatria. Este é o profissional que cuida do idoso nas suas
vertentes física, mental, social e espiritual, respeitando os imperativos de segurança e de
deontologia profissional, baseando-se em conhecimentos actualizados de forma a garantir o
equilíbrio pessoal e institucional no relacionamento interpessoal.” Um bom profissional deve:
Saber-Ser:
Responsável Paciente
Meiga/o Bem disposta/o
Educada/o Humilde
Assídua /o Honesta /o
Atenta/o Justa/o
Simpática/o Bom ouvinte;
Flexível Competente
Dedicado Profissional
Saber:
Colocar -se no lugar ou situação dos idosos;
Prestar-lhes devida atenção;
Respeitar o idoso, os colegas e superiores hierárquicos;
Ter Postura e boa apresentação;
Ter capacidades psicológicas, sociais e de relacionamento com os outros, especialmente
com os idosos.
Considerar o idoso como um ser humano, com todas as suas necessidades;
Mostrar disponibilidade para o idoso;
Ajudar o idoso a desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais, promovendo ao
máximo as suas capacidades e autonomia.
tenha de enfrentar. Por exemplo, os filhos podem ter de assumir responsabilidades económicas
dos seus pais dependentes e, sem ajuda económica, podem ter de gastar nessa acção as
poupanças de toda uma vida. Também pode ter de enfrentar gastos domésticos adicionais para
a alimentação, os serviços e os transportes. Se tiver necessidade de fazer uma remodelação em
casa, obrigará a gastos adicionais. E se tem um trabalho, talvez seja obrigado a reduzir o seu
horário ou a deixá-lo totalmente para proporcionar os cuidados. A perda de receitas económicas
daí resultantes pode, por sua vez, criar mais dificuldades financeiras.
Requisitos emocionais: se a pessoa que presta os cuidados é um membro da família,
geralmente experimenta sentimentos conflituosos de carinho, frustração, desejo de ajudar,
cólera, tristeza, satisfação, culpa e um sentido de perda pela deterioração da saúde ou das
capacidades do seu companheiro, cônjuge, parente ou amigo. Estas variações emocionais
podem ocorrer de forma inesperada e simultânea e piorar com as expectativas do doente a
cuidar. Por exemplo, alguns idosos esperam dos que lhe prestam cuidados muito mais do que é
necessário, outros realmente necessitados podem rejeitar qualquer tipo de ajuda, em vez de
permitirem que os membros da família atendam às suas necessidades. Além disso, muitas
mulheres que prestam cuidados, crêem que a sociedade espera delas que renunciem à sua vida
para cuidar dos outros. Os irmãos podem discutir sobre a divisão das responsabilidades, mas a
carga recai quase sempre desproporcionadamente sobre um só. A paciência dos membros a
família pode pôr-se seriamente à prova quando o familiar necessitado de cuidados vive debaixo
do mesmo tecto. Quem presta cuidados e esteja idoso, como o cônjuge de uma pessoa
carenciada, pode ter as suas próprias complicações de saúde ou económicas que requerem
quase tanta atenção como as do doente a cuidar. Para os profissionais que trabalham em lares
e hospitais, apesar de não estarem imbuídos num estado emocional tão carregado de
sentimentos negativos, também são dignos de atenção, uma vez que o seu dia-a-dia laboral é
repleto de um cuidados a idosos que na sua grande maioria dos casos, estão num elevado grau
de dependência. Como tal, é um trabalho que exige muitos sacrifícios, restrições e elevado nível
de responsabilidade.
A ausência ou défice destes requisitos, pode causar numerosos conflitos que implicam na
qualidade de serviços que são prestados aos idosos. Situações menos bem resolvidas podem
levar ao isolamento da pessoa que cuida, comprometer as suas relações com os outros,
ameaçar as suas expectativas laborais e levá-la a um estado de cólera, frustração, culpa,
ansiedade, stress, de depressão crescente e a um sentido de impotência e de esgotamento que
se conhece como Síndroma do Auxiliar Exausto. Este síndrome pode afectar qualquer indivíduo
em qualquer momento. No pior dos casos, se quem cuida não está consciente das dificuldades
que tem a enfrentar este síndrome pode levar a abandonar ou até maltratar o idoso.
Obter ajuda
Quem presta os cuidados deve encontrar um equilíbrio entre as satisfações e os desafios
de proporcionar ajuda. Embora não existam modos fáceis para encarar os desafios, há contudo
estratégias para enfrentar os conflitos e sistemas para, de vez em quando aliviar a carga.
Determinar de que tipo de ajuda necessita uma pessoa idosa e como conseguir obtê-la obriga,
muitas vezes, a trabalhar com os mais diversos tipos de profissionais como médicos, terapeutas,
enfermeiros, entre outros.
Ajuda física: com frequência, os auxiliares que prestam cuidados podem ajudar a pessoa
idosa dependente a conseguir maior independência fazendo pequenas modificações no lar com
por exemplo:
Instalar barras para se agarrar na cama, casa de banho, para que a pessoa se possa
levantar sem ajuda;
A cadeira de duche ajuda a que se possa tomar banho em segurança;
Colocar uma luz de noite na casa de banho ou uma cadeira com um urinol junto à cama
pode prevenir problemas nocturnos, como quedas.
Ajuda mental: uma agenda pode ser útil a quem presta cuidados para organizar tarefas,
assinalar informações, ou outros assuntos relacionados com a pessoa que cuidam.
Ajuda financeira: nem sempre é fácil fazer a gestão dos dinheiros, mas existem algumas
formas que nos ajudam a minimizar essas mesmas dificuldades, como por exemplo:
Podem beneficiar das deduções das despesas médicas e de outros benefícios fiscais
declarando o idoso como dependente;
Podem beneficiar de deduções pelas alterações efectuadas na casa com fins médicos ou
de segurança;
Podem beneficiar de ajudas para gastos de transporte ou serviços de enfermagem ao
domicílio em estruturas estatais, locais ou religiosas
Ajuda afectiva: existem muitas alternativas para aliviar a carga emocional de quem presta
cuidados, mas a mais importante é poder desfrutar de tempos livres. Relaxar-se ou dedicar-se a
actividades recreativas ajudará a recarregar baterias. Os grupos de apoio, em que se discute
sobre as responsabilidades dos cuidados, podem ser úteis.
Ajuda da comunidade: as pessoas que prestam os cuidados procuram fazer tudo o que
podem e a ajuda que lhes chega de outros familiares e amigos é, muitas vezes, insuficiente.
Uma ajuda adicional pode vir da comunidade, como por exemplo o voluntariado. Este tipo de
ajuda proporciona ajuda e alívio nas exigências dos cuidados constantes.
Luto e viuvez
O luto é de facto um sentimento extremamente doloroso devido a uma perda irreparável
(de uma pessoa altamente significativa, como um pai/mãe, um filho ou um cônjuge), podendo
exprimir-se de muitas formas, como a depressão ou a solidão e mesmo em manifestações
exteriores (como o vestir de negro).
Após uma perda, são várias as fases pelas quais o indivíduo terá que passar. Numa fase
inicial, que coincide com os primeiros dias após a morte do ente querido, pela descrença,
sensação de irrealidade e de impotência, inquietação. Segue um tempo em que o enlutado tenta
de algum modo recuperar a pessoa perdida, pode ter a sensação de a ver, dorme mal, chora,
sente-se frustrado, pode culpabilizar-se. Numa terceira fase, predomina o desespero e a
depressão, uma vez aceite a realidade. Finalmente, volta à realidade e reorganiza a vida sem o
outro.
Porém, outros autores pensam que os estádios fazem pouco sentido, podendo as
diversas emoções estar presentes simultaneamente ou alternadamente, sendo o mais
importante o modo como essas pessoas devem ser ajudadas e superar o luto normal.
Para que o processo de luto seja mais ou menos bem ultrapassado, é necessário:
1. Que o enlutado não continue a investir na identificação com o defunto e haja um certo
desligamento dele;
2. Vá aceitando progressivamente a inevitabilidade da morte;
3. Se necessário, procurar encontrar um substituto (ex: segundos casamentos).
Existe também muito luto mal ultrapassado, onde a pessoa se recusa a aceitar a
realidade acabando por acreditar que possa haver um retorno do ausente. Normalmente, esta
anestesia emocional impossibilita a pessoa de expressar os seus sentimentos, ficando como que
adormecido em relação à dor.
No fundo, cada pessoa faz o luto (seja ele mais ou menos normal e especial) à sua
maneira e conforme as diversas circunstâncias referentes ao enlutado ou ao defunto.
Na realidade, a chave principal de resolução positiva do luto, reside na personalidade
mais ou menos equilibrada do enlutado, embora o defunto possa ser mais ou menos
significativo. Uma personalidade mais ou menos madura pode servir-se do próprio luto para
crescer psicologicamente (e espiritualmente, se tem fé). É também muito importante, o apoio das
outras pessoas significativas.
Falar de luto, particularmente na terceira idade, é também falar de viuvez, situação que
atinge mais as mulheres, uma vez que duram em média mais 6 ou 7 anos do que os homens,
havendo cerca de três viúvas para um viúvo.
A morte do cônjuge desperta de modo particular rancor, tristeza, depressão e outras
atitudes negativas, mas também pode significar uma certa libertação e alívio, quando o falecido
dava muito trabalho, não era carinhoso ou era mesmo agressivo, exigente e não agradecido com
a assistência prestada.
Relacionado com o problema da viuvez está também o drama e a solidão, embora não
necessariamente andem juntos. É necessário que o idoso (e não só) procurem estratégias de
recursos pessoais (gerir melhor o tempo, procurar ocupação e convívio, apelar à espiritualidade,
etc.), familiares e comunitários (maior contacto e mútua ajuda de outros membros da família ou
amigos) que lhe permitam acalmar ou ultrapassar a solidão. Também aqui há diferenças por
género, a percentagem de homens a viver sós é menor que as mulheres.
Viver sozinho é uma situação bastante comum no caso dos idosos e pode pressupor
inúmeros desafios. Muitas pessoas que vivem sós costumam ser pobres e quanto mais tempo
viverem em solidão maiores probabilidades há de que isto continue assim. Geralmente as
pessoas de idade que vivem sós referem sentimentos de solidão e de isolamento. Dado que
para a maioria das pessoas comer é uma actividade social, muitas pessoas idosas que vivem
sós não preparam refeições completas e equilibradas, tornando-se deste modo a desnutrição um
tenha a possibilidade de participar numa discussão sobre o que se deve esperar e como tratar
os problemas. Esse tipo de diálogo pode ajudar todas as pessoas afectadas e, amiudadamente,
consegue prevenir os conflitos. As pessoas que se mudam devem conhecer, se for possível, o
novo meio com antecedência. Pode ser proveitoso visitar o futuro bairro e conhecer os prováveis
vizinhos, bem como visitar as instalações e serviços da Instituição que irá acolher o familiar.
perdeu nos estava apenas emprestado, que o falecido já não sofre, etc. .
Hoje, ainda, muitos estilos de acompanhamento no luto têm formulações semelhantes,
existindo um conjunto muito abundante de frases feitas com que se pretende consolar quem
sofre a perda de um ente querido.
Contudo, a experiência de quem sofre na sua pele esta dor é a de que essas frases mal
conseguem consolar a pessoa, porque efectivamente não chegam ao coração.
Daí que se realce, cada vez mais, a importância de se recorrer ao valor da escuta, do
desabafo, do acolhimento dos sentimentos sem os negar e moralizar, da importância do
contacto corporal e do permitir que se drene a dor através das lágrimas.
Nunca insistiremos suficientemente na importância da atitude empática no
acompanhamento. Ela suporá que se escute interessada e atentamente para se compreender
de maneira personalizada tudo o que o outro está a viver e o que para ele isso significa, e
veicular a compreensão mediante a linguagem verbal e não verbal, para que ele sinta que foi
acolhido e compreendido no máximo das possibilidades.
A escuta atenta da pessoa de luto pode permitir que se arejem e se debatam as
emoções. Algumas são particularmente dolorosas, como a culpa e a tristeza. Todos sabem que
algumas pessoas idosas vão ao médico em tempo de luto porque precisam de ser atendidas. Na
realidade, necessitam de ser ouvidos e de poder descarregar as suas emoções que, por não
poderem fazê-lo de outro modo, se manifestam em sintomas desagradáveis a nível físico. É
claro que não basta um tratamento farmacológico, embora este seja necessário em numerosas
ocasiões.
Suicídio
Relacionado com o tema da morte está ainda o drama do suicídio. Trata-se
verdadeiramente de um problema cadente e sempre actual. Na realidade é uma praga a nível
mundial; a OMS supõe que, anualmente, ao menos um milhão de pessoas põe termo à vida;
mas o número deve ser muito mais elevado, porque há nações que não contabilizam este
fenómeno. Além disso, muitos tentam o suicídio sem êxito; se as tentativas resultassem sempre,
poderíamos ter ao menos mais dez vezes de casos mortais. Esta triste realidade põe em causa
o sentido e o valor da vida.
Podem dar-se diversas definições de suicídio. Em sentido estrito, é considerado como
uma auto-eliminação consciente, voluntária e intencional.
A aceitação da morte e do luto são processos complexos. Muitas pessoas estão sós
quando se encontram perante a morte. Aqui o agente de geriatria desempenha um papel
fundamental no acompanhamento na morte, ou no auxílio à ultrapassagem do luto.
Estas duas experiências, embora muito dolorosas, podem conduzir o indivíduo a um
estado sereno face à morte ou a um novo período da sua vida no qual se sente
psicologicamente mais forte. A morte é incontornável e as nossas sociedades devem reintegrá-
la, a fim de auxiliar os idosos a partir dignamente.
É importante que o agente de geriatria se consciencialize que numa fase em que a morte
está perto, se deve transmitir serenidade e paz interior ao moribundo. Para o auxiliar a atingir
este estado, é necessário que o cuidador esteja sereno perante a morte e suficientemente
equilibrado relativamente a esta questão.
Para que o idoso ultrapasse o estado de angústia e chegue a uma fase de aceitação, são
necessárias muitas horas de diálogo e escuta. É também de extrema relevância um trabalho de
aconselhamento e de apoio aos pais, filhos amigos, etc. .
Na maior parte dos casos, o idoso apenas reclama apoio e atenção. Qualquer que seja a
sua forma, o acompanhamento na morte faz parte do direito que toda a pessoa tem de morrer
em dignidade.