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Prática 2: Cultura de Microrganismos

Introdução

Os microrganismos, tal como outros organismos vivos, necessitam de obter


nutrientes do seu meio ambiente. Assim se queremos cultivar e manter
microrganismos vivos em laboratório, necessitamos de os colocar em meios
de cultura, contendo os nutrientes apropriados para o seu crescimento. Para
além de nutrientes é igualmente necessário que as condições de oxigénio
(presença ou ausência), pH e pressão osmótica sejam adequadas ao
crescimento desses microrganismos.

Na preparação dos meios e na manutenção das culturas de microrganismos é


importante observar as necessárias condições de assépsia, de modo a se
evitarem contaminações com outros microrganismos.

Os meios de cultura dividem-se primeiramente em meios sólidos, aqueles que


contêm agar, e meios liquidos, sem agar. Ambos os meios são preparados com
água destilada, aquecidos até que se dissolvam completamente, e
posteriormente esterilizados por autoclavagem a 121oC.

Nos meios sólidos o crescimento dos microrganismos pára por exaustão de


nutrientes, devendo realizar-se a transferência de algumas colónias desses
microrganismos para novo meio. Estes meios sólidos permitem a
individualização das colónias dos microrganismos. Os meios liquidos
permitem uma melhor difusão de metabólitos, mas não o isolamento em
colónias.

Após autoclavagem, os meios sólidos vertem-se em caixas de petri


esterilizadas, de forma a cobrir uniformemente o fundo da caixa e após
solidificação guardam-se por 24h na estufa a 37oC, para testar a sua
esterilidade, sendo em seguida guardados no frigorifico até à altura das
sementeiras. Os meios sólidos podem também ser vertidos em tubos de ensaio
de vidro. Os meios liquidos são mantidos em tubos de ensaio de vidro,
devidamente fechados para evitar contaminações.

Quanto ao grau nutritivo dos meios de cultura consideram-se:

Meios nutritivos gerais: contendo elementos minerais e metabólitos


orgânicos. Ex. Agar Nutriente, Caldo Nutriente

Meios enriquecidos: contendo produtos biológicos (sangue, soro), vitaminas.


Ex: Agar Sangue, meio geral não selectivo.
Meios complexos: contêm todos os ingredientes necessários para o
crescimento de um determinado microrganismo, mas não se conhecem as
quantidades exactas de todos os componentes.

Meios definidos: aqueles em que se sabe a concentração exacta dos seus


componentes. A composição destes meios varia consoante os requisitos dos
organismos a cultivar.

Classificam-se ainda os meios em:

Selectivos, meios para selecção de determinados grupos de bactérias, os quais


contêm substâncias que inibem o crescimento de alguns grupos de bactérias.
Ex: Agar Pseudomonas, Tiossulfato-citrato-bilis-sacarose (TCBS) para Vibrio,
Agar MacConkey para coliformes.

Diferenciais, para identificação de microrganismos, meios sólidos com a


composição quimica adequada para evidenciar uma caracteristica bioquimica
(meios sólidos). Ex: MacConkey Agar pª isolamento de coliformes, patogénios
intestinais na água, produtos derivados do leite, e espécimens biológicos.
Neste agar após 24h a 35oC as colónias de Escherichia coli são vermelhas e
mucóides, enquanto que as colónias de Salmonella e Shigella são brancas.

Indicadores, meios liquidos, com a mesma função dos diferenciais, servem


para evidenciar uma característica bioquímica, mas não para separar as
colónias positivas e as negativas. O pH do meio é ajustado antes de
autoclavar.

A cultura de bactérias é iniciada num meio estéril por transferência de inóculo


para o meio estéril através de uma ansa. Essa ansa é esterilizada à chama
antes e depois desta operação.

Após a inoculação de um meio com bactérias, é necessário incubar o meio


num ambiente adequado aos requisitos de crescimento dos microrganismos.
O crescimento de bactérias num meio liquido identifica-se por turvação do
meio, formação de uma pelicula na sua superficie, ou aparecimento de
sedimento, enquanto que num meio sólido por aparecimento de colónias. Os
meios liquidos são designados de caldos (broth).

Os meios sólidos podem ainda ser vertidos em tubos de ensaio de vidro, os


quais são inclinados, de modo a que, durante a solidificação do meio, se forme
um slope ou slant (Fig.1). Este slant oferece uma superficie adequada ao
cultivo de microrganismos aeróbios e anaeróbios facultativos.

Para inoculação de microrganismos nestes slants, utiliza-se uma ansa recta e o


tipo de sementeira chama-se por picada (agar stab). A sementeira por picada
faz-se também em meios sólidos mantidos em tubos de vidro sem slant. Este
tipo de inoculação utiliza-se para a manutenção de cultura stocks, em meios
designados de conservação (3g de Tryptose Soy Broth, TSB; 3g de BactoAgar
em 100 ml de água destilada, acrescentar 1.5g de NaCl para Vibrio). Estas
culturas stock são mantidas em laboratório, podendo ser utilizadas para
experiências.

As culturas em meio sólido são convenientes para isolamento de colónias de


bactérias. As colónias de diferentes espécies de bactérias diferem no tamanho,
forma, textura e cor. A cultura de bactérias em meio sólido faz-se por
sementeira por estrias utilizando uma ansa (streak) (esgotamento), por
incorporação (pour plate) ou por espalhamento utilizando uma vareta de
vidro (spread plate).

No tipo de cultura por estrias, utilizam-se placas de petri com meio sólido e
faz-se a sementeira com uma ansa esterilizada arrastando a ansa levemente
sobre o meio (Fig. 2). O objectivo é a obtenção de colónias isoladas para se
poderem posteriormente identificar. Após a incubação e havendo crescimento
devemos observar a forma da colónia, os seus bordos, a cor, se houve
hemólise (caso de cultura em meios com sangue).

Na técnica de pour plate, a inoculação do agar é feita antes da sua


solidificação (no entanto após retirada do meio do autoclave é necessário
deixá-lo arrefecer até 45oC). Nesta técnica o meio de cultura arrefecido mas
ainda liquido é misturado com o inóculo de bactérias, posteriormente vertido
em caixas de petri e incubado. Assim as colónias podem desenvolver-se por
todo o meio (Fig. 3)

Material e Métodos

-Balões de fundo chato e pescoço curto


-Tubos de ensaio de vidro
-Algodão cardado, gaze, papel de embrulho e fio
-Caixas petri esterilizadas
-Balança
-Placa de aquecimento
-Goblets e provetas
-Agar nutriente e caldo nutriente desidratados
-Água destilada.

Para a preparação dos meios Agar e Caldo Nutriente proceder do seguinte


modo:

1- Pesar as quantidades dos meios desidratados de acordo com as


instruções do seu orientador. Diluir o meio desidratado em água
destilada, mexer bem até dissolver todo o pó.
2- Cozinhar os meios tendo o cuidado de agitar os balões de quando em
quando, de modo a que permanecem com aspecto homogéneo e não se
formem grânulos.
3- Após o cozimento rolhar os balões de Agar Nutriente com rolha
confeccionada com algodão cardado e gaze. Envolver a rolha após
colocada com papel de embrulho e amarrar bem com o fio de
embrulho.
4- Dispender o Caldo Nutriente por tubos de ensaio até metade do tubo e
igualmente rolhar os tubos com algodão cardado.
5- Leve os balões de Agar Nutriente e os tubos do Caldo Nutriente a
autoclavar, por 15 minutos à temperatura de 1210C.
6- Após a esterilização retire os meios da autoclave. Deixe arrefecer o
Agar Nutriente até cerca de 450C. Em seguida dispense o meio em
caixas de petri esterilizadas, cerca de 20ml em cada uma delas. O
procedimento será o seguinte: abra a tampa ligeiramente, verta a
quantidade necessária de meio, feche a tampa e movimente a caixa de
modo a espalhar o meio homogéneamente por todo o seu fundo. Deixe
o meio solidificar .
7- Inverta as caixas, identifique-as com data e tipo de meio e incube por
48h a 370C para a prova de esterilidade. Incube também os tubos de
Caldo Nutriente.
8- Guarde todos os meios após a prova de esterilidade no frigorífico, até a
próxima aula prática.
9- Trabalhe sempre junto da chama da lamparina ou Bunsen

Na aula seguinte poderá analisar os meios e verificar se efectivamente estão


estéreis. Um meio estéril será aquele que se apresenta transparente sem
qualquer indício de desenvolvimento de colónias.

Bibliografia de apoio:

- Black, J G (2002). Microbiology, principles and explorations. John Wiley &


Sons, New York.
- Seeley, H.W. Jr., VanDemark, P.J., Lee, J.J. (1991). Microbes in action. W.H.
Freeman & Company, New York: chapter 8 & 9.
- DIFCO Manual: pp. 4-16
Anexos:

Figura 1 & 2: (1) “Slope” ou “Slant de Agar”; (2) Sementeira por esgotamento
(Streak Plate) (a). Retirado de Black, 2002.

Figura 3: Sementeira por incorporação (Pour-Plate) e por espalhamento


(Spread-Plate). Retirado de Black, 2002.

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