Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2020
Copyright @2020 Fernando Augusto De Vita Borges de Sales
Autor de várias obras na área jurídica, incluindo os livros CPC comentado artigo por
artigo (na 3ª edição), Manual de direito processual civil (na 2ª edição) e Código de
Processo Civil anotado e interpretado conforme a doutrina e a jurisprudência, pela
editora Rideel; Desconsideração da personalidade jurídica e Juizados especiais cíveis,
pela editora JHMizuno; Direito do trabalho de A a Z, pela Editora Saraiva; Súmulas do
TST comentadas, pela Editora LTr; Direito empresarial contemporâneo e Direito
ambiental empresarial, ambos pela Editora Rumo Legal.
Contatos:
email: professorfernandosales2@gmail.com
instagram: Fernando_augusto_sales.
A NOVA LEI DA FRANQUIA EMPRESARIAL:
INTRODUÇÃO
Por conta disso, propusemo-nos, neste pequeno ensaio, a analisar a referida Lei
13.966/2019, manifestando nossas primeiras impressões sobre ela.
Nossa pretensão, aqui, não é de esgotar o tema, mas apenas contribuir, inicialmente,
com o debate e o estudo da nova lei.
Ela surgiu nos EUA, após a 2ª Grande Guerra, como uma forma de incrementar os
negócios empresariais, que estavam enfrentando uma grave crise econômica. Assim,
alguns empresários que tinham um negócio economicamente interessante e estável
passaram a oferecer a investidores uma parceria para expansão dos negócios. Por
meio dessa parceria, o empresário licenciava sua marca, know-how e, eventualmente,
forneciam produtos, mediante o pagamento, por parte do outro empresário, de
royalties. Nascia, assim, a franchising.
Como pudemos definir em obra anterior, a franquia empresarial é o sistema pelo qual
um empresário – o franqueador – cede a outro empresário – o franqueado – o direito
de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-
exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de
tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional,
mediante remuneração direta ou indireta.
A Lei 13.966/2019, tal como o fazia a lei revogada, define o conceito de franquia,
positivando-o, no art. 1º.
Assim, a partir de agora, a franquia passa a ser definida legalmente como sendo um
sistema pelo qual um franqueador autoriza por meio de contrato um franqueado a
usar marcas e outros objetos de propriedade intelectual, sempre associados ao
direito de produção ou distribuição exclusiva ou não exclusiva de produtos ou
serviços e também ao direito de uso de métodos e sistemas de implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvido ou detido pelo
franqueador, mediante remuneração direta ou indireta.
A inovação é salutar para espancar de vez qualquer dúvida que pudesse ser suscitada
a respeito, embora a própria jurisprudência trabalhista já caminhava nesse sentido.
Em artigo publicado no ano de 2012, já anotávamos a inexistência do vínculo
empregatício em questão:
São, portanto, duas empresas distintas e autônomas entre si, cada qual com sua
personalidade jurídica própria, ligadas apenas por um contrato mercantil. Não há
entre elas nenhum tipo de envolvimento, seja por sociedade, seja por coligação ou
participação.
[...]
Não há, todavia, o fornecimento de mão de obra, que é contratada diretamente pelo
franqueado.
Em tal relação temos duas empresas distintas, cada qual com sua autonomia e
personalidade jurídica própria, e a única relação que as une é o contrato de franquia.
E assim, como define José Cretella Neto, “do ponto de vista contratual, considera-se
o franqueado como empresário independente, proprietário de um fundo de
comércio...”.
O contrato de franquia caracteriza-se, como bem disse Carlos Alberto Bittar, pela
licença outorgada a empresa comercial autônoma, para colocação de produtos no
mercado com o uso da marca do titular, que lhe presta assistência técnica e comercial,
tudo mediante percentual incidente sobre o respectivo faturamento (grifos não do
original).
Não há, pois, subordinação jurídica entre tais empresas. O contrato de franquia não
produz nenhum tipo de controle jurídico do franqueador sobre o franqueado e não
gera coligação ou participação de nenhuma forma entre as empresas contratantes.
III.2. E a indenização?
O texto da nova lei da franquia suprimiu a expressão “mais perdas e danos” constante
da lei anterior revogada. Isso pode dar a falsa impressão de que o franqueado, ao
pleitear a anulação do contrato pela falta de entrega prévia da Circular de Oferta,
somente teria direito à devolução das quantias pagas, não lhe sendo lícito postular
por eventual prejuízo financeiro. Mas não nos parece que essa é a melhor
interpretação.
Assim é que, por força da lei, o contrato de franquia deve ser celebrado por escrito
(art. 7º, I e II). Não se admite, para tanto, o contrato verbal.
Para valer contra terceiros, o contrato de franquia deve ser registrado no INPI (art. 8º
+ Lei 9.279/1996 [LPI], art. 211).
Item realmente novo e relevante na nova lei da franquia diz respeito aos contratos de
locação. Como se sabe, a maioria dos empreendimentos no Brasil – incluindo as
franquias – aviam-se em imóveis alugados de terceiros.
No que diz respeito aos contratos de franquia, duas situações podem ocorrer: a) o
ponto é alugado diretamente pelo franqueado junto ao proprietário do imóvel, ou, b)
o ponto é alugado pelo franqueador e sublocado ao franqueado.
a) qualquer uma das partes contratantes terá legitimidade para propor a ação
renovatória (art. 3º, caput): a ação renovatória, prevista na Lei 8.245/1991 [LI], art,
51 e seguintes, é a ação próprio para o inquilino em locação comercial obter a
renovação do contrato, por igual período e condições, quando não for possível a
renovação amigável, como forma de proteção do ponto comercial contra a retomada
imotivada ou qualquer outro tipo de abuso por parte de locador. A legitimidade para
propor a ação renovatória, nos casos de sublocação, sempre foi motivo de intenso
questionamento. Para acabar de vez com isso, a lei em comento estabeleceu a
legitimidade ativa tanto do franqueador-locatário quanto do franqueado-sublocatário
para a propositura da ação.
CONCLUSÃO.
Numa análise preliminar, nossas impressões sobre a nova lei da franquia não foram
das melhores. Pelo que pudemos observar, essa lei apenas repete a lei anterior,
acrescentando alguns poucos itens. Para isso, não era necessário fazer uma lei
inteiramente nova, bastando fazer uma lei para acrescentar tais itens à Lei
8.955/1994.
É uma pena, pois perdeu-se uma boa oportunidade de dar à franquia o tratamento
legislativo que ela merecia, especialmente em estabelecer uma maior proteção ao
franqueado.
BIBLIOGRAFIA
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei: seguinte lei:
Art. 1º Esta Lei disciplina o sistema de franquia Art. 1º Os contratos de franquia empresarial são
empresarial, pelo qual um franqueador autoriza disciplinados por esta lei.
por meio de contrato um franqueado a usar
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo
marcas e outros objetos de propriedade
qual um franqueador cede ao franqueado o
intelectual, sempre associados ao direito de
direito de uso de marca ou patente, associado
produção ou distribuição exclusiva ou não
ao direito de distribuição exclusiva ou semi-
exclusiva de produtos ou serviços e também ao
exclusiva de produtos ou serviços e,
direito de uso de métodos e sistemas de
eventualmente, também ao direito de uso de
implantação e administração de negócio ou
tecnologia de implantação e administração de
sistema operacional desenvolvido ou detido
negócio ou sistema operacional desenvolvidos
pelo franqueador, mediante remuneração
ou detidos pelo franqueador, mediante
direta ou indireta, sem caracterizar relação de
remuneração direta ou indireta, sem que, no
consumo ou vínculo empregatício em relação
entanto, fique caracterizado vínculo
ao franqueado ou a seus empregados, ainda
empregatício.
que durante o período de treinamento.
§ 1º Para os fins da autorização referida
no caput, o franqueador deve ser titular ou
requerente de direitos sobre as marcas e outros
objetos de propriedade intelectual negociados
no âmbito do contrato de franquia, ou estar
expressamente autorizado pelo titular.
§ 2º A franquia pode ser adotada por empresa
privada, empresa estatal ou entidade sem fins
lucrativos, independentemente do segmento
em que desenvolva as atividades.
Art. 4º Aplica-se ao franqueador que omitir Art. 7º A sanção prevista no parágrafo único do
informações exigidas por lei ou veicular art. 4º desta lei aplica-se, também, ao
informações falsas na Circular de Oferta de franqueador que veicular informações falsas na
Franquia a sanção prevista no § 2º do art. 2º sua circular de oferta de franquia, sem prejuízo
das sanções penais cabíveis.
desta Lei, sem prejuízo das sanções penais
cabíveis.
Art. 5º Para os fins desta Lei, as disposições Art. 9º Para os fins desta lei, o termo
referentes ao franqueador ou ao franqueado franqueador, quando utilizado em qualquer de
aplicam-se, no que couber, ao subfranqueador seus dispositivos, serve também para designar
e ao subfranqueado, respectivamente. o subfranqueador, da mesma forma que as
disposições que se refiram ao franqueado
aplicam-se ao subfranqueado.
Art. 7º Os contratos de franquia obedecerão às Art. 6º O contrato de franquia deve ser sempre
seguintes condições: escrito e assinado na presença de 2 (duas)
testemunhas e terá validade
I - os que produzirem efeitos exclusivamente no
independentemente de ser levado a registro
território nacional serão escritos em língua
perante cartório ou órgão público.
portuguesa e regidos pela legislação brasileira;
II - os contratos de franquia internacional serão
escritos originalmente em língua portuguesa ou
terão tradução certificada para a língua
portuguesa custeada pelo franqueador, e os
contratantes poderão optar, no contrato, pelo
foro de um de seus países de domicílio.
§ 1º As partes poderão eleger juízo arbitral para
solução de controvérsias relacionadas ao
contrato de franquia.
§ 2º Para os fins desta Lei, entende-se como
contrato internacional de franquia aquele que,
pelos atos concernentes à sua conclusão ou
execução, à situação das partes quanto a
nacionalidade ou domicílio, ou à localização de
seu objeto, tem liames com mais de um sistema
jurídico.
§ 3º Caso expresso o foro de opção no contrato
internacional de franquia, as partes deverão
constituir e manter representante legal ou
procurador devidamente qualificado e
domiciliado no país do foro definido, com
poderes para representá-las administrativa e
judicialmente, inclusive para receber citações.
Art. 8º A aplicação desta Lei observará o Art. 8º O disposto nesta lei aplica-se aos
disposto na legislação de propriedade sistemas de franquia instalados e operados no
intelectual vigente no País. território nacional.
Art. 9º Revoga-se a Lei nº 8.955, de 15 de Art. 11. Revogam-se as disposições em
dezembro de 1994 (Lei de Franquia). contrário.
Art. 10. Esta Lei entra em vigor após decorridos Art. 10. Esta lei entra em vigor 60 (sessenta) dias
90 (noventa) dias de sua publicação oficial. após sua publicação.