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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação a Distância

O ambiente as mudanças globais como um paradigma da actualidade

Nome de Estudante: Judite de Jesus Sebastião Nicurrupo

Turma A, 2º grupo

Curso: Ensino de Geografia


Disciplina: Estudo Ambiental II
Ano: 4º
Código da estudante: 708181002
Docente: José Cavaro

Nampula, Julho de 2021

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Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação a Distância

O ambiente as mudanças globais como um paradigma da actualidade

Nome de Estudante: Judite de Jesus Sebastião Nicurrupo

Turma A, 2º grupo

Curso: Ensino de Geografia


Disciplina: Estudo Ambiental II
Ano: 4º
Código da estudante: 708181002
Docente: José Cavaro

Nampula, Julho de 2021

1
Folha de feedback

Categoria Indicadores Padrões Pontuação Nota Subtotal


máxima do
tutor
Estrutura Capa 0,5
Índice 0,5
Introdução 0,5

Discussão 0,5
Conclusão 0,5
Bibliografia 0,5
Conteúdo Introdução Contextualização (indicação 1,0
clara do problema)
Descrição dos objectivos 1,0
Metodologia adequada ao 1,0
objecto do trabalho
Analise e Articulação e domínio do 2,0
discussão discurso académico
(expressão escrita cuidada,
coerência, coesão textual)
Revisão bibliográfica 2,0
nacional e internacional
relevante na área de estudo
Exploração dos dados 2,0
Conclusão Contributo teórico e prático 2,0
Aspectos Formatarão Paginação, tipo e tamanho de 1,0
gerais letra
Referência Normas APA 6ª Rigor e coerência das 4,0
Bibliográfica educação em citações, referências
citações bibliográficas
bibliográficas

2
Índice

Folha de feedback..............................................................................................................2
Introdução..........................................................................................................................4
1. Ambiente e as mudanças globais na zona costeira peculiaridades e gestão..................5
1.1. Ambientes costeira importância e vulnerabilidades...................................................8
2. Mudanças climáticas globais e os ambientes costeiros.................................................9
2.2. Classificação dos principais impactos dos efeitos das mudanças climáticas globais
sobre as zonas costeiras...................................................................................................11
3. Impactos no meio físico...............................................................................................11
4. Impactos no meio biótico............................................................................................14
5. Moçambique................................................................................................................17
Conclusão........................................................................................................................18
Referências bibliográficas...............................................................................................19

3
Introdução

Nos últimos anos, evidências de mudanças de clima em âmbito mundial vêm


despertando o interesse crescente da comunidade académica e do público em geral.

Desde então, em que pese determinadas vozes dissonantes, tem-se o entendimento de


que na Era Moderna, com seu modelo urbano industrial, houve um aumento
significativo dos gases do efeito estufa na atmosfera terrestre, por conta das actividades
humanas.

Sabe-se que o efeito estufa é um fenómeno natural que ocorre na baixa atmosfera,
causado pela retenção de radiação das ondas curtas, sem o qual a temperatura da Terra
seria 33ºC menor que a actual, tornando-o essencial para o desenvolvimento da vida.
O presente trabalho aborda sobre o ambiente e as mudanças globais como um
paradigma da actualidade, com seguintes objectivos:

 Conceituar o meio,
 Identificar um meio com problemas ambientais,
 Explicar o meio ambiente sobre as mudanças globais,
 Traçar uma proposta de classificação dos principais impactos já documentados
ou especulados dos efeitos das mudanças climáticas globais na Zona Costeira, e
situar o caso do nosso País (Moçambique) dentro desta classificação.

Estrutura organizativa do trabalho:

 Capa,
 Contra capa,
 Folha de feedback
 Índice,
 Introdução,
 Desenvolvimento,
 Conclusão,
 Resultados discussões
 Referência bibliográfica

4
1. Ambiente e as mudanças globais na zona costeira peculiaridades e gestão

A Zona Costeira é considerada como sendo um ambiente extremamente complexo,


diversificado, de transição ecológica, desempenhando importante função de ligação e de
trocas genéticas entre os ecossistemas marinhos e terrestres.

A preocupação com a integridade e equilíbrio ambiental da Zona Costeira decorre dos


factores de pressão antrópica que a mesma está sujeita, pois se sabe que, historicamente,
as regiões costeiras constituem-se em áreas de interesses múltiplos, os quais geram
sobreposição de necessidades e conflitos (DIEGUES, 1987). Tais áreas são
comummente utilizadas para o assentamento de comunidades de pequenos produtores
que vivem da exploração de seus recursos naturais.

Destaca-se igualmente o uso para a implantação de centros industriais e estruturas


portuárias, bem como para o desenvolvimento de actividades de avicultura, turismo e
lazer, gerando, consequentemente, expansão urbana generalizada. São também
utilizadas para a exploração de recursos minerais. Esta multiplicidade de usos e
interesses vem comprometendo progressivamente as regiões litorais, uma vez que
constituem-se ainda, em ecossistemas extremamente frágeis (DIEHL, 1997). Ainda, a
população mundial (OLSEN, 1985) e a população Moçambicana (POLETTE et al.,
1995) encontra-se assentada nas regiões costeiras e litorais, facto que vem preocupando
as instituições ambientalistas, uma vez que a forma desta ocupação não vem
obedecendo a critérios responsáveis pelo ordenamento do uso do solo.

Conforme preconiza ainda a AGENDA 21 (1996), a população mundial que vive nestas
regiões poderá elevar-se, facto que amplifica ainda mais as preocupações  com relação a
ocupação acelerada destas áreas.

A Zona Costeira é, assim, um espaço geográfico que se destaca pelos seus recursos
naturais e diversidade ambiental, bem como pelo seu grande potencial para o
desenvolvimento de actividades económicas múltiplas.

Devido a esta configuração, as áreas costeiras são o cenário de uma série de conflitos de
uso, requerendo estratégias específicas de gestão e adequação dos instrumentos
jurídicos de Direito Ambiental às suas peculiaridades. Sua importância foi reconhecida

5
constitucionalmente, ao ser considerada como Património Nacional pela Constituição da
República de Moçambique 1998, em seu art. 125, 4º capítulo. A Lei define Zona
Costeira como o espaço geográfico de interacção do ar, do mar e da terra, incluindo seus
recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão
definidas pelo plano. Destaca-se, ainda, o conceito estabelecido pela Resolução 01, da
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar.

Zona Costeira a área de abrangência dos efeitos naturais resultantes das interacções
terra-mar-ar, leva em conta a paisagem físico-ambiental, em função dos acidentes
topográficos situados ao longo do litoral, como ilhas, estuários e baías, comporta em sua
integridade os processos e interacções características das unidades ecossistemas litorais
e inclui as actividades socioeconómicas que aí se estabelecem.

É por estas características que a Zona Costeira pode ser considerada como um espaço
paradoxal: se por um lado possui grande relevância ecológica, apresentando-se como
uma área ambientalmente frágil, a exigir estratégias de gestão e protecção, de outro
apresenta grande potencial económico, abrigando parcela significativa da população e
uma variedade de actividades económicas que podem gerar situação de risco quanto à
integridade desta região. Neste sentido, Antunes (2007) destaca a importância ecológica
da Zona Costeira pela variedade de ecossistemas que a compõem, bem como a pressão
exercida sobre os mesmos, requerendo protecção especial:

 A costa Moçambicana, por força de expressa disposição constitucional (art. 125,


4º capitulo), é um espaço territorial submetido a regime especial de protecção.
Justifica-se esta determinação constitucional, pois desde os primórdios da
colonização portuguesa tem sido muito intensa a pressão exercida sobre os
ecossistemas costeiros. Relembre-se que a maior parte da população
Moçambicana está assentada ao longo do litoral; das onze províncias que são
banhadas pelo oceano indico, seis possuem suas capitais no litoral.

Também LEAL (2001) informa que estas zonas exibem um significativo conjunto de
riquezas, na forma de recursos renováveis, dentro de suas várias interfaces:

 Atmosfera,
 Continente,
 Oceano,
6
 Componentes bióticos, na forma de ecossistemas variados, sendo historicamente
geradoras de conflitos, por constituírem-se em áreas de interesses múltiplos, os
quais, muitas vezes, geram sobreposição de usos.

Na mesma linha de entendimento, NEVES (2001) faz menção à complexidade das


Zonas Costeiras, pela diversidade ambiental, potencial económico, concentração
populacional e consequentes problemas ambientais:

 As zonas costeiras oferecem inúmeros benefícios aos seus habitantes citando-se


a fonte de alimentos, lazer, renda e entretenimento, que acabam reflectindo
numa realidade prejudicial: o crescimento dos problemas pelas actividades
criadas e sua ocupação descriminada e desordenada.

Estas regiões apresentam características únicas e ímpares como: a grande concentração


populacional e demográfica, o surgimento de problemas ambientais e uma série de
divergências sociais, (NEVES, 2001):

 No entanto, a Zona Costeira abriga um mosaico de ecossistemas de alta


relevância, cuja diversidade é marca pela transição de ambientes terrestres e
marinhos, com interacções que lhe conferem um carácter de fragilidade e que
requerem, por isso, atenção especial do poder público, conforme demonstra sua
inserção na Constituição brasileira como área de património nacional;
 A maior parte da população mundial vive em Zonas Costeiras, e há uma
tendência permanente ao aumento da concentração demográfica nessas regiões.
A saúde, o bem-estar e, em alguns casos, a própria sobrevivência das populações
costeiras depende da saúde e das condições dos sistemas costeiros, incluídas
áreas húmidas e regiões estuarinas, assim como as correspondentes bacias de
recepção e drenagem e as águas interiores próximas à costa, bem como o próprio
sistema marinho.

Neste contexto, a sustentabilidade das actividades humanas nas Zonas Costeiras


depende de meio marinho saudável e vice-versa; e a actividade de gerenciamento deste
amplo universo de trabalho implica, fundamentalmente, a construção de um modelo
cooperativo entre os diversos níveis e sectores do governo, e deste com a sociedade.

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1.1. Ambientes costeira importância e vulnerabilidades

A Zona Costeira é responsável por uma ampla gama de funções ecológicas, tais como a
protecção da costa frente às inundações, à intrusão salina nas regiões estuarinas e,
também, aos processos erosivos da orla; protecção contra aos efeitos dos eventos de
máxima energia (tempestades); produção e reciclagem de nutrientes, filtro de
substâncias poluidoras; e à provisão directa ou indirecta de habitats para a grande
maioria das espécies marinhas e mixoalinas.

Em estudo realizado pelo MMA em 2018, foram identificadas e especializadas áreas


prioritárias para a conservação da biodiversidade nas zonas Costeira e Marinha. Essas
áreas foram consideradas “insuficientemente desconhecidas” ou quando classificadas
em outras categorias, tiveram o indicativo de acção prioritária para “inventário
biológico”. A acção prioritária de “recuperação”, excluindo-se aquelas indicadas como
Unidades de Conservação, que compreendem regiões metropolitanas, lagoas e baías.
Ressalte-se ainda, que o litoral, tal como outras áreas dotadas de paisagens ecológicas,
podem ser considerados sempre como uma herança de processos anteriores remodelados
pela dinâmica costeira hoje prevalecente. Dessa forma, pode-se afiançar que os litorais
constituem-se em zonas de contactos tríplices:

 Terra,
 Mar
 Dinâmica climática, além dos notáveis mostruários de ecossistemas que se
assentam e diferenciam no mosaico terra/água existente no espaço total da costa,
(AB’ SABER, 2000).  

A Zona Costeira Moçambicana é composta por significativa diversidade de ambientes,


muitos deles extremamente frágeis, com acentuado processo de degradação gerado pela
crescente ocupação desse espaço, como por exemplo, os recifes e corais, praias,
mangais e marismas, campos de dunas e falésias, baías, estuários, planícies intermarés,
entre outros. Dentre os ecossistemas presentes na zona costeira e marinha, os mangais
apresentam uma expressiva ocorrência.

As planícies costeiras, formadas pela justaposição de cordões litorais, também são uma
das feições marcantes do litoral Moçambicano, especialmente da sua porção sudeste e

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sul, em cujos ambientes podem ser encontradas praias, dunas frontais, cordões litorais e
zonas de interconexões, (MMA, 2007).

2. Mudanças climáticas globais e os ambientes costeiros

Diversos autores têm discutido sobre os actuais efeitos das mudanças climáticas globais,
especialmente sobre o aquecimento global em ambientes costeiros e sobre os possíveis
impactos para estes ambientes. O aumento da temperatura do globo traz consequências
directas e indirectas para tais ambientes. Parece que existe um consenso entre os autores
(OLIVEIRA, s/d; MARTINS et al., 2004;  McLNNES, 2006; KENNEDY et al., 2006)
sobre o fato de que tal alteração tem como principal efeito a elevação do nível do mar
tanto pelo derretimento das calotas polares com pela expansão da massa de água
oceânica. Tal fenómeno, por sua vez, implica em uma série de outras consequências
negativas para zona costeira. Sabe-se que muitos efeitos directos e indirectos são
apontados, embora as incertezas sejam muitas.

Para Shivastava & Levacher (2004), por toda a escala do tempo geológico, mudanças no
clima têm afetado o ambiente costeiro e irá continuar a fazê-lo no futuro. De acordo
com OLIVEIRA (s/d), as evidências demonstram que o aquecimento global tem
provocado, com grande velocidade, o desgelo das calotas polares. A avaliação de
colecções sequenciadas de imagens de satélite comprova tal fenómeno: as geleiras do
pólo sul e do pólo norte estão derretendo e diminuindo de tamanho, provocando uma
gradual elevação do nível do mar.

Ainda segundo Oliveira (s/d), avalia-se que o acelerado derretimento dessas geleiras
provoca, além da elevação do nível do mar, grandes mudanças na temperatura dos
oceanos, modificando completamente o comportamento do clima e intensificando a
ocorrência de eventos extremos, como são chamadas as mudanças repentinas do tempo
que provocam vendavais, furacões, ressacas, enchentes ou secas causticantes e que,
muitas vezes, apresentam efeitos catastróficos nas áreas povoadas e utilizadas para o
desenvolvimento de actividades económicas, como a agricultura, pecuária.

Para MartiNS et al. (2004), processos naturais complexos afectam continuamente a


linha da costa do ponto de vista físico, químico e biológico que variam de escalas
microscópicas (grão de areia) a globais, como seria o caso da mudança no nível do mar.
Esse autor conclui que em relação a este tipo de processo, usualmente, o impacto de

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mudanças seculares no clima afecto os ambientes costeiros, através da elevação do nível
do mar em escala decimétrica, mudanças de temperatura na superfície oceânica,
influência das tempestades nas áreas de tempestades tropicais e subtropicais, bem como
a frequência e a magnitude das tempestades e as variações de precipitação com
influência no fluxo de sedimento para as zonas costeiras. Ainda segundo MARTINS et
al. (2004), outros efeitos podem incluir também, mudanças nas correntes costeiras e
oceânicas e no regime de ondas.

Mudança climática é um acontecimento antigo e tem impactos amplos nas zonas


costeiras com custos económicos substanciais para as pessoas e danos para os
ecossistemas.

Kennedy et al., (2002) afirmam que em termos de mudança climática global, factores
ambientais que são esperados para ter os maiores efeitos directos nos sistemas
estuarinos e marinhos são a mudança na temperatura, elevação do nível do mar, a
disponibilidade da água de precipitação e de escoamento, padrões de vento e
tempestades.

É amplamente aceito que os riscos provenientes da mudança climática são reais, pois
elevação do nível médio do mar implica em um risco particular para as comunidades
costeiras pelo aumento dos processos erosivos da costa, ocorrência de inundações na
zona costeira, e deslizamentos de falésias. Adicionalmente, Kennedy et al. (2002)
explicam que a precipitação afecta o escoamento nos estuários e, além disso, influências
a circulação estuarina, concentração de nutrientes e contaminantes, estratificação e
deficit de oxigénio e o recrutamento de algumas espécies. A velocidade dos ventos e sua
direcção influenciam a circulação costeira, incluindo correntes que carregam larvas de
peixes e de invertebrados das águas costeiras para os estuários. Tempestades e seus
ventos associados podem ter maiores efeitos negativos nos ecossistemas costeiros e nas
estruturas da linha de praia.

Para Kennedy et al. (2002), sistemas costeiros e áreas adjacentes estão correntemente


sobre severa pressão exploratória, a qual pode ameaçar não só os pescadores, mas a
própria existência de algumas espécies de interesse comercial. Por tais espécies serem
parte da ampla teia alimentar de outras relações biológicas, sua depleção ou perda pode
ter consequências negativas importantes para os ecossistemas que elas habitam e para

10
espécies que delas se alimentam. KENNEDY et al. (2002) explicam que se a mudança
climática adiciona stress para os sistemas costeiros e ao largo, isso pode ter maiores
efeitos negativos para alguns componentes do ecossistema. Os autores fazem uma
analogia com a situação enfrentada por um humano o qual o sistema imune está
comprometido e que pode sucumbir a uma doença que não poderia ameaçar uma pessoa
saudável.

2.2. Classificação dos principais impactos dos efeitos das mudanças climáticas
globais sobre as zonas costeiras

No entanto, diante da bibliografia revisada no presente estudo, considerou-se que os


principais efeitos directos, ou pelo menos aqueles que são mais discutidos na literatura,
se referem à elevação do nível médio do mar, aumento da temperatura nos oceanos e
alteração na frequência e intensidade de eventos extremos. Sem desconsiderar a
importância e magnitude de outros efeitos, optou-se por aprofundar a discussão dos
possíveis impactos destes três grandes efeitos decorrentes das mudanças climáticas
globais na zona costeira nos itens abaixo.

3. Impactos no meio físico

Kennedy et al. (2002), informam que o aquecimento global irá conduzir a expansão


termal da água e derretimento da calotas glacial e polar, com o subsequente elevação do
nível do mar. Para estes autores, este fenómeno, de maneira geral,   irá inundar terras
costeiras e erodir solos susceptíveis.

No entendimento de Muehe (2001), para a definição do limite em função de uma


elevação do nível do mar, poderá ser adoptado o cenário mais pessimista elaborado
pelo Intergovernmental Panel of Climate Change (IPCC), o de uma elevação de 1 m, até
o ano 2.100, devendo a faixa de absorção desse impacto ser estabelecida no sentido de
evitar a perda de propriedades em função desta elevação. Mesmo que esse cenário não
venha a se concretizar até aquela data, conforme sugerem as projecções mais recentes, a
adopção de uma elevação de 1 m ainda é bastante razoável, considerando o elevado
grau de incerteza relativo às tendências climáticas de longo prazo. Entende ainda o autor
que o ajustamento de uma linha de costa, a uma elevação do nível do mar, depende das
características geomorfológicas e petrográficas da mesma, podendo os efeitos variar

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entre nenhum (costa rochoso), erosão (praias arenosas, falésias sedimentares) e
inundação (áreas baixas frequentemente ocupadas por mangais ou marismas).

Belém (2007) explica que a principal causa das variações no nível do mar em todo
planeta é o efeito da “anomalia termostérica”. O nome anomalia vem do facto da água
se expandir ou se contrair dependendo do seu aquecimento ou resfriamento,
respectivamente. Dessa forma, segundo Belém (2007), o aquecimento da água do mar
provocada por alterações climáticas, deve necessariamente provocar uma expansão e
consequente aumento do nível do mar. De acordo com esse autor o aquecimento do
sistema atmosfera-oceano é um fato amplamente fundamentado no meio científico e,
consequentemente, o aumento do nível do mar, deve ser encarado como um fato.
Shrivastava & Levacher (2004) afirmam que o aumento projectado na elevação do nível
do mar devido a expansão térmica da água com o aumento projectado na temperatura
global, é importante para gestores e fiscalizadores costeiros para entender essas
mudanças, no sentido de integrar essas alterações em planos de desenvolvimento futuros
para regiões costeiras.

Shrivastava & Levacher (2004) relatam que, baseado em informações de indicadores de


maré, a taxa média global de elevação do nível do mar durante o século XX está em
uma taxa entre 10 a 20 mm/ ano e a média de elevação do nível do mar no século XX é
maior que no século XIX. Estes autores afirmam que muitos estudos de vários períodos
durante os últimos 100 anos estão em concordância geral de que a média do nível do
mar está aumentando. As estimativas variam entre 0.5 a 3.0 mm/ano. A maioria dos
estudos tem mostrado estimativas similares.

Corroborando, Belém (2007) afirma que embora os cientistas não estejam totalmente
certos sobre a taxa de elevação ou de sua aceleração, o fato de estar subindo é
inquestionável, ao menos em nível global. Este autor também afirma que, levando em
consideração a actual dinâmica, o aumento do nível do mar causa, entre outros aspectos,
a erosão das praias, inundação em baixios, intrusão de águas salinas nos estuários, e
aumento da frequência e intensidade de ressacas. O autor ainda revela que todos esses
aspectos são igualmente importantes no mundo inteiro, onde cerca de 60% da população
vive numa faixa de 60 quilómetros da costa. As áreas populosas em regiões de
confinamento geológico como baías e estuários são extremamente vulneráveis ao
aumento do nível do mar. Para BELÉM (2007), em relação ao aumento do nível do mar

12
o que é discutível é a taxa de aumentos, que de certa forma é regionalizada, pelo fato do
oceano variar suas características de temperatura e salinidade de forma temporal e
espacial, incluindo aí variações decadais. Similarmente, Kennedy et al. (2002) afirmam
que os efeitos da elevação do nível do mar irão variar com a localização, a velocidade
da elevação e as respostas geológicas e biológicas dos ecossistemas afectados. As
relações de causa e efeito dos processos de erosão costeira têm sido exaustivamente
discutidas na literatura.

Suguio (2003) relata a que erosão costeira é um dos fenómenos mais impressionantes
entre os processos costeiros, que acabou transformando-se em um problema
emergências na maioria das áreas costeiras do mundo, inclusive em diversos trechos do
litoral Moçambicano. Suguio (2003) entende que esta tendência à erosão das praias
arenosas, nos dias de hoje, tem sido discutida por numerosos autores e a maioria deles
tem admitido que a subida do nível relativo do mar em curso seria a causa mais
importante do fenómeno.  Brunn & Schwartz (1985,  apud Suguio, 2003) estimaram
que, conforme a região considerada, a ascensão do nível relativo do mar estaria
contribuindo com 10 a 100% na erosão costeira.

De acordo com Belém (2007), embora alguma atenção tenha sido dada ao fenómeno de
aumento do nível do mar propriamente dito, o papel crítico que esta elevação tem em
associação com tempestades costeiras e ressacas na geração de desastres costeiros, foi
muito pouco explorado. Este autor considera que as ressacas (a subida do nível do mar
por associação de maré astronómica e meteorológica) são causadoras das inundações
em regiões costeiras.

Para Angulo (2004) deve-se considerar que, mesmo que as previsões de elevação do
nível do mar se confirmem, o efeito desta elevação sobre as zonas costeiras deve ser
diferente de acordo com suas características específicas e sua história evolutiva. Numa
costa onde o mar tem subido nos últimos milénios, como a costa leste dos Estados
Unidos, o resultado deve ser a aceleração dos processos existentes, enquanto em costas
onde o mar tem descido nos últimos milénios, deve ocorrer uma reversão dos processos.
A elevação do nível do mar deve provocar erosão na maioria da costa exposta à acção
das ondas, porém onde houver intenso aporte de sedimentos o mar pode recuar mesmo
com a elevação do seu nível. Cada caso deve ser analisado localmente, porém
considerando as variáveis regionais e globais.

13
4. Impactos no meio biótico

Para Angulo (2004), as mudanças climáticas observadas recentemente, especialmente


no que se refere ao aumento das temperaturas regionais, apontam para repercussões
sobre a biodiversidade e ecossistemas, causando inclusive, mudanças na distribuição das
espécies, tamanho das populações, tempo de reprodução ou migração e um aumento da
frequência da ocorrência de pestes e enfermidades. Muitos arrecifes de coral têm
experimentado importantes episódios de branqueamento, ainda que na maioria das
vezes parcialmente reversíveis, quando as temperaturas da superfície dos oceanos
aumentaram em um mês entre 0,5 e 1ºC acima da média dos meses mais quentes. Para o
final do século, as mudanças climáticas e seus impactos podem ser a causa dominante e
directa da perda da biodiversidade e da mudança nos serviços dos ecossistemas em nível
mundial. Portanto, os danos à biodiversidade aumentarão em todo o mundo devido a
intensidade e frequência absoluta das mudanças climáticas.

Segundo Roessig et al. (2004), a mudança climática irá afectar os indivíduos,


populações e comunidades através de respostas comportamentais e fisiológicas dos
indivíduos às mudanças ambientais. Ainda segundo estes autores, factores ambientais
extremos, tais como a elevada temperatura da água, baixa dissolução de oxigénio e
salinidade, e pH, podem pode ter efeitos deterioradores sobre os peixes.

Kennedy et al. (2002) relatam que temperaturas extremas (ambas altas e baixas) podem
ser letais para os organismos. Nas regiões tropicais, a refrigeração evaporativa limita o
nível para o qual as temperaturas da água podem aumentar, temperaturas de verão das
águas tropicais não podem se tornar muito mais altas do que elas estão agora na medida
em que o clima aquece. Porém, temperaturas nas regiões temperadas e boreais podem
aumentar para níveis que são muito stressantes ou letais para organismos residentes.
Muitas espécies são sensíveis à temperatura de poucos graus a mais do que elas estão
habituadas na natureza. Kennedy & Mihusky (1971 apud Kennedy et al., 2002)
verificaram que em condições laboratoriais o aumento de 1ºC pode levar a mortalidade
de organismos estuarinos de 0% para 100%. Estes autores afirmam que as elevações da
temperatura para o próximo século são previstas para serem maiores do que 1ºC. De
acordo com estes autores, em níveis sub-letais, a temperatura influencia o aumento do
metabolismo, governa o comportamento animal, e o padrão distribuição de organismos,
e actua em conjunto com outras variáveis ambientais tal como o oxigénio dissolvido.
14
Isso influência o tempo de reprodução e controla a taxa de desenvolvimento de ovos e
larvas. Por exemplo, o declínio recente na abundância de linguados de inverno na Nova
Inglaterra pode ser consequência de efeitos negativos dos invernos mais quentes sobre a
sobrevivência dos ovos e na incubação e desenvolvimento das larvas (KELLER &
KLEIN-MACPHEE, 2000 APUD KENNEDY ET AL., 2002).

Kennedy et al. (2002) ainda relatam que a temperatura influencia directa ou


indirectamente na abundância populacional e na distribuição dos organismos. Estes
autores explicam que temperaturas mais elevadas poderiam não resultar em extinção de
uma espécie no seu total, a espécies podem ser eliminada em uma parte do seu todo.
Mudanças de temperatura tão pequenas como 1ºC podem ter efeitos importantes efeitos
na distribuição das espécies em pouco tempo.   As temperaturas na região ficaram mais
altas pelos anos 1990 e a proporção de espécies do sul aumentou enquanto a proporção
de espécies do norte diminuiu.

Entretanto, existem poucas informações disponíveis sobre a tolerância a temperatura e


assim a variação geográfica deve ser utilizada para prever as mudanças relacionadas à
temperatura na distribuição dos organismos, (KENNEDY et al. 2006) ainda informam
que previsões sobre a expansão da distribuição de peixes na direcção norte, se o clima
aquecer no indico médio, podem ser feitas, para espécies de peixes de água mais frias,
como é o caso do linguado de inverno, os limites de distribuição sul devem ser
retrairiam na direcção norte, por outro lado peixes de águas mais quentes, como o
linguado do sul, ampliariam sua distribuição para mais longe.

 Adicionalmente, Roessig et al. (2004) relatam que a íntima relação entre a medida
laboratoriais de respostas de peixes a temperatura e os limites de distribuição termal das
mesmas espécies em seus hábitos nativos tem sido demonstrada (CECH et al.,  1990
apud ROESSIG et al., 2004). Estes autores ainda em função de muitos organismos,
correntemente, viverem próximos aos seus limites de tolerância, ecossistemas estuarinos
e costeiros irão, provavelmente, exibir resposta, mais cedo, às mudanças regionais,
incluindo a perda de espécies nativas e o aumento de espécies exóticas.

Hawkes et al  (2007), explicam que nas zonas temperadas, onde invernos frios
geralmente excedem o limiar de tolerância, muitos animais se adaptaram para migrar
sazonalmente para habitats mais toleráveis a fim de evitar o stress ou a morte. No

15
entanto, se as temperaturas forma aumentadas com a mudança climática, temperaturas
poderiam mudar na direcção dos pólos, movendo os habitats toleráveis, e por tanto a
distribuição das espécies, na direcção de latitudes mais altas. Tais taxas de expansão
têm sido registadas para, muitas espécies de plantas e animais (WALTHER et al., 2002;
HICKILING et al., 2006 apud HAWKES et al., 2007).

De acordo com Hawkes et al. (2007), existe uma quantidade considerável de literatura
documentando avanços na fenologia (o intervalo de tempo das actividades sazonais) de
muitas espécies e plantas em conjunto com a mudança climática observada
(ALTHER et al., 2002 apud  HAWKES et al. (2007).

Um outro aspecto ecológico importante abordado na revisão realizada por Kennedy et


al. (2006), de cunho biogeoquímico, é o facto de que a temperatura afecta a
disponibilidade de oxigénio na água. Como a maioria dos organismos aquáticos retira
oxigénio necessário para o seu metabolismo e à sua sobrevivência da água na qual ele
vivem, uma interacção entre temperaturas mais altas e oxigénio eliminado poderia
constringir os meios viáveis para certas espécies aquáticas.

Adicionalmente, Hawkes et al. (2007) explicam que além dos efeitos na fenologia e


distribuição, a mudança climática pode ter impactos mais directos sobre organismos
sensíveis termicamente. Em particular, os ectotermos são sensíveis ás condições
térmicas disponíveis, que afectam directamente sua performance, sobrevivência e
reprodução. Muitas espécies de répteis possuem a determinação do sexo dependente da
temperatura, onde a proporção do sexo primário é influenciado pela temperatura
experimentada pelos ovos durante a incubação. Esse é o caso das tartarugas marinhas,
nas quais o sexo é determinado durante a terça parte do período de incubação com a
prole de fêmeas produzida nas temperaturas mais altas e os machos nas mais baixas
dentro de uma faixa de tolerância térmica  de 25 a 35ºC.  

No caso da alteração nos padrões de vento, Kennedy et al. (2002) revelam que os
cenários de aquecimento global podem potencialmente conduzir a um enfraquecimento
da circulação dirigida pelo vento. Se isso ocorresse, correntes de superfície dirigidas
pelo vento mais fracas poderiam afectar seriamente a estrutura e função de ecossistemas
tanto no oceano aberto como nas proximidades do continente, a velocidade e direcção
do vento influenciam a produtividade de sistemas marinhos e estuarinos.

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5. Moçambique

De acordo com Marengo & Soares (2003), o terceiro relatório do IPCC 2018 nos
aspectos respectivos ao Mocambique, para toda a região Norte-sul, uma elevação do
nível do mar aumentaria significativamente a propagação das marés nos rios.
Inundações ao longo dos vales dos rios seriam lateralmente confinadas pelas áreas
elevadas adjacentes. Dependendo da quantidade de sedimento, áreas baixas de aluvião,
como na Ilha de Inhaca, Ibo, na foz do Rio Zambeze, podem ser inundadas. No
Nordeste, mangais localizadas nas áreas baixas das planícies costeiras, em estuários, ao
redor de lagoas costeiras e em áreas agrícolas em vales ribeirinhos temporariamente
alagados, serão afectados. Problemas mais sérios aparecerão em cidades costeiras como
Sofala, Zambézia e Maputo Cidade, onde a urbanização se expandiu para áreas baixas e
alagamentos já ocorrem, especialmente quando chuvas fortes coincidem com as
ocorrências de sizígia.

Oliveira (s/d) buscou traduzir a fragilidade da Zona Costeira da cidade de Sofala diante
dos efeitos decorrentes das mudanças climáticas. De acordo com Oliveira (s/d), a zona
costeira deste estado tem a taxa média de erosão estimada em 7, 25 m/ano. Segundo esta
autora, avalia-se que este fenómeno da erosão costeira será, gradativamente,
intensificado com o aumento do nível dos oceanos, que deve acarretar também a
salinização dos solos e submersão de áreas baixas, acarretando danos em várias
estruturas urbanas e em algumas importantes actividades produtivas implantadas na
faixa litoral, como a salineira, a petrolífera e a carcinocultura, dentre outras.

De acordo com o relatório Mudanças Climáticas e possíveis alterações nos Biomas da


América do Sul (MMA, 2007), os modelos climáticos globais do IPCC e os modelos
regionais de mudança climática apontam para cenários climáticos futuros de aumento da
temperatura superficial de 2 a 4°C na Zambézia. No entanto, quanto à precipitação,
ainda não há consenso em relação ao sinal das anomalias para a Zambézia e o Nordeste
Mocambicano. Conclui o relatório que essas mudanças climáticas têm um impacto nos
ecossistemas naturais e especificamente na distribuição de biomas, o que por vez têm
impactos na biodiversidade, agricultura, nos recursos hídricos.

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Conclusão

Mudanças climáticas globais, ainda que de pequena intensidade acarretarão em


alterações significativas em diversos sectores da Zona Costeira. As alterações no meio
biótico tendem a ser mais significativas, visto a maior susceptibilidade dos diversos
compartimentos dos ecossistemas costeiros.

No que se refere às alterações no meio físico, estas já vem sendo verificadas em menor
escala em alguns segmentos da costa, especialmente após a ocorrência de eventos de
máxima energia. Apesar da existência de opiniões divergentes no que se refere ao
aumento da temperatura global e suas implicações nos impactos na Zona Costeira são
inequívocos registos diversos de pequenas e até mesmo grandes alterações causadas
pelo aumento da temperatura dos oceanos, elevação do nível médio do mar e alteração
na frequência e intensidade de eventos extremos, conforme corroboram um grande
número de autores das mais diversas áreas do conhecimento. A maioria dos autores
revisados parece concordar com o aumento da temperatura do globo, embora as taxas
destes aumentos sejam discutíveis, e alguns adoptem uma postura mais optimista e
outros a mais pessimista.

Justamente esta sua configuração como área de interacção entre ambientes terrestres e
marinhos que faz da Zona Costeira um espaço dotado de grande diversidade de
ecossistemas, que desempenham funções ecológicas próprias e contribuem para a
manutenção do equilíbrio ambiental. Além disso, potencializam uma diversidade de
actividades económicas. O potencial de biodiversidade da Zona Costeira tem sido
objecto de reconhecimento internacional e estudos próprios.

Em relação aos efeitos da mudança no meio biótico, o efeito aumento da temperatura


parece ser aquele que acarretará os impactos mais directos na biologia e ecologia de
organismos estuarinos e costeiros. No entanto, a elevação do nível do mar, trazendo
impactos físicos com inundações e erosões, irá, indirectamente, afectar a vida de destes
organismos em função da supressão de habitats importantes nas áreas húmidas, como
pântanos e mangais.

No nosso País foram encontrados apenas estudos referentes aos impactos físicos da
elevação do nível do mar, como inundações e erosões em zonas costeiras Moçambicana,
em decorrência do aumento da temperatura do global.

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Referências bibliográficas

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paisagísticas. São Paulo, Ateliê Editorial, 2003.
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Brasília: Senado Federal, Subscretaria de Edições Técnicas, 1996.
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KENNEDY, Victor S.; TWILLEY, Robert, R.; KLEYPAS, Jean A.; COWAN, James
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Síntese do Terceiro Relatório do IPCC. Condições climáticas e recursos hídricos no
mundo s/d
MARTINS, L.R. et al. Linha de Costa : problemas e estudos. 2004
MENDONÇA, Francisco.  Aquecimento Global e suas manifestações regionais e
locais:   Alguns indicadores da região Sul do Brasil. Revista Brasileira de Climatologia,
n. 2, 2007
OLIVEIRA, Rosa Maria P. de. Mudanças Climáticas e o Avanço do Mar. Conferência
Nacional do Meio Ambiente e  III Conferência Estadual do Meio Ambiente

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