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Teorias da persuasão

Teorias da Comunicação | Vitor Braga


Conteúdo

Modelos de transmissão
Escola americana
Modelo de Osgood e Schram
As funções da mídia
O modelo de espiral de dance
Modelo geral de comunicação de Gerbner

Abordagem da persuasão
Abordagem empírico-experimental
O modelo comunicativo
Fatores ligados à mensagem
Pesquisa de Hovland
Modelos de transmissão: A
escola americana
Modelo de Osgood e Schram

• Para eles, o modelo linear Emissor – Mensagem – Receptor tinha como


desvantagem deixar de lado um dos aspectos fundamentais do processo
comunicativo: a possibilidade de uma reformulação da mensagem e uma resposta
pelo receptor
• Em alguns casos, esse elemento não apenas é parte integrante do processo: pode
definir a forma e o conteúdo da relação comunicativa
• Premissa: existência de uma circularidade dos processos de comunicação, de modo
que a recepção e a resposta sempre existem, embora em níveis diversos
• Modelo linear precisava ser complementada ou mesmo modificada para incluir em si o espaço
para a resposta

• A ideia de interação é fundamental nesse modelo


• Passagem da linearidade
para a circularidade do
processo comunicativo
• Uma atividade até então
escondida em outros
modelos: a existência de
uma atividade de
“interpretação” agindo
ao mesmo tempo na
codificação e na
decodificação

As funções da mídia

• Merton e Lazarsfeld perguntam qual é a extensão do poder da mídia na


sociedade
• Foco nas transformações da cultura e o nascimento de um tipo de divertimento
popular de massa criado pela mídia para entretenimento em larga escala
• A cultura de massa ganhava espaço cada vez maior na sociedade e era vista com
crescente desconfiança por pesquisadores
• Substituição, no gosto popular, de uma "cultura autêntica" por uma "cultura-padrão"
criada e divulgada pela mídia

• A mídia tem a capacidade de jogar com a sociedade, de provocar


transformações e efeitos tanto maiores quanto maiores forem os vínculos com
essa cultura

1. A função de conferir e 2. A função de reforço das 3. A disfunção


garantir status normas sociais narcotizante
• Mídia dá valor a alguns • Mídia reforça os padrões • Um efeito colateral, um
assuntos, temas e pessoas, de comportamento tidos erro cometido pela mídia
tornando-os importantes, como certos em uma
aumentando seu prestígio sociedade na medida em • A mídia poderia atuar
e visibilidade que transforma esse como uma espécie de
padrão em referência, droga para deixar a
• Isso, de certa maneira, vista por milhões de sociedade menos atenta
legitima a situação: o pessoas, ganhando status ao que se passa ao redor
simples fato de estar na de verdade dentro do e, dessa maneira, forçar
mídia é suficiente para mundo social situações ou impor uma
tornar algo – ou alguém – opinião
importante • O resultado é um controle
sobre o indivíduo: passa a • Transformação de assuntos
• Assim, a mídia adota uma ser julgado em relação às sérios em entretenimento,
perspectiva circular: categorias apresentadas o infotenimento
quem está na mídia é nos meios de comunicação
importante por estar na
mídia

• Merton e Lazarsfeld conseguiram antecipar


alguns problemas da mídia de massa
• Uma mudança negativa: eles mostram certa
nostalgia de um tempo anterior à comunicação de
massa como uma época melhor - algo bastante
questionável

• Críticas: não mencionar receptor como parte


ativa no processo de comunicação

O modelo de espiral de dance

• Enquanto muitos modelos procuram estabelecer um retrato da comunicação,


alguns sublinham a dinâmica do acontecimento na duração
• Primeiro modelo a levar em conta como o tempo transforma as relações de comunicação
• Não existe uma comunicação estática: está se movendo no sentido do tempo
• A estrutura de uma relação de comunicação tende a se alterar de acordo com a sequência
de emissor-mensagem-receptor

• A comunicação demanda tempo: em um nível mínimo de complexidade, as


palavras de uma frase necessariamente são usadas umas depois das outras
• Mesmo navegando em um site, na comunicação não linear, acessamos novas informações
umas depois das outras: no tempo

O ESPIRAL

Em uma situação de
comunicação, a sucessão
dos momentos é um dos
fatores decisivos
Modelo geral de comunicação de Gerbner

• Pensar a comunicação como uma série de módulos


• Quem comunica trabalha com significados já existentes para criar uma
mensagem nova
• Importância ao repertório dos interlocutores
• Seres humanos vivem em uma espécie de ilusão: pensamos que damos conta de
falar sobre tudo ou de entender a totalidade das coisas
• No entanto, o que percebemos é apenas uma parte limitada, uma espécie de resumo da
realidade
• Seu modelo explica como esse resumo é formado

“Alguém percebe um evento e reage a essa situação


através dos meios disponíveis, criando um produto,
em uma forma e dentro de um contexto, conduzindo o
conteúdo com alguma consequência”

GEORGE GERBNER
• Um evento (E) é percebido por algo ou alguém
(M). Essa percepção é necessariamente
transformada por três fatores:
1. Uma seleção do conjunto de fatos
2. O contexto onde transcorre a comunicação
3. A disponibilidade das mensagens

• Esses elementos fazem com que exista uma


diferença entre o evento real (E) e o evento
percebido por M, que Gerbner denomina E1.
Essa parte é a dimensão perceptiva do modelo

• A parte produtiva tem início no momento em


que M transmite sua mensagem
• Sua mensagem será criada a partir de E1, isto
é, a sua dimensão perceptiva do evento
• No entanto, é necessário transformar essa percepção
em uma mensagem. Isso demanda a existência de
uma forma (F) e um conteúdo (C)
• Esse sistema FC será transmitido a partir de um
determinado canal ou mídia, controlado por A
• Essa mensagem, por sua vez, será percebida por
outro indivíduo como uma mensagem FC1 e assim
por diante

Abordagem da persuasão
Concepção

• Pesquisas psicológicas experimentais fazem


uma revisão do modelo mecânico de estímulo –
resposta
• Estudam a eficácia persuasiva dos meios de
comunicação, buscando explicações para o
insucesso das tentavas de persuasão
• Questão: como se deve transmitir a mensagem de
maneira a aumentar a probabilidade de aceitação
por parte da audiência?

• A compreensão sobre as diferenças


individuais na estrutura cognitiva
mostrou que estratégias persuasivas
diferenciadas eram mais eficientes
• Para essa corrente, persuadir os
destinatários é um objetivo possível se
a forma e a organização da
mensagem forem adequadas aos
fatores pessoais que o destinatário
ativa quando interpreta a mensagem
• Mensagens persuasivas deveriam ser
feitas sob medida para atender aos
interesses, necessidades, valores,
crenças das audiências

• Essa teoria abre terreno para o conceito de segmentação do mercado como um


princípio de compreensão e criação de estratégia para a venda de bens,
campanhas políticas e comportamentos favoráveis à sociedade
• Por um lado, ao salientar o papel das diferenças individuais nos efeitos obtidos
pela mídia, defende que os efeitos não são uniformes para toda a audiência
• Variam de indivíduo para indivíduo, devido às suas particularidades
• Por outro, as mensagens devem se adaptar e atender às especificidades
cognitivas dos indivíduos

A abordagem empírico-experimental
Efic cia persuasiva X insucesso das tentativas de persuas o

• Resultante dos estudos psicol gicos


experimentais

• Entra em jogo na rela o entre emissor,


mensagem e destinat rio

• Existe, de fato, uma oscila o entre a ideia


de que poss vel obter efeitos relevantes,
se as mensagens forem adequadamente
estruturadas e a certeza de que,
frequentemente, os efeitos que se
procurava obter n o foram conseguidos











"Persuadir os destinat rios um objetivo poss vel, se a forma e a organiza o da
mensagem forem adequadas aos fatores pessoais que o destinat rio activa
quando interpreta a pr pria mensagem. Por outras palavras, as mensagens dos
meios de comunica o cont m caracter sticas particulares do est mulo que
interagem de maneira diferente com os tra os espec ficos da personalidade dos
elementos que constituem o p blico”

Mauro Wolf















O modelo comunicativo
Causa (estímulo) | Processos psicológicos intervenientes | Efeito (resposta)

• Estuda predominantemente os efeitos da mídia numa situação de campanha


• Tem objetivos específicos e foi projetada para os atingir
• É intensiva e desfruta de uma vasta cobertura
• O seu sucesso pode ser avaliado
• É promovida por instituições ou entidades dotadas de um certo poder e autoridade
• Os seus argumentos devem ser vendidos ao público, para quem são novos, mesmo que se
baseiam em esquemas de valores partilhados

Fatores relativos à audiência


A. Interresse em obter informação

O êxito de uma campanha de informação depende do interesse que o público


manifesta pelo assunto e da amplitude dos setores da população interessados
• Quanto mais uma pessoa for exposta a um assunto, maior o seu interesse
• Quanto menos informada, menor seu interesse e maior a resistência

B. Exposição seletiva

Identifica as classes mais expostas aos meios de comunicação


• Parte dos efeitos dos programas são pré-determinados pela estrutura da audiência
• É mais provável que a comunicação de massa não modifique os pontos de vista da
audiência, mas apenas reforce os pré-existentes:
• As pessoas são mais predispostas a consumir os conteúdos compatíveis com os seus
interesses, a negligenciar aquilo que não lhes provoca interesse e a adulterar os conteúdos
que recordam

• Problema: a seletividade da exposição pode ser explicada por outras variáveis e


não apenas pela convergência entre as atitudes subjetivas da audiência e o
conteúdos das comunicações

C. Percepção seletiva

A interpretação transforma e adapta o • Uma diferenciação não excessiva entre


significado da mensagem, fixando-a a as opiniões do indivíduo e as do emissor
atitudes e valores do destinatário - o • Um escasso envolvimento e uma fraca
que faz com que o sentido da própria adesão do destinatário ao assunto da
mensagem chegue a ser modificado mensagem e às suas ideias a respeito
pelo receptor desse assunto
• Uma atitude positiva para com o
• Efeitos de assimilação ou comunicador
contraste: quando o destinatário
considera as opiniões expressas na
mensagem como mais análogas às
suas do que o são na realidade. Essa
percepção depende de:

D. Memorização seletiva

• Os aspectos que estão de acordo • Efeito Bartlett: se numa mensagem


com as atitudes e as opiniões forem apresentados os argumentos a
próprias são memorizados num grau favor a um determinado assunto e os
mais elevado do que os outros argumentos contra, esses últimos,
serão esquecidos mais rapidamente de
• Essa tendência acentua-se à medida forma a aumentar a memorização dos
que vai decorrendo o tempo de argumentos centrais
exposição à mensagem
• Efeito Latente: em certos casos, a
eficácia persuasiva é quase nula
imediatamente após a exposição à
mensagem mas, à medida que o
tempo passa, essa eficácia aumenta

• Às vezes as pessoas possuem uma crença muito


forte em algo
• Quando são apresentadas novas evidências contra
essas crenças, elas não são aceitas

• Cria-se um sentimento que é extremamente


desconfortável
• É tão importante proteger essa crença, que elas
irão racionalizar, ignorar e até mesmo negar
qualquer prova que não se encaixe com essa
crença

DISSONÂNCIA COGNITIVA
A dissonância cognitiva é um estado psicológico relativamente
desagradável que pode viver-se quando tomamos
consciência da discrepância entre as nossas atitudes ou
entre as nossas atitudes e os nossos comportamentos
Fatores ligados à mensagem
A. Credibilidade do comunicador

• Interrogam sobre se a reputação da


fonte é um fator que influencia as
mudanças de opinião suscetíveis de
serem obtidas na audiência e,
paralelamente, se a falta de
credibilidade do emissor incide
negativamente na persuasão.
• CONCLUSÃO: pode existir apreensão do
conteúdo, mas a escassa credibilidade
da fonte seleciona a sua aceitação

B. A ordem da argumentação

• Procura-se descobrir se, numa • Efeito primacy: quando se verifica


mensagem que contém argumentos uma maior eficácia dos
pró e contra a uma determinada argumentos iniciais
posição, são mais eficazes as
argumentações iniciais a favor dessa • Efeito recency: se são mais
posição ou as argumentações finais eficientes os argumentos finais
de apoio à posição contrária

C. A integralidade das argumentações

Compreender o
impacto da
apresentação de um
único aspecto ou,
pelo contrário, de
ambos os aspectos de
um tema controverso,
com o objetivo de
modificar a opinião
da audiência
D. A explicitação das conclusões

• Saber se uma mensagem que fornece explicitamente as conclusões a quem


pretende persuadir será mais eficaz do que uma mensagem que fornece essas
conclusões de uma forma implícita e deixa que os destinatários a extraiam
• Essa pesquisa chegou a algumas conclusões:
• É melhor deixar as conclusões de forma implícita quando o envolvimento do indivíduo
no assunto for maior
• A explicitação das conclusões será menos necessária quando o conhecimento do público
sobre o assunto for mais profundo ou quando o público for mais instruído
• As conclusões devem ser mais explícitas quando o assunto for complexo e o público
estiver pouco familiarizado com ele

Pesquisa de Hovland sobre a mensagem


Resultados

1. Pessoas com opinião contrária: é mais eficaz


apresentar os argumentos referentes a ambos os
aspectos do que apenas aquele acerca do qual se
quer convencer
2. Pessoas já convencidas: é mais eficaz expor
apenas os argumentos a favor
3. Pessoas com um grau de instrução mais elevado:
é mais eficaz apresentar ambos os aspectos da
questão; com menor grau de instrução,
apresentar apenas os pontos a favor da questão
defendida

Carl Hovland

4. Para as pessoas com grau de instrução 5. A omissão de um argumento relevante


mais baixo e que já estão convencidas foi mais perceptível em mensagens
da posição defendida, a apresentação que apresentaram os dois aspectos da
de ambos os aspectos é pouco eficaz questão

Conclusões a partir das pesquisas

• As formas das mensagens variam de acordo com as características dos


destinatários
• Um modelo não-linear do processo comunicativo e as barreiras psicológicas dos
destinatários são variáveis que precisam ser avaliadas para se verificar os
motivos da ineficácia de uma campanha
• A persuasão opera através de percursos complicados mas ela é exercida pela
comunicação de massa

Referências

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Comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. p.119-130

CITELLI, Adilson ... [et al.]. Dicionário de comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo: Contexto, 2014.

DeFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Teorias da comunicação de massa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1993.

FREIXO, Manuel João V. Teorias e modelos de comunicação. 2ª ed. rev. aum. Lisboa: Instituto Piaget, 2011.

KATZ, Elihu; LAZARSFELD, Paul F. Personal influence. In: BERELSON, B.; JANOWITZ, M. (Eds.) Reader in
public opinion and communication. 2ª ed. London: Collier-Macmillan, 1966. p. 446-454

LASSWELL, H. D. A estrutura e a função da comunicação na sociedade. In: COHN, G. (Org.)


Comunicação e indústria cultural. 5ª ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1987. p. 105-117

MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1999.

MCQUAIL, D. Teoria da comunicação de massas. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 2003.

WOLF, Mauro. Teorias das Comunicações de massa. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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