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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Enfermagem
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica
ENC0250 – ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADULTO E DO IDOSO EM CUIDADOS CRÍTICOS

Desequilíbrio Ácido básico

Profa. Paula C Nogueira


pcnogueira@usp.br
Objetivos

 Conhecer e identificar o desequilíbrio ácido-básico de origem respiratória e/ou


metabólica.

 Interpretar exame de gasometria arterial.

 Associar a condição clínica do paciente com o distúrbio ácido-básico apresentado e


discorrer sobre as intervenções de enfermagem.
Gasometria arterial
• O sangue arterial possui grandes taxas de oxigênio. Este circula entre as artérias e
veias pulmonares, obtendo energia química e nutrindo as células. Possui uma
coloração em tom de vermelho forte/vivo, devido ao pH mais alto, provocado pela
presença elevada de O2.

• A gasometria mede o pH e os níveis de oxigênio e de gás carbônico no sangue -


analisa a efetividade da troca gasosa pelo pulmão. A verificação dos gases sanguíneos
é utilizada para verificar o equilíbrio ácido-base do organismo, diretamente
relacionado com a performance pulmonar e metabólica.

• Fornece os valores que permitem analisar os gases sanguíneos e o equilíbrio ácido-


base (metabólico e/ou respiratório).
Conceitos básicos – ácido e base

• Ácido - substância que podem ceder íons H+


• Base – substância alcalina que pode receber íons H+

 O equilíbrio entre ácidos e bases faz parte da homeostasia do meio interno, que
procura manter a [H+].

 Distúrbios no EAB: desvios na [H+] no plasma - pH

 O acúmulo ou falta de ácidos no meio interno acarreta distúrbios importantes nas


reações bioquímicas necessárias à vida.
Conceitos básicos - Concentração de íons H+

• O íon Hidrogênio (H+) é o principal responsável pelo equilíbrio ácido – básico do


organismo.

• Todo desequilíbrio ácido-base decorre de uma alteração na concentração de


hidrogênio ionte [H+] no LEC.

• A concentração dos íons H+ é expressa por uma escala logarítmica, utilizando a


unidade de medida pH

• O pH está relacionado a verdadeira concentração de H+ (expressa em Eq/L)

• O pH é inversamente proporcional à concentração de H+ → quanto mais íons de H+


mais ácida é a solução.
Níveis de pH no Sangue Arterial

6,8 6,8 – 7,34 7,35 – 7,45 7,46 – 7,80 7,80

ALCALOSE
NORMAL

MORTE
ACIDOSE
MORTE

O organismo suporta alterações do pH que oscilam na faixa de 6,8 e 7,8


Fisiologia do Metabolismo Ácido-Base

• Os sistemas pulmonar e renal são responsáveis pela eliminação do H+ produzido durante o


metabolismo celular.

• Os pulmões são responsáveis pelo controle dos níveis séricos de CO2, produto do
metabolismo celular (ácido volátil) que, quando dissolvido em água, transforma-se em ácido
carbônico (H2CO3).

• Controlados pelo bulbo, os pulmões ajustam a ventilação em resposta à quantidade de CO2


no sangue arterial.

• Os rins excretam os ácidos não voláteis e regulam o nível sérico de bicarbonato (HCO3-) por
meio da reabsorção tubular do HCO3 filtrado e da excreção, pela secreção de íons H+.

• Os distúrbios do EAB podem ser produzidos por alterações respiratórias e metabólicas.


• A diminuição do pH do sangue é chamada de ACIDEMIA, enquanto o distúrbio que
a causou recebe o nome de ACIDOSE.

• Do mesmo modo, o aumento do pH do sangue, ALCALEMIA, é causado pelo


distúrbio chamado de ALCALOSE.

• O organismo utiliza mecanismos para controlar o equilíbrio ácido-básico do


sangue.
 O corpo utiliza soluções tampão do sangue para se defender contra alterações súbitas
da acidez. Um tampão atua quimicamente para minimizar as alterações do pH.

O tampão MAIS importante do sangue utiliza o bicarbonato (um composto básico) que se
encontra em equilíbrio com o dióxido de carbono (um composto ácido).

À medida que MAIS ácido ingressa na corrente sangüínea, mais HCO3 e menos CO2 são
produzidos.

À medida que mais base entra na corrente sangüínea, mais dióxido de carbono e menos
bicarbonato são produzidos. Em ambos os casos, o efeito sobre o pH é minimizado.

Por isso, o HCO3 encontra-se em equilíbrio com o CO2 dissolvido no plasma e comporta-
se como sistema tampão
Mecanismo para manter nível de pH no sangue
 O sistema tampão bicarbonato/ácido carbônico é o principal mecanismo de
controle do pH extracelular:
- Elimina ou reabsorve o HCO3- pelos rins
- Expele ou retém CO2 - pelos pulmões

 Os mecanismos homeostáticos normais servem para manter excreção


apropriada de CO2 pelos pulmões e de ácidos não voláteis pelo rim - O pulmão
excreta mais de 10.000 mEq de ácido carbônico por dia comparados com menos
de 100 mEq de ácidos fixos pelo rim.

 Os rins possuem uma certa capacidade de alterar a quantidade de ácido ou de


BASE que é excretada, mas, geralmente, esse processo demora vários dias.
 Mecanismo de CONTROLE do pH do sangue - excreção do CO2.

O CO2 é um subproduto importante do metabolismo do oxigênio e, conseqüentemente, é


produzido constantemente pelas células. O sangue transporta o dióxido de carbono até os
pulmões, onde ele é expirado.

Os centros de controle respiratório localizados no cérebro regulam a quantidade de dióxido de


carbono que é expirado através do controle da velocidade e profundidade da respiração.

↑FR → a concentração sérica de dióxido de carbono diminui → sangue torna-se mais básico.
↓FR → a concentração sérica de dióxido de carbono aumenta → sangue torna-se mais ácido.

Através do ajuste da velocidade e da profundidade da respiração, os centros de controle


respiratório e os pulmões são capazes de regular o pH sanguíneo minuto a minuto.
Mecanismo de regulação respiratória do pH, por
meio da variação da eliminação do CO2
Distúrbios do Equilíbrio Ácido / Básico- distúrbios do sistema
respiratório ou metabólico

-Linha básica de raciocínio –diagnóstico


pH = RIM responsável pela concentração do HCO 3 –
PULMÃO responsável pela concentração do CO2

ENQUANTO

O pulmão manter O RIM manter


a concentração do CO2 a concentração do HCO3-

O pH SERÁ
MANTIDO
Margotto, PR ESCS/ SES/DF
• A caracterização de qualquer distúrbio necessita basicamente de três variáveis: pH, pCO2
e HCO3

• Alterações primárias na concentração de bicarbonato (HCO3) são chamados de


distúrbios metabólicos e resultam de anormalidades no conteúdo de bases.

• Alterações primárias na pCO2 são chamadas de distúrbios respiratórios, e são


decorrentes de desordens na ventilação pulmonar.

• Um distúrbio primário na concentração de bicabornato acarreta uma alteração


compensatória na pCO2.

• De modo semelhante, uma alteração primária na pCO2 determina uma resposta renal
que altera a concentração de HCO3 no LEC.
• A compensação sempre ocorre na mesma direção do distúrbio primário, por exemplo, se a
concentração de HCO3 diminui por conta de uma acidose metabólica, a compensação
respiratória se manifesta por diminuição da pCO2 (hiperventilação)

• Em distúrbios leves, as respostas compensatórias são suficientes para manter o pH nos


limites da normalidade.

• A completa normalização do equilíbrio ácido-base depende da reversão da anormalidade


clínica que causou o desequilíbrio e de tempo suficiente para que os mecanismos
homeostáticos normalizem as concentrações de hidrogênio no meio interno.
DESEQUILÍBRIOS ÁCIDO-BÁSICOS

Acidose metabólica
Déficit e excesso
da base
Alcalose metabólica bicarbonato

Alcalose respiratória
Déficit e excesso
de dióxido de
Acidose respiratória. carbono
Diagnóstico diferencial dos distúrbios
ácido - básicos

• Os distúrbios que se iniciam pelo ↑ ou ↓ do CO2 são chamados respiratórios

• Os distúrbios que se iniciam pelo ↑ ou ↓ do HCO3 são chamados metabólicos

• Existem quatro tipos fundamentais de desequilíbrio ácido-básico


 Acidose respiratória
 Acidose metabólica
 Alcalose respiratória
 Alcalose metabólica
Classificação dos distúrbios ácido - básicos

Acidose Respiratória é provocada por diminuição da


ventilação e ↑pCO2

Acidose Metabólica resulta de ↓ da concentração de


HCO3 no LEC

A Alcalose Respiratória é causada por aumento da


ventilação e ↓pCO2

Alcalose Metabólica é causada por ↑ na concentração


de HCO3 no LEC
Diante de um distúrbio ácido-básico

• é sempre importante buscar o diagnóstico etiológico,


a fim de que a abordagem terapêutica seja dirigida à
causa básica. Existem alguns dados clínicos e
laboratoriais que podem auxiliar o diagnóstico do
distúrbio ácido-básico

• 1. História e exame físico;

• 2. Dados gasométricos (pH, PCO2 e HCO3-)

Análise da gasometria arterial


Valores Normais dos gases arteriais

• pH – 7,35 a 7,45
• pO2 – 80 a 100mmHg
• pCO2 – 35 a 45 mmHg
• HCO3 – 22 a 26 mEq/L
• SatO2 – 95 a 98%
• Excesso de base (BE) –2,5 a + 2,5 mEq/L
 pH – determinar se está presente acidose ou alcalose. pH normal não indica necessariamente a
ausência de um distúrbio ácido-básico, depende do grau de compensação.

 PO2 – exprime a eficácia das trocas de oxigênio entre os alvéolos e os capilares pulmonares , e
depende diretamente da pressão parcial de oxigênio no alvéolo (PaO2), da capacidade de
difusão pulmonar desse gás. Alterações desses fatores constituem causas de variações da PaO2.

• Em condições normais, 97% do O2 transportado dos pulmões para os tecidos são carreados pela
hemoglobina, no interior das hemácias, e o restante encontra-se dissolvido na água do plasma e
das células. A PaO2 refere-se ao O2 dissolvido no plasma e é medida em mmHg.

• Saturação de O2 da hemoglobina do sg arterial (SatO2) mede à proporção de O2 ligado à


hemoglobina.

• A SatO2 normal que alcança o átrio esquerdo é de 98% → bom indicativo da disponibilidade
total de O2 para as células.
 PCO2 – componente respiratório que é avaliado pela quantidade de ácido carbônico (H2CO3)
existente no sg arterial. O H2CO3 existe quase completamente na forma de gás carbônico (CO2) e
água (H2O). A sua qtde portanto pode ser determinada pela pressão parcial de dióxido de
carbono no sg arterial (PaCO2).
• PaCO2 – a pressão parcial de CO2 no sangue arterial exprime a eficácia da ventilação alveolar,
sendo praticamente a mesma do CO2 alveolar, dada a grande difusibilidade desse gás:
• ↑ PCO2 - hipoventilação → retenção de CO2 no sangue → insuficiente eliminação de CO2 nos
alvéolos pulmonares.
• ↓ PCO2 – hiperventilação → excessiva eliminação de CO2 do sangue → hiperventilação
pulmonar.

 HCO3- - alterações na [HCO3] no plasma desencadeiam desequilíbrios ácidos-básicos por


distúrbios metabólicos. Existe em equilíbrio com o ácido carbônico para regular o pH.

 HCO3- - Quando há excesso de íons H+ livres, o íon bicarbonato combina-se ao hidrogênio em


excesso e formam o ácido carbônico (H2CO3), que se decompõe em CO2 e H2O. O excesso de
Co2 é eliminado pelo mecanismo respiratório, e a H2O pelos rins.
 Base Excess (BE) – acompanham os distúrbios metabólicos

• Se o BE for positivo e maior do que +2,5mEq/l, significa que há um aumento do total de


bases, ou seja, o organismo está retendo bases, devido a distúrbio metabólico primário ou
compensatório.

• Se o BE for negativo e menor que -2,5mEq/l , significa que há uma diminuição de bases, ou
seja, o organismo perdeu bases, devido a um distúrbio metabólico primário ou
compensatório.

• O BE não se altera nos distúrbios respiratórios agudos, pois não há tempo hábil para resposta
compensatória renal.
Acidose Respiratória
Fisiopatologia Qualquer diminuição súbita de ventilação originando acúmulo de CO2 –
hipoventilação alveolar
Hipoventilação → hipercapnia (PCO2>45mmHg)

Etiologia • Depressão do centro respiratório (sedativos)


• Lesão no centro respiratório (TCE, tumor)
• Traumas torácicos
• Pneumonias/ atelectasias
• Acúmulo de secreção/ EAP
• PCR
Resposta Orgânica Reabsorção renal aumentada de HCO3-

Quadro clínico Cianose, hipertensão arterial, taquicardia, Respirações superficiais,


sonolência, confusão mental, coma

Dados complementares ↓pO2 , ↓pH, pCO2 ↑; HCO3 nl ou ↑

Tratamento Correção da ventilação (hiperventilação)


Diminuição gradativa da PaCO2
Acidose Respiratória – Exames laboratorias

• pH < 7,35
• PCO² > 45 mm Hg
• PO² < 80 mm Hg
• Sat O² < 98%
• HCO³ > 26 mEq/l (se compensado)
Acidose Respiratória
• A acidose respiratória é a acidez excessiva do sangue causada por um acúmulo de dióxido de carbono
no sangue em decorrência de uma má função pulmonar ou de uma respiração lenta. A velocidade e a
profundidade da respiração controlam a concentração de dióxido de carbono no sangue.
Normalmente, quando o dióxido de carbono acumula-se, o pH sangüíneo cai e o sangue torna-se
ácido.

• A acidose respiratória ocorre quando os pulmões não eliminam adequadamente o dióxido de


carbono. Isto pode ocorrer em doenças que afetam gravemente os pulmões.
Diagnósticos de Enfermagem

NANDA 2018 - 2020


Intervenções de Enfermagem
Promoção do equilíbrio ácido-básico e prevenção de complicações resultantes de níveis séricos de pCO2 mais
elevados do que o desejado
• Obter amostra de sangue para gasometria arterial
• Monitorar níveis de gasometria arterial
• Monitorar estado hemodinâmico
• Monitorar padrão respiratório
• Proporcionar terapia de oxigênio/VM/VNI
• Posicionar paciente e facilitar a respiração
• Monitorar determinantes de oferta de oxigênio aos tecidos( Sat O2)
• Monitorar estado neurológico (nível de consciência e confusão)
• Manter pérvio acesso IV
QUANDO INTERVIR ?
Acidose respiratória

• O tratamento da acidose respiratória deve ser dirigido à causa básica do


distúrbio. Conforme a situação irá incluir todas ou algumas das medidas abaixo:

1. Suporte ventilatório (ventilação mecânica, quando indicada);

2. Broncodilatadores (principalmente em caso de hiperreatividade brônquica).


Alcalose Respiratória
Fisiopatologia Causada por hiperventilação
Etiologia • Dor, Ansiedade
• alterações de altitude
• Ventilação mecânica
• Lesões do SNC, tumores
Resposta Orgânica Aumento da excreção renal de HCO3-
Quadro clínico Hiperventilação, tonturas, lipotímia, síncope, confusão mental

Dados complementares ↑pH, ↓pCO2; HCO3 nl ou ↓


Tratamento Correção da ventilação (lentificação da FR): sedativos;
↓freqüência do VM. Respirar em um saco de papel pode ajudar a
aumentar a concentração de CO2 no sangue, pois o indivíduo inala
novamente o CO2 após havê-lo exalado. Com a elevação da
concentração de CO2, os sintomas da hiperventilação melhoram e,
consequentemente, a ansiedade diminui e a crise cessa.
Intervenções não farmacológicas para ↓ da ansiedade.
Alcalose Respiratória – Exames Laboratoriais

• pH > 7,45
• PCO² < 35 mmHg
• PO²normal
• Sat O² normal
• HCO³ < 22 mEq/l (se compensado)
Alcalose Respiratória

• A alcalose respiratória é uma condição na qual o sangue é alcalino porque a


respiração rápida ou profunda acarreta uma concentração baixa de dióxido de
carbono no sangue. A hiperventilação (respiração rápida e profunda) provoca uma
eliminação excessiva de dióxido de carbono do sangue.

• A causa MAIS comum da hiperventilação e conseqüentemente da alcalose


respiratória é a ansiedade. Outras causas de alcalose respiratória são a dor, e
parâmetros inadequados da VM.
Intervenções de Enfermagem
Promoção do equilíbrio ácido-básico e prevenção de complicações resultantes de níveis séricos de
pCO2 mais baixos do que o desejado

• Obter amostra de sangue para gasometria arterial


• Monitorar níveis de gasometria arterial
• Monitorar estado hemodinâmico
• Monitorar padrão respiratório
• Posicionar paciente e facilitar a respiração
• Reduzir consumo de oxigênio e minimizar hiperventilação (conforto, posicionamento)
• Promover redução do estresse
• Manter pérvio acesso IV
Acidose Metabólica
Fisiopatologia Aumento da excreção de bases (HCO3-) - ↓ primária do HCO3;
Aumento na produção, acúmulo ou diminuição da excreção de
ácidos.

Etiologia • Cetoacidose diabética


• Acidose lática (causada por má perfusão ou hipóxia) - choque
• Perdas TGI (ileostomia)

Resposta Orgânica Hiperventilação; aumento da eliminação de CO2


Quadro clínico Se discreta é assintomática.
Hiperpnéia (respiração de Kussmaul); hipotensão, letargia,
confusão mental, polidipsia e poliúria, coma.

Dados complementares ↓pH, PCO2 nl ou ↓; HCO3 ↓

Tratamento Correção da causa do distúrbio; adm de NaHCO3.


Acidose metabólica – Exames Laboratoriais

• pH < 7,35
• PCO² < 35 mmHg (se compensado)
• PO² normal ou aumentada (com respirações profundas e rápidas)
• SatO² normal
• HCO³ < 22 mEq/l
Acidose metabólica

• A acidose metabólica é a acidez excessiva do sangue caracterizada por uma


concentração anormalmente baixa de bicarbonato no sangue. Quando o pH
sangüíneo cai, a respiração torna-se mais profunda e rápida à medida que o
organismo tenta livrar o sangue do excesso de ácido reduzindo a quantidade de
dióxido de carbono. Finalmente, os rins também tentam compensar excretando mais
ácido na urina. No entanto, ambos os mecanismos podem ser superados quando o
corpo continua a produzir ácido em demasia, o que acarreta uma acidose grave e,
em última instância, o coma.
Diagnósticos de Enfermagem

NANDA 2018 - 2020


Intervenções de Enfermagem
Promoção do equilíbrio ácido-básico e prevenção de complicações resultantes de níveis séricos de HCO3
menores do que o desejado

• Manter pérvio acesso IV


• Obter amostra de sangue para gasometria arterial
• Monitorar níveis de gasometria arterial e eletrólitos
• Monitorar estado hemodinâmico (PVC)
• Monitorar padrão respiratório
• Posicionar paciente e facilitar a respiração
• Monitorar determinantes de oferta de oxigênio aos tecidos( Sat O2)
• Monitorar glicemia capilar ´(para os casos de cetoacidose diabética)
Alcalose Metabólica
Fisiopatologia Causada pelo aumento do bicarbonato sérico (retenção ou adição
de bases); perda de ácidos
Etiologia • Perdas TGI (vômitos, CNG aberto) – perda de ácidos fixos
• Diarréia – hipocalemia ( K+ interfere na secreção de H+ e ↑ a
reabsorção de HCO3)
• Ingestão excessiva de bases (NaHCO3)

Resposta Orgânica Hipoventilação para retenção de CO2


Quadro clínico Inespecíficos. Parestesias; tetanias; câimbras; hipotensão ortostática
(pela depleção de volume); taquicardia; arritmias.

Dados complementares pH↑; PCO2 nl ou ↑ ; HCO3↑

Tratamento Correção volêmica com soluções de NaCl 0,9% e reposição de K.


Acetazolamina (diurético excretor de BIC) para pacientes com
restrição hídrica.
ALCALOSE METABÓLICA _ Exames laboratoriais

• pH > 7,45
• PCO² > 45 mm Hg (se compensado)
• PO² normal
• Sat O² normal
• HCO³ > 26 mEq/l
ALCALOSE METABÓLICA

• A alcalose metabólica é uma condição na qual o sangue é alcalino devido a uma concentração
anormalmente ALTA de bicarbonato. A alcalose metabólica ocorre quando o corpo perde ácido em
excesso. Por exemplo, ocorre uma perda considerável de ácido gástrico durante os períodos de
vômito prolongado ou por cateter gástrico (COMO é algumas vezes realizado em hospitais,
sobretudo após cirurgias abdominais). Em raros casos, a alcalose metabólica ocorre em um
indivíduo que ingeriu uma quantidade excessiva de substâncias alcalinas (p.ex., bicarbonato de
sódio). Além disso, a alcalose metabólica pode ocorrer quando a perda excessiva de sódio ou de
potássio afeta a capacidade dos rins de controlar o equilíbrio ácido- básico do sangue.
Intervenções de Enfermagem
Promoção do equilíbrio ácido-básico e prevenção de complicações resultantes de níveis séricos de
HCO3 mais elevados do que o desejado

 Manter pérvio acesso IV


 Monitorar níveis de gasometria arterial
 Monitorar estado hemodinâmico de ingesta e da eliminação
 Monitorar padrão respiratório
 Obter amostra de sangue para gasometria arterial
 Monitorar determinantes de oferta de oxigênio aos tecidos( Sat O2)
Interpretação da gasometria arterial

 Comece olhando cada número individualmente e classifique-os (decida se o


valor é alto, baixo ou normal)

 PASSO 1 – Verificar o pH
 pH < 7,35 = o transtorno primário é uma acidose
 pH > 7,45 = o transtorno primário é uma alcalose

 PASSO 2 – Determinar se o transtorno primário é um decorrente de um


processo metabólico ou respiratório
Interpretação da gasometria arterial

 PASSO 3 – Verificar HCO3- e PCO2:


 ↑ PCO2 resulta em acidose respiratória
 ↓PCO2 resulta em alcalose respiratória
 ↑ HCO3- resulta em alcalose metabólica
 ↓HCO3- resulta em acidose metabólica

 PASSO 4 –Analisar se a compensação é apropriada


Alterações do equilíbrio ácido - básico

Condições pH HCO3 pCO2 Causas Típicas

1. Acidose Baixo Baixo Normal ou Cetoacidose


metabólica diminuído diabética;
acidose lática

2. Alcalose Alto Alto Normal ou vômito


metabólica aumentado

3. Acidose Baixo Normal ou Alta Afecções


respiratória aumentado pulmonares
obstrutivas
crônicas

4. Alcalose Alto Normal ou baixo Baixa Dor aguda,


respiratória ansiedade
Resumindo: Interpretação da gasometria

1. Interpretação do pH
Quando o pH está aumentado Alcalose
Quando o pH está diminuído Acidose
pH normal equilíbrio ou distúrbio que já foi compensado
2. Interpretação do tipo de distúrbio
pCO2 distúrbio respiratório
HCO3 distúrbio metabólico
pCO2 e HCO3 alterados em sentidos opostos – distúrbio misto

3. Determine a extensão da compensação


Olhe para o sistema respiratório e metabólico que não combina com o pH para
determinar se está fora de seu limite normal, no esforço de corrigir o distúrbio
Abordagem Clínica

Frente ao quadro clínico de:


• Alterações do padrão respiratório
• Alterações hemodinâmicas
• Alterações de consciência
• Alterações da função renal
• Perdas anormais pelo TGI e anexos
• Infecções graves

Suspeitar de distúrbio ácido-básico


COLETA DE AMOSTRA DE SANGUE
ARTERIAL
• A análise dos gases arteriais é um
método direcionado para avaliar as
condições de oxigenação do cliente
e a posição dos gases sanguineos
• A análise da gasometria arterial
(GA) é uma regra nos achados
iniciais de clientes que
experimentam desordens
respiratórias
• Uma análise da
gasometria arterial
avalia como
efetivamente os pulmões
estão realizando a troca
de O2 e CO2 –
determina as
concentrações de O2 e
CO2, assim como a
acidez do sangue.

• indica como os pulmões e


rins estão interagindo
entre si, para manter
pH de sangue normal
(equilíbrio ácido-base).
Valores Normais
• pH – 7,35 a 7,45
• PaO2 – 80 a 100 mmHg
• PaCO2 – 35 a 45 mmHg
• HCO3 – 22 a 26 mEq/L
• SatO2 – 95 a 98%
• Excesso de base – 2,5 a + 2,5 mEq/L
Finalidade da Técnica

 Coletar sangue arterial para obter-se uma


avaliação das alterações acido-basicas do
paciente
Material
• 1 seringa de 3 ou 5 ml
• agulha descartável 25x7 ou 30x8
• algodão com álcool 70%
• Heparina se necessário
• obliterador de seringa
• luvas de procedimento
• forro/impermeável
A Técnica

• A amostra de sangue arterial é obtida através de punção arterial .


• inserir uma agulha estéril (conectada a uma seringa heparinizada)
• radial, braquial, femoral, pediosa
• A artéria radial é a mais comumente usada porque é rapidamente
acessível, facilmente palpável, e não está associada a tão severas
complicações.
A análise da GA
Interpretação da GA
• Como em qualquer outro exame laboratorial, interprete a
analise da GA considerando o estado clínico do paciente.
• Podem ocorrer erros tal como em qualquer outro exame
laboratorial. Uma técnica incorreta ou manipulação imprópria
do material podem afetar os resultados.
Procedimentos
• 1 - Preparo da Coleta para GA

• Explicar o objetivo do
procedimento e como ele é
efetuado aos pacientes e
acompanhantes. Dê-lhes tempo
para que coloquem questões e
expressem preocupações.
Procedimentos
Ângulo para puncionar a
arteria:
• Radial
• Braquial
• Femural
• Pediosa
Procedimentos
• Realizar antissepsia com álcool
70%

• Introduzir a agulha ate que a


artéria seja puncionada

• Permitir que a seringa se encha


com 2 ml de sangue arterial
Procedimentos
• Imediatamente após
retirar a agulha da
artéria. comprima
firmemente o local da
punção por, pelo menos,
cinco minutos.
Intervenção pós punção
A maior complicação da punção arterial é o
extravazamento de sangue arterial no local da
punção para os tecidos adjacentes.

Comprima firmemente a
artéria no mínimo durante 5
minutos
Cuidados Subsequentes
• Registrar se o paciente está
em VM, e a quantidade de O2.

• Transportar a amostra
imediatamente (processa-la
dentro de 15 minutos)
Fatores que afetam os resultados
• A não imersão da amostra em • O armazenamento da amostra à
recipiente com gelo seco pode temperatura ambiente acelera a
resultar em REDUÇAO do pH e da queda do pH
PO2
• Período de tempo prolongado
• A não expulsão da HEPARINA da entre a coleta e o exame pode
seringa antes da coleta da resultar em redução do pH
amostra pode resultar em redução
do pH, PCO2 PO2
Fatores que afetam os resultados

• Se o paciente recebe oxigênio durante a punção arterial, registre o


fluxo ou a porcentagem de oxigênio na folha de pedido do
laboratório. percentagem de oxigênio inspirado;

1. frequência respiratória do indivíduo e do ventilador,

2. volume corrente fornecido pelo ventilador;

3. outra qualquer informação pertinente.


Vídeo – teste de Allen e coleta de sangue arterial

Teste de Allen
https://www.youtube.com/watch?v=f77_W-ZDjmU
PAI – pressão arterial invasiva
Gasometria venosa x Gasometria arterial
• A principal diferença é a pressão parcial de oxigênio que no sangue venoso é menor
que a metade do sangue arterial. O sangue venoso, portanto, não deveria ser usado
na avaliação da oxigenação. A gasometria arterial avalia os parâmetros ventilatórios.

• Os demais parâmetros - pH, a PCO2 e o HCO3 - tem valores similares no sangue


venoso e arterial. A gasometria arterial geralmente é escolhida por apresentar um
resultado mais completo, possibilitando uma análise mais complexa.

• A gasometria venosa é realizada como segunda opção quando a coleta na artéria não
é possível, sendo feita a coleta na veia.
Caso Clínico – COVID-19
• ID: DD, masculino, 25 anos, natural e procedente de São Paulo- SP.
• Queixa principal: “Falta de ar” há 3 dias.
• HDA: Paciente com queixa de cansaço e dispneia progressiva há 3 dias, agora aos
mínimos esforços. Relata tosse seca e febre não aferida no período. Nega outras
queixas associadas. Nega contato com pessoas apresentando sintomas similares.
• Exame físico:
• Dados vitais: PA: 120/70mmHg; FC: 120bpm; FR: 15mpm; SatO2: 93%; Temp: 38,2°C
• Geral: REG, corado, hidratado, acianótico e anictérico.
• AR: MV com sibilos expiratórios difusos e discretos.
• ACV: Taquicárdico, BRNF em 2T s/ sopros. ABD: sem alterações.
• EXT: bem perfundidas, sem edemas.
• Neurológico: sem déficits focais aparentes.
Caso Clínico – COVID-19
Exames complementares para suspeita de covid-19
Tomografia de tórax:
Múltiplas opacidades de aspecto consolidativo, com predomínio subpleural e
comprometimento multilobar, apresentando áreas com atenuação em vidro fosco no
parênquima circunjacente, sugestivas de processo inflamatório/infeccioso pulmonar,
não sendo possível descartar possibilidade de infeção por SARS-CoV-2 diante do
contexto clínico.

O SARS-CoV-2 utiliza-se de receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2)


para adentrar as células pulmonares, causando manifestações que variam de um
espectro leve a crítico, podendo levar à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARG) e à
óbito.
Caso Clínico – COVID-19
Exames complementares para suspeita de covid-19
Laboratoriais:
• Hb: 12,1 / Leucograma: 12.300 sem desvio (vr: 4.500 a 11.000/mm³) / Plaquetas:
156mil (vr: 150 a 450 mil)/ PCR: 1,2 (vr: 0,3mg/dl)
• Gasometria arterial: ↓ pH 7,32 / pO2: 82 / ↑ pCO2: 48 / HCO3: 24 / SatO2: 91% /
1.Qual o distúrbio ácido-básico?
Acidose respiratória
2. Tem compensação?
Não, pois o HCO3 está normal, teria que estar aumentado para compensar.
Paciente evoluiu com dessaturação (88-90%), com necessidade ascendente de oxigênio
suplementar, sendo indicada intubação orotraqueal e vaga de UTI. Paciente transferido
para a UTI. Após 5 dias, recebido RT-PCR positivo para SARS-CoV-2.
Caso Clínico
Paciente de 21 anos, com história de diabetes mellitus, chega ao Setor de Emergência
torporoso, desidratado, com aumento da frequência e profundidade respiratória. Ao
exame clínico nota-se hálito cetônico. Gasometria arterial: ↓ pH=7,10; ↓ pCO2=20
mmHg; ↓ HCO3= 15 mEq/L. Glicemia = 350mg/dl.
1. Qual o distúrbio ácido-básico apresentado?
Acidose metabólica.
2. Existe processo de compensação?
Sim, existe tentativa de compensação indicada por um pCO2 baixo.
3. Qual é a provável causa desse distúrbio?
A provável causa do distúrbio é descompensação aguda do Diabetes Mellitus, com
quadro de Cetoacidose Diabética. O organismo faz lipólise, pela ausência de insulina, e
libera ácidos graxos na circulação, deixando o sangue ácido.
Caso Clínico
Paciente de 57 anos, obeso, está em pós-operatório de retossigmoidectomia por tumor de
sigmóide. Mantém-se acamado em decúbito horizontal, cabeceira a 0 graus. Está com uma
ileostomia com drenagem de 2.000 mL/24 horas de fezes líquidas. A gasometria revela:
pH= ↓ 7,03; ↑pCO2=54 mmHg; ↓HCO3=14 mEq/L.
1. Qual o distúrbio ácido-básico apresentado? Justifique.
Acidose mista (respiratória – PCO2 aumentado e metabólica – HCO3 diminuído).
2. Existe processo de compensação? Justifique.
Não, pois o distúrbio é misto. Os dois sistemas estão afetados.
3. Qual é a provável causa desse distúrbio?
A causa do distúrbio metabólico é a perda de bicarbonato intestinal através da ileostomia.
A causa do distúrbio respiratório é a hipoventilação alveolar pela compressão
diafragmática, causada pela obesidade e diminuição da expansibilidade pulmonar pelo
decúbito horizontal.
Caso Clínico
Paciente de 70 anos em pós-operatório de cirurgia abdominal queixa-se de cãimbras e
prostração. Ao exame clínico minucioso observam-se abalos musculares e drenagem
elevada pelo catéter nasogástrico (2.000mL/24 h). Gasometria arterial: ↑pH=7,62;
PCO2=40 mmHg; ↑HCO3=36 mEq/L.
1. Qual o distúrbio ácido-básico apresentado? Justifique.
Alcalose metabólica
2. Existe processo de compensação? Justifique.
Não, pois o pCO2 está normal.
3. Qual é a provável causa desse distúrbio?
Quando ocorre drenagem alta pelo cateter gástrico ocorre grande perda de ácido
clorídrico, componente do suco gástrico. A perda do ácido leva a uma alcalinidade
sanguínea.
Caso Clínico
Paciente de 17 anos chega à Emergência sem falar, apresentando batimento palpebral e
frequência respiratória de 50 incursões por minuto. Gasometria arterial: ↑pH=7,63;
↓pCO2=18 mmHg; HCO3=25 mEq/L.
1. Qual o distúrbio ácido-básico apresentado? Justifique.
Alcalose respiratória
2. Existe processo de compensação? Justifique.
Não, pois o HCO3 está normal.
3. Qual é a provável causa desse distúrbio?
O mecanismo é hiperventilação, por provável etiologia emocional, aumentando muito a
eliminação de CO2 e reduzindo a pCO2 sanguínea.
Referências
Mendes NT. Desequilíbrio Hidroeletrolítico e distúrbios ácido-básicos. In: Cheregatti AL e Amorin CP.
Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Ed Martinari, 2 ed., São Paulo, 2010. Cap. 5, p. 138-149.

Miranda MPF. Distúrbios no equilíbrio ácido-base. In: Padilha et al (Orgs). Enfermagem em UTI: cuidando do
paciente crítico. São Paulo: Manole, 2010. Cap 32, p. 730-744.

Oliveira LB; Campanili TCGF. Exames laboratoriais em Unidade de Terapia Intensiva. In: Lopes JL e Gengo RCG.
Interpretação de Exames laboratoriais: guia prático para enfermeiros e estudantes de enfermagem. Rio de
Janeiro: Águia Dourada. 2015. Cap17, p. 333- 339.

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