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Publicado em NOVA ESCOLA Edição 4, 15 de Setembro | 2016

Gestão | Reportagens

O valor das metas e da formação


Integrantes de projetos piloto em Recife e Manaus, duas tradicionais escolas
estaduais que apresentavam péssimos resultados elevam os níveis de
aprendizagem e se tornam modelos para a rede
Aurélio Amaral

Segunda escola em atividade mais antiga do país, o antigo Ginásio Pernambucano, em Recife, tem uma
história gloriosa. Inaugurado em 1825, ele formou boa parte da elite intelectual do Nordeste - entre
seus ex-alunos, está o presidente da República Epitácio Pessoa (1865-1942), por exemplo. No passado
recente, no entanto, a instituição não obtinha bons resultados e, além disso, o estado de conservação
de seu prédio, um casarão tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
era tão crítico que, em 1998, foi fechado e os alunos transferidos para outro local. Em Manaus, o
tradicional CE Amazonense Dom Pedro II, fundado em 1886, também apresentava, na década passada,
um cenário preocupante com altos índices de retenção e evasão. Hoje, a situação é bem diferente nas
duas instituições, que participaram de projetos piloto de gestão para escolas de Ensino Médio.

O Programa de Desenvolvimento dos Centros de Ensino Experimental (Procentro), do qual o Ginásio


Pernambucano foi pioneiro, teve início com um grupo de empresários que, em parceria com o governo
estadual, quis recuperar a excelência da escola centenária e, posteriormente, difundir o modelo de
gestão para a rede. "O projeto priorizou o Ensino Médio porque é o segmento em que os índices de
evasão e repetência são mais preocupantes", explica Thereza Barreto, consultora do Instituto de Co-
Responsabilidade pela Educação (ICE), em Recife, e diretora do Ginásio Pernambucano de 2004 a 2008.

Terminada a reforma das instalações físicas, feita exclusivamente com investimentos privados, o
Ginásio Pernambucano ganhou novos gestores. Por decreto, foi aberta uma exceção à modalidade de
eleição (praxe no estado) para selecionar candidatos com base na análise de currículo, em prova e em
entrevista. A equipe foi formada por um diretor, coordenadores pedagógico e administrativo-
financeiro, professores responsáveis exclusivamente pela biblioteca e pelo laboratório, um secretário e
um educador para cuidar da mobilização social.

O quadro docente foi escolhido por triagem, que exigia formação específica e, no mínimo, uma
especialização. Um grupo de 50 professores participou de uma formação de quatro meses, conduzida
pelo ICE. O programa incluiu reciclagem sobre legislação e matriz curricular e análise de vídeos
mostrando práticas de sala de aula. Orientações sobre como trabalhar os conteúdos de forma a
valorizar a autonomia do jovem, um dos pilares do modelo de gestão, complementaram a formação.
Foram escolhidos, então, 25 educadores, que, a partir de 2004, começaram a colocar o modelo em
prática, de acordo com um plano de metas. Esse corpo docente tinha a responsabilidade de lecionar
para os 320 alunos das primeiras turmas de 1º ano do novo Centro de Ensino Experimental Ginásio
Pernambucano. Como um incentivo para que alcançassem os objetivos foram oferecidos bônus de até
30%.

O currículo também sofreu mudanças. Como a escola recebe alunos com formação muito diversa
durante o Ensino Fundamental, o principal objetivo no 1º ano é corrigir lacunas de aprendizagem. Para
isso, são oferecidas aulas eletivas de reforço àqueles que apresentam dificuldades. As disciplinas
optativas compõem 25% da grade curricular e são intercaladas com as regulares dentro do tempo
integral, das 7h30 às 17 horas. Entre as opções estão protagonismo juvenil, em que se desenvolvem
atividades de empreendedorismo; projeto de vida, que incentiva o planejamento de metas pessoais e
profissionais; e oficinas interdisciplinares, como a de cinema, em que se trabalham ótica, história da
arte e Língua Estrangeira.
No 3º ano, quando os planos para o futuro começam a amadurecer, os estudantes podem optar por
"aulões" dirigidos à preparação para o vestibular ou orientações para o mercado de trabalho, por
exemplo, encontros com profissionais que falam sobre como se comportar em uma entrevista de
emprego ou elaborar um currículo. "Dessa forma, evita-se a evasão dos que preferem trabalhar e
acham que a orientação para a universidade não os levaria a lugar nenhum", explica Thereza. A
aprovação no vestibular vem tendo ótimos resultados. Em 2006, ano em que se formou a primeira
turma do Ginásio, a média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi de 48, quatro pontos
superior à nacional e seis acima da estadual. No ano passado, 67% dos formados deram continuidade
aos estudos em universidades.

A experiência tornou-se, em 2008, política pública do estado de Pernambuco e o Programa Integral


está hoje em 160 escolas. O ICE deixou de atuar diretamente na gestão do Ginásio Pernambucano -
que passou a chamar-se Escola de Referência Ginásio Pernambucano - para que ele caminhasse com
as próprias pernas, sob a direção de Neuza Pontes. "Quando se forma um grupo sólido, é possível dar
continuidade ao trabalho, perseguindo o objetivo de levar os alunos a aprender cada vez mais", afirma
Neuza.

Recife

"Quando se forma um grupo sólido, é possível dar continuidade ao trabalho, perseguindo o objetivo de
levar os alunos a aprender cada vez mais." Neusa Pontes, diretora da Escola de Referência Ginásio
Pernambucano, em Recife (segunda à esquerda, com parte da equipe gestora)

Escola de Referência Ginásio Pernambucano

Alunos: 760
Professores: 31
Média no Enem 2009: 582,47

Metas e resultados em 2010

Atingir uma taxa de aprovação de pelo menos 30% no vestibular. Superou: Foi de 70%.
Aumentar em 5% o rendimento em avaliações externas. Superou: Cresceu 10%.
Reduzir a evasão a menos de 2%. Cumpriu: Foi zero.

Capacitação e novo projeto são a base da mudança

A formação também é o foco do Projeto-Piloto de Ensino Médio do Amazonas, idealizado pela


Secretaria de Estado da Educação para levar as escolas a alcançar bons resultados. Desde 2006 na
direção do CE Amazonense Dom Pedro II, em Manaus, Antônio Carlos Araújo passou por um processo
de formação de quase um ano na Secretaria. Só depois conduziu mudanças na escola e a liderou no
novo formato de gestão desenvolvido a partir de 2007. O primeiro passo foi a formulação do projeto
político-pedagógico (PPP) com o apoio dos funcionários e da comunidade. O documento formalizou a
intenção de estabelecer metas de aprendizagem e criar mecanismos para cumpri- las.

Com a implantação do projeto piloto, foram instalados laboratórios de Ciências e salas de informática.
A biblioteca foi reformada e passou a ser coordenada por um profissional com dedicação exclusiva. A
estrutura da equipe gestora foi reformulada: o binômio diretor-coordenador deu lugar a um quadro
que, além do diretor, conta com um coordenador administrativo, um pedagógico e três de área.

Esse trio se reúne três vezes por semana com os professores da área para discutir metodologias,
avaliar atividades e identificar problemas de aprendizagem. O tempo dedicado à formação continuada
se tornou obrigatório: cinco das 20 horas- aula semanais devem ser destinadas a essas atividades e ao
atendimento aos pais. Para dar conta da demanda de aulas, aumentou 7% o número de profissionais
efetivos. A exigência sobre a qualificação também se elevou: passou a ser requisito que eles tivessem
formação na área em que lecionam, o que implicou na renovação de cerca de 40% da equipe. Como
incentivo, foram oferecidos 14º e 15º salários, caso as metas de aprendizagem fossem cumpridas. Em
quatro anos, o objetivo de ultrapassar a taxa de 90% de aprovação foi atingido, chegando a 92%. "Os
bons resultados se devem ao trabalho intensivo com alunos que apresentam dificuldades, realizado
logo após o término do turno - o chamado sexto tempo letivo", diz o diretor.

Para acabar com a evasão, outra meta estabelecida, implantou-se a prática de levantar mensalmente
os dados de frequência e acionar a família sempre que detectadas faltas acima da média. Oferecer
atividades no contraturno também é uma das grandes estratégias do projeto para envolver mais os
jovens. No Dom Pedro II, professores se dedicam à organização de oficinas, como as de dança e xadrez,
e incentivam a participação especialmente daqueles que não demonstram entusiasmo com as aulas
regulares.

O modelo aprovado está presente em 19 instituições da capital e do interior. A expectativa é que, em


oito anos, ele seja levado às 217 escolas do estado. Antes de pôr em prática as novas diretrizes de
gestão, no entanto, o diretor precisa passar por uma imersão de duas semanas no Dom Pedro II ou no
Instituto de Educação do Amazonas, em Manaus, também participante do projeto-piloto. "O
intercâmbio faz com o que o gestor se antecipe a eventuais dificuldades que ele pode passar", diz
Edson Mello, gerente de Ensino Médio da Secretaria de Educação do Amazonas.

Manaus

"Os bons resultados se devem ao trabalho intensivo com alunos que apresentam dificuldades,
realizado logo após o término do turno - o chamado sexto tempo letivo."
Antônio Carlos Araújo, diretor do CE Amazonense Dom Pedro II, em Manaus (à esquerda, com parte da
equipe gestora)

CE Amazonense Dom Pedro II


Alunos: 1.200
Professores: 56
Média no Enem 2009: 555,95

Metas e resultados em 2010

Zerar a evasão escolar. Cumpriu


Reduzir a reprovação para menos de 10%. Superou: A taxa de repetência foi de 5%.
Aprovar uma média de 120 alunos por ano na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Não
atingiu: O número de aprovações chegou a 96.

Quer saber mais?

Contatos

CE Amazonense Dom Pedro II, tel. (92) 3234-8954


Escola de Referência Ginásio Pernambucano, tel. (81) 3181-4778
Thereza Paes Barreto

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