Você está na página 1de 19

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Noções gerais, Princípios, Tratados e convenções da Política ambiental

Victória Passinguice Waheia - 708217187

Curso: Gestão Ambiental


Disciplina: Introdução a
Políticas Ambientais
Ano de Frequência: 2º

Cuamba, Agosto, 2022


Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Noções gerais, Princípios, Tratados e convenções da Política ambiental

Victória Passinguice Waheia - 708217187

Curso: Gestão Ambiental


Disciplina: Introdução a
Políticas Ambientais
Ano de Frequência: 2º

Tutor: Eugénio Fernando Alexandre

Cuamba, Agosto, 2022


Índice
1. Introdução............................................................................................................................3

1.1. Objectivos:...................................................................................................................3

1.1.1. Geral:.....................................................................................................................3

1.1.2. Específicos:...........................................................................................................3

2. Metodologia.........................................................................................................................3

3. Noções gerais, Princípios, Tratados e convenções da Política ambiental...........................4

3.1. Origem e evolução.......................................................................................................4

3.2. Política Ambiental........................................................................................................4

3.3. Importância da política do ambiente............................................................................5

4. Princípios da Política ambiental..........................................................................................8

4.1. Princípio Poluidor-Pagador (ppp)................................................................................8

4.2. Princípio da prevenção...............................................................................................10

4.3. Princípio da Precaução – (pp)....................................................................................11

4.4. Princípio da participação............................................................................................13

5. Conclusão..........................................................................................................................16

6. Referencia Bibliográfica....................................................................................................17
3

1. Introdução

A política nacional do ambiente representa o instrumento através do qual o governo reconhece


de forma clara e inequívoca a interdependência entre o desenvolvimento e o ambiente.
Representa a base para um desenvolvimento sustentável de Moçambique, visando a
erradicação progressiva da pobreza e a melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos bem
como a redução dos danos sobre o ambiente. O objectivo principal da política do ambiente é
de assegurar um desenvolvimento sustentável do país, considerando as suas condições
específicas, através de um compromisso aceitável e realístico entre o progresso
socioeconómico e a protecção do ambiente.

A natureza deve ser obrigatoriamente utilizada com base nas suas características naturais para
o bem estar da população, manejada e conservada com cuidado e com a responsabilidade de
deixar um bom legado para as futuras gerações.

1.1. Objectivos:
1.1.1. Geral:
 Saber sobre a política ambiental.
1.1.2. Específicos:
 Identificar os objectivos da politica do ambiente;
 Descrever os principais da politica do ambiente.

2. Metodologia
A metodologia usada para a realização do presente trabalho foi a da consulta bibliográfica,
que consistiu na leitura e análise das informações de diversas obras que se debruçam acerca
do tema acima citado e também em consultas na internet.
4

3. Noções gerais, Princípios, Tratados e convenções da Política ambiental


3.1. Origem e evolução

A política ambiental da UE remonta a 1972, ano em que se realizou em Paris o


Conselho Europeu, no qual os Chefes de Estado e de Governo europeus (na sequência
da primeira conferência das Nações Unidas sobre o ambiente) declararam a
necessidade de uma política ambiental comunitária que acompanhasse a expansão
económica e apelaram à elaboração de um programa de acção. O Ato Único Europeu
de 1987 introduziu um novo título Ambiente, que constituiu a primeira base jurídica
da política ambiental comum, com vista a preservar a qualidade do ambiente, proteger
a saúde humana e garantir uma utilização racional dos recursos naturais. As revisões
posteriores do Tratado reforçaram o compromisso assumido pela Europa em matéria
de protecção ambiental e o papel do Parlamento Europeu no respectivo
desenvolvimento. O Tratado de Maastricht (1993) fez do ambiente um domínio de
intervenção oficial da UE, introduziu o procedimento de decisão e introduziu como
regra geral a votação por maioria qualificada no Conselho. O Tratado de Amesterdão
(1999) instituiu o dever de integrar a protecção do ambiente em todas as políticas
sectoriais da UE, tendo em vista promover o desenvolvimento sustentável. Com o
Tratado de Lisboa (2009), a «luta contra as alterações climáticas» tornou-se um
objectivo específico, assim como o desenvolvimento sustentável nas relações com
países terceiros. Uma nova personalidade jurídica permitiu à UE celebrar acordos
internacionais (Ferreira, 2012).

3.2. Política Ambiental

Política Ambiental é um conjunto de acções políticas governamentais que


visam a preservação do meio ambiente.

Segundo Antunes, (2005), Política Ambiental é um conjunto de acções


ordenadas e práticas tomadas por empresas e governos com o propósito de preservar o
meio ambiente e garantir o desenvolvimento sustentável do planeta. Esta política
ambiental deve ser norteada por princípios e valores ambientais que levem em
consideração a sustentabilidade.

Idem Política ambiental o conjunto de iniciativas governamentais coordenadas,


envolvendo diferentes organismos e sectores de intervenção pública, em articulação
5

com atores não-governamentais e produtivos, voltadas à protecção, conservação, uso


sustentável e recomposição dos recursos ambientais. O foco é não apenas o ambiente
biofísico, mas também o modo como as populações e as actividades produtivas
interagem com os diferentes ecossistemas. O ambiente construído, que inclui cidades e
infra-estruturas em geral, também faz parte do escopo das políticas ambientais.

3.3. Importância da política do ambiente

Actualmente, quase todos os governos e grandes empresas possuem políticas


ambientais. Além de mostrar para os cidadãos e consumidores quais são os princípios
ambientais seguidos, as políticas ambientais servem para minimizar os impactos
ambientais gerados pelo crescimento económico e urbano.

Para Antunes, (2005),Estas políticas são, portanto, importantes instrumentos para a


garantia de um futuro com desenvolvimento e preservação ambiental. São também
fundamentais para o combate ao aquecimento global do planeta (verificado nas
últimas décadas), redução significativa da poluição ambiental (ar, rios, solo e oceanos)
e melhoria na qualidade de vida das pessoas (principalmente dos grandes centros
urbanos).

De acordo com Lavieille, (2004), A política ambiental é constituída por um


conjunto de objectivos, dispositivos regulamentares e organizacionais, de recursos
humanos e financeiros. Para que os seus objectivos sejam satisfatoriamente atingidos,
ela precisa atender a algumas condições básicas:
 Deve ser factível, para que os objectivos possam ser alcançados. Os problemas
ambientais são complexos e exigem soluções que envolvem múltiplos atores e
instituições, não raro envolvidos em conflitos. Isso decorre do fato de que o
estabelecimento de regras de funcionamento das actividades e acções, sejam elas
públicas ou privadas, pela política ambiental, implica mudanças (por vezes onerosas)
de certas práticas. O conflito entre a política ambiental e a de energia é um exemplo:
como compatibilizar os instrumentos regulamentares da política ambiental com a
missão estratégica de que a demanda energética seja satisfeita?
 Deve contar com uma base legal sólida e pragmática, para assegurar que os
indivíduos, as instituições e os agentes económicos tenham comportamentos menos
agressivos ao meio ambiente, de forma a não comprometer a qualidade dos meios
6

receptores, nem exaurir o estoque de recursos ambientais. Isso significa que os


instrumentos coercitivos devem ser plausíveis e que as sanções, em caso de
transgressão, devem ser efectivas. Não basta que existam boas leis; é preciso que elas
sejam realistas e aplicáveis.
 Para que as regras sejam efectivas, é preciso instituições públicas consolidadas
legitimadas e fortalecidas. Isso implica não apenas rotinas e procedimentos
operacionais (da política ambiental) claros e transparentes, como também recursos
humanos capacitados.
 A integração e a harmonia com as demais políticas públicas (social, económica,
regional, urbana, educacional, energética, mineral, agrícola, de comércio exterior,
dentre outras) é um ponto nevrálgico. A política ambiental é transversal a todo o
tecido social e institucional, e depende do funcionamento do sistema político e
económico real. O seu carácter transversal faz com os programas ambientais
frequentemente sejam baseados em compromissos entre atores com interesses
divergentes, sem que isso implique pactos para a transgressão das leis.
 Sob o ponto de vida estratégico, as políticas ambientais devem estar em consonância
com directrizes políticas nacionais e com opções geopolíticas de escala internacional.
Acções voltadas especificamente ao enfrentamento das mudanças climáticas são um
bom exemplo. Nesse caso, a política ambiental estabelece parâmetros válidos para
outros eixos de políticas públicas nacionais e interage com a esfera da diplomacia, que
negocia nos fóruns internacionais os compromissos nacionais.
 Deve manter a flexibilidade para sempre aprimorar e criar novos instrumentos de
intervenção pública de protecção ambiental, em conformidade com a própria dinâmica
de evolução das relações entre sociedade, economia e recursos ambientais. Isso
significa adaptar-se, em tempo razoável, às mudanças em curso.
 Deve produzir regularmente informação, sobre o estado e a qualidade ambiental, de
forma a permitir avaliações e a adequação dos meios de regulação. A legitimidade das
acções ambientais do sector público depende, em grande medida, do grau de acerto e
eficiência das medidas adoptadas. Para tanto, a prática de monitoramento torna-se um
imperativo, assim como a definição de indicadores e a sua aferição sistemática.
Quanto maior o grau de transparência (incluindo-se acesso e inteligibilidade) das
informações, menor tende a ser o espaço para conflitos.
7

A análise das políticas públicas, inclusive da política ambiental, seja num contexto
internacional ou nacional, permite distinguir algumas fases sequenciais (Le Prestre,
2005):
 A primeira se refere às demandas e corresponde à definição do problema, que depende
de factores geográficos, históricos, culturais, científicos, económicos ou políticos. Em
função disto, a questão ambiental não é vista da mesma forma em todas as nações. A
distribuição dos recursos ambientais, das populações e dos sectores industriais difere
entre os países. Ao longo do tempo, as sociedades enfrentaram os problemas
ambientais de maneira diferente e em momentos diferentes. As diversas sociedades
não têm os mesmos valores, crenças, raízes culturais e símbolos, e o nível de
desenvolvimento económico induz problemas diversificados. A inexistência de certas
condições sociais e políticas pode retardar ou comprometer a conscientização e a
implementação de acções para resolver os problemas ambientais.
 Em seguida, vem a colocação do problema na agenda política, que diz respeito às
escolhas que devem ser feitas, com base em vários critérios. O interesse e a
disponibilidade de recursos dos Estados são limitados, enquanto as demandas são
crescentes. O processo de inserção dos problemas ambientais na agenda política pode
se dar de diferentes formas. Em alguns países são principalmente as iniciativas
externas que influenciam o processo; em outras situações, a agenda resulta de uma
mobilização política no interior próprio do governo. A agenda pode, também, ser o
produto de acções praticadas por indivíduos ou grupos com acesso privilegiado às
instâncias decisórias ou com a capacidade de fazer pressão sobre elas (lobbies,
associações).
 O processo de decisão, que varia de acordo com a natureza dos problemas ambientais,
cujas causas e dimensões podem ser pouco claras, da mesma forma que os seus
impactos económicos, sociais e políticos. O processo de decisão é determinante, na
medida em que diferentes critérios (como as regras de votação, a natureza dos atores
implicados, os tipos de consultas, o foro utilizado, o tempo disponível, a definição dos
parâmetros de decisão) podem levar a diferentes opções.
 A implementação, que diz respeito a medidas tomadas pelos governos ou organismos
internacionais visando a traduzir decisões da legislação nacional ou de acordos
internacionais em instrumentos jurídicos gerais e actos administrativos que traduzam
os objectivos e regras da política em acções concretas. Uma política não é apenas um
8

conjunto de decisões; ela também se materializa por meio de acções. Para tanto, é
fundamental a criação de instituições apropriadas e fortalecidas.
 Os impactos e a avaliação das decisões finalizam a lista. Os impactos se referem aos
efeitos que uma política provoca nos seus fins explícitos. A avaliação de uma política
permite aferir se os objectivos foram atingidos, quais os problemas que ocorreram e
quais correcções devem ser realizadas a partir das experiências adquiridas.

4. Princípios da Política ambiental


As políticas ambientais têm forte influência dos princípios poluidor-pagador (PPP),
prevenção, precaução (PP) e participação, que serão analisados a seguir.
Considera-se um princípio como uma proposição aceita como base de
raciocínio, uma regra geral que condiciona o comportamento, uma regra elementar de
uma ciência, de uma arte, de uma técnica. Um princípio ambiental pode ser o produto,
em proporções variáveis, de danos e ameaças ecológicas, do desenvolvimento da
ciência, de diversos interesses económicos, das relações entre os Estados, da pressão
por parte de organizações da sociedade civil, de demandas sociais, de constatações
científicas, de análises de especialistas e acordos diplomáticas, dentre outros aspectos.
O valor jurídico de um determinado princípio está condicionado ao valor jurídico dos
textos em que ele foi inserido ( Lavieille, 2004).
4.1. Princípio Poluidor-Pagador (ppp)
O PPP é o mais antigo e provavelmente o mais conhecido dos princípios gerais
que fundamentam as políticas ambientais. Ele foi definido pela primeira vez em Maio
de 1972, nas recomendações do Conselho da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico – OCDE, como princípio director, no plano económico,
do estabelecimento de políticas ambientais nos seus países membros.
A transferência aos poluidores dos custos da prevenção e da luta contra a
poluição, o incentivo para reduzi-la, por meio de pesquisas de produtos e tecnologias
menos poluentes, e a utilização mais racional dos recursos ambientais são os pontos
essenciais do princípio poluidor-pagador. Na sua formulação geral, este princípio
combina a exigência de eficácia (internalização das externalidades) e equidade
(imputação do custo ambiental ao poluidor).
O PPP afirma que o poluidor deveria se responsabilizar pelas despesas
relativas às medidas tomadas pelos poderes públicos para que o meio ambiente se
9

mantenha num estado aceitável. Em outras palavras, o custo destas medidas deveria
estar embutido no custo dos bens e serviços que estão na origem da poluição
provocada pela produção e/ou consumo. O fato de o poluidor repassar no preço de
seus produtos uma parte ou a totalidade dos custos ambientais não afecta a validade do
princípio. O importante é que o responsável pela emissão da poluição seja o primeiro
pagador, de forma a obrigá-lo a considerar os custos ambientais no seu processo
decisório. O poluidor representa simplesmente o ponto inicial da internalização das
deseconomias externas.
O repasse do custo suplementar aos preços finais dos produtos depende da
estrutura do mercado e da elasticidade-preço da demanda. Assim, o custo ambiental
deve ser considerado da mesma forma que outros custos (de mão de obra, de capital,
de matérias-primas) que incidem sobre a produção e que são pagos de acordo com as
proporções em que entram na produção, sendo normalmente cobertos pelos preços
finais de venda dos bens e serviços. A elevação do preço final do produto tende a
acarretar, no curto prazo, uma perda de competitividade no mercado. Entretanto, no
médio e no longo prazo, há uma tendência a que o produtor seja induzido a investir na
adoçam de tecnologias menos poluentes, que permitam reduzir os custos de produção.
O PPP não visa a punir os poluidores, mas sim modificar os comportamentos
dos produtores e dos consumidores. Uma vez que os produtos poluentes tendem a ficar
mais caros que os não poluentes, os consumidores passam a ter interesse em comprar
estes últimos e a qualidade do meio ambiente tende a ser preservada.
Junto com a internalização do custo ambiental foi prevista a proibição de
qualquer ajuda pública, tais como subvenções, vantagens fiscais, que pudesse provocar
distorções na concorrência entre os agentes económicos. Algumas excepções foram
consideradas pela OCDE, em 1974: as ajudas destinadas à pesquisa de tecnologias
antipoluentes; as ajudas às indústrias em que a aplicação do PPP poderia criar graves
dificuldades; e as ajudas ao controle da poluição em situações particulares, como nos
desequilíbrios inter-regionais. Há que se acrescentar que tais ajudas só são
compatíveis com o PPP na medida em que sejam limitadas a um determinado período
de tempo e que não introduzam distorções significativas no comércio e nos
investimentos internacionais (Leclerc apud Petit, 2009).
Mesmo que, de acordo com o PPP, o custo das operações necessárias à
prevenção e redução da poluição seja da responsabilidade do poluidor, é ilusório
pensar que os poluidores são responsáveis pelo custo global da luta antipoluição. Este
10

valor compreende o custo operacional necessário à prevenção da poluição, o custo de


funcionamento das estruturas que garantem a gestão dos recursos ambientais e o custo
da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, dentre outros, que provavelmente serão
rateados em várias instâncias.
Em 1989, a OCDE estendeu a aplicação do PPP, que até então valia apenas
para os casos de poluição crónica, às poluições acidentais provocadas por substâncias
tóxicas. Em 1991, os países membros da OCDE concordaram que, além dos custos
resultantes das medidas de prevenção e da luta contra a poluição, os custos dos danos
decorrentes da poluição deveriam ser da responsabilidade do poluidor.
Idem A aplicação do PPP implica algumas considerações. Em primeiro lugar, a
tarefa de estimar os custos externos não é fácil, na medida em que a poluição pode ser
provocada por um conjunto de factores e condições que ocorrem simultaneamente ou
sucessivamente. Da mesma forma, não é simples identificar os diferentes responsáveis
pela poluição. Em certas situações, é clara a ligação entre a poluição física e a
responsabilidade económica (caso da produção industrial); em outros casos, o poluidor
não é considerado responsável pela poluição que ele provoca (como no caso do uso de
veículos automotores).
Uma vez identificado o responsável pela poluição, a questão que se coloca é: o
que pagar e como pagar; ou seja, quais são os instrumentos a ser aplicados, de forma a
fornecer a melhor solução possível, do ponto de vista ambiental, económico e
administrativo?
No início, o PPP era um princípio de eficácia económica. Mas, ele evoluiu
muito, a ponto de se tornar um princípio jurídico. Em 1987, o PPP foi incorporado no
Ato Único Europeu que, no seu art. 25, explicita que: a política da Comunidade na
área ambiental fundamenta-se nos princípios da acção preventiva, da reparação,
prioritariamente na fonte, dos danos ambientais e no princípio poluidor-pagador.
Várias convenções internacionais fazem referência ao PPP, dentre elas, a Convenção
de Londres sobre a reparação, a luta e a cooperação em matéria de poluição por
hidrocarbonetos (1990) e a Convenção de Helsinque sobre a protecção e utilização dos
cursos d’água transfronteiriços e de lagos internacionais (1992).

4.2. Princípio da prevenção


É senso comum que uma política ambiental deve ser baseada prioritariamente
em acções preventivas. As acções de repressão ou de reparação (quando isto é
11

possível) são frequentemente mais complexas do ponto de vista ecológicas e


dispendiosas do ponto de vista financeiro. Portanto, é muito mais interessante prevenir
os danos ambientais do que remediá-los posteriormente.
De acordo com Lavieille, (2004). o princípio da prevenção, cabe ao
empreendedor público ou privado adoptar acções de prevenção de danos ambientais
comprovados, graves e irreversíveis, a um custo economicamente aceitável. Cabe
ainda utilizar as melhores técnicas disponíveis para evitar e controlar, na origem, as
acções agressivas ao meio ambiente. Trata-se, portanto, de medidas de gestão de riscos
conhecidos.
Para implementar estratégias preventivas, a variável ambiental deve ser
incorporada desde as primeiras fases de elaboração das políticas públicas sectoriais,
bem como nos projectos de empreendimentos do sector produtivo. Há que se
acrescentar que tais estratégias levam em conta todo o ciclo dos produtos (agrícolas,
industriais e outros), desde a concepção até a eliminação, passando pela
comercialização e o consumo.
Este princípio pode ser encontrado em tratados internacionais ambientais desde
os anos 1930 e está disposto em várias convenções internacionais, como a Convenção
da Basileia sobre Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu
Depósito, de 1989, e a Convenção da Diversidade Biológica, de 1992.
Idem A Avaliação de Impacto Ambiental – AIA é um exemplo importante de
aplicação deste princípio, na medida em que permite associar as preocupações
ambientais às estratégias do desenvolvimento social e económico, e constitui um
importante meio de operacionalizar uma política preventiva numa perspectiva de
curto, médio e longos prazos.
4.3. Princípio da Precaução – (pp)
O filósofo Hans Jonas (1984) afirma que devemos aprender a pensar e agir
com visão de longo prazo e evitar o irreversível, o que, na essência, corresponde ao
princípio da precaução. Este princípio deriva do Vorsorgeprinzip, do ordenamento
alemão, criado nos anos 1970, que reconhecia a necessidade e a legitimidade de não
ter de esperar a certeza científica, para implementar acções de prevenção contra as
ameaças ao meio ambiente. Ele serviu de base para justificar a política que visava
atingir reduções máximas de poluição empregando as melhores tecnologias
disponíveis, conhecidas como best available tecnologies (BAT) (Lavieille, 2004).
12

O princípio da precaução prolonga e completa o princípio da prevenção. Como


exposto acima, o princípio da prevenção se baseia numa avaliação de riscos, em
função de certezas científicas vigentes. No caso, sabe-se que o risco existe e que o
dano acontecerá se nenhuma acção for empreendida. Já o princípio da precaução
permite agir mesmo na ausência de toda certeza científica; ou seja, a falta de certeza
científica não deve justificar a falta de acção. As medidas preventivas devem ser
adoptadas em qualquer intervenção humana no meio ambiente, mesmo que haja
dúvidas quanto à gravidade e à irreversibilidade dos efeitos adversos desta
intervenção.
Na Declaração de 1990, o PP foi novamente endossado, garantindo a continuidade de sua
aplicação. Neste mesmo ano, a Declaração Ministerial de Bergen sobre Desenvolvimento
Sustentável da Região da Comunidade Europeia afirma que as políticas devem ser baseadas
no princípio da precaução.
Em 1991, a Convenção de Bamako insere, no seu art.4 (f), que “as Partes
devem cooperar umas com as outras no sentido de adoptar medidas de precaução
apropriadas para prevenir a poluição por meio de métodos de produção limpos”. Em
1992, o PP teve consagração universal no princípio 15 da Declaração do Rio de
Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento:
Segundo Lavieille, (2004), Para proteger o meio ambiente, medidas de
precaução devem ser amplamente aplicadas pelos Estados, de acordo com as suas
capacidades. Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência da certeza
científica absoluta não deve servir de pretexto para postergar a adoçam de medidas
efectivas visando prevenir a degradação ambiental.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1992, coloca de maneira
implícita o PP no seu preâmbulo: “quando exista ameaça de sensível redução ou perda
de diversidade biológica, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como
razão para postergar medidas a fim de evitar ou minimizar essa ameaça”. Já em 2000,
o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança insere expressamente no seu objectivo
a abordagem da precaução, conforme consagrada no princípio 15 da Declaração do
Rio.
Também em 1992, a Convenção sobre Mudanças Climáticas impõe às partes
que tomem medidas de precaução. O seu art. 3 tem redacção semelhante ao
supracitado princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992.
13

Posteriormente, várias outras convenções incorporaram o princípio da


precaução, que passou a fazer parte também de legislações internas de certos países,
dentre eles a Alemanha, os Países Baixos, a Austrália e a França. Como assinalado, o
PP é citado no Tratado de Maastricht, de 1992 (que emendou o Ato Único Europeu, de
1987) e, em 1997, no art. 174 do Tratado de Amsterdã sobre a União Europeia, que
trata da Política Ambiental da Comunidade. Em 1994 a Organização Mundial do
Comércio inclui a precaução no artigo 5.7 do Acordo sobre Medidas Sanitárias e
Fitossanitárias (sps Agreement).
O estatuto jurídico do PP nos tratados acima citados é heterogéneo. Em alguns,
ele está citado no preâmbulo, em outros, ele está inserido nos próprios dispositivos
destes actos como uma obrigação formal ou sob a forma de um dispositivo mais
preciso (Sadeleer, 2004).
Em Fevereiro de 2000, a Comissão Europeia publicou um comunicado sobre o
princípio da precaução, que expôs uma doutrina resultante de um processo de consulta
aberta. O texto analisa a noção de risco aceitável, a ideia de uma avaliação científica
preliminar e o carácter eminentemente político da decisão de precaução em função da
aceitabilidade do risco. Considerou, também, que o princípio foi reconhecido
progressivamente no direito ambiental internacional e se tornou, a partir daí, um
princípio desenvolvido e geral do direito internacional (Sands, 2004).
Autores como Godard et al. (2002) consideram que o PP não é apenas uma
ideia filosófica, um preceito de acção, ou um princípio político, mais sim uma norma
de comportamento que tem um alcance jurídico. Lavieille (2004) concorda com este
posicionamento e afirma que o PP, além de ser uma espécie de manual político e ético,
é também um princípio de direito e deve ser controlado e sancionado juridicamente.
Nestes últimos anos, duas teses são defendidas com relação às regras de
responsabilidade. Na primeira, as autoridades públicas de diferentes níveis somente
podem recorrer ao PP desde que tenham as condições requeridas. Na segunda, o PP
seria de aplicação directa e universal e deveria ser aplicado sem outra mediação, por
qualquer pessoa pública ou privada. Godard (2002) contesta este segundo
posicionamento, afirmando que tal procedimento provocaria, dentre outros aspectos,
insegurança jurídica e ineficácia, do ponto de vista dos custos e dos incentivos.
4.4. Princípio da participação
O posicionamento da sociedade diante de aspectos como custos, benefícios,
danos ambientais, riscos ambientais, dentre outros, relativos à implementação, pelo
14

governo ou pelo sector privado, de empreendimentos potencialmente degradadores, é


fundamental para efectividade e eficácia das políticas ambientais. Em última instância,
é a sociedade que paga directa ou indirectamente (por meio de aumento de impostos,
aumento de preços e tarifas ou diminuição do crescimento e da qualidade de vida) os
custos associados à degradação ambiental e à recuperação ou atenuação dos danos
ambientais.
Segundo Godard, (2002) o princípio da participação diz respeito ao direito que
os diferentes atores da sociedade (cidadãos, associações, grupos, organizações) têm,
no sentido de uma acção activa no enfrentamento dos problemas ambientais. Ele está
directamente ligado ao direito à informação, que é uma condição essencial para
garantir uma efectiva participação da sociedade. Na área ambiental, o processo
decisório está fortemente baseado na participação social, que se dá em diferentes
níveis, variando desde a escala das regulamentações gerais até a execução de gestão de
projectos locais.
O crescente envolvimento da sociedade civil, por meio de vários mecanismos,
constitui uma tendência marcante do Estado desde o final do século passado.
Entretanto, a questão se coloca de forma bem diferenciada, de acordo com o grau de
amadurecimento político de cada sociedade e com a especialidade do sector de
actuação governamental em questão.
A emergência de formas de representação de segmentos sociais organizados é
uma decorrência moderna de um fenómeno que já se verificava no século XIX.
Naquela época, o recuo liberal da função protecção social exercida pelo Estado, na
Grã-Bretanha (as anti-corn laws), assim como a degradação das condições de vida,
levaram ao aparecimento de formas espontâneas de organização dos grupos
desfavorecidos, em torno de associações de ajuda mútua, cooperativas e sindicatos.
Eram instâncias voltadas ao bem-estar e à defesa de interesses corporativos.
O princípio da participação foi inscrito de forma explícita na Declaração do
Rio, de 1992, quando ela afirma, no seu princípio, que as questões ambientais são
mais eficazmente tratadas quando envolvem a participação, em nível apropriado, de
todos os cidadãos implicados. Afirma também que os Estados devem facilitar e
incentivar a conscientização e participação do público, mediante ampla divulgação das
informações cabíeis (Godard, 2002).
Dispor de uma base sólida de informações sobre o estado dos recursos
ambientais, dos factores de degradação ambiental e dos riscos potenciais é uma
15

condição fundamental para que haja uma participação efectiva da sociedade no


processo decisório e nas acções de prevenção e controle ambiental.
A Comissão Económica para a Europa, das Nações Unidas, adoptou, em Arhus
(Dinamarca), a Convenção sobre Acesso à Informação, Participação Pública no
Processo Decisório e Acesso à Justiça em Matéria de Meio Ambiente (conhecida
como Convenção de Aarhus), que entrou em vigor em Outubro de 2001. Estes três
direitos – o direito de saber, o direito de participar e o direito de acesso à justiça – são
os pilares da convenção, que foi elaborada pelos governos, com a participação activa
das ONGs ambientalistas.
O art. 4 desta convenção afirma que cada parte deve fazer com que as
autoridades públicas coloquem à disposição da população, sob o amparo das
legislações nacionais, as informações ambientais que lhes são requeridas, respeitando
certas regras apresentadas no texto. O art. 5 trata da organização e difusão de
informações ambientais e o art. 6 diz respeito a três formas participação pública: nas
decisões relativas a certos empreendimentos, como indústrias e obras públicas; no
desenvolvimento de planos, programas e políticas relacionadas ao meio ambiente; e na
preparação de leis, regras e normas legais.
Idem A Convenção foi complementada posteriormente por uma emenda que
aprofunda as obrigações impostas às partes, no que diz respeito à participação do
público em processos decisórios sobre os organismos geneticamente modificados –
OGMs e por um protocolo sobre os registos de rejeito e transferência de poluentes.
Desde o século passado, várias convenções internacionais incluíram nos seus
textos a necessidade da troca de informações ambientais e do intercâmbio científico
entre as partes. É o caso; da convenção sobre zonas húmidas de importância
internacional, particularmente como habitats de aves aquáticas, chamada de
Convenção de Ramsar (1971); da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
Marítimo (1982); da Convenção de Viena para a protecção da camada de ozónio
(1985); da Convenção sobre a protecção e o uso dos cursos de água transfronteiriços e
dos lagos internacionais (1992); da Convenção das Nações Unidas de combate à
desertificação, nos países afectados por seca grave e/ou desertificação (1994); e da
Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (2001).
No Brasil, o princípio da participação pública na esfera ambiental está inscrito
na Constituição Federal e está previsto também na Lei 6.938/81, que instituiu a
Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA. Esta lei criou o Conselho Nacional de
16

Meio Ambiente – Conama (Fonseca et al., 2012), o órgão consultivo e deliberativo do


Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, que tem, na composição de sua
plenária, diferentes representantes da sociedade participando.
De forma semelhante, foram criados vários espaços institucionalizados de
participação da sociedade no processo de gestão ambiental, como: os Conselhos
Estaduais e Municipais de Meio Ambiente, o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, os Comités de Bacia Hidrográfica, os Conselhos Consultivos ou
Deliberativos das Unidades de Conservação.
Segundo Fonseca et al., (2012), Em 2003, foi promulgada a Lei sobre Direito à
Informação Ambiental, que dispõe sobre o acesso público aos dados e às informações
ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama. Qualquer
indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso a
tais dados e informações, que deverão ser fornecidos no prazo de 30 dias. É
assegurado o sigilo comercial, industrial, financeiro ou qualquer outro sigilo protegido
por lei. (Art. 2 parágrafos 1 e 2).
17

5. Conclusão
Chegando ao fim do trabalho conclui-se que a política ambiental em geral, e os
instrumentos analisados, em particular, têm sua génese e evolução marcadas por um
complexo conjunto de circunstâncias. São, por um lado, reflexo de uma maré
internacional de ambientalização das políticas públicas e de aumento da capacidade de
regulação das acções humanas em suas interfaces com o meio ambiente. Mas são, por
outro lado, profundamente moldados, em sua prática, pelo perfil político--institucional
e pelas próprias características da economia do País.
Políticas ambientais avançaram consideravelmente na última década,
envolvendo cada vez mais actividades. Mas, há muito que se apreender e fazer. Pode-
se dizer que apenas se iniciou a trilhar o caminho da gestão ambiental consciente em
direcção à sustentabilidade das actividades antrópicas. Os problemas causados pela
nossa civilização ao ambiente são imensos e estão fugindo ao controle. Conferências e
normas em todos os níveis não têm tido poder para impedir que os seres humanos
continuem agindo como irracionais salvas que destroem o seu ambiente,
impossibilitando a sustentabilidade de sua própria sobrevivência.
18

6. Referencia Bibliográfica
1. Antunes, Paulo de Bessa. (2005).Política Nacional do Meio Ambiente.
2. Ferreira, Roberta Celestino. (2012). A evolução da Política Ambiental no mundo.
3. Fonseca, I. F.; Bursztyn, M. & Moura, A.M. (2012). Conhecimentos Técnicos,
Políticas
4. Godard, Olivier. (2002). Traité des nouveaux risques– Pré caution, crise, assurance.
Paris: Gallimard.
5. Jonas, Hans. (1984). Th e Imperative of Responsibility: In Search of Ethics for the
Technological Age. Chicago: University of Chicago Press.
6. Lavieille, Jean-Marc. (2004). Driot International de l’Environnement. Paris: Ellipses.
7. Le Prestre, Philippe. (2005). Protection de l’environnement et relations
internationales:
8. Leclerc, S. (2009). Le príncipe pollueur-payeur. In: Petit, Yves (Org.). Droit et
politiques de l’environnement. Paris: La Documentation Française.
9. les dé fi s de l’é copolitique mondiale. Paris: Armand Colin.
10. Públicas e Participação: O Caso do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Revista de
Sociologia e Política.
11. Sadeleer, N. (2004). O Estatuto do Princípio da Precaução no Direito Internacional. In:
Varella, Marcelo. Princí pio da precaução. Belo Horizonte: ESMPU; Del Rey.
12. Sands, P. (2004). O Principio da Precaução. In: Varella, Marcelo. Princí pio da
precaução.Belo Horizonte: ESMPU; Del Rey.

Você também pode gostar