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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Resolução dos Exercícios

Sárdio dos Santos Ramalho, Código: 708220853

Curso de Licenciatura em ensino de Educação


Física e Desportos

Cadeira: Desenvolvimento Motor

Ano: 2021
Turma: G
To

Nampula, Outubro 2022


Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Resolução dos Exercícios

Trabalho de Carácter Avaliativo da Cadeira de


Desenvolvimento Motor a ser entregue no
Instituto de Educação à Distância-Nampula

Tutor: Alberto Francisco Malaqueta

Sárdio dos Santos Ramalho, Código: 708220853

Nampula, Outubro 2022

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Índice
Parte I ................................................................................................................................ 1

1. Introdução e Contextualização ..................................................................................... 1

1.1. Objectivos do Trabalho ............................................................................................ 2

1.1.1. Objectivo Geral..................................................................................................... 2

1.1.2. Objectivos Específicos ......................................................................................... 2

1.2. Metodologias ............................................................................................................ 2

Parte II - Revisão de Literatura ...................................................................................... 3

2. A Introdução à Filosofia .............................................................................................. 3

2.1. A Génese e Conceitos, Métodos, Finalidades da Filosofia ...................................... 3

2.1.1. A Géneses da Filosofia - A Perspetival Histórica ................................................ 3

2.1.2. Origem do Termo Filosofia .................................................................................. 5

2.1.3. Conceito da Filosofia ............................................................................................ 6

2.2. A Universalidade e Particularidade da Filosofia ...................................................... 7

2.2.1. As Etapas da Filosofia Grega Clássica ................................................................. 8

2.2.2. Funções da Filosofia ............................................................................................. 9

2.2.3. As Atitudes Filosóficas ....................................................................................... 11

3. A Dicotomia das Disciplinas da Filosofia e a sua Diferença com as outras


Disciplinas ........................................................................................................................ 12

Parte III - A Pessoa Como Sujeito Moral (A Pessoa Humana) .................................. 14

3.1. O Conceito de Pessoa nas várias Perspectivas (Jurídica, Psicológica, Ética,


Personalista, Social, Metafísica) ....................................................................................... 14

3.1.1. Na Perspetival Jurídica ....................................................................................... 14

3.1.2. Na Perspetival Psicológica ................................................................................. 15

3.1.3. Pessoa na Perspetival Ética e Metafísica ............................................................ 15

3.1.4. Pessoa na Perspetival Social ............................................................................... 16

3.1.5. Pessoa na Perspetival Personalista ..................................................................... 16

3.2. A Pessoa em Suas Relações ................................................................................... 17


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Parte IV ........................................................................................................................... 19

4. Considerações Finais ................................................................................................. 19

5. Literatura Citada ........................................................................................................ 20

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Parte I

1. Introdução e Contextualização

“Viver sem a filosofia é propriamente como ter os olhos


fechados sem nunca se esforçar por abri-los, e o prazer de
ver todas as coisas que a nossa vista descobre não é
comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas
coisas que se descobrem por meio da Filosofia” (Descartes
1995: 108).

Com as palavras acima citadas, de acordo com o mesmo filósofo Descartes (1995:
108) diz que o estudo de filosofia aconselha o comprometimento da reflexão, da pesquisa e da
busca incessante pela informação que explica os factos existentes no âmbito das relações
moldadas com a natureza, com outros homens e consigo mesmo. Este conhecimento é
abrangido em toda a acção humana.

Segundo Marçal (2009) a filosofia resulta de uma ruptura do saber já existente com o
saber a ser adquirido, haja vista ela problematizar e convidar à discussão. O estudo de
filosofia é essencial porque oferece as condições teóricas para o desenvolvimento da
consciência crítica pela qual a experiência vivida é transformada em experiência
compreendida.

A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos


fenômenos. Procura a inteligibilidade numa dinâmica que considera o saber enquanto alicerce
para a transformação. Exige coragem, pois descobrir a verdade obriga o enfrentamento do
poder e suas diversas formas de manifestação como também aceitação do desafio à mudança.

De uma forma concisa a filosofia é considerada ciência por muitos pensadores,


conhecimento das coisas pelas causas, pelas razões: o saber, como ciência, nos diz que a coisa
conhecida não só é assim, como nos aparece, mas tem de ser necessariamente assim. E
distingue-se do saber vulgar, da opinião, que nos diz que as coisas conhecidas estão de uma
determinada maneira, mas não dá a razão pela qual estão necessariamente assim. Daí o saber
vulgar, a opinião, não ser estável e segura, mesmo quando verdadeira.

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1.1.Objectivos do Trabalho

O sucesso de qualquer trabalho de pesquisa depende em parte da clareza na definição


dos objectivos que se pretendem alcançar. Para o presente trabalho definem-se os seguintes
objectivos:

1.1.1. Objectivo Geral


 O objectivo geral do trabalho é analisar e conceituar o método, objecto e os
fundamentos da Filosofia (conceito, funções) relacionando-a com as outras ciências.
1.1.2. Objectivos Específicos

Como objectivos específicos cabem destacar três principais a serem tratados no


presente trabalho de pesquisa:

 Dizer acerca da génese e conceitos, métodos, finalidades da filosofia;


 Descrever as disciplinas da filosofia e etapas da filosofia; e,
 Explicar acerca da pessoa como sujeito moral (a pessoa humana).
1.2.Metodologias

Para a realização deste estudo utilizou-se a pesquisa de cunho bibliográfico e


exploratório, pelo facto de ter como principal finalidade desenvolver, esclarecer e tentar
relacionar conceitos e ideias, para a formulação de abordagens mais condizentes com o
desenvolvimento de estudos posteriores.

O estudo exploratório tem o objetivo de “familiarizar-se com o fenômeno e obter uma


nova percepção a seu respeito, descobrindo assim novas ideias em relação ao objeto de
estudo” (Mattos, 2004, p. 15).

A pesquisa bibliográfica, que, na perspectiva dos estudos de Silva e Schappo (2002)


possibilita a composição de um diagnóstico da situação investigada, além de ampliar as
informações referentes ao tema estudado, ou seja:

“É o primeiro passo de todo o trabalho científico. Este tipo de pesquisa tem por finalidade,
especialmente quando se trata de pesquisa bibliográfica, oferecer maiores informações sobre
determinado assunto, facilitar a delimitação de uma temática de estudo, definir os objectivos ou
formular as hipóteses de uma pesquisa ou, ainda, descobrir um novo enfoque para o estudo que
se pretende realizar” (Silva & Schappo, 2002, p. 54).

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Parte II - Revisão de Literatura

2. A Introdução à Filosofia

“Pensar filosoficamente é uma aventura uma viagem aos


limites do pensamento e do entendimento” (Law, 2008, p.
10).

Segundo Chauí (2000, p. 5-9) a Filosofia é uma disciplina que está presente em todos
os tempos e lugares. Desde a antiguidade foi considerada a mãe de todas as ciências, pois ela
busca a verdade na sua totalidade.

De acordo com Mondin (1997:7) diz que o termo “filosofia” é composto de dois
termos gregos: phílos, que significa amigo de, amante de, afeiçoado a, que gosta de, que tem
gosto em, que se compraz em, que busca com afã, que anseia, etc., e sophía, que significa
sabedoria, saber, ciência, conhecimento, etc. Assim pois, etimologicamente, o termo filosofia
significa: amor à sabedoria, gosto pelo saber.

Filósofo é aquele que ama o saber, tem gosto pela sabedoria, conhecimento e busca
incansavelmente os conhecimentos de forma radical, profunda e total (Mondin 1997:7).

2.1.A Génese e Conceitos, Métodos, Finalidades da Filosofia


2.1.1. A Géneses da Filosofia - A Perspetival Histórica

Conhecer a História da Filosofia é primordial para compreender como o pensamento


ocidental foi e vem sendo construído. Em seu texto: “A História da Filosofia e a formação do
pensamento ocidental”; Fernandes e Junior (2009) associam o modelo de pensamento
ocidental com a história do pensamento filosófico Grego, pautando-se na assertiva de Jaeger
(2003 citado por Fernandes e Junior, 2009): “As origens de pensamento filosófico grego têm
sido consideradas, geralmente, dentro do quadro tradicional da história da filosofia”.

De acordo com Pacheco e Nesi (2007, p. 20) os primórdios da filosofia, compreendida


como história do pensamento ocidental, remontam à Grécia Antiga. Isso significa que, embora
exista também uma história do pensamento oriental, frequentemente também considerado e
chamado de filosofia, na qual se encontram, por exemplo, o budismo e o confucionismo, o
conjunto destas e outras doutrinas é objecto de interesse e pesquisa mais na perspectiva de
doutrina religiosa ou de espiritualidade do que propriamente área de investigação da Filosofia.

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Segundo o mesmo autor a filosofia nasceu na Grécia no século VI a.C., com os
filósofos que antecederam a Sócrates, chamados pré-socráticos. A passagem da consciência
mítica e religiosa para a racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de
consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de certos limites, coexistem
na nossa.

O poeta grego Hesíodo no século VIII a.C., relatou o mito da origem do mundo,
segundo o qual Gaia (terra) surgiu do Caos inicial e, depois, pelo processo de separação,
gerou Úrano (céu) e Pontós (mar). Gaia uniu-se, então, a Úrano e deu início às gerações
divinas. Nos mitos gregos, terra, céu e mar não são apenas seres da natureza, mas divindades

Alguns filósofos gregos explicam que, a partir de um estado inicial de indefinição


ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e húmido etc.), que vai gerar os
elementos naturais como o sol (quente), o ar (frio), a terra (seca) e o mar (húmido). Para eles,
a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união
desses opostos explica os fenômenos meteorológicos, as estações do ano, o nascimento e a
morte de tudo o que vive.

De frisar que tudo começou com Tales. O grego Tales de Mileto (624-546 a.C.) é
considerado o marco inicial da história da Filosofia. Ele se encontra entre os chamados
filósofos pré-socráticos (os que viveram antes de Sócrates). A preocupação principal destes
pensadores originais e originantes era a de desvendar para estes gregos os segredos do
universo, compreender a natureza num sentido amplo, a physis. Por isso, dizemos que a
Filosofia primeira era cosmológica (estudo do cosmos).

Tales inaugura uma nova atitude do homem em relação ao mundo. Conforme Pacheco
e Nesi (2007, p. 20) começou a questionar racionalmente a natureza com perguntas como
essas:

“Por que uma planta cresce? Por que ela se desenvolve e morre? Por
que os seres vivos nascem, desenvolvem-se e morrem? O que
garante a vida dos seres vivos? Qual o princípio (arkhé) que origina
todos os seres?”.

Tales não se satisfaz com as respostas dadas pela mitologia, que atribuía a realidade e
o sentido de todas as coisas à ação dos deuses e a fenômenos inexplicáveis. “Ele procurava

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investigar, compreender o mundo de modo racional” (questionando). Conforme Pacheco e
Nesi (2007, p. 21) Tales:

“Acredita que há razões, motivos, em função dos quais uma planta, por
exemplo, nasce, cresce e morre. Fundamenta a investigação de Tales a
concepção de que o nascimento, o crescimento e a morte são efeitos que
podemos perceber, mas que existe uma causa que originou esta mudança.
Esta relação de causa e efeito, o princípio da causalidade”.

É o caminho de Tales para o entendimento racional da realidade e “marca o


surgimento da Filosofia como tentativa de investigação racional da realidade” (ibidem, p. 21).

2.1.2. Origem do Termo Filosofia

A Filosofia é obra humana. É da atitude do homem que pensa. Ao fazê-lo, constrói a


sua existência e origina a Filosofia. Pensar é filosofar. Tudo começou na Grécia, banhada pelo
mar Mediterrâneo, cujas águas foram o berço de civilizações e impérios. É na Grécia, com
suas costas irregulares e suas muitas ilhas, que um punhado de homens contempla os
mistérios do céu e do mar. O homem exercita o pensamento, diante do mistério. O homem
que pensa é inquieto e suspeita do que vê. A realidade como se apresenta instiga o
pensamento. O exercício do pensamento desvela mistérios, revela o escondido, descobre a
realidade. Segundo Martins Filho (1997, p. 19) sobre as origens da Filosofia:

“Nas origens da Filosofia, as explicações que os homens davam para os


fenómenos e para as coisas eram de caráter mitológico: forjavam mitos em
que os deuses permeavam todos os acontecimentos (lendas e estórias de seres
fabulosos, heróis e divindades) e que eram transmitidos de geração em
geração através da tradição oral. Os gregos são o primeiro povo a dar
explicações racionais às coisas, surgindo daí a Filosofia. No entanto, nos seus
começos, a Filosofia não se distinguia das demais ciências: o conhecimento
humano primitivo era uma amálgama único”.

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 23) o termo filosofia nasceu no “círculo


socrático”, quer dizer, no círculo de Sócrates e dos discípulos dele, ou talvez antes ainda no
“círculo pitagórico”, quer dizer, no círculo de Pitágoras e dos seus discípulos. Eram
chamados de “filósofos” os homens que buscavam a “sabedoria suprema”, quer dizer, “a
sabedoria última e radical da vida e das coisas”, ou seja, o saber que busca a dimensão última
e radical da vida e das coisas.

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2.1.3. Conceito da Filosofia

Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis, Filosofia é o “Estudo geral


sobre a natureza de todas as coisas e suas relações entre si”. Esta definição é tão generalista,
que continua-se a nos perguntar o que é Filosofia? Isto mostra que uma definição
dicionarizada não basta para explicar a complexidade conceitual do termo Filosofia. Portanto,
faz-se necessário um conjunto de ideias que se complementam para construirmos um sentido
para a Filosofia. Pode-se buscar um significado para filosofia a partir de sua etimologia:

“A palavra filosofia é grega. É composta de duas outras: philo e sophía. Philo


quer dizer “aquele ou aquela que tem um sentimento amigável”, pois deriva
de philía, que significa “amizade e amor fraterno”. Sophía quer dizer
“sabedoria” e dela vem a palavra sophós, Sábio. Filosofia significa, portanto,
“amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito pelo saber” (Chauí, 2006,
p.25).

Assim, de acordo com Marilena Chauí:

“Filosofia significa, portanto, “amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito


pelo saber”. Assim, filosofia indica a disposição interior de quem estima o
saber, ou o estado de espírito da pessoa que deseja o conhecimento, a procura
e o respeita” (Chauí, 2006, p.25).

Em qualquer dicionário básico de Filosofia é possível perceber que o termo filosofia é


formado pelos radicais: “Sophia-saber e Philo-amizade, o que nos conduz à síntese: “amizade
pelo saber” ou “filiação ao saber”.

Se levar-se em consideração somente estas formas de pensar a filosofia, tem-se a ideia


de uma prática filosófica como mera contemplação, algo que se exerce apenas no campo das
ideias. Porém, ainda guiada pela etimologia da palavra, vai-se constatar que esta sugere afecto
(philia) pelo saber, portanto não há como estabelecer uma relação directa com a
contemplação. Dessa forma, a etimologia acima citada a respeito da palavra filosofia, por si
só, não possibilita estabelecermos um sentido definidor do termo, diante da complexidade que
a palavra suscita. O que me leva a concluir que não é possível entendermos realmente a
filosofia através, somente, de sua etimologia.

É em Deleuze e Guatarri que encontro uma problematização para pensar-sE a filosofia


de modo mais complexo:

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“Ela não é contemplação, pois as contemplações são as coisas elas mesmas enquanto vistas na
criação de seus próprios conceitos. Ela não é reflexão, por que ninguém precisa de filosofia
para refletir sobre o que quer que seja: acredita-se que dar muito à filosofia fazendo dela a arte
da reflexão, mas retira-se tudo dela, pois os matemáticos como tais não esperaram jamais os
filósofos para refletir sobre a matemática, nem os artistas sobre a pintura ou a música; dizer
que eles se tornam então filósofos é uma brincadeira de mau gosto, já que sua reflexão pertence
à sua criação respectiva. E a filosofia não encontra nenhum refúgio último na comunicação,
que trabalha em potência a não ser de opiniões, para criar o “consenso” e não o conceito”
(Deleuze & Guatarri, 1992, p.14).

Segundo Deleuze: “A tarefa da filosofia é, antes de qualquer coisa, criar conceitos. O


filósofo é inventor de conceitos” (Deleuze citado por Vasconcellos, 2005). Assim para
entender melhor a filosofia como criação de conceito, Deleuze explica que:

“O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a


filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois
os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais
rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos” (Deleuze & Guatarri,
1992, p.13).

Pode-se concluir que “a questão do conceito da filosofia é o ponto singular onde o


conceito e a criação, se remetem um ao outro (Deleuze & Guatarri, 1992, p.20).

2.2.A Universalidade e Particularidade da Filosofia

A universalidade e a particularidade é uma da característica peculiar da filosofia. O


que se dá com a filosofia é que esta representa uma compreensão total (Reale, 2000:19) uma
vez que busca a unidade ou a totalidade da conexão dos factos e fenómenos. A universalidade
supera o nível sectorial e permite estabelecer um diálogo entre os pensadores de todos os
tempos e lugares.

A visão universalista dos factos assume um carácter transcendental, que se abre para
uma perspectiva de conjunto. Pode-se ler isto na obra A República de Platão (sd:180). Ali, o
filósofo apresenta uma reflexão acerca da natureza, das exigências e do sentido da existência
humana (Lorieri e Rios, 2001) ou para um olhar da Coruja da Minerva (Castiano, citado por
Ngoenha, 2004).

É nesta perspectiva que Kant (citado por Alves e Carvalho, 1999:51) considerou o
filosofar como um processo recriador, mostrando que não se pode resumir a filosofia a um

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conjunto de teses que se aprendem, mas também não pode dispensar o seu conhecimento,
resumindo essa ideia nos seguintes termos:

“Aquele que quiser aprender a filosofar deve encarar os sistemas da


Filosofia apenas como história do uso da razão e como objectivo do
exercício do seu próprio talento filosófico”.

Segundo Bittar & Almeida (2008) chamam a atenção acerca da universalidade da


filosofia pode ser entendida em diferentes contextos:

No Contexto 1, Universalidade da Filosofia - Quer dizer, que todos os homens são filósofos;
este sentido radica no facto de todo o homem ter razão. Tal universalidade conduziu à distinção
entre um filosofar espontâneo, presente, em todo o homem, e um filosofar sistemático,
específico dos filósofos. Em Contexto 2, Mais Clássico, a Universalidade da Filosofia
Significa - A ciência do universal e do ser. Como afirma Santo Tomás de Aquino: “a filosofia
é sabedoria no sentido em que, conhecendo o universal, ela conhece, através dele, todos os
singulares que revelam desse universal”. Em Contexto 3, a Universalidade da Filosofia pode
ser Entendida como a Construção de um Sistema de Verdades Universais - Foi este o
projecto de Descartes que procurou encontrar um fundamento, evidente e indubitável, a partir
do qual dedutivamente construiu um sistema filosófico. Em Contexto 4, pode-se Falar da
Universalidade da Filosofia porque alguns de seus Problemas são Universais, isto é,
Referem-Se à Existência do Homem - Tais problemas, apesar de serem formulados por um
filósofo exprimem inquietações e esperanças que são próprias da humanidade. O filósofo, ao
transmutar o vivido para o plano do pensado, universaliza uma dada situação e enuncia-a como
problema. Como diz Paul Ricoeur: A obra filosófica dá forma à questão de onde ela procede;
ora, a forma universal da questão é o problema. O filósofo ao pôr universalmente em forma de
problema, exprime dificuldade que lhe é própria.

2.2.1. As Etapas da Filosofia Grega Clássica

Segundo Miguel (2006, p. 278) no âmbito dos séculos, a Filosofia teve um conjunto de
preocupações, perguntas e interesses que lhe vieram de nascimento na Grécia. Para isso, deve-
se primeiro conhecer os principais períodos da Filosofia grega que definiram os campos de
investigação filosófica na Antiguidade. A história da Grécia costuma ser dividida pelos
historiadores em quatro etapas ou períodos:

 Grécia Homérica - Correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta Homero, em
seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia.

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 Grécia Arcaica ou dos Sete Sábios - Do século VII ao século V a. C, quando os
gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Mégara, Samos, etc., e predomina
a economia urbana, baseada no artesanato e no comércio.
 Grécia Clássica, nos Séculos V e IV a. C - Quando a democracia se desenvolve, a
vida intelectual e artística no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império
comercial e militar.
 Helenística - A partir do final do século IV a. C., quando a Grécia passa para o
poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois, para as mãos do Império
Romano, terminando a história de existência independente.

Apesar de a filosofia ter nascido na Grécia, as etapas históricas da filosofia grega


clássica, não correspondem aos mesmos períodos da história da Grécia. Marilena Chauí
oferece uma espécie de “linha do tempo da Filosofia grega clássica” não como percurso recto
a ser seguido como um trajecto linear e sem desvios, mas, muito mais, como possibilidade de
nos situarmos de forma sistematizada ao longo desse tempo:

“A história da filosofia grega clássica é composta por quatro períodos, são eles: Período pré-
socrático ou cosmológico (do final do século VII ao final do século V a.C.), período em que a
filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações
da natureza. Período socrático ou antropológico (do final do século V e todo o século IV
a.C.), quando a filosofia investiga as questões humanas. Período Sistemático (final do século
IV ao final do século III a.C.) quando a filosofia busca reunir sistematizar tudo quanto foi
pensado pela cosmologia e pelas investigações sobre a ação humana na ética, na política e nas
técnicas. Período helenístico ou greco-romano (do final do século III a.C. até o século IV
d.C.) Nesse longo período, que abrange a época do domínio mundial de Roma e do surgimento
do cristianismo, a filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento
humano e das relações entre homem e a natureza e de ambos com Deus” (Chauí, 2006, p.39).

Na visão de Chauí (2006) parafraseando Fernandes & Junior (2009) o conhecimento


dos principais períodos da filosofia grega clássica, definiram as bases e fundamentos para a
formação do pensamento ocidental.

2.2.2. Funções da Filosofia

Segundo Chambisse e Cossa (2017) a Filosofia é uma maneira de estar no mundo, é


um modo de existir. Como tal, não deve ser vista apenas como uma procura de compreensão e
interpretação do mundo. Na verdade, o esforço de se apropriar do real passa pela maneira
como o Homem interpreta a realidade, mas também como ele se situa perante ela. Disto
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resultam as várias e diferentes maneiras de estar no mundo, os vários e diferentes modos de
existir, as várias dimensões da existência humana.

De acordo com os mesmos autores Chambisse e Cossa (2017) o Homem não só pensa
e comunica com os outros, não só procura compreender e interpretar a ordem do mundo ou
ordenar o “caos cósmico”, como também sabe que pensa e pensa sobre o seu próprio
pensamento, formulando para este princípios e regras que o tornem coerente. O Homem pensa
também no “além”, venerando um ente que não conhece, embora encontrando nele o sentido
da sua existência. O Homem também goza a felicidade e sofre a dor do trabalho, do jogo, da
espera, da descoberta, do desejo, etc. O Homem manifesta-se, com efeito, em planos
diferentes: pensar, sentir e agir. Todos estes planos podem ser agrupados em dois: o teórico e
o prático, circunscrevendo-se neles as funções da Filosofia.

Segundo Marilena Chauí (1995, p.11-13) as tarefas da Filosofia abrangem, as áreas do


saber (área teórica) e da experiência (área prática), embora hoje seja questionável a oposição
entre a teoria e a prática. Contudo, há razões suficientes para afirmar que o Homem é um ser
teórico e prático.

Contudo, o plano teórico refere-se não só aos saberes instrumentais ligados as


actividades artesanais, profissionais e técnicas, aos saberes relativos à interacção social e ao
senso comum. Como também aos saberes considerados mais elevados, como os ligados à
Arte, à Ciência, Política, ao Direito, Filosofia. O plano prático abarca a multiplicidade de
experiências que o Homem adquire a partir da sua própria existência, do seu trabalho, da
natureza, da sua convivência e da sua actividade cognitiva e valorativa, entre outras.

Para além disso, também nos mostra que o Homem é, por um lado, um ser aberto ao
mundo enquanto dotado de sentido e razão, meios pelos quais ele se relaciona com a Natureza
e a sociedade, procurando dar-lhes sentido, transfigurando os, reconstruindo-os, ordenando-os
ou globalizando-os. Por outro lado, o Homem está arrojado para a existência, tanto na
interacção comunicativa com os outros como na coexistência com a Natureza.

Pela etimologia da palavra, a Filosofia satisfaz, nos dois planos, o desejo de saber:
saber pensar (plano teórico) e saber agir (plano prático).

Assim sendo, cabe Filosofia proporcionar ao Homem um procedimento critico em


relação ao seu próprio pensamento, ao pensamento dos outros, aos diferentes saberes e

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opiniões, aos valores, às crenças e aos poderes. A Filosofia é também imprescindível ao
Homem enquanto cidadão, proporcionando-lhe a capacidade de ser tolerante perante as
opiniões e interesses alheios, de trabalhar para a paz, para o bem comum, para a justiça, para o
respeito, para uma ordem pública salutar e para a liberdade e autonomia dos seres humanos
(Chambisse & Cossa 2017).

2.2.3. As Atitudes Filosóficas

Segundo Deleuze citado por Vasconcellos (2005) diz que embora a filosofia também
consista em um determinado conteúdo de conhecimentos acumulados durante dois mil e
quinhentos anos, que resultaram em uma multiplicidade de fragmentos e de livros, pode-se
dizer que filosofar é ter uma atitude filosófica. Mesmo que diga-se que “de filósofo e louco
todos têm um pouco”, de facto são poucos os que têm esta atitude, exigindo-se para isso o
conhecimento dos textos da História da Filosofia, mas também a criação do hábito de pensar
de maneira rigorosa e crítica. Fala-se, portanto, aqui da Filosofia que quebra com o nosso
saber prático do dia-a-dia, e que nem sempre agrada, pois à primeira vista parece ser perda de
tempo ou incômodo exagerado com as coisas, deixando-nos, quem sabe, angustiados demais,
para além do conveniente.

Gerd Bornheim (1929-2002) um dos nomes mais importantes no cenário filosófico


brasileiro, dedicou-se a esse assunto em sua tese de livre-docência intitulada Motivação
básica e atitude originante do filosofar.

Nesse livro de Bornheim encontra-se uma importante referência ao mesmo texto de


introdução à Filosofia escrito por Jaspers que julga-se ser muito pertinente quando se trata de
uma definição da atitude filosófica.

Três atitudes fundamentais são consideradas por Jaspers. E, como lembra Bornheim,
podem não ser as únicas possíveis, mas “são encontráveis com certa frequência”: a admiração,
a dúvida e a constatação/sentimento da própria fraqueza e impotência. Essa terceira atitude é
traduzida por Bornheim como insatisfação moral.

 A primeira atitude nos vem da Grécia clássica. Platão e Aristóteles pretendiam ver na
admiração o impulso inicial de todo o filosofar. No comportamento admirativo o
homem toma consciência de sua própria ignorância, e esta consciência leva-o a

11
interrogar aquilo que ignora, até atingir a supressão da ignorância, isto é, o
conhecimento.
 A segunda atitude Karl Jaspers a encontra na dúvida, podendo-se apontar Descartes
como sendo o seu representante clássico. Neste comportamento, a verdade é atingida
através da suspensão provisória de todo o conhecimento ou de certas modalidades de
conhecimento, que passam a ser consideradas como meramente opinativas. A
distinção grega entre doxa e episteme tem a mesma raiz. A dúvida metódica aguça o
espírito crítico próprio da vida filosófica e nisto reside sua eficácia.
 Finalmente, a terceira atitude implica num sentimento de insatisfação moral. Se em
seu comportamento usual o homem é encontrado absorvido no mundo que a cerca, a
filosofia impõe-se como tarefa a partir do momento em que este homem quotidiano cai
em si e pergunta pelo sentido de sua própria existência. O mundo exterior é
abandonado em consequência de um sentido de insatisfação, levando o homem a
tomar consciência de sua própria miséria (Bornheim, 1961, p.23-24).

Segundo Bornheim (1961, p.23-24) a atitude filosófica possui algumas características


que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado, que são:

“Perguntar o que a coisa, ou o valor, a ideia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade ou a


natureza e qual é o significado de alguma coisa, não importa qual; Perguntar como a coisa, a
ideia ou o valor, é. A filosofia pergunta qual é a estrutura e quais são as relações que
constituem uma coisa, uma idéia ou um valor; Perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor,
existe e é como é. A filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia,
de um valor”.

3. A Dicotomia das Disciplinas da Filosofia e a sua Diferença com as outras Disciplinas

A Filosofia é uma explicação racional da realidade mediante a elaboração de


conceitos. Há quem duvide da sua utilidade, e, para estes, vale citar o texto de Ewing (1984):

“Não esgota-se, porém, tudo o que pode ser dito em favor da Filosofia. Pois,
à parte qualquer valor que lhe pertença intrinsecamente acima de seus efeitos,
a Filosofia tem exercido, por mais que ignore-se isso, uma admirável
influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar
nela”.

Como foi visto, a Filosofia é, antes de tudo, uma prática de vida que procura pensar os
acontecimentos além de sua pura aparência. Assim, ela pode se voltar para qualquer objecto.

12
Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode
pensar a arte; pode pensar o próprio ser humano em sua vida quotidiana. Entre as áreas de
conhecimento da Filosofia, destacam-se as que seguem.

Filosofia Política - A Filosofia Política estuda a relação entre política e poder,


autoridade, violência, coerção, origem e formas do Estado, ideias conservadoras,
revolucionárias etc. Procura entender a política, refletindo sobre a luta pelo poder, sobre as
instituições por meio das quais se exerce o poder, e promove a análise crítica das ideologias e
sistemas políticos.

Teoria do Conhecimento - O conhecimento é o pensamento que resulta da relação


que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido. A Filosofia
preocupa-se com as formas e possibilidades de o sujeito conhecer o real e de se apropriar dele.
A Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica que investiga quais são os problemas
decorrentes da relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Ética ou Filosofia Moral - É uma parte da Filosofia que busca refletir sobre o
comportamento humano sob o ponto de vista das noções de bem e de mal, de justo e de
injusto. Sendo assim, ela tem, pelo menos, dois objetivos: elaborar princípios de vida capazes
de orientar o homem para uma ação moralmente correta e refletir sobre os sistemas morais
elaborados pelos homens.

Lógica - Interessa aos filósofos a formulação de raciocínios que cheguem a resultados


verdadeiros. Para alcançar este objectivo, diversos pensadores lançaram-se à tarefa de analisar
as estruturas dos raciocínios, organizando-as e classificando-as. Esta é a tarefa da Lógica
enquanto disciplina filosófica.

Estética e Filosofia da Arte - A estética pretende alcançar um tipo específico de


conhecimento: aquele que é captado pelos sentidos. Ela parte da experiência sensorial para
chegar a um resultado definido como “o belo”, que não apresenta a mesma clareza e distinção
lógico-racional de outras disciplinas. A Filosofia da Arte, por sua vez, é uma reflexão
filosófica sobre os diversos aspectos histórico-culturais das manifestações artísticas.

Metafísica ou Ontologia - A metafísica designa o que está além do mundo físico e


provém da tradição aristotélica. Identifica os livros que tratavam do que Aristóteles

13
denominava Filosofia Primeira, algo parecido ao que hoje se entende por Ontologia (estudo
da origem dos seres).

Antropologia Filosófica - A Antropologia Filosófica é o estudo ou a reflexão acerca


do ser humano. Desde o início da cultura ocidental, a reflexão sobre o ser humano foi uma
constante no pensamento filosófico. É o homem interrogando a si mesmo e sobre a sua
relação com o mundo exterior. Para Vaz (1991, p. 10-11) a Antropologia Filosófica precisa
cumprir três tarefas fundamentais; a elaboração de uma ideia do homem que leve em conta, de
um lado, os problemas e temas presentes ao longo da tradição filosófica e, de outro, as
contribuições recentes das ciências; uma justificação crítica dessa ideia.

Filosofia da Linguagem - A linguagem como manifestação da humanidade do


homem, signos, significações, é o objeto de estudo da Filosofia da Linguagem. Trata-se de
tendência contemporânea da Filosofia, que se pretende limitar a considerar os fatos da
linguagem.

História da Filosofia - O estudo dos diferentes períodos da Filosofia, de filósofos, de


temas e problemas, de relações entre o pensamento filosófico e as condições econômicas,
políticas, sociais e culturais de uma sociedade, de mudanças de concepção do que seja a
Filosofia e de seu papel, constituem o objeto de estudo da História da Filosofia.

Parte III - A Pessoa Como Sujeito Moral (A Pessoa Humana)

3.1.O Conceito de Pessoa nas várias Perspectivas (Jurídica, Psicológica, Ética, Personalista,
Social, Metafísica)
3.1.1. Na Perspetival Jurídica

Uma das maiores criações do ser humano em termos do Direito está o conceito de
pessoa na perspetival jurídica. “O processo de evolução do que hoje se conhece por
personalidade jurídica, passou de certo princípio de universalidade para certo princípio de
unidade” (Vilhena, p.2). No primeiro, era considerado isoladamente o indivíduo que fazia
parte de uma entidade, esta não possuía autonomia, ao passo que no segundo, a entidade já
disfrutava de autonomia patrimonial.

“Existe uma dúvida se o conceito de pessoa jurídica tenha sido de fato encontrado no
direito romano. Retomado na Idade Média, a partir do trabalho de Sinibaldo de Fleshi
(depois pelo papa Inocêncio IV), a construção dogmática atingiu contornos mais ou
menos definidos, com a concepção de que a pessoa jurídica era persona ficta. Tal
14
significativa, segundo a grande maioria da doutrina atual, entendimento totalmente
diverso daquele posteriomente consagrado por Savigni. A ficção desse não é a ficção
dos canonistas e glosadores. Para estes, a fictio significava criação da mente humana
(ou a existência no mundo das ideias); já para os ficcionistas do século XIX, a fictio
da pessoa jurídica estava na sua „falsidade” (Vilhena, p.4).

3.1.2. Na Perspetival Psicológica

O desenvolvimento da reflexão filosófica sobre a pessoa na perspetival psicológica


provocou um notável deslocamento do acento do termo com os modernos. “A partir de René
Descartes, a pessoa define-se não pela autonomia do ser, mas sim em relação à
autoconsciência” (Amato, p.433).

Descartes, impulsionado por sua pretensão de estender seu método apodítico-dedutivo


da ciência geométrica de seu tempo para o método geral de conhecimento também metafísico,
foi em busca daquela verdade “nua e crua”, autoevidente, irrefutável e indubitável.

Em busca da verdade apodítica, Descartes utilizou-se do método da “dúvida


metódica”, submetendo o conteúdo da mente humana para alcançar suas bases indubitáveis,
procurando encontra-lo na certeza da existência e natureza espiritual da alma. A certeza que
ele alega para estabelecer a consciência acompanha todo ato de pensamento cogito ergo sum
res cogitans: eu sou/existo no sentido que “eu sou consciente de pensar portanto, eu sou uma
substância pensante”.

3.1.3. Pessoa na Perspetival Ética e Metafísica

Para o estudo do conceito de pessoa na perspetiva ética e metafisica serão deixados de


lado outros filósofos que deram sua contribuição ao tema da pessoa, em particular, Leôncio de
Bizâncio, Gilberto de la Porré e Ricardo de São Victor, passando directamente ao estudo de
Tomás de Aquino. Ele será o principal autor deste período, tomando como seu ponto de
partida a definição de Boécio, e ao mesmo tempo desenvolvendo o seu conceito de ser como
actus essendi (acto de ser) (Sayés, p.247).

Diante das diferentes definições de pessoa que o precederam (conhece, claro, a de


Ricardo de São Victor: Pessoa como incomunicabilis existentia existência incomunicável),
Tomás de Aquino analisa a de Boécio: rationalis naturae individua substancia (substância

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individual de natureza racional). A definição de Boécio parte do conceito de substância
individual especificada pela nota da racionalidade. Por sua vez, Tomás apresentará a
subsistência (esse) e não a racionalidade como característica primordial da pessoa.

3.1.4. Pessoa na Perspetival Social

No terreno próprio da sociologia, talvez seja difícil extrair um conceito geral de


pessoa. E grande parte dessa dificuldade tem relação com a forte heterogeneidade de correntes
de pensamento acerca do que significa a agência humana. Ainda assim, gostar-se-ia de
articular um sentido sociológico de pessoa derivado da síntese de três perspectivas teóricas
que compartilham mais ou menos a mesma compreensão construcionista e intersubjetiva do
indivíduo.

A primeira delas foi desenvolvida pelo sociólogo alemão Georg Simmel e põe em
relevo a noção de interacção. Para Simmel (1976) a unidade de análise que permite a
compreensão da realidade social é a “interação”. Presente desde a forma mais elementar de
relação sociológica, isto é, um encontro face a face entre dois indivíduos que recebeu o nome
de “díade” de Simmel- até uma multidão mais ampla na sociedade.

Charles Cooley, sociólogo americano que integrou o círculo de pesquisas


microssociologias da chamada Escola de Chicago, também desenvolveu uma interessante
interpretação sociológica para a formação da pessoa. Cooley (1976, pp. 171-172) defendia
que a comunicação desempenhava um papel fundamental no desenvolvimento da “mente”.

3.1.5. Pessoa na Perspetival Personalista

A pessoa na perspetival personalista resume-se que seja uma linha da bioética que
parte da pessoa (persona) como ponto de partida, com finalidade no reconhecimento da
pessoa, de sua identidade e de sua essência. Este reconhecimento tem como desdobramento o
respeito à dignidade da pessoa humana (Ramos, 2002).

“Responder aos problemas apresentados pelos progressos


científicos que mencionamos e pela organização social da
medicina e do direito significa repropor a pergunta sobre o
valor da pessoa, sobre suas prerrogativas e sobre seus
deveres” (Sgreccia, 2002).

16
A pessoa na perspetiva personalista é, enfim, uma reflexão que afronta as questões
éticas referentes à vida humana através de uma perspectiva que reconhece o ser e a dignidade
da pessoa como valores absolutos, e, consequentemente, põe como primum principium o
respeito incondicional de sua inviolabilidade e a tutela de sua livre expressão, a partir dos
direitos humanos (Paula, 2004).

3.2.A Pessoa em Suas Relações

A Relação do Homem com o Mundo - Outros Seres Humanos e na Natureza - A


natureza não diz respeito apenas aos animais, às plantas, aos rios, às montanhas, etc., mas
também ao modo como enxergamos essas coisas, integradas a um conceito que nós criamos:
esta totalidade que chamamos de natureza (Carvalho, 2003). Se ainda fosse mantida a ideia de
que a Terra é um organismo vivo dotado de alma, seria com muita dificuldade que alguém
abriria gigantescas “feridas” em sua superfície para extrair minérios.

Segundo Carvalho (2003, p.13) a relação do homem com o mundo-outros seres


humanos e na natureza - são dominadas pela angústia. A angústia é entendida como o
sentimento profundo que temos ao perceber a instabilidade de viver num mundo de
acontecimentos possíveis, sem garantia de que nossas expectativas sejam realizadas. “No
possível, tudo é, possível”, escreve Carvalho (2003, p.13). Assim, vive-se num mundo onde
tanto é possível a dor como o prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio, o favorável
como o desfavorável.

A Relação do Homem Consigo Mesmo - Segundo Carvalho (2003, p.13) A relação


do homem consigo mesmo é marcada pela inquietação e pelo desespero. Isso acontece por
duas razões: ou porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as possibilidades que
realizou, ou porque não conseguiu realizar o que pretendia, esgotando os limites do possível e
fracassando diante de suas expectativas.

A Relação do Homem com Deus - É necessário obter o conhecimento de que, a vida


espiritual do homem deve ser considerada igualmente uma vida tripla, bem como, trinitária;
pode-se assim afirmar, que se abre uma nuvem de diferentes realidade e perspectivas para

17
seguir esta direcção, as quais deve-se unicamente a Santo Agostinho, pois, encontrou-se em
seus escritos espirituais muitas exposições a respeito do amor como tal.

Deus eu seu supremo amor de Pai e de Criador, acaba sendo o ponto primordial de
partida para o filósofo Agostinho, que afirma em si a trindade obtida na presença de Deus
Todo Poderoso na vida espiritual do homem; com todo efeito, faz-se parte do amor um
amante, um amado e por fim um amor que os une inteiramente e os mantem conectados, de
certa forma, que quando o espírito ama a si mesmo, e o amante é amado, formam assim algo
misto, onde um tem como objetivo completar o outro.

“De certa forma, o espírito Criador que ama a si mesmo se encontra na


imagem de Deus; sem mais, para amar a si mesmo deve antes se conhecer. O
espírito, o amor e o consentimento são três em um. Se encontra uma relação
justa quando o espírito não é nem mais e nem menos amado, exatamente ai se
encontra algo que se corresponde: nem menos que o corpo e nem mais que
Deus” (Stein, 1994).

Segundo Stein (1994) A relação do homem com Deus seria talvez a única via para a
superação da angústia e do desespero. Contudo, é marcado pelo paradoxo de ter de
compreender pela fé o que é incompreensível pela razão.

A Relação do Homem com o Trabalho - Todos os seres vivos possui determinadas


necessidades básicas. Para satisfazê-las, contam exclusivamente com os elementos
encontrados na natureza. O homem não é exceção.

Trabalho é quase sempre entendido como ocupação profissional, e as pessoas


costumam relacioná-lo à ideia de esforço necessário para sobreviver.

Contudo, trabalho não é sinônimo de emprego. Engels escreve sobre o papel do


trabalho na transformação do macaco em homem, e afirma que o trabalho é “a condição
básica fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos
afirmar que o trabalho criou o próprio homem” (citado por Antunes, 2005, p. 13).

O trabalho, ao mesmo tempo, liberta e limita o homem. Afinal, é através do trabalho


que o homem se apropria da matéria natural e consegue o que deseja. Por outro lado, o
homem só consegue tomar posse daquilo que transforma ou adquire através do seu trabalho.

Sobre o processo de trabalho, Marx afirma:

18
“O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um
processo em que o homem, por sua própria ação, media,
regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele
mesmo se defronta com a matéria natural como uma força
natural. Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e
mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma
útil para sua própria vida” (citado por Antunes, 2005, p.
36).

Parte IV

4. Considerações Finais

Proponho-me, ao final deste trabalho de cunho científico, escrever algumas


considerações que são importantes para uma melhor fixação dos termos e temas tratados
durante este itinerário filosófico.

Permitam-me que utilize de modo intencional o termo “considerações finais”: minha


intenção é não de concluir este trabalho, no sentido literal desta palavra, como sendo algo
perfeitamente terminado, sem que nada possa ser inserido ao longo do tempo; pelo contrário,
procurarei deixar um sentimento de que muito ainda precisa ser aprofundado, que o caminho a
trilhar é longo e reflexivo.

De frisar que Filosofia é um exercício de pensamento, uma atitude de reflexão diante


da vida e sobre ela. O pensar é a própria existência humana e, necessariamente, está sempre
vinculado às experiências concretas do dia-a-dia. Do dia-a-dia, é daí que nasce, nutre-se e se
constitui a Filosofia.

O homem vive no mundo, é o seu mundo. No mundo e com o mundo, faz da vida
quotidiana objecto de reflexão, compreendendo-a, escolhendo-a, assimilando-a,
transformando-a. O pensamento filosófico, sempre que se afasta da experiência quotidiana,
não o faz com a intenção de negá-la, mas de estar mais presente nela, percebendo-a em toda a
sua amplitude.

Destrate, a Filosofia é entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e


sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas

19
transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um facto
tipicamente grego.

De uma forma sintética a Filosofia nos lembra de que fomos feitos para sermos
sujeitos, condutores dos nossos projetos e caminhos. E, por nenhum motivo, podemos abrir
mão do direito e do dever de exercer a humanidade em todos os seus aspectos e
potencialidades.

5. Literatura Citada

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