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1. Introdução
2. Definindo conceitos
2.1. Estímulo, sensação, percepção
Existem diferentes conceitos para estímulo, sensação e percepção, dependendo dos autores
que conceituam. Para Schmidt e Wrisberg (2001) estímulo são as informações recebidas pelo
indivíduo para serem processadas. Ele primeiramente é sentido para depois iniciar o
processamento de uma resposta para aquele determinado estímulo (SCHMIDT; WRISBERG,
2001). Como exemplos de estímulos, o autor cita uma luz que acende ou apaga ou algum som.
Já para Hurtado (1983) “se caracteriza por ser qualquer fator ambiental, físico, químico ou
mecânico que atua sobre algum órgão sensorial, podendo ser de ordem natural ou social.”
Sensação é a atividade neural disparada por um estímulo que ativa um receptor sensorial que
promove impulsos nervosos sensoriais que chegam ao cérebro através de caminhos nervosos
sensoriais (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Hurtado (1983) define sensação como sendo “o ato
de receber um estímulo”. Para Gallahue e Ozum (2005) sensação é um “estímulo recebido por
várias modalidades sensoriais”.
Percepção é um processo que ocorre no cérebro e possui muitos estágios, envolvendo seleção,
processamento, organização e integração das informações recebidas pelos sentidos (HAYWOOD;
GETCHELL, 2004). Para Hurtado (1983) percepção e o reconhecimento de objetos por meio dos
sentidos, é a organização das sensações registradas pelos órgãos sensoriais, as quais são
causadas por estímulos ambientais.
2.3.1. Simples
a. Acuidade visual: é a habilidade de distinguir detalhes nos objetos, sendo que quanto mais
delicados forem esses detalhes, maior se considera a acuidade visual (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Podemos classificar a acuidade visual em estática, ou seja, o grau de detalhes perceptíveis
observados quando algo de interesse visual está estacionário; e acuidade visual dinâmica, ou
seja, a habilidade de distinguir detalhes em algo que está se movimentando (GALLAHUE; OZMUN,
2005). Por exemplo, o goleiro de handebol necessita de uma acuidade visual bem madura para
poder distinguir a bola que vem em sua direção quando há arremesso. A acuidade visual dinâmica
foi descrita como diferenciada conforme diferentes idades (5 a 7 anos, 9 a 10 anos e 11 a 12
anos) sendo refinada de maneira crescente durante estas idades (WILLIAMS apud GALLAHUE;
OZMUN, 2005). Ainda mais meninos demonstram melhor acuidade visual do que as meninas,
provavelmente causado por fatores de socialização (menos oportunidade de prática e menos
encorajamento ativo para meninas do que para meninos) (WILLIAMS apud GALLAHUE; OZMUN,
2005).
b. Acomodação visual: é habilidade do límpido de cada olho modular sua curvatura para
poder acomodar qualquer imagem retínica (GALLAHUE; OZMUN, 2005), tornando o foco preciso.
Sabe-se que nos primeiros meses de vida, essa habilidade de focalização ainda não está
totalmente formada (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
c. Visão periférica: é a utilização da visão para perceber o campo visual que não pode ser
observado, sendo feito sem alteração na fixação dos olhos (GALLAHUE; OZMUN, 2005). A visão
periférica é muito utilizada para ações como dirigir, onde a habilidade de perceber além da
focalização dos olhos é sempre muito exigida. Nas aulas de educação física a visão periférica é
muito exigida durante os jogos, tendo em vista que os participantes precisam perceber o que
acontece em todo espaço do jogo, não somente na situação em que ele está envolvido. Por
exemplo, em um jogo de futebol o jogador que está com a bola precisa da visão periférica para
ter noção dos adversários que estão ao seu lado e de suas ações para não perder a posse da
bola ou passá-la para um adversário.
O olfato é responsável pela percepção de odores pelo nariz e o paladar pela percepção de
sabores pela língua. Destaca-se que essas duas percepções estão intimamente ligadas, sendo
que o estímulo elucidado em qualquer uma delas será estimulador da outra (GALLAHUE; OZMUN,
2005). A percepção olfativa é influenciada pela discriminação de odores e o pelo alcance olfativo
(GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Cinestesia é a sensação e consciência que o indivíduo tem dos movimentos do seu corpo,
conforme o posicionamento de articulações e tensões geradas pelos músculos (SCHMIDT;
WRISBERG, 2001). A propriocepção é a capacidade em reconhecer a localização espacial do
corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do
corpo em relação às demais sem utilizar a visão (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Esse
tipo percepção permite a manutenção do equilíbrio e a realização de diversas atividades práticas,
sendo resultado de vários fatores, entre eles a interação das fibras musculares de sustentação,
informações táteis e sistema vestibular (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).
2.3.2. Complexas
É a percepção do espaço que circunda o indivíduo aliado ao seu funcionamento motor dentro
deste (PAYNE; ISAACS, 2007). Nas aulas de educação física essa percepção é utilizada, por
exemplo, quando há deslocamentos em um espaço em que há objetos distribuídos no espaço da
aula. Nesse sentido, ao se deslocar o aluno precisa adequar a posição dos objetos e de seu corpo
para se deslocar com sucesso. Quando é dado ao aluno uma referência espacial, também é
utilizada a percepção espacial (ex.: a bola que você procura está ao lado da goleira). Na
puberdade, a percepção espacial torna-se um pequeno problema para os adolescentes,
principalmente os meninos, pois há a fase de crescimento rápido, tornando a percepção do
espaço que se ocupa uma difícil tarefa. Nas aulas de educação física as dificuldades encontradas
nessa fase podem ser vistas, por exemplo, ao tropeçar durante corridas ou colidir com obstáculos.
É aquela na qual a percepção de bordas e limites faz diferenciar um objeto de uma figura
(HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Por volta dos 4 anos, esse tipo de percepção começa a melhorar
(WILLIAMS apud HAYWOOD; GETCHELL, 2004) e aproximadamente entre 6 e 8 anos elas tem
um grande avanço relacionado a extração de itens de um fundo (TEMPLE; WILLIAMS; BATEMAN
apud HAYWOOD; GETCHELL, 2004), porém elas apresentam grande dificuldade quando esses
itens são com formas geométricas e abstratas (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Por volta dos 8
anos, essa criança tem grande sucesso na percepção figura-fundo, apresentando as mesmas
condições de um adulto (WILLIAMS apud HAYWOOD; GRETCHELL, 2004).
Tendo em vista a relação entre percepção e ação, chama-se a atenção para o planejamento
de aulas de educação física que abarquem os conteúdos perceptivos, tendo em vista que a
qualidade do movimento depende do desenvolvimento perceptivo adequado (GALLAHUE;
OZMUN, 2005). Portanto, é crucial enfatizar o desenvolvimento adequado do sistema perceptivo
e de seus componentes para obter sucesso no planejamento e aplicação das tarefas (MEDINA;
ROSA; MARQUES, 2006).
Tendo em vista que as habilidades perceptivos motoras dependem também das experiências
vivenciadas (GALLAHUE; OZMUN, 2005), as aulas de educação física são um momento oportuno
para desenvolver os diferentes componentes da percepção, através de estímulos adequados. Para
isso é importante considerar a aplicação de um programa adequado ao desenvolvimento infantil
(SANDERS, 2005). Algumas fatores importantes que o professor deve verificar são as condições
da tarefa e do ambiente (especificidade e local apropriado), adaptação de regras de jogos e
utilização de materiais diferenciados (VALENTINI; TOIGO, 2006) com pesos, tamanhos e pesos
diferenciados, variação de ritmos e intensidades, velocidades e direções. Todos estes pontos,
somados a criatividade do professor, são auxiliadores para aquisição e refinamento das diferentes
percepções existentes.
Alguns autores em suas obras exemplificam modelos que auxiliam os professores a planejar
as aulas de forma que estimule a criança de formas diferentes e adequadas ao desenvolvimento.
Sanders (2005) reporta a idéia de círculos conceituais que auxiliam na diversidade dos estímulos
aos alunos. Esse instrumento funciona de maneira bem simples, sendo a parte interior que
contém as habilidades a serem trabalhadas (manipulação, locomoção ou estabilização) fixas. As
partes que se relacionam com o conhecimento (do corpo e espaço) são móveis, e ao serem
alteradas de local, proporcionam ao professor uma enorme variedade de trabalho.
Gallahue e Ozmun (2005) reportam uma idéia mais voltada avaliação e posterior programação
de aulas ou programas interventivos. O instrumento proposto pelos autores refere-se a uma
tabela com uma listagem a ser completada pelo professor, contendo algumas disfunções
perceptivo-motoras que são mais comuns. Ela serve como instrumento individual de avaliação
que pode dar ao professor um feedback de como está a progressão dos conteúdos da aula e da
aprendizagem das percepções pelos alunos. Esse instrumento é interessante tendo em vista que
reporta diferentes fatores relacionados a percepção.
4. Conclusão
Tendo em vista a menor estimulação das crianças para práticas ativas devido a diversos fatores
sociais (ex.: aumento da insegurança), as aulas de educação física são essenciais para o
desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema perceptivo-motor. Destacamos que para obter
sucesso nesse objetivo atividades em que a exploração e a vivência promovam às crianças
diversas possibilidades, visando o favorecimento do desenvolvimento global dos alunos são
essenciais. Nesse sentido, adequar materiais, espaços e planejamentos ao desenvolvimento dos
alunos são fundamentais para o desenvolvimento adequado das crianças. Para isso, salientamos
que o professor tem papel fundamental ao avaliar e programar atividades, levando em
consideração o ganho e as possibilidades, atuando em parceria com criatividade e produção
científica para promover uma prática eficaz de intervenção e progressão de conhecimentos.
Referências bibliográficas