PUC-Rio, 3 de abril de 2023

EDU1447 – História e Política da Educação Básica no Brasil

Fichamento do texto de José Murilo de Carvalho (cap. 2 de Os Bestializados)

1. Que concepção de cidadania se torna hegemônica no Brasil, após a implantação da

República? Como você a descreveria?

Ao passo que tendências fortemente liberais definiam os anos finais do Império no que se
refere a princípios de ordenamento social e político, a implementação da eleição direta ainda
restringia o direito ao voto a apenas 1% da população total, porcentagem que diminuiu dos
10% abrangidos até 1881. Estavam excluídos agora do direito ao voto os pobres, os mendigos,
as mulheres, menores de idade e membros de ordens religiosas. A Constituição republicana de
1891 possuía caráter discriminatório e retirou dispositivos que obrigavam o governo a fornecer
instrução primária e promover os socorros públicos, resultando numa entrega ainda maior do
governo nas mão de setores dominantes, que eram os únicos dotados de direitos de cidadania
política.

A partir daí a concepção de cidadania começa a se aproximar de um modelo rousseauniano,

tomando a visão do povo como uma entidade abstrata e homogênea que defende interesses e
valores comuns.

2. Que outras concepções de cidadania se expressaram, inclusive conflitivamente, ao longo dos

primeiros anos da Republica? A que grupos/ideologias se vinculavam?

O liberalismo, positivismo, socialismo e anarquismo conflituavam entre si em uma frente ampla

que buscava a ampliação da cidadania e de direitos políticos, buscando instrumentalizar uma
ampliação da cidadania. Escravocratas e abolicionistas, militares e civis, fazendeiros,
estudantes, profissionais liberais e pequenos comerciantes se organizavam contra o
enrijecimento da ortodoxia liberal que agia em detrimento dos direitos sociais.

O rápido avanço de valores burgueses solidificavam uma ordem liberal profundamente

antidemocrática e resistente a esforços de democratização. Apesar disso, disposições
antioperárias das leis conseguiram ser derrubadas por ameaças de greve.
3. O que você entendeu por ‘’estadania’’?

O conceito de ‘’estadania’’ surge no bojo da luta contra o absolutismo, e um momento de

grande insatisfação com o surgimento da ideia do soldado-cidadão. Influências de natureza
ideológica, organizacional e política na conjuntura encontraram o denominador comum no
positivismo, que em si possuía caráter altamente antimilitarista. Ao passo que os militares
reivindicavam seus direitos políticos, como o direito de reunião e livre manifestação da opinião
política, o que realmente buscavam era maior peso nas decisões políticas para a corporação
militar.

O ponto mais importante na luta contra o absolutismo era tirar da nobreza o monopólio das
armas. Buscava-se dar ao cidadão o direito de se armar para sua defesa e de seus interesses. A
Guarda Nacional brasileira em 1831 se encarregou de armar o povo e encarrega-lo da tarefa de
manter a ordem, no que ficou conhecido como a milícia cidadã. Apesar da concepção
liberalizante implementada por instrumentos liberais inspirados na França revolucionária, os
atritos reais com o Exército brasileiro resultaram em um reconhecimento da ideologia do
oficialato republicano e dos civis que o apoiavam, gerando o sentimento de pertencimento ao
Estado chamado de ‘’estadania’’.