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Descartes aceitou essa posição dualista. A seu ver, a mente e o corpo eram de
fato essências diferentes. Mas ele se desviou da tradição ao definir o relacionamento
entre os dois. Em sua teoria da interação mente-corpo, Descartes sugeriu que a
mente influencia o corpo e que este pode exercer sobre ela uma influência maior do
que antes se supunha. A relação não é unilateral, mas sim uma interação mútua.
Essa idéia, radical no século XVII, teve importantes implicações.
Depois que Descartes propôs sua doutrina, muitos estudiosos descobriram que
já não podiam sustentar a idéia de que a mente era o mestre das duas entidades, o
titereiro funcionando quase independentemente do corpo. Este, a essência material,
passou a ser visto como mais central, e certas funções antes atribuídas à mente
passaram a ser consideradas pertencentes ao corpo. Na Idade Média, por exemplo,
acreditava-se que a mente era responsável não só pelo pensamento e pela razão,
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mas também pela reprodução, pela percepção e pela locomoção. Descartes alegava
que a mente só tinha uma função: a de pensar. Todos os outros processos eram
funções do corpo.
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faziam os jatos de água ativar as figuras que se moviam, dançavam e emitiam sons.
Essa experiência ajudou a moldar sua maneira de ver o universo físico, em especial no
tocante ao corpo humano e animal. Descartes acreditava que o corpo funcionava
exatamente como uma máquina, e não via diferença entre ele e as figuras acionadas
hidraulicamente nos jardins: Explicava todo aspecto do funcionamento físico —
como a digestão, a circulação, a sensação e a locomoção — em termos mecânicos.
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Como não possuíam alma, os animais eram considerados autômatos. Assim
preservava- se a diferença entre seres humanos e animais, tão importante para o
pensamento cristão. Além disso, acreditava-se que os animais eram desprovidos de
sentimentos. Como poderiam ter sentimentos se não tinham alma? Descartes
dissecava animais vivos, antes de haver anestesia, e parecia “divertir-se com seus
gritos e lamentos, já que estes não eram senão assobios hidráulicos e vibrações de
máquinas” (Jaynes, 1970, p. 224).
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Descartes formulou uma teoria sobre a interação dessas duas entidades, mas
precisou antes encontrar um ponto físico onde a mente e o corpo se engajassem em
sua influência mútua. Ele concebeu a alma como uma entidade unitária, o que
significava que ela devia interagir com apenas uma parte do corpo. Ele também
acreditava que o ponto de interação se localizava em algum lugar do cérebro, porque a
pesquisa demonstrara que as sensações se deslocam para o cérebro e que é nele que o
movimento tem origem. Assim, estava claro que o cérebro tinha de ser o ponto focal
das funções mentais. A única estrutura cerebral simples e unitária (isto é, não dividida
nem duplicada nos dois hemisférios) é a glândula pineal ou conariurn, e Descartes a
considerou a escolha lógica como sede da interação.