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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE SAÚDE II
Disciplina: Farmacologia
Prof.ª Nara Souza

Estudo integrado
Anestésicos locais e opióides

Caso 1
Uma mulher de 30 anos de idade apresenta-se no consultório para o tratamento de uma
unha encravada. Durante as três últimas semanas, ela teve piora progressiva de
vermelhidão, inchaço e dor na área ao redor da unha do hálux direito. Ao exame você
observa que o canto distal, medial da unha do hálux direito está encravando. A pele na borda
medial da unha está vermelha e sensível. Há drenagem purulenta visível. Você prescreve
uma semana de cefalexina oral e pede que retorne ao consultório. No acompanhamento, a
vermelhidão melhorou bastante e não há mais drenagem. Você corrige cirurgicamente a
unha encravada depois de fazer anestesia local com lidocaína a 2% injetada para infiltrar os
nervos digitais.

A) Qual é o mecanismo de ação da lidocaína como agente anestésico?

B) Por que o tratamento da infecção aumenta a eficácia do anestésico local?

C) Quais fatores influenciam na ação dos anestésicos locais? Explique como.

D) Caso o prescritor tivesse o objetivo de reduzir a absorção do anestésico local, qual


seria a opção disponível para fazer isso? Explique o porquê.

E) Quais os possíveis efeitos adversos dos anestésicos locais?

Caso 2

Paciente J.B.F., 43 anos, sexo masculino, hospitalizado após acidente de moto com
politraumatismos, entre eles fratura da sínfise púbica e fratura de membro superior
esquerdo. Submetido ao tratamento cirúrgico e evoluindo no pós-operatório com
sintomas de intoxicação por opióides. No procedimento cirúrgico foi usado fentanil, no
pós-operatório imediato foi administrada morfina e na sala de recuperação o paciente
fez uso de tramadol.

A) Explique o mecanismo de ação dos opióides

R= Os opióides atuam a nível celular ligando-se aos receptores opióides presentes


em todo sistema nervoso central (SNC), especialmente no núcleo do trato solitário,
área cinzenta periaquedutal, córtex cerebral, tálamo e substância gelatinosa da
medula espinhal. Receptores opióides podem também estar presentes em
terminações nervosas aferentes periféricas e em diversos outros órgãos. Os
receptores opióides são ligados às proteínas G inibitórias. A ativação dessa proteína
desencadeia uma cascata de eventos: fechamento de canais de cálcio voltagem
dependentes, redução na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPs) e
estímulo ao efluxo de potássio resultando em hiperpolarização celular. Assim, o efeito
final é a redução da excitabilidade neuronal, resultando em redução da
neurotransmissão de impulsos nociceptivos.

B) Explique o motivo do paciente ter utilizado três medicamentos da mesma


classe em diferentes momentos.

R= O fentanil é considerado um opioide forte tem 100 vezes a potência analgésica da


morfina, sendo utilizada na analgesia associado a anestésicos. Ele é altamente
lipofílico, cerca de 500 vezes mais lipossolúvel que a morfina, por isso apresenta
rápida e extensa distribuição sistêmica. Em baixas doses, a concentração no plasma
e no SNC cai rapidamente para níveis abaixo do nível efetivo na fase de redistribuição
e apresenta rápido início de ação e curta duração, por isso foi utilizado na cirurgia,
ademais, tem propriedades de analgesia devido ao seu mecanismo espinhal e
supraespinhal e reduz o componente afetivo da dor a nível do sistema límbico.
Também tem ação bem caracterizada sobre a substância cinzenta periaquedutal do
mesencéfalo, por onde ocorre a passagem da via decente da analgesia ou seja, liga-
se a receptores opioides no cérebro, na medula e na musculatura intestinal, inibindo o
trajeto do impulso doloroso.

Já a morfina também possui propriedade de analgesia e é um opióide mais fraco que


o fentanil por isso foi escolhida para ser utilizada no pós-operatório. O tramadol é
utilizado no manejo da dor moderada ou moderadamente intensa, assim sua atividade
depressora respiratória é menor do que a da morfina e efeito de longa duração e por
isso foi usada na sala de recuperação.

C) Quais os possíveis efeitos adversos dos opióides?

● O uso de opioides pode pode gerar euforia mediada pelos receptores Mi e


equilibrada pela disforia gerada pelos receptores K;
● sensação de contentamento e bem-estar;
● Ação no centro respiratório bulbar: diminuição na sensibilidade do centro
respiratório à PCO2;( É a causa mais comum de morte na intoxicação por
opióides!);
● Depressão do Reflexo da tosse;
● Náuseas e vômitos: Ocorrem em até 40% dos pacientes quando tomam pela
primeira vez morfina – há tolerância; -Há ativação da zona de gatilho
quimiorreceptora do tronco encefálico + componente vestibular (piora com
deambulação).
● Constrição pupilar - Miose;
● Sonolência / Sedação: Altera o padrão dos sonos REM e não-REM;
● Rigidez muscular: Por mecanismo supraespinhal, há aumento do tônus
muscular do tronco.
D) Em caso do paciente apresentar uma intoxicação por opióides, qual seria a
melhor opção farmacológica para ser usada?

R= Em caso de intoxicação pode ser utilizado antagonista de opióides, estes


antagonistas se ligam com alta afinidade aos receptores opioides, mas não ativam a
resposta mediada pelo receptor. A naloxona é um tipo de antagonista utilizada para
reverter o coma e a depressão respiratória causados pela dose excessiva de
opióides. Ela rapidamente desloca todas as moléculas opióides ligadas ao receptor e,
assim, é capaz de reverter o efeito da dose excessiva de morfina. A naltrexona tem
ações similares às da naloxona. Ela tem duração de ação mais longa do que a
naloxona, e uma única dose oral de naltrexona bloqueia o efeito da heroína injetada
por até 24 horas. A naltrexona associada à clonidina (e, algumas vezes, à
buprenorfina) é usada na desintoxicação rápida de opióides.

E) Quais as diferenças entre os sinais e sintomas apresentados por uma


intoxicação por opióides e a síndrome de abstinência?

R= Opióides são euforizantes que causam sedação. Depressão respiratória pode


ocorrer com doses altas e pode ser tratada com antídotos (p. ex., naloxona) ou
intubação endotraqueal e ventilação mecânica. A abstinência se manifesta
inicialmente com ansiedade e fissura pela droga, seguida por aumento da frequência
respiratória, diaforese, bocejos, lacrimejamento, rinorreia, midríase e cólicas
estomacais e, posteriormente, piloereção, tremores, contrações musculares,
taquicardia, hipertensão, febre, calafrios, anorexia, náuseas, vômitos e diarreia. O
diagnóstico é clínico e com testes de urina. A abstinência pode ser tratada pela
substituição com um opióide de longa ação (p. ex., metadona) ou buprenorfina (um
agonista-antagonista opioide misto).

Katzung, B.G. Farmacologia Básica e Clínica. 10ª ed. Rio de Janeiro: Artmed/McGraw-Hill,
2010;

Rang, H.P., Dale, M.M., Ritter, J.M., Flower, R.J., Henderson, G. Farmacologia. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012;

2023 MERCK & CO., INC., RAHWAY, NJ, EUA , 2023 M. & CO., Inc., Rahway, NJ, EUA.
Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/t%C3%B3picos-
especiais/drogas-recreativas-e-intoxicantes/abstin%C3%AAncia-e-intoxica
%C3%A7%C3%A3o-por-opioides>. Acesso em: abr. 26DC.

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