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CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

Prova escrita do exame final de estágio para solicitadores (2017/2018)


Primeira Época
Matéria: Direito Civil e Processual Civil

Grupo I (10 valores)

Ana Maria Silva é casada com Mário Silva desde 2001 no regime da comunhão
de adquiridos. Residem em Faro e, do casamento, nasceram dois filhos, Tiago
e Carolina, ainda menores.
Ana contacta-o(a) na qualidade de solicitador(a) no sentido de a representar
no divórcio por mútuo consentimento que o seu marido já manifestou
intenções de requerer através de carta que lhe foi dirigida pelo solicitador
André Bento, em representação daquele.
Na reunião tida com a sua constituinte apurou os seguintes factos:
O casal reconhece que o acervo patrimonial é composto por uma fração
autónoma sita em Faro, onde vivem, a qual tem um valor patrimonial
tributário de 100.000 euros, e por um veículo automóvel com o valor venal de
7.000 euros.
Quanto à partilha destes bens, o casal não se entende, pois ambos pretendem
adquirir a moradia, tendo opiniões diferentes quanto ao valor da mesma.
Porém, já convencionaram que, até ser decretado o divórcio, será Ana a
residir na referida casa. Depois dessa data, será como for determinado no
âmbito do respetivo processo.
Prescindem mutuamente de pensão de alimentos, por deles não necessitarem.
Quanto ao exercício da regulação das responsabilidades parentais, pretendem
a guarda partilhada dos dois filhos menores, os quais residirão durante uma
semana, alternadamente, com cada um dos progenitores. Por tal motivo, não
é fixada pensão de alimentos quanto aos mesmos, devendo as despesas de

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saúde e de educação ser suportadas por ambos os progenitores, em partes
iguais, mediante apresentação de recibo.
O casal é proprietário de um cão que adotaram em 2015, não havendo acordo
entre eles quanto a quem o mesmo será confiado.
Considerando os factos relatados por Ana, responda, fundamentadamente, às
seguintes questões:

1.1- Diga qual o meio e o lugar onde deve ser requerido o divórcio, os
documentos que o devem instruir, identifique as fases da tramitação
subsequente e se, na qualidade de solicitador(a), pode representar
Ana? (5 valores)
CRITÉRIOS:
- Está em causa um processo de divórcio por mútuo consentimento, nos termos do disposto no
art. 1773.º, n.º1 do CC; (0,2V)
- Este processo pode ser requerido por ambos os cônjuges, de comum acordo, na
conservatória do registo civil, ou no tribunal se, neste caso, o casal não tiver conseguido
acordo sobre algum dos assuntos referidos no n.º 1 do artigo 1775.º do CC – cf. art. 1773.º,
n.º2 do CC; (0,2V)
- Uma vez que os cônjuges estão de acordo quanto ao divórcio, mas não quanto a todos os
aspetos referidos no art. 1775.º, n.º1 do CC, designadamente quanto ao previsto na alínea f) -
destino dos animais de companhia – o divórcio terá que ser requerido no tribunal; (0,5V)
- A forma deste processo é especial – cf. arts. 994.º e ss do CPC -, integrando-se o mesmo na
categoria de processos de jurisdição voluntária previsto nos artigos 986.º e ss do CPC; (1V)
- O valor desta ação é de 30.000,01 €, por a mesma versar sobre o estado das pessoas, nos
termos do disposto no art. 303.º, n.º1 do CPC; (0,5V)
- No entanto, e apesar e o valor da ação ultrapassar o valor da alçada do tribunal de comarca,
nos termos do disposto no art. 986.º, n.º4 do CPC nos processos de jurisdição voluntária não é
obrigatória a constituição de advogado, salvo na fase de recurso; (0,30V)
- Assim, nos termos do disposto no art. 42.º do CPC, nas causas em que não seja obrigatória a
constituição de advogado podem as partes ser representadas por solicitador; (0,25V)
- O tribunal competente para tramitar o processo de divórcio é o do domicílio ou da
residência do autor, nos termos do disposto no art. 72.º do CPC, ou seja, o tribunal da
comarca de Faro; (0,25V)
- Na petição inicial os requerentes devem formular o pedido de cada uma das partes quanto à
fixação das consequências pretendidas relativamente às quais não obtiveram consenso,

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alegando como causa de pedir e oposição, os factos em que estão de acordo e os factos em
que estão em desacordo, indicando a prova que cada uma das partes pretende produzir; (0,5V)
- Os documentos que devem ser apresentados são os previstos no art. 1775, n.º1 do CC:
a) Certidão de narrativa completa do registo de casamento; (0,10V)
b) Relação especificada dos bens comuns, com indicação dos respetivos valores; (0,10V)
c) Acordo que hajam celebrado sobre o exercício das responsabilidades parentais
relativamente aos filhos menores; (0,10V)
d) Declaração de que nenhum dos cônjuges carece de prestação de alimentos; (0,10V)
e) Acordo sobre o destino da casa de morada da família; (0,10V)
E ainda:
f) Procurações forenses a favor dos mandatários que os representam; (0,10V)
g) Não há lugar ao prévio pagamento da taxa de justiça nas ações sobre o estado das pessoas –
cf. art. 15.º, n.º1 alínea e) do Regulamento das Custas processuais. (0,10V)
- As fases subsequentes à apresentação da petição inicial são:
a) Se não existir fundamento para o indeferimento liminar, o juiz fixa dia e hora para a
realização da conferência prevista no art. 995.ºdo CPC para os efeitos previstos no art. 1776.º
do CC; (0,20V)
b) Se, nesta conferência, o juiz considerar que os acordos apresentados acautelam os
interesses de todos os intervenientes e se for possível obter acordo dos cônjuges quanto a
quem será o cão confiado, o juiz procede à homologação dos mesmos; (0,20V)
c) Na falta de acordo, será produzida a prova requerida pelos cônjuges, após o que o juiz
decidirá em conformidade. (0,20V)

1.2- Decretado o divórcio e considerando a falta de acordo de Ana e Mário


quanto à partilha dos bens comuns, diga qual o meio adequado para pôr
termo à indivisão patrimonial. (2 valores)
CRITÉRIOS:
- Nos termos do disposto no art. 2.º, n.º 3 da Lei n.º 23/2013 (RJPI), de 05 de Março, o meio
adequado para pôr termo à indivisão patrimonial em caso de divórcio e na falta de acordo
entre os ex-cônjuges, é o processo de inventário ali previsto e regulado nos artigos 79.º a 81.º
daquele diploma legal. (2V)

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1.3- Para além da homologação da partilha, que outros atos carecem da
intervenção judicial no processo por si identificado na pergunta anterior?
(3 valores)
CRITÉRIOS:
- Além da homologação da partilha, é também da competência do juiz:
a) A decisão das questões que, pela sua complexidade de matéria de facto e/ou de direito, o
notário entenda remeter para os meios judiciais comuns – cf. art. 16.º, n.º1 da Lei n.º
23/2013; (0,5V)
b) A apreciação da impugnação, para o tribunal da 1.ª instância competente, do despacho
proferido pelo notário determinativo da forma da partilha – cf. art. 57.º, n.º4 da Lei n.º
23/2013; (0,5V)
c) A impugnação para o juiz das decisões que indefiram o pedido de remessa das partes para
os meios comuns – cf. art. 16.º, n.º 4; (1V)
d) Pela remessa do processo ao tribunal no âmbito do regime jurídico do processo de
inventário é devida taxa de justiça correspondente à prevista na tabela ii do Regulamento das
Custas Processuais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro, para os
incidentes/procedimentos anómalos, podendo a final o juiz determinar, sempre que as
questões revistam especial complexidade, o pagamento de um valor superior dentro dos
limites estabelecidos naquela tabela – cf. art. 83.º, n.º 1 da Lei 23/2013. (0,5V)
e) A sentença ou o despacho que omitam o nome das partes, sejam omissas quanto a taxas e
custas, ou contenham erros de escrita ou de cálculo ou quaisquer inexatidões devidas a outra
omissão ou lapso manifesto, podem ser corrigidos por simples despacho, a requerimento de
qualquer das partes ou por iniciativa do juiz cf. art.70.º, n.º2 da Lei 23/2013 (0,5V)

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Grupo II (10 valores)

Instruções de preenchimento:
Resposta: a resposta a cada uma das questões deve ser dada através do
preenchimento de um dos quadrados na sua totalidade. Exemplo:

)
Engano na resposta: quando se enganar, deve fazer uma cruz por cima da
resposta que considera errada e preencher a nova resposta pretendida.
Exemplo:
a

)
)

No caso supra identificado a resposta correta corresponde ao terceiro


quadrado.

Cada questão deste grupo tem uma cotação de 2 valores. A resposta errada
desconta 1 valor. A falta de resposta não é cotada. Uma eventual cotação
total negativa neste grupo equivale a 0 valores, não prejudicando a cotação
obtida no Grupo I.

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2.1- Carlos é titular da nua propriedade de uma vivenda sita em Lisboa,
que pretende vender a Luís. Ana, na qualidade de usufrutuária daquele
imóvel, alega ser titular de direito de preferência nesta aquisição. Diga:
Tem razão, uma vez que o usufruto é direito real de gozo oponível erga
omnes;
Tem razão, uma vez que o usufruto é direito real de gozo, atribuindo-lhe
plenos poderes de uso e fruição;
Ana, na qualidade de usufrutuária, não é titular de direito de preferência
nesta aquisição;
Nenhuma das opções anteriores está correta.

2.2- Américo Amaral deu de arrendamento a Batista Bento, no dia 1 de


dezembro de 2017, uma fração autónoma destinada a habitação própria e
permanente, pelo prazo de 5 anos, mediante a renda mensal de 500 euros.
Batista Bento não pagou as rendas correspondentes aos meses de fevereiro
e março de 2018. Pode Américo, com este fundamento, resolver, nesta
data e extrajudicialmente, o contrato em causa?
Pode, mas tem que enviar carta registada com aviso de receção ao
arrendatário;
Pode, uma vez que, atualmente, o senhorio tem a faculdade de pôr termo
ao contrato com base na falta de pagamento correspondente a duas rendas
mensais;
Não pode;
Nenhuma das opções anteriores está correta.

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2.3- O contrato de mútuo no valor de 11.000 euros só constitui título
executivo destinado a exigir o pagamento da quantia mutuada se for
celebrado:
Através de documento particular assinado pelo mutuário;
Através de documento particular com o reconhecimento presencial da
assinatura do mutuário;
Através de documento autêntico ou documento particular autenticado
assinado pelo mutuário;
Nenhuma das opções anteriores está correta.

2.4- O condómino que pretenda atuar judicialmente contra a deliberação


aprovada em assembleia de condóminos relativa ao valor da sua quota
mensal, deve propor ação:
Apenas contra o administrador do condomínio em exercício à data da
propositura da ação;
Contra o administrador do condomínio e contra todos os proprietários das
restantes frações que tenham aprovado as medidas a impugnar;
Contra o administrador do condomínio e todos os proprietários das
restantes frações que o compõem;
Nenhuma das opções anteriores está correta.

2.5- Nos termos do Regulamento (UE) n.º 650/2012 do Parlamento Europeu


e do Conselho, de 4 de julho de 2012, a lei supletivamente aplicável ao
conjunto da sucessão é:
A lei do Estado de que é nacional no momento do óbito;
A lei do Estado de que é nacional no momento em que faz a escolha ou no
momento do óbito;
A lei do Estado cujo falecido tinha uma relação manifestamente mais
estreita;
Nenhuma das respostas anteriores.

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