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DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Académica
2.ª CHAMADA
2 – Cotações:
- Caso 1 (7 valores)
1 – 1 valores
2 – 2 valores
3 – 4 valores
- Caso 2 (7 valores)
1 – 1,5 valores
2 – 1,5 valores
3 – 4 valores
- Caso 3 (6 valores)
1 – 4 valores
2 – 2 valores
6 – Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até
um máximo de 3 valores, para o total da prova.
(7 valores)
Alta Casa - Construção Civil, Lda., com sede em Faro, demandou Branca e Bernardo,
residentes em Lisboa, pedindo que os Réus lhe paguem a quantia de € 50.300 e juros
moratórios desde a citação, alegando ter realizado os trabalhos de remodelação da moradia
de que estes são proprietários em Lagos, o que fez a pedido destes e conforme orçamento e
caderno de encargos por eles aceite em 3 de janeiro de 2014, correspondendo o capital em
dívida ao remanescente da fatura n.º 123.
Em sede de contestação, Branca e Bernardo arguiram a exceção do caso julgado,
alegando que a pretensão da Autora é exatamente igual à que foi objeto da ação que correu
termos entre as mesmas partes, na qual foi proferida sentença que julgou improcedente a
ação, dada a procedência da exceção de não cumprimento do contrato pela existência de
defeitos na obra que se discriminaram na sentença, decisão confirmada por acórdão do
Tribunal da Relação, transitado em julgado. Acrescentaram ainda que, até à data da
propositura da acção agora intentada, a Autora não eliminou os defeitos da obra descritos na
sentença, pelo que não têm de pagar a quantia reclamada.
Na audiência prévia, a Autora alegou já ter reparado os defeitos em causa, embora com
uma única ressalva, que respeita à pintura dos tetos de três divisões do rés do chão,
permanentemente húmidos, situação impossível de resolver enquanto os Réus não
impermeabilizarem o terraço do 1.º andar (trabalhos não contemplados no orçamento) e/ou,
pelo menos, removerem ou deixarem de regar as floreiras que aí existem. Conclui, assim, que
não se verifica a exceção do caso julgado.
Mais alegou que, independentemente deste facto, não é oponível a exceção de não
cumprimento, como causa de não cumprimento da obrigação de pagamento de uma dívida de
capital de € 50.300, pelo motivo de existirem três tetos nos quais não foi aplicada a pintura
final.
1 - Indique, justificadamente, qual o tribunal competente para a ação intentada por Alta
Casa - Construção Civil, Lda. contra Branca e Bernardo.
(1 valor)
(2 valores)
3 - Suponha que:
(4 valores)
Caso 2
(7 valores)
(1,5 valores)
(1,5 valores)
(4 valores)
Caso 3
(6 valores)
1 - Aprecie as pretensões da Autora e dos Réus e indique a solução que reputa mais
adequada, fundamentando a sua resposta.
(4 valores)
2 - Supondo que se apurou que o caminho se situa no prédio dos Réus e que o prédio de
que a Autora é proprietária sempre foi servido pelo lado poente pelo referido caminho, o
que sucedia há mais de 20 anos, à vista de todos e sem oposição, analise a viabilidade das
pretensões das partes, indicando, de forma fundamentada, a solução que considera mais
adequada.
(2 valores)
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via académica
Grelha de Correção
Nota:
1
Caso 1
(7 valores)
O Tribunal competente é o Juízo Central Cível de Lisboa (do Tribunal Judicial da Comarca
de Lisboa) - artigos 71.º do Código de Processo Civil, artigos 33.º e 117.º, n.º 1, alínea a), e
Anexo II, da Lei n.º 62/2013, de 26 de agosto (Lei de Organização do Sistema Judiciário) e
mapa III anexo ao Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de março (Regime aplicável à organização e
funcionamento dos tribunais judiciais).
Analisar a verificação dos requisitos da exceção dilatória do caso julgado (artigos 580.º e
581.º do Código de Processo Civil), tendo ainda em atenção o disposto no artigo 621.º do
Código de Processo Civil.
Concluir que a Autora não poderia ficar impedida de propor nova ação contra os Réus
peticionando a mesma quantia, desde que procedesse à eliminação/reparação dos defeitos da
obra que executou.
É o que resulta do artigo 621.º do Código de Processo Civil, normativo que se aplica
designadamente quando a absolvição do pedido resulta de ter sido julgada procedente uma
exceção dilatória de direito material, como é o caso da exceção de não cumprimento do
contrato, e a situação fáctica se altera mais tarde, mormente pela realização da prestação
devida.
Não obstante os Réus argumentem que a Autora ainda não eliminou todos os defeitos
da obra, a Autora alegou já ter reparado os defeitos em causa com uma única ressalva, cuja
resolução depende da colaboração dos Réus.
Assim, não poderá o Tribunal, sem mais, concluir pela procedência da exceção de caso
julgado. Será mais acertado relegar o seu conhecimento para a sentença, de forma a permitir
que a Autora prove ter procedido à reparação dos defeitos em causa, sendo a exceção julgada
improcedente.
2
3 - Suponha que: i) não existiu uma ação anterior; ii) a Autora procedeu à reparação
dos defeitos denunciados pelos Réus, com ressalva da pintura dos três tetos; iii) os Réus
recusam pagar a quantia peticionada, invocando a persistência de defeitos.
Apresente a solução do litígio, considerando a hipótese de resultar provada quer a
factualidade acima descrita a respeito da invocada impossibilidade das reparações ainda em
falta, quer a hipótese de não resultar provada tal factualidade.
4 valores
3
Caso 2
7 valores
4
Concluir que, sendo deferido o incidente, a Finantia – Cessão de Créditos, S.A.
ocuparia o lugar da Arnaldo – Organização de Festas, Lda..
5
Caso 3
(6 valores)
1 - Aprecie as pretensões da Autora e dos Réus e indique a solução que reputa mais
adequada, fundamentando a sua resposta.
4 valores
6
b) Quando exista previsão delitual específica que contemple os danos económicos
puros, como por exemplo, as normas dos artigos 485.º e 495.º do Código Civil;
c) Quando se verifique abuso do direito, nas condições em que este constitua fonte de
responsabilidade civil - artigo 334.º do Código Civil.
Analisando a hipótese, ponderar se a conduta dos Réus, ao impedirem a circulação no
caminho, constituiu violação de norma legal destinada a proteger interesses alheios prevista
no artigo 3.º do Código da Estrada, a qual tutela a liberdade de trânsito.
Concluir pela exclusão da alternativa de fundar a ressarcibilidade dos danos económicos
puros na violação de norma destinada a proteger interesses alheios, uma vez que o
impedimento da circulação rodoviária constitui uma conduta ilícita desde que estejam em jogo
“vias do domínio público” ou “vias do domínio privado quando abertas ao trânsito público” -
artigo 2.º, conjugado com o artigo 3.º, n.º 1, do Código da Estrada, e não há dados que
permitam aquilatar se o caminho constitui via do domínio público ou via do domínio privado
aberta ao trânsito público.
Indagar da admissibilidade do abuso do direito como cláusula geral de ilicitude e, em
caso afirmativo, analisar a sua aplicação à liberdade genérica de agir. Considerar a noção de
“direito” reportada a quaisquer situações jurídicas e não apenas aos direitos subjetivos ou
aportar para o sistema vigente, sem auxílio do abuso do direito, uma proibição destinada a
assegurar o mínimo ético-jurídico no relacionamento entre os membros da comunidade
jurídica - cf. doutrina citada no acórdão do STJ de 8 de setembro de 2016, in www.dgsi.pt.
Ponderar que, das três vertentes do abuso do direito - excesso manifesto dos limites
impostos pela boa fé, bons costumes e fim social ou económico -, a segunda aparece como
essencial para efeitos de responsabilidade civil.
Analisar a conduta dos Réus de interrupção da passagem em caminho relativamente ao
qual não tinham qualquer direito, utilizando blocos de cimento de grandes dimensões a fim de
inviabilizar a circulação dos veículos da Autora ou dos veículos de terceiros que lhe prestavam
serviços.
Concluir que a atuação dos Réus pode configurar uma manifesta violação dolosa dos
limites impostos pelos bons costumes (artigo 334.º do Código Civil) ou uma grave afetação do
mínimo ético-jurídico exigível na convivência social, sem que estejam preenchidos os
pressupostos da ação direta - artigo 336.º do Código Civil.
Verificados todos os pressupostos da responsabilidade civil, concluir pelo dever de os
Réus indemnizarem a Autora, ao abrigo dos artigos 562.º e ss. do Código Civil, pelas despesas
em que esta incorreu com a perda do carregamento de betão no valor de 4.280 € e com o
trabalho de reposição do caminho no estado em que este se encontrava, no valor de 10 000 €
7
(pago a uma terceira empresa), sendo de excluir da indemnização a parcela de 8 000 €, por
não resultar da hipótese que a Autora tenha pago tal valor à empresa encarregue de efetuar
as obras.
2 - Supondo que se apurou que o caminho se situa no prédio dos Réus e que o prédio
de que a Autora é proprietária sempre foi servido pelo lado poente pelo referido caminho, o
que sucedia há mais de 20 anos, à vista de todos e sem oposição, analise a viabilidade das
pretensões das partes, indicando, de forma fundamentada, a solução que considera mais
adequada.
2 valores
8
Como referido na resposta anterior, verificado todos os pressupostos da
responsabilidade civil, concluir pelo dever de os Réus indemnizarem a Autora, ao abrigo dos
artigos 562.º e ss. do Código Civil, pelas despesas em que esta incorreu com a perda do
carregamento de betão no valor de 4.280 € e com o trabalho de reposição do caminho no
estado em que este se encontrava, no valor de 10 000 € (pago a uma terceira empresa), sendo
de excluir da indemnização a parcela de 8 000 €, por não resultar da hipótese que a Autora
tenha pago tal valor à empresa encarregue de efetuar as obras.
9
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Académica
1.ª CHAMADA
HORA: 14H 15M (DE ACORDO COM O DISPO STO NO ART. 12.º DO
REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS
JUDICIÁRIOS, O TEMPO DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA -SE
DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA DESIGNADA)
2 – Cotações:
- Grupo I (14 valores)
- Grupo II (6 valores)
1 – 2 valores
2 –
2.1. - 1 valor
2.2. - 1 valor
3 – 2 valores
6 – Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até
um máximo de 3 valores, para o total da prova.
(14 valores)
Ainda nesse dia, ANTÓNIO publicou na referida página do Facebook o seguinte texto:
BERTA SERVE OS INTERESSES DOS CONSTRUTORES CIVIS E NÃO DO POVO! ELA
ENRIQUECE E NÓS EMPOBRECEMOS! SERVILISMO NÃO, DEMISSÃO SIM!
Junto a esse texto, inseriu uma foto de BERTA a inaugurar uma estrada, que retirou da
página oficial da Câmara Municipal na internet, sobre a qual colocou, com um
programa de edição de imagens, umas barras de ferro cruzadas como se fossem as
grades de uma cela.
Pelas 15h00, BERTA, incomodada com a demorada presença de DINIS e do seu cartaz, e
preocupada com os danos que isso poderia causar à sua imagem pública, telefonou a
EMÍLIA, cabo da Guarda Nacional Republicana no Posto sito na mesma Praça, e sua
amiga de infância, a quem pediu o favor de ali se deslocar e forçar o DINIS a abandonar
o local. EMÍLIA respondeu-lhe não saber se legalmente o poderia fazer, mas acabou por
dizer que o faria desde que, no Verão, BERTA a deixasse passar uma semana com a
família na sua casa (de BERTA) no Algarve. BERTA prometeu-lhe que iria pensar nisso,
mas que agora, a bem ou a mal, EMÍLIA teria de retirar dali o DINIS.
Logo após, EMÍLIA, devidamente fardada, saiu do Posto e caminhou até DINIS, a quem
ordenou que abandonasse o local imediatamente. DINIS respondeu-lhe “não me
chateies” e, ato contínuo, desferiu-lhe uma pancada na cabeça com o pau do cartaz.
Atordoada pela pancada, EMÍLIA disse a DINIS que estava detido e que teria de a
acompanhar ao Posto. De seguida, retirou-lhe o cartaz das mãos, dizendo que estava
apreendido. Segurando DINIS por um braço, começou a puxá-lo em direção ao Posto.
Entretanto, no jardim ali perto, ANTÓNIO e seu irmão gémeo HUGO presenciavam e riam
com tudo o que passava, facto que desagradou a CARLOS, que também via o que se
passava do interior da sua loja de limpeza a seco. Irritado, CARLOS decidiu humilhar
ANTÓNIO. Para evitar ser reconhecido, vestiu uma farda da Guarda Nacional
Republicana de EMÍLIA, que ali tinha para limpar, e dirigiu-se a ANTÓNIO e HUGO. Sem
proferir qualquer palavra, CARLOS desferiu um soco na face de HUGO, pensando tratar-
se de ANTÓNIO, e logo fugiu a correr. HUGO, que havia bebido vários copos de
aguardente desde o almoço – facto que era do conhecimento de ANTÓNIO, mas não de
CARLOS –, cambaleou e, tentando manter-se de pé, deu uns passos para trás e outros
para o lado, até que caiu de face para baixo, no lago dos patos, que tinha um metro de
profundidade.
De imediato, ANTÓNIO, vendo o seu irmão caído no lago, mas confiando que o mesmo
se levantaria, correu atrás de CARLOS, tentando repetidamente sem sucesso pontapeá-
lo, até que este, alguns minutos depois, conseguiu entrar na sua casa e fechar a porta.
(6 valores)
2. Recebendo a notícia dos factos supra descritos, o Ministério Público abriu inquérito.
Se, após a decisão do Ministério Público, mas antes da apreciação pelo Juiz de
Instrução, ANTÓNIO, arguido, requerer a consulta do processo, há fundamento legal
para tal lhe ser recusado?
(1 valor)
2.2. Nesse mesmo dia, o oficial de justiça do Juízo Central de Instrução recebeu o
processo. Porém, afundado em centenas de despachos por cumprir, apenas o
apresentou ao Juiz de Instrução uma semana depois.
O a.
JuizOde
Juiz de Instrução
Instrução aindaainda
pode pode validar
validar a decisão
a decisão do Ministério
do Ministério Público?
Público?
(1 valor)
3. Durante o inquérito, a testemunha MARIA relatou que no dia 7 de janeiro de 2018,
quando estava no cabeleireiro, ouviu INÁCIA – casada com o arguido FERNANDO – contar
que, na noite anterior, este chegou a casa com um cartaz pregado num pau, onde se
lia: BERTA, DEMITE-TE!
(1 valor)
34.º CURSO
GRELHA DE CORRECÇÃO
GRUPO I
Aprecie a eventual responsabilidade criminal de cada uma das pessoas infra mencionadas.
(14 valores)
I – ANTÓNIO
ANTÓNIO cria página de Facebook em nome Não há crime de falsidade informática (artigo 3.º, n.º 1, da
de Carlos e aí insere foto deste. Lei 109/2009), pois ANTÓNIO não tem intenção de provocar
engano nas relações jurídicas e essa página não é considera-
da ou utilizada para finalidades juridicamente relevantes
como se o fosse.
Pode defender-se a integração da conduta no crime previsto
1 e punido pelo artigo 3.º, n.º 3, da Lei 109/2009. 1
ANTÓNIO publica no Facebook: BERTA SER- Haverá que fazer o confronto entre a liberdade de expressão
VE OS INTERESSES DOS CONSTRUTORES e o direito à honra, relevando particularmente o facto de
CIVIS E NÃO DO POVO! ELA ENRIQUECE E BERTA ser titular de cargo político. Note-se que há insinua-
NÓS EMPOBRECEMOS! SERVILISMO NÃO, ção, mas não afirmação de que BERTA enriquece pelo servi-
2 DEMISSÃO SIM! lismo aos construtores; não há juízo sobre a pessoa, mas 1,2
sobre as suas acções. Afigura-se inexistir crime de difamação
– artigo 180.º, n.º 1, do Código Penal. Sendo Berta titular de
cargo político, está sujeita a crítica pública, mesmo que ex-
cessiva.
Junto a esse texto, ANTÓNIO insere foto de Não há crime de fotografia ilícita, pois sendo a foto da Presi-
BERTA que retirou da página oficial da Câ- dente da Câmara em local e acto público não ofende o seu
mara Municipal na internet, sobre a qual direito à imagem (não há tipicidade objectiva - há redução da
colocou, com um programa de edição de área de tutela típica do direito à imagem – artigo 79.º, n.ºs 1
imagens, umas barras de ferro cruzadas e 2, do Código Civil.
3 como se fossem as grades de uma cela. 0,8
Pelos fundamentos antes expostos, o colocar as grades sobre
a imagem de BERTA (com isso insinuando que a mesma co-
meteu crime e deve ser presa) também não integra o crime
de difamação.
ANTÓNIO corre alguns minutos atrás de O crime de ofensa à integridade física tentada não é punível
CARLOS, tentando repetidamente sem su- porque ao crime não cabe pena de prisão superior a 3 anos e
4 cesso pontapeá-lo. a punibilidade não está expressamente prevista – artigos 1
143.º, n.º 1, e 23.º, n.º 1, do Código Penal.
1
Não sendo punível esta tentativa, deve questionar-se a exis-
tência do crime de ameaça (artigo 153.º, n.º 1, do Código
Penal), pois ANTÓNIO ao correr durante vários minutos atrás
de CARLOS, manifesta intenção de o ofender na sua integri-
dade física e deixou-o com medo (razão por que foge).
ANTÓNIO não presta auxílio ao seu irmão ANTÓNIO comete, como autor material e na forma consu-
HUGO e este acaba por falecer devido a mada, por omissão, um crime de homicídio por negligência,
asfixia por afogamento previsto e punido pelas disposições conjugadas dos artigos
137.º, n.º 1, e 10.º, n.ºs 1 e 2, do Código Penal.
Ele sabe que o seu irmão está embriagado devido à aguar-
dente ingerida e tem dever de garante (ex vi do artigo 2009.º,
5 n.º 1, alínea d), do Código Civil). Vê-o caído no lago, mas 1,3
confia que o mesmo se levantaria. Ou seja, está em erro
quanto à necessidade de o auxiliar, o que exclui o dolo (o
crime de homicídio previsto e punido pelo artigo 131.º do
Código Penal), mas não a negligência – artigo 16.º do Código
Penal. O homicídio é-lhe assim imputável a título de negli-
gência (consciente). Há previsibilidade, evitabilidade e nexo
causal.
Crimes cometidos por ANTÓNIO, seu sócio- Nenhum dos crimes imputáveis a ANTÓNIO pode ser da res-
gerente ponsabilidade da pessoa colectiva - não constam do catálogo
6 do artigo 11.º, n.º 2, do Código Penal. 0,2
ANTÓNIO também nunca agiu em nome e no interesse da
sociedade.
III – BERTA
BERTA pede a EMÍLIA (Cabo da GNR) que, a Não comete, em autoria material, o crime de abuso de po-
bem ou a mal, force DINIS a abandonar a der (artigo 26.º da Lei 34/87), pois não exerce qualquer po-
Praça do Município. der sobre EMÍLIA, poder que nem sequer tem. Porém, é ins-
7 0,8
tigadora do crime de abuso de poder que EMÍLIA vem a
cometer, pois incita-a a retirar o DINIS a bem ou a mal (tem
pelo menos dolo eventual).
BERTA promete a EMÍLIA pensar na solicita- BERTA não comete crime de corrupção activa (artigo 374.º,
8 ção desta para passar uma semana na sua n.º 1, do Código Penal), pois não promete a vantagem, mas 0,7
casa no Algarve apenas pensar sobre a vantagem.
IV – CARLOS
CARLOS veste farda da GNR de EMÍLIA Não há crime de abuso de uniforme (artigo 307.º, n.º 2, do
Código Penal), pois não actua com intenção de fazer crer que
9 0,5
o uniforme lhe pertence, mas apenas de ocultar a sua identi-
dade.
CARLOS desfere soco na face de HUGO, Comete, como autor material e na forma consumada, um
10 pensando tratar-se de ANTÓNIO crime de ofensa à integridade física simples – artigo 143.º, 0,7
n.º 1, do Código Penal.
V – DINIS
2
DINIS exibe cartaz “BERTA, DEMITE-TE”. Ao exibir o cartaz, DINIS está no exercício de direito de liber-
dade de expressão. Não comete qualquer crime.
DINIS desfere uma pancada na cabeça de
EMÍLIA com o pau do cartaz Ao desferir a pancada, comete, em autoria material e na
forma, o crime de ofensa à integridade física qualificada -
11 artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, e 132.º, n.º 1
2, alínea l), do Código Penal, sendo de afastar o crime de
resistência e coacção sobre funcionário (artigo 347.º, n.º 1,
do Código Penal) por EMÍLIA estar em abuso de poder. Não
há legítima defesa.
Após GONÇALO ter empurrado EMÍLIA, DINIS comete, como autor material e na forma consumada,
DINIS foge um crime de evasão – artigo 352.º, n.º 1, do Código Penal. A
12 detenção já se efectivara. 0,7
DINIS leva a pistola de serviço de EMÍLIA, DINIS comete, como autor material e na forma consumada,
que caiu ao chão quando GONÇALO a em- um crime de furto simples, previsto e punido pelo artigo
purrou 203.º, n.º 1, do Código. Comete ainda, como autor material
e na forma consumada, um crime de detenção de arma
13 0,8
proibida – artigo 86.º, n.º 1, alínea c), da Lei n.º Lei n.º
5/2006, de 23.II, por referência aos artigos 2.º, n.º 1, alíneas
p), q) e ae), e 3.º, n.º 3, da mesma lei. Este crime está numa
relação de concurso efectivo com o de furto.
VI – EMÍLIA
EMÍLIA, Cabo da GNR em exercício de fun- Comete, como autora material, um crime de corrupção
ções, solicita a BERTA a utilização da sua passiva – artigo 373.º, n.º 1, do Código Penal. O crime con-
casa de férias a troco de um acto que é sumou-se com a mera solicitação. Os militares da GNR, pela
contrário aos deveres do cargo. natureza das funções de polícia que exercem, que está com-
14 preendida na função pública administrativa, incluída no Títu- 0,8
lo IX da CRP, também se incluem na previsão do artigo 386.º,
n.º 1, al d), do Código Penal.
EMÍLIA ordena a DINIS para abandonar a DINIS estava a exercer um direito, não existindo qualquer
Praça. fundamento legal para EMÍLIA proferir tal ordem. Fê-lo abu-
sando dos seus poderes e violando os deveres de imparciali-
15 dade e respeito pela lei inerentes às suas funções, tendo 0,8
ainda a intenção de beneficiar BERTA. Cometeu assim, como
autora material e na forma consumada, um crime de abuso
de poder – artigo 382.º do Código Penal.
VII – FERNANDO
FERNANDO pega no cartaz, que ficara caído FERNANDO não é comparticipante nos crimes de DINIS e
no chão, empunha-o e corre para longe dali GONÇALO, pois neles não teve qualquer tipo de participação.
com GONÇALO e DINIS, pondo-se de imedia-
Ao subtrair o cartaz, que estava apreendido, comete, como
to em fuga.
autor material e na forma consumada, um crime de desca-
16 minho – artigo 355.º do Código Penal. Poderia ainda conside- 0,8
rar-se o crime de favorecimento pessoal (artigo 367.º, n.º 1,
do Código Penal), pois o cartaz poderia ser elemento de pro-
va. Porém, sendo FERNANDO irmão de DINIS, a sua conduta
não é punível – artigo 367.º, n.º 5, alínea b), do Código Penal.
VIII – GONÇALO
3
GONÇALO correu na direcção de EMÍLIA e Comete, como autor material e na forma consumada, um
empurrou-a, dizendo a DINIS para fugir crime de tirada de presos – artigo 349.º, alínea a), do Código
17 0,8
Penal. DINIS estava regularmente detido pelo crime de ofen-
sa à integridade física. A detenção já se efectivara.
IX – HUGO
HUGO ri com tudo o que se passa envolven- Não comete qualquer crime.
18 0,1
do DINIS, EMÍLIA, FERNANDO e GONÇALO
4
GRUPO II
Questão 1
2 valores
O Sargento JOSÉ procurou por objectos relacionados com um crime ou que pudessem servir de prova nas instalações
de uma pessoa colectiva, que é lugar reservado ou não livremente acessível ao público, embora não domicílio. O re-
gime de tal diligência é, pois, o das medidas cautelares e de polícia e das buscas – artigos 249.º, n.º 1, alínea c), e
174.º, n.ºs 2 a 6, do CPP. Como regra, tais buscas apenas podem ser autorizadas ou ordenadas por autoridade judici-
ária. Excepcionalmente, poderão os OPC's realizá-las sem autorização ou despacho prévio de autoridade judiciária –
n.º 5 do artigo 174.º.
No caso, o único fundamento que poderia existir seria o da alínea b), consentimento dos visados, que deveria ficar,
por qualquer forma, documentado. Há que apreciar se a frase “a polícia pode sempre entrar!” é efectivo consenti-
mento, sendo de considerar que é.
Depois, há que decidir se uma funcionária que trata da contabilidade se pode considerar “visado” para efeitos de ter
legitimidade para consentir na busca. Deve entender-se que é sempre necessário o consentimento do titular do do-
micílio que seja visado pela diligência processual, não bastando o consentimento de quem tem a disponibilidade do
local. No caso, quem autorizou não representava de forma alguma a titular do direito à privacidade, que era a O QUE
É BOM SEMPRE ACABA, L.da, e que só poderia ser representada pelo seu gerente, ANTÓNIO. Por outro lado, o consen-
timento não ficou documentado por forma alguma.
Afigura-se mais defensável o entendimento de que não existe método proibido de prova (artigo 126.º, n.º 3, do Códi-
go de Processo Penal, que reproduz a segunda parte do n.º 8 do artigo 32.º da CRP), pois o domicílio aí referido não
abrange a sede das pessoas colectivas. A protecção é conferida apenas à esfera da intimidade da vida privada e fami-
liar em que se baseia a inviolabilidade do domicílio.
Quem, fundamentando devidamente, considere que na expressão “domicílio” prevista no n.º 3 do artigo 126.º do
CPP se inclui também a sede das pessoas colectivas, deverá então considerar que se verifica uma proibição de prova,
não podendo a busca e consequentes apreensões ser valoradas.
Quem, fundamentando devidamente, conclua em sentido contrário, terá depois de concluir que existe apenas uma
irregularidade, pois, não estando em especial prevista a nulidade (para uma situação de busca a sede de pessoa co-
lectiva por OPC sem autorização de autoridade judiciária e com consentimento de quem não é visado), aplica-se a
regra geral – artigo 118.º, n.ºs 1 e 2, do CPP.
Os actos irregulares produzem os seus efeitos enquanto a irregularidade não for declarada. Qualquer irregularidade
do processo só determina a invalidade do acto a que se refere e dos termos subsequentes que possa afectar quando
tiver sido arguida pelos interessados no próprio acto ou, se a este não tiverem assistido, nos três dias seguintes a
contar daquele em que tiverem sido notificados para qualquer termo do processo ou intervindo em algum acto nele
praticado – artigo 123.º, n.º 1, do Código de Processo Penal.
Questão 2
[Segredo de Justiça]
5
a. A decisão de sujeição do processo a segredo é do Ministério Público, não do juiz de instrução. Assim, é válida e
eficaz só por si, embora fique sujeita a uma condição (resolutiva). Apenas deixará de ser eficaz se o juiz de instrução a
não validar. (1 valor)
b. A resposta deve ser afirmativa. O incumprimento do prazo não tem qualquer consequência jurídica, pois a decisão
está eficaz. Mesmo que assim não fosse, nada impediria o Ministério Público de decretar novamente o segredo, ha-
vendo novo prazo para validação pelo juiz de instrução. Note-se, ainda, que o incumprimento do prazo não é imputá-
vel nem ao Ministério Público, nem o juiz de instrução.
Questão 3
[Depoimento de Maria]
(2 valores)
Note-se, desde logo, que a questão respeita à admissibilidade de valoração e não ao concreto valor probatório (natu-
ralmente, sujeito à livre apreciação do julgador).
Existe divisão sobre a questão colocada, havendo jurisprudência no sentido que a recusa de depoimento da testemu-
nha-fonte impede a valoração do depoimento da testemunha-inicial e jurisprudência em sentido contrário.
Afigura-se-nos mais correcta a resposta afirmativa. O depoimento indirecto tem valor probatório autónomo face ao
da testemunha. É claro na letra do artigo 129.º, n.º 1, do CPP, que é um verdadeiro meio de prova. Não é apenas uma
forma de identificar a testemunha-fonte ou de aferir da credibilidade do seu depoimento. O artigo 129.º, n.º 1, ape-
nas obriga a que se chame a testemunha-fonte (e mesmo aí com excepções), não a que esta efectivamente deponha
e confirme o declarado pela testemunha inicial. O facto de alguém recusar o depoimento não apaga tudo aquilo que
ela disse antes; o mesmo sucede com o arguido e o seu direito ao silêncio. O fundamento da possibilidade de recusa
de depoimento (artigo 134.º, n.º 1, do CPP) é evitar que alguém, sendo obrigado à verdade, seja colocado na situa-
ção/dilema de, para não cometer um crime, ter de contribuir para a condenação de um familiar; ora, tal não sucede
no regime do depoimento indirecto, pois as declarações foram feitas fora do processo, de forma livre e espontânea,
não havendo qualquer “dilema” por parte de quem as proferiu. Finalmente, se não fosse admissível tal depoimento
indirecto, também nunca poderiam ser alvo de escuta telefónicas as pessoas que se enquadram nas categorias do
artigo 134.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, e podem; de igual modo, se não pudessem ser utilizadas essas, por
maioria de razão, também não poderiam ser utilizadas as do próprio arguido quando ele se remete ao silêncio e do-
cumentos ou correspondência desse familiar, e podem.
6
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Académica
2.ª CHAMADA
HORA: 14H 15M (DE ACORDO COM O DISPO STO NO ART. 12.º DO
REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS
JUDICIÁRIOS, O TEMPO DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA -SE
DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA DESIGNADA)
1
PROVA ESCRITA DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Académica – 2.ª Chamada – 01 de março de 2018
2 – Cotações:
- Grupo I (13 valores)
2
5 – As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a
grafia do “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” (aprovado pela Resolução da
Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo Decreto do Presidente da
República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-lo expressamente
no quadro “Observações” da folha de rosto que lhes será entregue, escrevendo
“Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da
República n.º 26/91, não está em vigor com carácter de obrigatoriedade”, sendo a
prova corrigida nesse pressuposto.
6 – Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até
um máximo de 3 valores, para o total da prova.
3
GRUPO I
(13 valores)
Em momento indeterminado do ano de 2016, António André, sucateiro, com vista a obter
ganhos económicos, decidiu constituir um grupo de pessoas para se apoderarem de
veículos automóveis de propriedade alheia que se encontrassem na via pública para, de
seguida, os desmantelar e os vender em peças.
Com tal desiderato, no mesmo ano, o António abordou o Bruno Bastos, mecânico de
automóveis com larga experiência, que se encontrava desempregado e que, por isso,
prontamente acedeu ao convite para desmantelar veículos automóveis para serem
vendidas as respetivas peças.
Cerca de uma semana depois, o António abordou Carlos Castro e David Damásio, que sabia
serem exímios na arte de se apoderarem de veículos automóveis através do uso de
imitações de chaves, tais como gazuas e outros instrumentos similares e ligação direta dos
respetivos motores.
Por último, no mesmo ano, o António abordou um indivíduo chamado Eduardo Espinhaço,
convidando-o a participar no grupo, pois sabia que este tinha inúmeros contactos de
pessoas pertencentes ao ramo de compra e venda de peças automóveis e que, inclusive, as
exportavam para fora da União Europeia, nomeadamente para o Brasil, Rússia, Marrocos,
Egito e Argélia.
O Bruno, o Carlos, David e Eduardo aceitaram o convite do António para fazerem parte do
dito grupo e praticarem os atos necessários no âmbito dos já aludidos conhecimentos
especializados de cada um, com o fim de obterem proventos económicos. O grupo em
questão, inclusive, constituiu, para efeitos da dita atividade e para agir a seu coberto, uma
sociedade comercial por quotas, com a firma “Velozes&Curiosos, Lda.”, com o objeto social
“Sucata, comércio por grosso e a retalho de peças auto e veículos a motor”, com um capital
social igual a 5.000,00€ e sede na Rua da Quintela, n.º 26, Lisboa. No contrato de sociedade
4
de tal pessoa jurídica, para além dos elementos referidos, foram indicados como sócios os
cinco indivíduos do dito grupo, com quotas e entradas de capital de 20% quanto ao Carlos e
David, 15% em relação ao Bruno e Eduardo, e 30% quanto ao António. O António, com o
acordo de todos os demais, foi indicado, no respetivo contrato de sociedade, como sócio-
gerente, com os inerentes poderes de administração e representação da sociedade. O
registo definitivo daquela sociedade por quotas junto da competente Conservatória de
Registo Comercial ocorreu em 15 de dezembro do ano de 2016.
Um dos referidos veículos de maior valor de que o Carlos se apoderou tinha o acesso
condicionado por uma chave virtual, cuja introdução no computador do automóvel era
necessária realizar através de uma comunicação via smartphone, quer para aceder ao
interior do veículo (sem estragos materiais), quer para desbloquear e ligar o respetivo
motor. Em tal contexto, no dia 2 de maio de 2017, pelas 14:00, o Carlos, para se apoderar
deste veículo - e porque o uso de imitações de chaves materiais e a usual ligação direta não
eram métodos viáveis - recorreu a uma aplicação digital que tinha instalada no seu
smartphone, denominada “Besthack.03”. Esta aplicação tinha sido adquirida pelo mesmo
pouco tempo antes na darknet, por um valor correspondente a 2.000,00€, a um indivíduo
que se identificava com o nome de Lord Hackney. Tal aplicação, após ligação ao respetivo
servidor, permitiu-lhe copiar os dados referentes à chave virtual do dito veículo e, após,
introduzi-la no computador deste através do seu smartphone, para aceder ao interior e
colocar o motor em funcionamento.
Por seu turno, o David, para se apoderar também de um dos veículos automóveis de maior
valor, em vez de recorrer ao método das imitações de chaves e ligação direta, resolveu
5
abordar um indivíduo solitário que conduzia um BMW 520i na via pública, enquanto parado
num semáforo com luz encarnada para, de seguida, o retirar do veículo puxando-o com
força para o efeito, e, assim, se apoderar do carro. Com tal fim em vista, o David aproximou-
se do veículo e abriu a porta do condutor. Contudo, ao abri-la o David deparou-se com o
condutor que proferiu de imediato a seguinte expressão, “então meu cabrão, achavas que
eras o único bandido na cidade? Já vais ver como é que é…” para, logo de seguida, fazer um
gesto para retirar algo do seu casaco. Nesse momento, receando que o condutor do veículo
estivesse munido de uma arma de fogo, o David, veloz e habilmente, sacou de uma pistola
semiautomática, carregada com 8 munições de calibre 9 mm, com cano de alma estriada de
8,3 cm de comprimento, que transportava consigo naquela ocasião, por debaixo do casaco,
e prontamente disparou dois tiros atingindo o condutor na zona do coração, provocando-
lhe de forma direta e imediata a morte. Ato contínuo, o David retirou o corpo inerte do
condutor para o lugar do passageiro, introduziu-se no interior da viatura e, aproveitando o
facto de estar já em funcionamento, ausentou-se do local. No caminho para o local onde
iria armazenar o veículo, o David parou numa quinta que sabia ter inúmeros porcos, para ali
se desfazer do corpo do condutor, pois sabia que tais animais comeriam o cadáver sem
deixar vestígios. Nesta senda, retirou o corpo do veículo e atirou-o para o meio dos ditos
animais, que devoraram o cadáver, tal como previsto pelo David.
Cada um dos 34 veículos, de que Carlos e David se apoderaram, foi guardado num armazém
arrendado em nome da sociedade “Velozes&Curiosos, Lda.”. Logo após, o Bruno procedeu
ao respetivo desmantelamento em peças, as quais foram subsequentemente vendidas
durante o mesmo ano através do Eduardo, a Fábio Fagundes e Gustavo Gato, comerciantes
de peças auto, que as adquiriram por preços bastante abaixo dos de mercado, sem
questionar a respetiva origem.
Os pagamentos das compras de tais peças eram feitos à supra aludida sociedade, em nome
da qual eram passados os respetivos recibos, elaborados e assinados pelo António
enquanto seu sócio-gerente. Acresce que o António, na mesma qualidade e no mesmo ano
de 2017, vendeu a terceiros 15 veículos automóveis usados, após os adquirir, em nome da
“Velozes&Curiosos, Lda.”, aos respetivos proprietários através de contratos de compra e
venda, cujo preço foi pago. Tais transações também foram faturadas em nome da
sociedade e emitidos recibos em nome desta.
6
Com a supra descrita atividade de apoderamento de veículos contra a vontade dos
respetivos donos, e subsequentes vendas de peças auto, o grupo obteve 156.134,00€, ao
que acresceram 96.789,00€ derivados da venda dos 15 veículos aludidos, proventos estes
que foram distribuídos, no final do ano de 2017, por todos os elementos do grupo, na
proporção das quotas supra aludidas e na forma de lucros da “Velozes&Curiosos, Lda.”.
7
GRUPO II
(mantém-se a situação factual descrita no Grupo I, com os desenvolvimentos agora indicados)
(2,5 valores)
Imagine agora que órgãos de polícia criminal, no âmbito de um inquérito penal onde
se investigam os factos supra descritos, com vista a seguirem os movimentos do
António, à revelia deste, colocam num veículo automóvel por este utilizado um
dispositivo de tracking via GPS, através do qual descobrem que armazena os veículos
apoderados por Carlos e David num armazém sito no Parque das Nações, Lisboa.
8
GRUPO III
(mantém-se a situação factual descrita no Grupo I, com os desenvolvimentos agora indicados)
(2 valores)
Logo após Carlos se ter apoderado de um veículo que se encontrava estacionado na via
pública (através do uso de uma gazua e ligação direta) e enquanto o conduzia, foi
intercetado por órgãos de polícia criminal (OPC), no âmbito da mesma investigação.
Ato contínuo, os OPC efetuaram uma revista ao Carlos e apreenderam-lhe, além do
mais e com finalidades probatórias, o seu smartphone. De seguida, à revelia do Carlos,
fizeram uma pesquisa no dito aparelho e descobriram o software denominado
“Besthack.03”, detetando que a aplicação tinha sido utilizada no dia 2 de maio de
2017, pelas 14:00.
9
GRUPO IV
(mantém-se a situação factual descrita no Grupo I, com os desenvolvimentos agora indicados)
(2,5 valores)
10
34.º Curso
GRUPO I
Total: 13 valores
Enunciado: [Em face dos factos descritos, aprecie a responsabilidade jurídico-penal de cada
uma das pessoas referidas]
Notas prévias:
a) A cotação máxima no âmbito do crime de associação criminosa (art. 299, do CP),
pressupõe a descrição do bem jurídico (paz pública), a diferenciação das formas de
comparticipação e justificação da punição autónoma, e a análise dos seus requisitos essenciais,
a saber: pelo menos 3 pessoas – no caso concreto, são 5 indivíduos, AA, BB, CC, DD, EE;
duração no tempo - a estrutura em causa dura pelo menos durante grande parte do ano de
2017; estrutura organizativa – existe uma organização bem determinada, com distribuição de
tarefas especializadas pelos referidos elementos (o que o distingue de um bando); processo de
formação de vontade coletiva – inerente ao próprio conceito de uma sociedade por quotas;
unidade diferente de qualquer uma das individualidades componentes (o todo ultrapassa a
mera soma das partes) – o grupo constitui, no caso concreto uma sociedade comercial por
quotas (Velozes&Furiosos, Lda.), entidade que transcende os membros do grupo, e visa,
fundamentalmente a prática de factos ilícitos (crime de branqueamento – art. 368-A, do CP).
De notar que a constituição de uma sociedade comercial com finalidades criminosas deve ser
considerada, pelo menos no que toca ao crime de branqueamento a analisar infra,
especialmente perigoso para a paz pública, dada a vocação natural daquele tipo de pessoa
coletiva para interagir no comércio, com todas as implicações da respetiva atuação ilícita para
a propriedade alheia e o mercado. Tal justifica, portanto, a punição autónoma da associação
criminosa.
b) Em sede dos crimes descritos no texto, em especial dos crimes contra o património, é
essencial ter presente o art. 26, do CP, que distingue 4 formas de ação que devem ser punidas
a título de autoria, em primeiro lugar, a autoria imediata (domínio da ação). Naturalmente
esta figura está presente no caso concreto. Em segundo lugar a lei enuncia a autoria mediata
1
(“quem executar o facto… por intermédio de outrem” - o homem da frente é mero
instrumento ou meio do homem-de-trás, que detém o “domínio da vontade”). No caso
concreto inexiste a figura da autoria mediata. Em terceiro lugar, a lei expõe a coautoria
(“quem tomar parte direta na sua execução, por acordo ou juntamente com outro ou outros”
– “condomínio do facto”). Esta figura também é importante para o caso concreto. O coautor,
conforme realça o art. 26, deve tomar parte direta na execução do facto ilícito-típico. Ou seja,
não pode ser considerado coautor do facto típico quem não participa na execução, sendo
certo que o conceito de execução é dado pelo art. 22/2, do CP. Por último, no texto do art. 26,
encontramos uma 4.ª alternativa de punição como autor, a instigação, que também assume
particular relevância para o caso concreto. Como se sabe o instigador é aquele que produz no
executor, de forma cabal, a decisão de atentar contra um bem jurídico-penal, inculcando-lhe a
ideia, revelando-lhe a sua possibilidade, as suas vantagens ou o seu interesse, ou aproveitando
a sua plena disponibilidade e acompanhando de perto e ao pormenor a tomada de decisão
definitiva pelo executor, detendo, também ele, o “domínio da decisão”. Ainda de acordo com
a nossa lei, e no que é pertinente para o caso concreto, torna-se necessário distinguir o
instigador do indutor (art. 27, do CP - cúmplice na forma de “auxílio moral”). A distinção entre
o instigador e o indutor ocorre porquanto o primeiro determina, de forma cabal, uma vontade
alheia a praticar o facto ilícito típico – comparticipação essencial no facto -, enquanto o
segundo apenas fortalece-o na vontade de praticar o crime – participação acessória no facto.
2
abrange, no que aqui é pertinente, crimes puníveis com mínimo superior a 6 meses ou
máximo superior a 5 anos. Os furtos simples e furtos qualificados do art. 204/1, do CP,
não se subsumem em tal previsão. Ou seja, apenas pode haver crime de branqueamento
quanto aos proventos dos bens de valor consideravelmente elevado infra referidos. Com
estas precisões, AA (e os demais elementos da associação criminosa) pratica o crime de
branqueamento. Valoração: 0,2.
BB :
5. É parte de uma associação criminosa, crime previsto no art. 299/1/2/5, do CP.
Valoração: 0,2.
6. É autor imediato, de 34 crimes de recetação (art. 231/1, do CP). Valoração: 0,3.
7. É indutor, relativamente a CC e DD dos crimes de furto qualificado pelos quais estes
devem ser punidos (cúmplice moral, pois fortalece a vontade destes, sabendo CC e DD, de
acordo com o plano comum, que terão sempre meios ao seu dispor para se
desembaraçarem mais facilmente dos bens de origem ilícita – art. 27, do CP). Valoração:
0,5.
8. É coautor, com os demais elementos da associação criminosa, de um crime de
branqueamento, p. e p. pelo art. 368-A/1/2, do CP. Valoração: 0,2.
CC
9. É parte de uma associação criminosa, crime previsto no art. 299/1/2/5, do CP.
Valoração: 0,2.
10. É autor imediato de 15 crimes de furto qualificado por valor elevado e/ou por modo
de vida (art. 204/1/a/h, 202/a, do CP), e 2 crimes de furto qualificado por valor
consideravelmente elevado (art. 204/2/a, 202/b, do CP). Valoração: 0,3.
11. O CC ao aceder, sem autorização, ao computador de um dos veículos que subtraiu,
após aceder a dados confidenciais para o efeito (cópia dos dados da chave virtual contidos
no servidor), cometeu, em autoria imediata, um crime de acesso ilegítimo agravado –
art. 6/1/4/b, da LCC (Lei do Cibercrime ou LCC – Lei n.º 109/2009, de 15/09). O dolo de
cada um dos demais elementos do grupo também envolve estes factos? Adotando o
critério da previsibilidade, a resposta só pode ser negativa. Valoração: 0,3.
12. É indutor, relativamente a DD dos crimes de furto qualificado pelos quais este deve
ser punido (cúmplice moral, pois fortalece a vontade deste, tendo em conta que a final,
de acordo com o plano comum, receberá sempre uma percentagem fixa dos lucros, de
acordo com a sua quota societária – art. 27, do CP). É também cúmplice moral dos crimes
de recetação praticados por BB e EE, por igualdade de razões. Valoração: 0,5.
3
13. É coautor, com os demais elementos da associação criminosa, de um crime de
branqueamento, p. e p. pelo art. 368-A/1/2, do CP.). Valoração: 0,2.
DD
14. É parte de uma associação criminosa, crime previsto no art. 299/ 1/2/5, do CP.).
Valoração: 0,2.
15. É autor imediato de 15 crimes de furto qualificado por valor elevado e/ou modo de
vida (art. 204/1/a/h, 202/a, do CP), e 1 crime de furto qualificado por valor
consideravelmente elevado (art. 204/2/a, 202/b, do CP). Valoração: 0,3.
16. No que à morte do condutor do veículo BMW 520i diz respeito, a resolução criminosa
inicial de DD envolve apenas o uso de força física para se apoderar do veículo (crime de
roubo). Contudo, porque o condutor o ameaça com um gesto indiciador de que irá puxar
de uma arma, interpretando o DD que tal gesto é no sentido de puxar de uma arma de
fogo, dispara uma pistola 9 mm contra o condutor, por duas vezes, atingindo-o numa
zona vital, matando-o de imediato. Apesar de alguma doutrina afirmar que “contra
legítima defesa não há legítima defesa” (Taipa de Carvalho, “Direito Penal, Parte Geral”,
3.ª ed., Católica, Porto, 2016, p. 369; Claus Roxin, “Derecho Penal, Parte General”,
Editorial Civitas, Madrid, 1997 p. 615), cremos que pode ser argumentado que no caso
concreto DD reage a uma ação do condutor de proteção da propriedade/posse do carro
que poderá colocar em causa a vida daquele. Pode, assim, ser sustentado que estamos
perante uma legítima defesa para tutela da vida de DD, ocorrida perante uma legítima
defesa do condutor para proteger a propriedade/posse do veículo, sendo certo que a
defesa exercida por DD é manifestamente excessiva no que toca ao meio. De notar que,
apesar de não podermos afirmar que DD se encontra em erro, a expressão do condutor,
“… achavas que eras o único bandido na cidade? Já vais ver como é que é…”, seguido de
um gesto para retirar algo de um bolso, induz um destinatário comum a pensar que irá
sacar efetivamente de uma arma (arma branca ou de fogo, é coisa que se desconhece e é
irrelevante para o caso). Não se sabe, contudo, se tal retirar de uma arma é apenas para
intimidar DD ou para o atingir no corpo. Assim sendo, DD, ao disparar de imediato sobre o
condutor, dirigindo os disparos a uma zona vital (coração), age manifestamente em
excesso, mesmo que se considere que estava munido de animus de defesa perante uma
previsível agressão iminente por parte do condutor. É, pois, autor imediato, de um crime
de homicídio simples (art. 131, do CP), cometido em excesso de legítima defesa, cuja
pena pode (mas, em bom rigor, não deve, atenta a situação criada pelo próprio DD) ser
especialmente atenuada (arts. 32 e 33, do CP). O dolo de cada um dos demais elementos
4
do grupo também envolve estes factos? Adotando o critério da previsibilidade, a resposta
só pode ser negativa. Valoração: 2,5.
17. Quanto ao apoderamento do veículo BMW 520i. O crime de roubo (art. 210, do CP),
como se sabe, é um crime de execução vinculada, apenas podendo ser cometido, quando
o bem apropriado o foi através do uso, no que aqui é pertinente, de violência física. DD
queria praticar um crime de roubo, através do uso de violência física, mas, porque foi
surpreendido pelo condutor e o matou em excesso de legítima defesa, acabou por não ter
necessidade de recorrer a tal violência. Comete, assim, em autoria imediata, um crime de
furto qualificado consumado (bem com valor consideravelmente elevado, trazendo arma
de fogo oculta - arts. 202/b, 204/2/a/f, do CP) em concurso aparente com um crime de
roubo agravado na forma tentada (arts. 210/1/2/b, 202/b, 204/2/a/f, 22/1/2/c, do CP),
prevalecendo este sobre aquele porque punido de forma mais grave. É, ainda, autor
imediato e em concurso efetivo, de um crime de detenção de arma proibida (arts. 2/1/q,
3/3, 5/1, 13, 86/1/c, da Lei 5/2006, de 23/02, Lei das armas). O dolo de cada um dos
demais elementos do grupo também envolve estes factos? Adotando o critério da
previsibilidade, a resposta só pode ser negativa. Valoração: 3.
18. É autor imediato de um crime de profanação de cadáver, p. e p. pelo art. 254/1/b, do
CP. Valoração: 0,2.
19. É indutor relativamente a CC dos crimes de furto qualificado pelos quais este deve
ser punido (cúmplice moral, pois fortalece a vontade deste, tendo em conta que a final,
de acordo com o plano comum, receberá sempre uma percentagem fixa dos lucros, de
acordo com a sua quota societária – art. 27, do CP). É também cúmplice moral dos crimes
de recetação praticados por BB e EE, por igualdade de razões. Valoração: 0,5.
20. É coautor, com os demais elementos da associação criminosa, de um crime de
branqueamento, p. e p. pelo art. 368-A/1/2, do CP. Valoração: 0,2.
EE
21. É parte de uma associação criminosa, crime previsto no art. 299/1/2/5, do CP.
Valoração: 0,2.
22. É autor imediato, de 34 crimes de recetação (art. 231/1, do CP). Valoração: 0,3.
23. É indutor relativamente a CC e DD dos crimes de furto qualificado pelos quais estes
devem ser punidos (cúmplice moral, pois fortalece a vontade destes, sabendo CC e DD, de
acordo com o plano comum, que terão sempre meios ao seu dispor para se
desembaraçarem mais facilmente dos bens de origem ilícita – art. 27, do CP). Valoração:
0,5.
5
24. É coautor, com os demais elementos da associação criminosa, de um crime de
branqueamento, p. e p. pelo art. 368-A/1/2, do CP. Valoração: 0,2.
GRUPO II
2,5 valores
Questão: [Uso de dispositivo de tracking via GPS: Aprecie a descrita conduta dos
órgãos de polícia criminal e respetivas consequências em sede de prova, à luz da
Lei Processual Penal]
O aparelho conhecido como GPS tracker permite saber, em tempo real, onde está, neste caso,
um veículo automóvel, bem como o respetivo percurso, os tempos e locais de paragem, o
período de funcionamento do motor e a velocidade a que o automóvel circula. Este meio de
obtenção de prova é diferente da interceção de comunicações e não existe lei que o preveja,
bem como aos seus limites e às garantias inerentes à sua aplicação. É um meio oculto de
investigação que, por isso mesmo, só poderia ser admitido se existisse lei que o consagrasse
como um meio de obtenção de prova legítimo e regulasse os aspetos essenciais do seu
regime. Assim é, porque a utilização destes aparelhos, pelo sistemático e permanente registo
de dados que propicia e pela natureza dos mesmos, é suscetível de violar a vida privada dos
utilizadores dos veículos em que se encontrem instalados (neste sentido, TRL 13.04.2016, proc.
n.º 2903/11.8TACSC.L1-3; bem como Paulo Pinto de Albuquerque e Manuel de Costa Andrade,
“Bruscamente no Verão Passado, A Reforma do Código de Processo Penal”, Coimbra Editora,
2009, pp. 113 e 184).
6
Nestes termos, é um método proibido de obtenção de prova (arts. 32/8, CRP, 126/3, do CPP).
Em consequência, a localização da garagem através daquele meio não pode ter valor
probatório (proibição de valoração).
Em sentido divergente, Santos Cabral, “Código de Processo Penal Comentado”, Almedina, 2.ª
ed., 2016, p. 780; TRP 21-03-2013, proc. n.º 246/12.9TAOAZ-A.P1; TRE 07.10.2008, proc. n.º
2005/08-1.
GRUPO III
2 valores
Questão: [Pesquisa em smartphone: Aprecie a descrita conduta dos órgãos de
polícia criminal e respetivas consequências em sede de prova, à luz da Lei
Processual Penal]
GRUPO IV
0,5 valor
Questão 1: [Ao deterem o Carlos, quais as formalidades processuais que os órgãos
de polícia criminal devem cumprir?]
GRUPO IV
7
2 valores
Questão 2: [Após a detenção do Bruno, os órgãos de polícia criminal conduzem-no
a uma esquadra policial, onde permanece durante 49 horas. Imediatamente após
esse período, o Bruno é apresentado ao Ministério Público que, logo de seguida,
apresenta o arguido ao Juiz de Instrução Criminal competente, requerendo a
realização de primeiro interrogatório judicial e a aplicação de medida de coação.
Caso fosse o JIC que decisão proferiria sobre a detenção e sobre a realização do
primeiro interrogatório requerido?]
O juiz deve declarar que a detenção, para além das 48h previsto no art. 28/1, da CRP, art.
141/1 e 254/1/a, do CPP, é inválida, dando ordem de libertação do arguido. Contudo, tal não
impossibilita uma nova detenção para a realização do 1.º interrogatório, nem a validade das
medidas de coação aí eventualmente aplicadas.
- Ac. TC. n.º 396/2003, de 30 de Julho de 2003:
Conclui que o facto de os arguidos, em anterior ocasião, terem sido soltos por se haver
esgotado o prazo de 48 horas, previsto nos arts. 28, n.º 1, da C.R.P. e 141, n.º 1, do C.P.P., para
serem apresentados ao Juiz, não impede a sua posterior detenção e sujeição às medidas de
coação que se afigurem adequadas e necessárias, designadamente à prisão preventiva.
- Ac. TRL de 30-09-2004, proc. n.º 7025/2004-9:
“… a tardia apresentação do detido, ocorra ela por ato espontâneo da autoridade que levou a
cabo a detenção ou na sequência de requerimento de habeas corpus, não obsta à realização
do interrogatório e à aplicação de qualquer medida de coação. Como a tanto não obsta, por
maioria de razão, a circunstância de, tendo o detido sido apresentado ao juiz em tempo útil, o
interrogatório não poder iniciar-se ou concluir-se no prazo de 48 horas após a detenção (isto
para quem entenda que o juiz deve ouvir o detido dentro desse prazo).
É que, a admitir-se que o detido tinha que ser libertado obrigatoriamente no termo das 48
horas, nada impediria que, continuando a verificar-se os pressupostos necessários à aplicação
de uma medida de coação, se ordenasse nova detenção com tal finalidade.”.
**
8
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Profissional
1.ª CHAMADA
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PROVA ESCRITA DE
DIREITO CIVIL, COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL
Via Profissional – 1.ª Chamada – 17 de fevereiro de 2018
4 - Cotação: 20 valores
- Fundamentação de Direito - 11,5 valores
- Demais componentes estruturais da Sentença - 8,5 valores.
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5 - A atribuição da cotação máxima nesta prova pressupõe um tratamento
completo das várias questões suscitadas, que deverá ser coerente e corretamente
fundamentado e com indicação dos preceitos legais aplicáveis.
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PETIÇÃO INICIAL
Vêm instaurar a presente ação declarativa de condenação, com processo comum, contra
1.º
Por morte de Jorge Dionísio, residente que foi em B, ocorrida em 19/12/1986, procedeu-se a
inventário facultativo com o n.º 8/95, do 1.º Juízo do Tribunal de ..., no qual exerceu o
cabecelato a sua viúva, Joana Dionísio, com quem fora casado sob o regime de comunhão
geral de bens, tudo conforme documento n.º 1 que agora se junta.
2.º
Nesse inventário, foram habilitados como herdeiros do falecido, entre outros, os filhos de
ambos:
- Elisa Dionísio, aqui primeira Ré, casada então com Mário Santos, posteriormente
falecido.
3.º
Na relação de bens do inventário, de que se junta cópia certificada como documento n.º 2, foi
relacionado, como verba n.º 1, o seguinte imóvel da herança:
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- terreno de sequeiro, com a área de 960 m2, sito em L., freguesia e concelho de
A..., a confrontar do norte com Eva Santos (e atualmente o Autor), sul com Alberto
Santos, nascente com caminho (atualmente estrada asfaltada, com o nome de rua
do Lameiro), e poente com caminho, omisso na Conservatória do Registo Predial, e
inscrito na matriz rústica sob o art. 0000.
4.º
5.º
Essa casa, na mesma relação de bens, foi descrita como benfeitoria sob a verba n.º 11, pela
forma seguinte:
- casa para habitação composta de rés do chão com quatro assoalhadas, uma
cozinha, uma casa de banho, um corredor, uma varanda com logradouro, superfície
coberta de 96 m2, logradouro de 200 m2, a confrontar do norte com caminho
público, sul com Alberto Santos, nascente com caminho público e poente com
Miguel Isidro, omissa na Conservatória do Registo Predial e inscrita na matriz
predial urbana sob o artigo 3333.
6.º
7.º
No referido artigo rústico n.º 0000, a primeira Ré e seu falecido marido construíram também,
encostados à casa, para o lado poente desta, alguns cómodos, designadamente um abrigo
para automóveis, como se vê do levantamento topográfico acima referido.
8.º
9.º
Porque as confrontações se fazem de norte não com caminho público, mas com outro prédio,
como se vê do levantamento topográfico, e que se vai passar a referir.
10.º
- terra de sequeiro sita em L., freguesia e concelho de A., com a área de 1283 m2, a
confrontar do norte com João Loureiro (atualmente o Autor) e outro, do sul com
Jorge Dionísio (o inventariado referido, pai do Autor e da primeira Ré), do nascente
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com caminho (atualmente asfaltada, com o nome de rua do Lameiro) e poente
caminho, inscrito na matriz predial sob o artigo 1111 e descrito na Conservatória do
Registo Predial de A. sob o n.º 4444/A.
11.º
Este prédio havia sido objeto de uma escritura de justificação notarial feita pela viúva Joana
Dionísio, em que invocou a usucapião.
12.º
Com base na usucapião, o prédio foi descrito na Conservatória do Registo Predial de A. sob o
n.º 4444/A, e aí inscrito a seu favor, conforme documento n.º 4 que ora se junta.
13.º
Joana Dionísio moveu contra a filha Elisa Dionísio, aqui primeira Ré, e contra o marido, então
ainda vivo, ação sumária que correu termos sob o n.º 1/96, em que pedia que fossem
obrigados a reconhecer que ela era dona do prédio.
14.º
15.º
E, na respetiva ata (cfr. documento n.º 1) ficou a constar que “por todos os interessados... foi
declarado que nos autos foi omitida a relação de um bem que faz parte da herança deixada
por óbito de Jorge Dionísio, e que agora pretendem relacionar...”.
16.º
Essa declaração foi motivada por, no momento da conferência, a Joana Dionísio ter
concordado em entregar, para figurar nos bens da herança e ser incluído no inventário, o
referido prédio, inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 1111.
17.º
Em despacho (cfr. documento n.º 1), o Ex.mo Juiz ordenou que se descrevesse de seguida,
como verba n.º 2-A, o mesmo bem, o que foi feito, aí se identificando o prédio pelo modo
constante do antecedente art. 10.º deste articulado.
18.º
- o prédio inscrito na matriz rústica sob o artigo 0000 foi adjudicado à Ré e seu falecido
marido, a quem também foi reconhecida a propriedade da casa relacionada como benfeitoria
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e que já estava implantada no terreno;
- o prédio inscrito na matriz rústica sob o artigo 1111 foi adjudicado ao ora Autor.
19.º
20.º
Elaborado o mapa de partilha, que não sofreu reclamações, veio a ser proferida em 15 de
setembro de 2000 a respetiva sentença homologatória, transitada em julgado em 18 de
dezembro de 2000 (cfr. documento n.º 1).
21.º
22.º
Acresce que, por si e seus antepossuidores, designadamente por sua mãe e por seu pai e os
pais deste, o Autor está na posse do prédio inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 1111,
em nome próprio, direta e imediatamente, há mais de 20 e 30 anos, ininterruptamente, com
exclusão de quaisquer outras pessoas, à vista e com o conhecimento de toda a gente da zona e
dos próprios Réus, sem oposição de ninguém, com a convicção de exercer direito próprio e de
a ninguém causar prejuízo, traduzindo-se os atos de posse em se ocuparem da terra,
cuidarem-na, zelarem-na, demarcarem-na, defenderem-na, inclusive dos atos de agressão da
primeira Ré e de seu falecido marido, cultivarem-na, colhendo os frutos e fazendo-os seus,
optando alguns anos por mantê-la em pousio, para repouso, e pagando os respetivos
impostos.
23.º
Era suposto, ao entregar a Joana Dionísio à herança o prédio de que formalmente era
proprietária para ser incluído na descrição de bens do inventário e ao ser o mesmo adjudicado
ao Autor, na conferência de interessados por unanimidade de todos os intervenientes nela,
incluindo a primeira Ré e seu falecido marido, que estes abririam mão de quaisquer
pretensões sobre o prédio e o entregariam ao Autor, pelo menos após o trânsito em julgado
da sentença homologatória da partilha.
24.º
E foi nessa suposição que o Ex.mo Juiz da ação sumária n.º 1/96 que a Joana movia contra a
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ora primeira Ré e seu marido, declarou extinta a instância por inutilidade superveniente da
lide.
25.º
Só que inexplicavelmente tal não aconteceu, antes a primeira Ré e o seu falecido marido
mantiveram as atitudes que adiante se descrevem.
26.º
A não reagir contra a situação, o ora Autor ficará sem quaisquer bens da herança de seu pai,
pois nenhum outro bem lhe foi adjudicado.
27.º
Ao passo que a primeira Ré e seu falecido marido ficariam injustamente enriquecidos à custa
do Autor, pois receberam o terreno do artigo rústico 0000 (no qual já tinham a casa) e
acabariam por ficar com o prédio adjudicado ao Autor, o artigo 1111, objeto da presente ação.
28.º
O prédio do Autor, como se disse no art. 9.º desta petição, situa-se a norte do terreno da
primeira Ré e da casa dela e da herança do seu falecido marido.
29.º
Mas tem a “desgraça” de a norte dele se situar outro prédio da primeira Ré e dessa herança.
30.º
Esse outro prédio acha-se inscrito na matriz rústica como terreno de sequeiro com 13 oliveiras,
sito em L., freguesia e concelho de A., com a área de 1280 m2, a confrontar do norte e
nascente com caminho, sul com Miguel Dionísio e poente com Miguel Loureiro, inscrito na
matriz predial rústica sob o artigo 2222.
31.º
Portanto, no local, um observador que esteja na estrada asfaltada a nascente dos prédios (a
rua do Lameiro), e virado para poente, para os mesmos prédios, tem sucessivamente da sua
esquerda para a sua direita (e de sul para norte):
- primeiro, o terreno do artigo rústico 0000, com a casa do artigo 3333 implantada no
mesmo;
32.º
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desde um caminho público a poente até à estrada asfaltada (rua do Lameiro), a nascente, com
dimensões sensivelmente iguais, sendo as suas linhas ou de divisão constituídas por retas
paralelas, tudo como consta do levantamento topográfico (documento n.º 3).
33.º
Aliás, de acordo com o levantamento topográfico, ambos têm a mesma área: 1283 m2, que é a
área que consta da descrição predial do prédio do Autor (documento n.º 4).
34.º
Aliás, resultam ambos da divisão em dois prédios iguais de um prédio anterior que foi
partilhado entre dois irmãos.
35.º
Mais propriamente, o prédio do artigo rústico n.º 1111 (do Autor) estende-se do caminho
público a poente, por onde mede cerca de 13,20 m2, até à estrada asfaltada (a rua do Lameiro)
a nascente, por onde mede cerca de 16,50 metros, sendo que a sua confrontação sul, por onde
mede cerca de 95,02 m2, se faz com o terreno e casa da Ré e da herança de seu marido (artigo
rústico 0000.º e artigo urbano 3333), fazendo-se a sua confrontação norte, por onde mede
cerca de 86,30 metros, com o outro prédio da primeira Ré e da herança de seu marido (o do
art. 2222.º) e com um prédio de terceiros.
36.º
As estremas norte e sul são sensivelmente paralelas uma à outra e a estrema poente é-lhes
perpendicular, como aliás se alcança do levantamento.
37.º
A estrema nascente faz-se em linha reta, ao longo da estrada asfaltada (rua do Lameiro), que
obriga a mesma estrema a fazer-se em diagonal, como no levantamento se vê.
38.º
Procurando fazer-se valer da circunstância de serem donos do terreno com o artigo rústico
0000 e da casa do artigo 3333, situados a sul do prédio do Autor, e donos do prédio rústico
com o artigo matricial 2222, situado a norte do prédio do Autor, a primeira Ré e a herança de
seu falecido marido, cujos titulares são os três Réus, vêm tentando apoderar-se dele, uma vez
que fica entalado entre aqueles dois, impedindo de o usar e fruir plenamente.
Assim,
39.º
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40.º
Os pais do Autor, anteriores proprietários do prédio atualmente dele, e o próprio Autor, não
contrataram a ninguém a constituição do direito de superfície, nem nunca deram à primeira Ré
e seu falecido marido, nem aos Réus, autorização para construção do barracão.
41.º
Além disso, os Réus utilizam o prédio do Autor para, junto do barracão acima referido, fazerem
depósito de variados materiais, tais como mato, estrume, lixos, lenhas, madeiras, materiais de
construção, plásticos e mangueiras.
42.º
Apesar das várias advertências feitas à primeira Ré e seu falecido marido, e aos Réus, estes
nunca se dispuseram a retirar o barracão e os materiais supra referidos, construído e
depositados no prédio do Autor.
43.º
Ao agir da forma descrita, os Réus atuaram livre, consciente e deliberadamente, bem sabendo
que atingiam os direitos do Autor, procurando diretamente lesá-los, o que estão a conseguir.
Nos termos expostos, e nos mais de direito aplicável, designadamente nos do art.
1311.º do Código Civil, devem os Réus, por si e nas qualidades atrás invocadas, ser
condenados:
Prova:
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Documentos: os agora juntos aos autos.
Testemunhas:
1. Maria...
2. José...
3. António...
4. Manuel...
O Advogado
Assinatura
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Documento n.º 1
Certidão
Certifica que neste Tribunal e Juízo correram termos uns autos de Inventário (Herança) n.º
8/1995, em que são Inventariado Jorge Dionísio e cabeça-de-casal Joana Dionísio.
Mais certifica que as fotocópias juntas e que fazem parte integrante desta certidão estão
conforme os originais constantes dos autos, pelo que vão autenticadas com o selo branco em uso
nesta Secretaria.
É quanto me cumpre certificar em face do que dos autos consta e aos quais me reporto, em caso
de dúvida.
Data e assinatura
O Oficial de Justiça
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Tribunal Judicial da Comarca de...
Aos vinte e sete dias do mês de Fevereiro de mil novecentos e noventa e cinco, no Tribunal
Judicial de..., onde se encontrava presente o Ex.mo Juiz de Direito Dr. ..., comigo escrivão
adjunto, sendo a hora marcada no competente despacho, ordenou o referido Magistrado que
interpelasse a pessoa indicada para desempenhar o encargo de cabeça de casal, nos presentes
autos de inventário facultativo n.º 8/95, a que se procede por óbito de Jorge Dionísio, residente
que foi em..., o que cumpri, verificando estar presente a cabeça-de-casal Joana Dionísio,
residente em ....
“Que o inventariado Jorge Dionísio faleceu no lugar de sua residência sita em ..., em ../../1986,
no estado de casado em comunhão geral de bens com a declarante, em primeiras e únicas
núpcias de ambos, sem ter deixado testamentos, doações ou qualquer outra disposição de última
vontade, deixando a suceder-lhes os seguintes herdeiros:
Cabeça-de-casal
Filhos
Primeiro
Elisa Dionísio, casada em comunhão de adquiridos com Mário Santos, residentes em...;
Segundo
José Dionísio, casado em comunhão de adquiridos com Maria Dionísio, residentes em....
Não há dívidas passivas nem activas e os bens a partilhar são constituídos por bens imóveis
situados na área desta comarca.
Que não apresenta neste acto a relação de bens, e respectiva certidão devido a dificuldades na
sua obtenção nas respectivas repartições públicas, requerendo a relevação da falta e um prazo
não inferior a trinta dias para a junção dos referidos documentos”.
Para constar se lavrou a presente acta que lida e achada conforme vai ser devidamente assinada.
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Assinatura do Juiz
Assinatura do Funcionário
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Tribunal Judicial da Comarca de...
Descrição de bens
Aos trinta dias do mês de Setembro de mil novecentos e noventa e sete, neste Tribunal Judicial,
à vista da relação de bens, passo a fazer a descrição dos mesmos nestes Autos de inventário
facultativo n.º 8/95, por óbito de Jorge Dionísio, residente que foi em..., em que exerce funções
de cabeça-de-casal Joana Dionísio, residente em ....
Bens Imóveis
Verba n.º 1
Terreno de sequeiro, com a área de 960 m2, sito em L..., freguesia e concelho de A..., a
confrontar do norte com Eva Santos, sul com Alberto Santos, nascente com caminho e poente
com caminho, omisso na Conservatória do Registo Predial, e inscrito na matriz rústica sob o art.
0000, com o valor patrimonial de mil trezentos escudos..........1.300$00
Verba n.º 2
Terra de sequeiro sita em L., freguesia e concelho de A., com a área de 1283 m2, a confrontar
do norte com João Loureiro e outro, do sul com Jorge Dionísio, do nascente com caminho e
poente caminho, inscrito na matriz predial sob o artigo 1111, com o valor patrimonial de mil
trezentos escudos..........................................................1.300$00
Dívidas passivas
Deve a herança à interessada Elisa Dionísio o valor de um prédio urbano que esta construiu sob
o prédio descrito na verba n.º 1 (artigo rústico 0000), composto por casa de habitação de rés-do-
chão com quatro assoalhadas, cozinha, casa de banho, corredor, varanda, com logradouro, sito
em Rua do Lameiro, com a superfície coberta de 96 m2, logradouro de 200 m2, a confrontar do
norte com caminho público, sul com Alberto Santos, nascente com caminho público e poente
com Miguel Isidro, omissa na Conservatória do Registo Predial e inscrita na matriz predial
urbana sob o artigo 3333, e com o valor de quinhentos mil
escudos............................................................500.000$00
Assinatura
O Oficial de Justiça,
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Tribunal Judicial da Comarca de...
Mandatários: ...
Escrivão-Adjunto: ...
Por unanimidade de todos os interessados, foi requerido que a verba n.º 3 fosse eliminada da
descrição, tendo o Mmo Juiz deferido ao requerido.
Por todos os interessados foi ainda declarado nos autos que foi omitida a relação de um bem que
faz parte da herança aberta por óbito de Jorge Dionísio, e que agora pretendem relacionar. Estão
de acordo quanto à partilha, pelo que prescindem de todos os prazos relativamente ao bem
relacionado agora adicionalmente, fazendo-o da seguinte forma:
Terra de sequeiro sita em L., freguesia e concelho de A., com a área de 1283 m2, a confrontar
do norte com João Loureiro e outro, do sul com Jorge Dionísio, do nascente com caminho e
poente caminho, inscrito na matriz predial sob o artigo 1111, com o valor patrimonial de mil
trezentos escudos.......................................................1.300$00”.
À interessada Elisa Dionísio é adjudicada a verba n.º 1, pelo valor constante da descrição.
Ao interessado José Dionísio é adjudicada a verba n.º 2-A, pelo valor constante da descrição.
Por todos os interessados foi declarado prescindir do depósito de tornas, por já as terem
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recebido em mão.
Despacho
Nesta altura, foram todos os presentes notificados nos termos e para os efeitos do art. 1373.º do
CPC, os quais declararam ficar bem cientes.
Para constar se lavrou a presente acta, que vai ser devidamente assinada.
Assinatura do Juiz
Assinatura do Funcionário
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Conclusão: Em 15/09/2000
Nos presentes autos de inventário instaurados por óbito de Jorge Dionísio, em que
desempenha as funções de cabeça-de-casal Joana Dionísio, homologo por sentença a partilha
constante de fls. ___ destes autos.
Registe e notifique.
d.s.
Assinatura
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Documento n.º 2
Certidão
Certifica que neste Tribunal e Juízo correram termos uns autos de Inventário (Herança) n.º
8/1995, em que são Inventariado Jorge Dionísio e cabeça-de-casal Joana Dionísio.
Mais certifica que a certidão por fotocópia, constituída por uma folha, está conforme o original
de fls. ___.
É quanto me cumpre certificar em face do que dos autos consta e aos quais me reporto, em caso
de dúvida.
Data e assinatura
O Oficial de Justiça
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Relação de bens que ficaram por óbito de Jorge
Dionísio, residente que foi em..., e que apresenta a
cabeça-de casal Joana Dionísio, residente em...
Activo
Bens Imóveis
Verba n.º 1
Terreno de sequeiro, com a área de 960 m2, sito em L..., freguesia e concelho de A..., a
confrontar do norte com Eva Santos, sul com Alberto Santos, nascente com caminho e poente
com caminho, omisso na Conservatória do Registo Predial, e inscrito na matriz rústica sob o art.
0000, com o valor patrimonial de mil trezentos escudos..........1.300$00
Verba n.º 2
Passivo
Benfeitorias
Verba n.º 3
Deve a herança à interessada Elisa Dionísio o valor de um prédio urbano que esta construiu sob
o prédio descrito na verba n.º 1 (artigo rústico 0000), composto por casa de habitação de rés-do-
chão com quatro assoalhadas, cozinha, casa de banho, corredor, varanda, com logradouro, sito
em Rua do Lameiro, com a superfície coberta de 96 m2, logradouro de 200 m2, a confrontar do
norte com caminho público, sul com Alberto Santos, nascente com caminho público e poente
com Miguel Isidro, omissa na Conservatória do Registo Predial e inscrita na matriz predial
urbana sob o artigo 3333, e com o valor de quinhentos mil
escudos............................................................500.000$00
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Documento n.º 3 – Levantamento topográfico
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Documento n.º 4
Certidão
Certifico que a fotocópia apensa a esta certidão foi conferida e está conforme o original, tendo
sido extraída da descrição n.º 4444/A e dos registos em vigor sobre a mesma – Ap. 15 de
1996/01/18.
Data e assinatura
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Conservatória do Registo Predial de ... Freguesia de A.....
4444/960118
RÚSTICO
SITUADO EM L...
COMPOSIÇÃO E CONFRONTAÇÕES
Terra de sequeiro – Norte, João Loureiro e outro; Sul, Jorge Dionísio; Nascente e Poente,
caminho.
O Conservador
...
CAUSA: Usucapião
SUJEITO(S) ACTIVO(S)
Morada: ...
O Conservador
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
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CONTESTAÇÃO
1.º
Embora irrelevantes para o desfecho da causa, impõe-se precisar os seguintes aspectos a que
os Autores aludem no seu articulado para enquadrarem os factos que constituem a causa de
pedir.
2.º
Não se percebe o que pretendem com as afirmações constantes dos arts. 8.º e 9.º, já que
tanto quanto se depreende do seu articulado, designadamente do art. 3.º, o imóvel aí referido
confronta do norte com Eva Santos, e não com qualquer caminho ou estrada.
3.º
4.º
Quanto aos arts. 11.º, 12.º, 13.º e 24.º da petição inicial, deve salientar-se que a Joana Dionísio
não podia ter outorgado a escritura de justificação notarial aí mencionada, pela simples razão
de não ter “corpus” nem “animus” para o fazer.
5.º
Daí que não tivesse legitimidade para intentar a ação declarativa que se identifica e tivesse
que reconhecer, como ressalta da ata da conferência de interessados realizada no processo n.º
8/95, ter sido “omitida a relação de um bem que faz parte da herança deixada por óbito de
Jorge Dionísio”, e que veio a ser adicionalmente relacionado como sendo a verba n.º 2-A.
6.º
A sua inclusão entre os bens a partilhar não resultou, pois, de gesto magnânimo da Joana
Dionísio, mas uma imposição determinada pela própria natureza das coisas.
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7.º
8.º
Cingindo-nos agora à matéria de facto que tem efetiva correspondência com os pedidos
formulados, analisa-se cada um deles separadamente.
9.º
É incontroverso que no processo de inventário a que se vem fazendo referência foi adjudicado
ao Autor o prédio inscrito na matriz sob o artigo 1111.
10.º
Mas se é inegável ter sido transmitido ao Autor o direito de propriedade sobre esse bem, ele
não é nem nunca foi seu possuidor, pois não foi investido ou entrou na sua posse, sendo falso
o que se alega no art. 22.º da petição inicial.
11.º
Com efeito, quem há mais de 28 anos amanha esse prédio é a Ré Elisa Dionísio, primeiro em
conjunto com o seu falecido marido, e agora com a ajuda dos restantes Réus, nele plantando
cereais, sem qualquer interrupção.
12.º
Contudo, esses atos materiais de posse não foram acompanhados por qualquer intenção
possessória.
13.º
Com efeito, todos sempre consideraram que os imóveis em questão – os artigos 0000 e 1111 –
pertenciam aos pais da Ré Elisa Dionísio, e passaram a fazer parte da herança de Jorge
Dionísio, depois da sua morte.
14.º
15.º
Relativamente à configuração e localização dos dois terrenos, aceita-se o alegado nos arts.
28.º, 29.º, 30.º, 31.º, 33.º, 34.º e 37.º.
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16.º
E também o que consta do art. 32.º, com exceção da afirmação de serem as “suas linhas de
estrema ou de divisão constituídas por retas paralelas”.
17.º
Quanto ao artigo 36.º, é igualmente verdade que, até certo ponto, as estremas norte e sul
sejam paralelas entre si e que a estrema poente lhes seja perpendicular.
18.º
Não se aceita, porém, o que consta do art. 35.º, impugnando-se as medidas aí referidas e o
levantamento topográfico que é junto.
19.º
Efetivamente, os dois imóveis têm rigorosamente a mesma área, sendo esta a de 1.258,25 m2
para cada um deles.
20.º
A estrema norte do imóvel dos Autores, contrariamente ao que sustentam, não é definida por
uma linha reta entre dois pontos, mas por dois segmentos de reta, unindo três pontos.
21.º
22.º
O marco que se situa junto à rua do Lameiro está colocado mais para sul do que aquele que se
encontra junto à rua da Mó.
23.º
Daí que a partir do marco colocado a meio da propriedade, a linha divisória inflita ligeiramente
para sul.
24.º
Resta, nesta fase, explicar a razão pela qual os Réus se mantêm, não obstante a partilha, na
posse do imóvel que foi adjudicado ao Autor.
25.º
É que essa partilha foi feita no pressuposto de ser dada nova configuração aos terrenos
correspondente aos artigos 0000 e 1111.
26.º
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Uma vez que os Réus tinham construído a sua casa de habitação e respetivos anexos no que
era o artigo 0000, junto à rua do Lameiro, e tinham construído um barracão em terrenos que
faziam parte do artigo 1111, ficou combinado entre todos que aos Réus seria adjudicado o
artigo 0000, que passaria a ocupar toda a frente para a rua do Lameiro, enquanto o artigo
1111 ocuparia toda a frente que dava para a rua da Mó, com exceção da parte ocupada pelo
barracão.
27.º
Ou seja, em vez de sensivelmente paralelos entre si e ligando duas ruas, cada um dos imóveis
ficaria com frente para a via pública, passando a confrontar entre si ao longo dos quadrantes
nascente/poente, nas traseiras dos anexos da habitação dos Réus – documento n.º 2.
28.º
Além desse entendimento, de que resultariam para ambas as partes áreas de terreno iguais, os
Autores negociaram com o falecido marido da Ré a cedência da área que passariam a dispor na
traseira do barracão, para permitir o acesso direto a este daquela que passaria a ser a sua
propriedade, chegando a receber a quantia de 50.000$00 (cinquenta mil escudos) à data, por
conta desse negócio, e que nunca devolveram aos Réus.
29.º
Esse acordo nunca chegou a ser formalizado nem lhe foi dada execução, mantendo-se os Réus
até agora, como vêm fazendo desde 1976, na posse de todo o conjunto predial formado pelos
imóveis correspondentes às inscrições matriciais supra referidas, incluindo o que veio a ser
adjudicado aos Autores.
30.º
31.º
32.º
Obviamente que os Réus também assim consideram, e dele retirarão tudo o que nele está
depositado.
33.º
34.º
Esse barracão foi construído, em 1976, pela Ré e seu falecido marido no prédio rústico inscrito
sob o artigo 1111, cujo direito de propriedade veio a ser adjudicado ao Autor em vida dos
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então proprietários do terreno.
35.º
Estes autorizaram essa construção e foram eles próprios quem indicou o local onde devia ser
efetuada.
36.º
EM RECONVENÇÃO:
37.º
Em 1976, a Ré Elisa Dionísio e seu marido Mário Santos construíram um barracão em tijolo,
coberto a telha, assente em vigas de pré-esforçado, com o piso acimentado e com fossas
sépticas no seu interior, com a superfície coberta de 184 m2.
38.º
Essa obra foi construída no prédio rústico sito em L, freguesia e concelho de A, inscrito na
matriz predial rústica sob o art. 1111, que era então propriedade de Jorge Dionísio e de Joana
Dionísio, pais da Ré.
39.º
Em inventário facultativo a que se procedeu por óbito de Jorge Dionísio, com o n.º 8/95, já
referido nos autos, esse imóvel foi adjudicado ao Autor, tendo a sentença que homologou a
partilha sido proferida em 15 de setembro de 2000.
40.º
Enquanto proprietários do referido imóvel, Jorge Dionísio e Joana Dionísio autorizaram a filha,
primeira ré, a nele edificar o referido barracão.
41.º
42.º
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43.º
Na verdade, a parcela ocupada por tal obra tinha, à data da incorporação, um valor não
superior a 80,00 euros.
44.º
45.º
O art. 1340.º do Código Civil atribui ao autor da construção em prédio alheio o direito
potestativo de adquirir o direito de propriedade do terreno onde a incorporação for feita, se
tiver agido de boa fé, e o valor que as obras tiverem trazido à totalidade do imóvel for maior
do que o valor que este tinha antes.
46.º
Por boa fé entende-se o desconhecimento, por parte do autor da obra, que o terreno era
alheio, ou se o seu dono autorizou a incorporação.
47.º
48.º
A obra efetuada pela primeira Ré e seu falecido marido, em prédio alheio, trouxe à parcela do
imóvel em que foi feita um valor superior ao que antes dela tinha.
49.º
Por outro lado, os donos do terreno autorizaram a incorporação que nele foi feita.
50.º
Página 29 de 48
sem determinação de parte ou de direito, e enquanto
interessados na herança ilíquida e indivisa aberta por óbito
de Mário Santos, da parcela de terreno com a área de 322
m2, que faz parte do prédio rústico sito em L, freguesia e
concelho de A., inscrito na respetiva matriz sob o artigo
1111 e descrito na Conservatória do Registo Predial de ...
sob o n.º 4444/A, parcela essa que se situa junto ao limite
norte/poente do referido imóvel e que tem 23 metros de
comprimento, a contar do limite poente da propriedade,
por 14 metros de largura, a contar da sua estrema norte, e
sobre a qual se acha construído um barracão, integrado na
referida herança, mediante o pagamento de 80,00
(oitenta) euros, valor que o terreno onde a obra em causa
foi feita tinha antes da incorporação.
Prova:
Testemunhas:
1. Abílio...
2. Zacarias...
3. Ermelinda...
O Advogado
Assinatura
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Documento n.º 1
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Documento n.º 2
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RÉPLICA
1.º
2.º
3.º
Reafirma-se que o terreno inscrito no artigo 0000 confronta de norte com Eva Santos, mas o
que consta da matriz (confrontação de norte com caminho público) é errado.
4.º
A contestação e respetivas exceções não têm pertinência, pois o imóvel objeto da presente
ação foi pura e simplesmente adjudicado ao Autor, em inventário, onde estiveram todos os
interessados presentes, incluindo a Ré e seu falecido marido, tendo os mesmos aderido, sem
qualquer reserva, condição ou restrição, ao que foi deliberado por unanimidade na
conferência:
5.º
No inventário não foram levantados, nomeadamente pela Ré e seu falecido marido, quaisquer
problemas de posse ou acessão, nem opostos limites, restrições, ónus ou encargos à
propriedade do Autor.
Página 33 de 48
6.º
Aliás, todos os atos praticados pela Ré e seu falecido marido no prédio inscrito no art. 1111.º
foram-no sem consentimento e contra a vontade dos pais do Autor e da Ré, exercida com
violência contra eles, a ponto de os intimarem a não entrar no local, levando-os a coibirem-se
de lá ir com medo que a Ré e marido lhes fizessem mal.
7.º
É falso que o barracão tenha sido construído em 1976, tendo-o sido muito mais tarde, sendo
ainda falso que tenha sido autorizada tal construção pelos então proprietários do terreno, os
pais do Autor e da Ré.
8.º
Ao invés, tal barracão foi construído sem autorização dos mesmos, sabendo a Ré e falecido
marido que agiam contra a vontade dos pais de Autor e Ré.
9.º
10.º
Não há assim lugar ao fenómeno da acessão industrial imobiliária, o qual pressupõe a boa fé.
11.º
Aliás, tendo as obras sido feitas de má fé, como o foram, tem o dono do terreno direito de
exigir, como se exige no final, que sejam desfeitas e que o terreno seja restituído ao seu
primitivo estado, à custa do autor delas – art. 1341.º do Código Civil.
12.º
É manifesto, por todo o exposto, que a violência da Ré e do seu falecido marido, agora da Ré e
dos restantes Réus, contra os seus pais e sogros, veio sempre desde o início e mantém-se
ainda atualmente contra os Autores.
13.º
A tudo acresce que nunca poderia proceder a pretensão de aquisição por acessão da parcela
de terreno pretendida pelos Réus, por violar o disposto no art. 1376.º do Código Civil (cfr.
ainda o art. 1379.º do Código Civil).
14.º
Por todo o exposto, importa concluir que a reconvenção não pode também por este motivo
proceder.
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Termos em que devem:
O Advogado
Assinatura
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REQUERIMENTO
José Dionísio e Maria Dionísio, Autores na ação acima referenciada, vêm requerer a junção
aos autos do despacho proferido pelo Ex.mo Sr. Conservador da Conservatória de Registo
Predial competente, em como não é necessário o registo da presente ação – pois não estão
sujeitas a registo as ações de reivindicação intentadas pelo titular inscrito nem aquelas em que
se pede a declaração de inexistência de direitos –, requerendo-se assim o prosseguimento dos
autos.
Junta: 1 documento.
O Advogado
Assinatura
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Documento n.º 1
Notificação de despacho
Nos termos do art. 71.º do Código do Registo Predial, fica V. Ex.ª notificado de que,
relativamente aos documentos apresentados nesta Conservatória em __/__/__, sob Ap. n.º 29
recaiu o seguinte despacho conforme cópia que se junta.
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Conservatória do Registo Predial de ...
ATOS DE REGISTO/DOCUMENTOS
Registo da ação comum n.º ___/__, do __ Juízo ____ do Tribunal Judicial de ___, movida por
José Dionísio e Maria Dionísio contra Elisa Dionísio, António Santos e João Santos.
Prédio: 4444/A.
Documentos:
DESPACHO
Recusado o ato requerido por não estar sujeito a registo as ações de reivindicação
intentadas pelo titular inscrito nem aquelas em que se pede a declaração de inexistência de
direitos – cfr. art. 69.º, n.º 1, al. c), conjugado com os arts. 1.º, 3.º, 5.º e 6.º, todos do Código do
Registo Predial.
Data e assinatura
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Conservatória do Registo Predial de ... Freguesia de A.....
4444/19960118
RÚSTICO
SITUADO EM L...
COMPOSIÇÃO E CONFRONTAÇÕES
Terra de sequeiro – Norte, João Loureiro e outro; Sul, Jorge Dionísio; Nascente e Poente,
caminho.
O Conservador
...
CAUSA: Sucessão
SUJEITO(S) ACTIVO(S)
Morada: ...
O Conservador
...
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----------------------------------------------------------------------------------------------------------
O Conservador
...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
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REQUERIMENTO
Elisa Dionísio e outros, Réus na ação acima referenciada, vêm requerer a junção aos autos de
certidão emitida pela Conservatória de Registo Predial competente comprovativa do registo da
reconvenção.
Junta: 1 documento.
O Advogado
Assinatura
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Documento n.º 1
Certidão
Certifico que a fotocópia apensa a esta certidão foi conferida e está conforme o original, tendo
sido extraída das descrições n.º 4444/A.
Data e assinatura
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Conservatória do Registo Predial de ... Freguesia de A.....
4444/19960118
RÚSTICO
SITUADO EM L...
COMPOSIÇÃO E CONFRONTAÇÕES
Terra de sequeiro – Norte, João Loureiro e outro; Sul, Jorge Dionísio; Nascente e Poente,
caminho.
O Conservador
...
CAUSA: Sucessão
SUJEITO(S) ACTIVO(S)
Morada: ...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
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PROVISÓRIO POR NATUREZA
SUJEITO(S) ATIVO(S):
SUJEITO(S) PASSIVO(S)
O Conservador
...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
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ATA DE AUDIÊNCIA PRÉVIA
DESPACHO SANEADOR
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DESPACHO
Objeto do litígio
Temas da prova
1. Apurar quais as características físicas do prédio inscrito na matriz predial rústica sob o artigo
1111.
2. Apurar se os Réus, e antes a Ré e seu falecido marido, ali construíram um barracão.
3. Apurar se a construção do barracão foi precedida do consentimento dos então proprietários
do prédio em questão.
4. Apurar os valores do prédio inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 1111, do barracão e
da parcela onde o mesmo foi construído à data da construção.
*
Por legais e tempestivos, admito a junção aos autos dos róis de testemunhas dos
Autores e dos Réus – artigo 498.º, n.º 1, do Cód. Proc. Civil.
*
A audiência será gravada.
*
Para a audiência final, tendo em consideração as agendas dos Ilustres Mandatários e do
Tribunal, designo o dia ____, pelas 10.00 horas.
Notifique.
*
Deste despacho, foram devidamente notificados os presentes.
De seguida, pelo Mm.º Juiz foi declarada encerrada a presente audiência.
Para constar se lavrou a presente ata que, lida e revista, vai ser devidamente assinada.
O Juiz de Direito,
_____________________________
A Oficial de Justiça,
_____________________________
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EXTRATO DA DECISÃO SOBRE A MATÉRIA DE FACTO
Dos factos controvertidos com relevo para a decisão da causa, resultaram provados os
seguintes:
1. O prédio correspondente ao artigo rústico 1111.º estende-se do caminho público a poente
até à estrada asfaltada (rua do Lameiro) a nascente, sendo que a sua confrontação sul se faz
com o prédio correspondente ao artigo rústico 0000.º, onde está implantado o artigo urbano
3333.º, e fazendo-se a sua confrontação norte com outro prédio da primeira Ré e da herança
do seu falecido marido, correspondente ao artigo rústico 2222.º, e ainda com outros prédios.
2. Os prédios correspondentes aos artigos rústicos 0000.º, 1111.º e 2222.º confrontam com o
antigo caminho público, atualmente estrada asfaltada, que passa a nascente dos mesmos (rua
do Lameiro), com o/a qual sempre confrontaram.
3. Desde cerca de 1978 que a primeira Ré, primeiro em conjunto com o seu falecido marido,
e agora com a ajuda dos restantes Réus, vem praticando atos de agricultura no prédio
correspondente ao artigo rústico 1111.º, nomeadamente plantando cereais, sem qualquer
interrupção.
4. A estrema norte do prédio correspondente ao artigo 1111.º é definida por três segmentos
de reta, unindo quatro pontos constituídos por quatro marcos, sendo que, considerando o
sentido poente-nascente, o primeiro deles está implantado junto à rua da Mó, o último deles
está implantado junto à rua do Lameiro, estando os dois restantes implantados entre os
primeiros.
5. O marco que se situa junto à rua do Lameiro está, em relação aos marcos que o precedem
a poente, colocado mais para sul; a partir do marco colocado imediatamente antes (para
poente) do marco que se situa junto à rua do Lameiro, a linha divisória inflete para Sul,
considerando o sentido poente-nascente.
6. A partilha a que se alude no processo de inventário n.º 8/95 foi feita no pressuposto de ser
dada nova configuração aos terrenos correspondentes aos artigos rústicos 0000.º e 1111.º;
assim, considerando que os Réus tinham construído a sua casa de habitação e respetivos
anexos no art. 0000.º junto à rua do Lameiro, e tinham construído um barracão no terreno do
artigo 1111.º, ficara combinado nomeadamente entre o Autor, a primeira Ré e o seu falecido
marido que: à primeira Ré e seu falecido marido seria adjudicado o art. 0000.º; ao Autor seria
adjudicado o art. 1111.º; mas ainda que o Autor venderia à primeira Ré e ao seu falecido
marido a parte de terreno do art. 1111.º onde tinha sido feita tal construção e ainda uma
parcela de terreno do art. 1111.º que permitisse o acesso da casa dos Réus ao barracão supra
referido.
7. O Autor recebeu do falecido marido da primeira Ré a quantia de Esc. 50.000$00 (cinquenta
mil escudos), equivalente a € 249,40 (duzentos e quarenta e nove euros e quarenta cêntimos),
a título de sinal desse negócio, valor que nunca devolveu aos Réus.
8. Esse acordo nunca chegou a ser formalizado nem lhe foi dada execução, mantendo-se os
Réus até agora, como vêm fazendo desde cerca de 1978, a ocupar todo o conjunto formado
pelos terrenos correspondentes aos artigos 0000.º e 1111.º.
9. Entre 1978 e 1981, a primeira Ré e o seu marido, Mário Santos, construíram um barracão
com paredes em tijolo, cobertura em pré-esforçado e telha cerâmica, com a área de 184 m2.
10. Jorge Dionísio e Joana Dionísio não se opuseram à edificação dessas construções.
11. Considerando a época da construção, o prédio correspondente ao artigo rústico 1111.º
tinha um valor de cerca de € 62,91 (sessenta e dois euros e noventa e um cêntimos),
considerando apenas a sua aptidão como terreno rústico; considerando a sua aptidão como
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terreno para construção urbana, o seu m2 tinha um valor situado entre Esc. 15$00 (quinze
escudos), equivalente a € 0,07 (sete cêntimos) e Esc. 100$00 (cem escudos), equivalente a €
0,50 (cinquenta cêntimos).
12. Considerando ainda a época da construção, o barracão tinha o valor de cerca de €
4.600,00 (quatro mil e seiscentos euros).
13. Quando fizeram tal obra, a primeira Ré e o seu marido, Mário Santos, ocupavam o prédio
onde a ergueram com a convicção de que assim o podiam fazer.
14. Aquando da conferência de interessados e do trânsito da sentença homologatória de
partilhas no processo n.º 8/95, já se verificava o descrito nos parágrafos anteriores.
(…)
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PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via profissional
Grelha de Correção
Nota:
O conteúdo que a grelha disponibiliza reflete o que se afigura ser abordagens possíveis
corretas, quer do ponto de vista de forma, quer do ponto de vista de substância, em função
das peças facultadas e dos dados do processo, desde que devidamente fundamentadas.
Sem prejuízo, outros tipos de abordagem, seja de forma, seja de substância, que se
mostrem razoáveis e plausíveis, e desde que se revelem suportados em fundamentos
consistentes, serão igualmente valorizados na precisa medida do respetivo mérito.
I – RELATÓRIO
*
Os Autores replicaram, impugnando factos alegados pelos Réus e sustentando, muito
em síntese, que não há lugar ao fenómeno da acessão industrial imobiliária, o qual pressupõe
a boa fé, sendo certo que a construção do barracão foi feita de má fé, pelo que, nos termos do
art. 1341.º do Código Civil, tem o dono do terreno direito de exigir que sejam desfeitas e que o
terreno seja restituído ao seu primitivo estado, à custa do autor delas.
Mais alegaram que nunca poderia proceder a pretensão de aquisição por acessão da
parcela de terreno pretendida pelos Réus, por violar o disposto no art. 1376.º do Código Civil
(cfr. ainda o art. 1379.º do Código Civil).
Concluíram pedindo que:
- as exceções sejam julgadas improcedentes, delas se absolvendo os Autores e
condenando-se os Réus a entregar de imediato o imóvel ao Autor;
- a reconvenção seja julgada improcedente, por não provada, dela se
absolvendo os Autores, com as legais consequências.
*
Realizou-se a audiência prévia, tendo na mesma sido proferido despacho a fixar o valor
da causa e a admitir a reconvenção, saneando-se em seguida o processo, afirmando-se a
regularidade da instância, e fixando-se também o objeto do litígio e temas da prova.
Realizou-se então o julgamento, cumprindo agora proferir sentença.
*
Mantêm-se os pressupostos de regularidade e de validade da instância verificados no
despacho saneador.
*
III - FUNDAMENTAÇÃO
Factos provados
Com relevância para a decisão da causa, estão provados os seguintes factos:
f) Nesse terreno do artigo rústico n.º 0000.º, a primeira Ré e seu falecido marido
construíram também pegado à casa, para o lado poente desta, alguns cómodos,
designadamente um abrigo para automóveis.
o) O marco que se situa junto à Rua do Lameiro está, em relação aos marcos que
o precedem a poente, colocado mais para sul; a partir do marco colocado imediatamente
antes (para poente) do marco que se situa junto à Rua do Lameiro, a linha divisória inflete para
Sul, considerando o sentido poente-nascente.
p) Desde cerca de 1978 que a primeira Ré, primeiro em conjunto com o seu
falecido marido, e agora com a ajuda dos restantes Réus, vem praticando atos de agricultura
no prédio correspondente ao artigo rústico 1111.º, nomeadamente plantando cereais, sem
qualquer interrupção.
x) Esse acordo nunca chegou a ser formalizado nem lhe foi dada execução,
mantendo-se os Réus até agora, como vêm fazendo desde cerca de 1978, a ocupar todo o
conjunto formado pelos terrenos correspondentes aos artigos 0000.º e 1111.º.
y) Aquando da conferência de interessados e do trânsito da sentença
homologatória de partilhas feitas no processo n.º 8/95, já se verificava o descrito nos
parágrafos anteriores.
*
Factos não provados
1. Por si e por sua mãe e seu pai, e os pais deste, o Autor, com referência ao prédio
inscrito no artigo rústico 1111.º, direta e imediatamente, há mais de 20 e 30 anos,
ininterruptamente, com exclusão de quaisquer outras pessoas, à vista e com o conhecimento
de toda a gente da zona e dos próprios Réus, sem oposição de ninguém, com a convicção de
exercer direito próprio e de a ninguém causar prejuízo, vem cuidando, zelando, demarcando,
defendendo, inclusive dos atos de agressão da primeira Ré e de seu falecido marido,
cultivando, colhendo os frutos e fazendo-os seus, optando alguns anos por mantê-la em
pousio, para repouso, e pagando os respetivos impostos.
2. As linhas de estrema ou de divisão entre os artigos 0000.º e 1111.º são constituídas
por retas paralelas.
3. As medidas de 13,20 metros, 16,50 metros, 95,02 metros e 86,30 metros referidas
no art. 35.º da petição inicial.
4. Os prédios inscritos nos artigos 0000.º e 1111.º têm rigorosamente a mesma área,
sendo esta de 1.258,50 m2 para cada um deles.
5. Joana Dionísio e Jorge Dionísio autorizaram expressamente as construções
efetuadas pela Ré e seu falecido marido no prédio inscrito no artigo 1111.º, indicando o local
onde deviam ser efetuadas.
6. A área de terreno afeta ao barracão tem o comprimento de 23 metros por 14
metros de largura, formando um retângulo com a área de 322 m2.
7. Na construção do barracão, a Ré e seu falecido marido despenderam a quantia de
dez mil euros.
Motivação
Os factos provados sob as als. a) a h), k), l), m) e z) decorrem do acordo das partes e da
prova documental junta - cf. artigo 607.º, n.º 4, segunda parte, do CPC.
Explicitando:
- o facto descrito na al. a) resulta da certidão de registo predial junta a fls. __
com o requerimento apresentado pelos Autores em como foi recusado o registo da ação,
sendo confirmado pela certidão de registo predial junta pelos Réus comprovativa do registo da
reconvenção;
- os factos descritos nas als. b), c), d), g) e h) estão provados pelas certidões
extraídas do processo de inventário 8/95, e que foram juntas como documentos n.º1 e n.º2
com a petição inicial;
- o facto descrito na al. e) resulta da ponderação conjugada do acordo das
partes resultante dos articulados e dos documentos n.º1 e n.º2 juntos com a petição inicial;
- o facto descrito nas al.s f), k), l), m) e z) resultam do acordo das partes nos
articulados.
No que respeita aos factos descritos na al. q) dos Factos Provados, estava já provado
por acordo resultante dos articulados que fora construído, no topo poente do artigo rústico
1111.º, um barracão com paredes em tijolo, cobertura em pré-esforçado e telha cerâmica,
com o piso cimentado e com fossas sépticas no seu interior, sendo que o demais resulta da
prova feita em julgamento, conforme a seguir se vai explicitar.
Assim, quanto aos factos controvertidos relevantes considerados provados, e aos
factos não provados, o Tribunal formou a sua convicção, positiva e negativa, quanto à matéria
de facto relevante para a decisão da causa através da análise crítica e ponderada, à luz das
regras da lógica e das máximas da experiência de vida, dos documentos juntos aos autos e,
ainda, dos depoimentos prestados pelas testemunhas na audiência final.
Concretizando. (…)
*
O DIREITO
2. Por outro lado, não tendo os Réus invocado, na presente ação, uma eventual
aquisição, por usucapião, da propriedade do prédio rústico inscrito na matriz respetiva sob o
artigo 1111.º, não cumpre apreciar então se tal eventualmente sucedeu ou não visto que a
aquisição de direito real por usucapião carece de ser invocada – cfr. art. 1288.º, primeira parte,
e art. 303.º, ex vi do art. 1292.º, todos do Código Civil.
3. O mesmo se diga quanto à eventual aquisição da propriedade de todo o prédio
rústico inscrito na matriz respetiva sob o artigo 1111 por acessão industrial imobiliária pela
primeira Ré e falecido marido, pois que a acessão industrial imobiliária não é, automática,
antes confere, verificados determinados pressupostos, ao autor da obra incorporada o direito
potestativo de adquirir a propriedade do prédio onde a obra foi construída.
É certo que tal entendimento não é unânime.
- Pires de Lima e Antunes Varela defendem que estas normas contêm um
verdadeiro princípio imperativo de aquisição (cf. “Código Civil Anotado”, Vol, III,
Coimbra Editora, 2.ª edição, 1987, pág. 165), posição que igualmente é defendida por
Augusto da Penha Gonçalves e por Júlio Gomes (respetivamente em “Curso de Direitos
Reais”, 2.ª edição, Universidade Lusíada, Lisboa, 1993, p. 353, e “O conceito de
enriquecimento, o enriquecimento forçado e os vários paradigmas do enriquecimento
sem causa”, Universidade Católica Portuguesa, Porto, Maio de 1998, pp. 354 a 367);
- porém, a doutrina maioritária (cfr. Oliveira Ascensão, “Direito Civil: Reais”, 5.ª
edição, Coimbra Editora, 1993, págs. 306 a 309; Carvalho Fernandes, “Lições de
Direitos Reais”, 6.ª edição, Quid Iuris, Lisboa 2009, págs. 349 a 351; José Alberto Vieira,
“Direitos Reais”, Coimbra Editora, Abril de 2008, págs. 710 a 711; Rui Pinto Duarte
“Curso de Direitos Reais”, 2ª edição, Principia, Fevereiro 2007, págs. 92 a 93, “Dois
apontamentos sobre acessão industrial imobiliária” in Estudos em Homenagem ao
Prof. Doutor Manuel Henrique Mesquita, Coimbra Editora, 2009, págs. 789 e 790, e “A
jurisprudência portuguesa sobre acessão industrial imobiliária – algumas
observações”, in Themis, Revista da Faculdade de Direito da UNL, Ano III, n.º 5, 2002,
págs. 260 e 261; Menezes Cordeiro, “Direitos Reais”, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 1979, págs. 503 a 504; A. Santos Justo, “Direitos Reais”, Coimbra Editora,
págs. 269 a 271; A. Carvalho Martins, António Carvalho Martins, “Acessão”,
reimpressão, Coimbra Editora, 1999, pag. 122; e José Alberto González, “Direitos Reais
e Direito Registal Imobiliário”, Quid Juris, 4.ª edição, 2009, págs. 422 a 423) tem
entendido que a aquisição do direito de propriedade é potestativa;
- por sua vez, Quirino Soares, em “Acessão e Benfeitorias” (Coletânea de
Jurisprudência - Acórdãos do S.T.J. - ano IV (1996), tomo I, pág. 22) segue a tese
potestativa para os n.os 1 e 2 do art. 1340.º, mas quanto ao n.º 3 entende que a
aquisição é automática.
*
II – Da propriedade do barracão construído no prédio inscrito no artigo 1111.º e da
parcela de terreno onde foi incorporado
3. Apreciar a questão de saber se se pode adquirir por acessão apenas uma parcela do
prédio e, em caso afirmativo, como conjugar tal possibilidade nomeadamente com as regras
de direito público que regulam as edificações e o ordenamento do território e com o disposto
no art. 1376.º do Código Civil.
Cfr. por exemplo, na Jurisprudência
- o Acórdão do STJ de 10 de Fevereiro de 2000, processo n.º 99B1208,
consultável em www.dgsi.pt:
- o Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 11 de Outubro de 2017
(processo n.º 2523/12.0TBPBL.C1, em www.dgsi.pt);
- Acórdão do STJ de 13 de Dezembro de 2009 (processo n.º
1102/03.7TBILH.C1.S1, em www.dgsi.pt),
- o Ac. do STJ de 1 de Junho de 2010 (processo n.º 133/1994.L1.S1, mesma
fonte);
- o Acórdão do STJ de 19 de Abril de 2012 (processo 34/09.0T2AVR.C1.S1, em
www.dgsi.pt);
- o Acórdão do STJ de 20 de Maio de 2014, processo 11430/00.8TVPRT.P1.S1
(mesma fonte);
- o Acórdão do STJ de 26-1-2016 (processo n.º 5434/09.2TVLSB.L1.S1, mesma
fonte, onde se faz um estudo detalhado das divergências doutrinárias e
jurisprudenciais na matéria:
Na Doutrina:
- o estudo de Quirino Soares, já acima referido:
- Fernanda Paula Oliveira, “Loteamentos, Reparcelamentos e Destaques”,
eBook publicado pelo Centro de Estudos Judiciários “A Interação do Direito Administrativo
com o Direito Civil”, em
http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/civil/eb_Interacao_Adm_Civil.pdf:
- José Fernando de Salazar Casanova Abrantes, “Usucapião, Acessão Industrial
e Construção Clandestina”, págs. 73 e seguintes”, mesma fonte;
POSIÇÃO SEGUNDO A QUAL NÃO É POSSÍVEL A ACESSÃO INDUSTRIAL IMOBILIÁRIA INVOCADA PELOS RÉUS
*
III – Do pedido de condenação dos Réus a demolirem o barracão
*
IV – Da responsabilidade tributária
Quanto às custas, importa estabelecer qual a medida da responsabilidade das partes.
Considerando o disposto no art. 527.º, n.º e e n.º 2.º do Código de Processo Civil, e a
sorte da presente ação, considera-se que as custas da ação devem ficar:
- parcialmente a cargo dos Autores, na parte em que improcedem os pedidos
de condenação dos Réus a demolir o barracão e a reconhecerem o Autor como possuidor do
prédio inscrito no artigo 1111.º;
- parcialmente a cargo dos Réus, na parte restante, visto terem ficado vencidos
nesse remanescente.
Não decorrendo dos autos qual a percentagem exata a que corresponde, em termos
de valor global, a utilidade económica dos pedidos formulados pelos Autores que são julgados
improcedentes, fixa-se a proporção com recurso à equidade: as custas da ação ficam a cargo
dos Autores na proporção de 20% e dos Réus na proporção de 80%.
Também por força do disposto na norma acima referida, as custas da reconvenção
devem ficar integralmente a cargo dos Réus, atenta a sua improcedência total.
*
IV – DECISÃO
4. Registe e notifique.
5. Após trânsito em julgado da presente decisão, cumpra-se o disposto nos arts. 3.º,
n.º 1, al. c), 8.º-A, n.º 1, al. b) e 8.º-B, n.º 3, todos do Código do Registo Predial.
*
(Data e assinatura)
*********************************
POSIÇÃO SEGUNDO A QUAL É POSSÍVEL A ACESSÃO INDUSTRIAL IMOBILIÁRIA INVOCADA PELOS RÉUS
(...)
Tudo ponderado, concorda-se com a posição segundo a qual pode haver aquisição de
apenas parte do prédio, quando a construção dê origem a duas unidades económicas distintas,
acompanhando os argumentos acima expendidos que sustentam esta posição,
desempenhando aqui papel fundamental o critério económico de definição do que seja os
limites de um prédio e que, nas palavras de Quirino Soares (obra citada, pág. 23), se concretiza
na ideia de que à unidade predial deve corresponder aquela área contínua que, para o
respetivo dono, funciona como uma unidade económica.
Ora, analisadas as características do barracão, conclui-se que o mesmo não se destina
a apoiar a exploração de um terreno de sequeiro, constituindo assim uma unidade económica
autónoma, independente da área rústica sobrante do prédio ocupado.
Por outro lado, é certo que o artigo 1111.º tem área inferior à unidade de cultura,
sendo assim, à partida, insuscetível de fracionamento nos termos do art. 1376.º, n.º 1 do
Código Civil – conjugado com a Portaria n.º 202/70, de 21 de Abril, em vigor à data da
incorporação (cfr. art. 1317.º, al. c) do Código Civil), o mesmo sucedendo, de todo o modo,
também no contexto da Portaria atualmente em vigor (Portaria n.º 219/2016, de 9 de Agosto).
Porém, como se demonstrou, o barracão foi construído com paredes em tijolo,
cobertura em pré-esforçado e telha cerâmica, com o piso cimentado e com fossas sépticas no
seu interior.
Ou seja, a atividade a desenvolver no barracão não é manifestamente a de cultura,
verificando-se assim a exceção prevista no art. 1377.º, al. a) do Código Civil.
Donde não haver o referido impedimento ao fracionamento do prédio do Autor e não
haver dúvidas de que se deve considerar como preenchido o requisito relativo ao valor
acrescentado – a diferença entre o valor desta nova realidade económica resultante da
incorporação e o valor que o “lote de terreno” onde a edificação foi construída tinha antes,
conforme resulta das als. s) e t) dos Factos Provados.
Considerar verificado o requisito da boa fé, na forma de autorização dada em termos
de declaração tácita, de forma fundamentada – cfr. nomeadamente Ac. TRG de 8 de maio de
2014, processo 3376/08.8TBBCL.G, em www.dgsi.pt.
(se se entender que não está preenchido, a decisão será semelhante à acima
proposta).
Segundo este entendimento, a pretensão dos Réus deve ser reconhecida, pese embora
limitada à área do barracão, visto não se ter provado (prova que aos Réus competia, nos
termos do art. 342.º, n.º 1 do Código Civil) que estivesse afetada ao barracão uma área de
terreno superior.
Por outro lado, essa aquisição deve ser acompanhada do pagamento do valor que o
prédio tinha antes da incorporação.
A este respeito, provou-se que o prédio correspondente ao artigo rústico 1111.º tinha
um valor de cerca de € 62,91 (sessenta e dois euros e noventa e um cêntimos), considerando
apenas a sua aptidão como terreno rústico; considerando a sua aptidão como terreno para
construção urbana, o seu m2 tinha um valor situado entre € 0,07 e € 0,50.
*
III – Da responsabilidade tributária
Quanto às custas, importa estabelecer qual a medida da responsabilidade das partes.
Considerando o disposto no art. 527.º, n.º e e n.º 2.º do Código de Processo Civil, e a
sorte da presente ação, resta concluir que as custas da acção devem ficar:
- parcialmente a cargo dos Autores, na parte em que improcedem os pedidos
de condenação dos Réus a demolir o barracão e a reconhecerem o Autor como possuidor do
prédio inscrito no artigo 1111.º;
- parcialmente a cargo dos Réus, na parte restante, visto terem ficado vencidos
nesse remanescente.
Também por força do disposto na norma acima referida, as custas da reconvenção
devem ficar:
- parcialmente a cargo dos Réus, atenta a sua visto improceder o seu pedido
quanto à área total que pretendem ver reconhecida a aquisição;
- parcialmente a cargo dos Autores, na parte relativa à procedência da
reconvenção.
Não decorrendo dos autos qual a percentagem exata a que corresponde, em termos
de valor global, a utilidade económica dos pedidos formulados pelos Autores e Réus que são
julgados respetivamente procedentes e improcedentes, fixa-se com recurso à equidade a
seguinte proporção: as custas da ação e da reconvenção ficam a cargo dos Autores na
proporção de 50% e dos Réus na proporção de 50%.
*
IV – DECISÃO
3. Condenam-se Autores José Dionísio e Maria Dionísio e Réus Elisa Dionísio, António
Santos e Mário Santos a pagar as custas da ação e da reconvenção na proporção de metade
para os Autores e de metade para os Réus.
4. Registe e notifique.
5. Após trânsito em julgado da presente decisão, cumpra-se o disposto nos arts. 3.º,
n.º 1, al. c), 8.º-A, n.º 1, al. b) e 8.º-B, n.º 3, todos do Código do Registo Predial.
*
(Data e assinatura)
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
(artigo 16.º, n.º 3, da Lei n.º 2/2008, de 14/1)
Via profissional
Grelha de Correção
Nota:
A decisão judicial que a grelha disponibiliza reflete o que se afigura ser uma
abordagem correta, quer do ponto de vista de forma, quer do ponto de vista de
substância, em função das peças facultadas e dos dados do processo.
Outros tipos de abordagem, seja de forma, seja de substância, que se
mostrem razoáveis e plausíveis, e desde que se revelem suportados em
fundamentos consistentes, serão igualmente valorizados na precisa medida do
respetivo mérito.
Banco X, S.A., com sede na Rua Pedro Gordo, n.º 7, na cidade do Porto, NIF 500 XXX
XXX, intentou a presente ação declarativa com processo comum contra :
- Pardal, Lda., com sede na Rua Torta, n.º 1, na cidade do Porto, e NIF 502 XXX XXX;
- Tecnoazienda, com sede na Via Guido Galli, 63, Castelminio, Itália; e
- Agrimacchine, com sede na Via Riva, 82, Castelminio, Itália,
II - Saneamento
O Tribunal é competente.
O processo é o próprio e não enferma de nulidades que o invalidem no seu todo.
As partes têm personalidade e capacidade judiciárias.
O Autor e as Rés Pardal, Lda. e Tecnoazienda têm legitimidade.
Da ilegitimidade da Ré Agrimacchine:
- Considerado o teor da petição inicial, analisar a questão da ilegitimidade passiva da
R. Agrimacchine, pese embora a falta de contestação por parte desta, e a falta de invocação
de tal exceção, por estar em causa matéria de conhecimento oficioso (artigos 577.º, alínea
e), e 578.º do Código de Processo Civil);
- Verificar que, face à forma como o próprio Autor articula a matéria de facto, e a
fundamento jurídico que invoca (que se reconduz à alegação de enriquecimento sem causa),
inexiste matéria articulada que sustente a obrigação desta Ré de proceder a pagamento a
Autor da quantia em causa nos autos.
- Não tendo sequer invocado que a Ré Agrimacchine recebeu qualquer quantia no
âmbito das transferências bancárias referidas nos autos, o Autor não a configura como
sujeito da relação material controvertida, pelo que importa concluir pela sua ilegitimidade,
com a consequente absolvição desta Ré da instância (artigos 30.º, n.ºs 1, parte final e 3, e
278.º, n.º 1, alínea d), do Código de Processo Civil).
*
Fixar o valor da causa em 9.639,00 € (artigos 296.º, n.º 1, 297.º, n.º 1 e 306.º, n.º 1, do
Código de Processo Civil).
*
Enunciar como questões a decidir:
a) Avaliar se deve ser restituída ao Autor a quantia peticionada nos autos de 9.639,00
€, a título de enriquecimento sem causa;
b) Na afirmativa, decidir se tal obrigação impende sobre ambas as Rés Pardal, Lda. e
Tecnoazienda ou apenas sobre uma delas.
III - Fundamentação
- Elencar como factos provados, face a acordo das partes, a teor dos documentos
constantes dos autos e por serem apenas estes os relevantes para a decisão a proferir, os
constantes dos artigos 1.º a 5.º (parte), 6.º (parte) da petição inicial;
- Desconsiderar a matéria dos articulados com carácter conclusivo;
- Desconsiderar a matéria de facto dada por assente por acordo das partes em sede de
audiência prévia, por ser insuscetível de relevar para a decisão a proferir;
- Concluir pela inexistência de factos não provados com relevo para a decisão a proferir;
- Elaborar motivação da decisão em matéria de facto, mencionando o acordo das partes
e, especificamente para cada facto, o documento correspondente.
Exemplo:
1. Em 30/03/2012, a Ré Pardal, Lda. ordenou a Autor a transferência da sua conta D/O
n.º XXXXXXXXXXX, domiciliada na sede do Autor, no Porto, da quantia de 5.000,00 € para a
Ré Tecnoazienda IBAN IT XX XXXX XXXX XXXX XXXX XXXX 902, e a transferência do montante
de 9.639,00 € para a Ré Agrimacchine, IBAN IT XX XXXX XXXX XXXX XXXX XXXX 620;
2. Por erro, o Autor em 2/04/2012 transferiu para o IBAN da Ré Tecnoazienda não
apenas a quantia de 5.000,00 €, mas também a quantia de 9.639,00 €;
3. O Autor solicitou à instituição bancária na qual está domiciliada a conta da Ré
Tecnoazienda a devolução do valor de 9.639,00 €, o que foi recusado face a instruções da Ré
Tecnoazienda;
4. Em 11/4/2012, o Autor creditou, a solicitação desta, a conta da Ré Pardal, Lda. com
o valor de 9.639,00 €.
*
Não ficaram por demonstrar quaisquer factos com relevo para a decisão a proferir.
*
Fundamentação da decisão acerca da matéria de facto:
Para a fixação da matéria de facto, o Tribunal considerou quanto a 1. o acordo das
partes nos articulados e o teor dos documentos 1 e 2 juntos com a petição inicial; quanto a
2., o acordo das partes nos articulados e o teor dos documentos 3 e 4 juntos com a petição
inicial; quanto a 3., o acordo das partes nos articulados e o teor dos documentos 5, 6 e 7
juntos com a petição inicial; quanto a 4., o acordo das partes nos articulados.
Fundamentação de direito :
IV - Dispositivo
Julgar a ação parcialmente procedente e, em consequência
a) Condenar a Ré Tecnoazienda no pagamento a Autor da quantia de 9.639,00 € (nove
mil seiscentos e trinta e nove euros), acrescida dos juros legais vencidos, à taxa de 4%, desde
a citação até à presente data, e dos juros vincendos até integral pagamento, à taxa legal em
vigor;
b) Absolver a Ré Pardal, Lda. do pedido contra si formulado pelo Autor.
Condenar o Autor e a Ré Tecnoazienda a pagarem as custas devidas, na proporção de
2/3 para o Autor e de 1/3 para a Ré Tecnoazienda.
Ordenar o registo e notificação da decisão.
Data
Assinatura
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Profissional
1.ª CHAMADA
1
PROVA ESCRITA DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Profissional – 1.ª Chamada – 24 de fevereiro de 2018
4 - Cotação: 20 valores
I - A Cotação reporta-se às questões suscitadas no Requerimento de Abertura da
Instrução que deverão ser objeto de decisão:
1.
1.1 – 2, 5 valores
1.2 – 2,5 valores
1.3 – 2 valores
2 – 3 valores
3 – 1,5 valores
4 – 3 valores
5 – 3 valores
2
5 - A atribuição da cotação máxima nesta prova pressupõe um tratamento completo das
várias questões suscitadas ou de conhecimento oficioso, que deverá ser coerente e
corretamente fundamentado e com indicação dos preceitos legais aplicáveis.
7 - Os erros ortográficos serão considerados negativamente: 0,25 por cada um, até um
máximo de 3 valores.
3
Elementos relevantes para a Decisão Instrutória
4
Promoção do Ministério Público
“Dos autos resultam indícios bastantes de que o suspeito Albino Abreu integra um grupo de
indivíduos, devidamente organizados numa estrutura definida e com funções previamente
distribuídas, que se dedicam à prática de crimes. Foram já efetuadas diligências de
observação presencial à distância, com recolha de imagens (vejam-se autos de fls. 44, 55,
66, 77 e 88), que comprovam a existência de reuniões frequentes do grupo em questão, em
casa do suspeito Albino Abreu, bem como num armazém sito na zona comercial de São João
da Talha, na Estrada Municipal 22, ao Km 1, para onde se presume sejam transportados os
produtos dos crimes cometidos, no todo ou em parte. Neste momento, a fim de prosseguir a
investigação e com vista à descoberta da verdade, torna-se absolutamente imprescindível
levar a cabo interceções telefónicas ao telemóvel do suspeito, acima identificado, uma vez
que não se vislumbra que de outra forma menos intrusiva se consiga alcançar a identidade
de todos os membros da associação, bem como as respetivas atuações e funções
criminosas, sendo certo que qualquer outro meio de obtenção de prova, como v.g. uma busca
ao local, deitaria por terra o sucesso da presente investigação. Em face do exposto, promove-
se que seja autorizada a interceção telefónica ao telemóvel utilizado por Albino Abreu, com o
número 992233445, pelo período de 90 dias.
Remeta os autos ao Juízo Central de Instrução Criminal para apreciação pelo Juiz de
Instrução Criminal”.
III- Dessa certidão do NUIPC 111/17.0PSLSB, e na sequência da aludida promoção, consta a folha
respeitante ao despacho de autorização de interceções telefónicas ao telemóvel do suspeito
Albino Abreu, proferido em 2 de maio de 2017, pelo Juiz de Instrução Criminal, com o seguinte
teor:
5
Despacho de Autorização de Interceções
“Compulsados os autos, apura-se deles resultar que se investiga a prática pelo suspeito
Albino Abreu do crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art. 299º, nº 1, do C.P.
O Ministério Público veio requerer a autorização judicial para que se proceda à interceção
telefónica do telemóvel com o número 992233445, o qual é habitualmente utilizado pelo
mencionado suspeito no aparelho com o IMEI 0099887766554433.
Nesta fase, mostra-se absolutamente imprescindível o recurso a este meio de obtenção de
prova para a descoberta da verdade material, conforme se exarou na promoção que
antecede.
Face ao exposto, autorizo a requerida interceção telefónica ao número e IMEI acima
identificados, pelo prazo de 90 dias.
Comunique por confidencial à operadora telefónica.
Devolva os autos ao MP.”
IV- Na mesma certidão, seguem-se as folhas atinentes às referidas interceções ao identificado alvo,
delas constando as transcrições das sessões 21 a 29, respeitantes ao dia 20 de julho de 2017,
compostas por sms enviados do telemóvel do suspeito para o telemóvel com o cartão nº
229988776, pertencente a Belmira Botão, com o seguinte teor:
6
Auto de Transcrição de Interceções
Sessão 21
- 1h 23m - já te liguei 2 vezes e não atendes, sua cabra sebenta, não te chegou?
queres levar outra?
Sessão 22
- 1h 45m - atende, que é melhor para ti
sessão 23
- 2h 10m - não vale a pena fugires, se não és minha também não és de ninguém
sessão 24
- 2h 25m - estou a ficar farto, ninguém goza comigo, bem me conheces, sabes bem
do que sou capaz
sessão 25
- 2h 29m - ou vives comigo ou tens a vida arruinada
sessão 26
- 2h 35m - não és a primeira a levar até estrebuchar
sessão 27
- 2h 48m - atende, cabra, já te mandei atender, olha que te mato
sessão 28
- 3h 01m - amanhã ajusto contas contigo de uma vez por todas, não penses que isto
fica assim
sessão 29
- 3h 10m - vou descobrir mais cedo do que julgas onde tens escondido esse coiro
e vais ganir a pedir perdão
V- Ainda na referida certidão do aludido Proc. 111/17.0PSLSB, encontra-se a folha cujo teor
consiste no despacho proferido em 28 de julho, pelo Juiz de Instrução Criminal, no qual
procedeu à validação das interceções compreendidas no período de 15 a 27 de julho.
7
VIII- A 18 de setembro de 2017, na sequência de notificação recebida para prestar depoimento no dia
25 de setembro, Belmira Botão apresentou nos autos 222/17.0PSLSB um requerimento para a
sua constituição como assistente.
IX- Por despacho do Juiz de Instrução Criminal, datado de 22 de setembro de 2017, foi deferida a
sua pretensão e Belmira Botão foi constituída assistente no Processo de Inquérito com o NUIPC
nº 222/17.0PSLSB, verificados que estavam os respetivos pressupostos e formalidades legais.
X- No dia 25 de setembro de 2017 foram tomadas declarações à assistente, as quais constam a fls.
31 dos autos, ínsitas no competente Auto de declarações (que se transcreve na íntegra),
devidamente datado e assinado nos termos legais, com o seguinte teor, para o que ora releva:
(fls. 31)
Auto de Declarações
Identificação: Belmira Branco Botão
Filiação: Zacarias Botão e Zaida Branco
Naturalidade – Lisboa Data de Nascimento: 7-2-1985
Estado civil: casada Nacionalidade: Portuguesa
Profissão: empregada de comércio BI - 54555455
Residência – Rua da Má-Hora, 13, 3º, Olivais Norte, Lisboa
___________________________________________________________________________
Perguntada sobre as suas relações de parentesco com e de interesse com o arguido, assistente,
partes civis e outras testemunhas disse: ser casada com o arguido.
___________________________________________________________________________
Foi advertida, nos termos do art. 145º, nº 5 e 6 do Código de Processo Penal, de que, para efeito
de receber as notificações referentes a estes autos, deverá indicar, neste momento, um domicílio
à sua escolha e de que a mudança da morada indicada deve ser comunicada através da entrega
de requerimento, ou remessa por via postal registada, à secretaria onde os autos se
encontrarem a correr no momento.
_______________________________________________________________________
À matéria dos autos, a assistente declarou que:
8
“Conheceu o arguido Albino Abreu no Verão de 2015, por intermédio de uma amiga, começou a
viver com ele em janeiro de 2016 e casaram em 21 de dezembro desse ano. No início estava
tudo bem, mas depois de uns três ou quatro meses de casados ele arranjou outra e começou a
insultá-la quase todos os dias, a dizer “já vais ver, um dia destes ainda te chego a roupa ao
pelo”; “se andas por aí no engate, temos o caldo entornado”; “já vais ver, olha que eu não sou
para brincadeiras, tu sabes bem da minha vida, quem se mete comigo tem os dias contados...”.
Mais disse que começava discussões com ela quase todos os dias por causa da comida que ela
fazia, que nunca lhe agradava, dizendo-lhe “não fazes nada de jeito, só porcaria, és uma cabra
sebenta”. Acrescentou que, então, após algum tempo, e já saturada, ela resolveu gravar uma
dessas discussões no seu telemóvel, porque tinha medo de não conseguir ver-se livre dele se
ninguém acreditasse nela em Tribunal, ou porque lhe poderia acontecer alguma coisa de mal. E
no dia 19 de julho, quando ele chegou a casa, pelas 13h, colocou de imediato o seu telemóvel
no bolso do avental, em posição de gravar - gravação que nesta diligência colocou em audição e
cujo teor se transcreve em Auto de Transcrição de Gravação, a seguir ao presente Auto de
tomada de declarações. Relatou que começaram a almoçar e de imediato o arguido atirou o
prato contendo a refeição contra a parede, dizendo que a comida estava uma merda salgada e
que ela só andava no engate, que não sabia fazer mais nada, que era uma cabra sebenta. O
arguido deu-lhe uma bofetada na face direita, com muita força, e puxou-lhe os cabelos, tendo ela
começado a gritar. De seguida abandonou a cozinha. Mais disse que logo que ele saiu de casa,
guardou os seus pertences numa mala de viagem e num saco, chamou um táxi e abandonou a
casa porque tinha medo dele e não queria mais viver assim. Ficou com a face vermelha, mas
não foi nem à Polícia, nem ao médico, nem contou a ninguém, com vergonha. E desde então
tem esta gravação no seu telemóvel. Nunca mais o viu e mudou de número de telemóvel no dia
seguinte, porque ele nessa noite ligou-lhe várias vezes e, como ela não atendia, ele enviou-lhe
sms com ameaças e ela sentia-se amedrontada. Acha que ele não sabe onde ela vive e
trabalha. Arranjou trabalho no shopping dos Olivais, como vendedora numa loja, e vive sozinha,
perto do trabalho, num estúdio que arrendou. Ele não costumava ir para esses lados da cidade,
por isso está mais ou menos tranquila. E mais não disse.
9
Auto de Transcrição de Gravação
(fls. 32)
Segue Auto de Transcrição de Gravação, consignando-se que a assistente entregou o seu
telemóvel com a gravação para ficar à ordem dos autos:
“voz masculina – A comida já está na mesa?
voz feminina – Sim. Anda, vamos comer.
Ouvem-se ruídos de arrastar de cadeiras e manuseamento de talheres e cerca de 45
segundos depois um estrondo de um estilhaço seguido de sons de objetos a cair no
chão. Ouve-se a
voz masculina exaltada - a comida está uma merda salgada; não sabes fazer nada,
senão andar por aí no engate, cabra sebenta!
De imediato, ouve-se o som de uma bofetada e um forte grito feminino e diz a
voz feminina - Larga-me!
E ouve-se um choro de mulher.
Ouve-se momentos depois o som de uma porta a bater ruidosamente.”
XI- A 9 de outubro de 2017 Albino Abreu foi constituído arguido no Proc. 222/17.0PSLSB e foi
interrogado para lhe ser aplicada uma medida de coação, tendo o mesmo feito uso do seu direito
ao silêncio. Nessa diligência, o Juiz de Instrução Criminal aplicou-lhe a medida de coação de
proibição de contactos com a assistente, prevista pelo art. 31.º, n.º 1, al. d) da Lei 112/2009 de
16/9, por verificação dos perigos constantes das al. b) e c) do art. 204.º do CPP.
XII- A 20 de outubro de 2017 foi inquirida a testemunha Cremilde Castro (fls. 65), residente na Rua
do Já-vais-ver, nº 7, 2ª A, em Lisboa, tendo a mesma dito, para o que ora releva, que:
10
Auto de Inquirição de Testemunha
(fls. 65)
“Desde março de 2017 vive por cima do apartamento onde moravam o arguido e a
assistente, mantendo com eles relações de vizinhança normais, cumprimentando-se, mas
sem nunca terem tido quaisquer conversas. Às vezes ouvia a voz dele, havia discussões em
voz alta e gritos, mas nunca percebeu exatamente o que diziam ou o que se passava. Mais
disse não saber os dias ou as noites em que ouvia essas discussões, mas uns tempos antes
de deixar de ver a assistente no prédio, elas eram bastante frequentes, todas as semanas as
ouvia. De resto, disse nunca ter visto nada, nem saber de nada sobre o casal”.
XIII- Em 2 de novembro de 2017 o MP proferiu Despacho de Acusação nos Processo com o NUIPC
222/17.0PSLSB, com o seguinte teor:
Proc. 222/17.0PSLSB
O Ministério Público vem, nos termos do disposto no art. 283º do C.P.P, deduzir
acusação, para Julgamento em Processo Comum, com intervenção do Tribunal Singular,
contra:
11
Porquanto indiciam suficientemente os autos que:
1- Albino Abreu e Belmira Botão partilharam casa, mesa e habitação desde janeiro de
2016, fixando residência na Rua do Já-vais-ver, nº 7, 1º-A, em Lisboa, tendo contraído
matrimónio em 21 de dezembro desse ano.
2- Em 19 de julho de 2017, Belmira Botão viu-se obrigada a deixar de viver na residência
comum do casal, porquanto:
3- Desde data não concretamente apurada do ano de 2017, mas que se situa a partir de
março ou abril, e até ao dia 19 de julho do mesmo ano, Albino Abreu disse-lhe, por
várias vezes, na residência comum do casal,
4- “já vais ver, um dia destes, ainda te chego a roupa ao pelo”; “se andas por aí no
engate, temos o caldo entornado”; “já vais ver, olha que eu não sou para brincadeiras,
tu sabes bem da minha vida, quem se mete comigo tem os dias contados...”
5- encetando com ela discussões sobre a falta de qualidade da comida que ela
confecionava, dizendo-lhe “não fazes nada de jeito, só porcaria, és uma cabra
sebenta”.
6- No dia 19 de julho de 2017, pelas 13h, após ter iniciado a toma da refeição do almoço,
Albino Abreu arremessou subitamente o prato com a comida contra a parede da
cozinha,
7- gritando: “a comida está uma merda salgada; não sabes fazer nada, senão andar por aí
no engate, cabra sebenta!”.
8- De seguida, desferiu uma bofetada na face direita de Belmira Botão e puxou-lhe os
cabelos com força.
9- Como consequência direta e necessária da conduta do arguido, Belmira Botão sofreu
dor na zona facial atingida,
10- o que a levou a emitir um forte grito, manifestando essa dor, e a chorar.
11- Momento em que o arguido saiu da cozinha e fechou a porta ruidosamente, e
ausentou-se da habitação comum.
12- Nesse mesmo dia, Belmira Botão abandonou a residência comum do casal e não mais
ali regressou.
13- Na madrugada do dia seguinte, dia 20 de julho de 2017, o arguido, através do seu
telemóvel com o nº 992233445, enviou para o telemóvel com o nº 229988776, de
Belmira Botão, os seguintes sms:
1h 23m:
12
já te liguei 2 vezes e não atendes, sua cabra sebenta
não te chegou? queres levar outra?
1h 45m
atende, que é melhor para ti
2h 10m
não vale a pena fugires
se não és minha também não és de outro qualquer
2h 25m
estou a ficar farto, ninguém goza comigo, bem me conheces, sabes bem do que
sou capaz
2h 29m
ou vives comigo ou tens a vida arruinada
2h 35m
não és a primeira a levar até estrebuchar
2h 48m
atende, cabra, já te mandei atender, olha que te mato
3h 01m
amanhã ajusto contas contigo de uma vez por todas, não penses que isto fica
assim
3h 10m
vou descobrir mais cedo do que julgas onde tens escondido esse coiro
e vais ganir a pedir perdão.
14- O arguido agiu nos moldes descritos querendo atingir a integridade física de Belmira
Botão, como conseguiu, bem sabendo que ela era seu cônjuge;
15- O arguido previu e quis proferir as expressões intimidatórias supra descritas dirigidas a
Belmira Botão, sabendo que as mesmas eram aptas a provocar-lhe medo, como
sucedeu;
16- O arguido previu e quis proferir as expressões ofensivas da honra e consideração de
Belmira Botão supra descritas, sabendo que as mesmas eram aptas a humilhá-la e
menorizá-la, como sucedeu;
17- Bem sabia o arguido que com a sua conduta, que concretizou de modo reiterado,
molestava psiquicamente Belmira Botão, seu cônjuge, menosprezando-a, humilhando-a
e ofendendo-a na sua honra e dignidade pessoais, no seio daquela que foi residência
comum do casal, sabendo que tal conduta era apta a ofender a saúde física e
psicológica dela.
18- O arguido agiu livre, deliberada e conscientemente, e sabia que a sua conduta era
proibida e punida por lei.
13
Em face do exposto, cometeu o arguido, como autor material e na forma consumada, um
crime de violência doméstica, p. e p. pelo art. 152.º, n.º 1, al. a) e 2 do CP, requerendo-se a
aplicação da pena acessória de proibição de contactos com a vítima consagrados nos nº 4 e 5
do mesmo diploma legal.
Prova:
Documental:
Testemunhal:
A Procuradora-Adjunta
FFF GGG
14
XIV- O mencionado despacho de acusação foi notificado ao arguido, à assistente e respetivos
advogados em 8 de novembro de 2017.
XV- Em 16 de novembro de 2017 foi apresentada acusação pela assistente nos seguintes
termos:
Belmira Botão, assistente nos autos à margem identificados, vem, ao abrigo do disposto
no art. 284.º do CPP, deduzir acusação contra o arguido
15
lhe a boca, disse-lhe “se vais falar contra mim, tens a vida arruinada. Vais dizer que não queres
falar! Mulher nenhuma goza comigo, muito menos uma cabra sebenta como tu”.
3- Ao agir desta forma, quis o arguido atemorizar a assistente para assim impedir que ela
prestasse depoimento contra ele no presente processo, compelindo-a a usar do seu direito de
se recusar a depor.
4- O arguido agiu livre, deliberada e conscientemente, e sabia que a sua conduta era proibida e
punida por lei.
Praticou o arguido o crime de ameaças previsto e punido pelo art. 153.º, n.º 1, do CP.
Processo 222/17.0PSLSB
Albino Abreu, arguido nos autos à margem identificados, vem requerer, ao abrigo do
disposto nos art. 286.º e 287.º, n.º 1, al. a) do CPP, a abertura da Instrução nos termos e pelos
fundamentos seguintes:
16
1. Da nulidade da interceção telefónica cuja transcrição compõe a certidão que deu
origem ao presente processo:
1.1
- no âmbito do Proc. 111/17.0PSLSB, em que se investigou a prática do crime de
associação criminosa, p. e p. pelo art. 299.º, n.º 1, do CP, o telemóvel com o nº 992233445 do
ali e ora aqui arguido Albino Abreu foi sujeito a interceções telefónicas, por despacho de
autorização proferido em 2 de maio de 2017, o qual se transcreve:
“Compulsados os autos, apura-se deles resultar que se investiga a prática pelo suspeito
Albino Abreu do crime de associação criminosa, previsto e punido pelo art. 299.º, n.º 1, do C.P.
O Ministério Público veio requerer a autorização judicial para que se proceda à interceção
telefónica do telemóvel com o número 992233445, o qual é habitualmente utilizado pelo
mencionado suspeito no aparelho com o IMEI 0099887766554433.
Nesta fase, mostra-se absolutamente imprescindível o recurso a este meio de obtenção
de prova para a descoberta da verdade material, conforme se exarou na promoção que
antecede.
Face ao exposto, autorizo a requerida interceção telefónica ao número e IMEI acima
identificados, pelo prazo de 90 dias.
Comunique por confidencial à operadora telefónica.
Devolva os autos ao MP.”
17
autos, é nulo todo o processado subsequente no presente processo, porque todo ele é
dependente daquele primeiro despacho.
1.2
E sem conceder, mais se acrescentará:
- como acima se referiu, no Proc. 111/17.0PSLSB investigou-se um crime do catálogo
elencado no art. 187.º, nº 1, do CPP, o de associação criminosa; ali era arguido o aqui arguido;
- nesse Processo, e por um mero acaso, a investigação deparou-se com os sms que
integram as sessões 21 a 29;
- tais sms, com o seguinte teor:
já te liguei 2 vezes e não atendes, sua cabra sebenta, não te chegou? queres levar
outra?
não vale a pena fugires, se não és minha também não és de outro qualquer
estou a ficar farto, ninguém goza comigo, bem me conheces, sabes bem do que sou
capaz
amanhã ajusto contas contigo de uma vez por todas, não penses que isto fica assim
vou descobrir mais cedo do que julgas onde tens escondido esse coiro
e vais ganir a pedir perdão
consubstanciam, no limite, um crime de ameaça, p. e p. pelo art. 153.º, n.º 1 do CP, não
o crime de violência doméstica, como adiante se demonstrará, o que desde já se invoca para
todos os legais efeitos;
- o crime de ameaça depende de queixa, nos termos do art. 153.º, n.º 2 do CP; ora, o
presente processo não foi despoletado por queixa apresentada por Belmira Botão, mas pela
certidão das interceções que serviram como notícia de crime para instauração de novo
18
inquérito, sendo ainda certo que das declarações tomadas à assistente não se extrai que a
mesma tenha dito que deseja procedimento criminal contra o arguido;
- não podendo o auto de interceção inicial servir de auto de notícia, nem de auto de
denúncia com formulação de queixa, carece o Ministério Público de legitimidade para a
prossecução da ação penal, devendo os autos ser arquivados, o que se requer.
1.3
Ademais,
- a ofendida e assistente contraiu matrimónio com o arguido em 21 de dezembro de
2016, matrimónio esse que ainda se mantém;
- a Belmira Botão foi tomado depoimento, em 25 de setembro de 2017, não tendo a
mesma sido advertida nos termos e para os efeitos do disposto no art. 134.º, n.º 2, do CPP,
conforme se extrai do respetivo auto, ou seja, de que tenha sido advertida de que se poderia
recusar a depor;
- pelo que o seu depoimento encontra-se ferido de nulidade, o que se invoca e se requer
seja declarado.
19
3. Da falta de indícios que sustentem a acusação quanto aos factos
ocorridos no dia 19 de julho de 2017
20
- ora, sobre estes factos não foi o arguido ouvido, devendo sê-lo, verificando-se, em
consequência, a nulidade a que se reporta o disposto no art. 120.º, n.º 2, al. d);
- desta feita, nesta parte, também a acusação pela Assistente se encontra ferida com o vício da
nulidade, o que deverá ser declarado na Decisão Instrutória a proferir;
Junta:
XVIII- Certidão do Proc. 111/17.0PSLSB que contém a folha relativa à promoção do Ministério
Público, datada de 16 de agosto, para validação das interceções compreendidas no período de
28 de julho a 11 de agosto, seguida do despacho proferido em 18 de agosto pelo Juiz de
Instrução Criminal, no qual procedeu à respetiva validação.
XVIII - Após a competente distribuição dos autos 222/17.0PSLSB, e uma vez aberta conclusão,
foi proferido despacho pelo Juiz de Instrução Criminal, datado de 4 de janeiro de 2018, no qual
declarou aberta a instrução, por se encontrarem verificados os pressupostos legais para o efeito,
nos termos do art. 287.º do CPP. No mesmo despacho se exarou que, por não ter sido requerida
produção de prova e se entender inexistir necessidade da prática de qualquer outro ato de
instrução, se designava o dia 19 de janeiro para a realização do Debate Instrutório, o qual se
realizou na data prevista e cuja ata se transcreve:
21
Ata de Debate Instrutório
Processo: 222/17.0PSLSB
Instrução
Pela Mma. Juíza de Direito, AAA BBB, foi declarada aberta a presente diligência de
debate instrutório, tendo de seguida feito uma exposição sumária sobre os atos de
instrução a que se procedeu e sobre as questões de prova relevantes para a decisão
instrutória que apresentem, em sua opinião, caráter controverso – art. 302.º, n.º 1 do
CPP.
A Digna Procuradora-Adjunta e os Ilustres Advogados declararam não ter qualquer
prova suplementar a apresentar.
22
que carecem de completa sustentação legal, pelo que se impõe à Meritíssima Juíza
julgá-las, in totum, improcedentes.
Dada a palavra ao Ilustre Mandatário da Assistente pelo mesmo foi dito subscrever na
íntegra e dar por reproduzidas as doutas alegações do Ministério Público.
Dada a palavra ao Ilustre Mandatário do arguido, pelo mesmo foi dito reiterar o conteúdo
do Requerimento de Abertura de Instrução, pedindo a Não Pronúncia do arguido.
*
Em seguida, a Mma. Juíza declarou encerrado o debate instrutório e proferiu o seguinte:
DESPACHO
Para a leitura da decisão instrutória designo o próximo dia 26 de janeiro de 2018, pelas
14h 30m, neste Tribunal.
*
Todos os presentes foram devidamente notificados, tendo a audiência sido declarada
encerrada quando eram 11h 50m.
-A presente ata foi integralmente revista e por mim, EEE LLL, elaborada.
AAA BBB
EEE LLL
23
PROVA PROFISSIONAL – 1ª CHAMADA – 24/2/2018
GRELHA DE CORRECÇÃO
cotação
- Breve relatório
I - Componentes - Saneamento – com o tratamento das nulidades suscitadas
estruturais da DI - Breve enquadramento legal da instrução
- Análise crítica da factualidade indiciária
- Subsunção da factualidade indiciária ao Direito
- Parte decisória
1
Tal invocação é extemporânea – art. 123º CPP - porquanto o
arguido teve contacto com os factos/ termos do Proc. no
momento da tomada de declarações e aplicação de MC. 2,5
1.2 falta de - constata que os sms consubstanciam um conhecimento
legitimidade do MP fortuito, distinguindo esta figura da dos conhecimentos de
para a prossecução da investigação, caracterizando uns e outros;
acção penal? - verifica que se encontram observados os requisitos legais
previstos no art. 187º/7, referindo a identidade do suspeito e do
crime de catálogo - violência doméstica – art. 187º/1/a;
- refere que a verificação dos requisitos quanto ao crime do
catálogo se afere pela qualificação que é feita no momento da
autorização;
- refere que no momento da aquisição da notícia do crime se
afere a sua natureza;
- analisa os sms, efetuando a sua subsunção ao tipo de crime de
violência doméstica, afastando o mero crime de ameaças – pode
remeter o cotejo analítico dos tipos para o momento infra em
que se explana a qualificação jurídica dos factos ou efectuá-lo
neste momento;
- conclui pela desnecessidade de apresentação de queixa e pela
legitimidade do MP para a prossecução da ação penal; 2,5
1.3 nulidade por - equaciona se se trata de uma proibição de prova e conclui -
inobservância do art. admite-se a solução do Ac. STJ de 11/2/2015 (Proc.
134º CPP? 182/13.1PAVFX), mas também que se entenda tratar-se não de
uma proibição de prova, mas de uma nulidade que deve ser
arguida;
- expõe a problemática da extensão ao assistente da prerrogativa
contida no art. 134º/1 e conclui – vem-se entendendo que é
extensível – cfr. art. 145º/3
- coloca a questão da legitimidade do arguido para invocar a
nulidade, tomando posição, que deverá ser negativa, uma vez
que o interesse protegido é o do cônjuge / assistente, não o da
defesa;
- conclui pela improcedência da nulidade por:
falta de legitimidade do arguido para a arguir;
e ademais porque, quer se entenda que consubstancia uma
proibição de prova do art. 126º/3, quer uma nulidade do art.
120º/1, na acusação pela assistente na parte em que remete
para o requerimento de prova constante da acusação do MP,
consta o relativo às suas próprias declarações, o que configura o
seu consentimento expresso ex post, na linha do aludido Ac., ou
presumido (ainda que se tenha por não escrito o rol por
inobservância do disposto no art. 284º/2/b, nada obsta a que,
para este efeito, releve a vontade aí expressa pela assistente em 2
ter sido e vir a ser ouvida)
2. a gravação é prova - situa a captação de som sem o consentimento do visado no
proibida? âmbito do conteúdo do art. 126º/3 CPP;
- constata a existência de duas perspetivas possíveis e opta
fundamentadamente por uma delas ou explana uma perspetiva
à qual adere, fundamentando-a de forma consistente:
i) a gravação constitui prova válida, entendendo-se, para tanto,
que a assistente, ao violar a reserva à vida privada do arguido,
agiu ao abrigo de uma causa de justificação (v.g. Ac. TRL, Proc.
10210/2008-9, de 28-05-2009; Ac. TRE, Proc. nº
2499/08.8TAPTM.E1, de 28/06/2011; Ac. TRE, Proc. nº
932/10.8PAOLH.E1, de 24/04/2012”;
ii) equaciona os valores em questão, ou seja, se é de aceitar uma
2
recolha de prova para processo criminal por particulares, ao
arrepio das normas processuais, em violação da tutela da reserva
da vida privada prevista no CP (a assistente, quando decidiu
gravar a conversa, não tinha lançado mão da tutela penal para
fazer valer o seu direito à proteção do bem jurídico
compreendido na norma da VD, não obstante os factos estarem
a suceder há cerca de quatro meses, nem a gravação afasta
qualquer perigo atual incidente sobre a sua integridade física ou
liberdade pessoal, atinente a esse momento da gravação),
concluindo que a violação da reserva da vida privada do arguido
pela assistente não estava a coberto de uma causa de
justificação. Ademais, admite-se que se considere que a causa de
justificação existente no momento da gravação deixou de
subsistir porque a situação de facto se alterou ou que a causa de
justificação outorga apenas um direito de defesa contra um
ataque pontual e atual e não um direito geral de garantia de
prova (Cfr. Costa Andrade, As Proibições de Prova em Processo
Penal, Reimp., p. 260-261).
- admite-se qualquer solução desde que devidamente
fundamentada. 3
3. insuficiência de Considera, de acordo com o atrás explanado
indícios – factos 19/7? - declarações da assistente (válidas)
(admite-se que seja feito - gravação som (válida? Inválida?)
neste momento ou infra, - depoimento da testemunha (corrobora os factos, ainda que de
aquando da análise crítica forma difusa)
da factualidade indiciária)
e conclui, em conformidade, pela existência de indícios 1,5
4. qualificação jurídica De forma sucinta
dos factos? - define os bens jurídicos tutelados pelos crimes de violência
(admite-se que seja feito doméstica (saúde, na sua vertente física, psíquica e mental),
neste momento ou infra, ameaças (liberdade de decisão e de acção) e perseguição
aquando da subsunção (liberdade de decisão e acção)
fáctico-jurídica)
- identifica os elementos objectivos e subjectivos que os
diferenciam, admitindo-se que identifique apenas os elementos
essenciais diferenciadores, como segue
- VD: o agente, que se encontra numa determinada relação
para com o sujeito passivo, exerce violência física e psicológica,
verbal e sexual sobre a vítima – humilhações, provocações,
molestações - com dolo em qualquer uma das suas modalidades;
- ameaça: o agente anuncia um mal futuro, cuja ocorrência
depende da sua vontade, actuando com dolo em qualquer uma
das suas modalidades;
- perseguição: o agente actua por qualquer meio que seja
apto a provocar medo ou inquietação ou a prejudicar a liberdade
de determinação do destinatário, com qualquer uma das formas
de dolo
3
- não o tendo sido, há quanto a eles os vícios da nulidade
insanável da falta de inquérito e da falta de promoção, do art.
119º, al. b) e d), sendo certo que, além do mais, o crime de
coação reveste natureza semipública (art. 154º/1 e 4), pelo que
sempre seria o MP que teria legitimidade para deduzir a
competente acusação;
- refere que a nulidade de falta de inquérito “consome” a
alegada nulidade relativa de falta de audição do arguido, que
assim perde relevância;
- conclui pela existência das referidas nulidades, de
conhecimento oficioso, e declara que a acusação pela assistente
se encontra ferida de nulidade, na parte em que alega os novos
factos do dia 10/11/17, admitindo-se apenas na parte em que
acompanha a do MP (admite-se o entendimento da sua
inexistência, nesta parte viciada). 3
20
4
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Profissional
2.ª CHAMADA
I - Acusação
II - Requerimento de Abertura de Instrução
III - Elementos recolhidos no Inquérito
1. Auto de Notícia
2. Auto de Inquirição de Testemunha
3. Auto de Inquirição de Testemunha
4. Auto de Inquirição de Testemunha
5. Auto de Inquirição de Testemunha
6. Auto de Interrogatório de Arguido e Auto de Constituição de
Arguido
7. Relatório da Perícia de Avaliação do Dano Corporal em
Direito Penal
8. Auto de Busca Domiciliária e Apreensão
9. Termo de Autorização de Busca
10. Auto de Visionamento de Imagens
11. Auto de Denúncia
12. Documento
13. Documento – Informação Clínica
14. Certificado de Registo Criminal
15. Documento - Certidão do teor
16. Documentos - Contratos de Trabalho
IV - Elementos Resultantes das Diligências Instrutórias
A. Auto de Inquirição de Testemunha
B. Auto de Inquirição de Testemunha
2 - Deve considerar-se:
I - que não houve oposição dos sujeitos processuais nem foi
solicitado prazo suplementar (no caso de entender que, da instrução, resulta
alteração da qualificação jurídica dos factos ou alteração não substancial destes);
II - na Instrução e por decisão do Juiz de Instrução Criminal,
foi oficiosamente determinada a audição de Berto Brito e Carla Costa.
B.
7) e 8) – 5 valores
C.
9) a 12) – 3,5 valores
1.) A arguida Ana Anes viveu em comunhão de cama, habitação e mesa com Berto Brito, desde
meados de 2005 até 4 de Setembro de 2017.
2.) Residiram na Rua Francisco José, Lote 4 – 5º Esq., Urbanização dos Plátanos, Faro,
correspondente a fracção adquirida com recurso a crédito bancário e em que são mutuários a
arguida e o indicado Berto, outorgantes na escritura pública de compra e venda do imóvel.
3.) Entre 2010 e 2015, durante a vivência em comum com a arguida, o ofendido Berto sempre
explorou um estabelecimento de venda de jornais, revistas e tabaco e, nesse período, quando
chegava a casa, a arguida exigia-lhe todo o dinheiro proveniente desse trabalho.
4.) Quando Berto se recusava a entregar todas essas quantias à arguida, esta desferia-lhe
bofetadas na cara e discutia com o mesmo para o pressionar a entregar-lhe tais montantes,
apelidando-o de “frouxo”, “imprestável” e dizendo que andava “metido com todas”.
5.) A arguida sabia que, ao actuar na residência comum com o ofendido, ampliava o
sentimento de receio deste, visto que violava o espaço reservado da vida privada do casal.
6.) Berto Brito, apesar de sofrer continuadamente estes comportamentos desde data não
concretamente apurada mas pelo menos entre 2010 e 2015, por medo, nunca apresentou
queixa, tendo mesmo declarado neste processo que não desejava procedimento criminal.
7.) A arguida praticou estes actos de forma consciente e livre, querendo provocar no
companheiro mau estar psicológico, lesões físicas, bem como atormentá-lo e diminuí-lo
enquanto homem e então companheiro, o que conseguiu, bem sabendo que o seu
comportamento era proibido e punido pela lei penal.
8.) No dia 4 de Setembro de 2017, cerca das 20.00h, Berto chegou a casa após um dia de
trabalho na loja de venda de jornais, revistas e tabaco que explorava no centro da cidade de
Faro.
9.) Sabendo a arguida que Berto traria algum dinheiro referente ao apuro de caixa desse dia,
exigiu ao mesmo a entrega de todo esse dinheiro como o fizera pelo menos no período de
2010 a 2015.
10.) Ao que Berto entregou € 100,00 à arguida, afirmando-lhe que ficaria com € 25,00 para os
seus gastos pessoais.
11.) A arguida, não satisfeita com a resposta e por pretender a quantia total de € 125,00,
munida de objecto não apurado mas com características cortantes, dirigiu-se a Berto - que se
encontrava apenas vestido com cuecas e que se deslocava para a casa de banho com o
objectivo de tomar banho - e, sem que nada o fizesse prever, agarrou-o na zona dos testículos
e desferiu, com o dito objecto, um golpe na região genital de Berto, cortando-o no pénis e
escroto numa extensão de 6 cm.
12.) Berto vestiu-se e saiu de casa, a fim de procurar ajuda e, por sangrar profusamente,
deslocou-se ao café “Amparo”, existente em frente ao prédio do casal, ali referindo, por
vergonha, que se tinha ferido acidentalmente na zona genital ao cair da bicicleta em que
habitualmente se deslocava de e para o trabalho.
13.) Por manifestar necessidade urgente de receber tratamento hospitalar foi accionado o
número de emergência 112 e enviada uma ambulância do INEM que transportou o ofendido
para o Centro Hospitalar do Algarve – Hospital de Faro, onde recebeu pronta assistência
médica.
14.) Como consequência directa e necessária desta conduta da arguida, o ofendido Berto
sofreu as seguintes lesões:
No períneo: ferida linear regular na base do pénis com 6 cm suturada com 8 pontos de seda.
Testículo esquerdo: várias escoriações, duas das quais com pontos de sutura de seda e edema
testicular.
15.) Tais lesões determinaram ao ofendido 25 (vinte cinco) dias de doença, com afectação da
capacidade de trabalho geral e profissional assim como, por seccionamento do epidídimo, de
forma permanente e irreversível, a perda da função de procriação.
16.) Ao actuar como actuou no dia 4 de Setembro de 2017 a arguida fê-lo de forma livre,
deliberada e consciente, com o propósito concretizado de molestar o corpo e a saúde do
ofendido, pretendendo com tal actuação atingir um órgão importante e causar-lhe os
ferimentos verificados;
17.) Sabia que a sua conduta era proibida e punida por lei penal.
18.) Após alta hospitalar concedida no dia 6 de Setembro de 2017, Berto passou a viver junto
da sua mãe, na cidade de Faro, por temer futuras reacções da arguida, deslocando-se à fracção
onde aquela continuou a residir, no dia 11 de Setembro de 2017, a fim de daí retirar os seus
pertences pessoais.
20.) Por via dos contactos proporcionados pelo trabalho a arguida e Carla Costa
desenvolveram uma relação de amizade e, pelo menos desde 2010, esta passou a ser visita
regular na casa da arguida e de Berto Brito.
21.) Berto Brito e Carla Costa, na sequência da convivência e dos contactos que foram
mantendo, também desenvolveram uma forte relação de amizade e, a partir de meados de
2011, passaram a nutrir sentimentos de amor um pelo outro e, pelo menos em duas ocasiões,
envolveram-se sexualmente.
22.) A arguida, por desconfiar que a relação entre Berto e Carla ia para além da amizade e
entendendo que esta era uma má influência para aquele, movida pelo ciúme, pensou em
prejudicá-la no serviço onde ambas trabalhavam.
23.) Na concretização desse desiderato, naquele mesmo dia 4 de Setembro de 2017, cerca das
15.00h a arguida notou que estava ao cuidado e sob custódia do serviço um rim humano,
proveniente de recolha autorizada em cadáver efectuada no hospital, órgão viável para
ulterior transplante em beneficiário compatível de acordo com os critérios de preferência.
24.) O órgão encontrava-se acondicionado em arca refrigerada, depositado em sala de acesso
condicionado nas instalações do Centro Hospitalar do Algarve – Hospital de Faro.
25.) A abertura da porta da sala era feita através de leitor de cartões com banda magnética na
qual estava inserida informação referente ao respectivo titular e permissões de acesso.
26.) Apenas por força das suas funções e para o exercício delas, a arguida e a Carla Costa eram
titulares de cartões com permissões de acesso.
28.) Na posse do cartão de acesso emitido em nome de Carla Costa, pelas 15h 17m e 13s desse
mesmo dia 4 de Setembro de 2017, a arguida passou pelo leitor existente o cartão contendo as
informações pessoais e permissões reportadas à titular, desta forma, como se de Carla Costa
se tratasse, desbloqueando o acesso à sala onde se encontrava depositado o órgão humano,
apoderando-se do mesmo e abandonando as instalações do hospital.
30.) A arguida agiu voluntária, livre e conscientemente, querendo fazer sua a carteira e
respectivo conteúdo, assim como o órgão humano destinado a transplante, sabendo que o
fazia sem autorização e contra a vontade, respectivamente, da respectiva proprietária e da
administração do hospital, sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei
penal.
Com as descritas condutas cometeu a arguida, em autoria material e em concurso
efectivo:
- 1 (um) crime de violência doméstica, p. e p. pelo art.º 152º n.º 1 al. b) e 2 do Cód.
Penal;
- 1 (um) crime de ofensa à integridade física grave, p. e p. pelo art.º 144º al. b) do Cód.
Penal;
PROVA:
Testemunhal
Pericial
Documental
(…)
O Procurador-Adjunto
JJ
REQUERIMENTO DE ABERTURA DE INSTRUÇÃO
B) Da ausência de indícios
- Imagens de CCTV
Não há, por conseguinte, quaisquer indícios que sustentem a imputação dos
crimes constantes da acusação pública.
Sem conceder,
10.) Mesmo que a arguida tivesse praticado os factos que lhe são
imputados - o que não se concede - no limite teria praticado apenas um
crime de violência doméstica, p. e p. pelo art.º 152º n.ºs 1 al. b), 2 e 3 al. a) do
Cód. Penal, punível com pena de prisão de 2 a 8 anos, não havendo qualquer
fundamento que justifique a dupla relevância atribuída às condutas
assacadas à arguida e dirigidas ao seu ex-companheiro, quando a invocada
prática do crime de violência doméstica pressupõe a reiteração das condutas
ao longo da vivência comum;
1. Auto de Notícia
Data: 2017.09.04
Local: Café “Amparo”, sito na Rua Francisco José, Lote 5 – Loja B, Urbanização
dos Plátanos, Faro.
Data: 2017.09.20
Não raras vezes apresentava equimoses no rosto, fruto das bofetadas que Ana Anes lhe
desferia mas, por vergonha e porque gostava da sua companheira, nunca apresentou queixa.
Quando os clientes do estabelecimento o interpelavam, procurando saber o porquê das marcas
no rosto, o depoente referia que tinha caído ou que acidentalmente embatera com a cara
nalgum objecto.
Dada a actuação de Ana Anes o depoente passou a chegar a casa o mais tarde
possível, arranjando sempre algo para fazer na tabacaria pois sabia que, ao chegar, iria ser
confrontado, haveria discussão, gritos, insultos e, não raras vezes, agressões nos sobreditos
termos, passando a andar angustiado e receoso, evitando cruzar-se com os vizinhos e sentindo-
se observado pelos clientes do seu estabelecimento dadas as marcas físicas que por vezes
apresentava.
Nos últimos dois anos Ana Anes passou a tratar o depoente com mais urbanidade,
sendo menos frequentes as discussões. O depoente deixou de questionar as exigências de
dinheiro e a companheira passou a trabalhar por turnos, tornando mais reduzido o período em
que tinham que conviver na fracção. Embora ainda temeroso estes últimos dois anos foram,
para si, anos de alguma tranquilidade, sem agressões físicas de que se recorde.
No pretérito dia 4 do corrente mês de Setembro, cerca das 20.00h, o depoente chegou
a casa depois de mais um dia de trabalho. Aí for abordado pela companheira Ana Anes, que se
lhe dirigiu de uma forma mais ríspida, como o fazia no passado, exigindo-lhe dinheiro,
deixando o depoente intranquilo. Por receio entregou-lhe € 100,00, reservando para si € 25,00
dado que, depois de tomar banho e jantar ainda pretendia ir ao centro comercial adquirir um
DVD para visionar ao serão. A companheira não terá gostado do facto do depoente não lhe ter
entregado a totalidade do apuro do dia pelo que foi ter consigo à casa de banho, onde o
declarante se encontrava apenas em cuecas e, sem que nada o fizesse prever, munida de algo
que trazia escondido atrás das costas, com esse objecto atingiu-o na zona genital, cortando-o e
provocando imediatamente abundante sangramento. Perante isto vestiu-se e saiu
rapidamente a fim de pedir ajuda, dirigindo-se ao café existente em frente à sua casa onde
pediu que chamassem o 112. Por vergonha disse que tinha caído da bicicleta onde
habitualmente se desloca (…).
Saiu de casa definitivamente no passado dia 11, data em que foi ao apartamento
recolher os seus pertences, passando a residir junto da sua mãe. Desde então não tem tido
contactos com a companheira, com quem não pretende voltar a viver. No entanto e em
homenagem à longa vivência comum, não pretende procedimento criminal (…)”
3. Auto de Inquirição de testemunha
Data: 2017.09.27
Data: 2017.09.30
Data: 2017.09.27
Extrato: “É colega de trabalho de Ana Anes e amiga de Berto Brito, com quem
manteve um relacionamento amoroso. Conhece Ana Anes em virtude de serem ambas
enfermeiras no hospital de Faro. Por força do relacionamento profissional mantido com Ana
Anes ficaram amigas, começando a frequentar a casa desta, local onde conheceu o Berto Brito.
Pelo menos desde 2010 que é visita da casa do casal, sendo frequentemente convidada para
jantares que retribuía também na sua própria casa. Por força deste contacto ficou bastante
próxima de Berto Brito, parecendo-lhe que aquele não era feliz no seu relacionamento com a
Ana Anes. Notava-lhe uma tristeza da qual procurou saber a origem vindo o mesmo a
confidenciar-lhe que não era feliz na relação, sendo maltratado, querendo com isto dizer que
não raras vezes o Berto lhe confidenciava que era insultado pela Ana, que o apelidava de
“frouxo” e “imprestável”, lhe imputava relacionamentos extraconjugais, lhe exigia a entrega do
dinheiro que ganhava, chegando a agredi-lo, geralmente à bofetada.
Com o tempo os sentimentos que nutria por Berto Brito e ele por si foram evoluindo e
chegaram a relacionar-se sexualmente. Os sentimentos românticos ter-se-ão iniciado em
meados de 2011.
Nos últimos dois anos notou que o Berto se reaproximou de Ana, andando
aparentemente mais tranquilo e mais distante de si. No entanto sabe que a Ana, por
mensagens que detectou no telemóvel do Berto, passou a desconfiar da depoente e,
recentemente, no mês passado, disse que “já sabia de tudo”, ameaçando que iria “fazer a vida
negra” à depoente.
No dia 4 do corrente mês de Setembro, após o almoço, a depoente teve a tarde livre
pelo que se ausentou do serviço de urologia e transplantes onde é enfermeira e a Ana Anes
enfermeira auxiliar. Soube que, na sua ausência, alguém entrou na posse do seu cartão de
acesso à sala refrigerada onde são colocados os órgãos para transplante. O cartão encontrava-
se na carteira da depoente e fora por si deixada no seu cacifo pessoal. Com o dito cartão e
através de passagem no leitor de banda magnética, foi franqueado o acesso à referida sala e
dali retirado um rim que acabara de ser depositado para ulterior transplante. Embora fazendo
uso do seu cartão – ficando a entrada registada em seu nome no sistema – não foi a depoente
a utilizá-lo, vindo posteriormente a saber que fora a Ana Anes a fazê-lo, possivelmente para
prejudicar a depoente, como prometera, já que o rim veio a ser encontrado em casa daquela e
já sem condições para o fim a que se destinava (transplante).
Para além do cartão de acesso, a carteira continha ainda o cartão de cidadão, a carta
de condução e € 160,00 em notas de € 20,00, dinheiro que levantara para, ao fim da tarde,
pagar a explicadora da sua filha.
A carteira e os documentos de identificação foram recuperados, em casa da Ana Anes,
mas continua prejudicada em € 160,00. Por estes factos deseja procedimento criminal contra
a referida Ana Anes. (…)”
Data: 2017.09.20
Data: 2017.10.30
Data: 2017.09.11
Local da diligência: Rua Rua Francisco José, Lote 4 – 5º Esq., Urbanização dos
Plátanos, Faro
Extrato: “Aos onze dias de mês de Setembro (…) na sequência do Termo de
Autorização de Busca Domiciliária de Berto Brito (…) procedi à busca domiciliária à residência
sita (…). Assim, pelas 17.00h, na companhia das testemunhas policiais identificadas no
presente Auto, entrámos na referida residência, tendo a porta de entrada sido aberta
livremente pelo visado (…). Refira-se que no interior da residência apenas se encontrava Berto
Brito, tendo sido elucidado da possibilidade de assistir à busca, fazer-se acompanhar ou
substituir por pessoa da sua confiança, conforme o preceituado no art.º 176º do Cód. Proc.
Penal, tendo este optado por assistir à diligência. Foi então dado início à busca propriamente
dita, sendo percorridas todas as dependências do imóvel a buscar, nada tendo sido encontrado.
Todavia, ainda no interior da referida habitação, Berto Brito entregou-nos uma caixa em
material tipo esferovite, de cor laranja, contendo no seu interior um órgão aparentemente
humano, assim como uma carteira de cor azul contendo um cartão plástico com banda
magnética, emitido pelo Hospital de Faro, um cartão de cidadão e carta de condução, tudo em
nome de Carla Costa (…), objectos por si encontrados no quarto de dormir e que foram
apreendidos por esta polícia (…)”
Data: 2017.09.10
Data: 2017.09.05
Extrato: “No dia de ontem – 4 de Setembro – cerca das 15.00h, das instalações
do Hospital de Faro, foi retirado um rim humano que se encontrava acondicionado em arca
refrigerada depositada na sala de material para transplantes do Serviço de Urologia e que
havia sido nesse dia retirado de cadáver para ulterior transplante. (…) Deseja procedimento
criminal contra a autora da subtracção sendo perceptível, do visionamento das imagens, a
entrada no espaço da Sra. Enfermeira Auxiliar Ana Andrade Anes cuja cópia da fotografia
existente no serviço de recursos humanos se junta”.
12. Documento
Na sequência do pedido que nos foi dirigido a coberto do Ofício n.º (…) dessa polícia,
enviamos por esta via cópia em CDR das imagens recolhidas pelo nosso sistema de
videovigilância (CCTV) e referentes ao dia 4 de Setembro de 2017. Mais remeto a listagem
extraída dos registos informáticos de acesso à sala de depósito de material para transplante,
alcançando-se a existência de um acesso no dia 4 de Setembro de 2017, pelas 13h 30m 25s
com o cartão de utilizador atribuído ao Dr. Gualter Guedes, Director de Serviço e que se reporta
à entrada para depósito de um rim humano recolhido na sequência de decesso recente e
destinado a ulterior transplante em beneficiário compatível e, pelas 15h 17m e 13s do mesmo
dia o registo subsequente através da utilização do cartão atribuído à Sra. Enfermeira Carla
Costa, inexistindo qualquer outro acesso registado por esta via até às 16h 40m e 18s, agora
novamente através do cartão atribuído ao Dr. Gualter Guedes que, em sequência, comunicou o
desaparecimento do dito órgão humano (…)
(…)
Data: 2017.11.04
Extrato: “Ana Andrade Anes (…) Nada consta acerca da pessoa acima
identificada”
15. Documento - Certidão do teor
Registo da fração com aquisição a favor de Berto Brito e Ana Andrade Anes e hipoteca
a favor de instituição bancária.
Cópia dos contratos de trabalho de Ana Andrade Anes e Carla Costa, com as respetivas
categorias profissionais
ELEMENTOS RESULTANTES DAS DILIGÊNCIAS INSTRUTÓRIAS
Data: 2017.12.05
Data: 2017.12.05
Naquele período e porque se sentia triste, começou a ficar cada vez mais próximo de
Carla Costa, colega de trabalho da sua companheira e visita da casa, com quem acabou por se
envolver emocionalmente, passando a confidenciar-lhe tudo o que se passava.
Nos últimos dois anos Ana Anes passou a tratar o depoente com mais urbanidade,
sendo menos frequentes as discussões, achando o depoente que a relação ainda poderia voltar
a funcionar, tendo esperança de voltar a ser feliz.
No pretérito dia 4 do corrente mês de Setembro, cerca das 20.00h, o depoente chegou
a casa depois de mais um dia de trabalho. Aí for abordado pela companheira Ana Anes, que se
lhe dirigiu de uma forma mais ríspida, recordando-lhe o passado. Exigiu ao depoente a entrega
do apuro de caixa. Por receio, e porque já sabia do que a arguida era capaz, entregou-lhe €
100,00, reservando para si € 25,00 dado que, depois de tomar banho e jantar ainda pretendia
ir ao centro comercial adquirir um DVD. A companheira não terá gostado do facto do depoente
não lhe ter dispensado todo o dinheiro pelo que foi ter consigo à casa de banho, onde o
declarante se encontrava apenas em cuecas e, sem que nada o fizesse prever, munida de algo
que trazia escondido atrás das costas (suspeitando que seria uma tesoura) com esse objecto
atingiu-o na zona genital, cortando-o e provocando imediatamente abundante sangramento.
Perante isto vestiu-se e saiu rapidamente a fim de pedir ajuda, dirigindo-se ao café existente
em frente à sua casa onde pediu que chamassem o 112. Por vergonha disse que tinha caído da
bicicleta onde habitualmente se desloca (…).
Saiu de casa definitivamente no passado dia 11, data em que foi ao apartamento
recolher os seus pertences, passando a residir junto da sua mãe. Desde então não tem tido
contactos com a companheira, com quem não pretende voltar a viver. Nesse dia 11, quando se
encontrava no apartamento a recolher as suas coisas, apareceram uns agentes da PSP que
pretendiam fazer uma busca. O depoente franqueou-lhes a entrada, dado que o apartamento
também é seu. Quando estava a recolher as suas roupas no quarto encontrou a carteira da
Carla Costa e uma pequena arca refrigerada, objectos que entregou aos agentes e que lhe
referiram que era precisamente o que procuravam.
Parte decisória
- declaração de nulidade (se aplicável)
- decisão de pronúncia, podendo ser
feita a remissão para os factos constantes
da acusação do MP, nos termos legais
- indicação da prova, podendo ser feita
por remissão para a prova constante da
acusação do MP, nos termos legais
- condenação da arguida em custas,
com fixação de taxa de justiça
- estatuto coactivo
- remessa dos autos à Instância Central
Criminal de Faro
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Académica
1.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
R E GU L A ME NT O I N TER N O D O C E NT R O D E E S TU D O S J U D IC IÁ R I O S, O T E M PO D E
D UR A Ç Ã O D A PR O V A I N IC IA - SE D E C OR R ID O S 1 5 M IN U TO S A P ÓS A HO R A
D ES I G NA D A )
PROVA ESCRITA DE
2 – Cotações
Caso I – 8 valores
a) 1,5 valores
b) 3 valores
c) 1,5 valores
d) 2 valores
Caso II – 5 valores
3 - A atribuição da cotação máxima à resposta a cada questão pressupõe um tratamento completo das
várias questões suscitadas, que deverá ser coerente e corretamente fundamentado, com indicação dos
preceitos legais aplicáveis.
5 - As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a grafia do "Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo
Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-
lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será entregue, escrevendo
"Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91,
não está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a prova corrigida nesse pressuposto.
6 - Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de 3 valores,
para o total da prova.
7 - As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo da/o
candidata/o (a identificação constará apenas do destacável da folha de rosto), sob pena de anulação da
prova.
Página 3 de 8
CASO I
(8 valores)
CASO II
Caso 2
(5 valores)
O proprietário do prédio rústico inscrito na matriz sob o n.º 13, da Secção AO,
não permite a passagem de Ana Batista pelo Acesso B, ameaçando-a com tiros de
caçadeira.
Por essa razão, nas poucas vezes que vai ao seu terreno, Ana Batista tem
utilizado o Acesso A através do prédio de Bernardina Cunha.
Esta situação tem impedido Ana Batista de utilizar com regularidade o seu
terreno, impossibilitando-a de o rentabilizar.
Em frente da casa implantada no seu terreno, Bernardina Cunha tem um terreiro
que aplanou e que serve de logradouro à casa.
A frente da habitação da Bernardina Cunha e o terreiro deitam diretamente para
o caminho que lhes dá acesso.
Bernardina Cunha é pintora e mudou-se para o Alentejo para usufruir do bom
tempo, do silêncio e das paisagens a perder de vista, neles colhendo a sua inspiração.
Página 6 de 8
Tem os seus cavaletes, uma mesa e uma cadeira do lado Sul, em frente da porta
da sala de estar, onde passa o tempo a pintar e toma refeições quando faz sol,
necessitando do isolamento e do sossego para pintar, o que ficará comprometido com
a passagem de veículos.
Com a limpeza e manutenção do caminho pelo prédio da Bernardina Cunha, Ana
Batista terá de despender 3.000 €.
Ana Batista intentou uma ação contra Bernardina Cunha, pedindo a sua
condenação a reconhecer o direito de servidão de passagem a favor do seu prédio, a
pé e por veículos, e onerando o prédio da Ré.
A Ré opõe-se invocando a existência do acesso B, com potencialidade de servir a
passagem pretendida. Deduziu reconvenção para a hipótese da improcedência da
ação, peticionando a quantia de 13.000 €, a título de indemnização pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais decorrentes da constituição de servidão.
CASO III
Caso 2
(7 valores)
1
Afirmação do animus possidendi de Alberto Antunes, pelo menos a partir do
momento em que se concretizou o pagamento integral do preço acordado, em 1 de
agosto de 1985, revelando-se uma intenção de agir como se fosse proprietário do bem
(cf. ainda o artigo 1252.º, n.º 2, do Código Civil).
Referir que Alberto Antunes exerceu a sua posse de modo público e pacífico -
artigos 1261.º e 1262.º do CC e que a posse não é titulada - artigo 1259.º, n.º 1, do CC.
Menção de que a posse se presume de má-fé, nos termos do artigo 1260.º, n.º
2, do CC, mas que esta presunção legal se mostra ilidida, uma vez que o possuidor agiu
na convicção de que não lesava o direito de outrem, pelo que deverá considerar-se de
boa-fé - n.º 1 do artigo 1260.º do CC.
Conclusão no sentido de que o prazo para a aquisição por usucapião do direito
de propriedade sobre a fração em apreço se completou, pelo menos, em agosto de
2000, ou seja, decorridos 15 anos sobre a data em que procedeu ao pagamento
integral do preço - artigo 1296.º do CC.
Reconhecimento de que os efeitos da aquisição do direito de propriedade por
usucapião retrotraem à data do início da posse - artigo 1288.º do CC.
Afirmar que esta forma originária de aquisição do direito de propriedade ilide a
presunção de aquisição decorrente do registo predial a favor do Banco BIT e prevalece
sobre todas as transmissões operadas após 1 de agosto de 1985 (artigo 7.º do Código
do Registo Predial e artigo 1268.º, n.º 1, do CC).
2
d) Supondo que não foi intentada ação executiva contra a sociedade Crista da
Onda, Lda., aprecie se Alberto Antunes poderá fazer valer - e de que forma - os
direitos emergentes do contrato-promessa. (2 valores)
d) Análise dos factos de forma a concluir que a venda judicial do prédio impedia
o recurso à execução específica do contrato-promessa com fundamento no
incumprimento (mora) da promitente-vendedora, uma vez que a fração
correspondente ao 5.º andar do prédio já não se encontrava na titularidade desta,
sendo a prestação definitivamente impossível – cf. artigos 804.º, n.º 2, a contrario, e
879.º, alínea a), do CC.
Equacionar que ao promitente-comprador resta apenas a possibilidade de
resolver o contrato-promessa e de obter a correspondente indemnização - artigo
442.º, n.º 2, do CC - com base no incumprimento definitivo verificado no momento em
que ocorreu a venda judicial do imóvel, a qual se equipara a uma recusa ou
impossibilidade definitiva de cumprir imputável ao promitente-vendedor - artigo 432.º
do CC.
CASO II
3
constituir a servidão sobre certo prédio e não aleatoriamente sobre qualquer um à
escolha do titular do prédio dominante.
Comparação entre os dois acessos possíveis à via pública do prédio de Ana
Batista: o acesso A, que atravessa o prédio de Bernardina Cunha; o acesso B, que
passa por dois prédios.
Afastamento da relevância do facto de o proprietário do prédio rústico inscrito
na matriz sob o n.º 13 da Secção AO não permitir a passagem de Ana Batista pelo
Acesso B, ameaçando-a com tiros de caçadeira, pois o que importa indagar é do menor
prejuízo do prédio.
Constatação de que o prédio rústico descrito na matriz predial rústica sob o n.º
13 (carreiro cultivado com produtos hortícolas), com apenas 1,5 metros de largura,
não permite a passagem de veículos e pode implicar que se realizem obras de
alteração do carreiro, em toda a sua largura e na extensão de 300 metros, deixando
também de servir nessa parte para o cultivo de produtos hortícolas.
Verificação de que, para além de atravessar este prédio, o acesso B contempla
a passagem por um segundo prédio para aceder à via pública, o que, tudo somado,
pode significar uma servidão com 500 metros de extensão (300 metros do prédio 13 e
200 metros do prédio 14), sendo que o caminho que atravessa o prédio de Bernardina
Cunha tem apenas 200 metros de extensão.
Tudo ponderado, concluir que dos dois acessos em apreço, o acesso A, que
atravessa o prédio de Bernardina Cunha, com 3,80 metros de largura e transitável por
veículos ligeiros, é o que sofrerá menor prejuízo com a servidão de passagem.
Rebater a eventual relevância neste particular da circunstância de Bernardina
Cunha ser pintora e ter mudado para o Alentejo para usufruir do bom tempo, do
silêncio e das paisagens a perder de vista, pois o que o artigo 1553.º do CC prevê é o
prejuízo do prédio e não o prejuízo do dono do prédio.
Análise da pretensão indemnizatória de Bernardina Cunha, deduzida em
reconvenção (artigo 266.º, n.º 1, e n.º 2, alínea a), do CPC), pela constituição da
servidão legal de passagem, à luz do disposto no artigo 1554.º do CC, segundo o qual
“Pela constituição da servidão de passagem é devida a indemnização correspondente
ao prejuízo sofrido”.
4
Relativamente aos danos patrimoniais, constatar que Bernardina Cunha tem
direito a ser indemnizada na medida em que o prédio serviente tiver ficado
desvalorizado, nos termos das regras gerais aplicáveis à obrigação de indemnizar -
artigos 562.º e seguintes do CC.
No que concerne aos danos não patrimoniais invocados por Bernardina Cunha,
concluir, da análise conjugada do artigo 1554.º do CC com o disposto no artigo 1553.º
do referido diploma, segundo o qual “A passagem deve ser concedida através dos
prédios que sofram menor prejuízo, e pelo modo e lugar menos inconvenientes para os
prédios onerados”, que na servidão predial é aos prédios que a lei se reporta, o que
afasta a indemnização do proprietário do prédio onerado por danos não patrimoniais.
Ainda que se considere admissível a solução da indemnização por danos não
patrimoniais nesta sede, afastá-la in casu, pois os factos descritos não permitem
concluir por tal indemnização, ao abrigo dos artigos 496.º e 564.º, n.º 2, do CC, nada
permitindo antever que a passagem de veículos na comunicação entre o prédio de Ana
Batista e a via pública constitua previsivelmente uma afetação do direito ao sossego
daquela de tal modo grave que justifique a sua indemnização.
CASO III
5
ambas, solidariamente, a restituírem a quantia de 31.500 € - artigos 546.º, 32.º e 36.º
do CPC.
Conclusão de que, atento o valor da causa, a forma de processo e o domicílio
conhecido da Ré Rita Trigo, o Tribunal competente é o Juízo Local Cível de Cascais do
Tribunal da Comarca de Lisboa Oeste - artigos 41.º, 81.º e 130.º da Lei n.º 62/2013, de
26.8 (doravante LOSJ), artigo 88.º, n.º 2, do DL n.º 49/2014, de 27.3, e artigos 80.º e
82.º do CPC.
6
Identificação do cheque que titula a quantia de 5.000 €, entregue por Manuel
da Silva a Rosa Sousa, como uma ordem de pagamento feita pelo seu titular ao banco
onde o seu dinheiro estava depositado, a favor da portadora do cheque (Lei Uniforme
Relativa aos Cheques).
Enquadramento da entrega do cheque em causa feita com espírito de
liberalidade, para que Rosa Sousa levantasse da sua conta o dinheiro correspondente,
como um contrato de doação, regulado nos artigos 940.º e seguintes do CC.
No que concerne ao montante de 31.500 € transferido por Rita Trigo da conta
bancária de que era co-titular, atentar em que tal importância pertencia ao falecido
Manuel da Silva, tendo Rita Trigo agido, no que respeita ao montante de 30.000 €, de
forma a cumprir o propósito liberatório deste último.
Conclusão no sentido de que Rita Trigo atuou como mandatária (artigos 1170.º
e 1175.º do CC), não propriamente em resultado de vinculação jurídica justificativa do
mandato, mas sim por razões de ordem moral e social, ou seja, no cumprimento de
uma obrigação natural.
Constatação de que a doação assim efetuada subverte normas imperativas
atinentes ao direito das sucessões, mormente o artigo 946.º, n.º 1 e n.º 2, do CC.
Referência a que, contrariamente ao que sucedeu com o cheque, não ocorreu a
efetiva tradição da quantia de 30.000 €, porquanto esse valor nunca deixou de estar na
disponibilidade do falecido doador para passar a estar na disponibilidade da donatária,
em vida daquele.
Ainda assim, ponderar que a doação por morte poderá ser havida como
disposição testamentária se tiverem sido observadas as formalidades dos testamentos
(artigo 946.º, n.º 2, do CC), com a conversão do negócio nulo num negócio de tipo
diferente (artigo 293.º do CC).
Verificação de que, na hipótese, as formalidades atinentes ao testamento não
foram observadas (artigos 2204.º e ss. do CC), já que a disposição monetária de 30.000
€ a favor de Rosa Sousa foi meramente verbal, não podendo deixar de ser considerada
nula (artigo 281.º do CC), com a consequente obrigação de restituição (artigo 289.º do
CC).
No tocante à quantia de 1.500 € transferida para pagamento dos salários de
Rosa Sousa, reconhecer que se trata de dívida do falecido, pela qual a herança sempre
7
responderia (artigo 2068.º do CC), pois Rita Trigo agiu no cumprimento de instruções
do falecido Manuel da Silva, no cumprimento de mandato que não caducou com a
morte do mandante, atendendo ao interesse no negócio de Rosa Sousa, empregada
doméstica (artigo 1175.º do CC).
Atentar em que, pese a administração da herança pertença ao cabeça-de-casal
(artigo 2079.º do CC), não resulta da factualidade descrita se o único herdeiro Alberto
Silva (artigos 2132.º, 2133.º, n.º 1, alínea c), do CC) foi designado e tomou posse de
tal cargo, sendo descabido exigir a devolução do que é efetivamente devido.
Conclusão pela procedência parcial da pretensão de Alberto Silva, com a
condenação solidária de Rita Trigo e Rosa Sousa a restituírem a quantia de 30.000 €.
Relativamente ao direito de crédito no montante de 20.000 € a que se arroga
Rita Trigo, relativo às despesas do funeral que pagou do seu próprio bolso, concluir
que, como decorre do artigo 2068.º do CC, a herança de Manuel da Silva responde
pelas despesas com o funeral deste, pelo que Rita Trigo deve ser reembolsada.
8
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PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Académica
2.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
R E GU L A ME NT O I N TER N O D O C E NT R O D E E S TU D O S J U D IC IÁ R I O S, O T E M PO D E
D UR A Ç Ã O D A PR O V A I N IC IA - SE D E C OR R ID O S 1 5 M IN U TO S A P ÓS A HO R A
D ES I G NA D A )
PROVA ESCRITA DE
2 – Cotações
Caso I – 8 valores
A – 1) 1 valor
2) 2 valores
3) 3 valores
B – 2 valores
Caso II – 6 valores
1) 1 valor
2) 1 valor
3) 4 valores
3 - A atribuição da cotação máxima à resposta a cada questão pressupõe um tratamento completo das
várias questões suscitadas, que deverá ser coerente e corretamente fundamentado, com indicação dos
preceitos legais aplicáveis.
5 - As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a grafia do "Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo
Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-
lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será entregue, escrevendo
"Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91,
não está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a prova corrigida nesse pressuposto.
6 - Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de 3 valores,
para o total da prova.
7 - As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo da/o
candidata/o (a identificação constará apenas do destacável da folha de rosto), sob pena de anulação da
prova.
Página 3 de 7
CASO I
(8 valores)
A - A sociedade Crédito Leve, S.A. celebrou com João Silva, por documento
escrito, um acordo denominado “Contrato de Mútuo n.º 23219”, datado de 28 de
fevereiro de 2014, com vista à aquisição do veículo automóvel da marca Mercedes-
Benz, modelo CLA, matrícula 00-00-OO, mediante o qual concedeu crédito no
montante de 50.000 €, com juros à taxa de 15,95%, tendo João Silva assumido o
compromisso de pagar o valor financiado em 60 prestações, mensais e sucessivas.
O contrato foi celebrado por intermédio do fornecedor do veículo automóvel,
Stand Manuel Afonso & Filhos, Lda., sociedade que vendeu a João Silva o aludido
veículo e que atua habitualmente e de forma planificada em colaboração com a
Crédito Leve, S.A..
No âmbito dessa colaboração e dos contratos celebrados, a sociedade Crédito
Leve, S.A. entregou à sociedade Stand Manuel Afonso & Filhos, Lda. o preço do veículo
e este entregou a João Silva o veículo automóvel.
Até à data da assinatura por João Silva do “Contrato de Mútuo n.º 23219” não
houve qualquer contacto entre a Crédito Leve, S.A. e João Silva.
João Silva tem 50 anos e, desde há pelo menos 15 anos, que sofre de uma
doença do foro psiquiátrico, conhecida por doença bipolar ou doença
maníaco-depressiva, caracterizada por variações muito acentuadas do humor, com
crises repetidas de depressão e mania, sendo a grandiosidade, no sentido de um
aumento exagerado de auto-confiança, amor próprio e otimismo, um dos sintomas
típicos desta última.
Quando se encontra numa fase maníaca da doença (crise maníaca), João Silva,
por causa de uma confiança excessiva no futuro e nas suas capacidades, torna-se de
uma prodigalidade extrema e assume obrigações que não pode cumprir.
Aquando das negociações para a venda do veículo, Mariana Silva, mulher de
João Silva, advertiu por duas vezes Manuel Afonso, gerente do Stand, de que aquele
não se encontrava em condições económicas e de saúde para adquirir o veículo,
estando numa fase maníaca da sua doença.
Este facto não foi transmitido por Manuel Afonso à Crédito Leve, S.A..
João Silva deixou de pagar a 10.ª prestação e as seguintes, mantendo-se na
posse do veículo automóvel.
Consta das condições gerais do “Contrato de Mútuo n.º 23219” que:
“8. Mora e Cláusula Penal
(…) b) A falta de pagamento de uma prestação na data do respectivo
vencimento, implica o vencimento de todas as restantes.
c) Em caso de mora e sem prejuízo do disposto no número anterior, incidirá
sobre o montante em débito, e durante o tempo da mora, a título de cláusula penal,
uma indemnização correspondente à taxa de juro contratual ajustada, acrescida de
quatro pontos percentuais, bem como outras despesas decorrentes do incumprimento,
nomeadamente uma comissão de gestão por cada prestação em mora”.
A sociedade Crédito Leve, S.A. intentou uma ação contra João Silva e Mariana
Silva, pedindo a condenação de ambos a pagarem-lhe, solidariamente, a quantia de
Página 4 de 7
CASO II
Caso 2
(6 valores)
Não obstante Brita - Construção Civil, Lda. lograsse obter a referida licença de
utilização e fosse instada por António Antunes e mulher no sentido de celebrarem a
escritura pública de compra e venda do prédio, tal não sucedeu, não tendo aquela
comparecido no Cartório Notarial de Coimbra na data agendada para o efeito, dia 22
de dezembro de 2015.
CASO III
Caso 2
(6 valores)
Qualificação do contrato que a Crédito Leve, S.A. celebrou com João Silva,
mediante o qual aquela, no exercício da sua atividade, concedeu a João Silva um
“empréstimo” de 50.000 €, com a finalidade de aquisição de uma viatura automóvel,
como um contrato de mútuo oneroso (artigos 1142.º e 1145.º do Código Civil -
doravante CC), bancário (já que realizado por uma instituição de crédito ou
parabancária, artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 58/2013, de 8 de maio) e de crédito ao
consumo (artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 133/99, de 2 de junho).
Referir que João Silva, ao deixar de pagar a 10.ª prestação e as seguintes,
constituiu-se em mora, tendo a obrigação de ressarcir o credor pelos prejuízos
causados - artigo 804.º do CC, desde a data da primeira prestação não paga (artigos
406.º e 805.º, n.º 2, alínea a), do referido diploma).
Indagar da validade da cláusula penal que consta do n.º 8 das “Condições
Gerais” do contrato, ao abrigo do disposto no artigo 811.º, n.º 1, do CC e à luz do
artigo 781.º do mesmo diploma.
Relativamente à alínea b) do n.º 8 das “Condições Gerais” do contrato,
constatar que, vencida a obrigação de capital, deixa de haver lugar a remuneração pela
indisponibilidade do mesmo capital, como resulta do acórdão uniformizador de
jurisprudência do STJ de 25 de março de 2009, segundo o qual “No contrato de mútuo
oneroso liquidável em prestações, o vencimento imediato destas ao abrigo de cláusula
de redacção conforme ao art.º 781º do Código Civil não implica a obrigação de
pagamento dos juros remuneratórios nelas incorporados”.
Concluir que a sociedade Crédito Leve, S.A. só tem direito a que lhe sejam
pagas as prestações em dívida, acrescidas da cláusula penal de 19,95% ao ano e o valor
do capital remanescente em dívida.
Relativamente à mulher do Réu, Mariana Silva, evidenciar os requisitos da
comunicabilidade das dívidas de um dos cônjuges ao outro, previstos no artigo 1691.º,
n.º 1, alínea c), do CC, de verificação cumulativa:
- Que a dívida tenha sido contraída na constância do casamento;
- Pelo cônjuge administrador dentro dos seus poderes de administração; e
- Em proveito comum do casal.
Atentar no disposto no n.º 3 do mesmo artigo 1691.º, que expressamente
refere que, em regra, o proveito comum não se presume.
Concluir que, tratando-se o proveito comum de um conceito jurídico, cuja
integração e verificação depende da prova de factos demonstrativos de que o destino
do dinheiro ou dos bens com este adquiridos foi a satisfação de interesses comuns do
casal (cf. acórdão do STJ de 22 de outubro de 2009, in www.dgsi.pt), a ação não
poderia proceder contra a Ré Mariana Silva sem a concretização de tais factos.
Caso II
(6 valores)
Constatar que a Brita Construção Civil, Lda. não apresentou contestação, pelo
que ficou numa situação de revelia, a qual, caso não tenha constituído mandatário
nem tido qualquer intervenção no processo, é absoluta. Se, pelo contrário, não
obstante a falta de contestação, tiver constituído mandatário judicial ou praticado
outro ato processual, concluir que a revelia é relativa - artigo 566.º do CPC.
Verificar que, se tivesse sido citada editalmente e permanecesse na situação de
revelia absoluta, esta seria inoperante - artigo 568.º, alínea b), do CPC.
Atentar em que, considerando a forma como é efetuada a citação de pessoas
coletivas (artigo 246.º do CPC), a citação deverá ter-se por efetuada regular e
pessoalmente, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 567.º do CPC, o que
implica que se considerem confessados os factos articulados pelos Autores, sendo, de
seguida, o processo facultado para exame, pelo prazo de 10 dias, ao mandatário dos
Autores (e também da Ré, sendo caso disso), para alegar por escrito, após o que será,
em princípio, proferida sentença, julgando a causa conforme for de direito.
Caso III
(6 valores)
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL
Via Académica
1.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
R E GU L A ME NT O I N TER N O D O C E NT R O D E E S TU D O S J U D IC IÁ R I O S, O T E M PO D E
D UR A Ç Ã O D A PR O V A I N IC IA - SE D E C OR R ID O S 1 5 M IN U TO S A P ÓS A HO R A
D ES I G NA D A )
PROVA ESCRITA DE
2 - Cotações:
Grupo I - 14 valores.
Grupo ll - 6 valores (2 valores para cada questão).
5 - As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a grafia do "Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º
26/91 e ratificado pelo Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto),
deverão declará-lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será
entregue, escrevendo "Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da
Assembleia da República n.º 26/91, não está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a
prova corrigida nesse pressuposto.
6 - Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de
3 valores, para o total da prova.
7 - As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo
da(o) candidata(o). A identificação constará apenas do destacável da folha de rosto, sob pena
de anulação da prova.
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GRUPO I
(14 valores)
ARTE DE MARTE, Lda. (doravante apenas ARTE DE MARTE) é uma sociedade por quotas que
tem por objeto a compra e venda de obras de arte, tendo como gerentes ANTÓNIO e BEATRIZ.
No dia 14 de fevereiro de 2016, PETER deslocou-se às instalações da ARTE DE MARTE, em
Lisboa, onde manteve uma longa conversa com o ANTÓNIO sobre arte sacra.
No decurso de tal conversa, PETER disse a ANTÓNIO que tinha conhecimento que no Museu
de Arte Sacra da AASA - ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE SANTO ANTÓNIO, INSTITUIÇÃO
PARTICULAR DE SOLIDARIEDADE SOCIAL, pessoa coletiva de utilidade pública (doravante
apenas AASA), em Lisboa, estavam expostas três estátuas de Santo António, do século XVIII,
propriedade dessa associação, cada uma com o valor de 100.000 €, estando ele disposto a dar,
a quem lhe entregasse as três, discretamente, como sublinhou, 50.000 €.
Nesse mesmo dia (14), ANTÓNIO encontrou casualmente CARLOS, seu colega de escola
primária, ficando a saber que este era funcionário da AASA, como contabilista. Durante a
conversa, ANTÓNIO, que pretendia fazer com que a ARTE DE MARTE saísse da difícil situação
económica em que se encontrava, propôs a CARLOS um plano para retirarem do museu as três
referidas estátuas, que depois ANTÓNIO venderia, entregando - nessa altura - 5.000 € em
notas a CARLOS. Para isso, CARLOS teria de, no dia seguinte (15), ser o último a abandonar as
instalações da AASA, deixar as três estátuas junto à porta, o sistema de alarme e
videovigilância do museu desligado e a porta apenas encostada, sendo que, depois, ANTÓNIO
arranjaria forma de, às 03h00, as dali retirar. CARLOS, que se considerava mal pago pela AASA,
disse que o faria.
No dia 15, e conforme combinado com ANTÓNIO, CARLOS foi o último a abandonar as
instalações da AASA, tendo - antes de sair - deixado as três estátuas junto à porta e o sistema
de alarme e videovigilância do museu desligado. CARLOS deixou ainda a porta encostada.
Ainda no dia 14, ANTÓNIO ordenou a DANIEL, motorista da ARTE DE MARTE, que se
deslocasse às 03h00 (do dia 15), às instalações do Museu de Arte Sacra, que entrasse pela
porta (que não estaria fechada) e que delas retirasse as três estátuas que estariam logo à
entrada, levando-as depois para a sede da ARTE DE MARTE.
DANIEL, de imediato, retorquiu dizendo que aquilo “não lhe cheirava bem e que o patrão
queria pô-lo a fazer serviço sujo”. ANTÓNIO disse-lhe – assertivamente - que aquilo era uma
ordem e que, ou cumpria, ou seria despedido.
Ao final da tarde (do dia 14), não encontrando DANIEL, ANTÓNIO manuscreveu e deixou sobre
a secretária daquele um bilhete com o seguinte teor: “NÃO TE ESQUEÇAS: 3 DA MANHÃ!”.
Cerca das 02h00 (do dia 15), DANIEL, não obstante saber que aquelas estátuas eram da AASA,
temendo ser despedido, decidiu fazer o que ANTÓNIO lhe dissera e, na sua carrinha, deslocou-
se ao Museu de Arte Sacra. Encontrou a porta encostada e, pelas 03h00, por aí entrou, vendo
três estátuas junto à entrada. De imediato transportou uma delas para a carrinha. Tal estátua,
porém, era apenas uma réplica da original (que havia sido mandada fazer na China para
permanecer em exposição enquanto a original estava em restauro) e que, por isso, valia
apenas 100 €, facto que não era conhecido de ANTÓNIO, PETER, CARLOS ou DANIEL.
Entretanto, CARLOS, que não conseguia dormir com remorsos pelo que fizera, ativou
remotamente o sistema de alarme e videovigilância do museu e adormeceu tranquilo.
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Quando DANIEL voltou a entrar no museu, o alarme de imediato soou. Não o conseguindo
silenciar, DANIEL correu para fora do museu sem levar as duas estátuas restantes, dirigindo-se
às instalações da ARTE DE MARTE, onde deixou a estátua.
Na manhã seguinte, BEATRIZ viu a estátua no armazém, observou-a atentamente,
reconheceu-a como uma das peças do Museu de Arte Sacra e, de imediato, pediu explicações
ao seu irmão ANTÓNIO.
Este acabou por contar toda a verdade sobre tal peça a BEATRIZ e sobre a sua intenção de a
vender a PETER. Surpreendentemente para ANTÓNIO, BEATRIZ disse-lhe que ele “fizera muito
bem, pois a sociedade estava bem necessitada de dinheiro”, e que “fosse em frente com o
plano”.
Depois de contactado telefonicamente por ANTÓNIO, PETER deslocou-se de imediato às
instalações da ARTE DE MARTE, onde BEATRIZ, porque ANTÓNIO se ausentara
temporariamente, lhe exibiu a estátua e lhe disse que por ela queria 20.000 €.
Maravilhado ao observar a obra de arte, PETER disse a BEATRIZ que, porque há muito sonhava
com a estátua, ficaria com ela, de imediato lhe entregando 20.000 € em notas, sendo que, no
meio de alguns dos maços, ele havia previamente inserido cem notas de 100 € e cem de 50 €,
semelhantes às notas desses valores emitidas pelo Banco Central Europeu, mas, na realidade,
resultantes de reprodução daquelas por meio de impressão policromática a laser, que o seu
filho JOHN, de 16 anos de idade, havia feito com computador e impressora para brincar no
carnaval e ele encontrara casualmente em casa nessa manhã. Nada de errado encontrando
nas notas, BEATRIZ recebeu-as e entregou a estátua a PETER.
PETER levou a estátua consigo para casa. Quando a limpava, antes de a colocar exposta, viu na
base da mesma uma gravação com os dizeres “Made in China”.
Ao final da tarde, EURICO dirigiu-se às instalações da ARTE DE MARTE, onde encontrou apenas
PAULA, que disse ser técnica de restauro da ARTE DE MARTE. EURICO identificou-se e
perguntou-lhe se poderia “dar uma vista de olhos pelas instalações”, ao que PAULA respondeu
“então a Polícia não há-de poder entrar?!”.
Na Esquadra, não se apercebendo que as notas não eram do Banco Central Europeu,
guardou-as consigo, decidido a utilizá-las para comprar um automóvel que pretendia. Elaborou
um “Auto de Apreensão” (nele mencionando a apreensão apenas do bilhete) e um “Relatório”
(onde descreveu o que PETER lhe contara, a sua deslocação às instalações da ARTE DE MARTE
e a apreensão de um bilhete manuscrito). Depois, enviou esse relatório e o auto de apreensão
ao seu superior hierárquico, o qual, por sua vez, os enviou ao Ministério Público.
Página 5 de 6
GRUPO
Caso 2II
Considere a situação factual descrita no Grupo I com os desenvolvimentos agora indicados.
(6 valores)
No decurso desse ato, declarou que a sua namorada, TERESA, podia testemunhar no sentido
de que ele estivera toda a noite em casa com ela e que, por isso, não podia ter cometido os
factos que naquele momento lhe imputavam.
O advogado de CARLOS, invocando o disposto nos artigos 61.º, n.º 1, alínea g), e 340.º, n.º 1,
do Código de Processo Penal, requereu a imediata inquirição de TERESA naquela diligência,
informando que ela estava nas instalações do tribunal.
ANTÓNIO, que no processo sempre recusara prestar declarações, recusou também responder
às perguntas do tribunal sobre essa alegação.
3. Durante o inquérito, por autorização do juiz de instrução, foi realizada interceção e gravação
das comunicações feitas pelo telefone de ANTÓNIO.
A única conversa que foi entendida por relevante e assim transcrita foi uma em que a mãe de
ANTÓNIO, MARTA, lhe dizia: “Por que foste tu roubar a estátua, ANTÓNIO?!”.
GRUPO I
Aprecie a responsabilidade dos diversos sujeitos identificados no texto à luz do Código Penal.
(14 valores)
IV - CARLOS
CARLOS, funcionário da AASA – IPSS, Com a mera aceitação da promessa AN-
aceita a promessa de ANTÓNIO (receber TÓNIO de lhe dar 5.000€ para a prática de
5.000€) para deixar as três estátuas jun-actos contrários aos seus deveres enquan-
to à porta, o sistema de alarme e video- to funcionário da AASA, v.g., de lealdade e
vigilância do museu desligado e a porta zelo, CARLOS cometeu, como autor mate-
9 0,9
apenas encostada rial e na forma consumada, um crime de
corrupção passiva, previsto e punido pelo
artigo 373.º, n.º 1, do Código Penal. É
irrelevante que não tenha chegado a re-
ceber qualquer quantia.
CARLOS, em conformidade com o plano Com estas condutas, CARLOS cometeu, em
acordado com ANTÓNIO, deixa as três (co)autoria material, um crime de furto
estátuas junto à porta e o sistema de qualificado, na forma tentada, previsto e
10 alarme e videovigilância do museu desli- punido pelas disposições conjugadas dos 0,9
gado; deixou a porta encostada (uma das artigos 203.º, n.º 1, 204.º, n.º 1, alínea f), e
estátuas é retirada por DANIEL em cum- n.º 2, alíneas a) e d), 22.º, 23.º e 73.º do
primento da ordem de ANTÓNIO) Código Penal.
2
FACTOS NOTAS DE APRECIAÇÃO VALOR
CARLOS, com remorsos pelo que fizera, Esta conduta não é suficiente para se con-
ativou remotamente o sistema de alar- siderar relevante a desistência – artigo
me e videovigilância do museu. 24.º, n.º 1, do Código Penal. CARLOS já
executara todos os atos do plano do furto
que lhe cabiam. O mero ligar do alarme
11 0,5
não era suficiente para impedir a consu-
mação, pois a porta continuava aberta e
qualquer pessoa, ainda que com o alarme
a tocar, poderia facilmente entrar e retirar
qualquer peça do museu.
V - DANIEL
DANIEL, em cumprimento da ordem de Com estas condutas, DANIEL comete, em
ANTÓNIO, temendo ser despedido, e nos (co)autoria material, um crime de furto
termos acordados entre este e CARLOS, qualificado, na forma tentada, previsto e
12 retira uma das estátuas do museu (que punido pelas disposições conjugadas dos 0,9
não sabe ser mera réplica), não conse- artigos 203.º, n.º 1, e 204.º, n.º 1, alínea
guindo retirar as demais porque o alarme f), e n.º 2, alíneas a), d) e g), 22.º, 23.º e
toca e não o consegue silenciar. 73.º do Código Penal.
VI - PETER
PETER conversa com ANTÓNIO e diz-lhe Esta conduta de PETER não é suficiente
estar disposto a dar 50.000€ a quem lhe para lhe imputar responsabilidade, como
entregasse as três estátuas “discreta- instigador, dos crimes que ANTÓNIO vem
mente”. depois a cometer. Ele não determina AN-
TÓNIO à prática de qualquer facto ilícito,
assunto que nem é objeto da conversa. É
ANTÓNIO que, mais tarde, em conversa
com CARLOS, elabora um plano. Não se
pode dizer que PETER criou em ANTÓNIO a
13 decisão de cometer o crime. PETER não 0,5
tinha qualquer domínio sobre a vontade
de ANTÓNIO.
Tão pouco se pode considerar que há
cumplicidade, por auxílio moral. A prática
de crime não é objeto da conversa, não
sabendo PETER se ANTÓNIO vai ou não
cometer crime (que poderia ser de furto,
roubo, corrupção ou até outros), quando e
de que forma.
PETER entrega a ANTÓNIO 100 notas de Com essa conduta, PETER comete, em
100€ e 100 de 50€, semelhantes às notas autoria material e na forma consumada,
do mesmo valor emitidas pelo Banco um crime de passagem de moda falsa,
Central Europeu, mas, na realidade, re- previsto e punido pelo artigo 265.º, n.º 1,
sultantes de reprodução daquelas por alínea a), do Código Penal.
meio de impressão policromática a laser, É irrelevante o facto de as notas servirem
14 0,7
que o seu filho JOHN, de 16 anos de ida- para pagar um objeto furtado. O bem jurí-
de, havia feito com computador e im- dico protegido não é a confiança da pessoa
pressora para brincar no carnaval e ele concreta que recebe as notas, mas sim a
encontrara casualmente em casa nessa integridade do sistema monetário legal.
manhã. É de afastar qualquer burla sobre ANTÓ-
NIO, pois está a enganar PETER, vendendo-
3
FACTOS NOTAS DE APRECIAÇÃO VALOR
lhe uma réplica como se fosse a obra origi-
nal. A situação de ANTÓNIO não merece
tutela jurídica, pelos fundamentos expos-
tos.
PETER recebe a estátua de ANTÓNIO e Embora desconheça a forma concreta co-
dela se apropria. mo ANTÓNIO entrou na posse da estátua,
PETER sabe que foi mediante crime contra
o património, pois sabe que a estátua é
propriedade da AASA e é por essa razão
15 0,9
que paga por ela um valor muito inferior
ao seu valor real. Comete assim, em auto-
ria material e na forma consumada, um
crime de recetação, previsto e punido
pelo artigo 231.º, n.º 1, do Código Penal.
VII – JOHN
JOHN, com computador e impressora, Tal conduta não integra o crime de con-
fabricou 100 notas de 100€ e 100 de 50€, trafação de moeda, previsto e punido pelo
semelhantes às notas do mesmo valor artigo 262.º, n.º 1, do Código Penal, pois
16 0,5
emitidas pelo Banco Central Europeu, JOHN praticou contrafação de moeda, mas
para brincar no carnaval. não tinha intenção de a pôr em circulação
como legítima.
VIII - EURICO
EURICO entrou nas instalações da ARTE Ainda que se afigure que essa funcionária
DE MARTE com autorização apenas de não tinha legitimidade para autorizar a
uma funcionária. busca (para efeitos do disposto no artigo
174.º do CPP), tal autorização é suficiente
17 0,3
para excluir a tipicidade da conduta face
ao crime de introdução em lugar vedado
ao público, previsto e punido pelo artigo
191.º do Código Penal.
EURICO guarda as 100 notas de 100€ e EURICO cometeu, como autor material e
as 100 de 50€, fazendo-as coisa sua na forma tentada, um crime de peculato,
1
18 previsto e punido pelas disposições conju-
gadas dos artigos 375.º, n.º 1, 22.º, n.ºs 1
e 2, alínea a), 23.º, e 73.º do Código Penal.
EURICO fica na posse de notas falsas Com essa conduta, EURICO poderia come-
com intenção de as utilizar para comprar ter o crime de aquisição de moeda falsa
um automóvel para ser posta em circulação, previsto e
punido pelo artigo 266.º, n.º 1, alínea a)
(que pune todas as formas de detenção de
0,7
19 moeda falsa com vista à colocação em cir-
culação). Porém, EURICO está em erro so-
bre um elemento típico, o que exclui o
dolo. Como este crime não é punível a títu-
lo de negligência, a sua conduta não é
punível.
EURICO elaborou auto de apreensão e Era dever legal de EURICO fazer constar
relatório, neles omitindo que apreendeu desses documentos que tinha apreendido
20 1
também 15.000€ em notas de 50 e de também tais notas – artigos 99.º, 178.º, n.º
100. 2, 252.º, n.º 3, e 275.º do CPP.
4
FACTOS NOTAS DE APRECIAÇÃO VALOR
Ao omitir tal facto, incorreu na prática,
como autor material e na forma consu-
mada, de dois crimes de falsificação de
documento, previsto e punido pelo artigo
256.º, n.º 1, alínea d), n.º 3 e n.º 4, do
Código Penal.
GRUPO II
(6 valores)
Questão 1 – 2 valores
[Qual deveria ser a decisão do juiz de instrução? (sobre o requerimento de inquirição de Teresa)]
O juiz de instrução deveria declarar-se incompetente para decidir sobre a inquirição de testemunha
durante o inquérito.
A questão respeita à estrutura acusatória do nosso processo penal, à direção do inquérito pelo Minis-
tério Público, à natureza das funções do juiz de instrução durante essa fase e, consequentemente, às
suas competências. A direção do inquérito cabe ao Ministério Público, assistido pelos órgãos de polícia
criminal – artigo 263.º, n.º 1, do CPP. A competência do juiz de instrução durante a fase de inquérito
está prevista no artigo 268.º, que não prevê a possibilidade de o juiz de instrução realizar oficiosamente
quaisquer diligências de recolha de prova durante essa fase do processo. O n.º 4 é expresso ao dizer
que “o juiz decide (…) com base na informação que, conjuntamente com o requerimento, lhe for
prestada (…)”.
O CPP permite apenas ao juiz de instrução, em matéria de medidas de coação, que “a fim de funda-
mentar as decisões sobre a manutenção, substituição ou revogação da prisão preventiva ou da obriga-
ção de permanência na habitação, o juiz, oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público ou do
arguido, pode solicitar a elaboração de perícia sobre a personalidade e de relatório social ou de infor-
mação dos serviços de reinserção social, desde que o arguido consinta na sua realização.” – artigo
213.º, n.º 4, do CPP. Não prevê, pois, a possibilidade de inquirição de testemunhas como forma de
afastar os indícios existentes, antes da decisão sobre a aplicação. Tal possibilidade permitiria, em ver-
dade, a existência de dois inquéritos paralelos: um realizado pelo Ministério Público, outro pelo juiz de
instrução (a que Paulo Pinto de Albuquerque, no seu “Comentário ao Código de Processo Penal” chama
até de “para-inquérito” ou de “contra-inquérito”), o que se afigura incompatível com a estrutura acusa-
tória do nosso processo penal, consagrada no artigo 32.º, n.º 5, da CRP. Nessas vestes de “juiz-
investigador”, o juiz ficaria seriamente condicionado na sua imparcialidade e não poderia verdadeira-
mente ser o “juiz das liberdades” (não esquecer que, naturalmente, essas diligências de prova realiza-
das pelo juiz de instrução poderiam permitir a recolha de prova adicional contra o arguido).
As alterações introduzidas ao regime de aplicação de medidas de coação em 2007 (quer no artigo
141.º, quer no 194.º), reforçaram a posição de que a decisão do juiz de instrução terá de basear-se
apenas nos meios de prova indicados pelo Ministério Público, a quem compete fazer a sua seleção (ar-
tigo 141.º, n.º 1, e n.º 4, alínea e); artigo 194.º, n.º 6, alínea b), e n.º 7). Valendo em todas as fases do
processo o princípio de presunção de inocência do arguido, o juiz de instrução deverá resolver todas as
dúvidas razoáveis que tenha em favor do arguido.
5
Questão 2 – 2 valores
[Pode o tribunal valorar as declarações de JOSÉ?]
A resposta deve ser afirmativa. Não existe óbice legal à admissibilidade de tal meio de prova.
Esta questão está relacionada com o direito do arguido à não auto-incriminação, de que o disposto no
artigo 61.º, n.º 1, alínea d), do CPP, é manifestação, e à dimensão de tal direito.
O direito à não auto-incriminação não é absoluto, nomeadamente não permite ao arguido opor-se à
sua inclusão num reconhecimento presencial ou à comparação do seu perfil de ADN com o perfil de
ADN encontrado no local do crime, ou até à admissão de documentos por si produzidos ou escutas
telefónicas que gravem as suas declarações.
Não se trata de um depoimento indireto, a submeter ao regime do artigo 129.º do CPP. Este artigo
destina-se apenas aos depoimentos de testemunhas que ouviram dizer a outras testemunhas. O argui-
do presta declarações quando quer e numa manifestação do seu direito de defesa, não como meio de
prova de que o tribunal se socorre para tornar “valorável” outro meio de prova. O arguido não pode ser
simultaneamente testemunha. Logo, o tribunal não poderia nunca chamar o arguido a depor, como
determina o n.º 1 deste artigo. Nestes termos, não merece acolhimento uma interpretação deste artigo
no sentido de colocar o arguido como “garante” (quer preste declarações, quer se remeta ao silêncio)
da apreciação pelo tribunal da razão de ciência e credibilidade da testemunha de lhe ouvir-dizer, nem
que, com a sua chamada a “depor”, se estabeleça entre ele e o tribunal uma imediação efetiva da pro-
va.
Apesar de ficar fora do âmbito de aplicação do artigo 129.º do CPP, o depoimento sobre o que se ouviu
dizer ao arguido é, ainda que com exceções, legalmente admissível e valorável pelo julgador. O princí-
pio a aplicar será o do artigo 125.º do CPP: são admissíveis todas as provas que não forem proibidas por
lei. No caso, o depoimento é admissível, ficando sujeito à livre apreciação do tribunal, nos termos pre-
vistos nos artigos 125.º e 127.º do Código de Processo Penal, pois não se verifica qualquer das circuns-
tâncias previstas o artigo 126.º do Código de Processo Penal.
A disciplina do artigo 357.º do CPP não se aplica a outros meios de obtenção de prova, como documen-
tos com declarações extraprocessuais do arguido.
Questão 3 – 2 valores
[Pode o tribunal valorar a transcrição de conversa telefónica de MARTA?]
A resposta deve ser afirmativa.
A prova testemunhal e a prova obtida através das interceções telefónicas têm diferentes naturezas. O
regime das interceções telefónicas não se reconduz, pois, ao primeiro. O artigo 187.º do CPP não retira
do catálogo das pessoas “escutáveis”, nomeadamente quando se enquadrem na categoria dos inter-
mediários (n.º 4, alínea b)), aquelas pessoas previstas no n.º 1 do artigo 134.º.
O fundamento da possibilidade de recusa de depoimento (artigo 134.º, n.º 1, do CPP) é evitar que al-
guém, sendo obrigado à verdade, seja colocado na situação/dilema de, para não cometer um crime, ter
de contribuir para a condenação de um familiar; ora, tal não sucede na escuta telefónica, pois aí, como
se desconhece a sua existência, não há “dilema”. Se não pudessem ser utilizadas essas, por maioria de
razão, também não poderiam ser utilizadas as do próprio arguido quando ele se remete ao silêncio e
documentos ou correspondência desse familiar. E podem.
6
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PROVA ESCRITA
DE
DEIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Via Académica
2.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
R E GU L A ME NT O I N TER N O D O C E NT R O D E E S TU D O S J U D IC IÁ R I O S, O T E M PO D E
D UR A Ç Ã O D A PR O V A I N IC IA - SE D E C OR R ID O S 1 5 M IN U TO S A P ÓS A HO R A
D ES I G NA D A )
DURAÇÃO DA ESCRITA
PROVA PROVA: DE 3 HORAS
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2 - Cotações
Grupo I
a) 6 valores
b) 2 valores
Grupo II
a) 2,5 valores
b) 2 valores
c) 2 valores
Grupo III
a) 2 valores
b) 3,5 valores
3 - A atribuição da cotação máxima à resposta a cada questão pressupõe um tratamento completo das
diversas questões suscitadas, que deverá ser coerente, corretamente fundamentado e com remissão
para os preceitos legais aplicáveis.
4 - A cotação a atribuir terá em consideração a pertinência do conteúdo, a qualidade da informação
transmitida em relação à questão colocada, a organização da exposição, a capacidade de argumentação
e de síntese e o domínio da língua portuguesa.
5 - As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a grafia do "Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo
Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-
lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será entregue, escrevendo
"Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91,
não está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a prova corrigida nesse pressuposto.
6 - Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de 3 valores,
para o total da prova
7 - As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo da/o
candidata/o (a identificação constará apenas do destacável da folha de rosto), sob pena de anulação da
prova.
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GRUPO I
(8 valores)
Ato contínuo, Ventura abriu a porta do lado do condutor e tentou tirar o pacote com
os brincos das mãos de Zacarias. Como Zacarias não o largasse, Ventura desferiu-lhe
diversos murros na cara, logrando apoderar-se dele e afastar-se do local. Dirigiu-se de
imediato à esquadra policial mais próxima onde procedeu à entrega do pacote e
relatou o sucedido.
GRUPO II
(6,5 valores)
Nesta sequência, deixando o arguido nas instalações da polícia, os ditos OPC’s dirigiram-se
logo ao referido contentor de lixo onde encontram o corpo da criança sem vida. Mais
descobriram, nesse mesmo local, uma luva com vestígios biológicos que, submetidos a análise
na entidade competente, corresponderam ao perfil de ADN do dito arguido constante da base
de dados existente para efeitos de identificação civil e criminal. Aproveitando uma ausência
dos OPC’s, o arguido logrou fugir e encontra-se, presentemente, em parte incerta.
Com vista a não deixar rastro da respetiva atuação, o conteúdo confessório do dito
interrogatório apenas foi reduzido a auto assinado pelo arguido, tendo os OPC’s consignado a
indisponibilidade técnica de quaisquer meios para a gravação áudio do ato, o que sabiam não
corresponder à verdade.
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Com vista à aplicação de uma medida de coação ao dito arguido, e ao abrigo dos artigos 254.º,
n.º 1, al. a) e 257.º, al. a), do CPP, foram emitidos pelo MP, mandados de detenção que se
encontram pendentes e por cumprir.
Após, o MP, desconhecendo o modo como os OPC’s obtiveram a confissão do arguido, deduziu
acusação contra este, imputando-lhe a prática de um crime de extorsão, previsto e punido
pelos artigos 223.º, n.º 1 e 3, al. a), 204.º, n.º 2, al. a) e 22.º, n.º 1 e 2, al. a), do Código Penal,
em concurso efetivo com a prática de um crime de homicídio qualificado, previsto e punido
pelo art.º 132.º, n.º 2, als. c) e e), do mesmo código, indicando como prova as testemunhas
Beatriz, Nuno e Joaquim, as declarações do arguido perante os OPC’s, o relatório da autópsia
elaborado pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, o auto de apreensão
da luva e o relatório pericial que conclui que esta contém vestígios biológicos correspondentes
ao perfil de ADN do arguido.
Aprecie:
GRUPO III
(5,5 valores)
Com aqueles vinte e seis mil euros o arguido Francisco Santana dirigiu-se ao casino da Póvoa
do Varzim, tendo gasto o dinheiro no jogo.
Na fase de instrução, face a informação bancária já constante do inquérito que sustentava que
um cheque emitido pela empresa “Sisterne, Lda.”, no valor de vinte e seis mil euros (€
26.000,00) tinha sido depositado em conta pessoal do arguido, e a um auto de inquirição,
também elaborado no inquérito, relativo a uma testemunha trabalhador da mesma empresa
que declarou que tinha entregue aquele mesmo cheque ao arguido, por pensar que este era
funcionário da Câmara, já que se tinha apresentado como tal nas instalações da empresa, as
diligências de prova requeridas pelo arguido foram indeferidas pelo Juiz de Instrução Criminal
(JIC) ao abrigo do disposto no art.º 291.º, n.º 1, do CPP, por os ter considerado meramente
dilatórias.
Recebida tal informação o JIC designou de imediato data para a realização de debate
instrutório, o qual se realizou sem a produção de quaisquer provas.
Página 9 de 9
em fundamentos consistentes.
GRUPO I
Ananias:
- 1 (um) Crime de Corrupção passiva, previsto e punido pelo artigo 373.º, n.º1, do CP, como
autor. (0,5 valores)
- 3 (três) Crimes de Peculato, previsto e punido pelos artigos 26.º e 375.º, n.º1, do CP, como co-
autor (0,75 valores)
- 3 (três) Crimes de Violação de segredo de correspondência ou de telecomunicações, previsto e
punido pelos artigos 26.º e 384.º, alíneas a) e b), do CP, como co-autor. (0,75 valores)
Zacarias:
- 1 (um) Crime de Corrupção ativa, previsto e punido pelo artigo 374.º, n.º1, do CP, como autor.
(0,5 valores)
- 3 (três) Crimes de Peculato, previsto e punido pelos artigos 26.º, 28.º, n.º1 e 375.º, n.º1, do CP,
como co-autor (1 valor)
- 3 (três) crimes de Violação de segredo de correspondência ou de telecomunicações, previsto e
punido pelos artigos 26.º, 28.º, n.º1 e 384.º, alíneas a) e b), do CP, como co-autor. (1 valor)
Ventura:
- 1 (um) crime de Introdução em lugar vedado ao público, previsto e punido pelo artigo 191.º,
do CP, como autor. (0,5 valores)
- 1 (um) crime de Gravações e fotografias ilícitas, previsto e punido pelo artigo 199.º, n.º2,
alínea a), do CP, como autor. (0,5 valores)
1
- 1 (um) crime de Ofensa à integridade física simples, previsto e punido pelo artigo 143.º, n.º1,
do CP, como autor. (0,5 valor)
GRUPO II
Questão 1
b) “Com vista a não deixar rastro da respetiva atuação, o conteúdo confessório do dito
interrogatório apenas foi reduzido a auto assinado pelo arguido, tendo os OPC’s
consignado a indisponibilidade técnica de quaisquer meios para a gravação áudio do
ato, o que sabiam não corresponder à verdade.”.
2
Ambos os OP ’ (Nuno e Joaquim) cometeram, em co-autoria material (art.º 26.º do CP), um
crime de falsificação ou contrafação de documento autêntico por funcionário, previsto e
punido pelas disposições conjugadas dos artigos 255.º al. a), 256.º, n.º 1, al. d), 3 e 4), 386.º, n.º
1 al. b), do CP. (1,25 valores)
Questão 2
Os meios de prova supra indicados em b), d) e e), não podem ser valorados, o primeiro por
constituir prova proibida ao abrigo do art. 126.º, n.º 1 e 2, al. a), do CPP, os demais por estarem
contaminados por aquela (efeito-à-distância ou doutrina dos frutos da árvore envenenada). (2
valores)
Questão 3:
3
Aníbal a rondar a escola de onde desapareceu a criança, nos dias anteriores, sendo certo que o
arguido, atualmente, se encontra em parte incerta. (2 valores)
GRUPO III
Questão 1
Na fase de instrução, resulta que o arguido, em vez de praticar o crime pelo qual tinha sido
acusado pelo MP (crime de peculato, previsto e punido pelo artigo 375.º, n.º 1, do Cód. Penal),
praticou um crime de burla, qualificada atento o valor consideravelmente elevado em causa,
previsto e punido pelos artigos 202.º, al. b), 217.º, n.º 1, 218.º, n.º 1 e 2 al. a), do CP. Com
efeito, em tal fase apurou-se que o arguido, quando recebeu a quantia monetária em causa, já
tinha sido demitido pouco tempo antes mas de forma definitiva, das suas funções na Câmara.
Mais resultou que uma testemunha trabalhador da empresa ofendida declarou que tinha entregue
um cheque, que titulava a quantia monetária em causa, ao arguido, por pensar que este era
funcionário da Câmara, já que este se tinha apresentado como tal nas instalações da empresa
(conduta astuciosa). (2 valores)
Questão 2
[Em harmonia com a mesma factualidade indique qual deveria ser o sentido da decisão
instrutória]
4
Nestes termos, ao abrigo do art. 303.º, n.º 3, do CPP, aquela alteração substancial dos factos,
não poderá ser considerada e restará proferir despacho de não pronúncia. (3,5 valores)
***
5
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Profissional
1.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
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D ES I G NA D A )
I - A presente prova disponibiliza o seguinte conjunto de peças, contidas em autos de um processo judicial (nomes, moradas,
carimbos, números de processos e restantes elementos de facto totalmente fictícios):
1. Petição inicial apresentada pelo Autor em 15 de maio de 2013;
A respeito da matéria dos Temas da Prova que foi considerada não provada, a decisão do Tribunal resultou da falta de prova.
Efetivamente, o depoimento de parte do Réu Marcelino Gomes foi inconclusivo, negando a prática consciente de ato ilícito.
Por outro lado, nenhuma testemunha presenciou a intervenção deste Réu. No que tange à sociedade Ré, a circunstância de o
preço da fração ser relativamente baixo e de a compra ter sido realizada pouco tempo após a visita inicial, bem como o facto
de a Ré não ter ocupado a casa nem tentar vendê-la não se afiguram suficientes para extrair qualquer conclusão sobre o
conhecimento por parte do seu legal representante relativo à forma como a procuração foi obtida.”
III - Pretende-se que, mediante o conjunto das peças e elementos disponibilizados e com base nos elementos de facto
conhecidos, redija a Sentença.
IV - A referência aos factos provados, caso não tenham qualquer alteração de redação, poderá ser efetuada por remissão
para o artigo da peça processual a que respeite. Se a/o candidata/o não pretender utilizar exatamente a redação dos artigos das
peças processuais, deverá redigir a que considere mais adequada.
V - Apesar de a prova consistir na elaboração de uma Sentença, não poderá conter qualquer assinatura, ainda que fictícia,
pelo que, no final da peça, as/os candidatas/os só deverão escrever as palavras seguintes:
“Data”
“Assinatura”.
VI - Cotação: 20 valores
VII - A atribuição da cotação máxima nesta prova pressupõe um tratamento completo das várias questões suscitadas, que
deverá ser coerente e corretamente fundamentado, com indicação dos preceitos legais aplicáveis.
VIII - Na apreciação da prova relevarão, nomeadamente, a pertinência do conteúdo, a qualidade da informação transmitida em
relação à questão colocada, a organização da exposição, a capacidade de argumentação e de síntese e o domínio da língua
portuguesa.
IX - Os erros ortográficos serão considerados negativamente: 0,25 por cada um, até um máximo de 3 valores.
X - As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a grafia do "Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo Decreto do Presidente da República
n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será
entregue, escrevendo "Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91, não
está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a prova corrigida nesse pressuposto.
XI - As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo da/o candidata/o (a
identificação constará apenas do destacável da folha de rosto), sob pena de anulação da prova.
PETIÇÃO INICIAL
Ex.mo Senhor
Doutor Juiz de Direito das Varas Cíveis de Lisboa
ANTÓNIO JOÃO ALMEIDA, solteiro, maior, NIF (…), residente em 66 Boulevard des Fleurs, 75000,
Paris, França e com domicílio em Lisboa, na Rua do Sol, n.º 10, 1.º andar esquerdo, vem instaurar ACÇÃO
DECLARATIVA DE CONDENAÇÃO COM A FORMA DE PROCESSO ORDINÁRIO contra:
1. DANIEL COSTA, solteiro, maior, residente na Rua Dr. Joaquim Fernandes, n.º 2, r/c esq., 2640-
000 Mafra
2. CASA DE SONHO – COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS, Lda., NIPC (…), com sede na Avenida do
Espírito Santo, n.º 13, 2040-594 Almada
3. MARCELINO DA SILVA GOMES, que também usa o nome profissional de MARCELINO GOMES,
residente na Rua da Praia Grande, n.º 32, 2.º esquerdo, 2155-130 Estoril
4. JOSEFA ANTONIETA VARELA, que também usa o nome profissional de JOSEFA VARELA,
residente na Rua do Sal Preto, n-º 12, 2550-120 Amadora
1.º
Por escritura pública outorgada em 29 de Janeiro de 2010, exarada de fls. 23 a 24 verso do Livro
de notas para escrituras diversas n.º 22-A, o Autor adquiriu, pelo preço de 215 000,00 € (duzentos e quinze
mil euros) a fracção autónoma designada pela letra “E”, correspondente ao segundo andar esquerdo do
prédio urbano sito na Rua Almeida Garrett, n.º 20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa,
descrito na Conservatória do Registo Predial de Lisboa sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888 –
Documento n.º 1.
2.º
A aquisição foi registada a favor do Autor na Conservatória do Registo Predial de Lisboa pela
apresentação 5555, de 29/01/2010.
3.º
A fracção destina-se a residência em Lisboa do Autor que, há largos anos, está emigrado em
França, residindo habitualmente em Paris.
4.º
Logo após a aquisição, o Autor realizou obras de melhoramento na fracção, mobilou-a e decorou-a,
fazendo dela a sua residência sempre que se desloca a Portugal, o que sucede com regularidade, no
mínimo quatro a cinco vezes por ano.
5.º
No passado dia 10 de Maio, durante a sua estadia em Lisboa, o Autor, estranhando não ter sido
notificado da nota de liquidação e do pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis referente ao ano de
2012, cuja primeira prestação deveria ter sido paga no decurso do mês de Abril, dirigiu-se ao Serviço de
Finanças de Lisboa 3 com a finalidade de solicitar a nota de liquidação e proceder ao respectivo
pagamento.
6.º
Ao solicitar a guia de pagamento, foi confrontado com a informação de que nada devia, porquanto
a fracção já não se encontrava na sua titularidade.
7.º
Requerida certidão de teor matricial da fracção, o Autor constatou, para seu espanto, que esta se
encontrava inscrita em nome da sociedade Ré, CASA DE SONHO – Compra e Venda de Imóveis, Lda., que a
adquirira em 2012 – Documento n.º 2.
8.º
Julgando tratar-se de um lapso dos serviços de Finanças, e tendo apurado que a escritura de venda
fora outorgada no Cartório Notarial de Lisboa, sito na Rua do Carrossel, n.º 7, em Lisboa, a
cargo da Licenciada Josefa Antonieta Varela, o Autor de imediato aí se dirigiu.
9.º
No Cartório Notarial foi informado que, por escritura realizada em 29 de Maio de 2012, lavrada de
fls. 28 e 29 do Livro 210-A, a fracção de que é proprietário fora “vendida” à sociedade Ré, CASA DE SONHO
– Compra e Venda de Imóveis, Lda., mediante exibição de procuração a favor do Réu, Daniel Costa, tendo
conseguido obter cópia certificada que ora se junta como documento n.º 3.
10.º
Contudo, só após deslocação à Conservatória do Registo Predial lhe foi possível obter cópia da
escritura, que ora se junta como documento n.º 4, tendo igualmente verificado que a aquisição foi registada
a favor da Ré CASA DE SONHO, Lda., mais requerendo a emissão de certidão permanente da fracção a que
foi atribuído o Código de acesso PP-33-333-4444-55555, disponível em www.predialonline.mj.pt.
11.º
Na posse da escritura, o Autor apurou que, entre outros documentos, esta fora instruída com uma
caderneta predial da fracção, emitida pelo Serviço de Finanças, em 18-05-2012.
12.º
A referida caderneta predial corresponde a um documento que, durante uma estadia em
Lisboa, entre 13 e 21 de Maio de 2012, fora obtida por um colaborador da imobiliária PAINEL, de nome
Pedro José Ribeiro e cujo original o Autor tem ainda na sua posse.
13.º
Com efeito, no decurso da sua estadia, o Autor foi contactado por Pedro José Ribeiro, que era do
seu conhecimento por ter sido um dos colaboradores da PAINEL que teve intervenção na aquisição da
fracção em 2010, e que lhe facultara os contactos do empreiteiro que executou as obras realizadas na
fracção após a sua aquisição.
14.º
Na altura, Pedro José Ribeiro questionou o Autor sobre o eventual interesse no arrendamento
da fracção, uma vez que apenas se deslocava a Portugal por períodos curtos de tempo, informando-o que
tinha já um potencial interessado no arrendamento.
15.º
Uma vez que dispõe de um outro imóvel em A v e i ro , de onde é natural, o Autor ponderou a
hipótese do arrendamento, tendo-lhe sido solicitado por Pedro José Ribeiro que lhe facultasse cópia da
caderneta da fracção.
16.º
Contudo, como a caderneta que o Autor tinha nos seus arquivos havia sido obtida antes da
aquisição do imóvel, tendo sido emitida há já mais de um ano e dela constando ainda o nome do anterior
proprietário, Pedro José Ribeiro disponibilizou-se para obter o documento actualizado, o que veio a fazer
em 18 de Maio, no Serviço de Finanças.
17.º
Cerca de dois dias depois, mais precisamente no dia anterior ao do regresso a Paris do Autor, Pedro
Jo sé Rib e ir o entregou-lhe a caderneta predial, solicitando-lhe as chaves da fracção, uma vez que o
casal interessado no arrendamento pretendida efectuar uma visita ao local.
18.º
Uma vez que iria ausentar-se no dia seguinte, o Autor informou Pedro José Ribeiro que tinha uma
cópia da chave com uma sua vizinha, Gertrudes de Sousa, residente no 2.º andar esquerdo, autorizando-
o a recolher a chave por forma a possibilitar a visita ao imóvel.
19.º
Alguns dias depois, Pedro José Ribeiro deslocou-se a casa de Gertrudes de Sousa a fim de
recolher a chave do apartamento, tendo-lha devolvido dois dias depois.
20.º
Após estes factos, P edro J o s é R i b e i r o contactou o Autor via telefónica, informando-o que
o casal não estava já interessado no arrendamento, porquanto entendia que o apartamento estava
localizado numa zona demasiado movimentada à noite e mal frequentada.
21.º
Desde então, o Autor apenas contactou ocasionalmente com Pedro José Ribeiro, quase sempre
através da internet, não mais se tendo colocado a questão do arrendamento, sendo do seu
conhecimento que aquele se ausentou do País, para o Brasil e, mais recentemente, para a Suíça.
22.º
Entre a data em que foi celebrada a falsa venda (Maio de 2012) e a presente data, o Autor
deslocou-se a Lisboa em Julho (durante três semanas), na última semana de Dezembro e primeira de
Janeiro e em finais de Fevereiro, aqui permanecendo por mais 8 dias desde 9 do corrente mês até ao
próximo dia 16.
23.º
Em nenhuma destas ocasiões foi contactado pela pretensa adquirente da fracção, a sociedade ora
Ré, nem esta visitou o apartamento o que, tendo em conta que a escritura foi celebrada em Maio de
2012 é, no mínimo, de espantar.
24.º
A “procuração” que instruiu a escritura de venda da fracção em causa foi “outorgada” em 25 de
Maio de 2012 e “autenticada” pelo 3.º Réu, Dr. Marcelino da Silva Gomes , à data ainda advogado,
com a Cédula Profissional n.º (…), com escritório no Estoril.
25.º
Do referido “instrumento” consta uma assinatura que em nada corresponde nem apresenta
qualquer semelhança à do Autor, mais não sendo do que uma rude, tosca e facilmente perceptível
falsificação.
26.º
O Autor na data que consta da procuração não se encontrava em Portugal.
27.º
Nunca pretendeu vender a fracção, nem encarregou alguém de o fazer, muito menos o Réu
Daniel Costa, que não conhece e com quem nunca contactou.
28.º
O Autor nunca entregou o seu Bilhete de Identidade (que se encontra inutilizado há mais de 2
anos por ter sido substituído pelo Cartão de Cidadão), nem qualquer documento referente ao imóvel.
29.º
O Autor nunca recebeu qualquer quantia proveniente da venda da fracção, sendo certo que o
preço que consta da escritura é muito inferior ao valor patrimonial fiscal, representando quase metade
do preço pela qual a adquiriu em Janeiro de 2010!
30.º
O Autor não conhece, nunca viu, nem nunca contactou, por qualquer forma, o Réu D an ie l
Co st a , o gerente da sociedade Ré, Mário Trigo, nem a sociedade que este representa, e muito menos o
Dr. Marcelino da Silva Gomes.
31.º
No entanto, no registo online de actos de advogados, efectuado pelo Dr. Marcelino da Silva
Gomes, este declara ter verificado “a identidade do signatário, no documento anexo, que é uma
procuração, por exibição do bilhete de identidade”, ter-lhe sido “explicado o seu teor”, que “disse que
a mesma está conforme com a sua vontade”.
32.º
Ora, tal declaração é absolutamente falsa, porquanto não só o Autor nunca compareceu perante o
aludido advogado, como não outorgou a procuração, cuja assinatura nela aposta em nada se assemelha à
sua, sendo certo que à data o seu documento de identificação não era já o Bilhete de Identidade, que no
início de 2010, e após a escritura de aquisição da fracção, o Autor substituíra pelo Cartão de Cidadão,
tendo sido inutilizado – Documentos n.ºs 5 e 6.
33.º
Acresce que o bilhete de identidade é mencionado na “procuração” como sendo datado de 17 de
Julho de 2009 e emitido pelos Serviços de Identificação de Lisboa, quando o anterior Bilhete de
Identidade do Autor foi emitido em 13 de Julho de 2004 pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, em
Paris, como se constata pelo documento n.º 5.
34.º
O Autor não conhece o Réu, Dr. Marcelino da Silva Gomes, nunca esteve na sua presença, não lhe
entregou ou exibiu qualquer documento de identificação e muito menos lhe solicitou a autenticação de
qualquer documento, designadamente da “procuração” ora em apreço.
35.º
A assinatura que consta da “procuração” que confere poderes ao Réu Daniel Costa não foi
feita pelo punho do Autor, nem sequer apresenta qualquer semelhança com a sua assinatura, como se
constata quer pelo documento n.º 1, quer pelas cópias do Cartão de Cidadão e do anterior Bilhete de
Identidade do Autor ora juntas.
36.º
Aliás, mesmo a pessoa mais desatenta, confrontado com a fotografia do Autor e a sua assinatura
constantes do Bilhete de Identidade, facilmente perceberia que quem se apresentou em nome do A. era
outra pessoa e que a assinatura mais não era do que uma falsificação manifestamente grosseira.
37.º
Pelo que tendo em consideração os factos supra descritos, o Dr. Marcelino da Silva Gomes tinha
necessariamente conhecimento da situação, que a mesma o fazia incorrer na prática de crimes e que dela
resultariam avultados prejuízos para o Autor.
38.º
O Dr. Marcelino da Silva Gomes que, embora à data de Maio de 2012 fosse ainda advogado
com inscrição na Ordem dos Advogados, foi “considerado inidóneo para o exercício da advocacia e,
consequentemente cancelada a sua inscrição, por acórdão proferido em Plenário do Conselho de
Deontologia de Lisboa de (…), confirmado por acórdão do conselho superior de (…), no processo de
averiguação de Inidoneidade Moral n.º (…)” – Documento n.º 7.
39.º
E das averiguações levadas a cabo pelo Autor foi possível apurar que o Dr. M a r c e l i n o d a
S i l v a G o m e s , bem como a sociedade Ré, CASA DE SONHO, LDA. e o Réu Daniel Costa, entre outros, se
encontram envolvidos noutras vendas fictícias de imóveis, instruídas por falsas procurações
“autenticadas” pelo referido advogado.
40.º
Apurou ainda o Autor que se encontram já instauradas acções judiciais contra a CASA DE SONHO,
com fundamento em factos em tudo iguais aos da presente acção, designadamente a acção que corre
termos na 1.ª Vara Cível Central de Lisboa, com o processo n.º 1111/12.4TVLSB, em que é Ré a aludida
sociedade.
41.º
Na venda fictícia que está na origem desse processo o modus operandi é em tudo igual ao ora em
apreço: procuração com recurso a falsificação manifestamente grosseira de assinaturas a favor de
procurador desconhecido dos lesados, errada menção dos documentos de identificação dos mandantes,
autenticação da procuração pelo Dr. Marcelino da Silva Gomes e posterior venda de imóvel à
sociedade C ASA DE SONHO mediante recurso à procuração forjada de que os legítimos proprietários
só tomaram conhecimento ao pretenderem obter caderneta predial do imóvel!
42.º
Por estas razões o Autor apresentou queixa no passado dia 13 do corrente mês no Piquete da
Polícia Judiciária, contra Daniel Costa, Mário Trigo, legal representante da sociedade Casa de Sonho, Dr.
Marcelino da Silva Gomes, bem como contra quaisquer outros sujeitos que se venha a apurar terem
comparticipado na prática dos crimes, sendo do seu conhecimento que estão já em curso outros
processos envolvendo os mesmos sujeitos.
43.º
No pouco tempo que mediou entre a tomada de conhecimento dos factos e a apresentação da
queixa na Polícia Judiciária, o A. tentou contactar a sociedade Ré, compradora da fracção, sem qualquer
sucesso.
44.º
Deslocou-se ainda o A. às moradas dos RR Daniel Costa e Marcelino da Silva Gomes, em Mafra e
no Estoril, respectivamente, não tendo logrado contactá-los.
45.º
Contudo, na morada do Dr. M a r ce l in o d a S i l v a G o m e s foi informado por vizinhos que
aquele ainda ali residia e que, frequentemente, era procurado pela Polícia e por indivíduos de etnia
cigana.
46.º
Acresce que, para além ausência do Autor no acto, da falsificação grosseira da sua assinatura e da
errada descrição do documento de identificação, a procuração não cumpre as formalidades legalmente
impostas.
47.º
Nos termos do disposto no artigo 38.º do DL 76-A/2006, de 29 de Junho o conteúdo dos
documentos pode ser confirmado perante advogado, que deverá lavrar termo de autenticação segundo
os requisitos da lei notarial.
48.º
Dependendo a validade da autenticação do registo informático exigida na Portaria 657-B/2006, de
29/06.
49.º
Ora, da cópia junta como documento n.º 4 constata-se que embora tenha sido efectuado o
registo da pretensa procuração no registo online de actos de Advogados, pelo Dr. Marcelino da Silva
Gomes, não foi elaborado o correspondente termo de autenticação, impondo-se ao Cartório Notarial
onde a escritura foi outorgada que tivesse recusado a aceitação de tal documento.
50.º
A omissão destas formalidades essenciais da procuração não devia e muito menos podia ter sido
ignorada pela Notária, Dra. Josefa Antonieta Varela.
51.º
Pelo que a referida Notária agiu com negligência grave ao aceitar outorgar a escritura de
venda com base na “procuração” que tinha por obrigação saber não cumprir minimamente os requisitos
formais legalmente exigidos.
52.º
O preço da venda da fracção referido na escritura (120 000,00 €) é inferior ao seu valor
patrimonial fiscal, correspondendo a quase metade do preço pago mais de um ano antes pelo Autor.
53.º
Tal preço também em nada corresponde ao valor de mercado da fracção, mesmo considerando o
actual estado do mercado imobiliário.
54.º
Acresce que, decorrido quase um ano desde a data da celebração da escritura, nunca a Ré Casa de
Sonho, Lda. fez deslocar um seu representante à fracção, tomou posse dela, comunicou a aquisição ou
procedeu ao pagamento do condomínio e de despesas inerentes à fracção, ou participou na
Assembleia de condóminos.
55.º
Igualmente não procedeu à alteração dos contratos de fornecimento de água, electricidade, gás
ou seguros, que sempre se mantiveram em nome do Autor e são por ele suportados.
56.º
Ao invés, o Autor, desde que em Janeiro de 2010 adquiriu a fracção, que a mantém na sua
posse, fazendo dela a sua residência em Lisboa, sempre que aqui se desloca tendo efectuado avultadas
obras de melhoramento e conservação, suportando todas as despesas que lhe são inerentes e sendo
reconhecido como o único e legítimo proprietário pelos restantes condóminos, tendo sempre sido
convocado e participado em todas as reuniões de condomínio até aqui realizadas – Documentos n.ºs 8 e
9.
57.º
Em finais de Dezembro do ano passado, o A. procedeu à substituição das janelas da fracção e de
equipamentos e, sempre que lhe é permitido, tem enviado de Paris móveis, quadros e objectos de
decoração e pessoais, uma vez que sempre foi e continua a ser sua intenção vir, num futuro próximo, a
fixar residência permanente na fracção – Documentos n.ºs 10 a 13.
58.º
A total ausência de interesse pela fracção da suposta adquirente é também ela indiciadora de que
teria pleno conhecimento da situação.
59.º
A falsificação da assinatura do Autor, a sua não comparência perante o Réu Marcelino da Silva
Gomes e a total inexistência de qualquer declaração de vontade manifestada pelo A. põem em causa a
autenticidade, genuinidade e força probatória do documento.
60.º
Sendo geradores da sua falsidade, que desde já expressamente se invoca.
61.º
O que, necessariamente, atinge também a escritura de compra e venda outorgada em 29 de
Maio de 2012, tendo ficado demonstrado que o Autor nunca manifestou qualquer vontade de vender a
fracção, não recebeu qualquer preço, nem transferiu a posse ou a propriedade da mesma.
62.º
Do mesmo modo, afectando o registo de aquisição da fracção pela sociedade Ré, CASA DE
SONHO, Lda..
63.º
Desde que, no passado dia 10 de Maio, foi confrontado com toda a situação descrita que o
Autor não mais teve um momento de descanso, vivendo permanentemente angustiado, deprimido e
receoso.
64.º
Os poucos dias que destinara estar em Lisboa, gozando da sua casa e da companhia dos seus
familiares e amigos, acabaram por ter de ser perdidos com um contra-relógio de deslocações às
Finanças, ao Notário, à residência dos RR, à Polícia Judiciária, de forma a tentar encontrar uma explicação
para o problema que o atingiu.
65.º
Para além da angústia, ansiedade e sofrimento que a situação lhe tem trazido, o Autor receia ver
a todo o momento a sua casa invadida por estranhos, arrogando-se de direitos que sabe não terem.
66.º
A possibilidade de se ver desapossado da casa, onde tem vindo a guardar bens pessoais de
elevado valor estimativo e económico, é agravada pelo facto de as obrigações profissionais o obrigarem a
regressar ao seu trabalho em Paris, afastando-o de Lisboa, o que lhe aumenta seriamente o sofrimento e
angústia que tem vindo a sentir.
67.º
Muito dificilmente poderá o Autor no regresso a Paris, a milhares de quilómetros de distância,
concentrar-se sobre o seu trabalho.
68.º
Seguramente será Autor forçado a deslocar-se com mais frequência a Lisboa, para apurar o
estado da fracção e acompanhar os processos judiciais.
69.º
O que o fará incorrer em despesas acrescidas, a que haverá que somar as despesas em que já
incorreu e em que terá de incorrer com deslocações a Cartórios, Conservatórias e Polícia Judiciária,
obtenção de certidões, despesas judiciais e extrajudiciais, designadamente honorários de advogado, cujo
montante não é ainda possível determinar.
70.º
Com a sua actuação os RR causaram ao A. sérios danos patrimoniais e de natureza moral que
estão obrigados a indemnizar – arts. 483.º, 490.º, 496.º e 497.º do Código Civil.
71.º
Indemnização que dada a gravidade dos factos descritos e as suas consequências se entende
razoável fixar em montante nunca inferior a 10 000,00 € (dez mil euros) para os danos morais e de
2.500,00 € (dois mil e quinhentos euros) para os danos patrimoniais.
Nestes termos e nos melhores de Direito que V.Exa. doutamente suprirá, deve a presente ser
acção julgada procedente e provada e, em consequência:
a) Ser declarada falsa e de nenhum efeito a procuração datada de 25 de Maio de 2012
pretensamente outorgada pelo A. a favor do Réu Daniel Costa e autenticada pelo Réu Marcelino da Silva
Gomes, ordenando-se o cancelamento do registo da autenticação no site de Registo de Actos dos
Advogados da Ordem dos Advogados;
b) Ser declarada nula a escritura de venda da fracção autónoma designada pela letra “E”,
correspondente ao segundo andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua Almeida Garrett, n.º 20,
freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, descrito na Conservatória do Registo Predial de Lisboa
sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888, outorgada em 29 de Maio de 2012, no Cartório
Notarial de Lisboa, sito na Rua do Carrossel, n.º 7, em Lisboa, a cargo da Licenciada Josefa Antonieta
Varela, lavrada de fls. 28 a 29 do Livro 210-A;
c) Ser reconhecido o direito de propriedade do Autor sobre a fracção autónoma designada pela
letra “E”, correspondente ao segundo andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua Almeida Garrett, n.º
20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, descrito na Conservatória do Registo Predial de
Lisboa sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888;
d) Serem os RR condenados a pagar ao A. indemnização pelos danos morais e patrimoniais,
em v a lo r nunca inferior a 10 000,00 € (dez mil euros) e 2 500,00 € (dois mil e quinhentos euros),
respectivamente, acrescida dos juros a contar desde a data da citação;
e) Serem os RR condenados no pagamento de custas e condigna procuradoria.
Para tanto requer a V.Exa se digne ordenar a citação dos RR para, querendo, contestarem, no
prazo e sob a cominação legal, seguindo-se os demais termos até final.
PROVA PERICIAL:
Requer-se a V. Exa. se digne ordenar a realização de exame pericial à assinatura e letra constante
da procuração supostamente atribuída ao Autor, dada a arguição da sua falsidade, oficiando-se o
Cartório Notarial da Dra. Josefa Antonieta Varela no sentido de juntar os autos o documento original aí
arquivado.
TESTEMUNHAL
1. MANUELA F R A N C I S C O D E SOUSA, residente na Rua A l m e i d a G a r r e t t , n.º 20, 6.º
esquerdo, Lisboa;
2. GONÇALO NUNES, residente na Rua A l m e i d a G a r r e t t , n.º 20, 6.º esquerdo, Lisboa;
3. ANTÓNIO JOSÉ CRISPIM, a apresentar
4. EUCLIDES AMORIM, a apresentar
Valor da acção: 147.640,00 € (cento e quarenta e sete mil seiscentos e quarenta euros).
A Advogada
(assinatura)
PROCURAÇÃO
ANTÓNIO JOÃO ALMEIDA, solteiro, maior, NIF (…), residente em 66 Boulevard des Fleurs, 75000,
Paris, França e com domicílio em Portugal, na Rua do Sol, n.º 10, 1.º andar esquerdo, em Lisboa,
portador do Cartão de Cidadão n.º 1234567,constitui seu bastante procurador o Ex.mo Senhor Dr.º
(…), Advogado, com escritório na Av. da Literatura, 1 - 1.º esquerdo, em Lisboa, a quem confere os
(assinatura do Autor)
Cartório Notarial
Catarina Moreira
Notária
CERTIFICA
Dois - Que foi extraída neste Cartório da escritura exarada de folhas vinte e três a
folhas vinte e quatro verso do livro de notas para escrituras diversas número vinte e
dois-A;
Três - Que ocupa duas folhas impressas, frente e verso, as quais têm aposto o selo
No dia vinte e nove de Janeiro de dois mil e dez, no Cartório Notarial de Lisboa, sito na
Rua dos Anjos, n.º 44, 1.º, em Lisboa, perante mim, Catarina Moreira, Notária,
compareceram como outorgantes
Que, conforme afirmam, sob sua inteira responsabilidade, o presente contrato foi
objecto de intervenção da mediadora imobiliária Oceano-Sociedade Mediação
Imobiliária, Lda, NIPC (…), com sede no Centro Comercial Atlântida, loja 41, em Lisboa,
com o número de licença (…)- AMI, válida até dezasseis de Janeiro de dois mil e onze.
ASSIM O OUTORGARAM.
A Notária
(assinatura manuscrita)
. AT CERTIDÃO DE TEOR
autoridade
tributária e aduaneira PRÉDIO URBANO
WMCOOE
IDENTIFICAÇÃO DO PRÉDIO
LOCALlZAÇÃO DO PRÉDIO
Av/Rua/Praça: RUA ALMEIDA GARRETT, N.º 20 Lugar: CORAÇÃO DE JESUS Código Postal: 1050-
002 LISBOA
DESCRIÇÃO DO PRÉOIO
Área total do terreno:288,6600 m:t Área de implantação do edifício:286,6600 m' Área bruta privativa total:
95,0000 m2 Área de terreno Integrante das fracções:0.0000 m2
FRACÇÃO AUTÓNOMA: E
LOCALIZAÇÃO DA FRACÇÃO
ELEMENTOS DA FRACÇÃO
Área do terreno integrante: 0,0000 m2 Área bruta privativa: 95,0000 m 2 Área bruta dependente:18,0000 m2
'DADOS DE AVALIAÇÃO
, AT
autoridade
tributária e aduaneira
TITULARES
Tipo de titular: Propriedade plena Parte:1/1 Documento: ESCRITURA PUBLICA Entidade: MODELO 11
MANUAL
ISENÇÕES
O Chefe de Finanças
(assinatura)
O Colaborador devidamente autorizado pela Notária, nos termos dispostos no artigo 8.º do estatuto
CERTIFICA
DOIS-Que foi extraída neste Cartório de um documento arquivado a instruir uma escritura
lavrada a folhas 28 a folhas 29 do livro de notas para escrituras diversas 210-A.
(assinatura)
PROCURAÇÃO
Eu, abaixo assinado António João Almeida, solteiro, maior, portador do Bilhete de
Marcelino Gomes
(assinatura manuscrita)
Marcelino da Silva Gomes
Advogado
Rua da Praia Grande, n.º 32, 2.º Esq.
2155-130 ESTORIL
Tel . (…) - Fax: (…)
-
EMAIL: marcelinodasilvagomes1 234@adv.oa.pt
Página Comprovativo de Acto de Advogados
---
REGISTO ONLINE DOS ACTOS DOS ADVOGADOS
OBSERVAÇÕES
(assinatura manuscrita)
-
EMAIL: marcelinodasilvagomes1234@adv.oa.pt
Marcelino Gomes
(assinatura manuscrita)
CERTIDÃO
Certifico que:
As três fotocópias apensas a esta Certidão, de folhas um a três, estão conforme com os originais da
escritura lavrada em vinte e um de Maio de Dois Mil e Doze, exarada de folhas vinte e oito a folhas vinte e nove
do Livro 210-A- que se encontra arquivada neste cartório e que foram elas por mim numeradas e rubricadas,
(assinatura manuscrita)
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No dia vinte e nove de Maio de dois mil e doze, no Cartório Notarial de Lisboa,
sito na Rua do Carrossel, n.º 7, em Lisboa, perante mim, Josefa Antonieta
Varela, respectiva Notária, compareceram como outorgantes:
PRIMEIRO
Daniel Costa, solteiro, maior, residente na Rua Dr. Joaquim Fernandes, n.º 2,
r/c esq., em Mafra, portador do cartão de cidadão (…), válido até 30.09.2017, emitido
pelos Serviços da República Portuguesa, o qual outorga na qualidade de procurador
em representação de António João Almeida, contribuinte fiscal número (…), natural de
Lisboa, solteiro, maior, residente em 66 Boulevard des Fleurs, Paris, em França,
qualidade e suficiência de poderes que verifiquei por uma Procuração, documento que
arquivo.
SEGUNDO
Mário Trigo, casado, residente na Avenida do Espírito Santo, n.º 13, 2040-594
Almada, portador do cartão do cidadão (…), válido até 30.11.2017, emitido pelos
Serviços da República Portuguesa, o qual outorga na qualidade de único sócio e
gerente em representação da sociedade comercial unipessoal por quotas com a firma
“CASA DE SONHO - COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS, Lda.”, NIPC (…), com sede na
referida morada, matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada sob o
referido número, com capital social de quinhentos mil euros, qualidade e suficiência de
poderes que verifiquei por uma certidão pertinente que consultei nesta data e cuja
cópia arquivo.
Verifiquei a identidade dos outorgantes pela exibição neste acto dos seus
cartões de cidadão.
PELO PRIMEIRO OUTORGANTE, NA INVOCADA QUALIDADE, FOI DITO:
Que, pela presente escritura, e pelo preço já recebido de CENTO E VINTE MIL
EUROS, vende, em nome do seu representado, à representada do segundo outorgante,
livre de quaisquer ónus ou encargos, a fracção autónoma designada pela letra pela
Página 26 de 46
letra “E”, correspondente ao segundo andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua
Almeida Garrett, n.º 20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, descrito na
Conservatória do Registo Predial de Lisboa sob o n.º 444, com a aquisição registada a
favor do seu representado, pela apresentação cinco mil quinhentos e cinquenta e
cinco, de 29/01/2010, afecto ao regime da propriedade horizontal pela apresentação
catorze de quinze de Março de mil novecentos e noventa e seis, inscrito na matriz da
respectiva freguesia sob o artigo 888, com o valor patrimonial de 135.140,00 euros.
PELO SEGUNDO OUTORGANTE, NA INVOCADA QUALIDADE, FOI DITO:
Que aceita para a sua representada a presente venda nos termos exactos e que
destina a referida fracção a revenda.
MAIS DISSERAM:
Que não houve intervenção neste acto de qualquer mediadora imobiliária, pelo
que adverti os outorgantes de que incorrem no crime de falsas declarações, se
dolosamente tiverem prestado declarações falsas.
ASSIM OUTORGARAM.
Arquivo:
a) Declaração número 36954061313071, emitida em 28/05/2012, comprovativa
da isenção do Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis (artigo 7.º
do CIMT).
b) Declaração número 208932000216361, emitida em 28/05/2012,
comprovativa da liquidação e pagamento da verba 1.1. da Tabela Geral do Imposto de
Selo no valor de 1081,12 euros.
c) Comunicação para o exercício do direito legal de preferência emitida em
24/05/2012, comprovativa de que a Câmara Municipal de Lisboa e o Igespar não
pretendem exercer o direito legal de preferência na presente aquisição.
Exibiram:
a) Certidão permanente com o código de acesso PP-44-555-6666-77777, por
onde verifiquei os elementos prediais referidos, e por onde verifiquei que para o
prédio de que faz parte a fracção ora transmitida foi emitida a autorização de
utilização n.º 89, de 08/11/1996, pela competente Câmara Municipal;
b) Caderneta Predial Urbana, obtida via Internet, em 18/05/2012, por onde
verifiquei os referidos elementos matriciais.
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Doc. 7
Edital (…)/2013
NIF: (…)
Morada: Boulevard des Fleurs, 66, 75000 Paris, França
SUJEITO(S) PASSIVO (S):
FUNDAÇÃO VIDA SAUDÁVEL
NIPC (…)
Morada: Quinta dos Malmequeres, Loures
O Conservador
(…)
_____________________________________________________________________________
Conservatória do Registo Predial de Lisboa
Ap. 11, de 2012/06/02 12:59:44 UTC – Aquisição
Registado no sistema em: 2012/06/02 12:59:44 UTC
CAUSA: Compra
SUJEITO(S) ATIVO(S):
CASA DE SONHO COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS, LDA.
NIPC: (…)
Sede: Avenida do Espírito Santo, n.º 13, Almada
SUJEITO(S) PASSIVO (S):
ANTÓNIO JOÃO ALMEIDA
NIF (…)
Morada: Boulevard des Fleurs, 66, 75000 Paris, França
O(A) Conservador(a)
_____________________________________________________________________________
Conservatória do Registo Predial de Lisboa
Ap. (…), de 2013/05/16 12:59:44 UTC – Acção
Registado no sistema em: 2013/05/16 12:59:44 UTC
PROVISÓRIO POR NATUREZA – Artigo 92º nº 1 al. a)
SUJEITO(S) ATIVO(S):
ANTÓNIO JOÃO ALMEIDA
NIF (…)
Morada: Boulevard des Fleurs, 66, 75000 Paris, França
SUJEITO(S) PASSIVO (S):
CASA DE SONHO COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS, LDA.
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NIF: (…)
Sede: Quinta dos Malmequeres, Loures
Pedido: a) Ser declarada nula a escritura de venda da fracção autónoma designada pela letra
“E”, correspondente ao segundo andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua Almeida
Garrett, n.º 20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, descrito na Conservatória
do Registo Predial de Lisboa sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888, outorgada em
29 de Maio de 2012, no Cartório Notarial de Lisboa, sito na Rua do Carrossel, n.º 7, em Lisboa,
a cargo da Licenciada Josefa Antonieta Varela, lavrada de fls. 28 a 29 do Livro 210-A; b) Ser
reconhecido o direito de propriedade do Autor sobre a fracção autónoma designada pela letra
“E”, correspondente ao segundo andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua Almeida
Garrett, n.º 20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, descrito na Conservatória
do Registo Predial de Lisboa sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888.
O(A) Conservador(a)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
REGISTOS PENDENTES
Não existem registos pendentes.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Certidão disponibilizada em (…) e válida até 28-05-2017
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CONTESTAÇÃO
Exmo. Senhor
Dr. Juiz de Direito das Varas Cíveis de Lisboa
DANIEL COSTA, identificado nos autos acima referenciado, residente na Rua Dr.
Joaquim Fernandes, n.º 2, r/c esq., 2640-000 Mafra, com Apoio Judiciário, para fins de
custas e despesas com o processo, na Acção de Processo Ordinário, que lhe é movida
por António João Almeida, identificado nos autos, já referenciado, por sua Mandatária,
que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de V.Exa., apresentar a
seguinte:
CONTESTAÇÃO
1.º
A Presente Acção, nos termos e forma interposta, não poderá proceder.
2.º
Na qualidade de procurador, nos termos da p.i., o Réu acima indicado, Daniel
Costa, participou nessa qualidade da venda da fracção autónoma sito na Rua Almeida
Garrett, n.º 20, freguesia de Coração de Jesus, concelho de Lisboa, pertencente a
António João Almeida.
3.º
Ocorre que o Réu, na qualidade de Angariador de Imóveis, foi procurado pelo
Sr. Manuel Silva, para que fosse procurador do Sr. António João Almeida, que
pretendia vender o imóvel acima indicado.
4.º
O referido imóvel, estava para arrendamento na empresa Casa de Sonho, Lda.,
que estava a funcionar sob a Gerência do Sr. Mário Trigo, que é o seu representante
legal.
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5.º
Como colaborador da Casa de Sonho, o Sr. Pedro José Ribeiro tinha acesso ao
Autor e nessa condição obteve a caderneta predial do imóvel, fazendo a actualização
da mesma nos Serviços de Finanças em 18 de Maio.
6.º
Posteriormente, fez a entrega da mesma ao Autor que se encontrava em
Lisboa. Na ocasião, solicitou as chaves da fracção, tendo o Autor informado que tinha
uma cópia da chave com sua vizinha Sra. Gertrudes de Sousa, residente no 2.º andar
esquerdo, já indicada como testemunha nestes autos.
7.º
Assim o Autor, autorizou a recolha da chave da fracção junto a Sra. Gertrudes
de Sousa, para possibilitar a visita ao imóvel.
8.º
Posteriormente, o Sr. Pedro José Ribeiro deslocou-se ao local de trabalho da
Sra. Gertrudes de Sousa, e com ela obteve a Chave do Apartamento, tendo-a devolvido
dois dias depois.
9º
Afigura-se estranho que, pelo lapso de tempo de doze meses, a Ré Casa de
Sonho, na pessoa de seus representantes, não tivesse feito qualquer visita na fracção,
bem como não tomado posse da mesma de alguma forma.
10.º
Não houve, portanto, tomada de posse bem como nunca foram alterados os
contratos de fornecimento de água, electricidade, gás ou seguros referente a fracção.
11.º
O Réu, não conhece o Autor, não conhece e nem teve quaisquer contactos com
a Casa de Sonho ou seus representantes, não conhece nem nunca viu o Sr. Pedro José
Ribeiro, nem conhece e nem nunca viu o Sr. Mário Trigo, Gerente da Casa de Sonho.
12.º
Com efeito, o Réu teve intervenção como procurador na compra e venda da
referida fracção.
13.º
Para tal, foi procurado pelo Sr. Manuel Silva, que o procurara pelo facto do
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mesmo ter uma pequena Empresa, do ramo de Imobiliária, esclarecendo que a sua
imobiliária, estava aberta, mas não chegou a ser activada.
14.º
Que realmente não conhece o Autor, nem tão pouco os demais intervenientes,
participantes da referida transacção.
15.º
Que o referido Senhor Manuel Silva trouxe a procuração, já devidamente
elaborada, não sabendo quem a elaborou, e devidamente autenticada pelo advogado,
sem mesmo estar presente neste acto de autenticação.
16.º
Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados pareciam ser
verdadeiros, pelo que jamais poderia o Réu imaginar que se tratava de uma fraude ou
de um acto fraudulento.
17.º
Portanto, o mesmo não tinha conhecimento da real situação, pelo que agiu
com mera culpa no acto, que aceitou ser procurador, sem mesmo conhecer o
proprietário, somente confiando mediante os documentos, que lhe foi apresentado,
pois confiou, pensando se tratar de uma transacção lícita.
18.º
Não sabia, nem poderia imaginar, que a situação em causa poderia ser
fraudulenta, nunca pensou nesta hipótese, agindo portanto por mera culpa, ao aceitar
ser procurador do autor, confiando inteiramente em toda a documentação que lhe foi
apresentada.
19.º
No que concerne ao valor da venda do imóvel, nem imaginava se o valor era ou
não irrisório; aliás, em nenhum momento ficou a saber o valor da venda do imóvel no
mercado, não chegou a ir visitar o imóvel, por isso não tinha noção do preço real do
imóvel, pois o preço foi tratado entre a Casa de Sonho e o comprador, que também
não conhece.
20.º
Agiu por mero erro, não se dando conta que estava sendo envolvido num
negócio ilícito, só vindo a perceber o que acontecera, depois da notificação da Policia
Página 35 de 46
Judiciária.
21.º
Referente ao valor da venda, esclarece o Réu que não recebeu qualquer valor,
tendo o total da venda, sido pago à Casa de Sonho, não sabendo informar quem ficou
com o dinheiro da venda.
22.º
Em conclusão, não obstante a factualidade descrita, o pedido formulado pelo
Autor, deverá ser julgado totalmente Improcedente.
A Advogada
(assinatura)
CONTESTAÇÃO
Exmo. Senhor
Dr. Juiz de Direito das Varas Cíveis de Lisboa
1.º
A Ré tem fortes indícios de que, no negócio referido em 9° da P.I., foi
vítima de factos que constituem ilícitos criminais, nomeadamente de burla e
falsificação de documentos, estando este e outros negócios a ser investigados
pela Polícia Judiciária de Lisboa, correndo diversos processos de inquérito,
designadamente pelo MP de Almada, contra incertos, e em que as pessoas
envolvidas são comuns.
2.º
Por esse motivo, a Ré, que comprou de boa-fé, a confirmarem-se esses
factos, repudia o negócio, e confere ao A. a posse jurídica e de facto sobre o
imóvel em causa nesta acção.
Com efeito,
3.º
Por escritura de 29 de Maio de 2012, lavrada no Cartório Notarial da Dra.
Josefa Antonieta Varela, pelo preço de 120.000,00 €, a Ré, representada pelo
então gerente Mário Trigo, adquiriu a António João Almeida, solteiro, maior,
residente em 66 Boulevard des Fleurs, Paris, a fracção autónoma, destinada a
habitação, designada pela letra "E", correspondente ao 2° esq. do prédio urbano
em regime de propriedade horizontal sito na Rua Almeida Garrett, n.º 20, descrito
na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 444 e inscrito na matriz sob o artigo 888
(cfr. doc. n° 4 da P.l.).
4.º
Na escritura compareceu como procurador do vendedor, Daniel Costa,
Página 37 de 46
solteiro, maior, residente na Rua Dr. J o a q u i m Fernandes, n.º 2, r/c esq., 2640-
000 Mafra.
5.º
A procuração apresentada no acto e arquivada em anexo à escritura foi
outorgada no dia 25 de Maio de 2012, tendo sido reconhecida, autenticada e
registada no site da Ordem dos Advogados pelo advogado Dr. Marcelino da Silva
Gomes, portador da cédula profissional n.° 1234L (cfr. doc. n° 3 da P.l.).
6.º
A Ré pagou o referido preço, de 120.000,00 €, através de três cheques,
todos sacados, em 29-05-2012, a favor do procurador Daniel Costa, que foram
descontados (doc. n° 1).
7.º
Em face da actual crise do mercado imobiliário e da tendência de queda
que se vem acentuando desde há mais de três anos, o preço foi o adequado para
uma empresa que se dedica à compra e venda de imóveis para revenda dos
adquiridos para esse fim, já que foi assim que foi adquirido, e é o objecto social da
Ré, impugnando-se o artigo 54° da P.l.
8.º
Tal como em outros dois negócios, celebrados em 11-04-2012 e 17-07-
2012, o negócio foi apresentado ao então gerente da empresa, Mário Trigo, por
José Luisão, pessoa que era conhecida no ramo do sector da intermediação
imobiliária, por estar ligado à imobiliária PORTAS DO SOL.
9.º
No acto da escritura esteve igualmente presente o Senhor Miguel Mendonça,
segundo José Luisão, fora quem angariara o negócio, e estava ligado à PAINEL.
10.º
Para além de ter verificado toda a documentação inerente, Mário Trigo
deslocou-se várias vezes ao imóvel, acompanhado de José Luisão, que entrou nele
mediante a chave própria, tendo constatado que o mesmo estava mobilado.
11.º
No acto da escritura foram-lhe entregues pelo procurador e agentes
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pagou o preço, tendo ficado com a convicção de que fizera um negócio normal.
19.°
Porque em todos os negócios, agiu sempre de boa-fé, a Ré apresentou
queixa- crime contra incertos relativamente a d o i s negócios, sendo um deles o
que vem relatado nestes autos.
20.°
Toda a descrita situação causou à empresa, sócio e gerente graves
prejuízos de ordem patrimonial, pelo que já declarou na queixa-crime a sua
intenção de se constituir assistente e de deduzir pedido de indemnização cível.
TESTEMUNHAS:
VALOR: 147 640,00 €(cento e quarenta sete mil seiscentos e quarenta euros).
Pede deferimento
O Advogado,
(assinatura)
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CONTESTAÇÃO
Exmo. Senhor
Juiz de Direito das Varas Cíveis de Lisboa
1.º
Não sabe o R., nem tem obrigação de saber, se são verdadeiros, ou não, os
factos constantes da P.I., para além dos que se referem expressamente ao
contestante, os quais serão, caso a caso, impugnados, pelo que se consideram
impugnados para todos os efeitos legais.
2.º
O R. contestante nunca viu ninguém ligado à Casa de Sonho, nem nunca ouviu
falar em tal empresa, até ler o seu nome na P. I. que ora se contesta.
3.º
Tão pouco conhecia o procurador que lhe apareceu acompanhado por outra
pessoa que se identificou com um Bilhete de Identidade, datado de 17 de Julho de
2009, e no qual está colada a sua fotografia e aposta uma assinatura em tudo
semelhante à que foi, depois firmada na procuração e no documento de autenticação.
4.º
Donde, a serem verdadeiros os factos alegados pelo A., estaria o R. contestante
perante uma falsificação capaz de enganar um perito, ou quase.
5.º
O que não é o caso do R., ora contestante.
6.º
O R. não conhece ninguém ligado à sociedade Casa de Sonho e nunca tinha
visto o R. Daniel Costa, repete-se, e, se porventura o encontrar não se lembrará dele, e
não tem conhecimento de quaisquer processos similares.
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7.º
O R. mora no Estoril, não percebendo como o A. não logrou contactá-lo, pois
ninguém lhe deu qualquer recado.
8.º
Que necessariamente teria sido dado se alguém o procurasse.
9.º
Tendo o R. sérias dúvidas de que tal tivesse acontecido.
10.º
Sendo insultuoso, e completamente falso o que se alega no número 46º da P. I.
11.º
Desafiando-se, desde já, o A. a identificar os vizinhos que fazem tal afirmação,
sob pena de procedimento criminal por difamação.
12.º
O R. agiu de boa-fé, convencido de que, face ao Bilhete de Identidade que lhe
foi exibido, à fotografia nele inserta, que correspondia ao homem que se encontrava
na sua frente, e à assinatura constante no mesmo, igual à que foi firmada perante si,
tinha diante de si o A. da presente acção.
Nestes termos,
E demais de Direito,
Deve o R. ser absolvido dos pedidos, com todas as suas legais consequências.
O Advogado
(peça assinada digitalmente)
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DESPACHO
Por força do disposto nos art.º 306º, do Cód. Proc. Civil, e considerando o disposto nos
art.ºs 296º e 297º, do Cód. Proc. Civil, fixa-se o valor da ação no indicado pelo autor.
*
O Tribunal é competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia.
Não existem nulidades que afetem todo o processado.
As partes gozam de personalidade e de capacidade judiciárias e são legítimas.
Não há outras nulidades, exceções dilatórias ou questões prévias de que cumpra
conhecer e que obstem ao conhecimento do mérito da causa.
*
Objeto do litígio:
Na presente ação pretende-se indagar da (in)validade da procuração datada de
25.05.2012 e da venda da fração autónoma designada pela letra “E”, correspondente
ao 2º andar esquerdo do prédio urbano sito na Rua Almeida Garrett, n,º 20, em Lisboa,
celebrada por escritura pública de 29.05.2012.
*
Enunciação dos Temas de Prova:
1) Saber se as assinaturas manuscritas na procuração junta aos autos a fls. (…), onde se
lê “António João Almeida”, foram ou não apostas pelo punho do Autor;
2) Saber se, em 25 de maio de 2012, os 1.º e 3.º Réus e o legal representante da
sociedade Ré tinham conhecimento de que as assinaturas manuscritas onde se lê
“António João Almeida” referidas na procuração de fls. (…) não haviam sido apostas
pelo punho do autor;
3) Saber se, apenas em 10 de maio de 2013, António João Almeida teve conhecimento
do teor da procuração de fls. (…), de 25 de maio de 2012, e da escritura pública de
compra e venda de fls. (…), celebrada a 29 de maio de 2012;
4) Saber se, os dias de maio de 2013 que o Autor destinara a gozar a sua casa em
Lisboa e da companhia dos seus familiares e amigos, foram despendidos em
deslocações ao serviço de Finanças, ao notário em Lisboa, à residência dos Réus e à
Polícia Judiciária;
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O Juiz de Direito
(assinatura)
A Funcionária Judicial
(assinatura)
PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via profissional
Grelha de Correção
Nota:
A decisão judicial que a grelha disponibiliza reflete o que se afigura ser uma
abordagem correta, quer do ponto de vista de forma, quer do ponto de vista de
substância, em função das peças facultadas e dos dados do processo.
Outros tipos de abordagem, seja de forma, seja de substância, que se mostrem
razoáveis e plausíveis, e desde que se revelem suportados em fundamentos
consistentes, serão igualmente valorizados na precisa medida do respetivo mérito.
II - SANEAMENTO
III - FUNDAMENTAÇÃO
Factos provados
O DIREITO
Dos pedidos
Relativamente aos pedidos formulados no sentido da declaração da falsidade
da procuração e da nulidade da escritura de compra e venda, concluir que devem ser
acolhidos na totalidade quanto ao 1.º Réu Daniel Costa e à 2.ª Ré Casa de Sonho, Lda.,
mas com a retificação do erro na qualificação jurídica do efeito pretendido pelo Autor
(e que decorre da fundamentação supra expendida relativamente aos vícios em
causa), declarando-se antes a inexistência da procuração e a ineficácia do contrato de
compra e venda da fração “E” - cf. acórdão do STJ Uniformizador de Jurisprudência de
23.1.2001.
Referir o disposto no artigo 8.º do Código do Registo Predial, “A impugnação
judicial de factos registados faz presumir o pedido de cancelamento do respetivo
registo” e concluir que está implicitamente peticionado in casu o cancelamento do
registo, o que deve ser determinado.
Dos juros
Fazer uma referência à mora, que constitui o devedor na obrigação de reparar
os danos causados ao credor, correspondendo a indemnização, na obrigação
pecuniária, aos juros legais desde a constituição em mora (artigo 804º, nº 3, do Código
Civil), distinguindo os danos não patrimoniais, cuja contagem se processa desde a data
da sentença, tendo em consideração o acórdão do STJ Uniformizador de
Jurisprudência de 9 de maio de 2002, e os danos patrimoniais, cuja contagem dos juros
de mora deve correr desde a data da citação, ao abrigo do artigo 805.º, n.ºs 1 e 3, do
Código Civil.
Considerar aplicável ao cálculo dos juros a taxa legal em vigor até à data de 4%
ao ano, segundo o disposto no artigo 559.º, n.º 1, do Código Civil e na Portaria n.º
291/2003, de 8 de Abril.
Da responsabilidade tributária
No que concerne aos pedidos relacionados com os vícios da procuração e da
compra e venda de 29.5.2012 e o registo da aquisição do direito de propriedade a
favor da Casa de Sonho, Lda., referir que as custas são da responsabilidade do Réu
Daniel Costa e da Ré Casa de Sonho, Lda., por ambos terem ficado vencidos na causa,
em partes iguais (artigos 527.º, n.ºs 1 e 2 e 528.º, n.º 1, do Código de Processo Civil).
Relativamente ao pedido de indemnização civil por danos não patrimoniais,
mencionar que as custas ficam a cargo do Autor e do 1.º Réu, na proporção do
decaimento (artigo 527.º do Código de Processo Civil).
Em alternativa, no caso da condenação da notária:
Relativamente ao pedido de indemnização civil por danos não patrimoniais,
mencionar que as custas ficam a cargo do Autor, do 1.º Réu e da 4.ª Ré, na proporção
do decaimento (artigo 527.º do Código de Processo Civil), sendo a condenação em
custas dos Réus no regime da solidariedade (n.º 3 do citado artigo 527.º).
Quanto aos danos patrimoniais, tendo sido relegada para momento ulterior a
sua liquidação, referir que as custas ficam provisoriamente a cargo do Autor e do 1.º
Réu, na proporção de metade para cada um (artigo 527.º do Código de Processo Civil).
Em alternativa, tendo em consideração o facto 14, atribuir as custas
relativamente a todos os danos (patrimoniais e não patrimoniais) ao Autor e ao 1.º
Réu, na proporção do decaimento, ou no caso da condenação da notária, ao Autor, ao
1.º Réu e à 4.ª Ré, estes no regime da solidariedade (n.º 3 do citado artigo 527.º).
*
IV - DECISÃO
Registe e notifique.
*
Lisboa, (…)
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PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via Profissional
2.ª CHAMADA
HORA: 14H15M ( D E A C OR D O C O M O D I SP O ST O N O A R T . º 1 2. º D O
R E GU L A ME NT O I N TER N O D O C E NT R O D E E S TU D O S J U D IC IÁ R I O S, O T E M PO D E
D UR A Ç Ã O D A PR O V A I N IC IA - SE D E C OR R ID O S 1 5 M IN U TO S A P ÓS A HO R A
D ES I G NA D A )
IV – Para além dos mencionados em II-4, a referência aos factos provados, assim como
aos factos não provados, poderá ser efetuada por remissão para o(s) artigo(s) da(s) peça(s)
processual(is) a que respeite(m), caso não haja qualquer alteração de redação. Se o
candidato não pretender utilizar exatamente a redação dos artigos das peças processuais,
deverá redigir a que considere mais adequada.
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VI - Cotação: 20 valores
Fundamentação de Direito - 11,5 valores
Demais componentes estruturais da sentença – 8,5 valores
IX - Os erros ortográficos serão considerados negativamente: 0,25 por cada um, até
um máximo de 3 valores.
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Ex.mo Senhor
Juiz de Direito da
Instância Central – 2.ª Secção Cível de
PÓVOA DE VARZIM
5.º
E, no dia 14 de Outubro de 2014, a outra filha, Dália Silva Mateus, aqui 2ª Ré, repudiou a
herança de seu pai (vide doc. 7).
6.º
Acontece que em ambas as escrituras acima mencionadas se refere que as declarantes não têm
descendentes, o que não corresponde à verdade.
7.º
A declarante Dália Silva Mateus, 2ª Ré, tem dois filhos:
1º - Afonso Silva Mateus, nascido a 18 de Novembro de 1995 - vide doc. 8.
2ª - Catarina Mateus de Almeida, nascida a 29 de Setembro de 1998 – vide doc. 9.
8.º
E, a 1.ª Ré Carla Silva Mateus, tem um filho – Bernardo Mateus Gonçalves, nascido 27 de
Novembro de 1994 - vide doc. 10.
9.º
Pelo que todos os três netos acima indicados já eram nascidos nas datas dos repúdios das
heranças.
10.º
As Rés sabiam que os Autores Afonso Silva Mateus e Catarina Mateus de Almeida eram
filhos da 2.ª Ré, e que o Autor Bernardo Mateus Gonçalves era filho da 1ª Ré.
11.º
Por força do repúdio das respectivas heranças de suas mães, os netos, ora Autores, tornaram-
se, automaticamente, herdeiros do de cujus.
DA REIVINDICAÇÃO:
12.º
Na constância do casamento, a 3ª Ré e marido, António Mateus, adquiriram um imóvel -
moradia unifamiliar - sito na Rua Sousa Miranda, n.º 45, freguesia de Leça da Palmeira, concelho de
Matosinhos, com a descrição nº 3535 da freguesia de Leça da Palmeira e artigo matricial 0202 (vide
doc. 11 e 12).
13.º
Falecido o António Mateus, a partir desta data o imóvel em questão passou a integrar a
herança e a meação do cônjuge-sobrevivo, porque o prédio foi adquirido na constância do casamento,
celebrado sem convenção antenupcial.
14.º
A partir da data do óbito já não estava em causa o direito de propriedade sobre o prédio
urbano.
15.º
Página 7 de 38
26.º
Socorreu-se para isso de um indivíduo de nome Manuel Vilão, que se dizia advogado.
27.º
Que por se dizer bem relacionado com a banca, já havia sido intermediário em anterior crédito
hipotecário contraído pela 3ª Ré, a favor do Banco Amigo do Crédito, SA, em 15/10/2010.
28.º
Pretendendo, em 2016, contrair novo empréstimo nos mesmos moldes, foi confrontada no dia
da escritura, com um contrato de compra e venda do imóvel, sendo compradora a 4ª R.,
COMPRAIMÓVEIS - Compra e Revenda de Imóveis, SA., entidade com quem nunca havia
contactado.
29.º
Logo no acto da escritura a 3ª Ré se opôs aos moldes como o contrato estava redigido, uma
vez que a sua pretensão não era nunca a da venda do imóvel.
30.º
Interrompida a celebração do acto, foi afiançado pela representante da COMPRAIMÓVEIS,
SA e pelo intermediário Manuel Vilão, que se tratava apenas de uma venda aparente, uma vez que em
simultâneo iriam celebrar uma Promessa Unilateral de Venda, para que passado um ano o imóvel
voltasse para o nome da 3ª Ré, sendo o acréscimo de valor o correspondente aos juros a pagar pelo
empréstimo.
31.º
Nesse acto a Beatriz Mateus realçou que o imóvel era a casa de morada de família da própria e
dos seus três netos acima identificados, e que a mesma a todos pertencia, não podendo de forma
nenhuma pôr em causa essa habitação.
32.º
Aliás, se pretendesse vender o imóvel, nunca o faria por um valor tão baixo e irrisório, uma
vez que a vivenda vale bastante mais.
33.º
Sob forte pressão, foi-lhe novamente garantido, pela representante da 4ª Ré, que não havia
qualquer possibilidade de perder a casa, razão por que acabou por assinar os dois contratos que lhe
apresentaram.
34.º
Apesar de bem saber que Beatriz Mateus não pretendia, de todo, vender a casa, a 4ª Ré
registou a pretensa aquisição a seu favor, em 1/09/2016, antes ainda da celebração do negócio!
35.º
Contudo, atente-se que a fé pública do registo não determina a boa fé do adquirente que
regista. Não actua de boa fé quem sabe que os bens não pertencem ao vendedor, como também quem
age com desconhecimento assente em culpa grosseira dessa alienidade (v.g., face ao preço da venda
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dos bens, quando irrisório no confronto com o seu valor real) - Vide Ac. de 26 de Janeiro 2006 –
Tribunal da Relação do Porto.
36.º
Por outro lado, a presunção do art.º 7º do Cód. Registo Predial é uma presunção ilidível (art.º
350º, n.º 2 do Cód. Civil).
37.º
Ao ser nula a compra e venda, estamos perante a situação prevista no artigo 291º, nº2 do C.C.:
"Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a acção for proposta e registada dentro dos
três anos posteriores à conclusão do negócio".
38.º
Ou seja, antes de decorrido esse prazo, não se reconhecem os direitos de terceiro constituídos
sobre as coisas a restituir, mesmo que haja registo da aquisição anterior ao registo da acção de
nulidade ou anulação [Pires de Lima e Antunes Varela, em C.C. Anotado, I, 3ª ED/265].
39.º
Ora, desde já se pretende e requer registar a presente acção, onde se pede que seja:
a) Reconhecida a sua propriedade;
b) Declarada a nulidade da venda;
c) Seja restituído o bem à esfera jurídica dos Autores e da outra interessada, a Ré Beatriz;
d) Que seja ordenado o cancelamento do registo da venda nula, bem como dos posteriores
registos efectuados pelo adquirente, ou outros.
40.º
Estando perfeitamente em tempo para o fazer nos termos do disposto no artigo 291º, nº 2 do
C.C: registada pela 4ª Ré em 1/09/2016, a presente acção deverá ser registada até 31/08/2019.
DO DIREITO:
41.º
O Código Civil comina a nulidade da venda sempre que o vendedor careça de legitimidade
para a realizar.
42.º
Vide, ainda, sobre o mesmo objecto dos autos, os Ac. do Tribunal da Relação de Guimarães de
26 de Outubro de 2005; Tribunal de Relação de Porto, Acórdão 10 Novembro 2005: "Sendo assim, o
verdadeiro titular do bem, como principal interessado, também poderá invocar a nulidade da venda
feita sem legitimidade. [Neste sentido, Tribunal da Relação do Porto, Acórdão 26 Janeiro 2006]:
"Como principal interessado está o verdadeiro titular da coisa ilegitimamente vendida, que pode e tem
interesse em invocar a nulidade do negócio jurídico [Cfr. P. Romano Martinez, Contratos em Especial,
1996, pág 106/107, P. Lima/A. Varela, CC Anotado, II, 2a Ed., 168 - "ressalvados os desvios
apontados, o regime aplicável é o da nulidade ... pode, por conseguinte, ser invocada a todo tempo e
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por qualquer interessado ..."; GaIvão Telles, BMJ 83/127; Ac. STJ, de 1870272003, CJ/STJ/VI06. Em
sentido contrário, ver Menezes Leitão, ob. cit., 97, exceptuando "naturalmente no caso de ocorrer uma
aquisição tabular", como sucederia na situação do processo, como os recorrentes pretendem, ou
quando ali considere a alienação eficaz perante o verdadeiro proprietário].
Mas é inafastável que se trata do titular do direito vendido e, portanto, o primeiro interessado em ver
declarada nula a venda, até para afastar dúvidas ou aparências enganadoras quanto ao direito. "Para
além das acções de reivindicação e de restituição, pode ainda o titular do direito real invocar a
nulidade do contrato" [P. Romano Martinez, ob. cit., 107].
43.º
O art. 291º, nº 2 do C.C. é aplicável na presente acção, uma vez que os Autores vão proceder
ao seu registo antes de se passarem três anos sob a conclusão do negócio. Vide Ac. STJ, de
27/05/2005, na CJ/STJ/II/74: "Os recorrentes, mesmo que tenham actuado de boa fé, viam o direito
adquirido afectado pela nulidade, não podendo opor a aquisição e registo aos interessado na nulidade."
44.º
Os Autores são legítimos proprietários de parte indivisível do imóvel objecto dos presentes
autos (art. 1316º do C.C.), gozando, ainda, da presunção legal de titularidade do direito de
propriedade, detendo a posse, constituída pelo corpus e pelo animus (artigo 1251º e 1268º do Código
Civil) - Vide Ac. 17 de Junho de 2004, Tribunal da Relação de Lisboa, Proc. 3022/2004-8 (JusN t
3532/2004).
45.º
Pelo que têm legitimidade e cobertura jurídica para na presente acção pedirem, e verem
reconhecido, o seu direito de propriedade e subsequentemente a restituição do bem, com o
cancelamento de todos os registos que afectem e prejudiquem os seus legítimos interesses.
46.º
Conclui-se que o jus reivindicandi é a manifestação da supremacia universal do direito do
proprietário que, impondo-se erga omnes, determina a passividade dos restantes sujeitos jurídicos e a
reposição intrínseca da plenitude do gozo do objecto. Reconhecimento que aqui se apela e requer.
Espera Deferimento,
O Advogado,
Tobago Trinidad
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CERTIFICO
Que o presente documento está conforme o original e vai ser assinado
e autenticado com o selo branco.
Substitui a certidão de cópia integraI Assento de Óbito para fins
judiciais.
HABILITAÇÃO DE HERDEIROS
No dia quinze de Janeiro do ano dois mil e treze, no Oitavo Cartório Notarial do Porto, perante
mim, Maria Afonsina Esteves Graciosa, ajudante principal em exercício de funções, em vitude de a
respectiva notária Maria do Céu Fernandes Rocha se encontrar de licença por doença, compareceu
como outorgante:
Beatriz Silva Mateus, natural de Coimbra (Sé), Coimbra, viúva, residente na Rua Sousa
Miranda, n.º 45, Leça da Palmeira, em Matosinhos, portadora do b.i. n.º 000000 de 11/2/2003, emitido
pela D.G.R.N.- Serviços de Identificação Civil de Lisboa.
Verifiquei a identidade da outorgante pela exibição do respectivo bilhete de identidade.
E por ela foi declarado sob sua inteira responsabilidade:
Que intervém nesta escritura na qualidade de cabeça de casal da herança aberta por óbito de
seu marido, adiante referido, por lhe haver sido deferida nos termos o n.º 1, alínea a), do art. 2080.º do
Código Civil, cujo cargo foi por ela aceite.
Que no dia vinte e nove de Dezembro do ano dois mil e doze, no Porto, faleceu António de
Jesus Mateus, natural de São Pedro, Bragança, com a sua última residência habitual na Rua Sousa
Miranda, n.º 45, Leça da Palmeira, em Matosinhos, no estado de casado, em primeiras núpcias de
ambos (casamento a 14/01/1971) e sem convenção antenupcial, com ela outorgante Beatriz Silva
Mateus.
Que o falecido não outorgou testamento nem qualquer outra disposição de última vontade
tendo deixado como únicos herdeiros legitimários:
o cônjuge sobrevivo – Beatriz Silva Mateus, já identificado;
e suas filhas – Dália Silva Mateus, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, divorciada,
residente no Largo Santo Estêvão, n.º 46, 3ºDto., Santo Tirso; e
Carla Silva Mateus, natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, solteira, maior, residente
na Rua Francisco Silva, n.º 3, 4.ºEsq., Maia.
Que não há outras pessoas que, segundo a lei, prefiram às indicadas herdeiras ou quem com
elas possa concorrer na sucessão da herança do falecido.
Adverti a outorgante de que incorre nas penas aplicáveis ao crime de falsas declarações
perante oficial público se, dolosamente e em prejuízo de outrém, tiver prestado nesta escritura falsas
declarações.
Arquivo:
certidões de óbito e casamento do autor da herança;
certidões de nascimento das filhas herdeiras.
Foi esta escritura lida à outorgante e o seu conteúdo explicado, em voz alta.
Certifico que a presente certidão foi extraída da escritura exarada de folhas vinte e quatro
do livro de notas para escrituras diversas número Duzentos e Dois L, deste Cartório, sem
documento complementar.
Contém um folha, por mim rubricada.
Porto, quinze de Janeiro do ano dois mil e treze.
A ajudante,
Maria Afonsina Esteves Graciosa
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REPÚDIO DE HERANÇA
No dia vinte e oito de Setembro de dois mil e catorze, no TERCEIRO CARTÓRIO
NOTARIAL DO PORTO, perante mim, Maria de Lurdes Domingues Gonçalves, Primeira
Ajudante em exercício de funções, em virtude de o respectivo lugar de Notário se encontrar
vago, compareceu como outorgante:
CARLA SILVA MATEUS, solteira, maior, natural da freguesia de São Sebastião da
Pedreira, concelho de Lisboa, residente na Rua Francisco Silva, n.º 3, 4.ºEsq., na Maia, NIF
000000000.
Verifiquei a identidade da outorgante pela exibição do seu cartão do cidadão n.º 0000000 de
23/01/2013, emitido pelos Serviços de Identificação Civil de Lisboa.
PELA OUTORGANTE FOI DITO:
Que, pela presente escritura repudia a herança deixada por óbito de seu pai, ANTÓNIO DE
JESUS MATEUS, falecido em vinte e nove de Dezembro de 2012, no Porto, com última
residência habitual na Rua Sousa Miranda, n.º 45, Leça da Palmeira, em Matosinhos.
Que não tem descendentes.
ASSIM O OUTORGOU.
O imposto de selo cobrado é de trinta e cinco euros.
Esta escritura foi lida à outorgante e à mesma explicado o seu conteúdo, em voz alta.
A 1.ª Ajudante
Maria de Lurdes Domingues Gonçalves
Que a presente fotocópia, contendo uma folha, foi extraída da escritura exarada de folhas
quinze do livro de notas para escrituras diversas número Cento e Quatro M, deste Cartório,
e está conforme o original.
Porto, vinte e oito de Setembro de dois mil e catorze.
A 1.ª Ajudante,
Maria de Lurdes Domingues Gonçalves
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REPÚDIO DE HERANÇA
Que a presente fotocópia, contendo uma folha, foi extraída da escritura exarada de folhas
vinte do livro de notas para escrituras diversas número oitenta e dois J, deste Cartório, e
está conforme o original.
Porto, catorze de Outubro de dois mil e catorze.
O Ajudante,
Domnigos Gaspar
Página 19 de 38
CERTIFICO
Que o presente documento está conforme o original e vai ser assinado e autenticado com o selo branco.
Substitui a certidão de cópia integraI Assento de Nascimento para fins judiciais.
Conservatória do Registo Civil do Porto,
Escriturário, Edite Condeço
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CERTIFICO
Que o presente documento está conforme o original e vai ser assinado e autenticado com o selo branco.
Substitui a certidão de cópia integraI Assento de Nascimento para fins judiciais.
Conservatória do Registo Civil de Lisboa,
Escriturário, Celestina Antunes
Página 21 de 38
CERTIFICO
Que o presente documento está conforme o original e vai ser assinado e autenticado com o selo branco.
Substitui a certidão de cópia integraI Assento de Nascimento para fins judiciais.
Conservatória do Registo Civil do Porto,
Escriturário, Edite Condeço
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CERTIDÃO DE TEOR
PRÉDIO URBANO
IDENTIFICAÇÃO DO PRÉDIO
LOCALIZAÇÃO DO PRÉDIO
Av./Rua/Praça: Rua Sousa Miranda N.º: 45 LUGAR: Leça da Palmeira CÓDIGO POSTAL: 4450-656
MATOSINHOS
DESCRIÇÃO DO PRÉDIO
Tipo de Prédio: prédio em Prop. Total sem Andares nem Div. Susc. de utiliz. Independente
DADOS DE AVALIAÇÃO
Ano de Inscrição na matriz: 2001 Valor patrimonial atual (CIMI): €84.058,25 Determinado no ano: 2009
Mod 1 do IMI nº: 1186206 Entregue em: 2015/10/30 Ficha de avaliação nº: 1391700 Avaliada em: 2016/03/25
TITULARES
Morada: RUA SOARES DOS REIS, N 15, 3.º, SALA 5.2, MAFAMUDE, VILA NOVA DE GAIA.
Tipo de titular: Propriedade plena Parte: 1/1 Documento: ESCRITURA PUBLICA DE 2016/09/08
Entidade: CN MARIA ALICE RIBEIRO TEIXEIRA
O Chefe de Finanças
Ex.mo Senhor
Conservador da
Conservatória do Registo Predial de
Matosinhos
Beatriz Silva Mateus vem requerer a V.Ex.ª a rectificação do registo pedido pela AP 1
de 2014/01/27, no sentido de ficar a constar como única titular, pelo facto de os restantes
sujeitos activos não terem aceite a Herança por morte de António de Jesus Mateus, como se prova
pelas escrituras de repúdio juntas, e os mesmos não terem qualquer intervenção no pedido de
registo referido.
CERTIFICO
Que o presente documento está conforme o requerimento original apresentado
nesta Conservatória e vai ser assinado e autenticado com o selo branco.
Conservatória do Registo Predial de Matosinhos,
Escriturário, Elisa Henriques
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ARTIGO 1.º
Declarou a Primeira Outorgante é dona e legítima proprietária do prédio urbano destinado a habitação, com tudo
o que o compõe, sito na Rua Sousa Miranda, n.º 45, freguesia de Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos,
descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 3535 e inscrito na matriz predial respetiva
sob o n.º 0202.
ARTIGO 2.º
Pelo presente contrato a Primeira Outorgante promete vender à Segunda Outorgante, ou a quem esta indicar, o
prédio identificado no artigo anterior, pelo preço de 127.500,00€.
ARTIGO 3.º
A presente promessa é válida até ao dia sete de Setembro de dois mil e dezassete.
ARTIGO 4.º
I - A marcação do dia, hora, Cartório Notarial e local em que deverá concretizar-se a respectiva escritura pública
de compra e venda compete à Segunda Outorgante, devendo a referida escritura realizar-se até ao último dia
previsto no Artigo 3º.
II - A Segunda Outorgante deverá notificar a Primeira Outorgante do dia, hora e local em que se deverá
concretizar a competente escritura pública de compra e venda, por carta registada com aviso de recepção, com a
antecedência, mínima de quarenta e cinco dias, não podendo em qualquer caso a outorga da dita escritura
pública de compra e venda efectivar-se após a data do terminus da presente promessa, ou seja, até ao dia sete de
Setembro de dois mil e dezassete.
ARTIGO 5.º
1- Caso a Segunda Outorgante não proceda à marcação da escritura de compra e venda supra mencionada, nos
exactos termos previstos no artigo anterior, e nessa medida, não intervenha, nos termos e prazos acima descritos,
na outorga da mesma, os efeitos da presente promessa cessarão imediatamente, sem necessidade de qualquer
interpelação por parte da Primeira Outorgante.
2 - Na hipótese prevista no número anterior, a Segunda Outorgante não tem direito, seja a que título for, a
qualquer tipo de compensação por parte da Primeira Outorgante, a cuja reclamação judicial ou extra judicial,
desde já, renuncia.
ARTIGO 6.º
Sempre que existir qualquer alteração de domicílio, os outorgantes comprometem-se a avisar, reciprocamente,
por carta registada com aviso de recepção.
ARTIGO 7.º
O prédio urbano aqui prometido vender será transmitido livre de quaisquer ónus ou encargos.
ARTIGO 8.º
1- As despesas inerentes à transmissão da propriedade do prédio urbano identificado no artigo primeiro,
nomeadamente IMT, registos e escritura, serão por conta da Segunda Outorgante.
2 - O IMI devido durante a vigência do presente contrato, referente ao prédio urbano identificado no artigo
primeiro, será pago pela segunda outorgante à primeira outorgante no acto da escritura de compra e venda.
ARTIGO 9.º
Ambos os outorgantes declaram prescindir do reconhecimento presencial das assinaturas deste contrato e, bem
assim, renunciar ao direito de invocar a sua nulidade por omissão deste requisito.
A presente promessa unilateral de venda foi feita no Porto, aos 05 dias do mês de Outubro de 2016, foi elaborada
em dois exemplares de igual valor e depois de lido será assinado por todos os intervenientes, que declaram achá-
la conforme a sua vontade, ficando um exemplar na posse de cada um dos outorgantes.
A Primeira Outorgante:
António Pedro Teixeira Valente
A Segunda Outorgante:
Beatriz Silva Mateus
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CONTRATO DE COMODATO
PRIMEIRA: COMPRAIMÓVEIS - Compra e Revenda de Imóveis, S.A, NIPC: 000 000 000, com
sede na Rua Soares dos Reis, n.º 15, 3.º, sala 5.2, freguesia de Mafamude, concelho de Vila Nova de
Gaia, matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Vila Nova de Gaia sob o número
0000000, representada pelo presidente do conselho de administração António Pedro Teixeira Valente,
adiante designado por Primeira Outorgante;
SEGUNDA: Beatriz Silva Mateus, viúva, natural de Coimbra (Sé), Coimbra, residente na Rua Sousa
Miranda, n.º 45, Leça da Palmeira, em Matosinhos, NIF: 000 000 000, BI n.º 000000 de 11/2/2003,
emitido pelo SIC de Lisboa, adiante designada por Segunda Outorgante.
ARTIGO 1.º
Declarou a Primeira Outorgante é dona e legítima proprietária do prédio urbano destinado a habitação,
com tudo o que o compõe, sito na Rua Sousa Miranda, n.º 45, freguesia de Leça da Palmeira, concelho
de Matosinhos, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 3535 e inscrito
na matriz predial respetiva sob o n.º 0202.
ARTIGO 2.º
A Comodante empresta à comodatária, até ao dia sete de Setembro de dois mil e dezassete, o prédio
urbano identificado no artigo anterior.
ARTIGO 3.º
A Comodatária obriga-se a restituir à Comodante o prédio urbano emprestado, assim que decorra o
prazo mencionado na cláusula anterior.
ARTIGO 4.º
A Comodatária fica expressamente proibida de permitir a utilização (total ou parcial) emprestar ou por
qualquer outra forma ceder a terceiros o prédio urbano objecto do presente contrato.
ARTIGO 5.º
Fica expressamente estipulado que a Comodatária não pode, em circunstância alguma, estabelecer
quaisquer ónus e/ou encargos sobre o prédio urbano supra identificado, obrigando-se, ainda, avisar
imediatamente a Comodante, por carta registada com aviso de recepção, sempre que tenha
conhecimento que qualquer terceiro se arroga dos direitos sobre o aludido prédio urbano.
ARTIGO 6.º
Dada a natureza temporária deste contrato e a faculdade que a Comodante tem de exigir a restituição
do aludido prédio urbano, fixa-se desde já a cláusula penal de 100,00 € (cem euros), por cada dia de
atraso na referida entrega.
ARTIGO 7.º
A cláusula penal fixada no artigo anterior não obsta que a Comodante exija uma indemnização pelo
dano excedente.
Declaram as Primeira e Segunda outorgantes que aceitam o presente contrato de comodato, nos termos
acima exarados.
Lisboa, 08 de Setembro de 2016
A Primeira Outorgante:
António Pedro Teixeira Valente
A Segunda Outorgante:
Beatriz Silva Mateus
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Processo: (…)
Instância Central Cível – Juiz 2
Exmo. Senhor
Juiz de Direito
Espera Deferimento,
O Advogado,
Tobago Trinidad
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C. R. P. Matosinhos Informação em vigor Página – 2 -
www.predialonline.mj.pt 2016/11/15 11:02:15 UTC www.casapronta.mj.pt
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Ex.mo Senhor
Juiz de Direito da
Instância Central – 2.ª Secção Cível de
PÓVOA DE VARZIM
Processo: (…)
Instância Central Cível – Juiz 2
11 - Na verdade, o que a este propósito é contado na P.I. evidencia uma prática pensada e
orquestrada entre todos os lá referenciados, com contornos evidentemente criminais, destinada a
enganar algum incauto.
12 - E enganaram, pelo menos, os netos do Sr. António de Jesus Mateus, pois foi claramente
intenção da Sra. D. Beatriz e das suas filhas preterir os Autores relativamente à herança do falecido;
13 - De qualquer forma, apesar do esforço, e, reconheça-se, do talento evidenciado, a
estratégia desenvolvida não pode produzir os frutos pretendidos;
14 - É que o vendedor não pode opor a nulidade decorrente da venda ao comprador de boa fé;
15 - Ora, só por graça, podem os AA. dizer que a R. não foi um comprador de boa fé;
16 - Pois que, para que isso fosse verdade, era necessário que a R. tivesse tido conhecimento
da novela mexicana (de pendor trágico-cómico) que se descreve na P.I.;
17 - Ora, certamente ninguém acredita que uma sociedade cujo objecto é a compra e venda de
imóveis, sediada em Vila Nova de Gaia, e que adquire todos os anos centenas de imóveis estivesse a
par dos dislates familiares ali descritos;
18 - Na verdade, a R. limitou-se - como sempre - a verificar o descrito na certidão comercial
do prédio;
19 - Tendo constatado que a Sra. D. Beatriz Silva Mateus figurava como única proprietária do
prédio em apreço;
20 - Sendo certo que, na altura, nada indiciou aos legais representantes da R. que a vendedora
fosse mentirosa, desonesta ou tivesse qualquer outro defeito de carácter que a P.I. agora evidencia;
21 - Mas, pelo menos na óptica da R., mais grave que a epopeia familiar são as falsidades
vertidas na P.I. e que lhe dizem directamente respeito;
22 - A R. é uma sociedade conceituada e respeitada no mundo imobiliário;
23 - A R. tem por actividade exclusiva a compra e revenda de imóveis;
24 - A R. nunca emprestou nem empresta dinheiro a quem quer que seja;
25 - A R. não conhece, nem nunca ouviu falar em nenhum Manuel Vilão;
26 - Nem a R., nem qualquer colaborador da R. alguma vez pressionou a Sra. D. Beatriz
Mateus a vender o quer que fosse;
27 - Como facilmente se percebe, o que mais há por aí são bons imóveis para comprar;
28 - Mas faltaria que a R., para desenvolver o seu negócio, precisasse de pressionar quem quer
que fosse;
29 - A infâmia não tem limites;
30 - Foi a Sra. D. Beatriz Mateus que solicitou à R. que lhe permitisse readquirir o imóvel,
uma vez que estava ligada sentimentalmente ao mesmo, pelo menos assim - certamente mentindo,
alegou;
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31 - Ora, perante o dito pedido, a R. limitou-se a prever uma margem de rentabilização que
cobrisse a imobilização a que o imóvel iria ser sujeito, e continuar a nele habitar conforme o acordado,
permitindo que a Sra. D. Beatriz Mateus pudesse readquirir o imóvel durante o ano subsequente;
32 - É pois absolutamente falso tudo quanto se diz a esse propósito na P.I.
Termos em que:
Deve a presente acção ser julgada improcedente, por não provada
e, em consequência, absolver-se a R. do pedido.
Valor: o da acção
Junta: duplicados legais, procuração e documento comprovativo do pagamento da taxa devida.
Prova Testemunhal:
1ª- Ana Rita Costa Garcia, solteira, administrativa, com domicílio profissional na Rua Soares dos Reis,
n.º 15, 3.º, sala 5.2, Mafamude, Vila Nova de Gaia;
2ª- Sónia Maria Felicidade dos Santos, casada, jurista, residente na Rua Marechal Saldanha, n.º 147,
Porto.
O Advogado
Adamastor do Bojador
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DESPACHO
*
Dispensa de audiência prévia:
Ao abrigo do disposto no artigo 593.º, n.º 1, do Cód. Proc. Civil, e uma vez que a audiência
prévia se destinaria apenas às finalidades previstas nas alíneas d), e) e f) do n.º 1 do artigo
591.º, do mesmo diploma legal, dispensa-se a sua realização.
*
Saneamento:
O tribunal é competente em razão da matéria, da hierarquia e da nacionalidade.
Não existem nulidades que invalidem todo o processo.
As partes têm personalidade e capacidade judiciárias, são legítimas e encontram-se
devidamente patrocinadas por advogado.
Não existem quaisquer outras exceções ou questões prévias de que cumpra decidir e obstem
ao conhecimento do mérito da causa.
*
Objeto do litígio:
Na presente ação pretende-se indagar se deve ser reconhecido o direito de propriedade da
herança por óbito de António de Jesus Mateus sobre o imóvel sito na Rua Sousa Miranda, n.º
45, freguesia de Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos, livre de quaisquer ónus ou
encargos, em compropriedade com Beatriz Silva Mateus e sem determinação de parte ou
direito, com a consequente restituição do imóvel à esfera jurídica dos seus legítimos
proprietários.
*
Enunciação dos Temas de Prova:
1) Falsidade das declarações constantes das escrituras de repúdio e intenção das 1ª e 2ª Rés ao
produzir tais declarações;
2) O conhecimento das 1ª e 2ª Rés da qualidade de herdeiros dos Autores;
3) Intenção das 3ª e 4ª Rés ao celebrar a escritura de compra e venda do imóvel sito na Rua
Sousa Miranda, n.º 45, freguesia de Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos.
*
Prova:
Admito os róis de testemunhas constantes a fls. (…) e o documento junto a fls. (…), sendo
que as testemunhas serão a apresentar pela parte, caso não tenha sido requerida a sua
notificação tal como exige o artigo 507º, nº 2, do Cód. Proc. Civil.
*
Nos termos do disposto no artigo 155º, nº 1, do Cód. Proc. Civil, as audiências finais serão
sempre gravadas.
*
Designa-se o dia 20 de janeiro de 2017, pelas 9h30, para a realização da audiência final, sem
prejuízo do disposto no artigo 151.º, n.º 2, do Cód. Proc. Civil.
*
Póvoa de Varzim, 19 de dezembro de 2016
O Juiz de Direito
(assinatura)