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38.

º Curso de Formação para os Tribunais Judiciais

PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Via académica

2.ª chamada – 28 de outubro de 2021

Grelha de correção

As indicações tópicas constantes da grelha refletem as soluções que se afiguram ser as mais corretas para cada uma
das questões formuladas.

Porém, não deixarão de ser valorizadas outras opções, desde que plausíveis e alicerçadas em fundamentos
consistentes.

COTAÇÃO TOTAL DA PROVA 20 valores

Caso I – A

Ø Questão 1. Ø 2 valores
Ø Questão 2. Ø 6 valores

Caso I – B Ø 4 valores

Caso II

Ø Questão 1. Ø 4 valores: a) 2 valores; b) 2 valores


Ø Questão 2. Ø 4 valores
COTAÇÃO TOTAL DA PROVA (20 VALORES)

CASO I-A • Qualificar o contrato celebrado entre as duas sociedades como contrato de prestação
de serviços, sinalagmático e oneroso (artigo 1154.º do Código Civil).
QUESTÃO
1. • Face à qualidade das partes, ambas comerciantes por serem sociedades comerciais, e
aos fins visados com o almoço comemorativo, concluir que se trata de contrato
comercial (artigos 2.º, 2.ª parte e 13.º, 2.º, do Código Comercial).

QUESTÃO • A sociedade “Festas & Banquetes, Lda.” pretende o pagamento integral da retribuição
2. acordada, nos termos previstos nos artigos 1156.º e 1167.º, alínea b), do Código Civil.

• Enquadrar a situação no âmbito do cumprimento defeituoso do contrato por parte da


Autora, por existir uma desconformidade entre a prestação devida e a que foi realizada,
em medida relevante, considerado o quadro contratual intencionado pelas partes
(realização de um almoço comemorativo, em ambiente profissional e festivo, num
espaço adequado). Assim, concluir que a prestação devida pela Autora compreendia,
além do mais, a adequada climatização da sala, considerada a época estival em que o
evento teve lugar.

• Alegar que, nos termos do artigo 799.º, n.º 1, do Código Civil, o incumprimento se
presume culposo, incumbindo ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o
cumprimento defeituoso não procede de culpa sua.

• Analisar a questão da falha de energia à luz do conceito de caso de força maior,


considerando que este tem subjacente a ideia de inevitabilidade. Face aos dados do
enunciado, assinalar que a falta de energia verificada no momento da execução do
contrato não era um facto imprevisível, dada a frequência com que ocorria naquela
zona.

• A Autora, fornecedora de banquetes, não podendo evitar a sua ocorrência, podia e


devia ter evitado as suas consequências; tanto mais que dispunha de um gerador nas
suas instalações, que assegurava as situações de falha de eletricidade, mas que não
funcionou por estar há meses avariado.

• Concluir que, no caso concreto, os pressupostos atinentes ao caso de força maior não se
mostram reunidos, não podendo afastar-se o caráter defeituoso da prestação da
Autora.

• Considerada a relevância da data de realização do evento, concluir pela impossibilidade


parcial culposa da prestação a cargo da Autora, tendo a Ré aceite o cumprimento do
que foi possível (o legal representante da Ré e alguns convidados permaneceram até ao
final e levaram consigo a comida não consumida). Assim, tem a Ré a faculdade de
reduzir a sua contraprestação – artigo 802.º, n.º 1, do Código Civil.
• Quanto à redução da contraprestação, atender, por um lado, à natureza e à gravidade
do defeito da prestação da Autora, considerado o evento em concreto e o seu relevo
para a Ré (incluindo o facto de os convidados do almoço serem os seus principais
clientes e fornecedores); por outro lado, ao facto de o serviço ter sido parcialmente
prestado e a comida totalmente disponibilizada.

• Concluir pela viabilidade apenas parcial da pretensão da Autora.

CASO I-B • Face aos dados do enunciado, qualificar a outorga da procuração como ato de
atribuição de poderes de representação em juízo da sociedade (artigo 262.º, n.º 1, do
Código Civil e artigo 43.º, alínea a), do Código de Processo Civil).

• Assinalar que a sociedade “Festas & Banquetes, Lda.” se vincula, nos termos do seu
contrato e registo, pela assinatura de dois gerentes (artigo 252.º do Código das
Sociedades Comerciais) e que, nos termos do artigo 25.º do Código de Processo Civil, a
sociedade é representada por quem a lei, os estatutos ou o pacto social designarem.

• Considerar que a menção aos gerentes Manuel Sousa e Miriam Teixeira, no pacto social,
depõe no sentido de uma indicação nominal, pelo que, faltando a segunda por renúncia,
ocorreu a caducidade da cláusula do contrato que exige a assinatura dos dois gerentes
(artigo 253.º, n.º 3 Código das Sociedades Comerciais). Concluir, desse modo, pela
regularidade da procuração.

• Numa outra possibilidade de solução, qualificar a representação da sociedade em juízo


como ato de administração, próprio da competência dos gerentes (artigo 192.º, n.º 1
Código das Sociedades Comerciais ou artigos 985.º e 996.º do Código Civil), concluindo,
bem assim, que a procuração é regular.

CASO II • Assinalar que a prova deve ser apresentada com os articulados (artigo 552.º, n.º 6, do
Código de Processo Civil, quanto à petição inicial).
QUESTÃO
1. • Reconhecer que a lei admite, em sede de audiência prévia, a alteração do requerimento
alínea a) probatório e o aditamento ou alteração do rol de testemunhas (artigo 598.º, n.ºs 1 e 2,
do Código de Processo Civil).

• Aferir da possibilidade de ser apresentado rol de testemunhas na audiência prévia


quando com os articulados foi apenas indicada prova documental, tomando posição
sobre a questão.

• Qualificar este requerimento como uma alteração admissível do requerimento


probatório apresentado com a petição inicial (artigo 598.º, n.º 1 do Código de Processo
Civil).

alínea b) • Identificar e caracterizar o meio de prova verificação não judicial qualificada (artigo
494.º do Código de Processo Civil).

• Analisar os objetivos visados pelo requerente, concluindo que estes não se adequam ao
meio de prova requerido, mas antes se inserem no âmbito da prova pericial (artigos
388.º do Código Civil e 467.º e segs. do Código de Processo Civil), explicitando a
diferença entre estes dois meios de prova.

• Problematizar a possibilidade de o tribunal determinar, ao invés do requerido, a


produção de prova pericial, situando a questão na operatividade, dimensão e limites do
princípio do inquisitório, bem como no princípio da gestão processual (artigos 411.º e
6.º, n.º 1, do Código de Processo Civil).

QUESTÃO
2. • Qualificar estes meios de prova como provas pré-constituídas, enquadráveis no conceito
amplo de prova documental (artigo 362.º do Código Civil).

• Considerar, no que respeita às cópias de mails que, estando em causa comunicações


entre as partes, a sua junção não representa qualquer violação do sigilo de
correspondência, uma vez que nenhum elemento depõe no sentido do respetivo caráter
sigiloso (artigos 75.º, n.º 1, a contrario, e 78.º do Código Civil).

• Relativamente às cópias de mensagens de texto, trocadas entre a Ré e um terceiro, e


apresentadas sem autorização dos intervenientes, qualificar esta prova como prova
ilicitamente obtida, por ingerência nas comunicações (artigo 194.º do Código Penal).

• Identificar a problemática atinente à admissibilidade em processo civil de meios de


prova ilicitamente obtidos, à luz das teses defendidas pela Jurisprudência e pela
Doutrina, e em face da falta de previsão legal expressa. Tomar posição quanto à decisão
a proferir, em coerência com a fundamentação expendida.

• Relativamente à falta de assinatura, qualificar os mails e as mensagens de texto, em si,


como documentos eletrónicos (Decreto-Lei n.º 12/2021, de 9 de fevereiro e artigo 362.º
do Código Civil).

• Identificar e caracterizar as cópias de um documento eletrónico (artigos 3.º, n.º 11, do


Decreto-Lei n.º 12/2021, de 9 de fevereiro e 387.º, n.º 2, do Código Civil).

• Identificar a questão autónoma da assinatura de um documento eletrónico, as suas


diversas modalidades e valor probatório (artigo 3.º, n.ºs 2 a 5, 9 e 10, do Decreto-Lei n.º
12/2021, de 9 de fevereiro).

• Concluir que a circunstância de um documento não se mostrar assinado não constitui


fundamento de desentranhamento, relevando antes em sede de atribuição de valor
probatório (v. artigo 366.º do Código Civil).

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