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PROCESSO Nº TRT 0000439-24.2014.5.06.

0391 (RO)

ÓRGÃO JULGADOR : 3ª TURMA


RELATOR : DES. RUY SALATHIEL DE A. M. VENTURA
RECORRENTE(S) : CLARICE DE SÁ ANGELIM e EKT LOJAS DE DEPARTAMENTOS
LTDA. E BANCO AZTECA DO BRASIL S.A.
RECORRIDO (A) (S) : OS MESMOS
ADVOGADOS : CICERO LINDEILSON RODRIGUES DE MAGALHÃES e ANDRÉ
LUIZ LEITE RÊGO
PROCEDÊNCIA : VARA DO TRABALHO DE SALGUEIRO/PE

EMENTA: I - RECURSO ORDINÁRIO DOS RECLAMADOS. INTERMEDIAÇÃO


DE MÃO-DE-OBRA. ENQUADRAMENTO SINDICAL. BANCÁRIO. Emerge
com relativa clareza dos elementos de prova que o verdadeiro empregador da
demandante, aquele que lhe dirigia a prestação de serviços e que assumia os
riscos do empreendimento econômico, era o Banco Azteca, do qual a primeira
reclamada (EKT Lojas de Departamentos Ltda.) era simples longa manus,
instrumentalizada para o fim de formalizar contratação de mão-de-obra à
margem do que diz a lei. Isso é o quanto basta para definir-se o enquadramento
sindical da reclamante como bancária. Recurso não provido, no particular. II -
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. DIFERENÇAS DE COMISSÕES.
DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. Muito embora os reclamados hajam
alegado a correção no pagamento da parcela em discussão, no caso dos autos,
a prova tomada de empréstimo - inclusive aquela juntada pelos próprios réus -
deixa evidenciar o percentual remuneratório pago à autora e sua correspondente
base de cálculo, tendo a reclamante se desincumbido do ônus processual que
lhe competia a respeito das diferenças perseguidas (art. 818 da CLT), embora
estas não correspondam ao importe inicialmente requerido na exordial. Recurso
improvido.

Vistos etc.

Recorrem ordinariamente CLARICE DE SÁ ANGELIM, EKT LOJAS DE


DEPARTAMENTOS LTDA. e BANCO AZTECA DO BRASIL S.A., em face da decisão
proferida pelo MM. Juízo da Vara do Trabalho de Salgueiro/PE que julgou parcialmente
procedentes os pedidos formulados na reclamação trabalhista em epígrafe, nos termos da
fundamentação às fls. 322/341.

Foram opostos embargos de declaração pelos reclamados às fls. 343/343v, os


quais foram rejeitados pela sentença de fls. 356/356v, cujo teor culminou multa aos
embargantes por considerar a medida protelatória.

A reclamante, através das razões recursais às fls. 358/363v, insurge-se contra


parte da sentença que extinguiu, sem resolução de mérito, o pleito relativo às diferenças de
comissões, por considerá-lo inepto. Requer a nulidade da sentença no tocante ao aspecto.
Destaca que fora contratada para receber comissionamento no percentual de 0,7% sobre as
vendas realizadas, inclusive intermediações de operações de crédito, financiamento,
empréstimos e investimento para o banco reclamado. Ressalta que as Lojas Elektra e o Banco
Azteca faturavam, em média, 1,5 milhão de reais, nunca tendo recebido o percentual variável
efetivamente devido. Sustenta que os reclamados sucumbiram no encargo probatório que lhes
cabia ao não acostarem aos autos os mapas de vendas para que assim pudessem ser
verificadas as comissões a que faz jus. Pede a reforma do julgado para que os recorridos
sejam compelidos a pagar, além do salário fixo de bancário, as diferenças das comissões
quitadas a menor, levando-se em conta a média de vendas informada na exordial. Prossegue
em seus arrazoados defendendo a necessidade de majoração do quantum indenizatório
referente ao dano reconhecido pela jornada extenuante e assédio moral a que fora submetida.
Aponta que os modos administrativos dos réus feriram a sua dignidade, violando as normas
constitucionais. Reporta-se às ameaças de demissão comprovadas na instrução do feito e à
jornada extenuante praticada, análoga a de escravo. Cita jurisprudência e pugna pela análise
das violações aos arts. 1º, incisos III e IV; 5º, incisos V e X e 170, caput, todos da Constituição
Federal, uma vez que a ordem econômica está alicerçada também na dignidade humana e nos
valores sociais do trabalho. Por fim, pede provimento.

De outra banda, os reclamados, às fls. 365/375, não se conformam com a


condenação imposta pelo Juízo de primeiro grau. Suscitam, de início, a imprestabilidade da
prova tomada de empréstimo dos autos. Diz que os documentos referenciados não dizem
respeito à autora, porquanto sequer mencionam seu nome. Defendem que, desta forma, a
demandante não se desincumbiu do ônus pertinente às suas pretensões, razão pela qual deve
ser reformado o julgado hostilizado. Repisam a impossibilidade de se utilizar a prova
emprestada, pois não se pode assegurar que as condições de trabalho ali denunciadas são
similares ao caso destes autos. Refutam o enquadramento da autora na categoria profissional
dos bancários. Aduzem que não foram produzidas provas nos autos que demonstrem que a
obreira exercia atividade típica de bancário e alegam a ausência de conhecimento técnico
acerca das tarefas bancárias e financeiras Dizem não restar configurada a pessoalidade e a
subordinação (objetiva e subjetiva) em relação ao Banco Azteca. Ressaltam que as funções
desempenhadas pela autora se coadunam com o objeto social da EKT Lojas de
Departamentos Ltda. Citam a OJ nº 379 da SDI-1 do TST e aludem ao fato de que o labor em
atividade creditícia não é suficiente para transmudar a natureza da atividade para bancária.
Defendem que o enquadramento sindical do trabalhador define-se pela atividade econômica
preponderante da empresa e, em razão da EKT Lojas de Departamentos não integrarem a
categoria econômica dos bancos (instituições financeiras), não se pode atrair a incidência das
convenções coletivas dos bancários ao contrato de trabalho sub judice. Pedem aplicação
analógica da Súmula nº 239 do C. TST, alegando que o simples fato da autora realizar vendas
de eletro/eletrônicos já basta para o indeferimento do pedido de enquadramento sindical como
bancária. Perseguem a reforma do julgado para excluir os benefícios concedidos à autora,
previstos nas CCT’s dos bancários, a jornada de trabalho reduzida e as diferenças salariais.
Alternativamente, pugnam pela aplicação da Súmula nº 55 do C. TST, para que apenas seja
reconhecida à reclamante o direito à jornada reduzida, nos termos do art. 224 da CLT. Aludem
à necessidade de se excluir os pleitos baseados na norma coletiva porquanto a EKT Lojas de
Departamentos, real empregadora da demandante, não foi representada quando da lavratura
das normas negociais, conforme institui a Súmula nº 374 do TST. Com isso, pedem que sejam
excluídas as diferenças salariais para o piso dos bancários, auxílio-alimentação, PLR e multas
convencionais. Afirmam que a sentença merece ser reformada no tocante à forma de apuração
das diferenças salariais, eis que estas devem ser apuradas entre a soma de todas as parcelas
remuneratórias constantes dos holerites da trabalhadora (parte fixa + comissões) e o piso
salarial da CCT dos bancários, consoante aplicação, por analogia, da OJ nº 272 da SDI-1 do
TST. Insurgem-se os réus, ainda, contra a jornada fixada pelo Juízo de primeiro grau.
Argumentam que jamais a autora laborou até depois das 18h, fugindo da realidade o
depoimento da testemunha considerada. Defendem a correção dos registros de ponto os quais
não foram impugnados pela autora no seu prazo legal. Em virtude da obreira não fazer jus ao
enquadramento sindical como bancária, postulam pela fixação da jornada semanal em 44h e
acreditam que, com isso, não há falar em horas extras. Argumentam, mesmo considerando o
enquadramento sindical, que não podem ser condenadas ao pagamento de horas extras no
sábado em observância à Súmula nº 113 do Tribunal Superior do Trabalho. Citam doutrina e
jurisprudência. No que pertine às dobras dos domingos e feriados, sustentam a inépcia do
pedido inicial em razão da ausência de indicação específica de quais os dias foram trabalhados
nestas condições. Obtemperam, ainda, que a testemunha obreira não foi hábil a desconstituir a
validade dos cartões de ponto jungidos aos fólios, o que também autoriza a reforma da
sentença de origem. Quanto às diferenças de comissões deferidas, afirmam que o ônus
probatório pertencia à reclamante, haja vista tratar-se de fato constitutivo do direito postulado.
Não se conformam com a condenação no pagamento do valor de R$ 350,00 semanais a título
de diferenças, não se podendo determinar um patamar fixo para a apuração do título.
Esclarecem que a recorrida apenas não percebia as comissões quando não ultrapassava o
piso da categoria do comércio, motivo pelo qual há meses em que recebeu apenas a parcela
fixa. Ressaltam que não houve determinação judicial para a juntada de relatórios de
produtividade, não se podendo transferir o ônus da prova para o ente patronal. Destacam que
não há prova de que a demandante fazia jus à percepção de comissões sobre a garantia
estendida dos produtos, tampouco de que o faturamento dos recorridos era no patamar
indicado na exordial. Pedem, acaso seja mantida a condenação, que as diferenças sejam
apuradas pela média dos valores pagos, constantes dos contracheques e o valor
correspondente para o percentual alegado, fazendo-se uma “regra de três simples” para que se
chegue ao respectivo valor. Tecem arrazoados a respeito da inaplicabilidade da multa do art.
475-J do CPC ao processo do trabalho, defendendo a exclusão da referida penalidade do
condeno. Pretendem a exclusão da multa aplicada em sede de embargos de declaração, por
ter o Juízo a quo considerado a medida protelatória. Dizem não haver razão para a imputação
da penalidade, vez que não adotaram qualquer conduta processual reprovável. Impugnam a
condenação em danos morais no importe de R$ 2.500,00, justificando não haver prova do
alegado prejuízo ou mesmo do fato de que a autora sofria constantes ameaças para a
obtenção de metas. Dizem que admitir a indenização em favor da autora implica em fonte
injustificada de lucro, em vez de ressarcimento à dor sentida. Pugnam pela exclusão da
indenização e, alternativamente, pela sua redução, levando-se em conta a capacidade
financeira da obreira, a duração do contrato de trabalho e o salário percebido. Por fim, esperam
o provimento do apelo.

Contrarrazões apresentadas apenas pelos reclamados às fls. 380/388v.

O processo não foi enviado ao MPT, para emissão de parecer, ante a ausência
de obrigatoriedade (RI/TRT - 6ª Região, art. 50).

É o relatório.

VOTO:
PRELIMINARMENTE

Da arguição de não conhecimento do recurso obreiro, por ofensa ao


princípio da dialeticidade, suscitada em contrarrazões pelos réus

Os reclamados, em sede preliminar, apontam ofensa ao princípio da


dialeticidade, motivo pelo qual acreditam não ser possível o conhecimento do apelo obreiro.
Dizem que na fundamentação da peça de insurgência, não houve qualquer impugnação direta
aos termos da decisão recorrida.

Rejeito-a.

Da leitura da peça recursal em questão observa-se que os argumentos expostos


pela demandante coadunam-se com o teor da sentença, constando objeções específicas aos
fundamentos externados pelo MM. Juízo a quo, os quais embasaram o entendimento ali
firmado para não deferir os títulos na forma como guerreados.

A exemplo, cite-se a alegação que traduz tese diversa ao entendimento


esposado no referido decisum no que tange às diferenças das comissões, analisando a
reclamante as considerações adotadas pelo magistrado sentenciante no que diz respeito à
meta de vendas estipulada.

Desta feita, não verifico na hipótese em exame qualquer ofensa ao princípio


consagrado no art. 514, inciso II, do CPC.

Sendo assim, razão não há que autorize o acolhimento da preliminar suscitada.

MÉRITO

Considerando a prejudicialidade das matérias suscitadas, inverto a ordem de


apreciação dos apelos, passando a examinar, inicialmente, o recurso ordinário apresentado
pelos reclamados, cuidando, ainda, em analisar conjuntamente as questões coincidentes ora
arguidas pelos litigantes.

RECURSO ORDINÁRIO DOS RECLAMADOS

Da prova emprestada

Pedem o reconhecimento da imprestabilidade das atas de audiência juntadas


aos fólios, que sequer mencionam o nome da recorrida. Defendem que as provas emprestadas
não são hábeis para comprovar que a autora desempenhava atividades ligadas à dinâmica
operacional do banco ou mesmo que a demandante tinha controle de jornada no desempenho
de suas funções.

Pois bem.

Da análise da ata de audiência de fls. 290/291, verifico que tanto a reclamante,


quanto os reclamados, requereram a utilização de provas emprestadas e tal foi deferido pelo
Juízo.

Esses elementos probatórios devem ser considerados por ocasião da análise


dos pleitos recursais, juntamente com as demais provas constantes nos autos, para que a
Egrégia Turma apresente o seu livre convencimento motivado (art. 131 do CPC).

Não há razão para reconhecer, em abstrato, a imprestabilidade de qualquer


prova emprestada acostada.

Nada a prover.

Do vínculo empregatício, do enquadramento sindical e dos consectários


legais

Pedem os reclamados a reforma da sentença que enquadrou a recorrida na


categoria dos bancários e os condenou solidariamente ao pagamento de diferenças salariais e
pleitos convencionais (diferenças salariais para o piso dos bancários, auxílio-alimentação,
auxílio cesta-alimentação, 13º cesta-alimentação, PLR e multa convencional), além de ter
aplicado a jornada diferenciada dos bancários (art. 224 da CLT). Afirmam que não foram
produzidas provas orais ou documentais a fim de comprovar que a autora desempenhava
atividades típicas de bancário e nem se comprovou a pessoalidade e subordinação em relação
ao Banco Azteca. Alegam que o enquadramento sindical define-se em função da atividade
preponderante do empregador e que a EKT Lojas de Departamentos Ltda. não integra a
categoria econômica dos bancos. Defendem a inaplicabilidade das convenções dos bancários,
por força do previsto na Súmula nº 374 do C. TST. Por cautela, caso mantido o reconhecimento
do desvio de função para o mister dos bancários, pugnam que ela seja restrita à duração de
trabalho, na forma prevista na Súmula nº 55 do C. TST, de modo que sejam julgados
improcedentes os pleitos de diferenças salariais para o piso dos bancários, auxílio-alimentação,
auxílio cesta-alimentação, 13º cesta-alimentação, PLR e multa convencional.

Pois bem.

Na inicial, disse a autora que embora tivesse sido contratada para exercer a
função de vendedora de loja pela EKT Lojas de Departamentos Ltda. (1ª reclamada), na
verdade exercia suas atividades em prol do Banco Azteca (2º reclamado), intermediando
operações de crédito, financiamento, empréstimos e investimento, atendendo clientes para
abertura de contas e liberações de cartão de crédito.

A EKT Lojas de Departamentos, em sua defesa, negou a prestação de serviços


pela reclamante ao banco litisconsorte. Disse que a mesma não emitia TED; não atendia
clientes pessoa jurídica; não prestava suporte à operação de caixa; não prestava atendimento
ao Banco Azteca e não materializava atendimento a operação de câmbio.
O banco reclamado, por sua vez, negou a existência de qualquer vínculo
empregatício com a reclamante. Pediu sua exclusão da lide e invocou os termos da defesa de
mérito da EKT Lojas de Departamentos, asseverando que esta última é a empresa que detém
os elementos necessários para rebater todos os pedidos da lide.

A realidade descrita pela autora na peça de ingresso restou demonstrada na


instrução processual, a partir dos depoimentos colhidos nas atas de audiência tomadas de
empréstimo aos autos por iniciativa dos próprios réus (Processos nºs. 0000213-
19.2014.5.06.0391 e 0000217-5.2014.5.06.0391), de onde se extrai o seguinte:

Depoimento da 2ª testemunha da reclamante. SRA. JOCICLEIDE JOSENI


OLIVEIRA E SILVA (...) que a depoente fazia principalmente empréstimos,
mas também trabalhava com financiamentos, abertura de contas, cartões de
crédito da bandeira MASTER; que muito dificilmente vendia produtos da loja à
vista, pois eram orientados sempre a vender financiado; que tinha acesso ao
sistema do banco, lançava as fichas que tinham dados dos clientes e dos
empréstimos pretendidos, também faziam acompanhamento e tiravam extratos
dos clientes ; que o chefe de crédito e gerentes do banco autorizavam estes
empréstimos, o chefe de crédito e o gerente ficavam dentro da loja; que a
reclamante exercia as mesmas atribuições da depoente e também tinha acesso
ao sistema do banco;

Depoimento da 1ª Testemunha do(a) reclamante. SR(A). ALANICE MARIA


DOS SANTOS (...) que a depoente trabalhava vendendo móveis, empréstimos,
vendendo motos, só isso; que poderiam vender à vista, mas a loja queria mais
que vendessem financiado; que tinha acesso ao sistema do banco, abria para
poder lançar a ficha de empréstimos; que trabalhava com empréstimos e com
venda de produtos, os dois juntos; que o chefe de crédito do banco autorizava
estes empréstimos, o chefe de crédito ficava dentro e fora da loja; que a
reclamante exercia as mesmas atribuições da depoente e também tinha acesso
ao sistema do banco;

Nesse contexto, tem-se que o MM. Juiz singular solucionou a questão de


maneira adequada. Os depoimentos acima transcritos confirmaram as alegações exordiais a
respeito das atividades que compunham a rotina de trabalho da autora. Por decorrência,
confirmam também a própria causa de pedir da pretensão autoral, que se dirige ao
reconhecimento da vinculação empregatícia com o segundo réu e ao deferimento das parcelas
trabalhistas asseguradas à categoria profissional dos bancários (art. 333 do CPC c/c 818 da
CLT). De tais declarações se pode inferir, com clareza, que as atribuições da reclamante
abarcavam muito mais que a venda de eletrodomésticos e outros bens de consumo; elas
abrangiam atividades tipicamente atreladas à dinâmica das instituições bancárias, como a
captação de clientes e a concessão de empréstimos, exemplificativamente.

E mais. A tônica para definir-se o enquadramento da autora como bancária não


é a função que concretamente exercia, mas as atividades empresariais preponderantes de seu
empregador. E, no caso destes autos, o que se tem, na verdade, é uma espécie de imbricação
entre as atividades de uma e outra empresa integrantes do polo passivo. Difícil discernir onde
começa e onde termina a atividade de cada uma.

Outrossim, emerge com relativa clareza dos elementos de prova que o


verdadeiro empregador da demandante, aquele que lhe dirigia a prestação de serviços e que
assumia os riscos do empreendimento econômico, era o Banco Azteca, do qual a primeira
reclamada era simples longa manus, instrumentalizada para o fim de formalizar contratação de
mão-de-obra à margem do que diz a lei. Isso é o quanto basta para definir-se o enquadramento
sindical da reclamante.

Essa conclusão é a mesma a que chegou o Exmo. Des. Valdir Carvalho, quando
da análise de processo semelhante a este, que restou assim ementado:

RECURSO ORDINÁRIO. EKT LOJAS DE DEPARTAMENTO. EKT


SERVIÇOS DE COBRANÇA E BANCO AZTECA DO BRASIL. Evidenciam os
autos que as empresas EKT (Lojas de Departamento e Serviços de Cobrança,
respectivamente), foram criadas para servirem como longa manus do Banco
Azteca, o qual se utiliza dos empregados das primeiras para atingir seu fim
social, consistente na oferta de serviços e produtos de crédito bancário,
configurando-se, no caso, um verdadeiro amálgama empresarial, no qual não é
possível estabelecer onde termina uma empresa e começa a outra. De
ressaltar que, segundo depoimentos coligidos, havia até mesmo um só
departamento de recursos humanos responsável pelos empregados das três
empresas reclamadas. Observe-se que, dentre as tarefas executadas pelo
chefe de cobrança e crédito - função desempenhada pelo autor - encontra-se a
análise e definição da linha de crédito a ser concedido aos clientes do Banco
Azteca. Nada a reparar, portanto, com relação ao reconhecimento de vínculo
com a referida instituição financeira, nos moldes da Súmula 331, I, do TST: “A
contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o
vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho
temporário (Lei n.º 6.019, de 03.01.74).” Apelo improvido, no particular. (TRT
6ª Região - RO Nº 0075500-34.2009.5.06.0012 - 3ª Turma - Relator Des.
VALDIR CARVALHO - Publicado em 27/07/2012)

Assim, considerando a proeminência da figura do segundo reclamado, o Banco


Azteca, no contexto das relações empresariais reveladas nos autos, não há de ser outra a
conclusão senão a de que a reclamante ativava-se, na verdade, principalmente em seu
benefício. E a característica que tem o contrato de trabalho de ser um contrato-realidade exige
que a dissimulação da figura do real empregador seja corrigida por esta Justiça Especializada,
com arrimo na regra fundamental do art. 9º da CLT.

Esclareço que, para além do aresto citado, há vasta jurisprudência desta Corte
Regional a respeito de casos similares a estes, envolvendo, inclusive, as mesmas empresas.
Ilustrativamente, as seguintes ementas:

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO - EKT - LOJAS DE DEPARTAMENTO


LTDA. E BANCO AZTECA DO BRASIL S/A. - GRUPO ECONÔMICO -
CONTRATO DE CORRESPONDENTE BANCÁRIO - RESOLUÇÕES N.º
3.110/2003 E 3.954/2011 DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL -
AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO BANCO CENTRAL -
DESVIRTUAMENTO - TERCEIRIZAÇÃO FRAUDULENTA CONFIGURADA -
RELAÇÃO DE EMPREGO COM A INSTITUIÇÃO BANCÁRIA - ART. 9º DA
CLT - SÚMULA 331, I, DO C. TST. I - Ainda que o contrato de correspondência
bancária tenha observado os requisitos formais dispostos em Resolução do
Conselho Monetário Nacional, vigente à época em que firmado, impõe-se a
declaração de sua ilicitude e invalidade, quando demonstrada, pelo acervo
processual, a falta de autorização do Banco Central para a execução da
atividade e o desvirtuamento de seu objeto, com a prática de atividades
específica e predominantemente de cunho bancário, em face do tomador de
serviços e integrante do mesmo grupo econômico. Em tais condições, a
realidade que emerge do feito é, na verdade, de prática de ato ilícito, com o fito
de mascarar relação jurídica de emprego e de fraudar o cumprimento de
obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais, pois inadmissível
terceirização de serviços nesses moldes, por expressa limitação legal,
impondo-se ao julgador, desde que instado a tanto, obstaculizar o intento,
seguindo a exegese do artigo 9º da CLT e da Súmula 331, I, do C. TST.
(Processo nº 0001103-42.2011.5.06.0009. 1ª Turma. Des. Relatora: Valéria
Gondim Sampaio. Data publicação: 13/09/2013)

EMENTA: ENQUADRAMENTO SINDICAL. EMPREGADO DE EMPRESA


PRESTADORA DE SERVIÇOS. BANCÁRIO. Desempenhando o trabalhador,
por meio de empresa prestadora de serviços, atividades tipicamente bancárias,
visando o atendimento de atividade-fim de banco (tomador de serviços), deve-
se reconhecer o seu enquadramento sindical como bancário, sendo-lhe,
conseqüentemente, estendidas todas as garantias asseguradas à tal categoria
profissional. A subcontração de trabalhador por empresa interposta precariza a
relação de emprego e viola o princípio da isonomia (Constituição da República,
art. 5º), pois o empregado envolvido pela intermediação de mão de obra deixa
de receber o salário destinado aos empregados da empresa tomadora de
serviços e pulveriza a ação sindical. Recurso dos reclamados a que se nega
provimento. (Processo nº 0000544-31.2012.5.06.0145. 2ª Turma. Des. Relator:
Acácio Júlio Kezen Caldeira. Data publicação: 09/09/2013)

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO. VÍNCULO EMPREGATÍCIO


RECONHECIDO DIRETAMENTE COM O BANCO. DEFERIMENTO DOS
BENEFÍCIOS PREVISTOS NAS NORMAS COLETIVAS DOS BANCÁRIOS.
Restando indubitável que a reclamante laborava na atividade primordial da
instituição financeira demandada, deve ser declarada a nulidade do contrato de
trabalho firmado entre a reclamante e a primeira reclamada e reconhecer o
vínculo empregatício diretamente com o Banco Azteca do Brasil S.A, aplicando,
à hipótese, a regra prevista no art. 9º, da CLT e o entendimento consagrado na
Súmula nº. 331, I, do TST, bem como os benefícios previstos nas convenções
coletivas dos bancários. (Processo nº 0000863-71.2012.5.06.0121. 4ª Turma.
Des. Relatora: Nise Pedroso Lins de Sousa. Data publicação: 27/05/2013)

Por essas razões, acompanho o posicionamento do douto magistrado de


primeiro grau e mantenho a sua decisão quanto ao reconhecimento do vínculo empregatício
entre a reclamante e o Banco Azteca.

Como corolário, forçoso manter o enquadramento da autora como integrante da


categoria profissional dos bancários, do que decorre o deferimento necessário dos benefícios
que se assentam nas normas coletivas correspondentes, além da jornada reduzida nos moldes
do art. 224 da CLT.

Por decorrência lógica, rejeita-se a tese patronal de incidência restrita da Súmula


nº 55 da Corte Superior Trabalhista, porquanto a atividade desempenhada pela autora se
mostra como própria dos bancários, como visto, não correspondendo apenas às atribuições
atinentes aos financiários, como alegam os réus.

No mais, carece de interesse processual a argumentação da reclamada acerca


da forma de apuração das diferenças salariais, ao defender que estas devem ser obtidas entre
a soma de todas as parcelas remuneratórias constantes dos holerites da trabalhadora (parte
fixa + comissões) e o piso salarial da CCT dos bancários, consoante aplicação, por analogia,
da OJ nº 272 da SDI-1 do TST.

Isso porque deste modo já decidiu o magistrado singular, tanto que determinou a
observância das diferenças para o piso da categoria (“pessoal de escritório”) apenas a partir de
1º/9/2012, quando a remuneração dos bancários prevista na CCT respectiva superou a
remuneração então reconhecida para a obreira, entendida esta como sendo a totalidade das
comissões devidas (R$ 350,00 por semana). É o que se infere do tópico sentencial às fls.
329/330.

Nada há a prover, portanto.

Das horas extras

Os recorrentes perseguem a reforma da sentença no que tange às horas extras


deferidas. Insurgem-se contra a jornada fixada pelo Juízo de primeiro grau. Argumentam que
jamais a autora laborou até depois das 18h, fugindo da realidade o depoimento da testemunha
considerada. Defendem a correção dos registros de ponto os quais não foram impugnados pela
autora no seu prazo legal.

Sustentam, ainda, que não há razão para considerar como extra o labor após as
6h de trabalho diário, em virtude da obreira não fazer jus ao enquadramento sindical como
bancária, postulando a fixação da jornada em 44h semanais. Alegam, alternativamente, mesmo
que se considere o enquadramento sindical, que não podem ser condenadas ao pagamento de
horas extras no sábado, em observância à Súmula nº 113 do Tribunal Superior do Trabalho.

Vejamos.

Em sua peça de ingresso, a reclamante alegou que laborou de domingo a


domingo, das 07h30min às 21h, com intervalo para refeição e descanso de apenas 30 minutos.

Em resposta, a EKT Lojas de Departamentos refutou as alegações, asseverando


que a reclamante poderia laborar das 08h00min às 17h00min, das 09h00min às 18h00min ou
das 11h00min às 20h00min, a depender da época do ano, dispondo, em qualquer hipótese, de
duas horas para intervalo, em escala 6x1. Disse ainda que em eventual labor em dia dedicado
ao descanso, ou a folga compensatória foi concedida, ou o pagamento foi efetuado.

Na sentença ora vergastada, a questão relativa às horas extraordinárias foi


assim decidida, in verbis:

2.9. Pretensões relacionadas à jornada de trabalho

Sustenta a autora que era submetida a uma sobrecarga de trabalho, sem o


correspondente pagamento. Aduz, outrossim, que os controles de frequência
não refletem a jornada efetivamente cumprida.

O demandado reporta-se aos cartões de ponto, que, segundo ele, retratam,


com fidelidade, a real jornada laborada. Sustenta que eventuais horas extras
foram devidamente adimplidas.

O ônus de provar a inidoneidade dos cartões de ponto é do autor, na forma do


art. 818 da CLT.

Desse ônus a acionante se desincumbiu de forma satisfatória.

As testemunhas Cícera Silva Sá e Jocicleide Joseni Oliveira e Silva


informaram que a autora cumpria a jornada apontada na exordial.

Com base nesses relatos, reconheço que a autora laborava das 7h30 às 21h,
com trinta minutos de intervalo, todos os dias da semana, com uma folga
mensal (em atenção ao princípio da razoabilidade, por ser inacreditável que o
autor não tenha desfrutado uma folga sequer em dois anos de contrato).

A jornada ora fixada superava o limite diário de seis horas e o semanal de


trinta horas (art. 224, CLT). A alusão ao parágrafo segundo do dispositivo em
comento é descabida, pois a empregada não exercia cargo de confiança.

Por tais razões, acolhe-se em parte o pleito de adicional de 50% sobre as


horas extras (entre segunda-feira e sábado). Por habituais, tal contraprestação
salarial reflete nas férias acrescidas de 1/3, FGTS mais 40%, aviso prévio,
DSR e 13º salários, com fundamento nos arts. 142, § 5º, da CLT; 7º, alínea a,
da Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949; 15, caput, da Lei nº 8.036, de 11 de
maio de 1990; e 1º da Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962; e Súmulas nº 45,
63 e 172 do TST.

A autora era comissionista. Logo, somente é devido o adicional sobre as horas


extras, conforme a Súmula nº 340 do TST.

As horas extras verificadas nos sábados obviamente serão apuradas, não


sendo o caso de aplicação do entendimento contido na Súmula nº 113 do TST
e tampouco da prescrição contida na cláusula oitava, parágrafo primeiro, da
CCT, que atine à repercussão das horas extras nos sábados, quando se
verificar a prestação de serviços apenas entre segunda e sexta-feira.

De fato, em se tratando de controvérsia envolvendo jornada de trabalho,


depende a apreciação da matéria de documento essencial a cargo do empregador - cartões de
ponto - por imperativo legal. Incidência do §2º do art. 74, combinado com o art. 2º, ambos da
Consolidação das Leis do Trabalho.

É de se ressaltar que, a teor do art. 400, inciso II, da Lei Adjetiva Civil, fonte
subsidiária no Processo Trabalhista, o juiz está autorizado, inclusive, a indeferir a inquirição de
testemunhas sobre fatos que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.

A determinação de apresentação dos cartões de ponto restou consignada nas


notificações de fls. 120/121 e na ata de audiência às fls. 123, porém, os reclamados - que
contam com mais de dez empregados - a despeito do que alegam, não carrearam aos autos
tais documentos, de modo que, presume-se correta a jornada declinada pela demandante, em
sua inicial (Súmula nº 338 do TST).

É bem verdade que a presunção daí advinda é relativa, admitindo, portanto,


prova em contrário, além da possibilidade do magistrado, verificando os demais elementos de
prova existentes nos fólios, fixar jornada diversa daquela inicialmente apontada, à luz do art.
131 do CPC. E assim acertadamente fez o juiz singular, ao considerar os depoimentos
carreados aos fólios. Senão vejamos (fls. 295 e 298):

Depoimento da 2ª testemunha da reclamante. SRA. JOCICLEIDE JOSENI


OLIVEIRA E SILVA, que a depoente não tinha folga, trabalhava de domingo a
domingo, bem como em todos os feriados, sem qualquer folga compensatória;
que entrava às 7:30h e saía às 21h, sem intervalo de almoço, almoçava na
loja, em 20 minutos;

Depoimento da 1ª Testemunha do(a) reclamante. SR(A). ALANICE


MARIA DOS SANTOS (...) que a depoente não tinha folga, trabalhava de
domingo a domingo, bem como em todos os feriados, sem qualquer folga
compensatória; que entrava às 7:30h e saía às 21h, almoçava na loja, em 30
minutos; que não podia almoçar em casa;

No mais, observa-se que o depoimento da testemunha patronal no Processo nº


0000213-19.2014.5.06.0391, Sra. Robéria Carneiro da Silva (fls. 296), ao indicar os horários
dos turnos de trabalho existentes no âmbito da primeira reclamada, trouxe aos autos
informações conflitantes em relação aos termos da própria defesa apresentada.

À vista dessa constatação, devidas as horas extras nos moldes deferidos,


observada a jornada relativa à categoria dos bancários (art. 224 da CLT), consoante já
assentado.

Não prospera, por fim, a pretensão dos recorrentes no sentido de que inexistem
horas extras a quitar em relação ao labor nos dias de sábado, devido à interpretação que
conferem à Súmula nº 113 do TST, uma vez que há na convenção coletiva aplicada ao vínculo
em exame a previsão de que se considera o sábado como dia destinado ao repouso (vide
cláusula 8ª, §1º da CCT às fls. 63).
Nego provimento.

Das dobras de feriados e domingos

No pertinente às dobras de domingos e feriados, pedem os reclamados a


exclusão da condenação. Primeiro pela inépcia do pedido, pois não foram especificados ou
individualizados dias respectivos na peça de ingresso. Por outro lado, alegam que a prova
testemunhal não especificou, nem declinou qualquer feriado, o que também leva à
improcedência do pedido.

De pronto, diga-se não possuírem os réus interesse recursal quanto às dobras


de feriados. É que o Juízo primeiro deixou de apreciar a pretensão obreira no tocante a
questão, inexistindo condenação neste sentido.

Já quanto aos domingos reconhecidos, consistia encargo das rés, nos termos do
art. 818 da CLT e art. 333, inciso II do CPC, o onus probandi quanto à ausência de trabalho em
tais dias ou, acaso existente tal condição, a comprovação do regular pagamento ou da
compensação, já que esta última também foi alegada como fato obstativo do direito reclamado.

Assim não procedendo os recorrentes e, repita-se, ausentes nos autos outras


provas suficientes ao afastamento da jornada arbitrada também quanto aos domingos, correta
a sentença que deferiu o pedido obreiro.

Nada a reformar.

Das diferenças de comissões (análise conjunta)

Considerando que tanto os reclamados, quanto a reclamante perseguem a


reforma da sentença no que tange à matéria epigrafada, passo à apreciação conjunta das
razões de ambas as partes, em homenagem ao princípio da economia processual.

Os reclamados afirmam, em síntese, que o ônus probatório de demonstrar as


diferenças de comissões porventura impagas pertencia à reclamante, haja vista tratar-se de
fato constitutivo do direito postulado.
Por sua vez, a reclamante manifesta, de início, a sua discordância quanto à
extinção “sem resolução de mérito” do pedido de diferenças de comissões. Afirma, inclusive,
que a sentença é nula por este motivo e que não há que se falar em inépcia da petição inicial
no que tange a esse tema. Mais adiante volta a sustentar que foi contratada para receber
comissionamento de 0,7% sobre as vendas realizadas e diz que as Lojas EKT/Banco Azteca
faturavam, mensalmente, o total de R$ 1.500.000,00. Argumenta que era ônus das empresas
reclamadas trazer aos autos os seus mapas de vendas, para que ficasse comprovada a dívida
quanto às diferenças de comissões, o que, todavia, não foi feito.
À análise.
Ab initio, constata-se o equívoco da reclamante ao aludir à inépcia da inicial e à
extinção do pedido sem resolução de mérito, pois tal não ocorreu, como é evidente. A questão
foi enfrentada meritoriamente pelo magistrado singular. Mas, considerando o teor da
argumentação tecida no apelo, é possível enfrentá-la, pois parte dos argumentos se conectam
com o que restou decidido na sentença.

Desde a inicial, postula a autora o pagamento de diferenças de comissões,


asseverando que, contratada com a remuneração a base de 0,7% de comissões sobre as
vendas realizadas, não percebia tal percentual sobre as operações de crédito, financiamento,
empréstimos e investimentos que captava ao prestar seus serviços ao banco reclamado, o qual
já fora reconhecido como seu real empregador.

Em contrapartida, as empresas apresentaram defesa confirmando o fato de que


a autora fora contratada como comissionista pura, percebendo remuneração correspondente a
0,7% das vendas de produtos realizadas, esclarecendo, entrementes, que não incidia o dito
percentual sobre a intermediação de operações de crédito, financiamentos, empréstimos,
investimentos, abertura de contas correntes e poupanças (fls. 136). Com isso, rechaçaram
quaisquer diferenças de valores devidas.

A primeira reclamada explicou, ainda, que semanalmente era adiantado aos


empregados uma proporcionalidade com relação ao piso da categoria profissional, o que
redundava no pagamento de R$ 116,00. Ao final do mês, prosseguiram, esses valores eram
compensados, acaso as vendas (entenda-se: comissões sobre vendas) superassem o piso.
O contrato de trabalho anexado aos autos, do mesmo modo, traz a explícita
previsão de que a remuneração da obreira se daria exclusivamente à base de comissões (fls.
180, especificamente). Trata-se, a toda evidência, de fato incontroverso.
Portanto, a reclamante era remunerada por comissões, sendo-lhe garantido,
como manda a CLT, o pagamento do piso salarial de sua categoria, na hipótese de os
percentuais sobre as vendas não chegaram a o alcançar.
O Juízo a quo, apreciando as questões postas na lide, cuidou em deferir
parcialmente o pedido obreiro, utilizando-se, para tanto, dos seguintes fundamentos:

2.8. Diferenças das comissões

Os litigantes convencionaram, a título de remuneração, o pagamento de


comissão de “0,70% por atingir as metas de cobranças e vendas de novos
negócios da EMPREGADORA”, de acordo com a cláusula quarta do contrato
de trabalho.

Segundo a prova emprestada, a meta semanal de vendas era de R$


50.000,00, a qual era atingida.

Logo, a empregada devia auferir R$ 350,00 por semana e não a importância


quitada pelo empregador.

Devidas, portanto, as diferenças postuladas no item 4 do rol de pedidos, assim


como os reflexos nas seguintes parcelas: férias acrescidas de 1/3, FGTS mais
40%, aviso prévio, 13º salário e DSR.

A escorreita base salarial será considerada no cômputo dos demais títulos


trabalhistas deferidos neste julgado.
Inexistem no ordenamento jurídico verbas “interdiárias” (sic).

Durante a vigência da CCT de 2011/2012 o salário (devido) da autora


superava o piso normativo.

Com o advento da convenção de 2012/2013 o piso do “pessoal de escritório”


passou para R$ 1.519,00 (aplicável à autora, eis que contava com mais de
noventa dias de tempo de serviço).

Logo, a partir de 1/9/2012 a importância mencionada no parágrafo


antecedente deve ser observada, sendo devidas as diferenças salariais
pugnadas.

A providência requerida no tópico 5 revelou-se desnecessária, eis que a prova


testemunhal elucidou o fato que se buscava provar por meio de documentos.

Não merece reparo o decisum.

No caso dos autos, a prova tomada de empréstimo - inclusive aquela juntada


pelos próprios réus - deixa evidenciar que aos empregados lotados na loja de Salgueiro/PE,
onde também laborou a reclamante destes autos, era imposta uma meta de venda semanal no
importe de R$ 50.000,00, a qual comumente era atingida por todos os funcionários. Também
restou comprovado que estes mesmos empregados percebiam semanalmente o valor de R$
116,00 (o que foi ratificado pelos demandados), pelo que denunciaram que jamais receberam
corretamente as comissões acordadas.

Com isso, tem-se como comprovado o percentual remuneratório e sua


correspondente base de cálculo, tendo a reclamante se desincumbido do ônus processual que
lhe competia a respeito das diferenças perseguidas (art. 818 da CLT), embora estas não
correspondam ao importe inicialmente requerido na exordial.

Registro que, sendo devidas as diferenças de comissões pretendidas, as


diferenças salariais para o piso da categoria dos bancários, por sua vez, devem ser
quantificadas considerando-se devidamente o crédito referente às comissões, para o fim de
evitar-se o bis in idem, nos moldes do que diz a OJ nº 272 da SDI-1 do TST, o que já restou
consignado na sentença revisanda.

Com essas considerações, nego provimento a ambos os pedidos recursais.

Da multa do art. 475-J do CPC

Buscam os reclamados excluir do condeno a aplicação da multa prevista no art.


475-J do CPC.

Acerca da questão, constata-se que a sentença fustigada determinou a


incidência da referida multa, na hipótese de não haver o pagamento espontâneo da dívida no
prazo de 15 dias após a citação.
Com as vênias de praxe, penso de modo diverso.

Dispõe o art. 475-J, inserido na Lei Adjetiva Civil, por meio da Lei nº
11.232/2005, in verbis:

“Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em


liquidação, não o efetue no prazo de quinze (15) dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei,
expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”

A execução trabalhista é disciplinada pela CLT, utilizando-se, em caso de


omissão, inicialmente de dispositivos da Lei dos Executivos Fiscais (Lei nº 6.830/80), por
autorização expressa contida no art. 899 do Diploma Consolidado. Posteriormente, na hipótese
de permanecer a omissão, deve-se utilizar das regras do CPC (art. 1º, da Lei nº 6.830/80),
desde que compatíveis com o processo do trabalho e somente aplicadas subsidiariamente.

Portanto, a multa prevista no art. 475-J, caput, do CPC, não é aplicável, de forma
subsidiária, ao processo do trabalho, uma vez que inexiste omissão na CLT sobre a matéria,
onde é prevista como penalidade, em seu art. 880, apenas a penhora de bens do executado
quando este não satisfaz voluntariamente a obrigação imposta no título judicial e nem garante a
execução.

Desta feita, dou provimento ao apelo para excluir da condenação a multa do art.
475-J do CPC.

Da multa por embargos protelatórios

Insurgem-se os reclamados diante da condenação ao pagamento da multa de


0,5% por embargos protelatórios, assegurando que apenas se utilizaram do remédio jurídico
previsto na legislação vigente.

Analisando-se o feito, verifica-se que os demandados, sob o pretexto de


omissão, interpuseram embargos de declaração nos quais se limitaram a postular pelos
esclarecimentos a respeito da anotação da CTPS e indicação das verbas de natureza salarial
deferida, para fins previdenciários.

Data venia do entendimento exarado pelo Juízo de origem, não vislumbro


intenção protelatória por parte dos reclamados ao utilizar o referido remédio jurídico, não
importando ofensa ao disposto no art. 538, parágrafo único, do CPC, razão pela qual afasto a
cominação da multa em apreço.

Dos danos morais (análise conjunta)


O Juízo de origem deferiu o pagamento de indenização no valor de R$ 2.500,00,
a título de danos morais, tendo em mente como fatos ensejadores do prejuízo imaterial sofrido
a proibição dos funcionários adquirirem as mercadorias comercializadas pelos réus e as
constantes ameaças de demissão e ostensivas cobranças de metas. Eis excerto do julgado:

(...)

No caso dos autos, sustenta a demandante que sofreu danos morais em razão
de ter sido submetida a diversas situações degradantes no ambiente de
trabalho.

Com relação à jornada de trabalho, malgrado a empregada tenha se sujeitado


a uma sobrecarga de labor sem a devida contraprestação, tal condição
desfavorável não teria o potencial de acarretar algum prejuízo de ordem moral.

Não provoca dano dessa ordem o empregador que consulta, junto ao


SERASA, se o contratado está inscrito na lista de inadimplentes do citado
órgão.

A Lei nº 9.029, de 1995, proíbe tão somente a adoção de qualquer prática


discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou sua
manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação
familiar ou idade.

Assim, a discriminação vedada por lei é aquela decorrente da condição da


pessoa e não da conduta da pessoa, enumerando taxativamente as condições
pessoais que não podem servir de base restritiva do exercício do direito em
tese, isto é, os motivos que não podem ser levados em consideração como
diferenciadores em um processo seletivo.

A prática adotada pelo acionado não se identifica com as hipóteses de


discriminação preconceituosa enumeradas e vedadas pelo legislador.

Com efeito, não se pode retirar do empregador o direito de separar e escolher


para o seu serviço, dentre os candidatos que se apresentem, aqueles que são
portadores das qualificações técnicas necessárias e cuja conduta pessoal não
se desvia da normalidade.

Os serviços de proteção ao crédito (SPC e SERASA), assim como os registros


policiais e judiciais existem exatamente para serem consultados pelos
interessados e as sondagens formuladas não representam invasão da
intimidade ou da vida privada, uma vez que os dados contidos nesses
cadastros não estão adstritos àquelas esferas.

Importante salientar que a própria Administração Pública, em praticamente


todos os processos seletivos que promove, exige dos candidatos, além do
conhecimento técnico pertinente, inúmeros comprovantes de boa conduta e
reputação. Assim, não é sensato proibir que o empregador tenha acesso a
cadastros públicos, como instrumento de melhor selecionar candidatos às
suas vagas de emprego, mesmo porque todos estes cadastros detém
natureza pública, de acesso irrestrito a qualquer interessado, salvo as
exceções legais.
A proibição de o empregado adquirir mercadorias do empregador a
prazo, fato comprovado pela prova testemunhal, constitui injustificada
medida discriminatória, que viola a honra e dignidade do trabalhador.

Se essa vedação é direcionada a um grupo específico de clientes,


entretanto, a honra atingida naturalmente não é a do empregado.

Assim, há dano moral somente em relação à medida restritiva


direcionada aos empregados.

Norma interna do empregador que determina que o ingresso em determinado


ambiente deva se dar com acompanhante tem por escopo resguardar o
patrimônio da empresa e garante que o empregado não seja injustamente
acusado de subtrair algum bem daquela, conduta patronal que se revela lícita.

A obrigação de realizar vendas externas (“cambaceo”) obviamente não agride


qualquer bem extrapatrimonial do trabalhador.

Ameaças constantes de dispensa e cobranças ostensivas para que as


metas sejam atingidas, práticas adotadas pelo réu, certamente provocam
lesão ao recato da trabalhadora.

Imperiosa, por conseguinte, a responsabilização dos acionados pelo prejuízo


suportado pela vítima, devendo lhe pagar uma indenização ora fixada em R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), em atenção às condições dos litigantes,
extensão e repercussão dos danos. (destaquei)

Os litigantes apresentam em seus apelos razões para a modificação do julgado


no tocante à questão, motivo pelo qual passo a examiná-las conjuntamente.

A reclamante persegue a majoração da indenização arbitrada e, para tanto,


apresenta arrazoados que reforçam a tese da ocorrência do assédio moral, em virtude das
ameaças de demissão e persegue a majoração do valor deferido justificando o excesso da
jornada praticada, embora sobre este aspecto o juiz sentenciante tenha indeferido a pretensão.

Já os reclamados refutam a condenação argumentando, tão somente, a respeito


das ameaças de demissão e cobrança de metas, justificando que nenhuma ilicitude foi
verificada no curso do contrato de trabalho. Silenciaram, contudo, a respeito da motivação para
o deferimento da verba indenizatória pertinente à proibição de vendas de mercadorias aos
funcionários, razão pela qual, sobre este aspecto, tornou-se imutável a decisão fustigada.

Com isso, embora os limites iniciais da lide apontem outras causas de pedir no
que diz respeito aos danos morais perseguidos, os parâmetros recursais de apreciação hão de
cingir-se ao alegado assédio moral e à submissão à jornada extenuante.

Analiso.

A indenização por dano moral é a forma de “(...) o Direito resguardar os atributos


do ser humano, sancionando atentados à individualidade de cada um, à dignidade de cada
qual, a ao respeito de que todos são merecedores (...)” (João de Lima Teixeira Filho,
“Instituições do Direito do Trabalho”, Ltr., 2005, p.629). Em outras palavras, seria a
representação, materialmente realizável, da compensação pelo sofrimento, por sensações
dolorosas abstratas, atinentes ao intelecto de cada pessoa.
Somente é cabível cogitar de indenização por dano moral quando o empregador,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, causar prejuízo ao empregado,
conforme se deflui dos arts. 186 e 927 do Código Civil, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Para a comprovação do dano moral é necessária a caracterização da prática do


ato ilícito ou culposo do agente, nexo causal e o prejuízo, sendo da demandante o ônus da
prova da existência dos referidos elementos (art. 333, inciso I do CPC c/c art. 769 da CLT).
Não há dúvidas de que a autora cumpria extensas jornadas de trabalho, em
franca violação às regras constitucionais e legais que regem a matéria. Entretanto, uma vez
deferida a remuneração agravada dessas horas de trabalho e, junto a elas, dos intervalos
suprimidos e domingos laborados, tudo atualizado monetariamente e com a incidência dos
juros legais, entendo que não deve se impor ao empregador novo ônus relacionado a um
mesmo fato.
Restaurado o direito à contraprestação pecuniária pelo sobrelabor, afigurar-se-ia
excessivo o deferimento de indenização para fins de compensação moral, pois não violados de
modo evidente direitos inerentes à personalidade do trabalhador. O seu relato, quanto a este
ponto, mais se atém à conduta irregular da empresa do que aos danos experimentados pela
reclamante, que são mencionados apenas de forma abstrata.

Quanto às alegação da autora, agora renovada em suas razões recursais e


combatidas pelos demandados, de que sofria assédio moral pelas constantes ameaças de
demissão, também não vislumbro razão à demandante.

A doutrina e a jurisprudência têm instituído alguns critérios para a configuração


desta malfadada figura jurídico-laboral, notadamente a repetição sistemática, duradoura e
específica, à pessoa do trabalhador, de atos que o coloque em situações vexatórias e
humilhantes, a ponto de forçá-lo a desistir do emprego.

Vale destacar os elementos necessários para a caracterização do instituto


jurídico em epígrafe. Para tanto, valemo-nos dos ensinamentos da ilustre Desembargadora
Federal do Trabalho Alice Monteiro de Barros, que enumera, in Curso de Direito do Trabalho, 3.
ed. São Paulo: Ltr, 2007, págs. 905/906: “a) a intensidade da violência psicológica, pois é
preciso que ela seja grave na concepção objetiva de uma pessoa normal; b) o prolongamento
no tempo; c) a finalidade de ocasionar um dano psíquico ou moral ao empregado, para
marginalizá-lo no seu ambiente de trabalho; d) que se produzam efetivamente os danos
psíquicos”.

No caso dos autos, nenhum destes elementos restou com provado pela
demandante. Isso porque os depoimentos contidos nos fólios não se mostram aptos a
comprovar qualquer terror psicológico sofrido. Ademais, o trabalho baseado em atingimento de
metas pressupõe constantes cobranças para a obtenção do resultado almejado, não sendo
evidenciado excessos nesse sentido.

Assim, nego provimento ao apelo autoral e dou provimento ao recurso dos


reclamados a fim de excluir da condenação o pagamento de indenização por danos morais em
virtude do alegado assédio, mantendo-se, contudo, o importe indenizatório relativo à proibição
de aquisição de mercadorias pelos empregados, reduzido ao patamar de R$ 1.250,00.

Do prequestionamento

Acrescento, enfim, que os motivos expostos na fundamentação do presente


julgado não violam nenhum dos dispositivos da Constituição Federal, tampouco preceitos
legais, sendo desnecessária a menção expressa, a cada um deles, a teor do disposto na OJ nº
118, da SDI-1, do C. TST.

CONCLUSÃO:
Ante ao exposto, preliminarmente, rejeito a arguição de não conhecimento do
recurso obreiro, por ofensa ao princípio da dialeticidade, suscitada em contrarrazões pelos
réus. No mérito, nego provimento ao recurso autoral e dou provimento parcial ao apelo dos
reclamados para excluir da condenação a multa do art. 475-J do CPC, além daquela pertinente
à interposição de embargos protelatórios, bem como para reduzir a indenização por danos
morais ao patamar de R$ 1.250,00, nos termos da fundamentação.

Ao decréscimo condenatório arbitro a quantia de R$ 1.850,00. Custas


processuais minoradas em R$ 37,00.

ACORDAM os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho


da Sexta Região, por unanimidade, preliminarmente, rejeitar a arguição de não conhecimento
do recurso obreiro, por ofensa ao princípio da dialeticidade, suscitada em contrarrazões pelos
réus. No mérito, por igual votação, negar provimento ao recurso autoral e dar provimento
parcial ao apelo dos reclamados para excluir da condenação a multa do art. 475-J do CPC,
além daquela pertinente à interposição de embargos protelatórios, bem como para reduzir a
indenização por danos morais ao patamar de R$ 1.250,00, nos termos da fundamentação. Ao
decréscimo condenatório arbitra-se a quantia de R$ 1.850,00. Custas processuais minoradas
em R$ 37,00.

Recife, 11 de maio de 2015.

Assinatura eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


RUY SALATHIEL A. M. VENTURA
Desembargador Relator

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