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Prof.

Ricardo Cruz
CEM/EST/UEA
rcruz@uea.edu.br

CAP. 4
Ciclos Padrão de Ar e
Processos Reais dos
MCIA
INTRODUÇÃO

2
• Ciclos são uma sucessão de processos em série;

• Ciclos podem ser visualizados por dois pontos de vista:


TERMODINÂMICO: os processos são reversíveis, tal que o ciclo co
meça e acaba no mesmo ponto. Os três principais ciclos termodi-
nâmicos de potência dos MCIA são: Otto, Diesel e Dual;

TERMOMECÂNICO: os processos são reais, portanto irreversíveis


(“abertos”). Os ciclos “abertos” são dois:

o Ignição por centelha (aproximável pelos ciclos Otto e dual); e

o Ignição por compressão (aproximável pelos ciclos Diesel e dual);

• Do ponto de vista termodinâmico, tempo = processo.

3
CICLO OTTO PADRÃO A AR
• Cada conjunto de quatro tem-
pos termodinâmicos (4TT) for-
ma um ciclo teórico;
• As equações são escritas para
cada ciclo reversível.

Pressão-Volume Temperatura-Entropia
• Eficiência Térmica
𝑄𝑎𝑑𝑖ç. − 𝑄𝑟𝑒𝑗. 𝑄𝑟𝑒𝑗.
𝜂𝑡,𝑂 = =1− (1)
𝑄𝑎𝑑𝑖ç. 𝑄𝑎𝑑𝑖ç.
Adição e rejeição de calor a V constante:
𝑄𝑎𝑑ç. = 𝑚𝑐𝑉 Δ𝑇3/2 (2)
𝑄𝑟𝑒𝑗. = 𝑚𝑐𝑉 Δ𝑇4/1 (3)
O gás é o perfeito, com calores específicos cp e cV cons-
tantes. Todos os processos são reversíveis, logo, k = cp /cV .
A compressão e a expansão são isentrópicas. Logo:
𝑘−1
𝑇2 𝑉1
= 4
𝑇1 𝑉2
𝑘−1
𝑇3 𝑉4
= (5)
𝑇4 𝑉3
6
• Razão de Compressão
𝑉1 𝑉4
𝑟𝑉 = = (6)
𝑉2 𝑉3

Ou o que é o mesmo:

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑉𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜 + 𝑉𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎


𝑟𝑉 = =
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎 𝑉𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎

𝑉𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜
𝑟𝑉 = 1 + (7)
𝑉𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎

7
• Relação entre ht,O e rV
Dada a eq. (6), pode-se escrever as equações (4) e (5),
para o ciclo Otto, como:
𝑘−1
𝑇2 𝑉1 𝑘−1
= = 𝑟𝑉 (4𝑎)
𝑇1 𝑉2
𝑘−1 𝑘−1
𝑇3 𝑉4 1
= = (5𝑎)
𝑇4 𝑉3 𝑟𝑉

Disso tudo:
1
𝜂𝑡,𝑂 = 1 − 𝑘−1
(8)
𝑟𝑉 CONCLUSÃO:
t,O cresce junto com rV
Onde: rV é a razão de compressão.

8
Exemplo 1
Determine as temperaturas e as pressões nos pon-
tos terminais, a eficiência e o trabalho líquido, do
CICLO OTTO com as seguintes características:
qadc. = 100 kJ/kg ; rV = 15:1
T1 = 25 C (298 K) ; p1 = 100 kPa (1 atm).

Tem-se a seguir soluções utilizando o


software EES de dois modos:
1. Modo calculadora, que usa a lógi-
ca do EES de solução encadeada
das equações;
2. Modo programação, utilizando a
estrutura module, que também u-
sa a lógica acima.

9
SOLUÇÃO OTTO – MODO CALCULADORA

(obtido de: p3 V3 /T3 = p2 V2 /T2 )

10
SOLUÇÃO OTTO
MODO PROGRAMAÇÃO

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CICLO DIESEL PADRÃO A AR
• Cada conjunto de quatro tem-
pos termodinâmicos (4TT) for-
ma um ciclo teórico;
• As equações são escritas para
cada ciclo de 4TT reversíveis.

Pressão-Volume Temperatura-Entropia
• Eficiência Térmica

𝑄𝑎𝑑𝑖ç. − 𝑄𝑟𝑒𝑗. 𝑄𝑟𝑒𝑗.


𝜂𝑡,𝐷 = =1− (9)
𝑄𝑎𝑑𝑖ç. 𝑄𝑎𝑑𝑖ç.

Adição (@ p = const.) e rejeição (@ V = const.) de calor:

𝑄𝑎𝑑ç. = 𝑚𝑐𝑝 Δ𝑇3/2 (10)

𝑄𝑟𝑒𝑗. = 𝑚𝑐𝑉 Δ𝑇4/1 (11)

14
O gás é o perfeito, com calores específicos cp e cV cons-
tantes. Todos os processos são reversíveis, logo, k = cp /cV .
Então, das equações (10) e (11):
Eq. (8)
𝑇4
𝑚𝑐𝑉 𝑇v4 − 𝑇1 𝑇1 −1
𝑇1
𝜂𝑡,𝐷 = 1 − =1− (12)
𝑚𝑐𝑝 𝑇v3 − 𝑇2 𝑇3
𝑘𝑇2 −1
Eq. (9) 𝑇2
A compressão e a expansão são isentrópicas. Logo, valem:
𝑘−1
𝑇2 𝑉1
= 13
𝑇1 𝑉2
𝑘−1
𝑇3 𝑉4
= (14)
𝑇4 𝑉3

Observar que V1 = V4 mas V3 > V2 .


15
• Razão de Compressão
𝑉1 𝑉4 𝑉𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜 + 𝑉𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎
𝑟𝑉 = = = (15)
𝑉2 𝑉2 𝑉𝑓𝑜𝑙𝑔𝑎

• Razão de Corte a p = const.


𝑉3
𝑅𝐶𝑝 = (16)
𝑉2
De (15) e (16), outra escrita de (13) e (14), para o Diesel, é:
𝑘−1
𝑇2 𝑉1 𝑘−1
= = 𝑟𝑉 (13𝑎)
𝑇1 𝑉2
𝑘−1 𝑘−1 𝑘−1
𝑇3 𝑉4 𝑉2 𝑟𝑉
= × = (14𝑎)
𝑇4 𝑉3 𝑉2 𝑅𝐶𝑝

16
• Relação entre ht,D , rV e RCp

1 𝑅𝐶𝑝𝑘 − 1
𝜂𝑡,𝐷 = 1 − 𝑘−1
(17)
𝑟𝑉 𝑘 𝑅𝐶𝑝 − 1

O gráfico mostra ht,D para k = 1,4 (ar) e


algumas RCp. A curva “Otto” é porque,
em (13):
𝑅𝐶𝑝𝑘 − 1
lim =1 ∴ 𝜂𝑡,𝐷 = 𝜂𝑡,𝑂
𝑅𝐶𝑝 →1 𝑘 𝑅𝐶𝑝 − 1

CONCLUSÃO: ht,D cresce junto com rV e com RCp caindo

17
Exemplo 2

Determine as temperaturas e as pressões nos pon-


tos terminais, a eficiência e o trabalho líquido, do
CICLO DIESEL com as seguintes características:
qadc. = 100 kJ/kg ; rV = 15:1
T1 = 25 C (298 K) ; p1 = 100 kPa (1 atm).

A solução a seguir utiliza o software


EES apenas no modo programação,
adotando a estrutura module, que
preserva a lógica do EES para intera-
ção entre as equações.

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SOLUÇÃO DIESEL – MODO PROGRAMAÇÃO

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CICLO DUAL PADRÃO A AR
(ou SEILIGER, ou TRINKLER, ou SABATHÉ,
ou ainda CICLO DE PRESSÃO LIMITADA)
• Cada conjunto de quatro tem-
pos termodinâmicos (4TT) for-
ma um ciclo teórico;
• As equações são escritas para
cada ciclo de 4TT reversíveis.

Pressão-Volume Temperatura-Entropia
• Eficiência Térmica

𝑄𝑎𝑑𝑖ç. − 𝑄𝑟𝑒𝑗. 𝑄𝑟𝑒𝑗.


𝜂𝑡,𝑆 = =1− (18)
𝑄𝑎𝑑𝑖ç. 𝑄𝑎𝑑𝑖ç.

Dupla adição de calor (@ V e p const.)


e rejeição de calor (@ V const.) :
Qadiç.1 (V const.) Qadiç.1 (p const.)

𝑄𝑎𝑑ç. = 𝑚𝑐𝑉 Δ𝑇2′/2 + 𝑚𝑐𝑝 Δ𝑇3/2′ (19)

𝑄𝑟𝑒𝑗. = 𝑚𝑐𝑉 Δ𝑇4/1 (20)

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O gás é o perfeito, com calores específicos cp e cV cons-
tantes. Todos os processos são reversíveis, logo, k = cp /cV :
Eq. (18)
𝑇4
𝑇1 −1
𝑇1
𝜂𝑡,𝑆 = 1 − (21)
𝑇2′ 𝑇
𝑇2 − 1 + 𝑘𝑇2′ 3 − 1
𝑇2 𝑇2′
Eq. (17)

A compressão e a expansão são isentrópicos. Logo valem:


𝑘−1
𝑇2 𝑉1
= 22
𝑇1 𝑉2
𝑘−1
𝑇3 𝑉4
= (23)
𝑇4 𝑉3
Observar que V1 = V4 mas V3 > V2 = V2’ .
23
Pode-se escrever que, para a combustão isométrica:

𝑝2′ 𝑇2′
= (24)
𝑝2 𝑇2

E para a combustão isobárica:

𝑇3 𝑉3
= (25)
𝑇2′ 𝑉2′

(estas razões foram obtidas da relação do gás ideal piVi / Ti = pfVf / Tf ,


onde “i ” significa inicial, e “f ”, final)

24
• Razão de Compressão
𝑉1 𝑉1 𝑉4 𝑉4
𝑟𝑉 = = = = (26)
𝑉2 𝑉2′ 𝑉2 𝑉2′

• Razão de Corte a p = const.


𝑉3 𝑉3
𝑅𝐶𝑝 = = (27)
𝑉2 𝑉2′

• Razão de Pressões
𝑝2′ 𝑝3
𝑅𝑃 = = (28)
𝑝2 𝑝2

25
De (26) a (28), outra escrita de (22) a (25), para o dual, é:

𝑘−1
𝑇2 𝑉1
= = 𝑟𝑉𝑘−1 22𝑎
𝑇1 𝑉2

𝑘−1 𝑘−1 𝑘−1


𝑇3 𝑉4 𝑉2 𝑟𝑉
= × = (23𝑎)
𝑇4 𝑉3 𝑉2 𝑅𝐶𝑝

𝑇2′ 𝑝2′
= = 𝑅𝑃 (24𝑎)
𝑇2 𝑝2

𝑇3 𝑉3
= = 𝑅𝐶𝑝 (25𝑎)
𝑇2′ 𝑉2′

26
• Relação entre ht,S , rV , RCp e RP

1 𝑅𝑃 ∙ 𝑅𝐶𝑝𝑘 − 1
𝜂𝑡,𝑆 = 1 − 𝑘−1
(29)
𝑟𝑉 𝑘 ∙ 𝑅𝑃 𝑅𝐶𝑝 − 1 + 𝑅𝑃 − 1

O gráfico mostra ht,S


para k = 1,4 (ar).

As curvas de ht,S con


vergem para Otto ou
Diesel, a depender de
RCp e RP.

CONCLUSÃO: ht,S cresce com rV e com RCp e RP caindo

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COTEJAMENTO DOS
TRÊS CICLOS
• Diferenças entre os ciclos quando T1 , p1 e V1 são
iguais e rV é a mesma
Ordem das Eficiências: t,O > t,S > t,D ;
Ordem dos trabalhos: WO > WS > WD (WO = DW1 + DW2 + WD).

. Ponto de
① referência

29
• Diferenças entre os ciclos quando T1 , p1 e V1 são
iguais; e também, são iguais a temperatura e a
pressão do ponto final do fornecimento de calor
Ordem das eficiências: t,D > t,S > t,O ;
Ordem dos trabalhos: WD > WS > WO (WD = DW1 + DW2 + WO).

Ponto de
referência

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Exercício Proposto
Determine as temperaturas e as pressões nos pon-
tos terminais, a eficiência e o trabalho líquido, do
CICLO DUAL com as seguintes características:

RP = 2
RCp = 2
mar = 10 kg
qadc. = 100 kJ/kg
rV = 15:1
T1 = 25 C (298 K)
p1 = 100 kPa (1 atm)

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PROCESSOS REAIS DOS MCIA
DESVIOS DOS CICLOS TEÓRICOS

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• Os quatro processos (ou tempos) que fazem os MCIA segui
rem os processos termomecânicos (MCIA reais não seguem
os ciclos padrão de ar) são:

Admissão (ou indução)


Os ciclos padrão só tem a compressão (o
ar é preso no cilindro; não entra nem sai)
Compressão

Nos ciclos padrão só há introdução instan


Combustão e expansão tânea de calor no ar preso

Nos ciclos padrão não ocorre exaustão de


Exaustão de gases
gases (não há combustão)

• Os desvios são mais fortes nos MCIA de ignição por com-


pressão do que nos de ignição por centelha.

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• As principais fontes de desvio são, em geral:

1. Nos MCIA de ignição por centelha, nem todo o combustível que entra
no ciclindro é vaporizado, sobrando gotículas com queima parcial;
2. Em todos os MCIA, ocorrem fugas pelas cavidades dos anéis de seg-
mento e pelas sedes de válvulas (blowby).

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3. Os ciclos ideais assumem o ar como um gás perfeito, ou seja, cp e cv
são constantes. Mas nas simulações, os MCIA reais assumem gases
ideais, cujos cp e cv variam só com a temperatura (T);
4. Nos MCIA reais, os gases variam desde uma mistura ar + combustí
vel + gases (na admissão) até uma mistura de ar + gases queimados
variando com T (na exaustão), e com grande variação de cp e cv;
5. Os gases nos MCIA reais sofrem as maiores perdas de calor para as
paredes do cilindro no fim da compressão e no fim da combustão.
Isso reduz temperatura e pressão média do ciclo termomecânico;
6. As perdas de calor e o atrito desviam a compressão e a expansão
da hipótese isentrópica dos ciclos ideais (são politrópicas);
7. O aporte de calor da combustão não é constante, porque as propor
ções entre o ar e o combustível a cada ciclo não são constantes;
8. As altas rotações reduzem o tempo para a queima. Por isso, e como
os MCIA de compressão giram mais lentamente, essa máquinas
tem queima mais eficiente do que MCIA de centelha.
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9. A combustão e a elevação da pressão em todos os MCIA’s não
são instantâneos (não há aporte de calor instantâneo);

10. A combustão nos MCIA’s precisa iniciar antes do PMS (o que


reduz a pressão no início da expansão) e deve terminar após o
PMS, (o que reduz o trabalho útil de expansão);

11. A rejeição de calor nos MCIA’s reais não é instantânea como nos
ciclos teóricos, mas se distribui ao longo do ciclo real;

12. Nos MCIA’s reais, quando a válvula de exaustão se abre, os gases


saem como um jato (blowdown), que é muito irreversível;

13. Nos MCIA’s reais, a válvula de exaustão começa a abrir entre 40o
a 60o antes do PMI (fim da expansão), o que reduz o trabalho de
expansão dos gases.

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14. Nos MCIA’s reais, a válvula de exaustão fecha após o PMI, geran-
do atraso do início da compressão e redução da pressão final;
15. Nos MCIA’s reais, a válvula de admissão abre antes do PMS, ge-
rando refluxo de gases queimados ao coletor de admissão e mis-
tura com a carga fresca;
16. Nos MCIA’s reais, a abertura da válvula de admissão (VA) e o
fecha-mento da válvula de exaustão (VE) não são instantâneos,
porque são feitos por um came (lóbulo);
17. Nos MCIA’s reais, os atrasos
no fechamento da VA e da VE
produzem sobreposição (over
laping) dessas válvulas aber-
tas ao mesmo tempo, durante
curto tempo, suficiente para
permitir fuga de combustível
junto com os gases queimados
durante a exaustão.

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