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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

AERODINÂMICA DE
SISTEMAS AEROESPACIAIS

Trabalho 2 - NACA 4412

Autor: ALLAN CÉSAR INÁCIO CASTELO BRANCO


Matrícula: 18/0112635
Professor: Olexiy Shynkarenko

BRASÍLIA/DF
2022
LISTA DE SÍMBOLOS

α Ângulo de ataque

Cl Coeficiente de sustentação

Cd Coeficiente de arrasto

Cm Coeficiente de momento a ¼ da corda

Cp Coeficiente de pressão

Cn Coeficiente da força normal

Ca Coeficiente da força axial

xcp Centro de pressão

Re Número de Reynolds
𝑉∞ Velocidade do voo
c Corda do protótipo
𝜇 Viscosidade dinâmica do fluído
𝑉𝑒𝑠𝑡𝑜𝑙 Velocidade de estol
𝐶𝐿.𝑚á𝑥 Máximo coeficiente de sustentação
M Número de Mach
𝜌 Massa especifica
1 INTRODUÇÃO

Escoamento incompressível significa que a densidade é assumida como


constante. Embora não existam fluidos incompressíveis na natureza, métodos de fluxo
de baixa velocidade podem ser usados porque a mudança de densidade neste caso é
geralmente pequena. O efeito da compressibilidade nas distribuições de pressão,
sustentação e momento com Números de Mach menores que 0,3 podem ser expressos
como um fator de correção multiplicado pelo valor de fluxo incompressível. Portanto,
os resultados usando o modelo incompressível não são apenas úteis para voos de baixa
velocidade, mas também fornecem um banco de dados para prever com precisão a
operação da aeronave em velocidades mais altas (FLANDRO et al., 2011, tradução
nossa).

Como a presença da camada limite é desprezada na teoria do fluido perfeito, a


teoria não prevê o arrasto de atrito de um corpo; que deve ser deixado para a teoria do
escoamento viscoso. No entanto, dentro da estrutura do escoamento invíscido
incompressível, as previsões para distribuição de pressão em baixa velocidade,
sustentação e coeficientes de momento são válidas e úteis.

Assim, o presente relatório visa dar continuidade ao estudo das propriedades do


aerofólio NACA 4412, onde serão feitas análises das simulações de um escoamento
invíscido e incompressível ao redor do perfil, tendo em vista que o número de Reynolds
de 3𝑥106 e o número de Mach menor que 0,3 caracterizando assim o escoamento como
tal.

A plotagem do respectivo aerofólio foi obtido através do software ANSYS


Design Modeler, com corda igual a 0.6096 metros (24 in), fazendo a devida
modificação para que seja igual ao da referência utilizada.
Figura 1 – NACA 4412 no ANSYS Design Modeler

Fonte: Autor, 2022


2 O SISTEMA DE EQUAÇÕES DO FLUXO INVÍSCIDO

As três equações mais importantes e fundamentais em aerodinâmica são as


equações de continuidade, momento e energia. Em um fluido incompressível a
densidade permanece constante, ou seja, é um fluido que apresenta uma resistência a
redução do seu volume quando submetido a uma força de compreensão. Com essas
características as variáveis primarias do campo de escoamento são pressão (p) e volume
(V).

Tendo em vista os fatos apresentados, para um estudo de escoamento


incompressível só serão necessárias as equações de continuidade e de movimento. As
equações serão representadas abaixo e serão feitas as devidas considerações para o
fluido incompressível.

A equação da continuidade segundo o Anderson (2017, p. 238) é apresentada


como:

𝜕𝜌
+ ∇ ∙ 𝜌𝑉 = 0 (1)
𝜕𝑡

𝜕𝜌
Para um fluido incompressível, 𝜌 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒. Onde, 𝜕𝑡
= 0 e ∇ ∙ 𝜌𝑉 = 𝜌∇ ∙ 𝑉,
sabendo assim a equação (1) resulta em:

0 + 𝜌∇ ∙ 𝑉 = 0
(2)
∇∙𝑉 =0
(3)

Para um fluido irrotacional a velocidade potencial (𝜑) pode ser definida segundo
a referência Anderson (2017, p. 238) como:

𝑉 = ∇𝜑
(4)

Portanto, para um fluido que também é incompressível, podemos fazer a


combinação entre as equações (3) e (4), resultando na equação de Laplace:

∇ ∙ (∇𝜑) = 0
(5)
∇2 𝜑 = 0
(6)

Das equações de quantidade de movimento para um escoamento invíscido,


chamadas equações de Euler temos na forma diferencial:

𝜕𝑝
∇ ∙ (𝜌𝑢𝑉) = − (7)
𝜕𝑥

𝜕𝑝
∇ ∙ (𝜌𝑢𝑉) = −
𝜕𝑦 (8)

Os termos u e v da equação são obtidos através das condições de contorno. Para


obter fluxos diferentes para corpos diferentes, é necessário definir essas condições de
contorno. A primeira condição de contorno afirma que para uma distância infinitamente
grande do aerofólio, o escoamento se aproxima de um escoamento uniforme, sendo
representada dessa forma:

𝜕𝜑
𝑢 = = 𝑉∞ (9)
𝜕𝑥

𝜕𝜑
𝑣 = = 0
𝜕𝑦 (10)

A segunda condição de contorno afirma que o escoamento não pode passar pela
superfície do aerofólio. Dessa forma, o que será estabelecido é uma condição de
tangência entre o escoamento e os limites do corpo analisado, sendo representado dessa
forma:

𝑑𝑦𝑏 𝑣
=( )
𝑑𝑥 𝑢 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 (11)

Essas equações resumem as deduções de Euler de que a pressão é uma propriedade


pontual e pode estar relacionada à velocidade do escoamento.

3 MODELO NUMÉRICO NO ANSYS FLUENT

Usando o Design Modeler do Ansys Fluet foi feito a geometria do aerofólio


importando as coordenadas do site Airfoil Tool assim como foi feito no Trabalho 1 e
mostrado na introdução. Para fazer todas as análises necessárias para o trabalho,
primeiro temos que gerar uma superfície de controle envolta do aerofólio gerado, para
que a simulação do aerofólio tenha área definida. Essa área definida (Figura 2) foi
dividida em 12 faces menores, para que a simulação fique de melhor qualidade e de
mais fácil configuração da malha. A superfície externa foi feita com um semicírculo
com raio igual a 25 vezes o tamanho da corda, portanto r = 15,24 m e a superfície
interna foi feita com um semicírculo com raio igual ao comprimento da corda (Figura
3).
Figura 2 – Superfície de controle

Fonte: Autor, 2022

Figura 3 – Superfície de controle perto do aerofólio

Fonte: Autor, 2022

A malha é um dos principais fatores para melhorar a qualidade da simulação do


escoamento. Usando as ferramentas para selecionar as configurações corretas, podemos
definir uma boa malha de maneira prática. As Figuras 4 e 5 mostram a malha final
obtida.
Figura 4 – Malha da superfície de controle

Fonte: Autor, 2022

Figura 5 – Malha perto da área do aerofólio

Fonte: Autor, 2022


Figura 6 – Malha no bordo de ataque

Fonte: Autor, 2022

Figura 7 – Malha no bordo de fuga

Fonte: Autor, 2022

O número de elementos nos mostra a densidade da malha. Neste trabalho atual


foram 450950 nós. Com base nas imagens e características da malha, é possível supor
que a qualidade da malha é boa e aceitável para a modelagem numérica a ser realizada
na extensão Ansys Fluent.
Antes de realizar a solução numérica, foi necessário analisar as condições do
aerofólio e vazão para as quais os dados coletados no túnel de vento, apresentados no
Trabalho 1, seriam consistentes. Nesse sentido, o teste foi realizado com número de
Reynolds de 3𝑥106 em condições de densidade do ar constante. Para adaptar a
simulação para um aerofólio de corda de 0,6096 m com este número de Reynolds, a
velocidade do escoamento deve estar em torno de 44 m/s. Todas as outras etapas para
realizar as simulações foram feitas de acordo com a referência 2.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados das simulações apresentadas a seguir foram obtidos para um


escoamento invíscido à densidade constante, variando o ângulo de ataque em 5 valores,
de -6,1229 a 13,2117 graus que é seu ângulo de estol.

4.1 DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO

Figura 8 – Distribuição de pressão para -6,1229

Figura 9 – Distribuição de pressão para -0,0533


Figura 10 – Distribuição de pressão para 4,0939

Figura 11 – Distribuição de pressão para 9,6662

Figura 12 – Distribuição de pressão para 13,2117


A partir das imagens, é possível notar que devido à assimetria do perfil, há uma
diferença na distribuição de pressão na parte superior e inferior do aerofólio. Desta
forma, este aerofólio gera força de sustentação quando seu ângulo de ataque é zero. À
medida que o ângulo de ataque aumenta, a força de sustentação aumenta. No entanto, a
força de arrasto também aumenta devido ao aumento da área vertical do aerofólio.

4.2 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADE

Figura 13 – Distribuição de velocidade para -6,1229

Figura 14 – Distribuição de velocidade para -0,0533


Figura 15 – Distribuição de velocidade para 4,0939

Figura 16 – Distribuição de velocidade para 9,6662

Figura 17 – Distribuição de velocidade para 13,2117

Podemos ver que para ângulos de ataque positivos, a velocidade de deslocamento


do ar acima da asa é maior do que a velocidade do fluxo abaixo da asa. Essa maior
velocidade resulta em uma diminuição da pressão no topo do aerofólio, conforme
afirma a Equação de Bernoulli (ANDERSON, 2010). Esta queda de pressão é
consistente com os valores de distribuição de pressão mostrados anteriormente.
4.3 DISTRIBUIÇÃO DE CAMPO DE VELOCIDADE

Figura 18 – Distribuição de campo de velocidade para -6,1229

Figura 19 – Distribuição de campo de velocidade para -0,0533

Figura 20 – Distribuição de campo de velocidade para 4,0939


Figura 21 – Distribuição de campo de velocidade para 9,6662

Figura 22 – Distribuição de campo de velocidade para 13,2117

4.4 STREAMLINES

Figura 23 – Streamlines para -6,1229


Figura 24 – Streamlines para -0,0533

Figura 25 – Streamlines para 4,0939

Figura 26 – Streamlines para 9,6662


Figura 27 – Streamlines para 13,2117

4.5 COEFICIENTES AERODINÂMICOS

Todos os coeficientes foram obtidos diretamente do ANSYS Fluent. Para validar


as simulações, os valores obtidos foram comparados com os dados experimentais
apresentados no Trabalho 1. Os ângulos de ataque escolhidos para as simulações
coincidem com os ângulos de ataque apresentados no Trabalho 1 para facilitar a
validação. As tabelas estão abaixo, devidamente identificadas.

A validação foi feita calculando o erro percentual usando:

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐸𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙 − 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑆𝑖𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜


𝐸𝑟𝑟𝑜 = ∗ 100
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐸𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙 (12)

Tabela 1 – Valores do coeficiente de sustentação

α Experimental Simulado Erro(%)


-6,1229 -0,2505 -0,1199 52,1357
-0,0533 0,4203 0,4366 3,8782
4,0939 0,8385 0,8296 1,0614
9,6662 1,3275 1,1487 13,4689
13,2117 1,5323 1,4332 6,4674

Fonte: Autor, 2022


Tabela 2 – Valores do coeficiente de arrasto

α Experimental Simulado Erro(%)


-6,1229 0,0092 0,0054 41,3043
-0,0533 0,0069 0,0101 46,3768
4,0939 0,0068 0,0116 70,5882
9,6662 0,0126 0,0264 109,5238
13,2117 0,0207 0,0474 128,9855

Fonte: Autor, 2022

Tabela 3 – Valores do coeficiente de momento

α Experimental Simulado Erro (%)


-6,2622 -0,0943 -0,0630 33,1919
-0,2859 -0,0908 -0,0874 3,7445
3,8025 -0,0910 -0,0747 17,9121
9,7830 -0,0717 -0,0758 5,7183
13,7183 -0,0562 -0,0420 25,2669

Fonte: Autor, 2022

Tabela 4 – Valores do coeficiente de força normal

α Experimental Simulado Erro(%)


-6,1229 -0,2458 -0,1198 51,2612
-0,0533 0,4193 0,4366 4,1259
4,0939 -0,4917 -0,8283 68,4564
9,6662 -1,2920 -1,1368 12,0124
13,2117 1,2366 1,4061 13,7069

Fonte: Autor, 2022

Tabela 5 – Valores do coeficiente de força axial

α Experimental Simulado Erro(%)


-6,1229 0,0491 0,0074 84,8880
-0,0533 0,0293 0,0105 64,1638
4,0939 0,6792 0,0476 92,9918
9,6662 0,3051 -0,1668 154,6706
13,2117 -0,9051 -0,2814 68,9095

Fonte: Autor, 2022

No trabalho 1, foi apresentado apenas o coeficiente de pressão para o ângulo de


ataque igual a 0°. No entanto, como o programa XFoil foi utilizado para obter este
coeficiente, para fins de comparação, foram obtidos coeficientes de pressão para todos
os ângulos de ataque citados anteriormente.
Figura 28 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo -6,1229

Fonte: Autor, 2022


Figura 29 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo -0,0533

Fonte: Autor, 2022


Figura 30 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 4,0939

Fonte: Autor, 2022


Figura 31 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 9,6662

Fonte: Autor, 2022


Figura 32 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 13,2117

Fonte: Autor, 2022


5 CONCLUSÃO

O presente estudo mostra a importância da simulação numérica no contexto


aerodinâmico. A partir dos princípios das equações aerodinâmicas fundamentais,
alinhados à modelagem computacional, foram obtidos resultados satisfatórios em quase
todos os pontos de interesse, sendo os valores de coeficiente de força axial o que mais
se distanciaram do Trabalho 1.

Como esperado, o coeficiente de arrasto não apresentou bons resultados, uma vez
que a condição de fluido invíscido não é válida para este tipo de análise. Os demais
coeficientes apresentaram resultados mais satisfatórios, mas nota-se que à medida que
o ângulo de ataque cresce e se aproxima do estol, há um aumento do erro associado,
uma vez que esse tipo de simulação não processa o desprendimento da camada limite.

Outro fator relacionado ao erro é o grau de refinamento da malha. Todos os casos


de simulação convergiram entre 1200 e 1600 iterações (consulte o Apêndice A).
Normalmente, o grau de refinamento da malha e o número de iterações necessárias para
convergir são analisados para determinar a eficiência do modelo de elementos finitos,
mas essa análise está fora do escopo deste projeto. Com isso, alguns ajustes de malha
podem ser feitos no Trabalho 3 para melhores resultados.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLANDRO, G.; MCMAHON, H.; ROACH, R. (2011). Fundamentals of Steady,


Incompressible, Inviscid Flows. Basic Aerodynamics: Incompressible Flow (Cambridge
Aerospace Series), Cambridge: Cambridge University Press, pp. 110-168, 2011.

“Airfoil simulation study in ansys fluent.” Available in:


https://www.youtube.com/watch?v=fWbDeDctWRs&list=PLhwqhcexBHpUEuOi2Pa5b9O
NNS0EeTsZZ, 2019.

ABBOTT, Ira H. VON DOENHOFF, Albert E. STIVERS JR, Louis S. Summary of Airfoil
Data. Rept. 824, 1945.

ANDERSON, J. Fundamentals of Aerodynamics. McGraw-Hill, 6h edition, 2017.

BRIDGMAN, L. (1948). Jane's All the World's Aircraft 1948 . Londres: Sampson
Low, Marston & Company, Ltd.

AIRFOILTOOLS. NACA 4412 (naca4412-il). 2022. Disponível em:


http://airfoiltools.com/airfoil/details?airfoil=naca4412-il
APÊNDICE A – Gráfico dos Resíduos

Figura 33 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo -6,1229

Figura 34 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo -0,0533

Figura 35 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 4,0939


Figura 36 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 9,6662

Figura 37 – Comparação do coeficiente de pressão para o ângulo 13,2117

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