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As teorias do desenvolvimento

A forma de pensar o desenvolvimento humano tem se dado de diferentes maneiras ao


longo da história da Psicologia desde sua fundação por Willhem Wundt em 1816. Esta
ciência, em seu processo de construção no seio de intensas transformações econômicas,
políticas e sociais, tem gerado múltiplos enfoques e, por conseguinte, diferentes visões
sobre o homem em sua constituição física, mental e afetivo-social.

A esse respeito, Palacios (2005) destaca a amplitude, a flexibilidade e o pluralismo


como marcas da Psicologia Evolutiva contemporânea. Não é por acaso, o amplo leque
de abordagens que detém o seu olhar sobre o desenvolvimento, levando-nos a perceber
a complexidade do mesmo. Neste sentido, apresentaremos a síntese das principais
teorias psicológicas que versaramsobre o tema, dando ênfase, em cada uma delas, ao
período da adolescência

Jean Piaget

Jean Piaget é um renomado psicólogo e filósofo suíço que se dedicou ao estudo do


desenvolvimento cognitivo da criança. De acordo com sua teoria, o desenvolvimento
ocorre em estágios distintos e universais, e cada estágio representa uma forma única de
compreensão do mundo. Piaget acreditava que o desenvolvimento cognitivo é
impulsionado por processos internos que ocorrem no cérebro, mas que o ambiente
também desempenha um papel importante. Ele enfatizou a importância da interação
entre a criança e seu ambiente, argumentando que a aprendizagem ocorre através da
ação e da experiência.

Piaget identificou o jogo como uma atividade importante para o desenvolvimento


cognitivo da criança. Ele argumentava que o jogo permite à criança experimentar e
explorar novas ideias de forma segura, e que o jogo simbólico em particular ajuda a
desenvolver a capacidade da criança de usar símbolos para representar objetos e
conceitos.

Piaget também estudou a linguagem infantil e argumentou que a linguagem é uma parte
importante do processo de desenvolvimento cognitivo. Ele acreditava que a linguagem
reflete e influencia o pensamento da criança, e que a criança aprende novas ideias
através da interação social com outras pessoas.
Embora a teoria de Piaget seja geralmente aceita, alguns pesquisadores argumentaram
que ela precisa ser atualizada ou modificada para explicar algumas das descobertas mais
recentes na área do desenvolvimento cognitivo. Por exemplo, a teoria de Piaget não
explicaria completamente a rapidez com que as crianças aprendem novos conceitos em
certas áreas, como a linguagem.

Alguns críticos argumentaram que a teoria de Piaget subestima a importância do


contexto cultural na compreensão e desenvolvimento do pensamento. Eles argumentam
que o pensamento é moldado por fatores culturais e históricos, e que esses fatores
precisam ser levados em consideração ao estudar o desenvolvimento cognitivo.

A teoria de Piaget tem sido aplicada em diversas áreas, incluindo a educação, a


psicologia clínica e a psicologia organizacional. Por exemplo, a teoria de Piaget tem
sido usada para desenvolver técnicas de ensino mais eficazes e para compreender como
os adultos aprendem e desenvolvem novas habilidades.

A seguir, apresento um resumo dos estágios descritos por Piaget:

Estágio sensório-motor (do nascimento aos 2 anos): Neste estágio, a criança aprende
sobre o mundo através dos seus sentidos e ações motoras. Piaget dividiu este estágio em
seis sub-estágios:

Reflexos (0-1 mês): A criança responde a estímulos, mas de forma involuntária.

Reações circulares primárias (1-4 meses): A criança começa a repetir ações agradáveis,
como chupar o dedo.

Reações circulares secundárias (4-8 meses): A criança começa a repetir ações que têm
um efeito sobre o ambiente, como bater em um brinquedo para ouvir o som.

Coordenação de esquemas secundários (8-12 meses): A criança começa a combinar


ações para alcançar um objetivo, como empurrar um objeto para alcançar outro.

Reações circulares terciárias (12-18 meses): A criança começa a experimentar com


ações para ver o que acontece, como jogar um brinquedo para ver como ele cai.

Início da representação simbólica (18-24 meses): A criança começa a usar símbolos


para representar objetos e ações, como apontar para um objeto e dizer seu nome.
Estágio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos): Neste estágio, a criança desenvolve a
capacidade de usar símbolos para representar objetos e conceitos. Piaget identificou
algumas características marcantes deste estágio:

Egocentrismo: A criança tem dificuldade em compreender o ponto de vista dos outros e


assume que todos pensam como ela.

Pensamento animista: A criança atribui características humanas a objetos inanimados,


como achar que uma pedra está triste porque foi deixada de lado.

Ausência de conservação: A criança ainda não compreende que a quantidade de um


objeto permanece a mesma, mesmo que sua aparência seja alterada.

Estágio operatório concreto (dos 7 aos 11 anos): Neste estágio, a criança começa a
pensar de forma mais lógica e sistemática, e a entender a relação entre diferentes
variáveis. Algumas habilidades que surgem neste estágio incluem:

Classificação: A criança é capaz de agrupar objetos em categorias e entender as relações


entre elas.

Seriação: A criança é capaz de ordenar objetos de acordo com um critério, como


tamanho ou peso.

Conservação: A criança compreende que a quantidade de um objeto permanece a


mesma, mesmo que sua aparência seja alterada.

Estágio operatório formal (a partir dos 11 anos): Neste estágio, a criança desenvolve a
capacidade de pensar de forma hipotética e abstrata. Algumas características deste
estágio incluem:Pensamento hipotético-dedutivo: A criança é capaz de pensar em
hipóteses e testá-las através da lógica.

Pensamento proposicional: A criança é capaz de entender as relações entre proposições


e argumentos.

O pensamento dialético é uma abordagem filosófica que enfatiza a análise de opostos e


a resolução de contradições. Na teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget, o
pensamento dialético é uma habilidade que se desenvolve durante a adolescência e a
idade adulta.
a teoria de Piaget considere o pensamento dialético como uma habilidade que se
desenvolve na adolescência e idade adulta, outros teóricos, como Vygotsky, sugerem
que a capacidade de pensar de forma dialética pode estar presente em alguns aspectos
do desenvolvimento infantil. A interação social e a participação em atividades culturais
desempenham um papel importante na promoção dessa habilidade.

Piaget acreditava que o desenvolvimento cognitivo ocorre através de processos de


adaptação e equilibração. A adaptação envolve assimilar novas informações ao esquema
mental existente ou acomodar o esquema para acomodar informações novas.

A teoria de Piaget é frequentemente comparada à teoria do construtivismo, que enfatiza


a importância da construção ativa do conhecimento por parte do indivíduo.

Embora a teoria de Piaget seja amplamente aceita, alguns críticos argumentam que ela
subestima a capacidade das crianças de compreender conceitos mais complexos em
idades mais precoces.

Piaget também estudou a moralidade infantil e desenvolveu uma teoria sobre o


julgamento moral baseado em estágios. Ele argumentava que as crianças passam por
uma série de estágios de desenvolvimento moral, começando com a obediência cega à
autoridade e terminando com um senso de justiça baseado em princípios universais.

A teoria de Piaget também tem implicações para a educação, enfatizando a importância


de atividades que permitam às crianças explorar e descobrir novos conhecimentos em
vez de apenas receber informações de forma passiva.

Embora Piaget tenha focado principalmente no desenvolvimento cognitivo das crianças,


sua teoria tem sido aplicada a uma variedade de áreas, incluindo psicologia social,
antropologia e filosofia.

Sigmund Freud

O psicólogo Sigmund Freud propôs uma teoria psicológica que enfatizava o papel do
inconsciente e do desenvolvimento da personalidade ao longo da vida. Em relação ao
desenvolvimento infantil, Freud propôs uma teoria que se concentra nas primeiras
etapas da vida, particularmente na primeira infância. Sua teoria é conhecida como teoria
psicossexual.
De acordo com Freud, o desenvolvimento da personalidade começa na infância e é
influenciado pelas experiências da criança durante essa fase. Ele identificou cinco
estágios do desenvolvimento psicossexual, cada um com um foco diferente na satisfação
das necessidades biológicas da criança. Esses estágios são:

Estágio oral (do nascimento aos 18 meses): Nesta fase, a principal fonte de prazer é a
boca. A criança satisfaz suas necessidades através da amamentação e da exploração oral
do mundo.

Estágio anal (18 meses a 3 anos): Nesta fase, a principal fonte de prazer é o controle dos
movimentos intestinais. A criança aprende a controlar seus esfíncteres e é recompensada
pela sociedade por fazer isso corretamente.

Estágio fálico (3 a 6 anos): Nesta fase, a principal fonte de prazer é a genitália. A


criança começa a explorar suas próprias genitálias e aprende sobre as diferenças entre os
sexos.

Estágio de latência (6 a 12 anos): Nesta fase, o foco da criança é voltado para o


desenvolvimento cognitivo e social. As necessidades sexuais da criança são sublimadas
em atividades como o aprendizado, jogos e amizades.

Estágio genital (adolescência em diante): Nesta fase, a sexualidade retorna como um


importante impulso psicológico e a criança começa a buscar relacionamentos
românticos e sexuais.

Freud acreditava que a personalidade é formada durante os primeiros cinco anos de vida
e que cada estágio psicossexual tem um impacto na formação da personalidade.

Os estágios psicossexuais incluem a fase oral, a fase anal, a fase fálica, a fase de
latência e a fase genital.

Na fase oral (0 a 18 meses), a zona erógena principal é a boca e a criança recebe prazer
através da alimentação e do ato de sucção.

Na fase anal (18 meses a 3 anos), a zona erógena principal é o ânus e a criança começa a
aprender o controle da bexiga e do intestino.

Na fase fálica (3 a 6 anos), a zona erógena principal é os órgãos genitais e a criança


começa a se identificar com o seu gênero e a explorar a sexualidade.
Na fase de latência (6 anos a puberdade), a energia sexual é direcionada para atividades
sociais e escolares e a criança suprime os impulsos sexuais.

Na fase genital (puberdade em diante), a energia sexual é redirecionada para relações


sexuais maduras.

Freud argumentou que as experiências da infância têm um impacto duradouro na


personalidade e na vida adulta. Ele também enfatizou o papel dos pais e cuidadores na
criação de uma criança saudável. Por exemplo, ele acreditava que a amamentação e o
contato físico com os pais eram importantes para o desenvolvimento emocional da
criança.

Segundo Freud, o desenvolvimento psicossexual tem um papel importante na formação


da personalidade e pode influenciar o comportamento ao longo da vida. Ele acreditava
que cada estágio do desenvolvimento tinha uma zona erógena específica que é a
principal fonte de prazer para a criança durante essa fase.

Freud argumentou que as experiências traumáticas durante a infância podem levar a


problemas emocionais e comportamentais na vida adulta. Por exemplo, se uma criança
não recebeu atenção suficiente ou não teve as suas necessidades básicas satisfeitas, pode
desenvolver um comportamento dependente ou uma personalidade insegura.

Freud também enfatizou a importância do papel dos pais no desenvolvimento da


criança. Ele acreditava que o relacionamento da criança com seus pais pode influenciar
o desenvolvimento da personalidade e a forma como a criança lida com o mundo.

No entanto, a teoria psicossexual de Freud tem sido criticada por alguns psicólogos
contemporâneos. Uma das principais críticas é que a teoria é baseada em observações
clínicas limitadas e não possui evidências empíricas suficientes para apoiar as suas
ideias. Além disso, a teoria é considerada por alguns como focada exclusivamente na
sexualidade e não leva em conta outros fatores importantes que influenciam o
desenvolvimento da criança.

No entanto, apesar das críticas, a teoria psicossexual de Freud teve um impacto


significativo na psicologia e no estudo do desenvolvimento infantil. Muitos psicólogos e
estudiosos ainda usam a teoria como uma base para a compreensão do desenvolvimento
infantil e para o tratamento de problemas emocionais e comportamentais.

Erikson
Erikson, um psicólogo do desenvolvimento, propôs uma teoria do desenvolvimento
psicossocial que descreve oito estágios do desenvolvimento da vida, começando na
infância e continuando até a idade adulta. Cada estágio envolve uma crise psicossocial
que a pessoa deve enfrentar e superar para avançar para o próximo estágio.

Confiança versus Desconfiança (0 a 1 ano): O bebê desenvolve uma sensação de


confiança em seus cuidadores e no mundo ao seu redor, se suas necessidades básicas
são atendidas e eles recebem amor e carinho.

Autonomia versus Vergonha e Dúvida (1 a 3 anos): A criança começa a se tornar mais


independente e autossuficiente, e pode enfrentar vergonha e dúvida se for
superprotegida ou criticada.

Iniciativa versus Culpa (3 a 6 anos): A criança desenvolve um senso de iniciativa e


curiosidade sobre o mundo ao seu redor, mas pode experimentar culpa se for
desencorajada ou punida por suas ações.

Indústria versus Inferioridade (6 a 12 anos): A criança começa a desenvolver


habilidades e competências e pode sentir orgulho de suas realizações, mas pode
enfrentar sentimentos de inferioridade se comparada a outras crianças ou se suas
realizações não forem valorizadas.

Identidade versus Confusão de Papéis (12 a 18 anos): O adolescente começa a explorar


a identidade e a questionar quem ele é, mas pode experimentar confusão e incerteza se
não encontrar um senso de identidade.

Intimidade versus Isolamento (18 a 40 anos): O jovem adulto desenvolve


relacionamentos íntimos e compromissos, mas pode experimentar isolamento e solidão
se não conseguir estabelecer conexões significativas com os outros.

Generatividade versus Estagnação (40 a 65 anos): O adulto médio se preocupa com a


criação e orientação das próximas gerações, mas pode sentir estagnação e falta de
propósito se não conseguir encontrar um senso de significado em sua vida.

Integridade versus Desespero (mais de 65 anos): O adulto mais velho reflete sobre a
vida e pode experimentar um senso de realização e integridade, mas também pode sentir
desespero se sentir que não alcançou seus objetivos ou se arrepende de suas escolhas.
Erikson acreditava que o desenvolvimento psicossocial é um processo contínuo que
dura a vida toda e é influenciado por fatores biológicos, culturais e sociais. Ele enfatizou
que o ambiente social em que a pessoa vive é um fator importante no desenvolvimento
psicossocial, juntamente com as mudanças biológicas e psicológicas que ocorrem ao
longo da vida.

Erikson afirmou que cada estágio do desenvolvimento psicossocial é caracterizado por


uma crise ou conflito que a pessoa deve resolver para avançar para o próximo estágio.
Se a pessoa for capaz de resolver com sucesso a crise em cada estágio, ela desenvolverá
uma habilidade psicológica saudável que a ajudará a lidar com os desafios que
enfrentará em estágios posteriores do desenvolvimento.

No entanto, se a pessoa não conseguir resolver a crise em um estágio específico, ela


pode ficar presa nesse estágio ou desenvolver problemas psicológicos que afetarão seu
desenvolvimento posterior. Por exemplo, se a criança não desenvolver um senso de
confiança em seus cuidadores durante o estágio de confiança versus desconfiança, ela
pode ter problemas para confiar nos outros mais tarde na vida.

Erikson também enfatizou a importância da identidade na adolescência e argumentou


que os adolescentes precisam de oportunidades para experimentar e explorar diferentes
papéis sociais e identidades para desenvolver um senso de quem são. Ele descreveu a
crise de identidade versus confusão de papéis como uma das mais importantes do
desenvolvimento psicossocial e argumentou que se um adolescente não conseguir
encontrar um senso de identidade, ele pode ter problemas para lidar com os desafios do
início da idade adulta.

a teoria de Erikson do desenvolvimento psicossocial enfatiza a importância do ambiente


social, a continuidade do desenvolvimento ao longo da vida e a resolução bem-sucedida
de crises psicossociais em cada estágio do desenvolvimento. A teoria destaca a
importância de fornecer um ambiente social positivo e apoio emocional para crianças e
jovens para ajudá-los a desenvolver habilidades psicológicas saudáveis e alcançar seu
potencial de desenvolvimento.

Erikson argumentou que o desenvolvimento humano ocorre em oito estágios, cada um


com uma crise psicossocial distinta a ser resolvida. Os estágios são: confiança versus
desconfiança, autonomia versus vergonha e dúvida, iniciativa versus culpa, indústria
versus inferioridade, identidade versus confusão de papéis, intimidade versus
isolamento, generatividade versus estagnação e integridade versus desespero.

Em cada estágio, as crianças enfrentam um desafio específico que deve ser resolvido
para que possam progredir para o próximo estágio. Por exemplo, no estágio de
confiança versus desconfiança, os bebês precisam aprender a confiar em seus
cuidadores para satisfazer suas necessidades básicas. Se eles não receberem cuidados
adequados e confiáveis, podem desenvolver desconfiança e medo em relação aos outros.

A teoria de Erikson enfatiza a importância da relação entre o indivíduo e o ambiente


social em que vive. Ele acreditava que a personalidade se desenvolve em um contexto
social e que as experiências sociais moldam a personalidade ao longo do tempo.

Erikson também destacou a importância do papel dos pais e dos cuidadores no


desenvolvimento infantil. Ele acreditava que os pais precisam fornecer um ambiente
seguro e estável para que as crianças possam se desenvolver emocional e
psicologicamente.

A teoria de Erikson também se concentra na construção da identidade, que é um


processo contínuo que ocorre ao longo da vida. Ele acreditava que a identidade é
formada pela interação entre as experiências da pessoa e a cultura e as expectativas
sociais.

Finalmente, é importante notar que a teoria de Erikson tem sido criticada por alguns por
sua falta de clareza e falta de evidência empírica para apoiar seus argumentos. No
entanto, a teoria ainda é considerada por muitos psicólogos como uma importante
contribuição para o entendimento do desenvolvimento humano.

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