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em parte com o original no seu modo de lidar com o operador; são instrumentos

das técnicas de simulação que tendem a constituir um capítulo autônomo da


ergonomia, como por exemplo os simuladores de vôo, que fornecem ao homem os
mesmo sinais que este receberia numa situação real, parecendo obedecer às ordens
do homem como se este pilotasse um avião em pleno vôo. No entanto, chama
atenção para o fato de que, quando a intenção de simular algo existe, o caminho
entre a máquina real e sua substituta é seguido de grande número de incertezas.
Os modelos seriam linguagens (a máquina fornecendo ao homem estímulos e
este fornecendo respostas), ou seja, expressões inseridas em linguagens mais ade-
quadas; poderiam ser expressões da reflexão do mundo em nós (reflexo este cujas
diretrizes se originam do mundo e das nossas intensionalidades de ação sobre este
mundo), e analogias (no que concorda com A. Chapanis). Em resumo, para
Faverge, os modelos poderiam ser vistos como analogia, reflexo e linguagem cada
vez mais engajados entre si.
O modelo das comunicações seria também muito importante e empregaria a
linguagem matemática utilizando-se da análise lógica de codificação e da teoria da
informação, que se referem à evolução da ergonomia de sinalização e de comando.
O modelo é uma máquina que trabalha a partir de regras heurísticas conhe-
cidas ou supostas preliminarmente, construída a partir de outras, experimentando,
retendo-as e executando uma tarefa correlata à do homem.
O objetivo essencial dos nossos modelos em ergonomia é ser expressão do
modo pelo qual o homem "vê" um processo complexo, de múltiplas interações; os
modelos exprimem os caracteres do reflexo no sistema, no espírito do homem,
conhecimento indispensável para o ergônomo que deseja dirigir os dispositivos de
sinalização e de comando como cadeia intermediária entre o homem e a máquina,
tornando congruentes as atividades de um e outro. Os modelos devem sugerir
idéias, aproximações, e originar temas de pesquisa. Parece que hoje em dia esta
função é tão importante quanto aquelas que Faverge atribui aos modelos.

LUIZA HELENA M. DE LA ROCQUE

Frick, Willard B. Psicologia humanistica. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1975.


214 p.

A psicologia humanística representa a tentativa de se estabelecer um terceiro


posicionamento ou uma "terceira força" no panorama psicológico atual. Repre-
senta ainda a reação contra as tendências mecanicistas e deterministas que carac-
terizam, em um extremo, a abordagem comportamental, e no outro extremo, a
doutrina psico-analítica que, segundo o autor, concebem o homem como a vítima
determinada e infeliz de uma complexa história de reforços ou como o joguete
num duelo entre forças psíquicas inconscientes e pressões sociais externas. A

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psicologia humanística pretende enfocar o ser humano com toda a gama das suas
potencialidades e recursos íntimos, capaz de escolher e de assumir a sua própria
existência. Não obstante careça de um corpo doutrinário, pois representa predo-
minantemente uma posição ftlosófica dentro da psicologia que coloca o homem, a
pessoa humana e suas experiências como o centr~ de seu interesse, a psicologia
humanística já possui entre suas ftleiras algumas figuras relevantes tais como
Abraham Maslow, Carl Rogers, Charlotte Buhler, Rollo May e outros.
O autor, de maneira inédita, através do depoimento de três psicólogos
proeminentes, procura esclarecimentos e definições que forneçam novas perspec-
tivas para a psicologia humanística. Os depoimentos são obtidos em entrevistas
informais, realizadas com Abraham Maslow, Gardner Murphy e Carl Rogers, nas
quais Frick os questiona, de maneira hábil e ao mesmo tempo profunda, não
somente como profissionais mas como seres humanos totais, demonstrando sua
característica de psicólogo humanista. Nos seus depoimentos, os entrevistandos se
expressam livremente a respeito de sua posição doutrinária, de suas atividades
atuais, de experiências passadas, planos futuros, de sua vida privada.
Maslow e Rogers assumem mais nitidamente uma posição humanística, a
convicção do homem humanista psicologicamente livre, enfatizando o objetivo
vital como a aquisição de plenitude humana, a pessoa tomar-se tudo aquilo que é
capaz, em termos de potencialidades.
Maslow discorre a respeito do seu conceito de pessoas auto-realizadoras
como exemplares, modelos de boa escolha, vidas representativas que refletem os
valores instintóides mais elevados. Admite ainda que as pessoas entregues a seus
próprios recursos "crescerão". Quanto à liberdade humana, esta será usada no
sentido pOSitivo por aqueles que não são demasiadamente psicopatológicos e cujos
valores tenham-se estruturado satisfatoriamente. Refere-se à diferenciação entre
pessoas meramente sadias e aquelas transcendentemente sadias, que apresentam
elevado grau de auto-realização e são capazes de vivenciar experiências culminan-
tes. Tais experiências consistem na capacidade de o indivíduo ultrapassar o nível
de gratificação de suas necessidades básicas e de se transportar automaticamente
para uma esfera de atuação que lhe permite transcender a cultura e a sociedade.
No processo de desenvolvimento da personalidade, a crise e até mesmo a desinte-
gração poderão representar significativo potencial em termos de crescimento e de
autodescoberta. Mostra-se, porém, cético quanto à predominância da posição
humanista dentro da perspectiva atual. Acredita que a tendência futura seja uma
psicologia eclética, na medida em que as diferenças ftlosóficas, mais do que as
científicas, sejam esclarecidas e contornadas.
Gardner Murphy adota um posicionamento holístico embora não se consi-
dere propriamente um membro da psicologia humanística. Defende o determi-
nismo moderado que concebe o homem como uma parte das forças cósmicas que
fluem através dele, mas que podem ser por ele controladas.
O poder de escolha é em si mesmo o poder de realizar o que a pessoa é, algo
implícito na sua própria natureza e que, portanto, não envolve indeterminismo.

Resenha bibliográfica 167


Reporta-se à filosofia oriental, onde encontrou a inspiração para a sua concepção
de consciência cósmica ou conscientização do universo no que parece ser o ideal
almejado através das drogas psicodélicas. Embora reconheça o perigo existente,
defende a necessidade de se dar continuidade aos estudos científicos com LSD-25
e a mescalina. Informa a respeito de experimentos realizados no âmbito da para-
psicologia e expressa sua convicção do seu possível potencial. Acredita que, na
situação atual da psicologia, há dificuldade em se definir a personalidade sadia,
dispondo-se de conhecimentos mais seguros a respeito das coisas que inibem o seu
desenvolvimento, tais como a culpa, a vergonha, as humilhações, ou que facilitam
o seu desenvolvimento, tais ~omo o amor, a generosidade, o apoio, a firmeza.
Segundo Murphy, o psicólogo 'sabe tanto a respeito da personalidade em termos
globais como o dramaturgo ou o romancista. Prevê, no futuro, a psicologia cada vez
mais propensa a aceitar o projeto experimental, brilhantemente sofisticado, os
modelos estatísticos e matemáticos, enfim, o psicólogo como o cientista "ultra-
científico". Nesse ponto, deixa claro suas restrições à linha humanista, que consi-
dera ainda vaga e desprovida de fundamentação sólida e metódica.
Rogers discorre sobre a autorealização, conceituando-a como algo que emer-
ge da consciência da pessoa, sendo esse componente consciente o elemento que .
caracteriza primordialmente o ser humano. Essa capacidade de conscientização se
origina da própria constituição genética do indivíduo e resulta do seu processo
evolutivo. O crescimento, em condições adequadas, oferecerá oportunidades de
escolhas sadias. Todavia, não rejeita a possibilidade de escolhas destrutivas, por ser
o homem capaz de realizar também tais escolhas quando a sua situação não tem
sido boa, quando não está plenamente cônscio de si mesmo e de seus antece-
dentes. A capacidade de autocompreensão, ou uma autoconscientização realista,
representa papel importante na escolha e, conseqüentemente, no desenvolvi-
mento humano no sentido positivo. Ressalta o aspecto dinâmico da congruên-
cia, que implica estar consciente de mudanças contínuas e do contínuo vir a ser
que representa o crescimento. Referindo-se às aprendizagens significativas que
acompanham o crescimento e que podem ocorrer também em aconselhamento e
terapia, assinala que envolvem certa dose de ameaça e dor, às vezes moderada,
outras vezes muito severa. Configura, sob esse aspecto, a doença como experiên-
cia potencialmente positiva, na qual a desintegração, como resultado de uma
situação de crise, poderá constituir aprendizagem altamente significativa, porém
dolorosa. Esclarece sua posição face à teorização; embora a considere necessária
e desafiadora, representa potencialmente uma fonte para distorções e interpre-
tações errôneas. Acrescenta que isso ocorreu com respeito à sua própria teoria.
Reconhece as modificações ocorridas na psicoterapia centrada no cliente, cuja
direcionalidade é no sentido de uma flexibilidade crescente e de acentuada
valorização da condição facilitadora da autenticidade. Quanto às tendências
futuras da psicoterapia, admite que haverá brusca ascensão das técnicas comporta-
mentais porque parecem ser as que mais se ajustam ao espírito mecanicista pre-
dominante na cultura atual. Todavia, antevê uma reação por parte das gerações

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mais jovens de psicólogos e, a longo prazo, a ampliação da comunicação humanís-
tica "pessoa para pessoa".
Na segunda parte da obra, o autor propõe localizar na teoria holística da
personalidade as raízes doutrinárias da psicologia humanística. As seguintes
características da teoria holística justificam seu ponto de vista: a) ênfase no
papel de cada dimensão, de cada função parcial, capaz de ser identificada no
processo de desenvolvimento e do funcionamento do organismo total; b) enfo-
que de cada função parcial e subsistema em sua relação com Uma organização, e
nos objetivos mais amplos e unificados; c) esforço no sentido de restabelecer a
unidade do homem e apresentá-lo como um todo; d) revelação das caracterís-
ticas intrínsecas, dinâmicas internas e princípios sistemáticos que contribuem
para o funcionamento e bem-estar total do homem, para a concretização de
seus mais elevados e criativos potenciais. Entende o autor que, através dessa
abordagem relativamente recente da teoria e pesquisa da personalidade, tem sido
descoberto que existe uma unidade e totalidade orgânicas no crescimento da
personalidade humana e uma integridade biológica que, se respeitada, alimen-
tada e encorajada para desenvolver-se e afirmar-se a si mesma, ·tem o poder de
transcender as determinantes mais externas e superficiais do desenvolvimento da
personalidade.
Urna análise comparativa das idéias de Maslow, Murphy, Rogers, na qual
ressalta particularmente as suas concepções individuais sobre a caracterização da
personalidade sadia, é apresentada como parte final.
A Psicologia humanistica de Frick representa uma contribuição valiosa para
os que se interessam pelo assunto em geral e, em particular, para os que desejam
ter uma visão atual do pensamento dos autores entrevistados quanto aos temas
sobre os quais foram inquiridos. Constitui ainda uma leitura sumamente agradável
e atraente pela forma original com que foi organizada.

RUTH SCHEEFFER

Marcuschi, L. A. Linguagem e classes sociais: introdução critica à teoria dos


códigos lingüisticos de Basil Bemstein. Porto Alegre, Editora Movimento, Co-
edições URGS, Universidade do Rio Grande do Sul, 1975.84 p.

A obra de Marcuschi é, como ele mesmo diz na apresentação (p. 9), uma tentativa
de "sistematizar um autor que nunca se apresentou de forma sistemática" - Basil
Bernstein, com sua contribuição à sociolingüística.
Na introdução, o autor define o campo da sociolingüística: "vai desde os
problemas que surgem na comunicação entre os indivíduos (seja no plano afetivo.

Resenha bib/io/(rájica 169

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