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Brucelose

CID 10: A23


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ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS


Descrição - Doença sistêmica bacteriana, com quadro clínico muito
polimorfo. Seu início pode ser agudo ou insidioso, caracterizado por
febre contínua, intermitente ou irregular, de duração variável. Um
sintoma quase constante é a astenia e qualquer exercício físico produz
pronunciada fadiga, acompanhada de mal-estar, cefaleia, debilidade,
suor profuso, calafrios, artralgia, estado depressivo e perda de peso. Em
alguns casos, podem surgir supurações de órgãos, como fígado e baço.
Quadros sub-clínicos são frequentes, bem como quadros crônicos de
duração de meses e até anos, se não tratados. Devido ao polimorfismo
das manifestações e ao seu curso insidioso, nem sempre se faz a sus-
peita diagnóstica. Muitos casos se enquadram na síndrome de febre de
origem obscura (FOO). Essa febre, na fase aguda e subaguda, em 95%
dos casos, é superior a 39°C. Complicações ósteo-articulares podem
estar presentes em cerca de 20 a 60% dos pacientes, sendo a articulação
sacroilíaca a mais atingida. Orquite e epididimite têm sido relatadas
e, também, pode ocorrer endocardite bacteriana. Em geral, o paciente
se recupera, porém pode ficar com incapacidade intensa no curso da
enfermidade, sendo importante o diagnóstico e tratamento precoces.
Recidivas ocorrem, com manifestações parciais do quadro inicial ou
com todo o seu cortejo.
Sinonímia - Febre ondulante, febre de Malta, febre do mediterrâneo,
doença das mil faces ou melitococia.
Agente etiológico - Brucella melitensis, biotipos 1 e 3; Brucella suis,
biotipos 1 e 5; Brucella abortus, biotipos 1, 6 e 9; Brucella canis. No
Brasil, a maioria dos quadros de Brucelose está associada à infecção
por B. abortus.
Reservatórios - Gado bovino, suíno, ovino, caprino e outros animais,
como cães.
Modo de transmissão - Contato com tecidos, sangue, urina, se-
creções vaginais, fetos abortados, placenta (grande fonte de infecção),
ingestão de leite cru e derivados provenientes de animais infectados,
acidentes em laboratórios e da prática vacinal.
Período de incubação - Muito variável, de 1 a 3 semanas, mas pode
prolongar-se por vários meses.
Período de transmissibilidade - Não se transmite de pessoa a
pessoa.
Secretaria de Vigilância em Saúde / MS 105
DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS

Complicações - Encefalites, meningites, neurites periféricas, artrite


supurativa, endocardite vegetativa e endocardite bacteriana subaguda,
que, se não diagnosticada e tratada, pode levar a óbito. Ocorrem tam-
bém infecções do aparelho geniturinário, podendo ocasionar redução
da potência sexual.
Diagnóstico - Suspeita clínica aliada à história epidemiológica de
ingesta de produtos animais contaminados mal cozidos, não pasteu-
rizados ou esterilizados. A confirmação diagnóstica se faz através da
cultura de sangue, medula óssea, tecidos ou secreções do paciente. As
provas sorológicas (aglutinação em tubos) devem ser realizadas com
soros pareados em laboratórios com experiência e em soros pareados,
para se observar a elevação dos anticorpos. A soroaglutinação em tu-
bos para B. abortus com títulos >80 ou >160, respectivamente, em 24 a
48 horas do período de incubação e o aumento desses, em 4 vezes, em
testes pareados indicam a doença. A interpretação desses testes, em pa-
cientes com quadro crônico, fica dificultada porque os títulos em geral
são baixos.
Diagnóstico diferencial - Febres de origem obscura, endocardite
bacteriana, febre tifóide, dentre outras infecções.
Tratamento - Antibioticoterapia, sendo a droga de escolha a Doxici-
clina (200mg/dia), em combinação com a Rifampicina (600 a 900mg/
dia), durante 6 semanas. Se houver recidivas, repetir o tratamento, por-
que, em geral, não se deve à resistência aos antibióticos e sim a seques-
tro dos agentes por algum órgão que não permite a ação da droga. Não
usar a Doxiciclina em menores de 7 anos. Sulfametoxazol e Trimeto-
prim podem ser associados à Gentamicina, nesses casos.
Características epidemiológicas - A distribuição é universal, es-
tando relacionada com o controle dos animais. É doença comumente
ligada à atividade profissional, portanto frequente em trabalhadores
que lidam com gado e no beneficiamento de leite e derivados. Os fun-
cionários de matadouros, por terem contato direto com os animais e
suas vísceras e secreções durante as operações do abate e evisceração,
são o grupo de risco mais acometido. Durante essas operações pode
haver ruptura de vísceras e contaminação de lesões da pele ou de con-
juntivas dos funcionários envolvidos nesses processos.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Objetivo - Reduzir a morbimortalidade por meio da articulação com
os órgãos responsáveis pelo controle sanitário dos rebanhos, alertando

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BRUCELOSE

a vigilância sanitária para impedir a distribuição e consumo de produ-


tos contaminados.
Notificação - Não é obrigatória a notificação de casos isolados. Na
vigência de surtos, deve ser notificada, realizada a investigação epide-
miológica e adotadas as medidas de controle indicadas.
Definição de caso
t 4VTQFJUP - Todo paciente com febre de início agudo ou insidioso,
história epidemiológica sugestiva de contato com produto de origem
animal contaminado e com outras manifestações clínicas sugestivas
de Brucelose.
t $POĕSNBEP - Indivíduo com as características descritas para o caso
suspeito e confirmação através de exames laboratoriais.

MEDIDAS DE CONTROLE
t &EVDBÎÍPFNTBÞEF - Informar a população para consumir leite e
outros derivados devidamente pasteurizados e/ou fervidos; educar
os trabalhadores que cuidam de animais sobre os riscos da doença
e sobre os cuidados (incluindo o uso de equipamentos de proteção
individual) para evitar o contato com animais doentes ou potencial-
mente contaminados.
t $POUSPMFTBOJUÈSJPBOJNBM - Realizar provas sorológicas e eliminar
os animais infectados. Cuidados no manejo para eliminação de
placentas, secreções e fetos dos animais.
t *OTQFÎÍPTBOJUÈSJBEFQSPEVUPT - Atuação dos órgãos de fiscalização
agropecuária na inspeção de produtos de origem animal, como leite
e seus derivados. Desinfecções das áreas contaminadas.
t .BOFKPEPTQBDJFOUFT - Ter precauções com o material de drenagens
e secreções. Realizar a desinfecção concorrente das secreções puru-
lentas. Investigar os contatos para tratamento e controle. Investigar
as fontes de infecção para adoção de medidas de prevenção. Em
situações de epidemia, investigar fontes de contaminação comum,
que, em geral, são os produtos de origem animal contaminados,
principalmente leite e derivados não pasteurizados, esterilizados ou
fervidos. Confiscar os alimentos suspeitos até que sejam instituídas
as medidas de prevenção definitivas. Em laboratórios, observar o
cumprimento das normas de biossegurança, incluindo o uso correto
dos equipamentos de proteção individual.

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