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Boa noite gente, sou Isadora e vou continuar a nossa sessão de tumores neuroendócrinos.
Escolhi como tema principal da sessão um tipo de câncer de pulmão, pois, além de ser o tipo
de câncer que mais mata no mundo, é o local mais comum, após o trato gastrointestinal, a ser
acometido por tumores neuroendócrinos, o que o torna um tema relevante
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Aqui está nosso sumário, teremos a introdução, fisiopatologia genética, onde abordarei as
mutações, depois falarei um pouco sobre metástase, as manifestações clínicas, diagnóstico,
tratamento e referências
Embora, antes das referências irei comentar brevemente sobre um tumor bem incomum e
recente, não relacionado ao pulmão, como uma breve curiosidade.
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Agora, começando nossa introdução, falarei sobre esse carcinoma.
Aqui no slide destaquei 2 características que contribuem para esse excessivo grau de
mortalidade:
Primeiro, se trata de um tumor de células pouco diferenciadas; Ou seja, é formado por células
com muita anaplasia, de pouca semelhança com tecido de origem, com uma taxa de
proliferação celular altamente desordenada e alto grau de invasibilidade, o que o torna um
tumor bem agressivo, com forte incidência de metástase
E, como botei no slide, é classificado como um tumor de alto grau, justamente devido a sua
taxa de mitose e necrose elevada.
Por sinal, caso alguém ache estranho ter muita necrose quando se tem muita mitose no tumor,
vou resumir rapidamente os motivos:
Primeiro, que a angiogênese e suprimento metabólito pode não conseguir acompanhar a taxa
de crescimento, fazendo as células entrarem em estresse metabólito e morte celular. E, alta
taxa de mitose gera muitos resíduos metabólitos tóxicos, podendo sobrecarregar o sistema de
drenagem do tumor e levar ao acúmulo dessas substâncias, levando a necrose.
A necrose é um fator que agrava o estado inflamatório do indivíduo, que o tumor já cria,
podendo estressar ainda mais o organismo, piorando ainda mais seu prognóstico.
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Para concluir a introdução, falarei um pouco da epidemiologia dessa doença:
Os pacientes costumam ser homens, embora a proporção entre homem e mulher esteja
diminuindo nos últimos 50 anos, fumantes, esse o fator mais importante. Quem tem esse
tumor serão quase sempre indivíduos com elevadas cargas tabágicas, cerca de mais de 40
anos/maço. A que se for avaliado sua presença em alguém que não fuma , é necessário uma
reavaliação completa. Além do fator de incidência, também temos de morbimortalidade,
pois muitos apresentam doença pulmonar obstrutiva crônica, o que piora substancialmente
o prognóstico.
Uma influência genética indireta, pois há genes que influenciam no risco de dependência a
nicotina e consequentemente de se tornar um fumante compulsivo
E, como informação extra, um fator importante é nosso cunho psíquico. Indivíduos com
transtornos de personalidade e doenças psiquiátricas tem uma desregulação no sistema de
recompensa do cérebro e na regulação hormonal , o que os torna mais susceptíveis a drogas,
especialmente as que agem diretamente no sistema de recompensa, como o cigarro. Aqui,
também quero destacar que algumas neurodivergências, mais especificamente o TDAH,
merece atenção, pois além de serem susceptíveis a uso de substâncias(cerca de 2 a 3x mais
que a população em geral), a nicotina tem um efeito redutor na hiperatividade e pode
aumentar a atenção, o que pode aumentar ainda mais o consumo do tabaco. Inclusive,
algumas pesquisas já estão buscando associar nicotina como tratamento para depressão ,
ansiedade e tdah, coloquei nas referencias um desses artigos, caso alguém tenha interesse.
Obviamente, só para deixar claro, ninguém vai passar malborão como remédio não, por
favor. Nesse artigo mesmo, se usa nicotina transdermal
Agora, podemos fechar nossa introdução e partir para fisiopatologia desse carcinoma
Antes de falarmos das bases genéticas, precisamos ter uma ideia geral de quais células são
normalmente mutadas nesse carcinoma;
Sem surpresa, são as células do sistema neuroendócrino difuso do pulmão, embora uma
minoria possar ter origem em outras células presentes no tecido pulmonar.
Mas, outros tipos celulares também podem ser mutados, como as células neuroendócrinas
brônquicas, de reserva, que são progenitoras e de tipo intermediário(entre epitelial e
neuroendócrina)
Agora que conhecemos as células, podemos avaliar quais mutações oncogênicas ocorrem
nelas, que acaba causando a proliferação desse tumor?
Bem, as mutações estão associadas às toxinas do tabaco, e , como uma boa discípula de Iura,
trouxe aqui uma tabela de uma das revisões que usei na apresentação, que mostra todos os
genes conhecidos que podem ser mutados, tendo aumento ou diminuição de sua expressão.
Bem, de cara, podemos ver que o mais relevante são as mutações inibidoras do gene Tp53 e
RB1, que serão as vias que irei aprofundar aqui.
Isso é interessante, pois, teremos Inativação concomitante de p53 e RB na grande maioria dos
casos, e isso difere de outros tumores pulmonares, que estão muito associados com
mutações ativadoras
Por sinal, Muitas desses genes tabelados só foram avaliados em ratos, pois a coleta de
amostras para o estudo desse câncer é difícil, mas, o da p53 e rb1 já são bem consolidados nas
alterações em humanos.
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VIA P53:
1. Em células saudáveis, sinais como danos ao DNA irão induzir a expressão do gene ARF
e formação de suas proteínas p14 e p19
2. O produto do gene ARF, as proteínas p14/19 regulam negativamente a atividade de
MDM2, aumentando os níveis de p53
3. Isso ocorre porque a MDM2 é um regulador negativo de p53, o marcando para sofrer
ubiquitinação e degradação, além de inativar sua função de fator de transcrição
4. Com sua expressão aumentada, a p53 atua como um fator de transcrição e controla a
expressão de vários genes., como a WAF1(p21), inibidor de CDks e BAX, Proteína
mitocondrial pró apoptótica , importante na via intrínseca da apoptose
(permeabilização da membrana externa mitocondrial)
Lembrando que, mesmo que as CDks ajudem a regular e” vigiar” o ciclo, também são
responsáveis por fosforilar e ativar proteínas-alvo envolvidas na progressão do ciclo celular.
Então, se inibí-las, impede que a célula passe para outra fase do ciclo, causando apoptose
VIA RB:
1. Sinais de estresse celular vão induzir a expressão do gene INK4A, que expressa
proteínas inibidoras de CDKs, que também fosforilam e inativam proteína RB
2. A RB regula a expressão de vários genes através do recrutamento de fatores de
transcrição e proteínas de remodelação da cromatina
3. A atividade de RB resulta na inibição da atividade do fator de transcrição E2F, essencial
para a transcrição de genes necessários para a progressão das fases G1 e S do ciclo
celular.
• Primeiro, podemos ver que o aumento de WAF1 vai diminuir a atividade das CDks e
consequentemente aumentar atividade de RB
• E o aumento de RB Inibe ação de MDM2, aumentando ação da p53
Percebemos por esse super resumo que a RB e a p53 são muito importantes na morte celular
de células defeituosas. Logo, se seus genes forem inativados, como ocorre na mutação do
carcinoma de células pequenas, faz sentido que as células se tornem oncogênicas e se
proliferem descontroladamente. Nesse próximo slide, trouxe um resuminho das funções do RB
e p53, para fixar a informação
O gene p53 desencadeia parada do ciclo celular ou apoptose em resposta a fatores celulares
estressantes
Já aqui, está um problema que ocorre no tumor de células pequenas, o que é um importante
mecanismo de imortalização celular e oncogênese
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Agora que terminamos a fisiopatologia genética, podemos dar uma olhadinha na parte de
metástase, que é muito importante nesse tumor, pois, como está no slide, 2/3 dos pacientes
• Espelhando sua alta predileção metastática, a concentração de células tumorais
circulantes (CTCs) no SCLC está entre as mais altas de qualquer tumor sólido- e, não
coincidentemente, também apresenta maior mortalidade comparada a outros tumores
sólidos.
Causas genéticas:
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Agora, podemos ir para as manifestações clínicas do carcinoma:
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Aqui temos outra imagem, uma TC SCAN de janela pulmonar mostrando um tumor também no
lado esquerdo.
✓ Tosse
✓ Dispneia
✓ Hemoptise, normalmente- tosse com sangue
✓ Fadiga
✓ Anorexia
✓ Perda de peso
✓ Queixas neurológicas
E, por fim,
✓ Síndromes paraneoplásicas : São síndromes que não tem relação nem com
disseminação nem com crescimento local do tumor. Essas síndromes ocorrem devido a
substâncias químicas liberadas pelo tumor ou em resposta a uma resposta imunológica
anormal desencadeada pelo câncer.
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Primeiro, irei falar das 4 síndromes mais comuns:
Cushing: 3 vez que falo em um seminário sobre isso nesse semestre, socorro. Mas enfim, o
tumor pode se comportar como uma neoplasia ectópica produtora de ACTH- uma forma de
síndrome de Cushing ACTH dependente
Temos a Síndrome de hormônio antidiurético inapropriado, que pode ocorrer quando tumor
produz excesso de ADH, o que irá aumentar reabsorção de água pelos rins e causar diluição
dos sais no sangue e consequentemente hiponatremia
Temos, por fim, a Síndrome de Lambert-Eaton→ Também devido a resposta imune anormal,
especialmente a humoral. O tumor pode ocasionar produção de anticorpos que irão atuar
nos canais de cálcio nas junções neuromusculares, interferindo na liberação de acetilcolina e
impedindo sinapse, causando fraqueza muscular progressiva, especialmente nos membros
inferiores.
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Agora, falando das síndromes paraneoplásicas raras, temos 5:
2. Dermatomiosite: Ocorre pois tumor produz proteínas que desencadeiam resposta imune
anormal, produzindo anticorpos que atacam pele e músculo, causando inflamação, erupções e
paresia.
Essa imagem traz um sinal clássico dessa doença, que são lesões eritematosas na região
dorsocervical em forma de V, que recebe nome de “sinal do xale”
3. Hipo ou hiperglicemia: Tumor pode produzir insulina e incretinas, que podem causar
hipoglicemia, mas que, com o tempo, podem também ocasionar resistência insulínica e
consequente hiperglicemia
5. Por fim, a ginecomastia pode acontecer em indivíduos com sexo biológico masculino, pois o
tumor pode produzir estradiol
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Agora que terminamos de falar das manifestações clínicas, podemos falar sobre o diagnóstico:
Primeiro, é importante salientar que na maioria dos casos, o tumor é descoberto por acidente,
por uma broncoscopia ou exame de imagem para outra coisa, por exemplo.
→ Também teremos exames que são usados não para diagnóstico, e sim para avaliar
extensão da doença. De imagem, como RM de cérebro , para avaliar metástase é um
clássico, mas podemos avaliar também por meio de exames de sangue
→ Temos exames também que são realizados antes de se usar drogas da quimio, por
exemplo, como o ECG
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Agora que já sabemos como o diagnóstico é feito, podemos ir para o tratamento, que varia de
acordo com o estágio do carcinoma:
Tumor em fase 1, com localização periférica: Bem raro, maioria já chega em fase 4
✓ Manejo controverso, por falta de ensaios clínicos, mas normalmente se faz ressecção
cirúrgica e radiocirurgia estereotáxica, aplicando de forma não invasiva doses altas e
focais de radiação. Também pode se fazer radioterapia fracionada, em que fraciona a
dose total de radiação em múltiplas doses menores. Há poucos dados, mas apresenta
eficácia parecida com a da cirurgia, com baixas taxas de toxicidade aguda e tardia
✓ Quimiorradioterapia
✓ Radioterapia adjuvante para aliviar os sintomas e para quem apresenta resposta ruim a
quimio
A ICP, por exemplo, tem controvérsias, pois os pacientes podem apresentar neurotoxicidade
aguda ou tardia, incluindo ataxia, confusão, perda de memória e demência associada à redução
da qualidade de vida Quimiorradioterapia em pacientes sem metástase também está sendo
associada muitas vezes em uma piora na qualidade de vida
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Antes de finalizarmos a parte de tratamento, gostaria de falar um pouco sobre os anticorpos
monoclonais usados junto da quimio em pacientes em fase 4 do tumor
Antes de falarmos sobre eles, precisamos saber o que são os checkpoints imunológicos
O checkpoint imunológico é um mecanismo regulador, responsável pelo equilíbrio da resposta
imune no indivíduo, trabalhando afim de impedir resposta imune inadequada ou exarcerbada.
Isso é feito por meio de moléculas controle expressas na superfície das nossas células, que
estimulam ou inibem essa resposta
Quando as proteínas de checkpoint imunológico se ligam aos seus ligantes ou receptores nas
células do sistema imunológico, elas podem enviar sinais de ativação ou inibição, influenciando
o comportamento das células imunológicas. Isso regula a resposta imune, permitindo que o
sistema imunológico reconheça e ataque efetivamente patógenos, como vírus e bactérias,
enquanto ao mesmo tempo evita danos excessivos aos tecidos saudáveis.
Ela se trata de uma molécula expressa nas células do nosso corpo, que se liga aos receptores
PD-1 de células T, impedindo resposta autoimune
O problema está no fato que os tumores expressam muita PDL-1, se passando de células
saudáveis, conseguindo, por isso, muitas vezes escapar da resposta imune
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2 anticorpos monoclonais usados no carcinoma de células pequenas é o pembrolizumabe e
nivolumabe, que são anticorpos anti PD-1 de células T. Eles se ligam a esse receptor, inibindo
sua atividade, e consequentemente , impedindo de PDL-1 dos tumores se liga a esse receptor,
impedindo seu escape da resposta imune.
Na verdade gente, sua eficácia não é tão relevante nesse câncer. De fato, estudos citados na
revisão que usei como base para a apresentação mostram uma melhora na sobrevida,
aumentando ela em 2 meses, além de aumentar a taxa de indivíduos com sobrevida de 2 anos.
Mas, isso é observado só em um grupo limitado, pois a maioria dos pacientes não teve
benefícios expressivos. Então, sabendo disso, e sabendo também o quão caro esses anticorpos
são, 4ml do pembro é 22 mil reís,seu custo benefício é muito pequeno.
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Antes de terminar, aqui é só uma curiosidade sobre uma glândula endócrina bem importante,
mas esquecida demais: A pineal
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Agora de fato acabou, aqui estão minhas referências, de texto e imagem.