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I - Introdução
Contudo, o que se pretende demonstrar é que não cabe a discussão a respeito de como
devem ser caracterizados os imóveis, caso desocupados, mas sim a respeito da legalidade da
cobrança da alíquota de 1,5% no período que se passou e que, portanto, a ação deve ser
julgada inteiramente improcedente.
Inclusive, neste caso específico dos artigos 1° e 2° do Decreto fictício, percebe-se que
o legislador não dividiu o IPTU exatamente como residencial e comercial, mas sim como
residencial e não-residencial. O uso das expressões “para imóveis construídos com utilização
diversa da referida no artigo 1°” e “como atividade comercial” evidencia que o legislador
quis tributar com maior alíquota todos aqueles imóveis que não são utilizados como
residências, incluindo como exemplo os que possuem como finalidade a atividade comercial.
Art. 1° O imposto calcula-se à razão de 1,0% sobre o valor venal do imóvel, para
imóveis utilizados exclusiva ou predominantemente como residência.
Art. 2° O imposto calcula-se à razão de 1,5% sobre o valor venal do imóvel, para
imóveis construídos com utilização diversa da referida no artigo 1°, como atividade
comercial.
Inicialmente, cabe entender qual o sentido que o legislador buscou dar ao termo
“residência”. Por residência, é possível compreender o local onde a pessoa mora com intuito
permanente. Quando o legislador diferencia estabelecimento comercial e residência, fica clara
sua intenção de privilegiar o imóvel da entidade familiar, bem como efetivar os direitos
sociais fundamentais do cidadão, como seu direito à moradia. A cobrança com base em
alíquota menor é, portanto, um esforço realizado para garantir que tais direitos sejam
preservados. Em segundo lugar, pode-se entender que a alíquota maior para estabelecimentos
comerciais é baseada no fato de que a capacidade contributiva destes estabelecimentos é
maior do que a de uma residência, afinal, existe aqui o potencial de auferir renda.
Da leitura do artigo 2º, por sua vez, entende-se que para imóveis construídos com
utilização diversa da residencial como, por exemplo, a atividade comercial, cobra-se a
alíquota de 1,5%. Perceba-se que, novamente, existe maior atenção à residência,
diferenciando-a de qualquer outro tipo de utilização. Como exemplo de utilização diversa da
residencial, aponta-se novamente a utilização para fins de atividade comercial.
Não obstante, poderia o contribuinte alegar que o fato de a atividade comercial ter
sido atrapalhada pelo cenário pandêmico retira a justificativa de cobrança maior, uma vez que
se o imóvel não aufere renda, não existe aumento da capacidade contributiva e, com isso, a
cobrança da alíquota maior ficaria injustificada. Entretanto, tal argumento não se sustenta.
Primeiramente, cumpre ressaltar que a atividade comercial ali exercida não foi
totalmente interrompida. Ademais, ainda que os imóveis não pudessem ser utilizados para
atendimento presencial, como tinha sido a intenção inicial, ainda sim contribuíram para
estruturar a atividade comercial do restaurante, seja em forma de cozinha parcial, em forma
de escritório, depósito, ou até mesmo funcionando como garagem para estruturar a atividade
de delivery, entre outros.
Em segundo lugar, funcionando ou não, tais imóveis não deixam de ser voltados para
a atividade comercial. Dessa forma, a possibilidade de maior capacidade contributiva sempre
está presente, é inerente à propriedade, sendo que a qualquer momento tais estabelecimentos
poderiam voltar a ser utilizados para atendimento presencial dos clientes. Além disso, o fato
de que, em plena pandemia, o contribuinte precisou ampliar sua cozinha, também é forte
indicador de que sua maior capacidade contributiva não só se manteve como também
aumentou.
Por fim, ainda que os pontos acima sejam rechaçados, é inquestionável que os
imóveis em discussão nunca foram utilizados para fins residenciais. Assim, mesmo que se
alegue a falta de auferimento de renda ou a impossibilidade de realizar atividade comercial,
fato é que tais imóveis não poderiam ser enquadrados como residência e, portanto, nunca
fariam jus à alíquota de 1,0%. Seria até injusto, do ponto de vista social, que imóveis
constituídos como restaurantes fossem equiparados a residências, unidades essenciais para a
entidade familiar.
Caso o contribuinte não possua os meios para arcar com o imposto, poderia pleitear a
suspensão da cobrança do IPTU, alegando limitação substancial ao uso e gozo da propriedade
comercial, por exemplo. No entanto, não é isso que aqui se discute. A discussão é em torno
da alíquota aplicável, e não do dever ou não de pagamento do imposto. É possível discutir se
a restrição das atividades comerciais prejudica ou não o pleno exercício do direito da
propriedade de um imóvel comercial. Entretanto, fato é que não utilizar imóvel comercial
não o transforma automaticamente em residência.
É evidente que o fisco não pode se responsabilizar por erros cometidos pelo
contribuinte e que o registro do imóvel não pode ser alterado após a cobrança.
V - Conclusão
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 17. ed. rev. e atual.
[S. l.]: Forense, 2020.
Descubra as diferenças entre IPTU residencial X comercial. In: Melhor taxa. Disponível em:
https://www.melhortaxa.com.br/entenda-o-credito/descubra-as-diferencas-entre-iptu-residenc
ial-x-comercial#:~:text=IPTU%20residencial%20e%20comercial&text=Quando%20se%20tr
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Você sabe qual é a diferença entre IPTU residencial e comercial? Entenda. [S. l.], 30 jan.
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