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A constitucionalidade da arbitragem e sua

disciplina no Anteprojeto de CPC

Thiago Luís Sombra

Sumário
1. O antepassado juízo arbitral, sua finali-
dade e seus entraves. 2. A Lei 9.307/96, o novo
mecanismo de funcionamento da arbitragem
e suas peculiaridades. 3. O voto do Ministro
Sepúlveda Pertence e a constitucionalidade dos
artigos 6o e 7o da Lei 9.307/96. 4. Os argumentos
acerca da jurisdicionalidade e a constituciona-
lidade genérica da Lei 9.307/96 e a refutação
dos argumentos contrários. 5. A disciplina da
arbitragem no Anteprojeto de CPC.

1. O antepassado juízo arbitral,


sua finalidade e seus entraves
A arbitragem é um instituto cuja ideia
central de funcionamento – a heterocomposi-
ção dos conflitos de interesses – é demasiada
antiga em nossa tradição jurídica. Precipu-
amente, seu verdadeiro escopo é promover
uma alternativa à resolução de conflitos
altamente complexos e técnicos, que exijam
a presença de profissionais especializados,
quais sejam, os árbitros1.
1
Na explicação de Carlos Alberto Carmona (1996):
“enganam-se aqueles que acreditam, ingenuamente,
que a arbitragem serve sobretudo para descarregar
o excesso de trabalho dos tribunais. Ledo engano!
Faz-se mister perceber, antes de mais nada, que a ar-
bitragem é um mecanismo sofisticado para a resolução
de controvérsias de maior complexidade, que exijam
Thiago Luís Sombra é Procurador do Esta- a presença de técnico especializado. (...) Mais uma
do de São Paulo; Mestre em Direito Civil pela vez, enganou-se o legislador, pois não percebeu que
PUC-SP; Pós-Graduado em Direito Civil pela a instituição do juízo arbitral é – para dizer o mínimo
Università di Camerino; Professor da Escola – pouco compatível com a própria idéia dos Juizados
da Magistratura e do Ministério Público do DF. Especiais, eis que parece de todo inconveniente insti-

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Em segundo plano, visa a atenuar o da obrigatória subordinação da arbitragem
trânsito processual e, consequentemente, à homologação judicial.”3
evitar a crescente carga de processos que Ora, se as soluções dadas pelas partes,
ameaça inviabilizar o funcionamento dos com o intuito de pôr fim ao conflito, care-
tribunais. Ressalve-se, ainda, que a arbi- cessem regressar ao Judiciário para gozar
tragem faculta às partes escolherem a via de plena validade, “repetindo-se, assim,
mais adequada para dirimir seus conflitos, o circuito das prestações jurisdicionais
a saber, a via arbitral ou judicial. típicas”4, sua finalidade precípua esvair-
Apenas com o intuito de melhor evi- -se-ia em face de sua ilógica tramitação.
denciar a importância (WALD, 2000) deste Pois bem, as partes possuíam duas possi-
mecanismo, basta demonstrar a constante bilidades: 1) usar de seu direito subjetivo
busca por meios conciliatórios privados, abstrato de ação e, desta forma, interromper
fugindo-se, assim, do recurso aos tribunais, a inércia da prestação jurisdicional ou 2)
advinda da Constituição do Império de utilizar o juízo arbitral para extinguir a
18242, cujo artigo 160 dispõe: “nas causas lide e, posteriormente, sujeitar a solução à
cíveis e penais, civilmente intentadas, po- homologação judicial (antigos artigos 1097
derão as partes nomear juízes árbitros, cujas e 1098 do Código de Processo Civil e artigo
sentenças serão executadas sem recursos, se 1045 do Código Civil de 1916), sob pena de
assim o convencionarem ambas as partes”. invalidade da decisão proferida pelo juízo
Neste sentido, o artigo 161 da Constituição arbitral.
do Império prescrevia: “sem se fazer cons- Com efeito, se a função do juízo arbitral
tar que se tem intentado o meio de recon- era fulminar a lide de modo mais rápido
ciliação, não se começará processo algum”. e preciso, fora do âmbito judicial, os fatos
Conquanto meios conciliatórios, de na- demonstram que, na prática, tais efeitos
tureza privada, tenham sido consagrados não ocorreram. Acrescente-se, ainda, que
pela Constituição de 1824, o Código Civil a necessidade de homologação da decisão
brasileiro de 1916 representou um verda- arbitral acabava com algumas de suas “van-
deiro retrocesso para o direito processual, tagens” – tais como o sigilo –, uma vez que,
no que diz respeito a tal matéria. O antepas- instaurado o procedimento de oficialização,
sado mais próximo do atual mecanismo de o conteúdo da decisão arbitral tornava-se
arbitragem – o juízo arbitral – consagrou-se, público.
no Código Civil de 1916, como letra morta. Outro entrave considerável que merece
Na exposição de motivos da Lei particular atenção é a cláusula compromis-
9.307/96, o então Vice-Presidente da Repú- sória. Esta cláusula é, em verdade, uma
blica, Marco Maciel, lembrou que o motivo disposição inserida no contrato, por meio
pelo qual o juízo arbitral permaneceu como da qual as partes “se comprometem a, sur-
letra morta no Código Civil “não resultou gido um determinado litígio acerca daquela
da falta de tradição em sua aplicação, mas
3
Exposição de motivos da Lei 9.307/96. No mes-
tuir um juízo especializado para solucionar questões mo sentido, ainda “vale analisar, pelo menos, dois
de pequena complexidade”. Assim, em face da parca problemas básicos criados pelo nosso atual sistema
complexidade dos conflitos existentes nos Juizados legal para que se perceba por que a arbitragem ainda é
Especiais e alguns obstáculos impostos pela Lei pouco utilizada, a saber, a falta de eficácia da cláusula
9.099/95, não se afigura recomendável sua utilização compromissória e a necessidade de homologação do
em tal procedimento. laudo arbitral” (CARMONA, 1993, p. 274). No mes-
2
O juízo arbitral também era previsto no Decreto mo sentido é a posição do Ministro Athos Gusmão
n. 737, de 25 de novembro de 1850, em seu artigo Carneiro, na AJURIS 24/52. Observem bem que tais
411, bem como no Código Comercial, em seus artigos considerações foram realizadas anteriormente à Lei
245, 294, 348 e 739. Observe-se, ainda, o artigo 7o da 9.307/96, ou seja, sob a égide do antigo juízo arbitral.
Constituição de 1967. 4
Exposição de motivos da Lei 9.307/96.

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relação jurídica negocial, fazê-lo resolver O compromisso arbitral, por seu turno,
através da arbitragem” (CARMONA, era uma espécie de pacto em que as partes
993, p. 274). As partes se comprometiam convencionavam que a possível lide exis-
a submeter eventual litígio, neste contrato tente seria submetida à decisão dos árbitros
específico, a um julgamento arbitral. Pode e cada parte sujeitar-se-ia a esta decisão.
ser equiparada, com as devidas particula- O compromisso arbitral gozava, pois, do
ridades, a uma promessa de contratar, um atributo da execução específica.
contrato preliminar. Ocorre que a cláusula Ao que tudo indica, portanto, e os
compromissória não mereceu o devido argumentos apagógico e teleológico7 refor-
tratamento tanto no Código Civil como çam o entendimento, o legislador, com a
no Código de Processo Civil5, embora o consagração do instituto do juízo arbitral,
atual Anteprojeto de CPC tenha suprido as pretendia uma maior celeridade e autono-
falhas, e a consequência é que: mia para que as partes pudessem eleger a
“surgido o litígio relacionado com o forma com que desejariam dissolver seus
negócio jurídico cujo contrato conte- conflitos de interesses. Por suposto, o efeito
nha uma cláusula compromissória, pretendido não se verificou, mormente em
qualquer das partes pode recorrer razão da permanência da centralização, que
ao Poder Judiciário, sem que o ma- ocasionou um obstáculo ao interesse das
gistrado, ou a parte contrária, possa partes, tendo em vista a excessiva lentidão
afastar a jurisdição estatal. Assim, das vias ordinárias e a burocracia notada-
descumprida a promessa de instituir mente ineficiente8.
o juízo arbitral, resta à parte lesada a
compromisso arbitral é suficiente para afastar a juris-
via do ressarcimento.” (CARMONA,
dição estatal, criando o necessário mecanismo para a
199, p. 274)6 execução específica da cláusula arbitral (na hipótese de
uma das partes, surgido o litígio, recusar-se a aderir à
5
“A tradição brasileira firmou-se na rígida solução arbitral)”. No mesmo sentido Athos Gusmão
distinção conceitual entre compromisso e cláusula Carneiro (2009, p. 43): “a cláusula compromissória
compromissória, com as conseqüências práticas daí apenas continha promessa de submeter eventuais
decorrentes. Assim, a cláusula compromissória, con- controvérsias à decisão de árbitros; mas tal promessa,
tida no contrato original entre as partes, prevendo simples obrigação de fazer, não obrigava as partes a
a submissão de qualquer litígio à arbitragem, não firmar o efetivo compromisso quando surgida real
configurava garantia da instauração do juízo arbitral. controvérsia entre os contratantes, gerando apenas
Somente o compromisso obrigava à realização efetiva um dificilmente realizável dever de indenização.”
da arbitragem, eis que pressupunha uma nova mani- 7
Argumento apagógico ou de redução ao absurdo,
festação de vontade das partes, após o surgimento do na lição de Perelman (1998, p. 79-80), é aquele que re-
litígio” (TIBURCIO, 1999, p. 177). No sistema anterior, solve a controvérsia de forma a supor que o legislador
antes da Lei 9.307/96, o descumprimento da cláusula é sensato e que jamais poderia ter admitido uma in-
compromissória, isto é, a resistência da parte em se terpretação de lei que gerasse consequências ilógicas.
submeter à arbitragem, descumprindo a promessa de 8
Corroborando com a tese aludida, assim se
contratar, gerava tão somente os efeitos do inadimple- pronunciou o Min. Sálvio de Figueiredo no REsp
mento contratual, a saber, perdas e danos. A referida n. 15.231/RS, verbis: “O nosso sistema jurídico, ao
cláusula não gozava do condão de instituir a arbitra- contrário do que ocorre com outros sistemas jurídicos
gem de per se. Dessa forma, a dificuldade em obrigar mais evoluídos, não obriga o arbitramento, preferindo,
o recalcitrante a aceitar a arbitragem fazia com que pelo monopólio jurisdicional do Estado e pela unidade
preferissem aguardar a decisão judicial. de jurisdição, que têm lastro constitucional, adotar a
6
Mais à frente se verá que a Lei 9.307/96 mo- figura do juízo arbitral, considerando um dos substi-
dificou o tratamento da cláusula compromissória. tutivos da jurisdição. É, todavia, instituto de raríssimo,
Concedeu-a execução específica, motivo este que fez ou quase nenhum, uso entre nós.” Vide a opinião de
com que o Ministro Sepúlveda Pertence arguisse, Hamilton de Moraes e Barros no mesmo aresto. À
incidenter tantum, sua inconstitucionalidade. Atente- guisa de reforço, impende citar alguns precedentes
-se para a concepção de Carmona, no artigo citado, que perfilham e reafirmam o entendimento esposa-
acerca da cláusula compromissória, em 1993, três anos do: AgRg n. 241.587, Rel. Min. Moreira Alves; SEC n.
antes da aprovação da Lei: “ao disciplinar a convenção 5.378, Rel. Min. Maurício Côrrea; SE n. 4.087, Rel. Min.
arbitral, o projeto prevê que a presença da cláusula ou Moreira Alves; REsp n. 616, Rel. Min. Cláudio Santos.

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Desse modo, afigura-se o juízo arbitral trava em esquecimento pelos brasileiros.
um meio pelo qual o árbitro não poderia, Entre várias modificações, o legislador,
em hipótese alguma, ter sua decisão afasta- em manobra de fortalecimento da cláusula
da da homologação9, que, por conseguinte, compromissória (CARMONA, 1997, p. 46;
não possuía o poder de constituir, extinguir TIBURCIO, 1999, p. 175) – que entre nós,
ou modificar, de per se, relações jurídicas. ao tempo do Código Civil de 1916, não
As partes escolhiam, então, a lentidão produzia efeito algum –, separou-a do
ordinária e onerosa à homologação, tam- compromisso arbitral; equiparou a sentença
bém lenta, senão mais lenta, e não menos arbitral à sentença estatal – superando a
onerosa. necessidade de dupla homologação pelo
A quaestio juris, durante muitos anos, foi Supremo Tribunal Federal, bem como a
objeto de debate por parte dos juristas e, em necessidade de homologação judicial das
todas as discussões, o objetivo primordial decisões arbitrais internas.
era ampliar sua aplicação e consolidar seu Em suma, três foram as grandes mu-
modelo. Em suma, da forma como se en- danças geradas pela Lei 9.307/96: a) con-
contrava esculpido no Código de Processo sagrou a possibilidade de a arbitragem ser
Civil, o juízo arbitral conservava um baixo instituída por intermédio da convenção de
índice de efetiva solução de lides. Saliente- arbitragem, que abarca, portanto, a cláusula
-se, outrossim, a existência de grandes compromissória e o compromisso arbitral10;
possibilidades de que aquele que viesse a b) concedeu à sentença arbitral os mesmos
sucumbir impugnasse a própria validade efeitos da sentença estatal (art. 18), a saber,
do juízo arbitral no Poder Judiciário. (CAR- título executivo judicial e c) acabou com o
NEIRO, 1982, p. 52) mecanismo de dupla homologação pelo
Supremo Tribunal Federal11, que, a partir de
2. A Lei 9.307/96, o novo mecanismo então, deverá homologar as sentenças ar-
de funcionamento da arbitragem bitrais estrangeiras, ainda que não tenham
sido homologadas por sentença judicial no
e suas peculiaridades
país de origem.
Com a sobrevinda da Lei 9.307/96, No Parecer n. 8.062/GB, sobre a SEC
também conhecida como Lei Marco Maciel 5.206-8/Espanha, o então Procurador-
– malgrado o responsável intelectual por -Geral da República, Geraldo Brindeiro,
sua elaboração seja o brilhante professor asseverou:
Carlos Alberto Carmona –, algumas con- “O fato é que o legislador ordinário
trovérsias e falhas inerentes ao instituto do nacional abriu o caminho para que as
juízo arbitral foram sanadas. pessoas físicas ou jurídicas capazes se
Trata-se de um meio alternativo de solu- valessem da arbitragem como forma
ção de controvérsias, em torno de direitos de solucionar as suas controvérsias
patrimoniais disponíveis, que se encon-
10
A Lei de arbitragem modificou a redação do
9
“A necessidade de homologação do laudo arbi- artigo 301, IX, e artigo 267, VII, do Código de Processo
tral, por sua vez, destruía as vantagens da arbitragem: Civil, substituindo a expressão compromisso arbitral
por convenção arbitral, que envolve a cláusula com-
o custo do processo acabava acrescido das despesas
promissória e o compromisso arbitral.
carreadas com a demanda perante o Poder Judiciário; 11
Esse sistema já era adotado por Portugal (CPC de
a celeridade esperada para a solução do litígio ficava 1961, artigo 48 e artigo 1.522), Espanha, Bélgica (Code
totalmente comprometida, eis que, apesar da simpli- Judiciaire, artigos 1.702 e 1.703), França (Nouveau Code
cidade (aparente) do procedimento homologatório, a de Procédure Civile, artigo 1.476) e Itália, anteriormente
sentença, proferida pelo juiz togado – oficializado ou à aprovação da Lei 9.307/96 no Brasil, ou seja, sob
não o laudo – desafiava recurso de apelação, que, por a vigência do juízo arbitral, o que acarretava sérios
sua vez, poderia abrir as portas ao recurso especial e/ou problemas para a homologação de laudos arbitrais
recurso extraordinário (...)”. (CARMONA, 1997, p. 46) oriundos desses países.

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relativas a direitos patrimoniais dispo- Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”
níveis, sem a intervenção do estado e (artigo 5o, XXXV, da CF 1988). Destarte, ad
por meio de decisão destinada a assu- argumentandum tantum, as decisões admi-
mir eficácia de sentença judicial – vale nistrativas, quais sejam, aquelas oriundas
dizer: equiparou os efeitos da sentença de Tribunais ou Conselhos Administrati-
arbitral aos da decisão judicial em vos, encontram-se sujeitas a uma possível
processo de conhecimento e o fez revisão pelo Poder Judiciário. Falta a tais de-
expressamente conforme se infere de cisões o que os publicistas norte-americanos
seu art. 31.” (CARMONA, 2000, p. 85) chamam the final enforcing power; o poder
As vantagens substanciais da arbitra- conclusivo da justiça estatal, a coisa julgada
gem são a consagração da autonomia da material e seus atributos.
vontade das partes, celeridade, sigilo, baixo Sustentam ainda que, em função de a
custo (proporcionalmente ao dano que po- Constituição Federal de 1988 ter alberga-
deria ser causado pela demora), tecnicidade do os princípios da 2) indelegabilidade;
na resolução do conflito e possibilidade de 3) indeclinabilidade; 4) juiz natural; 5)
escolha das regras de direito12 (processual investidura e 6) devido processo legal,
e material) que irão ser empregadas na a Lei 9.307/96 a afronta diretamente e,
possível resolução de um conflito. portanto, carrega a mácula ontológica da
No concernente à anulação, a decisão inconstitucionalidade. Por fim, colacionam
arbitral poderá ser impugnada por uma o argumento de que a sentença arbitral
ação anulatória, que deverá ser proposta faz 7) título executivo extrajudicial e, além
no prazo máximo de 90 dias, após a notifi- disso, que a jurisdição é uma atividade
cação da sentença arbitral, pela parte que prestada, única e exclusivamente, pelo
se sentir prejudicada. A referida impug- Estado. Consequentemente, por ser una e
nação, todavia, poderá versar tão somente indivisível, não pode ser empregada por
sobre o aspecto formal da sentença arbitral. quem dela não esteja investido. Os referidos
Em relação ao mérito, a Lei 9.307/96 não argumentos contrários à Lei de Arbitragem
colaciona inovações, porquanto o árbitro serão refutados doravante. Tratar-se-á, a
continua a ser soberano no momento da seguir, da constitucionalidade dos arts. 6o
prolação da sentença. e 7o da Lei 9.307/96 e, posteriormente, da
Não obstante, ainda assim alguns dou- jurisdicionalidade e constitucionaliadade
trinadores e juristas persistem na ideia da genérica da lei referida.
ineficácia e difícil aplicação da lei mencio-
nada. Em tom uníssono, todos concordam 3. O voto do Ministro Sepúlveda
que é mister vislumbrar uma alternativa Pertence e a constitucionalidade dos
para o acúmulo de processos nos tribunais,
artigos 6o e 7o da Lei 9.307/96
o que acarreta uma natural morosidade.
Conforme dito anteriormente, uma parte Em 1994, quando uma sociedade comer-
da doutrina e da jurisprudência posiciona- cial suíça requereu a homologação de uma
-se pela ineficácia e inconstitucionalidade sentença arbitral estrangeira ­– SE 5.206-7 –,
da Lei 9.307/96 e, para tanto, alegam que, 1) prolatada em Barcelona, na Espanha, em
uma vez que a Constituição de 1988 adotou face de uma sociedade comercial brasileira,
o sistema inglês ou controle de jurisdição o então presidente do Supremo Tribunal
única, “a lei não excluirá da apreciação do Federal, o ilustre Ministro Sepúlveda Per-
tence, indeferiu o pedido de homologação,
12
Nada impede a escolha de normas institucio-
sob o fundamento de que o laudo estrangei-
nais ou de órgãos arbitrais (por. ex. as normas da
Comissão de Arbitragem da Câmara de Comércio ro não havia sido homologado pela justiça
Brasil-Canadá) ou da lex mercatoria. espanhola.

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Inconformada com a decisão proferida, “sendo insuficiente a manifestação
a sociedade suíça interpôs agravo interno, de vontade da parte na cláusula com-
no qual alegou que o ordenamento jurídi- promissória – dada a indeterminação
co espanhol, desde 1988, equiparara, em de seu objeto –, a permissão dada ao
seus efeitos, a sentença arbitral à sentença juiz para que substitua a vontade da
estatal e, em decorrência, abolira o sistema parte recalcitrante em firmar o com-
de dupla homologação. O curioso nesse promisso afronta a garantia da inafas-
caso é que a própria sociedade brasileira tabilidade do controle jurisdicional
desejava efetuar o pagamento que devia à assegurado pelo art. 5o, XXXV, da CF.
sociedade suíça. Em conseqüência, declaro inconstitu-
Em face dos argumentos apresentados, cionais o parágrafo único do art. 6o, o
o ilustre Ministro Sepúlveda Pertence con- art. 7o e seus parágrafos, e no art. 41,
cedeu provimento ao agravo interno. Tais as novas redações atribuídas ao art.
fatos ocorreram em meados de outubro 267, inciso VII e art. 301, inciso IX do
de 1996, período de vacatio legis da Lei Código de Processo Civil e o art. 42,
9.307/96. A Lei de Arbitragem entraria todos da Lei 9.307/96”14.
em vigor, precisamente, no dia 23 de no- O Ministro Pertence, com tal posicio-
vembro de 1996. Aproveitando tal ensejo, namento, fulminou a estrutura de todo o
ou seja, a possibilidade de revisão da tese instituto da arbitragem, a saber, a cláusula
seguida há tantos anos pela jurisprudência compromissória15. Na espécie, não se in-
do Supremo Tribunal e a entrada em vigor surge o eminente Ministro em seu voto
da nova lei, o ilustre Ministro Moreira Al- contra o instituto da arbitragem, célebre
ves solicitou parecer ao então Procurador meio alternativo de resolução de conflitos
Geral da República, Geraldo Brindeiro, e, tampouco, contra a existência da cláusula
sobre a constitucionalidade da referida compromissória. Tece considerações, tão
lei. O parecer da Procuradoria Geral da somente, às cláusulas compromissórias va-
República – Parecer n. 8.062/GB – com data zias ou em branco, isto é, aquelas nas quais
de 17 de março em 1997, demonstrava a as partes não demonstraram ou previram
inexistência de vício originário de incons- a forma, regime ou sistema de acordo com
titucionalidade. o qual a arbitragem deverá ser instalada.
Conclusos os autos novamente ao Seguindo a trilha dessa argumentação,
Ministro Sepúlveda Pertence, o ilustre pertinente é a contribuição de Arnold Wald
magistrado houve por bem declarar, incin- (2000, p. 324, § 27), verbis:
denter tantum, a inconstitucionalidade (em
meados de 8 de maio de 1997) do parágrafo 14
Informativo do Supremo Tribunal Federal n. 71
e AgRg na SE 5.206-7/Espanha, Rel. Min. Sepúlveda
único do artigo 6o, do artigo 7o, bem como Pertence.
dos artigos que deles decorrem (arts. 41 15
Por intermédio da cláusula compromissória,
e 42, que deram nova redação aos arts. os contratantes se comprometem a submeter à arbi-
267, VII; 301 e 520, do CPC). No mérito, tragem os litígios “que possam vir a surgir, relativa-
mente a tal contrato” (art. 4o). O compromisso arbitral,
concedeu provimento ao agravo interno presente no art. 9o, ao revés, exige a existência de um
com base, inclusive, nos artigos 31 e 35 da conflito presente. A respeito do tema, pertinentes são
Lei 9.307/96, que igualaram os efeitos da as considerações tecidas pelo sempre professor Athos
Gusmão Carneiro (2000, p. 44): “a Lei 9.307/96, ante
sentença arbitral à sentença estatal e, por a perspectiva de um dos contratantes, não obstante
via reflexa, aboliram o sistema de dupla ho- a cláusula compromissória, recusar-se a firmar o
mologação13. O relator, Ministro Pertence, compromisso arbitral, foi obrigada a criar uma nova
entendeu em seu voto que: ação judicial, a fim de emprestar real obrigatoriedade
a tal cláusula. O art. 7o dispõe detidamente sobre os
trâmites de tal ação, que culminará com sentença que
13
Informativo do Supremo Tribunal Federal n. 71. ‘valerá como compromisso arbitral’.”

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“Tanto, assim, que não discute a cons- Sobre tal enforque, valiosos são os co-
titucionalidade da cláusula compro- mentários do professor Carmona (2000, p.
missória em si (como poderia discutir 95) acerca das peculiaridades da cláusula
a execução específica da promessa de compromissória:
compra e venda), mas tão-somente a “Na medida em que as partes inse-
sua complementação pelo Poder Judi- rem em determinado contrato uma
ciário quando nela faltam alguns ele- cláusula compromissória, delimitam
mentos do compromisso arbitral. E, obrigatoriamente o âmbito em que
ao considerar inconstitucional o art. poderão ocorrer controvérsias so-
41, abrange os conceitos de cláusula lucionáveis por árbitros. Em outros
compromissória cheia e vazia, que termos, a cláusula compromissória
deveriam ter tratamento distinto”. nunca poderá ser tão ampla a ponto
Destarte, a inconstitucionalidade em de consubstanciar uma renúncia
questão limita-se à validade das cláusulas genérica – e aí sim inaceitável – à
compromissórias em que as partes nada tutela jurisdicional estatal. Mas na
estipularam ou nada determinaram, no medida em que as partes manifes-
que se refere à instalação do procedimento tam firme propósito de recorrer à
arbitral ou das regras de órgãos ou organis- jurisdição arbitral (em detrimento
mos especializados em arbitragem. Ocorre, da jurisdição estatal) para resolver
todavia, que, na medida em que o Brasil litígios determináveis e futuros, de
aderiu à Convenção do Panamá16, pelo contornos limitados e delimitáveis
Decreto Legislativo n. 90/95 – segundo a (já que a cláusula insere-se ordina-
qual as partes podem nomear os árbitros riamente na moldura de uma relação
ou delegar a sua designação a terceiro jurídica contratual), não há porque
e que, somente no silêncio das partes, a imaginar-se que tal avença possa ser
arbitragem será instaurada de acordo com ignorada e deixada totalmente sem
as normas da Comissão Interamericana de tutela pelo próprio Poder Judiciário.
Arbitragem Comercial (arts. 2o, 3o, 6o, 9o e É isto o que sugere o voto do insigne
14o) –, não se há excogitar da existência de jurista aqui analisado: se as partes
cláusula compromissória totalmente vazia expressamente manifestarem vonta-
ou em branco, uma vez que as normas de no sentido de que qualquer litígio
da Comissão serão aplicadas subsidiaria- futuro decorrente de certo contrato
mente. seja resolvido por arbitragem, e uma
Acaso o artigo 7o fosse declarado incons- delas simplesmente mudar de opi-
titucional pelo Supremo Tribunal Federal, nião, a parte que quiser fazer cumprir
a cláusula compromissória voltaria a ser o contrato não terá tutela efetiva, não
uma simples obrigação de fazer e apenas o terá tutela específica, restando-lhe,
compromisso arbitral provocaria a instau- talvez, a via indenizatória, mero ar-
ração da arbitragem. Em suma, o sistema remedo de justiça, eis que a tutela de
do Código Civil de 1916, que proibia a um direito pelo seu equivalente não
execução específica desta cláusula, voltaria passa de esquálio consolo, a disfarçar
à tona. A cláusula compromissória perderia verdadeira denegação de justiça! Não
a força pretendida pelo elaborador da Lei parece exato dizer (no que toca o art.
9.307/96 e a arbitragem seria condenada 7o da Lei) – como consta no voto tan-
ao esquecimento. tas vezes mencionado – que ‘permitir
o suprimento judicial seria admitir a
16
Vale ressaltar, contudo, que não existe nenhuma
discussão doutrinária acerca da inconstitucionalidade instituição de um juízo arbitral com
dessa Convenção e, tampouco, jurisprudencial. dispensa da vontade bilateral dos

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litigantes’, vontade essa que estaria dos interesses objeto de uma lide já
presente apenas no compromisso concretizada que, podendo submetê-
arbitral, não na cláusula. Bem pelo -la à jurisdição estatal, consentem
contrário, as partes manifestaram em renunciar à via judicial e optar
claramente sua vontade no momento pela alternativa da arbitragem para
em que inseriram cláusula compro- solucioná-la.”18
missória em seu contrato, vontade Prossegue o ilustre Ministro Relator afir-
essa direcionada a retirar do Poder mando que, na cláusula compromissória,
Judiciário a competência para jul- o que se verifica, em espécie, não são lides
gar as causas que possam resultar determinadas e concretizadas, tal como no
do inadimplemento de qualquer compromisso arbitral, mas lides futuras,
obrigação ali constante, de tal sorte eventuais e de contornos indefinidos.
que toda e qualquer crise de certeza Após citar a doutrina estrangeira,
relacionada a determinada relação conclui, incidentalmente, que “o que a
jurídica fica desde logo – por conta Constituição não permite à lei (...) é vedar
de clara, expressa e inequívoca ma- o acesso ao Judiciário da lide que uma das
nifestação de vontade de ambos os partes lhe quisesse submeter, forçando-a a
contratantes – que talvez não tivesse trilhar a via alternativa da arbitragem.”19
celebrado o contrato se soubesse que A despeito dos fundamentos constantes
eventuais demandas seriam levadas do brilhante voto do Ministro Sepúlveda
a julgamento perante os órgãos ju- Pertence, é salutar tecer algumas singelas
diciários estatais – com a negativa considerações, data venia.
de eficácia à cláusula compromis- A cláusula compromissória, em ver-
sória. Se prevalecer a interpretação dade, não se trata de uma procuração em
ora criticada, submete-se o Brasil a branco20. Conforme o escólio de Larenz
verdadeiro escárnio no concerto das (1997, p. 441), “o texto só responde a quem
nações, pois ficará claro que em nosso o indaga corretamente”. Compreender é,
país a promessa, o pacto, o acordo de sobretudo, somar perspectivas (ORTEGA
vontades, não produz efeito algum. Y GASSET, 1963, p. 18-19), observar os
E a Nação, nos tempos que correm, diversos enfoques que o legislador alme-
não pode submeter-se a tal vexame, jou englobar. As partes que celebram um
colocando-se, mais uma vez, na con- contrato, logicamente, são definidas e os
tramão da história.” eventuais litígios existentes somente po-
O preclaro Ministro Sepúlveda Pertence dem ocorrer em razão de algum contrato
argumenta, outrossim, que a constituciona- específico. Assim, a cláusula compromissó-
liadade17 da arbitragem brota da renúncia ria representa uma renúncia ao exercício do
ao direito subjetivo de ação que, no entanto,
somente é possível se ocorrer após a contro- 18
AgRg na SE 5.206-7/Espanha, p. 35.
vérsia, cujo deslinde pretende-se subtrair 19
AgRg na SE 5.206-7/Espanha, p. 35.
do Poder Judiciário, expressis:
20
“Verificamos, pois, que a inconstitucionalidade
vislumbrada por S. Exa., em relação ao art. 7o da Lei
“Assim, apenas o compromisso esta- 9.307/96, decorre do fato de nele admitir-se que o
ria em consonância com o dispositivo regime da arbitragem seja fixado judicialmente, por
constitucional em questão, pois, por delegação implícita das partes e determinação legal,
força dele, são os próprios titulares embora nada impedisse os contratantes de conven-
cionar, na cláusula compromissória, a adoção de um
Arnold Wald (2000, p. 329, § 37) entende que
17 regime de entidade especializada à qual as partes
não se trata de matéria de índole constitucional, uma tenham referido, caso no qual a exceção da existência
vez que, de fato, tratar-se-ia de opção política do de cláusula compromissória deveria extinguir o pro-
legislador ordinário. cesso.” (WALD, 2000, p. 328, § 29 e § 60)

270 Revista de Informação Legislativa


direito de ação a lides definíveis, determi- De outra forma, impende lembrar que
náveis e eventuais, sem nenhuma espécie não são poucos os dispositivos no ordena-
de abstração. mento jurídico brasileiro em que ao juiz
Neste dispositivo, conforme preceitua compete suprir ou complementar a vontade
o artigo 7o, “existindo cláusula compro- das partes, de maneira que tal argumento
missória e havendo resistência quanto à não logra êxito. Por sinal, ressalta o ilustre
instituição da arbitragem, poderá a parte Ministro Maurício Corrêa que “na exe-
interessada requerer a citação da outra cução da cláusula compromissória o juiz
parte para comparecer em juízo a fim de não substitui a vontade das partes, mas a
lavrar-se o compromisso designando o juiz concretiza.”
audiência especial para tal fim”. Esta cons- Em maio de 1999, o Ministro Maurício
trução fora realizada exatamente em razão Corrêa, relator da SEC n. 5.847/Reino Uni-
do insucesso da cláusula compromissória do23, ao julgar a homologação da referida
no período da vigência do juízo arbitral21. A sentença, contrariou a tese do Ministro
parte que desejasse descumprir o pactuado, Pertence e posicionou-se brilhantemente
unilateralmente, encontrava, na cláusula pela constitucionalidade da Lei 9.307/96,
compromissória, a lacuna perfeita, uma verbis:
vez que esta não gozava do atributo da “Feitas estas considerações, não vejo
execução específica22. como possa prosperar o encaminha-
mento da declaração de inconstitucio-
21
Arruda Alvim (2001) faz o seguinte questiona- nalidade dos preceitos então impug-
mento acerca da cláusula compromissória: “a condição
contida no art. 6o, da lei 9.307/96, é condição de admis-
nados. Ao contrário, considerando-os
sibilidade da ação proposta? Pode ser desconsiderada mecanismos de suma importância,
judicialmente?” E, a seguir, responde: “em nosso hodiernos e indispensáveis para o
entender, comungando com a doutrina corrente – de aperfeiçoamento de nosso sistema
que se pode dizer unânime a respeito da questão –, se
o interessado não fizer a prova de que instou a outra
jurídico, a exemplo do que se cris-
parte para firmar o compromisso, carece da ação desti- talizou, há muito, na legislação da
nada à instauração do juízo arbitral.” Essa indagação é maioria dos Estados democráticos,
o cerne de toda a questão referente a cláusula arbitral. como instrumento alternativo, eficaz
(Cf. também RICCI, 2000, p. 13)
22
“Observe-se ainda que esta inconstitucionaliade,
e célere para a composição de litígios.
se confirmada, pode levar até mesmo a outros ques- O emperramento da máquina judi-
tionamentos quanto à extensão desta interpretação. ciária no Brasil, pela observância de
Suponhamos que uma parte brasileira celebre um con- regras, culturas e práticas, poderá ter
trato comercial, contendo cláusula compromissória,
segundo a qual a arbitragem será realizada no exterior.
no sistêmico aparelho da arbitragem
A parte brasileira descumpre o contrato e o tribunal parcela do que falta para colocá-lo
arbitral é instalado à revelia da parte brasileira, que em sintonia com o que realiza o outro
deseja submeter o litígio ao Judiciário estrangeiro. lado do mundo, sem que, com isso,
O tribunal arbitral no exterior, então, profere laudo
arbitral em que a parte brasileira é condenada e este
seja atropelada a ordem constitucio-
laudo arbitral para que possa ser exeqüível no Brasil nal vigente.”24
deve ser homologado pelo Supremo Tribunal Fede- Posteriormente, retomando o julgamen-
ral” (TIBURCIO, 1999, p. 191). Certamente, o STF não to da SE 5.206/Espanha, em novembro de
homologará tal sentença, em razão da afronta à ordem
pública. Ressalte-se, pois, os conflitos que ocorrem
2000, o Ministro Nelson Jobim proferiu
no âmbito do MERCOSUL, em que, possivelmente, voto-vista no sentido de declarar cons-
o Brasil seja condenado pelo Tribunal Arbitral. Será titucional os artigos impugnados da Lei
necessária a homologação do laudo arbitral pelo STF?
Os internacionalistas entendem que não, uma vez 23
Informativo do Supremo Tribunal Federal n.
que a CF de 1988 (art. 102, I, “h”) e o RISTF falam em 173.
sentença estrangeira, o que, em espécie, distancia-se 24
Informativo do Supremo Tribunal Federal n.
da natureza jurídica do laudo arbitral. 173 e SEC 5.847-1.

Brasília ano 48 n. 190 abr./jun. 2011 271


9.307/9625. Pediu vista o Ministro Ilmar detentor da soberania, está apto a dizer e
Galvão26. realizar o direito por intermédio de seus
Em março de 2001, o Ministro Ilmar Gal- agentes, quais sejam, os magistrados. Mas,
vão proferiu seu voto-vista e acompanhou e os árbitros? Ainda que não sejam agentes
o Ministro Nelson Jobim pela constitucio- nomeados diretamente pelo Estado, não
nalidade da Lei susomencionada. Pediu poderiam “dizer” o Direito29? Se a socieda-
vista dos autos a Ministra Ellen Gracie27, de é o verdadeiro fundamento e razão de
que, no dia 3 de maio de 2001, proferiu existência do Estado, não teria ela o poder
seu voto-vista no sentido de considerar para dirimir suas controvérsias, sem que
constitucional a lei. precisasse mobilizar o aparato estatal? Se a
Sobreveio, no mesmo dia, o pedido de sociedade é o local de emergência de todos
vista do Ministro Néri da Silveira, o qual, os valores e, por isso, também, dos valores
juntamente com o Ministro Moreira Alves, jurídicos que dela dependem para se con-
acompanhou o voto proferido pelos Minis- verterem em concretas formas de agir, não
tros Sepúlveda Pertence, relator, e Sydney deveríamos levar em consideração as pos-
Sanches, de sorte que, vencidos os referidos sibilidades históricas dessa concretização,
Ministros, a Lei de Arbitragem foi declara- sem renunciarmos de antemão às sempre
da constitucional. A corrente majoritária renovadas exigências axiológicas?
contou com os votos dos Ministros Nelson Em que pesem as razões trazidas à baila
Jobim, Ilmar Galvão, Ellen Gracie, Celso pelos eminentes juristas e doutrinadores,
de Mello, Marco Aurélio, Maurício Corrêa carecem de fundamento todos os argumen-
e Carlos Velloso. tos elencados pela ineficácia, inaplicabilida-
de e inconstitucionalidade genérica da Lei.
4. Os argumentos acerca Uma breve divagação iria conduzir a
da jurisdicionalidade e a vexata quaestio aos clássicos Utopia, de Tho-
mas More; Leviatã, de Thomas Hobbes; Dois
constitucionalidade genérica da
Tratados sobre o Governo Civil, de Locke, e o
Lei 9.307/96 e a refutação dos Contrato Social, de Rousseau. No entanto,
argumentos contrários não é necessário conduzir o debate para
Segundo o mestre processualista Gale- tal seara. Cumpre evidenciar, apenas, que,
no Lacerda, “jurisdição é a atividade pela para os contratualistas e, inclusive, para
qual o Estado, com eficácia vinculativa More, o Estado encontrava sua razão de
plena” – e, para aprofundar o debate, mis- ser no indivíduo – sua proteção, liberdade
ter acrescentar a concepção de Chiovenda e vida.
(SILVA, 2000, v.1, p. 27-30): com caráter Quando as partes escolhem um árbitro,
substitutivo28 –, “elimina a lide declarando desejam que a lide seja resolvida de manei-
e/ou realizando o direito”. Em verdade, ra célere, por profissional capacitado, im-
para o nobre professor, somente o Estado, parcial e técnico. O fazem dessa forma por
expressão da liberdade30 e voluntariedade
Informativo do Supremo Tribunal Federal n. 211.
25

SEC 5.828/Noruega e Informativo do Supremo


26 29
A respeito da verdadeira razão de ser da arbitra-
Tribunal Federal ns. 221 e 213. gem, por todos, Carmona (1990, p. 34): “trata-se, evi-
27
Informativo do Supremo Tribunal Federal n. 221. dentemente, de participação do povo na administração
28
“Está presente na arbitragem o caráter substi- da justiça – o que não afronta o art. 153, § 4o, da CF e
tutivo da jurisdição, que consiste na interferência de encontra respaldo no seu § 1o do art. 1o. Basta lembrar,
uma terceira pessoa, estranha à lide, que não participa em esforço a tal argumentação, que a instituição do
do conflito de interesses, terceiro esse que dirigirá júri, mantida no mesmo art. 153 da CF, é baluarte da
imparcialmente a busca da verdade para a aplicação participação popular em nível jurisdicional.”
do direito objetivo ao caso concreto.” (CARMONA, 30
Carmona (1990, p. 33) adverte que não é raro
1990, p. 38) encontrar, em alguns sistemas jurídicos estrangeiros, a

272 Revista de Informação Legislativa


que dispõem sobre o bem ou o interesse. O Com o escopo refutar quaisquer contro-
Estado coloca à disposição das partes seu vérsias a respeito do tema, corrobora com
aparato judicial para que lá resolvam seus tese esposada o então Procurador-Geral da
conflitos de interesses; todavia, as partes, República, Geraldo Brindeiro, no Parecer n.
espontânea e voluntariamente, recusam o 8.062/GB, ao citar o ilustre Cândido Rangel
serviço estatal e optam por resolver a lide Dinamarco31:
sem a sua participação. “‘Penso ainda que a Lei 9.307/96
Não se encontram compelidas a resolver guarda completa harmonia com as
a lide por intermédio da arbitragem, se- garantias e direitos assegurados pela
guem essa prática por entenderem que lhes CF, especialmente com o princípio da
trará maiores benefícios que a via judicial, inafastabilidade do controle jurisdi-
consoante bem elucidam Nelson Nery Jr. e cional, inscrito no art. 5o, XXXV. Essa
Rosa Maria Nery (1999, p. 1726): norma constitucional assegura a to-
“A arbitragem não ofende os princí- dos o acesso à justiça nas hipóteses de
pios constitucionais da inafastabilida- lesão ou ameaça a direito, que pode
de do controle judicial, nem do juiz se concretizar através do ajuizamento
natural. A Lei de Arbitragem deixa a de ação judicial. Isto não significa,
cargo das partes a escolha, isto é, se contudo, que as pessoas físicas ou
querem ver sua lide julgada por juiz jurídicas estão obrigadas a ingressar
estatal ou por juiz privado. Seria in- em juízo toda vez que seus direitos
constitucional a Lei de Arbitragem se subjetivos são afrontados por outrem,
estipulasse arbitragem compulsória, pois o princípio garante o direito de
excluindo do exame, pelo Poder Ju- ação, não o impõe. O direito de ação,
diciário, a ameaça ou lesão a direito. à luz do princípio da autonomia das
Não fere o juiz natural, pois as partes vontades, representa uma faculdade
já estabelecem, previamente, como inerente à própria personalidade’
será julgada eventual lide existente (Cândido Rangel), não um dever.
entre elas. O requisito da pré-consti- O que o princípio da inafastabilidade
tuição na forma da lei, caracterizador do controle jurisdicional estabelece é
do princípio do juiz natural, está que: ‘a lei não excluirá da apreciação
presente no juízo arbitral.” do Poder Judiciário lesão ou ameaça
Com o aludido entendimento e o argu- a Direito’. Não estabelece que as
mento da escolha espontânea e voluntária, partes interessadas não excluirão
os seis primeiros aspectos contrários à da apreciação judicial suas questões
arbitragem, a saber, 1) controle judicial ou conflitos. Não determina que os
único; 2) indelegabilidade; 3) indeclina- interessados deverão sempre levar
bilidade; 4) juiz natural; 5) investidura; 6) ao Judiciário suas demandas”.
devido processo legal, tornam-se meras No que diz respeito ao controle judi-
falácias. cial de lesão ou ameaça de direito, a Lei
9.307/96 o resguarda em seus artigos 6o,
submissão obrigatória de determinadas matérias à ar- 7o, 32, 33, 38 e 39, nas hipóteses de recalci-
bitragem. Cita como exemplo o Decreto-Lei português
trância em firmar compromisso, nulidade
201/75, que trata de matéria atinente ao arrendamento
rural. O Código de Processo Civil português, inclusive, ou invalidade do juízo arbitral e ofensa à
reservava todo o Livro IV ao tribunal arbitral, que ordem jurídica nacional32.
poderia ser voluntário ou necessário. Alerta que, no
Brasil, já existiu a obrigatoriedade da arbitragem no 31
Parecer 8.062GB sobre a SE 5.206-8/246/GB;
Código Comercial de 1850, arts. 245 e 294, revogados Wald (2000).
respectivamente, pela Lei 1.350 de 1866 e Decreto 32
O legislador ordinário permitiu, de um lado, a
no 3.900 de 1867. pacificação de determinados conflitos de interesses

Brasília ano 48 n. 190 abr./jun. 2011 273


A eiva de inconstitucionalidade da lei Lei de Arbitragem. Do mesmo modo, com
em face aos argumentos colacionados pela a utilização do método lógico-sistemático
corrente contrária, não logra prosperar. A de interpretação, o dispositivo do art. 31
Lei 9.307/96 está em plena conformida- confirma a argumentação desenvolvida:
de com os princípios basilares da Carta “a sentença arbitral produz, entre as partes
Magna. e seus sucessores, os mesmos efeitos da
O artigo 18 da Lei de Arbitragem dispõe sentença proferida pelos órgãos do Poder
que “o árbitro é juiz de fato e de direito, e a judiciário e, sendo condenatória, constitui
sentença que proferir fica sujeita a recurso título executivo”.
ou a homologação pelo poder Judiciário”. Ora, com tal dispositivo, conforme
Infere-se, pois, desse dispositivo que a repetido insistentemente, ocorreu uma ver-
arbitragem possui natureza jurídica equiva- dadeira equiparação da sentença arbitral à
lente à jurisdição. Segundo Carmona (1990, estatal. Impende lembrar, no entanto, que,
p. 34), “o fato de encarar-se a jurisdição quando da vigência da anterior disposição
como poder, atividade e função do estado, da arbitragem, isto é, o juízo arbitral, o
não descaracteriza, desde logo, a jurisdi- Supremo Tribunal Federal não homologa-
cionalidade da arbitragem”. O árbitro, ao va os laudos arbitrais oriundos de países
prolatar a sentença arbitral, declara o direi- que não os homologasse judicialmente. O
to e o aplica ao caso concreto, extinguindo entendimento do Supremo Tribunal era de
a lide. A decisão do árbitro é exteriorizada que o laudo arbitral não era sentença e, por
por intermédio de uma sentença, cuja conseguinte, não podia ser homologado
qualidade fundamental é ter natureza de diretamente, sem que antes a autoridade
título executivo judicial, fato esse que não judicial do país de origem o fizesse (dupla
obriga sua homologação pela autoridade homologação)34. Tal requisito de validade
judicial (artigo 584, III, do Código de Pro- gerava enormes transtornos, visto que em
cesso Civil) (NERY JÚNIOR; NERY, 1999, vários países não existia a exigência de
p. 1737). Assim, alguns dos atributos pe- homologação judicial para que o laudo
culiares33 à jurisdição restam evidentes na gozasse de eficácia. Com a entrada em vigor
da Lei 9.307/96, o fato é que o Supremo
sem a intervenção estatal, mediante compromisso Tribunal Federal passou a homologar di-
arbitral, com nítidas vantagens para os interessados, retamente35 o laudo arbitral – que, a partir
e, de outro, garantiu o livre acesso ao Poder Judiciário
àqueles que tiverem direitos violados por inobser-
dúvida em reconhecer a jurisdicionalidade da arbitra-
vância das regras fixadas para a arbitragem”. (NERY
gem. (SILVA, 2000, p. 27-30; 48-49).
JÚNIOR; NERY, 1999, p. 1726). 34
Por todos Carmen Tiburcio (1999, p. 180): “co-
33
“Mesmo aqueles que aceitam a jurisdicionali-
erentemente com o que ocorria com a arbitragem no
dade da arbitragem reconhecem que o árbitro não
plano interno, os laudos arbitrais estrangeiros, para
exerce a coertio e a executio, tradicionais componentes
produzirem efeitos no Brasil, deviam ser homologados
da jurisdição” (CARMONA, 1996, p. 431). A execu- judicialmente no país de origem. Esta era a jurispru-
ção de sentença arbitral deve ser realizada por meio dência do STF, que exigia a dupla homologação dos
da intervenção do Poder Judiciário, após a fase de laudos arbitrais estrangeiros para que tivessem eficá-
embargos. Da mesma forma ocorrerá se, no curso do cia no País. Este entendimento prevalecia mesmo nos
processo arbitral, houver necessidade de medidas casos de laudos provenientes de Estado estrangeiro
cautelares que impliquem em atos coercitivos. Desta que não exigia tal providência, ou seja, mesmo que
feita, se a jurisdição, conforme tese que defendemos, fossem exequíveis no país de origem independente-
não é monopólio do Estado, por outro lado, a coerção mente de homologação. O fundamento teórico de tal
– conforme clássica lição de Max Weber – não deve distinção era o de que o laudo arbitral não se equipara-
ser entendida dessa forma. Cf., por todos, Carmona va à sentença, e que somente as sentenças estrangeiras
(1990, p. 33). No entanto, para alguns autores, mister eram passíveis de homologação”.
se advirta, o procedimento de execução não deve ser 35
Esse foi um dos argumentos pelos quais o Minis-
entendido como ato característico à atividade juris- tro Pertence concedeu provimento ao agravo interno
dicional. Para esses, consequentemente, não haveria na SE 5.206/Espanha.

274 Revista de Informação Legislativa


de então, recebeu a denominação de sen- decisões prolatadas por autoridades admi-
tença arbitral –, evidenciando, sobretudo, nistrativas e religiosas, no exercício da ati-
o caráter jurisdicional da presente sentença vidade judicante. Não obstante, divórcios
arbitral. realizados por rabinos em Israel, pelo Rei
Valioso, neste momento, tecer alguns da Dinamarca, por tribunais canônicos ou
comentários acerca da jurisprudência do muçulmanos e até por prefeitos no Japão
Supremo Tribunal Federal sobre a dupla podiam ser homologados pelo Supremo
homologação. A interpretação da Suprema Tribunal37. Seguindo esse desate, não é
Corte, no pertinente à dupla homologação, compreensível, a partir da análise dos
era caracterizada pela natureza restritiva precedentes citados, o motivo pelo qual
de alguns casos. Somente sentença estran- fora criado tamanho óbice à homologação
geira stricto sensu poderia ser homologada. dos laudos arbitrais. No entanto, o que
Entretanto, brilhante e lúcida a advertência importa, no presente momento, é que, com
realizada pelo saudoso Ministro Carlos a Lei 9.307/96, tais empecilhos não mais
Thompson Flores, na SE 1.982/EUA: ocorrerão (artigos 31 e 35).
“(...) Certo poderia ser examinada Alguns autores ponderam, incessante-
a hipótese de dispensar a homolo- mente, que a sentença proferida por árbitro
gação da Justiça Americana, a que possui característica de título executivo
foi proferida pelo Juízo arbitral. Era extrajudicial, fato que demonstraria a ine-
mister, todavia, que, ao menos se quívoca ausência de jurisdicionalidade da
fizesse prova do direito em questão, lei (artigos 584 e 585 do Código Processo
os termos do art. 212 do CPC, o que Civil). A refutar tal entendimento, precisas
não se fez, quiçá porque suas normas são as palavras do autor da Lei, o professor
foram apenas afloradas, nelas se não Carlos Alberto Carmona (1998, p. 38):
fundamentando o pedido (...)”. “O art. 32 determina que a deci-
Com esse voto, o eminente Ministro são final dos árbitros produzirá os
Thompson Flores empregava uma inter- mesmos efeitos da sentença estatal,
pretação mais dinâmica ao juízo arbitral constituindo a sentença condenató-
e permitia, desde que provado o teor e a ria título executivo que, embora não
vigência do direito estrangeiro, a dispensa oriundo do Poder Judiciário, assume
da homologação judicial. Infelizmente, a categoria de judicial. O legislador
posição do Ministro Thompson Flores não optou, assim, por adotar a tese da
foi seguida – apesar de repetida por mais de jurisdicionalidade da arbitragem,
uma oportunidade, como na SE 2.486-1/GB pondo termo à atividade homologa-
e SE 2.006 – pela Corte, o que, se ocorresse, tória do juiz, fator de emperramento
iria acarretar a mudança da jurisprudência da arbitragem.”
até então construída36. Enfim, o argumento mais preciso para
O aspecto que merece maior debate fulminar a alegação de ausência de jurisdi-
refere-se à posição do Supremo Tribunal cionalidade da Lei 9.307/97 é, justamente,
Federal em sempre ter considerado sen- aquele referente à desnecessidade de homo-
tença estrangeira, e, pois, homologado, logação da sentença arbitral por parte do
Poder Judiciário. (CARMONA, 1998, p. 47)
36
“Na verdade, o entendimento do STF deveria ter
sido interpretado como se negasse homologação a lau-
A arbitragem representa uma ínfima,
dos arbitrais estrangeiros que não fossem exeqüíveis contudo sutil, abertura no monopólio es-
no país em que foram proferidos ou quando a prova tatal da atividade jurisdicional, uma vez
do teor e vigência do direito estrangeiro não tivesse
sido feita” (TIBURCIO, 1999, p. 181). A modificação da 37
SE 1.282/Noruega; SE 1.312/Japão; SE 1.943/
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ocorreu Dinamarca; SE 2.366/Espanha; SE 2.419/Israel; SE
com a decisão do AgRg na SE 5.206/Espanha. 3.135/ República Libanesa.

Brasília ano 48 n. 190 abr./jun. 2011 275


que permite a resolução dos conflitos em a pronúncia de constitucionalidade pelo
outra vertente. Trata-se, então, do início da Supremo Tribunal Federal.
desestatização dos litígios, por intermédio Nos dois artigos supracitados, é notó-
da desformalização de controvérsias (AL- ria a relevância atingida pela arbitragem
VIM, 1998, p. 47). No entanto, é mister que para o deslinde e estabilização da relação
se advirta que o intuito da lei não é criar um processual, na medida em que impõem ao
Poder paralelo ao Judiciário, responsável réu, antes de adentrar ao debate do mérito,
concorrentemente pela declaração e reali- o ônus de suscitar a existência de convenção
zação do Direito. A arbitragem visa, tãoso- de arbitragem, bem como ao juiz o dever de
mente, conceder novos caminhos, ainda que verificar a presença desta para a prolação
tímidos, pelos quais as lides poderão ser de sentença sem resolução de mérito.
resolvidas; “não quer isso dizer, no entanto, Conquanto tímido em relação à criação
que não seja possível questionar em juízo a de uma condição de procedibilidade para
validade e eficácia da sentença arbitral: para os litígios entre órgãos da Administração
este fim estabeleceu-se o procedimento do Pública, a saber, a prévia submissão a
art. 33”. (CARMONA, 1998, p. 39) Câmaras de Conciliação e Arbitragem, o
De pronto, a definição dada por Gale- Anteprojeto de Código Civil é digno dos
no Lacerda e Chiovenda é imprecisa para mais robustos elogios pelo primor técnico
o contexto em que nos encontramos, no e enaltecimento da capacidade da arbi-
pertinente ao monopólio estatal de “dizer” tragem de promover a solução prévia de
o Direito. Sem o intuito de esvaziar de juri- controvérsias, sem a necessária submissão
dicidade o próprio conceito de jurisdição, ao Poder Judiciário.
não resta óbice à possível constituição de
um juiz privado, que atue em conformidade
com os preceitos dos bons costumes, ordem Referências
pública e disponibilidade de bens.
ALVIM, Arruda. Cláusula compromissória e compro-
misso arbitral: efeitos. Revista de Processo, São Paulo,
5. A disciplina da arbitragem v. 26, n. 101, p. 192-223, jan./mar. 2001.
no Anteprojeto de CPC ALVIM, José Eduardo Arruda. Elementos de Teoria
Geral do Processo. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
O tema da arbitragem mereceu parti-
cular tratamento por parte da Comissão CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Jurisdição.
Redatora do Anteprojeto de CPC. Entre os Revista de Processo, São Paulo, v. 15, n. 58, p. 33-40,
abr./jun. 1990.
avanços, destaca-se a opção pela expressão
“convenção de arbitragem”, que culminou ______. Arbitragem no Brasil: Utopia? Repertório IOB
de Jurisprudência: civil, processual, penal e comercial,
por suprir a controvérsia em torno da cláu- São Paulo, n. 14, p. 274-273, 2. quinz. jul. 1993.
sula e do compromisso arbitral e impor o
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo
mesmo regime jurídico a ambos.
– um comentário à Lei 9.307/96. São Paulo: Malheiros,
Com a perpetuação dessa linha de de- 1998, p. 38.
senvolvimento, o Brasil se mantém à frente
______. A arbitragem no Brasil no terceiro ano de vi-
de países como a Itália, berço do processua- gência da Lei 9.307/96. Revista de Processo, São Paulo,
lismo, onde até hoje a sentença arbitral é su- v. 25, n. 99, p. 85-98, jul./set. 2000.
jeita à homologação judicial para que tenha
______. A arbitragem nos Juizados Especiais Cíveis.
força de título executivo. Por sinal, o regime Repertório IOB de Jurisprudência: civil, processual, pe-
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