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FACULDADE DOCTUM CAMPUS GUARAPARI

CURSO DE DIREITO

BALTAZAR CYSNEIROS, BIANKA RIBEIRO, BRENDA MACHADO, BRUNO


FREITAS E VITOR PASSAMANI

MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

GUARAPARI
2023

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BALTAZAR CYSNEIROS, BIANKA RIBEIRO, BRENDA MACHADO, BRUNO
FREITAS E VITOR PASSAMANI

MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

Trabalho desenvolvido para avaliação


da matéria de Direito Processual
Penal II, do curso de Direito da
Faculdade DOCTUM. Prof. Rafael
Nossa Gobbi.

GUARAPARI
2023

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SUMÁRIO

Introdução ---------------------------------------------------------------------------04
Recurso e ações autônomas de impugnação-------------------------------05
1.1. Habeas Corpus---------------------------------------------------------------06
1.2.Mandado de Segurança ---------------------------------------------------08
1.3. Revisão Criminal ------------------------------------------------------------09
Conceito ------------------------------------------------------------------------------11
Características e distinções -----------------------------------------------------12
Princípios recursais ---------------------------------------------------------------14
Pressupostos de admissibilidade dos recursos ----------------------------15
1.4. Juízo de Admissibilidade -------------------------------------------------16
1.5. Objeto----------------------------------------------------------------------------17
1.6.Competência-------------------------------------------------------------------17
1.7. Natureza Jurídica------------------------------------------------------------18
Efeitos dos recursos ---------------------------------------------------------------18
RESE/Apelação --------------------------------------------------------------------20
Conclusão ---------------------------------------------------------------------------30
Referências Bibliográficas -------------------------------------------------------31

3
INTRODUÇÃO
Os meios de impugnação das decisões judiciais são instrumentos essenciais para
garantir a justiça e a revisão das decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais. Em
um sistema jurídico democrático e garantista, é fundamental que existam
mecanismos que permitam às partes contestar e buscar a modificação ou anulação
de uma decisão que considerem injusta, inadequada ou contrária ao direito.
Neste trabalho, serão abordados os principais meios de impugnação das decisões
judiciais, destacando suas características, requisitos de admissibilidade, prazos e
efeitos, visando proporcionar uma compreensão geral sobre esses instrumentos
processuais e sua importância para o sistema jurídico.

Palavra-Chave: Recurso, RESE, Apelação Criminal, prazos

ABSTRACT
The means of contesting judicial decisions are essential instruments to guarantee
justice and the review of decisions issued by the courts. In a democratic and
guaranteeing legal system, it is fundamental that there are mechanisms that allow
the parties to challenge and seek the modification or annulment of a decision that
they consider unfair, inappropriate or contrary to the law.
In this work, the main means of contesting judicial decisions will be addressed,
highlighting their characteristics, admissibility requirements, deadlines and effects,
aiming to provide a general understanding of these procedural instruments and their
importance for the legal system.

Keyword: Appeal, RESE, Criminal Appeal, deadlines

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Recursos e ações autônomas de impugnação
No processo penal existem também algumas ações autônomas de impugnação que
permitem contestar ou revisar as decisões judiciais. Além do habeas corpus e da
revisão criminal, que mencionei anteriormente, outras ações autônomas de
impugnação são:
1. Revisão criminal: É uma ação autônoma que permite a revisão de uma sentença
penal transitada em julgado. Pode ser proposta quando surgirem fatos novos ou
provas que evidenciem a inocência do condenado ou a inadequação da pena
aplicada. A revisão criminal é uma medida excepcional e possui requisitos
específicos.
2. Mandado de segurança: O mandado de segurança é uma ação constitucional
que visa proteger direitos líquidos e certos, quando não houver recurso específico
previsto em lei. No processo penal, o mandado de segurança pode ser utilizado para
questionar atos ilegais ou abusivos que violem direitos fundamentais das partes ou
que causem lesão grave e de difícil reparação.
3. Habeas corpus: O habeas corpus é uma ação que visa proteger o direito de
locomoção e pode ser utilizado para combater prisões ilegais ou abusivas.
Vale ressaltar que os nomes e procedimentos podem variar de acordo com o
sistema jurídico de cada país. É sempre importante consultar a legislação vigente e
buscar o auxílio de um advogado para compreender os meios de impugnação
disponíveis em uma jurisdição específica.
No processo penal, além das ações autônomas, existem diversos recursos que
podem ser utilizados para impugnar decisões judiciais. Vou apresentar alguns dos
recursos mais comuns utilizados nesse contexto:
1. Carta testemunhável: É um recurso cabível contra decisões que denegam o
pedido de habeas corpus ou mandado de segurança no âmbito do Tribunal do Júri.
Visa assegurar o direito de defesa do réu, possibilitando que o caso seja
reexaminado pelo tribunal competente.
2. Agravos: Existem dois tipos de agravos no processo penal: o agravo em
execução e o agravo regimental. O agravo em execução é utilizado para impugnar
decisões proferidas na fase de execução penal, como progressão de regime ou
concessão de benefícios. O agravo regimental é um recurso interno dirigido ao
próprio tribunal que proferiu a decisão impugnada.
3. Embargos infringentes: São recursos cabíveis quando a decisão não for
unânime em um julgamento colegiado. Podem ser interpostos pela parte vencida,
desde que tenha havido pelo menos dois votos divergentes. Os embargos
infringentes visam obter uma nova análise do caso por um número maior de
julgadores.

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4. Protesto por novo júri: É um recurso específico no âmbito do Tribunal do Júri,
cabível quando o réu for condenado e a defesa entender que a decisão é contrária à
prova dos autos. Visa a anulação do julgamento e a realização de um novo júri.
5. Correição parcial: É um recurso utilizado contra decisões judiciais que não
comportam recurso previsto em lei. Busca corrigir erros formais ou vícios
processuais que tenham ocorrido durante o processo.
6. Recurso ordinário-constitucional: É um recurso cabível para impugnar decisões
do Tribunal do Júri que contrariem a Constituição Federal. Visa garantir a
observância dos direitos fundamentais e a correta aplicação das normas
constitucionais.
7. Recurso extraordinário e Recurso especial: Ambos já mencionados
anteriormente, o recurso extraordinário é direcionado ao Supremo Tribunal Federal
(STF) e visa discutir questões constitucionais, enquanto o recurso especial é
direcionado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e busca a uniformização da
interpretação da legislação federal.

1.1. Habeas Corpus


O habeas corpus é uma garantia constitucional fundamental presente em muitos
países, incluindo o Brasil. É uma ação judicial que visa proteger o direito de
locomoção do indivíduo quando ameaçado ou violado por ato ilegal ou abusivo de
autoridade.
O termo "habeas corpus" vem do latim e significa "que tenhas o corpo". Na prática, o
habeas corpus busca assegurar a liberdade física do indivíduo, impedindo prisões
ou detenções arbitrárias ou ilegais. Também pode ser utilizado para questionar
outras restrições à liberdade de locomoção, como internações em hospitais
psiquiátricos ou detenções em delegacias por tempo excessivo.
O habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, em seu próprio favor ou
em favor de outra pessoa, e é uma medida de urgência. É uma forma de ação
judicial rápida e eficaz para a proteção imediata do direito de liberdade.
Existem diversos exemplos de situações em que o habeas corpus pode ser utilizado,
tais como:
1. Prisão ilegal: Quando uma pessoa é detida sem justificativa legal, sem ordem
judicial válida, ou quando a prisão extrapola os prazos legais estabelecidos.
2. Prisão preventiva abusiva: Quando a prisão preventiva é decretada de forma
abusiva, sem os requisitos legais que justifiquem a medida cautelar, ou quando
persistem condições para a sua revogação.
3. Excesso de prazo na prisão provisória: Quando uma pessoa está detida
provisoriamente por um tempo superior ao permitido pela lei, sem a conclusão do
processo penal.
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4. Coação ilegal ou abuso de autoridade: Quando há situações em que uma
pessoa é coagida ou mantida em situação de privação de liberdade de forma ilegal
ou arbitrária, mesmo que não seja uma prisão formal.
É importante destacar que o habeas corpus não tem como objetivo revisar o mérito
da decisão judicial, mas sim garantir o respeito aos direitos fundamentais e
assegurar a legalidade do ato que restringe a liberdade de locomoção. É uma
medida de proteção imediata contra atos ilegais ou abusivos por parte das
autoridades.
No Brasil, o habeas corpus está previsto no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição
Federal, e também é regulamentado pela Lei nº 12.016/2009. Para impetrar um
habeas corpus, é recomendável contar com a assistência de um advogado
especializado, que poderá orientar sobre os procedimentos adequados e os
fundamentos jurídicos necessários para a concessão do pedido.
É importante ressaltar que o habeas corpus não é uma medida destinada a discutir a
culpa ou inocência do indivíduo, mas sim a garantir o respeito aos direitos
fundamentais de liberdade de locomoção. Caso seja concedido, o habeas corpus
pode resultar na liberação imediata da pessoa detida ou na aplicação de medidas
alternativas à prisão.
Segue abaixo jurisprudência de HC impetrado na primeira turma recursal:
EMENTA HABEAS CORPUS . PROCESSO PENAL. SUBSTITUTIVO DO
RECURSO CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE. CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, ART. 102, II, a . TRÁFICO DE DROGAS. REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE PENA. SUBSTITUIÇÃO POR RESTRITIVA DE
DIREITO. REAVALIAÇÃO PELO MAGISTRADO SENTENCIANTE. 1. O
habeas corpus tem uma rica história, constituindo garantia fundamental do
cidadão. Ação constitucional que é, não pode ser amesquinhado, mas
também não é passível de vulgarização, sob pena de restar
descaracterizado como remédio heroico. Contra a denegação de habeas
corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico
expresso, o recurso ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da
Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter
substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao
preceito constitucional. Precedente da Primeira Turma desta Suprema
Corte. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal reputou inválidas, para
crimes de tráfico de drogas, a vedação à substituição da pena privativa de
liberdade por restritivas de direito e a imposição compulsória do regime
inicial fechado para cumprimento de pena. Os julgados não reconheceram
direito automático a esses benefícios. A questão há de ser apreciada pelo
juiz do processo à luz do preenchimento, ou não, dos requisitos legais
gerais dos arts. 33 e 44 do Código Penal. 3. Habeas corpus extinto sem
resolução do mérito, mas, com concessão de ofício, para confirmar a liminar
concedida quanto à determinação de reapreciação da substituição da pena,
com objeto já exaurido, e para determinar, afastada a vedação legal do § 1º

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do artigo 2º da Lei 8.072/90, ao Juízo do primeiro grau que avalie a
possibilidade de fixação de regime mais brando para a paciente.
(HC 113562, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em
30/10/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-223 DIVULG 12-11-2012
PUBLIC 13-11-2012)

1.2. Mandado de segurança:


O mandado de segurança é uma ação constitucional prevista em diversos
ordenamentos jurídicos, incluindo o Brasil, que tem como finalidade proteger direitos
líquidos e certos que estejam sendo violados ou ameaçados por ato ilegal ou
abusivo de autoridade. É uma medida de caráter urgente e garantista, que visa
assegurar o exercício dos direitos fundamentais.
O mandado de segurança pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica
que seja titular de um direito líquido e certo, ou seja, um direito comprovado de
forma clara, sem necessidade de produção de prova posterior. A ação pode ser
direcionada contra atos praticados por autoridades públicas ou por particulares no
exercício de funções públicas.
No âmbito do processo penal, o mandado de segurança pode ser utilizado para
questionar atos ilegais ou abusivos que violem direitos fundamentais das partes ou
que causem lesão grave e de difícil reparação. Alguns exemplos práticos de
situações em que o mandado de segurança pode ser aplicado incluem:
1. Decisões judiciais ou administrativas que negam acesso a documentos
necessários para a defesa do acusado;
2. Prisões ou medidas restritivas de liberdade sem fundamentação adequada;
3. Ações de busca e apreensão realizadas de forma ilegal ou abusiva;
4. Negativa de acesso a informações sobre o processo penal;
5. Violência física ou psicológica praticada por autoridades policiais.

O funcionamento do mandado de segurança envolve algumas etapas


principais:
1. Legitimidade: O mandado de segurança pode ser impetrado por qualquer pessoa
física ou jurídica que se sinta prejudicada ou ameaçada por um ato ilegal ou abusivo
de autoridade pública ou agente do poder público.
2. Prazo: Geralmente, há um prazo determinado para a impetração do mandado de
segurança, contado a partir do conhecimento do ato ilegal ou abusivo. Esse prazo
pode variar de acordo com a legislação de cada país.
3. Autoridade coatora: No mandado de segurança, é necessário identificar
claramente a autoridade pública ou o agente do poder público responsável pelo ato
ilegal ou abusivo que se pretende contestar.

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4. Direito líquido e certo: O mandado de segurança exige que o direito violado seja
líquido e certo, ou seja, que seja de fácil comprovação e não dependa de análises
complexas ou provas a serem produzidas.
5. Liminar: Em casos de urgência e quando presentes requisitos específicos, é
possível solicitar uma medida liminar no mandado de segurança, visando à
suspensão imediata do ato ilegal ou abusivo até o julgamento final da ação.
A doutrina jurídica desempenha um papel fundamental na análise e interpretação do
mandado de segurança. Através da doutrina, estudiosos do direito exploram os
fundamentos, requisitos, limites e aplicação prática dessa medida. A doutrina
também auxilia na discussão de temas controvertidos relacionados ao mandado de
segurança no contexto do processo penal, contribuindo para a evolução do
conhecimento jurídico e influenciando a jurisprudência. Assim, a doutrina jurídica
desempenha um papel essencial na compreensão aprofundada e no
desenvolvimento do instituto do mandado de segurança.
Exemplos práticos da aplicação do mandado de segurança no contexto penal podem
incluir situações como a negativa de acesso a documentos importantes para a
defesa, a violação do direito de ampla defesa e contraditório durante o processo
penal, a negativa de liberdade provisória em casos em que os requisitos legais são
preenchidos, entre outros.
Segue abaixo jurisprudência de RMS impetrado na primeira turma recursal e julgado
pela Ministra Cármen Lúcia:
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO
EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO PENAL. SEGUNDOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM A PRETENSÃO DE REEXAME DA
MATÉRIA: NÃO CONHECIMENTO. ENTENDIMENTO FIRMADO PELA
PRIMEIRA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NÃO CONHECIDOS. IMEDIATO ARQUIVAMENTO DOS
AUTOS.
(RMS 38436 AgR-ED-ED, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,
julgado em 30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-106 DIVULG
31-05-2022 PUBLIC 01-06-2022)

1.3. Revisão Criminal


A revisão criminal é uma ação autônoma prevista no ordenamento jurídico brasileiro,
que tem como finalidade a revisão de uma sentença penal transitada em julgado, ou
seja, uma sentença definitiva que não pode mais ser objeto de recursos ordinários. A
revisão criminal é uma medida excepcional e visa corrigir injustiças ou erros graves
que possam ter ocorrido no processo penal.

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O conceito básico da revisão criminal é a reabertura do processo penal para análise
de fatos novos ou provas que não foram conhecidos no momento da condenação e
que, se fossem conhecidos, poderiam ter influenciado na decisão final. A revisão
criminal é uma garantia importante para proteger a segurança jurídica e evitar
condenações injustas ou erros judiciários.
Alguns exemplos de situações em que a revisão criminal pode ser requerida
incluem:
1. Descoberta de novas provas: Caso surjam provas que não estavam disponíveis
durante o julgamento original e que possam comprovar a inocência do condenado
ou indicar falhas processuais relevantes.
2. Declaração de falsidade de provas: Se for comprovado que as provas utilizadas
no processo eram falsas ou foram manipuladas de alguma forma, o condenado pode
requerer a revisão criminal.
3. Supressão de provas: Se durante o processo fica evidente que provas
relevantes foram ocultadas ou suprimidas, prejudicando o direito de defesa ou
influenciando na decisão final, pode ser requerida a revisão criminal.
4. Erro judiciário: Caso ocorra um erro grave no julgamento, como uma
condenação baseada em fundamentação jurídica equivocada ou desconsideração
de provas favoráveis à defesa, a revisão criminal pode ser uma alternativa para
corrigir a injustiça cometida.
É importante ressaltar que a revisão criminal não tem o objetivo de reavaliar o mérito
da causa, mas sim de verificar a ocorrência de circunstâncias excepcionais que
justifiquem a reabertura do processo. A decisão de acolher ou não o pedido de
revisão criminal cabe ao tribunal competente, que analisará os argumentos
apresentados e as provas trazidas pelo requerente.
Na doutrina jurídica brasileira, a revisão criminal é amplamente discutida e estudada.
Autores e juristas abordam os requisitos, procedimentos e limites da revisão
criminal, bem como a sua importância na busca pela justiça e na proteção dos
direitos fundamentais dos indivíduos. Livros e artigos especializados sobre processo
penal costumam tratar desse tema em profundidade, fornecendo embasamento
teórico para a compreensão da revisão criminal.
Abaixo também se encontra uma jurisprudência de Revisão Criminal julgado pelo
Ministro Alexandre de Moraes:
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. REVISÃO CRIMINAL. MEDIDA
CAUTELAR. EFEITOS DA CONDENAÇÃO. AUSÊNCIA DE FUMUS BONI
IURIS. FUNDAMENTOS ANALISADOS E AFASTADOS PELO PLENÁRIO
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRETENSÃO DE CANDIDATURA A
CARGO PÚBLICO. ALEGAÇÃO DE PERICULUM IN MORA.
IMPERTINÊNCIA. MEDIDA CAUTELAR NÃO REFERENDADA. 1. A
Revisão Criminal, por conta da sua natureza excepcional, somente deve ser

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utilizada quando preenchidos os requisitos legais para o seu conhecimento,
afinal, do contrário estar-se-ia utilizando a referida ação de impugnação
como verdadeiro substitutivo de um recurso. 2. Os fundamentos invocados
pelo Relator, Min. NUNES MARQUES, na decisão proferida na Medida
Cautelar na RvC 5.487/AM, são os mesmos já analisados pelo Min. EDSON
FACHIN na RvC 5.475/AM, oportunidade em que esta CORTE analisou as
impugnações envolvendo a dosimetria da pena do requerente em seus
vários aspectos (dosimetria da pena em sentido amplo, inclusive no que diz
respeito às circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do art. 65, III, "b" e do
art. 16, todos do Código Penal) , mantendo-a incólume. 3. A análise prévia
realizada pelo Plenário desta SUPREMA CORTE nos autos da RvC
5.475/AM e nas demais ações ajuizadas pelo requerente (RvC 5.480/AM,
RvC 5.488/AM e RvC 5.493/AM) serve de fundamento idôneo para afastar o
requisito do fumus boni iuris da medida cautelar. 4. Ausência do periculum in
mora alegado pelo requerente (suspensão dos efeitos da condenação para
poder se candidatar a cargo eletivo), uma vez que não há qualquer risco de
dano irreparável de se analisar a 5ª (quinta) Revisão Criminal proposta pelo
requerente Acir Marcos Gurgacz, em especial quando os fundamentos
desta já foram analisados pelo Plenário do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. 5. Medida cautelar não referendada.
(RvC 5487 MC-Ref, Relator(a): NUNES MARQUES, Relator(a) p/ Acórdão:
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2022,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 18-08-2022 PUBLIC
19-08-2022)

Conceito
Os meios de impugnação das decisões judiciais são instrumentos legais utilizados
para questionar ou contestar uma decisão proferida por um órgão jurisdicional.
Esses meios têm como objetivo possibilitar a revisão ou anulação de uma decisão
que se entenda equivocada, injusta ou contrária à lei. Os principais meios de
impugnação das decisões judiciais são:
1. Recursos: Os recursos são meios de impugnação mais comuns e amplamente
utilizados. Permitem que as partes ou terceiros prejudicados recorram de uma
decisão proferida por um órgão judicial, com o objetivo de obter sua revisão,
modificação ou anulação. Os recursos são apresentados perante instâncias
superiores, como tribunais, e seguem regras específicas de prazos e formalidades.
2. Ações autônomas de impugnação: Além dos recursos, existem ações
autônomas de impugnação, que são processos independentes movidos com o
propósito de impugnar uma decisão judicial. Essas ações têm requisitos específicos
e são utilizadas em situações particulares, como a revisão criminal, que permite a
revisão de uma sentença penal transitada em julgado com base em fatos ou provas
novas.

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3. Incidentes processuais: Os incidentes processuais são meios de impugnação
utilizados dentro do próprio processo em curso. São procedimentos específicos
destinados a discutir questões processuais ou pontos controvertidos que surgem
durante o desenvolvimento do processo. Exemplos de incidentes processuais são os
embargos de declaração, utilizados para esclarecer ou complementar uma decisão,
e a exceção de suspeição ou impedimento do juiz, quando se questiona a
imparcialidade do magistrado.
4. Reclamações e correições: As reclamações e correições são instrumentos
utilizados para questionar atos ou decisões judiciais que supostamente estejam em
desacordo com a jurisprudência ou com as normas legais. As reclamações são
dirigidas aos tribunais superiores, visando a preservação da competência e a
garantia da autoridade das decisões desses tribunais. As correições, por sua vez,
são procedimentos internos de controle e fiscalização dos tribunais sobre suas
próprias atividades.
É importante ressaltar que cada meio de impugnação tem suas características
próprias, requisitos específicos e prazos para sua utilização. A escolha do meio
adequado dependerá do tipo de decisão a ser impugnada e das circunstâncias do
caso em questão. É fundamental contar com o auxílio de um advogado
especializado para orientação correta e adequada utilização desses meios de
impugnação.

Característica e distinção
Os meios de impugnação das decisões judiciais são instrumentos processuais que
permitem questionar ou contestar uma decisão proferida por um órgão jurisdicional.
Eles possuem características e distinções específicas. Vou apresentar algumas das
principais características e distinções entre esses meios de impugnação:
1. Recursos: Os recursos são meios de impugnação utilizados para questionar
decisões judiciais. Eles visam a obtenção de uma nova análise do caso por instância
superior. As principais características dos recursos são:
- Cabimento: Os recursos são cabíveis contra decisões judiciais que possuam
previsão legal para serem impugnadas.
- Interposição: Os recursos devem ser interpostos perante o órgão que proferiu a
decisão impugnada, seguindo os prazos e requisitos estabelecidos pela legislação
processual.
- Efeito devolutivo: Os recursos têm o efeito de devolver ao órgão superior o
conhecimento da matéria impugnada, ou seja, permite que a instância superior
reexamine a decisão.

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- Princípio do duplo grau de jurisdição: Os recursos têm como fundamento o
princípio do duplo grau de jurisdição, que assegura às partes o direito de terem suas
causas apreciadas por, pelo menos, dois órgãos judiciais.
2. Ações autônomas de impugnação: Além dos recursos, existem as ações
autônomas de impugnação, que são meios específicos para impugnar decisões
judiciais em situações particulares. Algumas características dessas ações são:
- Natureza autônoma: As ações autônomas de impugnação são independentes dos
recursos e possuem procedimentos próprios.
- Requisitos específicos: Cada ação autônoma de impugnação possui requisitos e
condições específicas para sua propositura, como a existência de fatos novos,
provas novas ou violações específicas.
- Situações excepcionais: As ações autônomas de impugnação são utilizadas em
situações excepcionais, como revisão criminal para reavaliação de uma sentença
penal transitada em julgado.
- Reexame da decisão: As ações autônomas de impugnação buscam obter um
novo exame da causa, levando em consideração os elementos apresentados que
não foram analisados anteriormente.
3. Objeto da impugnação: Os meios de impugnação podem ter diferentes objetos
de impugnação. Por exemplo, a apelação é um recurso destinado a contestar uma
sentença proferida por um juiz de primeira instância, enquanto o recurso
extraordinário tem como objetivo questionar violações à Constituição Federal. Cada
meio de impugnação possui um escopo específico para impugnar decisões judiciais
em diferentes aspectos, como mérito, legalidade, constitucionalidade, entre outros.
4. Instâncias de julgamento: Os meios de impugnação também podem variar
quanto à instância de julgamento. Alguns recursos são julgados por tribunais
superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal
(STF), enquanto outros são julgados por tribunais de segunda instância. As ações
autônomas de impugnação também podem seguir diferentes instâncias de
julgamento, dependendo da legislação aplicável.
5. Efeitos da impugnação: Os meios de impugnação também podem ter diferentes
efeitos sobre a decisão impugnada. Alguns recursos têm efeito suspensivo, ou seja,
a decisão fica suspensa enquanto o recurso é analisado. Outros recursos têm
apenas efeito devolutivo, ou seja, a matéria é devolvida para análise do tribunal
superior, mas a decisão impugnada continua produzindo efeitos até a decisão final
do recurso.
É importante ressaltar que os meios de impugnação das decisões judiciais têm suas
particularidades e aplicação específica de acordo com o ordenamento jurídico de
cada país. As características e distinções mencionadas acima são gerais, podendo
haver variações de acordo com a legislação processual de cada sistema jurídico.

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Princípios Recursais
Os princípios recursais no processo penal são diretrizes que orientam o exercício do
direito de recorrer, visando garantir a ampla defesa, o contraditório e a busca pela
justiça. Vou explicar brevemente as características e dar exemplos de cada um dos
princípios mencionados:
1. Duplo Grau de Jurisdição: Esse princípio estabelece que as partes têm o direito
de recorrer para um órgão judicial hierarquicamente superior, buscando uma nova
análise e revisão da decisão. Exemplo: A parte condenada recorre para o Tribunal
de Justiça após uma sentença condenatória proferida por um juiz de primeira
instância.
2. Taxatividade: Esse princípio determina que os recursos devem estar previstos
em lei de forma taxativa, ou seja, apenas aqueles expressamente previstos na
legislação podem ser utilizados para impugnar uma decisão judicial. Exemplo: O
recurso de apelação, previsto no Código de Processo Penal, é o meio adequado
para impugnar uma sentença condenatória.
3. Dialeticidade: Esse princípio exige que o recorrente apresente argumentos e
fundamentos jurídicos consistentes para sustentar sua pretensão de impugnação da
decisão. Exemplo: No recurso de apelação, é necessário demonstrar os motivos
pelos quais a decisão proferida pelo juiz de primeira instância está equivocada.
4. Unirrecorribilidade: Esse princípio estabelece que, em regra, contra uma mesma
decisão, só é possível interpor um único recurso. Exemplo: Caso uma sentença
absolva o réu, não é possível recorrer para pedir sua condenação, pois a decisão
absolutória é definitiva.
5. Fungibilidade: Esse princípio permite a substituição de um recurso por outro
quando há dúvida sobre o meio adequado ou erro na escolha do recurso. A
fungibilidade ocorre quando o tribunal aceita o recurso mesmo que seja diferente do
recurso correto. Exemplo: O juiz aceita um recurso de apelação interposto
erroneamente como recurso em sentido estrito, por entender que houve uma
confusão justificável entre os recursos.
6. Disponibilidade: Esse princípio prevê que o recorrente tem a faculdade de
desistir do recurso a qualquer momento. Exemplo: A parte recorrente decide desistir
do recurso de apelação antes do julgamento do tribunal.
7. "Non reformatio in pejus": Esse princípio impede que o tribunal, ao julgar um
recurso interposto pela parte recorrente, modifique a decisão recorrida de forma
prejudicial a essa parte. Exemplo: Em um recurso de apelação interposto pelo réu
contra uma sentença condenatória, o tribunal não pode aumentar a pena aplicada.
8. "Non reformatio in pejus" indireta (personalidade): Esse princípio estabelece
que o tribunal não pode piorar a situação do recorrente se somente ele recorreu,

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mesmo que o recurso seja desprovido. Exemplo: Em um recurso de apelação
interposto apenas pelo réu, o tribunal não pode agravar a pena, mas pode mantê-la.
9. "Reformatio in mellius": Esse princípio permite que o tribunal, ao julgar um
recurso, melhore a situação da parte recorrente, mesmo que ela não tenha recorrido.
Exemplo: Em um recurso interposto apenas pelo Ministério Público contra uma
sentença absolutória, o tribunal pode reformar a decisão e condenar o réu.
10. Irrecorribilidade das Decisões Interlocutórias: Esse princípio estabelece que
as decisões interlocutórias (decisões tomadas durante o curso do processo que não
põem fim ao processo) não são passíveis de recurso, salvo em situações
excepcionais previstas em lei. Exemplo: Uma decisão que nega um pedido de
produção de determinada prova não é passível de recurso, mas pode ser impugnada
em alguns casos específicos, como o recurso em sentido estrito.

Pressupostos de admissibilidade recursal


Os pressupostos de admissibilidade dos recursos são requisitos que devem ser
atendidos para que um recurso seja considerado válido e possa ser analisado pelo
tribunal competente. Esses pressupostos variam de acordo com o ordenamento
jurídico de cada país, os pressupostos são divididos em dois grupos, sendo objetivos
e subjetivos. É correto afirmar que o grupo dos pressupostos objetivos, também
conhecidos como pressupostos extrínsecos, é composto por exigências formais que
devem ser atendidas para a admissibilidade do recurso. Essas exigências podem
variar de acordo com o ordenamento jurídico e a legislação processual penal de
cada país, mas alguns exemplos comuns de pressupostos objetivos são:
1. Recurso adequado: O recurso interposto deve ser o meio processual adequado
para impugnar a decisão recorrida. Cada tipo de recurso possui requisitos
específicos, e é importante escolher corretamente o recurso adequado para a
situação.
2. Unirrecorribilidade: Em regra, contra uma mesma decisão, só é possível interpor
um único recurso. Isso significa que o recorrente deve escolher o recurso mais
apropriado para impugnar a decisão, não sendo possível a interposição de recursos
simultâneos com o mesmo objetivo.
3. Tempestividade: O recurso deve ser interposto dentro do prazo estabelecido pela
legislação processual penal. O não cumprimento do prazo pode resultar na
preclusão do direito de recorrer.
4. Motivação: O recurso deve ser devidamente fundamentado, ou seja, deve conter
os argumentos jurídicos que sustentam a impugnação da decisão recorrida. É
necessário apresentar as razões que justificam a revisão ou anulação da decisão.

15
5. Regularidade procedimental: O recurso deve observar as formalidades e
exigências previstas na legislação processual penal, tais como a forma de
interposição, a identificação das partes, a correta delimitação dos pedidos e a
observância dos prazos estabelecidos.
Já os pressupostos subjetivos estão relacionados à legitimidade e ao interesse de
recorrer, determinando quem tem o direito de interpor o recurso. No âmbito do
processo penal, os sujeitos que geralmente possuem legitimidade e interesse para
recorrer são:
1. Ministério Público: O Ministério Público é parte legítima para recorrer em várias
situações, como nas decisões que envolvem absolvição do réu, aplicação de pena,
concessão de benefícios, entre outros.
2. Réu e seu procurador: O réu, bem como seu advogado ou procurador
legalmente constituído, têm legitimidade e interesse para recorrer de decisões
desfavoráveis, buscando a reforma ou anulação da decisão penal.
3. Querelante: Em casos de ações penais privadas ou públicas condicionadas à
representação, o querelante (a vítima ou seu representante legal) possui
legitimidade e interesse para recorrer de decisões que afetem seus interesses, como
a absolvição do réu.
4. Ofendido: Nos casos em que a lei prevê a figura do assistente de acusação ou
permite a participação do ofendido no processo penal, eles também podem ter
legitimidade e interesse para recorrer de decisões que afetem seus direitos, como a
decisão de não recebimento da denúncia.
Esses são alguns exemplos de sujeitos que podem possuir legitimidade e interesse
de recorrer no processo penal. É importante ressaltar que a legislação processual
penal de cada país pode apresentar variações quanto à legitimidade recursal, e a
análise específica dos casos concretos e da legislação vigente é fundamental para
determinar quem tem o direito de interpor recursos em cada situação.
O não atendimento de algum dos pressupostos de admissibilidade pode levar à não
aceitação do recurso pelo tribunal, resultando na sua inadmissibilidade e na
manutenção da decisão recorrida. Por isso, é essencial que os recursos sejam
preparados e interpostos de forma adequada, observando os requisitos
estabelecidos pela legislação processual penal.

1.4. Juízo de Admissibilidade


O juízo de admissibilidade é a etapa em que o tribunal realiza a análise do recurso
para verificar se ele atende aos pressupostos processuais estabelecidos pela
legislação. Essa análise é feita antes de examinar o mérito do recurso.Durante o
juízo de admissibilidade, são verificados os pressupostos objetivos e subjetivos do
recurso, tais como a tempestividade, a regularidade formal, a legitimidade do
16
recorrente, o interesse recursal, entre outros. Se o recurso preencher todos esses
pressupostos, ele será admitido e seguirá para a análise do mérito.
No entanto, se o recurso não atender a algum dos pressupostos processuais
exigidos, o tribunal não o conhecerá, ou seja, não examinará o mérito do recurso.
Nesse caso, diz-se que o recurso não foi conhecido, pois não se considera sua
admissibilidade para análise das questões levantadas.
É importante ressaltar que a decisão de não conhecer o recurso não implica uma
análise do mérito ou uma decisão sobre a questão discutida no recurso. Significa
apenas que o recurso não cumpriu os requisitos necessários para que seja
apreciado pelo tribunal.
Após o juízo de admissibilidade, se o recurso for conhecido, ou seja, considerado
admissível, ele será analisado em relação ao seu mérito, ou seja, serão examinados
os argumentos e fundamentos apresentados para impugnar a decisão recorrida.

1.5. Objeto
O objeto do juízo de admissibilidade é verificar se o recurso preenche os
pressupostos processuais necessários para que seja conhecido e analisado em seu
mérito. Nessa etapa, o tribunal avalia se o recurso está devidamente fundamentado,
se foi interposto dentro do prazo estabelecido pela legislação, se a parte recorrente
tem legitimidade para recorrer, se foram observadas as formalidades previstas na lei
processual, entre outros requisitos formais.
Se o recurso preencher todos esses pressupostos processuais, ou seja, se for
considerado admissível, ele será conhecido pelo tribunal, e a análise será
direcionada ao mérito do recurso. O mérito do recurso consiste na análise das
questões levantadas pela parte recorrente e dos fundamentos apresentados para
impugnar a decisão recorrida.
No entanto, se o recurso não preencher algum dos pressupostos processuais, ele
não será conhecido, ou seja, não será analisado em seu mérito. Nesse caso, o
tribunal não se pronunciará sobre as questões discutidas no recurso, ficando a
decisão recorrida mantida.Portanto, o juízo de admissibilidade é a etapa preliminar
em que o tribunal verifica se o recurso preenche os pressupostos processuais
necessários para seu conhecimento, permitindo que o mesmo seja analisado no
mérito.

1.6. Competência
O juízo de admissibilidade geralmente é realizado tanto pelo juízo que proferiu a
decisão recorrida (juízo a quo) quanto pelo tribunal ou órgão competente para julgar
o recurso (juízo ad quem). Essa distribuição de competências visa garantir uma
análise imparcial e independente sobre a admissibilidade do recurso.
17
O juízo a quo é responsável por verificar se o recurso preenche os pressupostos
processuais objetivos e subjetivos para ser conhecido, ou seja, se atende aos
requisitos formais e se a parte recorrente possui legitimidade e interesse de recorrer.
O juízo a quo não adentra no mérito da questão, ou seja, não analisa os argumentos
e fundamentos apresentados no recurso.
Após o juízo a quo verificar a admissibilidade do recurso, caso ele seja admitido, o
recurso é remetido ao juízo ad quem, que é o tribunal ou órgão superior competente
para julgar o recurso. O juízo ad quem também realiza o juízo de admissibilidade,
verificando se o recurso preenche os requisitos formais e se foram observados os
pressupostos processuais. Além disso, o juízo ad quem tem competência para
analisar o mérito do recurso, ou seja, as questões discutidas no recurso serão
avaliadas em profundidade.Essa divisão de competências entre o juízo a quo e o
juízo ad quem busca assegurar a imparcialidade e a garantia do devido processo
legal, permitindo uma análise mais completa e independente sobre a admissibilidade
e o mérito do recurso.

1.7. Natureza Jurídica


A decisão proferida pelo juízo de admissibilidade, seja ela favorável ou desfavorável
ao conhecimento do recurso, é de natureza declaratória. Isso significa que o juízo de
admissibilidade não cria nem modifica direitos ou obrigações das partes, mas
apenas declara a admissibilidade ou inadmissibilidade do recurso.
Quando o juízo de admissibilidade declara o conhecimento do recurso, isso significa
que ele reconhece que o recurso preenche os pressupostos processuais
necessários para ser analisado no mérito. Nesse caso, o tribunal ou órgão
competente passará a analisar as questões discutidas no recurso e poderá,
eventualmente, modificar a decisão recorrida.
Por outro lado, quando o juízo de admissibilidade declara a não admissibilidade do
recurso, isso significa que ele concluiu que o recurso não preenche os pressupostos
processuais exigidos. Nesse caso, a decisão recorrida se mantém e o recurso não
será analisado em seu mérito pelo tribunal ou órgão competente.
Portanto, a decisão do juízo de admissibilidade é meramente declaratória, pois se
limita a reconhecer se o recurso preenche os requisitos para ser admitido ou não,
sem criar ou modificar direitos substantivos das partes envolvidas no processo.

Efeitos
Quando um recurso é protocolado, ele passa por um juízo de admissibilidade, que
pode ser realizado tanto pelo juízo a quo (que proferiu a decisão recorrida) quanto
pelo juízo ad quem (tribunal ou órgão superior competente). Se o juízo de
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admissibilidade realizado pelo juízo a quo for positivo, isso significa que o recurso
preenche os requisitos para ser admitido, e ele será encaminhado ao juízo ad quem
para que este também realize seu juízo de admissibilidade. Nesse caso, o efeito é o
recurso para o juízo ad quem, onde será analisado tanto em relação à
admissibilidade quanto ao mérito.
Por outro lado, se o juízo de admissibilidade realizado pelo juízo a quo for negativo,
ou seja, se o recurso não preencher os requisitos necessários, caberá recurso para
o juízo ad quem a fim de que este realize um novo juízo de admissibilidade. Nesse
caso, o efeito é que o recurso será encaminhado ao juízo ad quem para que este
decida sobre a sua admissibilidade.
No juízo ad quem, se o juízo de admissibilidade for positivo, o efeito será o
julgamento do mérito do recurso, ou seja, as questões levantadas no recurso serão
analisadas em profundidade. Porém, se o juízo de admissibilidade for negativo, o
efeito será o trancamento da via recursal, ou seja, o recurso não será analisado em
seu mérito pelo juízo ad quem.
Nas palavras de Alexis Couto de Brito, “o efeito do juízo de admissibilidade
será diferente se realizado pelo juízo a quo ou ad quem. Se positivo no juízo
a quo, o efeito é o recurso subir para o juízo ad quem, que realizará novo
juízo de admissibilidade. Se negativo no juízo a quo, sempre caberá recurso
para que o juízo ad quem realize novo juízo de admissibilidade. Já no ad
quem, se positivo o juízo de admissibilidade, o efeito será o julgamento do
mérito do recurso; se negativo o juízo de admissibilidade, o efeito será o
trancamento da via recursal com a consequente não análise do mérito do
recurso”.
Os recursos no processo penal possuem diferentes efeitos, que podem variar de
acordo com a legislação e a natureza do recurso. Dentre os efeitos mais comuns,
destacam-se:
1. Efeito devolutivo: Todo recurso possui esse efeito, que consiste na devolução ao
tribunal competente da matéria alegada no recurso. Isso significa que o tribunal
analisará e decidirá sobre as questões levantadas no recurso, podendo reformar,
anular ou confirmar a decisão recorrida.
2. Efeito suspensivo: Esse efeito implica que a decisão recorrida não produzirá
efeitos enquanto o recurso não for julgado pelo tribunal competente. Isso significa
que a execução da decisão fica suspensa até que o recurso seja apreciado e julgado
definitivamente.
No processo penal, três recursos costumam ter o efeito suspensivo:
Recurso em sentido estrito (RESE): É utilizado para impugnar decisões
interlocutórias e sentenças definitivas que não sejam anuláveis. Quando interposto,
o RESE suspende a execução da decisão recorrida até o seu julgamento pelo
tribunal.

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Agravo em execução: É utilizado para impugnar decisões proferidas na fase de
execução penal. O agravo em execução também tem efeito suspensivo, ou seja, a
decisão impugnada não será executada até que o recurso seja julgado.
Carta testemunhável: É uma espécie de recurso que pode ser interposto contra
decisões que denegam a expedição de uma certidão de determinados atos
processuais. A carta testemunhável também tem efeito suspensivo, ou seja, a
decisão recorrida não será executada até o julgamento do recurso.
É importante ressaltar que esses são exemplos de recursos que possuem efeito
suspensivo no processo penal. No entanto, a existência desse efeito pode variar de
acordo com a legislação e as especificidades de cada caso. Além disso, existem
outros efeitos que podem ser aplicáveis a determinados recursos, como o efeito
substitutivo, o efeito expansivo, entre outros, dependendo das circunstâncias e da
legislação aplicável.

RESE/Apelação
O Recurso em Sentido Estrito (RESE) é um recurso previsto no Código de Processo
Penal brasileiro, mais especificamente nos artigos 581 a 592. Ele tem como
finalidade impugnar decisões interlocutórias e algumas sentenças definitivas que
não são passíveis de apelação.O RESE possui um rol taxativo de cabimento, ou
seja, é admitido somente nas situações previstas de forma expressa no artigo 581
do CPP. Algumas das decisões que podem ser objeto de interposição de RESE são
aquelas que versam sobre:O Recurso em Sentido Estrito (RESE) é cabível nas
situações que você mencionou:
1. Decisão que não recebe a denúncia ou a queixa, nos termos do art. 395 do CPP,
ou quando rejeita o aditamento feito durante o processo. É importante ressaltar que,
no âmbito do Juizado Especial Criminal (JECRIM), não cabe RESE nesse caso,
devendo-se interpor apelação criminal.
2. Decisão que conclui pela incompetência do juízo, bem como da decisão de
desclassificação própria na primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri.
3. Decisão que julga procedentes as exceções, exceto a de suspeição, como
litispendência, coisa julgada ou ilegitimidade da parte, conforme art. 95 do CPP.
4. Decisão que pronunciou o réu nos termos do art. 413 do CPP. Essa decisão
encerra a primeira fase do rito do Tribunal do Júri.
5. Decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança.
6. Decisão que indefere o requerimento de prisão preventiva ou a revoga.
7. Decisão que concede liberdade provisória.
8. Decisão que relaxa a prisão em flagrante.
9. Decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor, quando ocorrem as
hipóteses previstas no art. 328, 341, 344 ou 372 do CPP.
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10. Decisão que decreta a prescrição ou julgar extinta a punibilidade por outro
motivo. A extinção da punibilidade encontra previsão no art. 107 do Código Penal e
em outras disposições legais.
11. Decisão que indefere o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra
causa extintiva da punibilidade.
12. Decisão que concede ou nega a ordem de habeas corpus.
13. Decisão que anula o processo da instrução criminal, no todo ou em parte.
14. Decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral.
15. Decisão que denega a apelação ou a julga deserta.
16. Decisão que ordena a suspensão do processo em virtude de questão prejudicial.
17. Decisão que decide o incidente de falsidade relacionado a algum documento no
processo penal.
Essas são apenas algumas das hipóteses de cabimento do RESE, sendo importante
consultar o artigo 581 do CPP para verificar o rol completo. Vale ressaltar que o
RESE é um recurso que visa controlar a legalidade das decisões, ou seja, verificar
se a decisão recorrida está de acordo com a lei e com os princípios processuais
penais.O prazo para interposição do RESE é de 5 dias, contados a partir da
intimação da decisão recorrida. O recurso deve ser interposto perante o juízo que
proferiu a decisão, sendo que esse juízo realizará o juízo de admissibilidade para
decidir se o recurso será admitido ou não.
Caso o RESE seja admitido, ele será remetido ao tribunal competente para análise
do mérito, ou seja, para que o tribunal verifique se a decisão recorrida deve ser
mantida, reformada ou anulada. O tribunal também pode decidir pela cassação da
decisão recorrida, quando verificar a existência de ilegalidade.
Alguns dos incisos do art. 581 do CPP foram revogados e outras situações
específicas não são adequadas para a interposição do Recurso em Sentido Estrito
(RESE). Vamos analisar cada uma delas:
VI - Esse inciso foi revogado pela Lei nº 11.689/2008. Anteriormente, tratava da
absolvição do réu nos casos do art. 411 do CPP. Agora, em caso de absolvição,
cabe apelação criminal.
VII - Refere-se à decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor, nas
hipóteses previstas nos artigos 328, 341, 344 ou 372 do CPP. Embora ainda caiba o
RESE nesses casos, é comum a interposição de habeas corpus, pois é considerado
um instrumento mais rápido e eficaz.
VIII - Diz respeito à decisão que decreta a prescrição ou julgar extinta a punibilidade
de outra forma. Embora haja previsão nos artigos 581 e 397, IV do CPP, o RESE
nem sempre é o recurso adequado nesses casos. Se a decisão for proferida no
âmbito da execução penal, o recurso apropriado é o Agravo em Execução. É
importante ressaltar que o Recurso em Sentido Estrito (RESE) não é cabível no
21
âmbito dos Juizados Especiais Criminais (JECRIM). O Juizado Especial Criminal
possui um procedimento simplificado e específico para casos de menor potencial
ofensivo, regido pela Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995).
Conforme o enunciado 48 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE),
fica estabelecido que o RESE não é admissível nos Juizados Especiais Criminais.
Nesse contexto, caso haja a necessidade de impugnar uma decisão proferida pelo
JECRIM, a via adequada seria a interposição de uma apelação criminal.
O prazo para interposição do recurso em sentido estrito (RESE) é de 5 (cinco) dias,
contados a partir da data da publicação da decisão recorrida. Esse prazo é
estabelecido pelo artigo 586 do Código de Processo Penal brasileiro.
No entanto, é importante ressaltar que existem algumas exceções em que o prazo
pode ser diferente. Por exemplo, nos casos de decisões que ocorrem no âmbito do
Tribunal do Júri, o prazo para interposição do RESE é de 5 (cinco) dias quando a
decisão é de pronúncia (art 408 do CPP) e de 2 (dois) dias quando a decisão é de
desclassificação (artigo 416, §2º, do CPP).
Aqui está uma tabela com os prazos para interposição do recurso em sentido estrito,
conforme as principais situações previstas no Código de Processo Penal:

Prazo para
Decisão Recorrível Interposição

Não receber a denúncia ou queixa 10 dias

Decisão de rejeição do aditamento 10 dias

Decisão de desclassificação própria (1ª fase do Tribunal do


5 dias
Júri)

Decisão que conclui pela incompetência do juízo 5 dias

Decisão que julga procedentes as exceções (exceto


5 dias
suspeição)

Decisão que pronuncia o réu 10 dias

Decisão sobre a fiança 5 dias

Decisão sobre prisão preventiva 5 dias

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Decisão sobre liberdade provisória 5 dias

Decisão que relaxa a prisão em flagrante 2 dias

Decisão que julga quebrada a fiança ou perdido o seu valor 2 dias

Decisão que decreta a prescrição ou extingue a punibilidade 5 dias

Decisão que indefere pedido de reconhecimento da prescrição


5 dias
ou outra causa extintiva da punibilidade

Decisão que concede ou nega a ordem de habeas corpus 5 dias

Decisão que anula o processo da instrução criminal 5 dias

Decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral 5 dias

Decisão que julga incidente de falsidade 5 dias

Esses prazos podem variar em situações específicas, como nos casos de Juizados
Especiais Criminais (JECRIM), em que não cabe o recurso em sentido estrito. É
sempre importante consultar a legislação e as normas aplicáveis ao caso concreto
para verificar os prazos corretos e eventuais particularidades.
Em resumo, o RESE é um recurso utilizado no processo penal para impugnar
decisões interlocutórias e algumas sentenças definitivas que não são passíveis de
apelação, tendo um rol taxativo de cabimento e visando o controle da legalidade das
decisões.Já a apelação criminal é um recurso interposto perante o órgão
jurisdicional superior (tribunal de segunda instância) com o objetivo de impugnar
uma decisão proferida por um juiz ou tribunal de primeira instância no âmbito do
processo penal. É uma das principais formas de recurso utilizadas no sistema
processual penal brasileiro.
A apelação criminal permite que a parte insatisfeita com uma sentença condenatória,
absolvição imprópria ou outra decisão desfavorável possa solicitar a revisão da
decisão por um órgão hierarquicamente superior. O recurso é analisado pelo tribunal
de segunda instância, que irá reexaminar os fatos e o direito aplicado na decisão
recorrida. Geralmente, a apelação criminal é utilizada para questionar erros de fato
ou de direito cometidos pelo juiz de primeira instância, bem como alega

23
irregularidades processuais que possam ter afetado o resultado do processo. O
objetivo é obter a reforma ou anulação da decisão impugnada, buscando uma
decisão mais favorável aos interesses da parte recorrente.
A apelação criminal segue um procedimento específico, com prazos e formalidades
estabelecidos na legislação processual penal. É importante ressaltar que a
interposição da apelação não suspende automaticamente a execução da decisão
recorrida, podendo ser necessário requerer medidas cautelares ou pedir a
concessão de efeito suspensivo durante o trâmite do recurso.
A apelação criminal pode ser classificada como plena ou parcial, dependendo do
alcance da impugnação em relação à decisão proferida.
A apelação criminal plena abrange a totalidade da decisão, ou seja, visa impugnar
todos os aspectos da sentença ou acórdão proferidos pelo juiz ou tribunal de
primeira instância. Nesse caso, a parte recorrente contesta todos os fundamentos e
dispositivos da decisão, buscando sua reforma ou anulação integral.
Já a apelação criminal parcial é utilizada quando a parte recorrente está insatisfeita
apenas com determinada parte da decisão proferida, seja por discordar de sua
fundamentação ou por considerar que houve algum equívoco ou injustiça em relação
a esse aspecto específico. Nessa modalidade de apelação, a impugnação se
restringe a essa parte da decisão, não abrangendo o seu inteiro teor.
A previsão legal da apelação criminal encontra-se no artigo 593 do Código de
Processo Penal (CPP), que estabelece as condições e prazos para sua interposição.
Além disso, nos casos de processos submetidos ao Juizado Especial Criminal, a
apelação está prevista nos artigos 76 e 82 da Lei nº 9.099/1995, que regula o
procedimento nos Juizados Especiais Criminais. Cabe destacar que, em alguns
casos específicos previstos na legislação, o recurso de apelação não é cabível,
sendo necessário utilizar outros meios de impugnação, como o recurso em sentido
estrito, habeas corpus ou embargos de declaração, por exemplo.O prazo para
interposição da apelação criminal pode variar de acordo com a legislação processual
de cada país. No Brasil, o prazo geralmente é de 5 dias, contados a partir da
publicação ou da intimação da decisão que se pretende recorrer. Quanto aos
sujeitos que têm legitimidade para interpor a apelação criminal, eles são os
seguintes:
1. Ministério Público: Como órgão responsável pela persecução penal, o Ministério
Público tem a legitimidade para interpor a apelação criminal em qualquer caso,
desde que haja interesse em recorrer da decisão proferida.
2. Querelante: O querelante, que é o autor da queixa-crime em ações penais de
natureza privada, também pode interpor a apelação criminal para buscar a reforma
ou modificação da decisão que lhe foi desfavorável.

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3. Assistente de acusação: O assistente de acusação, que atua em alguns
processos penais como auxiliar do Ministério Público, possui legitimidade para
interpor a apelação criminal com o objetivo de impugnar a decisão proferida.
4. Réu: O próprio réu, assim como seu advogado ou defensor constituído, tem o
direito de interpor a apelação criminal para buscar a modificação ou anulação da
decisão condenatória ou de qualquer outra decisão desfavorável ao réu.
A apelação criminal é cabível em diversas situações no processo penal. Em linhas
gerais, ela pode ser interposta quando houver interesse na reforma ou modificação
de uma decisão judicial desfavorável proferida em uma ação penal. Alguns
exemplos de situações em que a apelação criminal é cabível incluem:
1. Sentença condenatória: Quando o réu é condenado, seja por decisão do juiz
singular ou por decisão do Tribunal do Júri, é possível interpor apelação criminal
buscando a reforma da decisão, seja para questionar a condenação como um todo
ou para contestar aspectos específicos da sentença, como a dosimetria da pena.
2. Sentença absolutória: Mesmo nas situações em que o réu é absolvido, é
possível que o Ministério Público ou o querelante (no caso de ação penal privada)
interponha apelação criminal alegando erros na fundamentação da decisão ou na
análise das provas, buscando a modificação para uma sentença condenatória.
3. Decisões interlocutórias: Em algumas situações, quando houver uma decisão
interlocutória de natureza penal que cause prejuízo à parte, pode ser cabível a
interposição de apelação criminal. No entanto, é importante observar que nem todas
as decisões interlocutórias são passíveis de apelação, pois algumas delas possuem
recursos próprios, como o recurso em sentido estrito ou o agravo em execução.
4. Decisões sobre medidas cautelares: Quando uma decisão determina a prisão
preventiva, a revogação ou indeferimento de pedido de liberdade provisória, ou
qualquer outra medida cautelar, é possível interpor apelação criminal buscando a
reversão ou modificação dessas decisões.
5. Decisões sobre incidentes processuais: Se houver a ocorrência de incidentes
processuais relevantes, como questões de competência, exceções, incidente de
insanidade mental, entre outros, a parte interessada poderá interpor apelação
criminal buscando a reforma da decisão proferida no incidente.
O artigo 397 do Código de Processo Penal estabelece as situações em que é
cabível a absolvição sumária do acusado, ou seja, quando o juiz, antes mesmo da
realização do julgamento, reconhece a ausência de elementos suficientes para a
continuidade do processo penal.
“Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II – a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
25
III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV – extinta a punibilidade do agente.”
Essa absolvição sumária ocorre nos seguintes casos:
1. Quando for manifesta a atipicidade do fato (quando a conduta não se enquadra
em nenhum tipo penal);
2. Quando for manifesta a causa de isenção de pena ou de exclusão do crime
(quando há uma circunstância que exclui a culpabilidade ou a ilicitude do fato);
3. Quando for manifesta a existência de causa de extinção da punibilidade (quando
ocorre algum fato que impede o prosseguimento da ação penal, como a prescrição,
por exemplo).
No caso da absolvição sumária, o réu é beneficiado por uma decisão antecipada que
reconhece a sua inocência ou a ausência de elementos que justifiquem a
continuidade do processo. Nessa situação, a parte interessada, seja o Ministério
Público ou o assistente de acusação, pode interpor apelação criminal para buscar a
revisão da decisão pelo tribunal competente.
Embora a apelação seja cabível em casos de absolvição sumária, sua interposição
está condicionada ao interesse na reforma da decisão, conforme previsto no
parágrafo único do artigo 577 do CPP, que mencionamos anteriormente. Isso
significa que a parte recorrente deve ter interesse em modificar a decisão de
absolvição sumária para que a apelação seja admitida.
A apelação criminal, embora seja um recurso bastante abrangente, existem algumas
exceções em que sua interposição não é admitida ou não é cabível. Algumas dessas
exceções são:
1. Sentenças absolutórias impróprias: Nos casos em que o juiz absolve o réu,
mas impõe uma medida de segurança ou uma medida socioeducativa, a apelação
criminal não é cabível. Isso ocorre, por exemplo, nos casos de inimputabilidade por
doença mental, em que o réu é absolvido, mas fica sujeito a uma medida de
segurança.
2. Sentenças homologatórias de transação penal ou suspensão condicional do
processo: Quando o Ministério Público e o acusado firmam um acordo de transação
penal ou suspensão condicional do processo nos casos de infrações de menor
potencial ofensivo, a sentença que homologa esse acordo não é passível de
apelação.
3. Sentenças proferidas no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (JECRIM):
Nos processos que tramitam nos Juizados Especiais Criminais, a apelação não é
admitida. Nessas situações, o recurso cabível é o recurso em sentido estrito ou, em
alguns casos, o habeas corpus.

26
4. Decisões interlocutórias: As decisões interlocutórias são aquelas proferidas
pelo juiz durante o curso do processo, que não põem fim ao processo nem têm
natureza de sentença. Em regra, as decisões interlocutórias não são passíveis de
apelação, mas podem ser impugnadas por meio de outros recursos específicos,
como o agravo de instrumento.
A tabela abaixo apresenta os prazos da apelação criminal de acordo com o Código
de Processo Penal:

HIPÓTESE PRAZO FUNDAMENTAÇÃ


O LEGAL

Prazo para apelação criminal 5 dias Art. 593 do CPP


comum

Prazo para apelação criminal do 5 dias Art. 593 do CPP +


assistente habilitado precedente HC
59.668-RJ, DJ
4/6/1982 do STF]

Prazo para apelação criminal do 15 dias Art. 598, parágrafo


assistente não habilitado: 15 dias único, do CPP
[art. 598, P. único]

Prazo para apelação criminal no 10 dias Art. 82 da Lei nº


âmbito do Juizado Especial 9.099/1995
Criminal

Resposta do recorrido no âmbito do 10 dias Art. 82, § 2º, da Lei


Juizado Especial Criminal nº 9.099/1995

Prazo para razões em processos 8 dias Art. 600 do CPP


comuns

Prazo para razões em processos de 3 dias Art. 600 do CPP


contravenção

Prazo para razões pelo assistente 3 dias Art. 600, parágrafo


primeiro, do CPP

27
Vista dos autos pelo MP em ação 3 dias Art. 600, parágrafo
penal movida pelo ofendido segundo, do CPP

Prazo recursal em dobro pela 10 dias Art. 44, I; art. 89, I;


Defensoria Pública e art. 128, I, da LC
nº 80/1994

Prazo para os autos serem 5 dias Art. 601 do CPP


remetidos à instância superior findo
os prazos para razões

Prazo para os autos serem 30 dias Art. 601 do CPP +


remetidos à instância superior caso art. 603 do CPP
peças do processo fiquem
arquivadas no cartório

Traslado dos autos, caso haja mais 30 dias Art. 601, parágrafo
de um acusado e nem todos primeiro do CPP
tenham apelado, à instância
superior

Prazo para apresentação da 5 dias Art. 602 do CPP


apelação no Tribunal ad quem

Aqui está uma tabela comparativa simplificada entre o Recurso em Sentido Estrito
(RESE) e a Apelação Criminal:

Recurso em Sentido Estrito (RESE) Apelação Criminal

Cabimento limitado a casos Cabível em sentenças definitivas de


taxativamente previstos no Código de condenação ou absolvição proferidas
Processo Penal por juiz singular

Prazo de interposição: 5 dias (juiz


Prazo de interposição: 5 dias
singular) ou 8 dias (Tribunal do Júri)

Julgamento realizado pelo Tribunal de Julgamento realizado pelo Tribunal de


Justiça ou Tribunal Regional Federal Justiça ou Tribunal Regional Federal

Objeto do recurso: matéria de direito ou Objeto do recurso: revisão da decisão


ilegalidade manifesta proferida em primeira instância

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Pode ser interposto pelo Ministério Pode ser interposta pelo Ministério
Público, réu, querelante, assistente de Público, réu, querelante, assistente de
acusação e seu procurador ou defensor acusação e seu procurador ou defensor

Exceções previstas no art. 581 do CPP Exceções previstas no art. 593 do CPP

Julgamento pode resultar em reforma, Julgamento pode resultar em reforma,


invalidação ou confirmação da decisão anulação, confirmação ou modificação
recorrida da decisão recorrida

É importante destacar que essa tabela é apenas uma visão geral e simplificada das
diferenças e semelhanças entre o RESE e a apelação criminal. Cada recurso possui
características específicas e é regido por dispositivos legais detalhados.
Os efeitos da apelação criminal podem ser os seguintes:
1. Efeito devolutivo: A apelação criminal possui o efeito devolutivo, o que significa
que a matéria alegada no recurso é devolvida ao tribunal competente para análise.
Isso permite que o tribunal revisite todos os aspectos da decisão proferida em
primeira instância, examinando tanto as questões de fato quanto de direito.
2. Efeito extensivo: A apelação criminal possui o efeito extensivo, que possibilita ao
tribunal examinar não apenas os pontos impugnados pelo recorrente, mas também
reavaliar toda a matéria discutida no processo. Dessa forma, o tribunal pode rever a
decisão recorrida em sua totalidade, não se limitando apenas aos argumentos
apresentados pelo recorrente.
3. Efeito suspensivo: Em alguns casos específicos, a apelação criminal pode ter
efeito suspensivo. Isso significa que a decisão impugnada pelo recurso não
produzirá efeitos enquanto o recurso estiver pendente de julgamento. Nesse caso, a
decisão recorrida ficará suspensa até que o tribunal de segunda instância profira
uma nova decisão.

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Conclusão
Os meios de impugnação das decisões judiciais são instrumentos processuais que
permitem às partes contestarem ou questionarem as decisões proferidas pelo juiz.
São importantes para assegurar a possibilidade de revisão e correção de eventuais
erros ou injustiças no processo.
É importante ressaltar que as informações aqui apresentadas são gerais e podem
variar de acordo com a legislação específica de cada país e as particularidades do
sistema jurídico. É fundamental consultar a legislação aplicável e buscar assessoria
jurídica para obter informações precisas e atualizadas sobre os meios de
impugnação das decisões judiciais.

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