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ciclo de

o teatro
teatro
dia 14 de abril de 1975

/F

~-i.'. ..1'·~ .
:··.

1 :
tes convocou, para debater o tema
. três personalidades impor~antes'.
Eu gostaria de chamar cm primeiro
lugar para esta mesa Fernando
Torres. Em seguida, chamaria Yan
Michalski, crítico do Jornal do
Brasil; e para sentar aqui à minha
esquerda, Plínio ~arcos. Está as-
sim composta a ilustre mesa que
vai focalizar o tema Teatro Brasi-
leiro. Plínio Marcos, vocês todos
conhecem, é um autor muito famoso
pelas peças que fez e muito famoso
também pelas peças que não deixa-
paulo pontes ram ele fazer. Yan Michalski é um
crítico qµe tem se colocado na pri-
coordenador meira linha de combate em favor
O I Ciclo de Debates da Cultura da liberdade de expressão e pelo
Contemporânea focalizará hoje o enriquecimento do teatro brasilei-
teatro. Eu estava lendo outro dia ro. Fernando Torres é esse homem
um livro de João do Rio, aquele cé- que, diante das dificuldades que en-
lebre cronista da cidade do Rio de frenta o profissional de teatro no
Janeiro, e ele colocava lá um mani- Brasil, se vira e é ao mesmo tempo
festo de Artur Azevedo, já naquela produtor, diretor, ator, bilheteiro,
época: manifesto contra o chopc. eletricista, contador, lanterninha,
Segundo o manifesto, o chope es- tudo o que o teatro tem. Agora,
taria destruindo o teatro brasileiro, para expor as dificuldades que en-
porque fizeram aquelas casas de contra no seu campo específico de
chope onde se apresentavam sam- trabalho, tem a palavra Fernando
bistas, rumbeiras etc. E o Artur Torres.
Azevedo achava que aquele troço
estava prejudicando o teatro ... Do
chopc de Artur Azevedo até o mo- fernando torres
mento atual, o teatro brasileiro Nos muitos bate-papos que te-
teve muitos inimigos: a chuva foi
nho _reali~ado em colégios, teatros
uma inimiga; lá em São Paulo é o
e ~01vers1dades, costumo dizer que
sol, que faz todo mundo ir para
nos ~e teatro somos um pouco an-
Santos. Todas as épocas do teatro
trop_ofagos, e a coisa melhor que
brasileiro tiveram, cada uma, o seu
inimigo, e hoje nós temos também podia acontecer para mim nesses
vários inimigos, várias dificulda- últimos tempos era encontrar um
des. tjustamente para fazer um le- teatro de casa cheia. Isso, 'illiás,é
vantamento dessas dificuldades, uma coisa que encanta, uma coisa
des~es pr~blemas, que a gente está q_uc faz com que a gente encontre
aqui reumdo hoje, para expor e de- nisso a razão de er de nossa pro-
bater com vocês. O Ciclo de Deba- Y
fissão. ocês nem podem ima i,n~r
ª alegria que vai dentro do Phn10
40
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,
n:iem, que ele nasceu dessa neces-
sidade que o homem tem de
se comunicar, de discutir e debater
os seus problemas, isso em qual-
quer época que a gente focalize. Eu

t
não vou aqui dar uma aula sobre
I teatro, mas eu queria que vocês ti-
/ 1 _., .
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,
• l vessem sempre presente que no tea-
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- "'\
• tro, como nas outras atividades
L,: ~ ..~ '_,. ~-
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que formam a cultura de um povo,
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na literatura, na música, na pintu-
ra, existe sempre uma procura da
/k verdade. E isto é tão fundamental
~~ que, como diz o Millôr Fernandes,
___.,-1"'
2: -
o teatro está moribundo há 2.500

cr_-- anos, tantas foram as crises pelas


quais o teatro já passou. E sempre
aparece uma Cassandra para dizer
que o teatro vai morrer no dia se-
Marcos, do Paulo Pontes - que são guinte. Foi assim quando surgiu o
dois autores maravilhosos -, do cinema, foi assim quando surgiu a
Yan, e dentro de mim também, ao televisão. No entanto, o teatro se
ver esse mar de rostos que de re- revigora na sua própria crise,_en-
pente se confundem e a gente não contra e encontrará sempre o poeta
consegue mais ver quem é quem. capaz de interpretar os anseios do
Mas a gente sente que existe em homem e de colocá-lo sintetica-
cada um de vocês uma cabeça pen- mente numa peça de teatro ou num
sando, que existe, a partir de vocês, poema. Por isso eu acredito que o
a possibilidade de fazer teatro, de teatro não vai morrer nunca, e a
continuar a fazer teatro. E eu que- prova disso são vocês mesmos que
ria começar exatamente dai. estão aqui. Em cada um de vocês
Não esperem de minha boca a está se realizando hoje um espetá-
verdade, que eu Pão sou dono da culo, porque não existe apenas um
verdade. Sou apenas talvez uma espetáculo, mas tantos quantas fo-
pessoa melhor informada que vo- rem as cabeças pensantes que con-
cês sobre este assunto, que é minha tinuarem a existir. É na diversifica-
profissão. E vou dar a vocês o tes- ção, é na discussão, é no debate
temunho da minha verdade. E, de que se cria a própria essência do
resto, acho que o teatro cumpre, teatro e a sua razão de ser. Não
enquanto representa os anseios do existe para o poeta no teatro o
homem, a sua função primordial, não; existe sempre o por quê. E é
que é a procura de uma verdade. isso que me anima a continuar fa-
Se a gente chega muito lá pra trás, zendo teatro, fazendo o meu arte-
na época distante em que o teatro sanato, porque no teatro eu jamais
se formou, veremos que o teatro paro para dizer: resolvi. Não, eu
sempre foi umanecessidadedo ho- estou sempre tentando apresentar

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em São Paulo, que foi o Teatro de
a faceta de uma verdade e estou
Arena, ao qual o teatro brasileiro
contribuindo junto com tod~~ os
outros, em suas diferentes attv1da- deve muito, pois lá se fez uma pes.
des. para chegar a essa verdade. quisa importante no ~entido ?e se
O teatro é maravilhoso porque encontrar uma maneira brasileira
nele nós temos a oportunidade de de representar, u~a maneira brasi-
recriar o momento, a verdade de leira de dizer as coisas. Com o TBC
cada momento. E ali o homem, - Teatro Brasileiro de Comédia -,
que é intérprete de si mesmo, com criado por um mecenas chamado
toda a sua falibilidade e a possibili- Franco Zampari, em São Paulo,
dade de, num palco, de repente, importaram-se diretores italianos,
morrer. esquecer o texto, levar o e então começou-se a falar nos pal-
tomate na cara, tanto faz. Eu, des- cos um misto de paulistês, italianês
de que comecei a fazer teatrp - e e brasileirês. Havia uma melodia
me refiro a um grupo ao qual sem- que não correspondia absoluta-
pre estive muito ligado -, me preo- mente a uma verdade daquele povo
cupava primeiro com aquela vaida- e daquela cidade. Nossa compa-
de que leva a gente a fazer teatro, a nhia começou dando preferência às
procura de poder ser um outro, a peças nacionais. Estreamos com
tentativa de poder viver outra vida, Mambembe, de Artur Azevedo,
aquela necessidade que a gente tem um musical de 1904. Depois mon-
de experimentar, de se perguntar. E tamos outros autores brasileiros,
foi assim que eu aprendi que o tea- como Francisco Pereira da Silva -
tro é uma coisa viva, que ele permi- a peça O Cristo Proclamado -
te você se indagar permanen temen- Nelson Rodrigues; e montamos
te e procurar respostas. E quando também peças estrangeiras, como
formamos um grupo e decidimos A Senhora Warren, de Bernard
nos expressar, começaram a surgir Shaw, A Volta ao Lar, de Pinter,
as dificuldades, porque o teatro e muitas outras.
sempre enfrentou dificuldades, . As dificuldades de um empresá-
como as de ordetn financeira. João rio começam no momento em que
Caetano, para fazer a companhia ele procura a casa de espetáculos
dele, dependia de uma loteria. O par~ alug~r. Ainda que pareça
Estado adiantava a ele o total do mcnvel, existe no Rio um déficit de
prêmio, e quando a loteria corresse casas de espetáculos. As casas de
é que o Estado se pagaria. No tem-
espetác_ulos, particulares, exigem
po de João Caetano, o teatro
determmado "tutu" por mês de
sobrevivia assim. Quando começa-
alu~uel e esse dinheiro por vezes é
mos a discordar da companhia em
que trabalhávamos, decidimos nos ~uito alto, e por isso o preço do
auto-empresar, e isso resultou ingresso é caro. ~ caro porque o
com as dificuldades, na nossa revi: empresário, além de pagar os artis-
talização, pois_tivemos que procu- tas e técnicos, tem que enfrentar
rar novos caminhos para continuar u_mmundo de pequenas despesas e
a fazer t~atro. Nessa época, houve a~nda tem de pagar os impostos de-
um movimento muito importante vidos ao Estado. E tem também de
arranjar o dinheiro, porque a
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maioria dos empresários bt1t ilciro dona da seguinte maneira: o UJCJ..
é minicmpresário. A economia do to e crcvc a peça. o cmpre ãrio
teatro hra ílciro é p rcu e porca, de go ta da peç . envia a peça para a
modo que ele tem de se v ler do censura que funciona em Bra ília;
banco. E t no h nco comum que lá e tao o •·t«mco de ccn ura".
ele vai tomar dinheiro, em nenhu- que é o termo que eles u am. e c1-
ma proteção e. pccial, muito embo- sc .. técnico •· examinam o texto
ra estcj realizando uma coi que da obra. Comba e ne e texto, ele
tem função cultural como o teatro. liberam a obra ou cortam peda o
Não e.xi.te es e amparo que faça ou proíbem a encena ,.o. Ele têm
com que a gente pos a levantar o o prazo de 30 d1a por lei, par no.
f

dinheiro em condições melhore·. dar a respo ta. Enquanto i o, o


Outra dificuldade é que o teatro , empresário toma as provid nc1
em sua maioria, estão situados cm para en aiar a peça, co1 que leva
ponto. de dificil acc so, longe da cerca de trê me e . Volta o texto
população que necessita ver teatro. de Br síli , com o cortes fetto . e
No Rio, com o gigantesco cresci- for oca o, ou com ug tõcs para o
mento da cidade, os teatro fica- cen or local examinar a peça no
ram confinados na Zona Sul e no cn a10-geral. e censor tanto
Centro. A Cinelândia - que hoje é pode suspender o- corte feitos.
um grande buraco - já teve há tem- pode fazer outro corte . como
pos atrás 1O teatros funcionando. pode simplesmente proibir o pe-
De t 945 em diante, houve um des- táculo. Então o produtor de teatro.
locamento dos teatros para a Zona que tomou dinheiro em ban o, que
Sul. Mas a maior parte da popula- contratou atores fiando num papel
ção do Rio de Janeiro mora na que veio de Bra ilia dizendo que
Zona Norte. Esse ê um ponto que pc a estava libcr d . ''dependendo
discuto sempre com os outros em- do ensaio-geralº, pode ter seu espe-
presários. Nós estamos desprezan- táculo interditado e perder todo
do a maior parte da população. o seu tmbalho e Lodo o dinheiro to-
que é o triplo da que se localiza na m ado ao banco. E tem mais: por
Zona Sul, onde nos instalamos co- lei, não se pode contratar um ator
modamente. E nós não vamos Já por menos de quatro meses. Isso é
na Zona Norte. justo, do ponto de vista profi ionaL
Além de todas essas dificulda- mas, com a censura, agravam-se os
des há ainda o problema crucial problemas.
da ~ensura. Em função disso, nós Já disse que as casas de espetácu-
invariavelmente montamos as pe- lo são poucas. São poucas e nem
ças baseados numa promessa, que sempre bem aparelhadas. Vou dar
pode falhar ... Há sempre uma es- um exemplo: um dos teatrinhos
pada de Dâmocles pendendo sobre menores do Rio de Janeiro e muito
nossa cabeça. O problema da cen- bonzinho da gente trabalhar é o
sura é um problema constitucional. Teatro Santa Rosa. Tem 200 luga-
A constituição reza que a censura res, é um teatro antieconômico. E
existe e como ela deve funcionar. cobra, por necessidade de manu-
No que se refere ao teatro, ela fun- tenção do local, 3<r~ da renda bru-
43
• sobre cinema, a coisa foi urn
nor, d • d
• mais
ta. Você tira • os 10%o devidos
• pouco ata balhoa a, mais. o que
ao direito autoral, o que fica e ª J E o• pr
est á send o boie.
6
d ximo. deba.
renda líquida, com a qual O er~pr~- • acredito , será am a mais 'ê orga.
sário vai ter de pagar atores. tecm- te, .
• do Baseadôs na expen ncia
cos, impostos, os fornecedores, ~ mza • nos b• astt 'd
publicidade e ainda o "pe nd ura an t en•or, discutimos
. t . ores
da produção anterior. Mas O Tea- que a tát ica sena a segum
d • e.• mar-
de saída e epois ir para
car um gol
tro Santa Rosa, por ter um palco
are tranc •
a o Fernan. dAo J'á marcou

pequeno, limita a escolha do reper- de saída um gol aq~u. s~guir, va-
tório, não é qualquer peça que vo- mos ouvir Yan Michalsk1.
cê pode montar ali. O meu_colega
Aurimar Rocha tem o teatrmho de
Bolso com 80 ou 90 lugares, e as
peças ' que ele mesmo escreve sao-
feitas para aquele tea,ro. Mas se
ele quiser montar um Shakespeare,
um Moliere, não vai poder porque
o palco não cabe. Então o empre-
sário de teatro luta com todas essas
dificuldades. E se erra numa peça,
se fracassa, o rombo é de tal monta
que necessitará de muito tempo
para se recuperar. Outra dificulda-
de decorre do reduzido número de
atores existentes, em face da con-
corrência da TV e do cinema. Ho-
je, para você reunir um elenco, terá
de rebolar, de suar muito. Se al-
guém aí na platéia está pensando
em seguir a carreita de ator, acon-
selho que o faça urgentemente. O
número de pessoas que fabricam yan michalakl
crianças à noite neste país é uma
coisa impressionante, de modo que De saída, já fui intitulado de retran-
as platéias só tendem a auméntar. ca, o que talvez seja sintomático
E acredito que sempre haverá pos- em se tratando do depoimento
sibilidade de se criarem novas ci- de um crítico de teatro. Ao
dades, novos teatros, e que no futu- longo dos meus 12 anos de tra-
ro as dificuldades serão menores. E balho como crítico, no Rio, al-
eu termino citando novamente guns aspectos importantes do nos-
Millôr Fernandes: "Ai de nós to- so trabalho permaneceram pratica-
dos se daqui a 10 anos a gente mente sem modificação, enquanto
olhar para trás e disser: bons tem-
outros aspectos foram-se modifi-
pos aqueles, hein!"
cando sensivelmente. Um aspecto
Paulo Pontes - A gente vai acumu- que tem marcado sempre e de uma
lando experiência. No debate ante- mesma maneira nosso trabalho é
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uma certa incompreensão do papel as próprias limitações de tempo e
da \,;rítica teatral no Brasil. Não espaço dentro das quais o critico
tanto da parte dos leitores do jor- trabalha, impedem-nos de dcsen-
nal, mas da parte de quem faz tea- volyer na imprensa diária o tipo de
tro. E se existe essa incompreen- trabalho que poderia ser e deveria
ão, é evidente que a própria crítica ser desenvolvido cm revistas espe-
também não soube provavelmente cializadas. Muitos equfvocos e
definir seu papel com suficiente mal-entendidos têm surgido a par-
clareza. O que quero dizer basica- tir desse aspecto de nosso trabal~o.
mente é que em outros países existe Quanto aos aspectos que se tem
uma distinção muito ní.tida entre a modificado no decorrer destes
crítica publicada na imprensa diá- anos, não se pode evidentemente
ria, cujo caráter é predominante- deixar de mencionar a necessidade
mente jornalístico, e a crítica en- que tivemos, nós, os críticos, de
saística, intelectualmente mais am- nos adaptarmos a um crescente-
biciosa, mais aprofundada, cujo mente rotineiro trabalho de auto-
veículo natural são as revistas espe- censura. Por mais pesada que nos
cializadas em assuntos culturais, seja, essa necessidade é menos pe-
em particular teatrais, ou então li- sada - evidentemente que falo ri-
vros. A crítica jornalística não se gorosamente cm causa própria - do
dirige basicamente a quem faz tea- que as conseqüências sobre nosso
tro; ela se dirige ao espectador efe- trabalho, decorrentes da censura
tivd e ao espectador potencial. Ela que pesa sobre o teatro. Ninguém
se propõe a orientar o espectador na vai tantas vezes ao teatro quanto o
escolha de seus programas teatrais, crítico, e portanto ninguém tem
a oferecer-lhe uma possibilidade de mais interesse, mesmo por razões
confrontar suas próprias opiniões meramente egoísticas, de que o tea-
com as opiniões do crítico e sobre- tro seja vivo, seja ativo, cheio de al-
tudo contribuir para criar um cli- ternativas, cheio de surpresas. Um
ma polêmico dentro do qual o tea- teatro esvaziado pelas circunstân-
tro vive e prospera. Essa crítica cias, como tem sido cada vez mais
não têm atribuição, digamos as- o nosso, impossibilitado de abor-
sim, didática em relação aos que dar em profundidade aqueles as-
fazem teatro, de querer ensinar aos suntos que mais nos dizem respei-
autores, diretores e atores o que to, reduzido na sua grande maioria
eles devem fazer ou o que deveria ao papel de uma evasão superficial
ser feito. Então, no Brasil, devido à e inócua, um tal teatro torna-se
virtual inexistência de publicações uma presença aflitiva, tediosa e
culturais onde a crítica ensaística monótona para quem, como nós,
se pudesse veicular e a virtual ine- está obrigado a assistir a tudo que
xistência de livros sobre teatros, se lança no mercado teatral.
muitas vezes se espera da crítica Creio que poucas pessoas gos-
jornalística muito mais do que ela tam de teatro mais do que eu, e
poderia normalmente dar, e já as no entanto confesso que em fase.5
próprias limitações de trabalho recentes cheguei e chego ainda a dar
dentro das quais ela se desenvolve, graças a Deus quando se está ini-
• 45
ue se devia cerrar fileira . -,
iand um semana - m nenhuma d ent e q . t
que era todo O mov1men o nacio-
estreia, p( rque e trata de uma se- nalista desenc!deado pelo Teatro
mana em o sacrificio de rever_~re- de Arena de Sao Paulo e p~r todos
onstatat com toda a probabihda- grupos e autores que, dueta ou
dc. o va~io que caracteriza, pela 5
?m1r d. etamente se alinharam sob sua
, ld ..
força das circunstâncias e co?" ra: .tn flue"nci·a·, do outro a o, existia
ras exceções, o teatro no Brasil. E e . . h d
aquilo que eu evitana c amar e
daro que e se vazio do teatro re-
quintessência do ma}, 9ue eram
percute, cria inevitavelmente um os excessos de influencia estran-
vazio correspondente no nosso
próprio trabalho de crí!icos. ~s geira, decorrentes _da total falta
críticas melhores, as mais gratifi- de identificação nacional do !BC _e
cantes para um autor, são sempre outras companhias que seguiam h-
aquelas feitas a partir de espetácu- nha semelhante, em que pese con- ª
los inquietos, complexos, polêmi- tribuição, sob outros aspectos ~áli-
cos e originais, que nos impõem o da que elas possam haver trazido.
desafio de sua própria originalida- E~tão, entre essas duas tendências,
de e inquietação. Não existindo a escolha, a opção crítica, era muito
tais desafios, nosso trabalho não fácil. Já eu e os meus colegas, de 64
tem como deixar de ser uma rotina para cá, assistimos a uma evolução
desanimada que não nos permite tão complicada de nosso teatro,
qualquer tipo de tomada de posi- com tantos recursos e princípios,
ção digna desse nome. aparentemente sagrados, postos de
Se esta é a situação hoje, devo repente em questão, com tantas
reconhecer que o conjunto dos 12 vanguardas verdadeiras e (alsas
anos que tenho como crítico do JB surgindo, morrendo e renascendo,
constituiu uma matéria-prima mui- com tantos criadores extremamen-
to estimulante e muito difícil, te respeitáveis declarando supera-
obrigando-nos a reajustar-nos per- das as verdades absolutas, que eles
manentemente à nova realidade. A mesmos haviam dado como defini-
geração de críticos anterior à mi- tivas alguns meses antes, com tan-
nha - que sob a liderança de inte- tas inovações intensamente segui-
lectuais como Paulo Francis, por ?ªs de uma enxurrada de imitações
exemplo, modificou completamen- as vezes muito difíceis de serem
te, no fim da década de 50 e início dis_tinguidas dos modelos origi-
da de 60, a mentalidade da crítica nais, que não nos foi possível
brasileira -, essa geração teve uma a fácil opção de nos colocarmos
tarefa que considero relativamente
simplesmente contra ou a favor
fácil. O próprio panorama do tea-
tro brasileiro de então se apresen- de ':1m determinado grupo ou
movimento. Por isso tivemos que
tava de uma forma bastante mani-
queísta, que facilitava uma tomada adotar a flexibilidade necessária
de posição por parte do crítico· de pa~a ~evermos, dia a dia, as nossas
um lado, tínhamos aquilo que s~ria propnas posições críticas, sem con-
naquele momento a quintessência tudo negarmos uma coerência fun·
do bem, em torno do qual era evi- damental para conosco.
Para mim, pessoalmente, esse
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exercício permanente de revisão de encontrarem na rua e empenham-
posições e critérios constituiu uma se inclusive em me prejudicar de
experiência fascinante, embora todas as maneiras através de toda
freqüentemente dolorosa, que espécie de intrigas. Enfim, parece
muito me enriqueceu como profis- crescer sintomaticamente o número
sional e como ser humano. Mas de pessoás que aspiram àquilo que
naquilo que acontece hoje nos nos- Bernard Shaw definiu como o fu-
os palcos, confesso que não vejo nesto privilégio de estar isento de
nada que me sensibilize suficiente- uma crítica vigilante e implacável,
mente para permitir uma continua- e não me cabe, no quadro desta ex-
ção dessa experiência de interroga- posição, tentar investigar as razões
ção permanente sobre a validade dos e as origens, dessa tendência,
conceitos nos quais apóio meu traba- nem me cabe aqui .. responder
lho. se haveria alguma relação en-
Outro aspecto que quero abor- tre essa tendência e o fato de que
dar, em relação às condições de •.ra- o número de críticos atuantes no
balho do crítico no Brasil de hoje,·é Rio está diminuindo em ritmo ga-
a sensação que tenho de que as pes- lopante. Talvez, afinal de contas,
soas, muitas pessoas, perderam ul- sejamos apenas uma raça em extin-
timamente o saudável hábito de ção. Mas eu não me conformaria
aceitar críticas, quaisquer que se- em acreditar que também esteja em
jam, a respeito do seu trabalho ou extinção a outra atividade que ve-
comportamento profissional. Eu nho exercendo, relacionada com o
sei que ninguém gosta de ser criti- teatro, sobre a qual gostaria de di-
cado, e em função disso o nosso tra- zer algumas palavras, que é o meu
balho, por sua própria essência, se trabalho como professor de teatro.
assemelha ao trabalho do dentista, A Escola de Teatro da FEFIEG,
na medida em que, como ele, antigo Conservatório Nacional de
não podemos cumprir nossa ta- Teatro, foi criada há mais de 30
refa sem machucar as pessoas. anos pelo governo e até hoje é to-
Mas, durante muito tempo, essas talmente mantida pelo governo, com
pessoas legitimamente machucadas o objetivo de assegurar a formação
ou engoliam civilizadamente as de novos valores para o teatro.
suas mágoas, ou no máximo passa- Para dar uma idéia do ambiente
vam a me tratar durante algum dentro do qual se desenrola, entre
tempo com certa frieza. Ultima- Rio e Brasília, há vários anos, o
mente, com freqUência cada vez processo que eventualmente algum
maior, algumas pessoas, a cujo tra- dia levará ao reconhecimento dos
balho tive o desplante de, no cursos dessa escola, vou contar
exercício de minha função profis- um fato que aconteceu comigo.
sional, fazer restrições, empenham- Em fins de 73, todos os professores
se ativamente em tentar calar a mi- da Escola de Teatro receberam
nha voz. Mandam-me cartas anô- uma solicitação no sentido de en-
nimas com ameaças, mandam-me tregar uma série de documentos,
recado·s dizendo que vão cuspir na incluindo um curriculum vitae deta-
minha cara da próxima vez que me lhado, e esses documentos integra-

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tes resultados, dentro da sistemáti-
riam o processo geral que iria para ca universitária.
Brasília, em função do reconheci- De qualquer maneira, o entrosa-
mento dos cursos da escola. Então mento da formação teatral com a
foram pàra lá caixotes e caixotes de sistemática universitária corres-
documentos que ficaram mofando pondia a uma elevação do status
durante mais de um ano em alguma do teatro. Depois de alguns anos
sala do Conselho Federal de Edu- de experiência, chego a me pergun-
cação. Outro dia, há cerca de um tar se a terrível burocratização que
mês, as pastas individuais dos pro- caracteriza hoje o sistema univer-
fessores voltaram, com a exigência sitário brasileiro é compatível com
de que nós devíamos documentar a flexibilidade_necessáriaa qualquer
com comprovantes as atividades
curso de arte, especialmente de tea-
que dizíamos ter exercido em nos-
tro, e se não seria mais fácil formar
sos respectivos currículos. Então,
bons diretores, atores e cenógrafos
quando fui apanhar minha pasta,
em cursos livres, não sujeitos à es-
vi com espanto que, na capa da pas-
ta, ao lado do meu nome, estava trutura universitária. As dificulda-
escrito bonitinho, a caneta, a pala- des já começam com essa coisa
vra: "falecido". Aí então comecei terrível para uma escola de teatro
a me beliscar freneticamente para que é o vestibular unificado, atra-
saber se eles não tinham razão, se vés do qual entram na escola mui-
era eu que ingenuamente acredita- tos alunos sem o mínimo de ade-
va estar vivo, ou se era o Conselho quação vocacional, ao mesmo tem-
Federal de Educação que, como po que possíveis grandes talentos
todos sabem, tem sempre a última são eliminados, e eventualmente
palavra em qualquer assunto rela- têm sua carreira teatral cortada no
cionado com o ensino. n~scedouro, pelo simples fato de
Por essa e por outras é que eu te- nao terem colocado as cruzinhas
nho muito pouca esperança de ver cert~~ numa prova de geografia ou
os cursos da escola oficialmente de flsica. Por outro lado, é impossí-
~econhecidos antes que eu tenha a v_elno_momento regularizar toda a
idade da aposentadoria, embora situaçao dos corpos docentes das
?1e faltem ainda alguns anos para esc?las de teatro, já que, pela legis-
isso. ~~s não há dúvida de que, laçao atual das universidades só
sob vanos aspectos, as condições p_odem ser professores univer;itá-
de trabalho da FEFIEG melhora- nos . aqueles que tem " graduaçao ..
ram bastante nos últimos anos ofici~l e pós-graduação na área
tanto para o professor como par~ especifica. Ora, nenhum de nós
o aluno. Não há dúvida também de pode ter essa graduação muito
qu~ as grande~ esperanças que pa- menos f a pos-graduação,
• ' sim-
pelo
reciam se abrir, com O enquadra- p1~s . ato de que até outro dia não
men~o do ens~no do teatro dentro existia.. grad uaçao
.. nem pós--gra-
do_sistema U_?iversitáriobrasileiro, d·uaçao em t eatro no Brasil• As-
ate. agora , nao se realizaram. Em
muitos paises, o ensino do teatro lad
sim todo O corpo docente da Esco-•
está muito entrosado,com excelen- ~ Teatro está fatalmente nu-
ma situação esd ruxula,
, precária• e
48
provisória, impossível de ser solu- na livre, onde se pode discutir,at6
cionada regularmente. Por outro as últimas conseqnenciu,o proble-
Indo também, pelas novas normas
legais, só podem ser contratados
para a escola, como para qualquer
tipo de universidade oficial, novos
professores no regime de 40 horas
emanais, ou seja, praticamente
tempo integral. Ê evidente que essa
exigência já afasta, de saída, a par-
ticipação na escola, como profes-
sores, de todos os verdadeiros pro-
fissionais de teatro, que são os que
mais po~eriam ensinar aos jovens,
e que evidentemente não têm con-
dição de conciliar uma dedicação
pedagógica de 40 horas semanais ma do homem. Quando isso não é
com a continuação de suas ativida- possível a gente tem que viver de
des profissionais no teatro. Estes cascata em cima do público. Eu
são apenas alguns aspectos entre posso falar muito bem por São
vários outros, que poderiam ser ci- Paulo, neste debate. São Paulo vi-
tados para mostrar alguns proble- veu em 66/67 /68 uma época que
mas suscitados pelo enquadramen- pode ser classificada de época de
to das escolas de teatro no sistema ouro para o teatro: a liberdade de
universitário. expressão no palco era quase total.
Paulo Pontes - Para mais um A gente conseguia liberar as peças,
gol, Plínio Marcos. conseguia mandar ver, conseguia
dizer do jeito que quisesse. Então a
plfnio marcos nossa dramaturgia ficou uma po-
tência. Era realmente classificada
Eu sou um ex-dramaturgo. Não como uma das mais potentes do
sei se esses aplausos são porque eu mundo. Os gringos vinham a toda
sou um ex ... Mas a verdade é essa: hora buscar peças brasileiras,que-
sou um ex-dramaturgo. Um ex- riam peças brasileiras,essas coisas
dramaturgo é um cara que já mor- todas. Nós tivemos um ano de es-
reu, e aí todo mundo diz assim: trear 20 autores novos, caras que
como dramaturgo morto, devia vinham rachando, sem fazer ne-
achar um Chico Xavier qualquer, nhuma cerimônia com otário, e as
encarnar nele e escrever peças psi- nossas platéias viviam lotadas, mas
cografadas. Acontece que Chico viviam lotadas de gente como vo-
Xavier disse que só recebe espírito cês, jovens, gente ansiosa por saber
de luz; exu bravo não entra no ter- das coisas, por discutir, querendo
reiro dele, e aí eu fiquei, como se debates depois do espetáculo, e ai
diz em latim, a perigasti perpeti. do dramaturgo que não botasse na
Mesmo porque, para mim, o palco peça coisas que possibilitassem o
só tem sentido quando é uma tribu- debate final. Aquele que viesse ali-
00
t tro e<,meçou u e perar 11.tem.
sundo, fingindo qu dwa e 11 1 d• orada popular. b '?arou ~e ir
ziu, e t 1V,l r hn nt b rb,tr1Lurlo.
Quando chcgliva no fim d pct •
culo e ele entava e pl téi flcov
r,.
P01 O <.:Iu ein> paru 1r por cinco,

.
petn uh e ln, IVII com a CHa
depor ~ lta uma • tempora-
todinh l cm silêncio, podia e _ntar vut1,1 h 1
d.i popular, e você uao tm a ugar
que era o fim nin uém ia mais. A
gente n,10 prdcisava d camp,tn ha
para eSt ..·•ci·o,rnr O . cu carrão... n-
t ,,( )' () l c·,tHJ crn desc pero come-
nem de uhvenção. ' . .
çou a upelar. J11ze'.!1osum ,e tiva!
" .
A partir de 68, veio o rapa, e 8 internacional em • ao Paulo_ que fo1
barba cresceu. Crc. e u e o teatro uma glória: tinha peça da Espanha
então teve que partir para a sobre- de 1, ranco, do Portugal de Salazar,
vivência apenas. Os maiores nomes
peça do governo grego e uma peça
do nosso teatro tiveram realment,e
que apelar para as peças de utc, americana que durava 12 horas,
talvez, grande gabarito, mas que fi- onde o mais lúcido do. atores era
cavam naquela de "cultura". Vo- declarado por eles mesmos débil
cês sabem melhor do que eu mental. Esse era o panorama do
que a cultura na mão_ dos po- teatro. Agora, e você abrisse lá na
derosos constrange mais que as o
Europa jornal O Estado de S. Pau-
armas, e realmente o público ficou lo, você ia até pensar que São Pau-
'constrangido e parou de ir ao tea- lo era o centro cultural do mundo.
tro. Então começaram as grandes Você encontrava: tudo lotado, fes-
campanhas. O homem de teatro bra- tivais internacionais com os maio-
sileiro, em desespero porque conhe- res Bo bbics Wilsons do mundo.
cia exatamente a realidade, sabendo Depois nós descobrimos por que
que não ia conseguir dialogar com eles tinham trazido Bob Wilson:
a situação para liberar o teatro, foi para mostrar que não era peri-
para o teatro se tornar vivo, come- goso ter meningite em pequeno.
çou então a pedir outra coisa: sub- Mas era um horror.
venção; subvenção e ameaçar que Apareceu, então, no teatro lá em
o teatro ia morrer. Isso realmente São Paulo, outro tipo de vigarire: pes,,
sensibilizou o governo, que passou soas que, aproveitando a vaga que
a dar, lá em São Paulo, violentas a real dramaturgia brasileira estava
somas para o teatro se manter vi- deixando, atacaram com outra coi-
vo, esse teatro que era, lá em São sa que eles queriam que fosse mo-
Paulo - aqui não sei -, altamente derna e de vanguarda, a androgi-
subvencionado. Recebia subven- nia, que também era escapismo.
ção federal, através do SNT, sub- Havia frases assim: não se usa
venção estadual através da Com~o mais mulheres no teatro brasi-
Estadual de Teªtro, e subvenção leir_o. Coisas assim, que também
municipal. Mas mesmo assim não
faziam parte daquele movimento
se conseguiu levar o público ao tea- de levar público ao teatro dois
tro. As campanhas que eles faziam
dias, três dias, e depois esvaziar.
de popularização do teatro resulta-
Essa é realmente a situação do tea-
ram inúteis, porque aquela meia dú-
tro em São Paulo agora. Nunca,
zia de burgueses que gostava de ir
que eu me lembre, tantos teatros fi-
50
curam vazios como neste começo mente equivocados, prestando um
àe ano em São Paulo. Isso porque, grande desserviço. Por exemplo:
já que o governo ainda não falou agora que não se está fazendo nada
em s ubvt..nção, as pessoas não se no Brasil1 vamos mandar três elen-
animam a montar nada cos a um festival idiota na França,
Houve um boato de que a censu- o Festival de Nancy. Vai um grupo
ra ia abrir. Até agora parece que é profissional de São Paulo, vai um
boato mesmo, não abriu nada. Eu grupo da Bahia com 60 pessoas, e
por exemplo estou com uma peça levam até "trio elétrico": levam
na censura há um mês. O elenco es- macumba, levam uma porção de
tá ensaiando, já foram gastos 120 coisas. E a Escola de Arte Dramá-
milhões e até agora não recebemos tica de São Paulo vai com uma
resposta. É uma antiga peça peça francesa a um festival italia-
minha, de 69, que um empresá- no. Tudo isso altamente financiado
rio corajoso resolveu se aventu- pelo governo. •Eles choram etc.,
rar a montar. Mas realmente é um mas todos eles ganharam dinheiro
negócio inseguro. Eu, de minha grosso para ir a esses festivais. O
parte, não quis participar desse teatro amador, no meu entendi-
tipo de teatro, e como eu não mento, teria que ter uma função
queria fazer anticultura, fiquei de muito importante dentro do teatro.
fora. Acho que se deve tornar a Mas quem se mete a fazer teatro
cultura acessível a todo mundo, e amador geralmente é um marginal
não obst-ruí-la. Fui procurar da classe média e que quer só bada-
nas origens a cultura popular lar sua beleza em cima do palco.
brasileira, e vi, pálido de espanto, Ele não vê qual a importância do
que as nossas manifestações espon- teatro amador. Esses caras gostam
tâneas estão todas sendo violenta- de fazer as peças que nós, profis-
mente esmagadas pela importação sionais, fazemos com sucesso, e
da cultura de consumo. Em todos melhor, porque é o nosso métier,
os lugares, no teatro de São Paulo, nós temos que saber fazer.
na TV, no cinema, o que se tem é Eles adoram me pedir peças. Mas
realmente importação da cultura não vêem que o importante era eles
de consumo, que está destruindo as montarem a peça do garotão que
nossas raízes. E um povo que não está começando carreira, que só
ama e não preserva as suas formas vai poder evoluir mesmo, é vendo a
mais autênticas de comunicação ja- peça dele montada, e não disputan-
mais será um povo livre, e isto está do no concurso do SNT.
acontecendo no Brasil. Outro dia fui a Ribeirão Pre-
Hoje, a preservação da cultura to e lá vi, pálido de espanto, um
popular, da arte popular brasileira, troço. O cara chegou, um enge-
é a tarefa que estou me propondo. nheiro da prefeitura, diretor de
Estou lutando realmente por teatro amador, e falou assim pra
isso lá em São Paulo, denunciando mim: "Você tem que assistir o meu
toda essa importação de cultura. ensaio. Temos aqui uma menina de
Ao mesmo tempo, os elencos de es- 18 anos que faz A Visita da Velha
tudantes universitários estão total- Senhora melhor que a Cacilda

51
exemplo, o SNT,, que pouquinha
Becker". E depois encontrei ~ gente sabe O que e, faz um concur.
garotão de teatro amador que . · so de peças muito mal promovido e
deu uma peça dele pra eu ler. L1 e aparece uma tonelada de_ peças,
falei pra ele: "Você rea~mente teI!l que O meu amigo Yan M1chalski
ão". A peça dele unha defei-
culh . de está até agora vesgo de tanto _ler.A
tos, porque era a primeira peça TV Cultura de-São Paulo, CUJO me.
um cara de 17/ 18 anos, mas dava lhor programa dá O,1% de IBOPE,
para ser encenada no teatro am~- " um concurso de peças e apare.
dor daquela cidade. Perguntei: 1CZ t E .,
"Por que o teatro amador daqui ceram 2 mil concorren es. , ntào ..
vocês podem ver que neste pais nao
não monta tuas peças?" Ele falou: faltam dramatu~g?~;. o que falta
.. É porque o cara aqui disse que realmente é poss1b1hdade de nosso
pra ganhar subvenção do g?verno palco voltar a ser livre para a gen~e
nós temos de montar peças impor-
poder discutir. E quando eu falo li-
tantes". Essa é a situação do teatro
amador, que devia d~d_icar-sea vre, quero dizer liberdade com res-
montar peças de princ1p1antesou ponsabilidade. O que a gente g?s-
então fazer a pesquisa que o profis- taria de ter nos nossos palcos e-9
sional se vê obrigado a fazer, sem seguinte: eu monto uma peça, de-
poder, porque o profissi~nal te_m fendendo meu ponto de vista e sou
compromissos de bilheteria e na~ responsável por ele e pela peça, que
pode se arriscar a toda hora. Esse e não deve passar por nenhuma cen-
o panorama: uma confusão total. sura prévia. Monto a peça. Depois
Ao lado disso, a classe teatral então, se alguém achar que eu
continua marginalizada, num pais ofendo alguém ou alguma institui-
onde •a empregada dom~ca tem a ção, que abra um processo contra
sua profissão regulamentada e o mim, e eu vou responder ao pro-
ator teatral não tem. Fica, como cesso. Mas enquanto eu estiver res-
bem disse o Fernando Torres, se pondendo ao processo, a peça não
agarrando em fio desencapado sai de cartaz, porque o fato de eu
para poder viver. Ganha um pou- estar sendo processado não signifi-
quinho no teatro, ganha um pou- ca que eu seja culpado. Só depois
quinho na TV, ganha outro tanto que o juiz me condenar é que ...
no cinema e geralmente só recebe Nós não precisamos de ninguém
um ordenado, os outros ficam no para nos tomar conta. Não preciso
"deve", e ele vai se agarrando, se mandar minha peça para a censura
agarrando. Essa é a lastimável rea- - e o censor dizer: "Não, essa peça
lidade do teatro brasileiro. Tem não pode" - para me preservar e
muitas mistificações, tem muita evitar que eu vá preso e responda a
coisa, e tem espetáculos dignos, processos. t isso que a gente gosta-
porém frios, espetáculos que ria de ter no teatro. No momento
podem existir como opção pa- em que o teatro brasileiro voltar a
ra o público e nunca como cava- ser livre, podem ter certeza, nós te-
lo de batalha de um teatro que se r~~ os sei:ripre platéia, muita pla-
propõe vivo. Em matéria de dra- teia. Assim como vocês vieram
maturgia, o Brasil é fantástico. Por aqui hoje, iriam ao nosso teatro
52
cmpre, se tivessem a certeza de nunca se deixou de ver a critica aos
que o teatro de vocês estâ vivo, políticos com os nomes dados.
p·1rticipando e disputando ali de Há um aspecto de profunda tra-
todas as bolas divididas. dição na história do teatro brasilei-
Paulo Pont~ - Para encerrar este ro que é a revista. Eu tenho uns 50
painel: tanto quanto possível apro- ou 60 textos de revistas cm minha
fundado, eu gostaria de dizer algu- casa e é impressionante ler e per~
mas palavras. Pelo depoimento de ber o quanto o teatro brasileiro
três ~soas, indiscutivelmentecate- sempre esteve próximo da vida das
gorizadas em cada um dos seus se- pessoas, dando nome aos bois, fa-
tore~, a gente pode constatar que, a lando tudo, discutindo. Isso tudo
partir de 1968,tem havido um cres- estava lá, às vezes pouco profundo,
cente processo de empobrecimento mas sempre muito vital. Uma re-
do teatro brasileiro. O Plínio deu vista ainda 1959, 1961,uma das úl-
um panorama geral da situação em timas da grande fase da revista,
São Paulo, eu vou tentar dar rapi- tem um quadro onde discutem
damente um esboço da situação numa sala Adhemar de Barros,
aqui no Rio. Esse teatro, que a J uscelino Kubitschek, Fidel Cas-
gente viu que vem se empobrecen- tro, Che Guevara, o Papa. Todos
do, é um ·teatro de profunda tradi- eles sentados, discutindo os proble-
ção de combatividade. De Martins mas da vida. Tem um quadro,
Pena até 1968, se há alguma coisa numa revista da época do Estado
que a gente pode concluir é que Novo, onde o sujeito põe a cara do
essa combatividade sempre esteve Getúlio num bombo e atravessa o
presente em nosso teatro. Em to- palco batendo com um troço na
dos esses an~s, não se pode dizer cara do Getúlio pintada no bom-
que tenha sido sempre um tea- bo, e a cara tremendo, é um negó-
tro de muita qualidade. Há déca- cio engraçadissimo, de grande efci-
das de pobreza, mas não há nenhu- to ...e isso se fazia durante o Estado
ma fase do teatro brasileiro em que N·ovo. A gente pode flagrar mo-
a combatividade não esteja presen- mentos aqui e ali em que, por in-
te. A comédia de costumes brasilei- fluências diversas, o teatro brasilei-
ra, que é uma tradição nossa, sem- ro esteve melhor, esteve mais pro-
pre foi uma comédia muito crítica, fundo, mas a gente não pode, ao
muito combativa, muito próxima • longo de l 00 anos, encontrar llma
da existência cotidiana das pes- fase tão grande na vida do teatro
soas. Se essa crítica nem sempre foi brasileiro em que ele esteve tão
medida por uma visão ideológica omisso, tão pouco vital, com tão
profunda dos problemas bsasilei- poucos problemas brasileiros em
ros, ela sempre foi cheia de vi- cena, como atualmente. A tal pon-
ço, vigorosa, colocando sempre to que neste momento - sem ne-
o problema dos homens tais como nhum piche a nenhum profissional,
eles os viviam. Na fase mais pobre porque afinal de contas se o sujeito
do teatro brasileiro, nunca se é profissional e vive de teatro não
deixou de ver o custo do litro de leite, pode de repente largar tudo e ar-
os personagens populares, ranjar outra profissão -, então, sem

53
. sa cujo objetivo claro é
nenhum piche a qualquer coleg~ nologia es ue quem tem um carro
que esteja trabalh~ndo -_pori;:r~~ fazer com iro mais caro, e quem
man ter uma bilheteria c~mp:e ~~rro empenhe até as cuc-
atualmente já é her Ó •
100 -,.
a gente
•e nao tem mprar um. De certa for-
ara co •
pode con tatar melancohcament cas P lítica beneficiou vegeta.
que os problemas queª dramatur- ~a, essat P0º público que potencial-
gia brasileira está coloca o nond t1vamen e
oderia ir ao teatro. im,.

palco são a gonorréia, doenças v~- mente P há um contingente que
néreas e o homossexualismo. Prati- Porque se ar carro, que po de im- .
p d
o eco mpr • d d
camente, essa imensa ~eogra~a h~; tec nologia sofistica a os
mana que é este pais, cheio . P ortar · bcm,
Esta d os Unl.dos ' ou. se vestir
problemas por resolver, uma s_oct~; ode viajar a Europa, e se o
dade emergente, país que esta P . quet p e' um divertimento em nível
• • sabe prat1- tea ro
se fazer onde nmguem . al
' d
camente de nada, on e ta vez -1 me de elite - quer dizer, em loc ~ue-
tade da população não use papel no, s6 P oucos podem consunu-lo
. d-,
higiênico, esse país _temum teatro criaram-se camadas maiores e
nas condições atuais em que ne- pessoas que potencialmente podem
nhum problema brasileiro . 9~e ir ao teatro. E de repente essa gente
realmente faça parte da v~da d_iana começou a ir ao teatro, mas não
dos cidadãos está sendo d1scut1doe encontrou um teatro colocando
aprofundado. .. um repertório problematizado. E
Há duas forças de pressao que, isso porque está nascendo no Bra-
neste momento, juntas, fazem do sil uma rede de produtores absolu-
teatro brasileiro um sanduíche, e tamente desvinculados da tradição
um sanduíche cada vez mais pobre: teatral brasileira e que descobriu o
de um Iad·o, a já constatada ação teatro como bom negócio. Então,
da censura, que torna praticamente o golpe atualmente é dar um giro
impossível qualquer crítica que ex- pela Eutopa, pelos Estados Uni-
presse alguma coisa da existência dos, descobrir peças que podem ser
concreta dos cidadãos; e, do outro feitas e montadas aqui. E acon-
lado, um processo que agora tece o que está acontecendo
volta a se acentuar: a política de hoje: um repertório de teatro - •ésó
concentração de rendas do go- ler o jornal - absolutamente des-
verno que concentrou em 5% da vinculado da vida brasileira e com
população o esforço da maioria
bons resultados de bilheteria.
trabalhadora do país; essa política
que faz do Brasil, hoje, um país Então chegamos a um ponto em
deformado, com um contin- que, vegetativamente, hâ um nú-
gente minúsculo do povo a com-
mero maior de espectadores q~
prar, comprar, comprar cada vez
havia há dois anos. O Boletim da
mais; este país que, por ter uma es-
trutura deformada, importa uma SBA T deste ano divulga que ~
tecnologia cuja função é tornar compraram mais ingressosno RiO
cada vez mais sofisticado o ·produ- de Janeiro em 1974do que em 1973
to que a população jâ compra, tec- numa proporção de duas veZOI
mais. Quer dizer, de um lado, 1
54
renda concentrada nas mãos de aquela gente que está indo com-
uma classe média cada vez mais prar automóvel, que está tendo
alienada .deu condições potenciais, uma existênciacada vez mais sofia,.
1st é, criou novos compradores de ticada, está indo a teatro. Parece
ingressos de teatro; por outro lado, até que a gente tem aqui a Broad-
a censura impede que esses novos way, o teatro de Paris; ou seja, há
compradores de ingressos assistam um repertório para esses novos
a um teatro desalienado, a um tea- compradores. Assim, o que há é,
tro problematizado. O teatro no de um lado, um novo público com-
Brasil é uma extensão do que está prando ingresso de teatro e, de ou-
acontecendo na sociedade brasilei- tro lado, um repertório inteiramen-
ra como um todo: um reduzido nú- te deformado que não reflete de jei-
mero de pe~~oas que vive como os to nenhum o que é a existência do
habitantes privilegiados das gran- brasileiro de hoje. Há 400 e tantas
des capitais do mundo, com televi- peças censuradas que estão na ga-
são a cores, moda sofisticada, au- veta, que não deixaram passar, e
tomóvel de luxo, ao lado de uma essas 400 e tantas peças seriam na-
população à beira da fome, no li- turalmeQ.te as peças que coloca-
mite da sobrevivência. Eu retiro o riam no palco a situação do país.
"à beira". O teatro brasileiro Essa é, em termos gerais, a situa-
tornou-se uma extensão disso: ção do teatro carioca de hoje.

debate
Pergunta - Queria saber se o obje- Eu dei minha parcela de verdade
tivo deste debate é abordar as reais na tentativa de ajudar a localizar o
coletivas dificuldades do teatro problema mais geral. Chegamos à
brasileiro ou problemas profissio- conclusão de que o problema tal-
nais pessoais que não aprofundam vez mais grave é o problema da
nada e são apenas repetições. censura. Mas cada um tem sua ex-
Fernando Torres - Me parece periência própria. Quando nosso
que quando se procura estudar os grupo decide montar uma peça, vá-
reais problemas de uma determina- rias coisas são consideradas: se a.
da atividade é necessário... Por peça diz alguma coisa, se vai dizer
exemplo, no estudo de uma célula, alguma coisa a alguém; essa é a pri-
para se saber como a célula se com- meira coisa. É claro que somos nós
porta, a gente pode utilizar diferen- que escolhemos a peça e, com nos-
tes recursos: estimular, cutucar a sa experiência, aquilatamos a pos-
célula com um estilete, cortá-la de sibilidade de que ela realmente co-
vários modos, por determinado munique algo ao público; de ante-
tipo de ácido para ver como ela mão a gente pode aquilatar a res-
reage. Assim estamos fazendo posta. Mas muitas vezes a gente
aqui. Se a gente está repetindo cer- joga tudo numa peça e erra, por-
tas coisas é porque esses pontos que quem dá a última palavra é o
ainda não foram sanados, conti- público. E isso não acontece nem
nuam existindo como problemas. uma nem duas vezes e acontecerá
Pe !
ta _ Não dá l?ra a~er umaa
, nd . e sempre p r- ,çunh menos
pecm . . ?
d1genve1s, não
,
i ~t fónnul t tro, hcin? hem? hem·
m · um p qui permanente.
Pe~ta - O que o ê ê orno Femao O Torres - A nossa comp1..
t rm de lut ntr a falta de li- nhia não se filia a uma determina ..
berd d que, undo você, é a ori- da corrente teatral, absolutamente.
g m da cri ·e teatral? Parar de fazer Somos um tipo de com~anhia
teat ..o'. Fa er algum tipo de teatro? aberta a todo e qualquer tipo de
Qual'? Ou e perar que a liberdade pesquisa. Para você, que parece es-
, ·eja dada? tar com a memória curta, lembro
Plínio 1\1arco - Primeiramente. que nos últimos tempos montamos
ninguém dá liberdade a ninguém. M illôr Fernandes (Computa,
A liberdade a gente conquista; se- Computador,Computa), que discutia,
gundo. a gente não pára de fazer .me parece, uma problemática do ho-
teatro· param a gente; e terceiro, a mem brasileiro; montamos uin dos
gente não se acomoda. O simples maiores textos da dramaturgia
fato de a gente estar aqui discutindo atual: O Interrogatório, de Peter
sem cen ura interior os problemas Weiss; montamos uma peça de Du-
do teatro nacional é prova de que a renmat baseada num tema de
gente está combatendo, lutando e Strindberg, A Dança da Morte,
reivindicando a liberdade de ex- com o título de Seria Cômico St
pressão nos nossos palcos. Não é Não Fosse Sério. Me parece que
isso? M adame Vida/ veio num deter-
Pergunta - Por que o concurso minado momento, pois o ator, o
do SNT ficou cinco anos parado? diretor, o criador, não são máqui-
Yao Michalski- Parou seis anos. nas, precisam parar para fazer ou-
Não sei por que, só sei que, assim tras coisas, como uma espécie de
como participei agora do júri na
relaxamento, antes de se tentarem
retomada do concurso, tinha parti-
cipado também do último júri an- outras coisas. A peça que manda-
te~ d~ ~uspensão em 1968. E por mos para a censura, logo depois de
comc1denc1abastante significativa Madame Vida/, chamava-se
~iv~ a alegria q~premiar naquel~ Santa Joana dos Matadouros,
ultimo ano uma peça belíssimade de Ber:olt Brecht. A outra peça
Oduvaldo Viana Filho, chamada <!uequisemos montar agora e infc-
Papa Highirt, que até hoje conti- hzme~te foi tão _cortada que ~ tor-
nua inédita ... nou impossível encená-la foi Um
~línio Marcos- Vai ~er que foi por Ele/ante no Caos. Isso pra não fa-
isso que suspenderam O concurso lar que~_depois de pronta para~-
né? ' trear, foi proibida a peça Ca/abar.
Yan Michalski - ... e tive O gran-
de pr~er de premiar agora, depois ~ 9uer,o dizer uma coisa: a paiavra
de seis anos, outra belíssima peça digenvel" é uma palavra de que
do mesmo Vianinha, que espero gosto _mui~o; gosto dos problemas
nã~ tenha o mesmo destino da pri- q~e sao digeríveis e não dos que
metra, e possa ser encenada. nao se conseguem digerir. A minha
luta é por montar peças exatamen·
56
te digeríveis, como O Interrogató- sofisticado, ou seja, esse teatro ser-
rio. ve e se identifica com essas classes
Pergunta - Existe o teatro político? sotjais?
Esse tipo de teatro não seria o pa- Paulo - Acho que consegui expli-
liativo para uma coisa mais concre- car isso com relativa clareza. Uma
ta? Gostaria de saber também por política econômica que beneficia
que o brasileiro ri quando se fala uma elite de um lado e a censura
de coisas dolorosamente sérias que não deixa o repertório sério ir
como as que se falaram aqui? aos palcos, tudo isso contribui
Plínio - Vou começar pelo fim. para a deformação do teatro brasi-
Provavelmente ri para não chorar, leiro. Diante disso, o que se tem a
não é? Quanto ao teatro político, fazer é continuar fazendo o teatro
eu particularmente não sou favorá- que se pode e lutar por ampliar
vel a esse tipo de teatro. Gosto o horizonte do possível. Acho que
do teatro social, e explico por que: um debate como este, por exemplo,
teatro político, teatro que faz pre- dá uma grande ajuda.
gação de idéias políticas, só atinge Fernando Torres - Paulo, dá licen-
a quem concorda, enquanto a colo- ça. Há uma pergunta que eu gosta-
cação do problema social é mais ria de responder: "Por que vocês
ampla, permite discutir, abrir o não procuram um apoio de massa,
diálogo com pessoas que são indi- ou seja, baixar o nível intelectual
ferentes. Esse é meu ponto de vista. das peças em lugar de mantê-lo no
Pergunta - Já que não há revistas nível da elite?" Eis a minha respos-
especializada-s,não seria o caso de, •ta: Esse é um tipo de questão que
em vez de se acomodar, tentar fa- nós no teatro discutimos muito,
zer no jornal um tipo de crítica autores, atores, diretores. E o in-
mais ensaística, mais efetiva, tor- verso é que é verdadeiro. Posso
nando o leitor mais exigente e mais dar um exemplo: num 19 de maio,
consciente? há 15 anos, levamos um espetá-
Yan - Sim, é o. que a gente está ten- culo nosso a Curitiba, no teatro
tando um pouco, mas só quando Guairão. O espetáculo, que se cha-
há assuntos que mereçam esse tipo mava Festival de Comédia, com-
de extrapolação. A gente está sem- preendia três peças: uma de Cer-
pre tentando fazer isso. Mas só se vantes, uma de Moliere e uma de
pode ir até um certo ponto na me- Martins Pena, todas em um ·ato. As
dida em que é muito dificil, senão 4 mil pessoas que assistiam ao
impossível, fazer crítica ensaística espetáculo, que não tinham hábi-
nos limites de tempo e de espaço to de ir a teatro ou nunca tinham
do jornal diário. Pode-se chegar a ido, se deliciaram com Cervantes,
um meio-termo que nunca é satis- urraram e gritaram com Moliere e
fatório. Para ir mais longe, teria se identificaram terrivelmente com
que existir realmente publicação Martins Pena. Por aí se vê que a
especializada. solução não é baixar o nível. E não
Pergunta - As peças importadas continuar a montar peças escapis-
correspondem à realidade das pes- tas que disfarçam os problemas. Só
soas de altas rendas, de consumo lidando com o homem, com os

57
que a palavra é um P?uco pesada
problemas que a gente conl!ece, é para os jogos dramáu~os a SCTCIJl
que St; pode fazer bom teatro, e as- feitos com crianç~s e JOven~. Mas
sim melhorar o nível das produ- devo dizer que atribuo uma impor-
ções, o nível do, diretores e ~uto- tância extraordinária ~ esse aspcc.
maticamente o nível das platéias. E to da reforma do ensm~. Se essa
uma coisa que eu queria ~cresce_n- coisa ·for manejada luc1damentc,
tar, que eu tomei nota aqm pra dis- poderemos ter a médio prazo pla-
cordar do Plínio Marcos, quando téias mais exigentes do que as que
ele diz que de repente a burguesia temos hoje. Uma criança e um jo-
encheu o teatro. H:í um fenômeno
vem que tenham ~u~ante_seu ciclo
maravilhoso que eu tenho notado
primário e secundano bnncado de
nos últimos cinco anos, que é a re-
descoberta do teatro pela juventu- fazer teatro, que tenham sentido na
de. É incrível o número de pessoas própria pele a experiência, não
jovens que redescobriram o teatro com fins de formação artística mas
como uma fonte de discussão e de autodescoberta e de socializa-
como um ponto de interesse. O tea- ção dentro do mundo em que vivem,
tro é tão necessário hoje em dia essa criança e esse jovem tenderão
para a juventude - e a prova está a se tornar espectadores tais como
nesta platéia de hoje - como foi no nós precisamos e queremos. Mas,
tempo de Castro Alves. Hoje em vai depe!)der muito da orienta-
dia, quando a televisão invade a ção que se dê no futuro a essas es-
casa, quando a novela tenta num colas, porque se o trabalho se limi-
determinado momento matar o tar a continuar fazendo esse terrí-
teatro e não consegue, quando o ci- vel símbolo do que há de mais ran-
nema está aí, a juventude vai ao çoso na tradição escolar, que é a
teatro, está buscando de novo o festinha de fim de ano, então esse
teatro. Em to~as ~s peças - e esse trabalho ficará totalmente perdido.
foi o caso de O Interrogatório - FernandoTorres- Todo esse traba-
a maioria da platéia era de estu- lho será inútil, nos níveis secundá-
dantes. Pode-se dizer que são bur- rios, na medida em que permanece-
gueses porque a maioria dos que rem os critérios de censura que im-
estudam no Brasil é de burgueses. possibilitam o jovem de menos de
Eu sou burguês ... 16 anos de ir ao teatro. Shakespea-
Pergunta - Como você vê a possibili- re_é impróprio até 18 anos no Bra-
dade de se incremen4U'a problemati- sil inteiro, não sei por quê. A Gai-
zação da dramaturgia nas escolas vota, de Tchecov, foi proibida
de primeiro e segundo ciclo já que para menores
. de 18 anos , de modo
se tornou obrigatório o ensino da que exiSt e um contra-senso: ensina-
arte dramática? Acha que se inicia se teatro e se proíbe a pessoa que
uma certa abertura para o futuro descobre o teatro de assisti-lo. E
da dramaturgia brasileira? uma coisa que precisa ser resolvi-
da.
Yao - Com respeito ao primeiro e
. P:rgunta - Por que os produtores
segundo ciclo eu não falaria em
nao se unem aos jovens autores e
problematização dramática. Acho
encenam suas peças, dando assim
58
in cnt1vo a outros Jovens autores e de Volta, de Consuelo de Castro.
ao teatro amador em geral? Lampião etc. etc. Por quê?
PJ'r.io- Quem melhor poderia res- Paulo - Esqueci, sim e peço des-
ponder a essa pergunta é o Fer- culpas. Eu apenas quis tentar defi-
nando Torres, mas eu vou tentar. nir uma tendência geral, mas essas
Qualquer produtor anda pedindo a exceções aí eu deveria ter feito. e
Deus que apareça um grande autor peço desculpas.
jovem em sua casa com uma peça Plinio Marcos - Mas é minoria.
p~ra ele montar. Por exemplo, em Em São Paulo, eu também esqueci
Sao ~a.ulo temos uma companhia da peça de Consuelo e da peça de
espectahzada em textos nacionais Guarnieri, e de outras peças. Paulo
que é a de Othon Bastos. Ele ve~ Pontes se esqueceu da peça dele, que
fazendo um trabalho bacana, mon- em São Paulo foi um grande suces-
t~ndo S? autores brasileiros, inclu- so. Mas é que, no todo, o teatro é
sive a Jovem maravilhosa que é esse panorama que a gente deu.
Consuelo de Castro, que tem uma Há exceções, há caras que se de-
peça agora em cartaz e tirou o se- fendem, que pulam, que conse-
gundo lugar no concurso do SNT. guem, que escapam, sei lá. Mas o
~gora, _existe,o autor jovem que todo é isso que a gente vê.
amda nao esta acabado, que ainda Paulo Pontes - Eu tentei definir
não fez a primeira peça acabada, e uma tendência, uma política geral,
essa peça poderia ficar sendo en- e acho que vocês compreenderam.
saiada por um grupo amador du- De qualquer modo, está feito o re-
rante três meses, ele acompanhan- gistro.
do os ensaios, reformulando cenas Pergunta - O problema do ator é
inteiras. O grupo profissional tem ser reconhecido oficialmente? A
às vezes que ensaiar uma peça de Escola de Teatro prepara atores
Shakespeare em um mês, e- então para o teatro oficial? Para que tea-
não dá pra consertar o texto. Asve- tro? A escola melhorou em quê?
zes vão cortar o texto importante e Yan - O único problema do ator
erram por causa da pressa. Como é não é ser reconhecido oficialmente
que vão consertar o texto de um mas esse é um dos problemas do'
autor jovem em laboratório? Não ator. O reconhecimento oficial po-
dá. Então é o teatro amador que derá melhorar concretamente sua
tem essa responsabilidade. Pegar condição de trabalho e seu status.
esses textos todos do concurso do Não é esse reconhecimento que
SNT - não os que foram premia- vai fazer do canastrão um bom
dos, que são bons, que são muito ator e nem vai possibilitar a ele fa-
bons mesmos -. mas pegar os outro- zer um trabalho mais criativo. Mas
tros e montar. Aí seria bacana. se trata de uma luta eminentemen-
te válida que a gente tem de topar.
Pergunta - Você disse que em ma- A escola prepara atores também
téria de problemas brasileiros n.o para o teatro oficial, mas parece
palco só há homossexualismo ego- um contra-senso uma escola prepa-
norréia. Você esgueceu Corpo a rar atores só para o chamado tea-
Corpo, do Vianinha, Caminho tro marginal, por mais simpatia

59
ml.çio Estadual de Teatro
teatr m r "'ª·Ach qu Pel e o O - e so. E há con d'1çoc
.. 8 a' lid
qu . 1 qu tent r con f rm • d ca
. que a peça seJa e cará-
umn .," 11. l1fi~1a t rn ~.t ão p r enc her • co
d r ·eu:, lunos urna cap, \,;l • •nentemente cu 1tura 1, trate
pr t ionnl. • prepar ã-losd para ª
traba-
ter enu
de pro blem - . •
d
as relevantes - e á-sc
l
th
Vl
~ mp tição no mercado e , - ••13 ao autor naciona , dá-
lho. E~identem~nte. aqueles
nã qui.erem mgres.ar naq fi
;:i: pre1erenc
se referência taro bém a peças com
~t personagens para empregar
cs
CC

tip de teatro aqui chamado de o ~- mu1os 'd


• r nu'mero possíve, e atores.
o maio
c1al deverão e·co lher ou t ro~s cam1- A subvenção é paga ap 6 s a monta-
!l
rr
nhü . e outros tipos de teatro. E~ em da peça e, como o governo
que sentido a escola melhorou. fi
gnun ca dá nada de graça, , o empre- . E
.\qut trago o meu testemunho de sário fica O brigado a 1azer um nu- t(
que, pelo menos nos últimos anos, determinado de espetáculos a
têm sido feitas. permanentemente, me ro , h d SI
Ços populares - e a e ama a rr
produções de alunos com ~ma pre
..temporada popu lar " . D ep~nden- Sl
competência melhor que ,ª~uga-•
do da lotação do teatro, o numero n
mente. e com um nível_med10 de
desses espetãculos pode ir de 10 a fc
qualidade tam~é": mais a!t0 do
que. digamos, ha cmco ou seis anos 30 ou 40. Eu defendo a tese, contra n
muitos dos meus colegas empresá- d
·ltrás.
Pergunca_ Qual O _mecanismo e rios, de que a temporada popular - e
e Plínio Marcos parece que me d
critério para obten_çaode,.su?ven-
ção oficial e qual a importancia das apóia nesse ~onto - liquida: como V

temporadas populares para os em- liquidou praticamente em Sao Pau- r


presários? lo, a empresa teatral, uma vez que o e
Fernando_Sou contra toda e qual- Público se habitua. à \temporada
e
quer subvenção, estatal. ~cho popular e não vai ver a peça na l=
que a subvenção e um mecam~mo temporada normal. .. e
paternali ta do governo, cnado A tese que eu defendo é a seguinte. \

num período em que Vargas era o Devia-se criar - e aí é que falta


governante e criou o SNT e a P?lí- amadurecimento empresarial bra-
tica de subvenções, para permitir a sileiro - uma política que viesse de
montagem de determinados textos baixo para cima, ou seja, uma polí-
convenientes ao·reg-ime. O empre- tica em que o empresariado brasi-
sário. hoje, para conseguir subven- leiro tivesse condições de poder
ção tem que se registrar numa jun- melhor exercer a sua atividade. Em
ta comercial qualquer, tem que es- vez de se distribuir 1 bilhão de cru-
tar quites com o INPS e o Imposto zeiros velhos - essa foi a verba ano
de Renda, tem que ser uma firma passado aqui no Rio -, diluindo
registrada como qualquer outra, essa quantia entre 15 ou 20 compa-
tem que obter da SBA T um docu- nhias, mais correto seria destinar
mento que prove que ele é um em-
esse dinheiro à construção de cinco
presário em dia com o pagamento
ou seis grandes teatros no resto do
dos direitos autorais, tem que esco-
Rio de Janeiro, no Grande Rio,
lher uma peça que tenha sido apro-
vada por uma comissão do SNT ou que está totalmente desprovido de
teatros. Isso redundaria na possibi-
60
ltdadc- de criação de núcleos em melhor qualidade, o espetáculo 6
cada um dos pontos cm que fosse muito bom. E a peça deu dinheiro?
e"'º truído um teatro desses, incen- Deu, sim, deu muito dinheiro. En-
tiv.llldl ...ssim o surgimento de no- tão por que é que o governo ainda
\ o· grupl)S te,ttrais, novos autores, vai me dar um prêmio se eu ganhei
• l,ibclcccndo-sc um rodízio de dinheiro com aquilo, se minha em-
companhias que poderiam iniciar a presa particular foi boa? Eu, gover-
carreira no teatro Gláucio Gil no, num determinado momento,
.que é do governo, e terminar, diga~ iria subvencionar, sim, A vatar,
mos, no teatro ArturAzevedo, que 1a subvencionar O Inspetor Geral,
fica em Campo Grande. encenada por um grupo amador,
Existe uma população faminta de Asdrúbal trouxe o Trombone,
teatro e de diversão em todos os que é um espetáculo vivo, da me-
subúrbios cariocas e nós continua- lhor qualidade, feito por jovens.
mos aqui. Sou contra a política de Eu não subvencionaria o teatro
subvenções, inclusive porque fo- amador, as soluções do teatro
menta o surgimento de picaretas, a amador têm que ser encontradas
formação de pequenos grupos, que aqui - e é por isso que o teatro não
montam espetáculos da pior quali- morre, porque na pobreza existe
dade e vivem dessas verbas oficiais uma coisa que é a imaginação. Esse
e concorrem para afastar o público espetáculo do grupo Asdrúbal, cu,
do teatro. Vivendo no país que vi- se fosse o governo, compraria e o
vemos, no regime que vivemos, se- levaria por aí, por todo o território
ria mais lógico que as companhias, nacional. Porque aquele espetáculo
como empresas privadas que são - atrai gente, é um espetáculo vivo,
e empresário em empresa privada é que traduz os anseios da platéia e
patrão -, pudessem provar sua por isso faz sucesso.
competência e prescindir das sub- Aparteda platéia- ...e reflete a reali-
venções. dade do país em que a gente vive.
Quando monto uma peça, não sei Não se pode montar espetáculo de
de quanto vai ser a subvenção, em- 400 milhões de cruzeiros porque
bora concorra à subvenção do go- essa não é a realidade da popula-
verno. Vou ao banco, tomo dinhei- ção brasileira. Tem que montar pe-
ro a juros normais, e muitas vezes, ças como O Inspetor com a cria-
por questão burocrática, só recebo tividade que eles tiveram.
a subvenção seis, sete, oito meses FernandoTorres - É o que eu estou
depois. _Se a peça foi um sucesso, dizendo. Essas experiências são vá-
eu não precisaria da subvenção; se lidas. O Plínio disse: testem no tea-
foi um fracasso, a subvenção serve tro amador os autores jovens, tes-
apenas para minorar o qKe perdi. tem no teatro amador as soluções
Por exemplo, Madame Vida/ foi que irão enriquecer futuramente o
subvencionada. Recebi de subven- teatro profissional. .. Então a sub-
ção - digo tranqüilamente a vocês venção é, inclusive, um caminho
- 80 mil cruzeiros. Não há por que perigoso, porque conduz o teatro
subvencionar Madame Vida/. A profissional a viver, às expensas do
peça é estrangeira, a companhia da goverao, desestimula o empresa-

61
p 1
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munifest.1çõcs: urn.i de apoii e ou-
tr,1 n:lo sei de quê. Uma diz O sc- art 1st u ,1 rncricuno ,nor
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(>

•uintc: "Para o hem do povo eª fc- halhando na telev1 {10 . rajl 1~ma
m:.nsque O a,tí ta t,r:1 tlciro vivo,
lid<ladc geral <lanação vou querer
di,cr que ajude". A outra: "Vamos l'er>:""w_ p H quc :is companhtat
h~>tarpra quebrar!" ~~ acrcsc.enta: não viapim ! fio é u rr1a sa1da para
.. 'cnsurado". J.:.stáfeito o registro. a cri e'!
Pergunta _ I Iaverá irnportânci~ e Fernando_ Mas quem t1lou trn cri-
nccess1dadena importação <lcdtrc• se'! l:xistc crise e cri e, yíajar é

ton!s estrangeiros atua 1mcnt e'>
.. ro:-i~ível.o Brasil é um Pª!~d~ di-
Yan Não vejo necessidade disso. mensões contincnl,fls, e aqui vai um
Acho que, de 10 ou 15 anos p~ra registro o fim da gestão do mi-
cú, a categoria profissional de dire- nistro Passarinho, criou-se no Mi-
tores se afirmou no Brasil com um nistério da l:ducação e ultura um
impulso extraordinário, se levar- negócio que se chama Plano de
mos cm conta que, até 50 e poucos, Ação Cultural, que era ex.atamente
senão todos, pelo menos a maioria uma tnJcção de dinheiro para pro-
dos cspetúculoscru dirigida por en- piciar a viagem de companhias por
cenadores estrangeiros. Temos um todo o país, levando cultura ao po-
grupo grande de diretores nacio- vo. I louve uma série de reuniões,
nais da melhor qualidade. Com surgiram idéias absurdas, como a
isso não quero dizer que não foram de que as companhias não deviam
vúlidas para nós as experiências cobrar ingressos. Fui contra por-
dos espctúculos montados por um que isso é o mesmo que dar de
Victor Garcia e por um Jorge La- graça a um o que pertence a outro
valle. Evidente que confronto de - isto é, dar de graça ao espectador
civilizações, confronto de culturas o que pertence ao autor. Eles fica-
- quando é feito no nível que oco- ram muito alarmados: por que vo-
locaram Garcia e Lavallc-, é sem- cê não pode levar a peça de graça?
pre extremamente útil. Eu respondi: porque existe um
Pergunta - Que peças suas foram contrato com a SBA T que me obri-
censuradas e quais os temas? Que ga a dar ao autor da peça que estou
pressões você tem sofrido a nível apresentando uma percentagem x
pessoal'? A distensão não chegou sobre o bruto da bilheteria ... Mas o
nas quebradas do mundaréu?
ctrto é que, sem fazer espetáculos
Plínio - Nas quebradas do munda-
de graça, muita companhias viaJa•
réu, onde o vento encosta o lixo e as
pragas botam os ovos, não tem re- ram, conforme o Plano de Ação
creio. No nível pessoal é o seguin- Cultural, e eu consegui chegar a c1•
dades a que normalmente uma
62
comp nh1a não poderia chegar via- numa pressão que plasma aquilo
J do p r conta própria, devido que acont,;cerá depois no palco.
ao ·cu to de passagens, hospeda- Mas influir diretamente, no senti-
gem etc. E se plano ainda tem do de determinar aos artistas cria-
muito defeitos, mas é uma pnme1- dores aquilo que eles devem fazer,
ra tentativa do governo de substi- me parece ser não bem esse o pa-
tuir a subvenção por um auxílio pel da crítica. em seria legítimo,
efetivo às companhias que queiram se considerarmos que, quando eu
viajar. Agora, para vocês terem critico um trabalho de Fernan-
uma idéia: uma companhia para se do Torres, por exemplo, critico
apresentar no Teatro Municipal de baseado apenas no contato que tive
Be o Horizonte, que é o melhor com esse trabalho já encenado, en-
aparelhado da cidade, terá de pa- quanto ele ficou três meses em
gar por dia a "irrisória" quantia de cima desse trabalho. É evidente,
2 milhões de cruzeiros velhos. Le- então, que ele sabe muito mais, ele
vando em conta que a companhia se aprofundou mais na peça e na
são 18 pessoas, pagando despesas maneira de traduzi-la em cena do
de hotel, passagens, alimentação, que eu. Seria muita audácia minha
quanto teremos de cobrar na bilhe- tentar ensinar-lhe aquilo que ele
teria para cobrir tudo isso? Aí a deveria fazer. Parece-me que a ta-
gente vai para o teatro Francisco refa do crítico deve ser muito mais
Nunes, que é da Prefeitura tam- no sentido de, a partir do que está
bém, e cobra apenas 8 por cento. proposto em cena, tentar estabele-
Viajar é um problema que está na cer um elo entre o fenômeno dra-
cabeça de todo mundo. mático e a coletividade que o con-
Pergunta - A platéia quer realmen- some, a platéia.
te um teatro vivo e atuante? Os que Pergunta - Como você quer que o
estão aqui, na sua arrasadora teatro não entre em crise, se no
maioria, não são beneficiários do Bra il apareceram como grandes
.. milagre" e da concentração de atores Tarcísio Meira, Glória Me-
renda? Estas presenças e palmas neze , Regina Duarte?
não são hipocrisia? Plínio - O problema é o seguinte:
Paulo - Aí tem que se fazer uma uma das coisas mais cretinas que
pesquisa com vocês. há é querer jogar a gente para dis-
Pergunta - O crítico só pode atuar a cutir o valor de um colega nosso,
partir de um trabalho teatral que o abe? Então, o cara que fez es a
justifique? Ele próprio não pode pergunta é um cara que vai falar:
fazer nada, influir no que está no "O Tarcísio Meira faz novela~".
palco? Bendita novela. Sou a favor da no-
Yan - Acho que o crítico nor- vela e contra o filme americano.
malmente só pode atuar a partir Defendo o meu mercado de traba-
daquilo que ele vê no palco. Acho lho, que está amesquinhado; e digo
que sua influência, caso exista, será mais, ão atores como Tarcísio
indireta, na medida em que ele con- Meira e outros desse gabarito que
tribuirá para criar um clima de opi- agradam realmente o público. Po-
nião que por sua vez se transforma dem não agradar a uma mmona

63
·d , rvir par.t popularizar o tea-
p<J e :se ·1·b fi
1 rar as man-
intelectualizada. Eles est ã 0 pro- tro c01 no P... ·•ra eqm.
vando que o mercado de TV d_eve ,·as da companh1<1. .
º
ser do ator brasileiro, sim, por 1st "P?rgwita - V oce• acredita que . um ~ ._
é que a gente luta. Quer:1 faz a p.e~- ntK-.:cl s•~rimparcial, quanto
t1Umano ..,~-- ·"'
• • 'J
gunta não vai conseguir 11?s divi- mais um critico· . .
dir, e não vou criticar aqui colega _ 0 que não entendi foi esse
Yan . . ., N-
nenhum. Aqui critico O ames- , to mais um cnt1co
.• quan _ à. . ao te-
quinhamento do mercado de tra- nho nenhuma pretensao_ 1~par-
balho, a censura, mas colega meu, cialidade. Tenho pret~nsa? à smce-
não. Posso criticar de modo geral, ridade. Imparcial mnguem pod~
a gente pode divergir P?liticamen- ser nesse tipo de t~abalho, na me?1-
te. Mas daí a entrar no JUlgament? da em que não existem pesos obje-
pessoal, de forma nenhuma. Aqui, tivos que se possam coloc~r ~aba-
gaivota! Dividir, não! lança. Tenho que ser subj.et1~0 na
Pergunta - O objetivo da tempora- medida em que, na avahaçao de
da popular é resolver os problemas
qualquer trabalho teatral~ ..ent.ra em
das empresas teatrais ou dar acess?
ao público que tem menos cof\dl- jogo toda a minh~ expenenc!a ~u-
mana, todas as mmhas conv1cçoes
ções financeiras?
Fernando - Ela tenta atender às pessoais, sociais, políticas e ~s~im
duas coisas. Vou citar meu caso por diante. Esse aspecto subjetivo
pessoal. Jamais faço temporada eu assumo e acho que ele é inevitá-
popular no teatro em que cobro o vel, desde que não se queira sub-
preço normal do ingresso. Sempre verter a expressão espontânea da-
procuro um teatro de grande capa- quele impacto que o crftico recebeu
cidade, como o João Caetano, por ao assistir ao espetáculo. Agora, .
exemplo, porque assim posso ab- partindo desse pressuposto de que
sorver o maior número possível de uma dose de subjetividade é inevi-
espectadores no menor tempo tável, cabe ao leitor que se acostu-
possível. Foi por sugestão minha - mou a acompanhar wn determinado
digo porque é verdade - que se crítico descobrir no trabalho desse
reabriram os teatros da periferia crítico os preconceitos, as convic-
do Rio de Janeiro, em Campo ções e as teorias, para adequá-las
Grande e Marechal Hermes. Lá no ou não às suas próprias opiniões.
subúrbio, realizei temporadas po- Aparte da platéia - Em lugar de
pulares e consegui colocar dentro uma pergunta, uma resposta: "0
de casas de espetáculos onde ca- teatro virou produto de consumo,
bem normalmente 300 ou 400 pes- não interessa o conteúdo, e sim a
soas, 700 e 800, cobrando cinco embalagem". Está consignada a
cruzeiros o ingresso... Mas você observação.
não consegue jamais enganar o Per~~nta - Você não acha que a
público. Se o espetáculo for ruim, plateia deveria ser menos ºespecta·
se for um fracasso, você pode até dora" e se mexer, ao invés de so-
abrir as portasparao pessoalentrar
mente aplaudir e pedir bis?
de graça que não vai ninguém. En-
tão, a temporada popular tanto
Pli~lo - Eu, por exemplo, nesse
penodo em que estive a perigoper·
64
pétuo, tenho trabalhado muito em ranto que a gente estaria discutin-
boate. Em boate a platéia se mexe do a capacidade de cada jogador, a
muito, e tal. Brasileiro tem mania beleza do drible, estaríamos discu-
de pagar a entrada e querer ele tindo teses e técnicas. Volto a di-
mesmo ser o espetáculo. Então eu zer: o que nós queremos não é que
tenho uma resposta para essa per- o teatro vá indicar o caminho que
gunta: olha, meu filho, eu tenho 10 cada um deva seguir; queremos é
minutos para ser palhaço, tu tens a que o teatro seja vivo, volte a ser
vida intei'ra, tá? Eu acho que a pla- uma paixão no palco, tão ~ivo
téia não tem que se mexer. Se me- quanto foi o de Calderón de la Bar-
xer pra quê? Tem que ficar sentadi- ca, feito em estrebaria. Queremos
nha, quietinha, ouvindo o que a um teatro como o teatro português
gente tem a dizer. No final, se não da época áurea ou do período áu-
gostar, vaia, e aplaude se gostar. O reo do teatro espanhol, que discu-
que eu acho é que devia ter o deba- tia os problemas do povo espa-
te com o público no final, para se nhol, a vida espanhola, o folclore,
discutir o que foi posto no palco, a cultura do. povo espanhol, e não
porque não é justo você só ouvir a o teatro que hoje se faz lá, morto,
opinião do outro e não poder de- porque o teatro espanhol morreu,
bater. No debate final, a platéia o teatro português morreu. Por
participa. Agora, esses espetáculos quê?
com todo mundo nu, essas coisas, Pergunta - Se você, como disse ou
na minha terra tem o nome de su- insinuou, pode burlar a censura
ruba. jornalística, devia levar em conta a
Pergunta - Por que não há teatros censura teatral nas suas críticas.
na Zona Norte? Yao - O que seria levar· em conta a
F.ernando- É exatamente o que me censura teatral nas minhas críticas?
pergunto. Podia-se perguntar tam- Dar desconto a espetáculos sob a
bém: por que não existe metrô no alegação de que eles teriam sido
Rio de Janeiro há mais tempo? Teria melhores se não fosse a censura?
sido uma grande ajuda para todos. Mais importante, então, seria ten-
O teatro também é um problema tar opinar sobre as peças que não
da sociedade, não apenas de quem conseguiram ser encenadas. Ne-
faz teatro. Minha experiência indi- nhum de nós é capaz de imaginar o
ca que, se houvesse mais teatros que teria sido o espetáculo Papa
nos subúrbios, o campo de traba- Highirt se fosse encenado. Nós
lho da gente seria muito maior, o somos obrigados a partir daquilo
número de espectadores, muito que estamos vendo. É claro que a
maior e a gente teria eliminado na gente leva muito em consideração
certa a praga da subvenção ... Ago- a censura, na medida em que isto é
ra vou falar uma coisa: estamos uma coisa que está no ar, determi-
aqui respondendo a perguntas que já na o clima em que a gente trabalha,
deveriam ser do conhecimento de mas só podemos discutir o espetá-
todos. Mas isso é porque o teatro culo que vemos e tal como ele se
no Brasil é pouco difundido. Se o apresenta, não podemos partir de
debate hoje fosse sobre futebol, ga- conjecturas. Todos nós estamos

65
r m divulgar que cria criado u111
,n ,d d h r, e J ( ho Superior ~e Censu~a. do
qu, , quunto 1 e n U ra v m v aruciparíam mtelectua1s etc
'1 d nvol ,mento d no o Óu a~i tas naturalmente sentiréllll
ll,lTI e tâ
t tro M ,s I cc.::n ur veze um mal-estar .••
•n lo • us 1d t como uma de cu.dpa
1 , , . Marco _ Aí entra uma frue
1 1tnlO • } .. Se .
u111vrsul pua a falta de criauv1 • do M1llôr, que é gema: . c,,dc
d pum a fr lt.t de ambição do tea- censura, não pode ser supenor .
tr~ bru ilciro, como se e e fo se ~ Paulo Pontes_ ... de verem seus no-
únko motivo do esvaziam~nto. mes sendo objeto de especulação
há muita gente que se apóta ni 0 no jornais, qua~do de fato se sa-
çomo de culpa para fazer espetâ- bia que não se unha tomado n~
culo cm categoria. _ e estava tomando nenhuma provi-
Pergunta - Na recente inauguraçao dência para solucionar o problema
do Teatro Amazona , o presidente da censura. Esse tema se to~ou,
,cisei, quebrando o protocolo, por i so, centro de preocupaçao de
permaneceu até mais tarde a con- todo O pessoa~ que faz cultura. ~ ~
versar com atores sobre censura e opinião unâmme dos que part1~-
regulamentação da profissão O JB param daquele encontro - e quem-
noticiou há algum tempo que Ma- clusive será expressa num docu-
calé e Sérgio Ricardo estiveram
mento, uma espécie de carta aberta
com o ministro da Educação tra-
tando desseassunto. Existealgo con- _ é de que o problema da censura é
creto a respeito? Se não existe, muito grave, é o responsável fun-
por que a imprensa insiste em com- damental pelo esvaziamento inegá-
pactuar com essa propaganda gra- vel do teatro e da cultura brasi-
tuita e mentirosa? Pressões talvez? leiros: que os artistas não fizeram
Paulo Pontes - Houve contato de nada para que isto acontecesse
gente de cinema, de gente de teatro mas também não possuem nenhum
e de música com o Ministério da meio de solucionar o problema.
Educação. Nesse contato, o minis- Assim, essa carta aberta repõe a
tro perguntou objetivamente aos batata quente na mão de quem
artistas quais eram os problemas cabe segurá-la. Esta é uma explica-
com a censura, e os artistas fizeram ção que estou dando, não é opinião
um depoimento objetivo e concre- minha. A carta aberta pretende
to, e voltaram para casa. No dia se- desfazer a impressão de que está
guinte, os jornais anunciaram havendo muito boa vontade de
abundantemente o encontro do mi- uma parte em resolver o problema
nistro com essas personalidades do e que a intelectualidade é formada
cinema, do teatro e da música. de pessoas zangadas que não que-
Com isso, criou-se o clima· de que rem solucionar nada.
estaria havendo por parte das au- Pergunta - Fale mais da regula-
toridades muito interesse em resol- mentação da profissão do ator e
ver o problema da censura. Duran- por que ela demora tanto em vir,
te mais de um mês as notícias ali- ou seja, dê nome aos bois.
mentaram esse clima artificial. Fernando - Participei no passado
Logo depois as autoridades fize- de uma comissão que tentava regu-
66
lamentar a profissão do ator, em quem cobrar. A regulamentação
1961-62. Acho que a regulamenta- vai ajudar o ator, que passará a se
ção é uma coisa justa; só não acho beneficiar de certas garantias tra-
que possa resolver o problema do balhistas que outros trabalhadores
ator, porque encaro esse problema já têm ... A Bibi Ferreira está per-
vendo o ator como artista, como guntando o que vai acontecer
criador. Como regulamentar a pro- quando a faculdade que está sen-
~ssão do poeta, coitado, que está do criada em Brasília para formar
tão desamparado, ou do romancis- atores, diretores e técnicos, lançar
ta? Acho que a regulamentação da essa gente toda no mercado. Vai
profissão do ator traria benefícios formar para quê? Então o proble-
muito grandes para os atores, mas ma é exatamente esse: precisamos
o problema é que essa Escola de de um número cada vez maior de
Teatro, de que o Yan é professor, locais de trabalho, de um maior
forma profissionais para uma pro- número de dramaturgos que escre-
fissão que não existe. Então, na vam sobre os problemas do país,
medida em que o ator conte com de- para essa gente que está se forman-
terminadas garantias no nível do nas escolas de teatro tenham
sócio-econômico, será ótimo. Mas onde trabalhar e para quem falar.
a verdade é que ninguém, por exem- Pergunta - Descreva o que é uma
plo, fala no direito do ator atuar na peça caracteristicamente popular.
TV, ou seja, ampliar o seu mercado Plínio - É a que dá certo.
de trabalho. E mais, como falou Pergunta - No momento em que o
o Plínio, preservar o direito do próprio governo prega a dis~ensão,
ator sobre a exploração futura de que medidas poderiam ser tomadas
seu trabalho, porque as novelas para que essa distensão atinja o
são gravadas em vídeo-teipe e pas- teatro e a crítica ensaística no Bra-
sam no país inteiro, enquanto o sil de hoje?
ator recebeu apenas um salário; ele Yan - Não tenho sugestões a dar.
não participa da exploração futu- Pergunta - O SNT se propõe mos-
ra, da comercialização da novela. trar novos escritores ou premiar ve-
E isso porque existe o ator que ain- lhos escritores já muito famosos,
da está batendo na porta da TV, como Oduvaldo Viana Filho?
pedindo para trabalhar numa pon- Yan - Não temos nenhuma procu-
ta, mesmo sabendo que é difüúl de- ração para falar em nome do SNT,
pois receber o cachê. A TV muitas mas, tendo participado do júri do
vezes se furta a pagar o salário dos recente concurso de peças, devo
atores. Houve escândalo na TV lembrar a quem fez a pergunta que
Excelsior de São Paulo, que mu- o júri não tem condições de saber
dou 20 vezes de mão, foi vendida e qual a idade dos autores nem qual
revendida, e 600 e tantas pessoas, a experiência prévia que possuam
entre atores, atrizes, técnicos, tra- como escritores, já que as peças
balhavam praticamente de graça, chegam às mãos do júri sem título,
sem receber salário, embora te- sem nome do autor, simplesmente
nham ganho o processo na Justiça com o número de inscrição. Ainda
do Trabalho: porque não havia a assim me parece altamente signifi-

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.1ltenante importada: é válido fazer
cativo que tenha sido premiado - essas montagen ? t i:nelhor iSSQ
entre 37l concorrentes, pre um1- que nada? Alguma co1s~ e apro-
velmente qua e a totahdade do veita di so para o ator, diretor, a~
autores conhecidos - com o tercei- tor, ou pelo menos para o cenógra-
ro prêmio um autor inedito e com-
pletamente desconhecido. E o S rr fo?
Yan - Sou insuspeito porque tenho
mostrou sua preocupação em dar me pronunciado co~ bastante vec,.
oportunidade a um número maior mência contra esse tipo de repcnô,.
de autore , selecionando, além das rio e o predomínio que ele exerce
cinco peças premiadas, mais 13, o no panorama atual. Ainda assim,
que não estava previsto no edital, e digo: é melhor isso do que nada,
que serão divulgadas através de lei- porque permite a sobrevivência de
turas públicas. Por outro lado. está uma classe profissional. quem sabe
se abrindo um caminho bastante
promissor para os autores jovens à e pera de tempos melhores.
Pergunta - Até que ponto é possí-
atr:rvés do Concurso Nacional de
Dramaturgia para universitários, vel evoluir-se numa linguagem tea-
que foi criado pelo SNT, e que na tral brasileira, se a nossa proble-
verdade são sete concursos, porque mática cultural desafia a ordem ins-
está havendo um em cada uma das titucio nal que o teatro não pode
regiões em que o país foi subdividi- romper? Qual o poder de barganha
do para esse fim. e pressão do teatro'?
Pergunta - Qual é a causa de a sua Plínio - Em verdade, o teatro
companhia, que no início represen- não morre; ele se finge de morto
tava peças nacionais, agora só para ver quem vem ao enterro. En-
apresentar peças estrangeiras? tão some um, aparece outro, mas
Fernando- unca representamos com a gente eles não acabam.
só peças nacionais. Sempre procu- Quanto a isso, podem ficar descan-
ramos articular o nosso repertório sados, a prova está aí: o Vianinha
com peças nacionais e estrangeiras, morto está dando trabalho. Deram
e quando a gente encontrava uma o P!êmio para ele e agora vão ter
peça como Senhora Warren, de de liberar a peça. Como é que se fat?
Shaw, a gente montava, ou Cer- Então nó! somos todos sangu~
vantes, ou outro autor. Não temos quente, nao tem esse negócio não.
preconceito. Procuramos ser refle- ós vamos evoluir independente-
xo daquilo que o teatro é. Se a obra mente de qualquer coisa, isso não
nos parece boa, vinda de onde vier te"! que ver. Há uns caras aí que
ela é bem-vinda. ' estao mandando brasa, a Consuelo
Pergunta ~ qu~I você acha que seja de Cast~o está em cartaz, as gran-
sua contnbu1çao para a dramatur- des atrizes estão em cartaz o
gia brasileira? ~ra nd es diretores estão trabalhan-
Plínio - Ser figurinha da coleção o. Chegou-se à conclusão seguin-
Brasil Novo. Eu sou a de n 9 312: te: o grande ator tem que ser o me-
burro. lhor
Pergun~a.- Vaudevilles, Constanti- l do mund.º· A ss1m.• por excm-
P o, temos hoJe no teatro brasileiro
nas. mm1stros e vedetes, cultura grandes atores de grande gabarito
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1 obrign os autores u racharem paro baixo, quer di1.cr, vem do au-
bi \1pnr,1 acompanhar a cvolu- tor parti o ator, é como um tripi,
1o. Conosco eles não acabam. cujas pernas são o autor, o ator e o
P\)de parecer que estilo acabando, público. Se voe! tira uma dcS!las
mn. n·o estüo. Nós vamos evoluir pernas, o teatro desaba. Quer di-
de qualquer jeito. nós somos imor- zer, no momento em que o Plfnio
tais. Mesmo porque a gente não Marcos escreveu uma peça que só
tem onde cair morto, né? pode ser encenada no fundo de um
Yan - Com essa declaração poço e por um ator só, lá no fundo
de imortalidade o Plinio aca- do poço e só podendo ser virul por
ba de se candidatar à Academia uma pessoa, o teatro dele vai aca-
Brasileira de Letras. bar. Por isso eu acho que o teatro
Pergunta- Que pensam vocêsda nova sempre espera uma solução do au-
Fundação de Teatros do Rto e da tor, ou seJa, os autores é que modi-
indicação de Adolpho Bloch para ficaram o destino do teatro. Se
presidente da mesma? bem que os diretores, numa fase
Fernando- S6 vou começar a pen- recente, podem determinar novos
sar sobre isso depois que ele.s cursos e novos sentimentos para o
publicarem uma plataforma. Por teatro.
enquanto, isso para mim é uma in- Pergunta - O que está levando o
cógnita e, confesso, uma surpresa teatro brasileiro a encenar medío-
muito grande. Vamos esperar para cres traduções de peças estrangei-
ver que !,icho dá. ras?
Yan - Também não tenho nada Plinio - Sobre o assunto quero
a declarar. dizer que tive a oportunidade de
Plínio Marcos - O que me preocu- fazer um grande texto. Madame
pa é o problema do petróleo daí, Beki Klabin me telefonou, me cha-
viu! mou à casa dela e eu fui lá com o
Pergunta - Como podemos criar Carlos Imperial. Ela me disse as-
uma linguagem teatral brasileira sim: Plininho, descobri que você
fazendo teatro para uma classe que nasceu em Santos. Não daria para
não representa verdadeiramente o você escrever uma peça sobre a
povo brasileiro? Marquesa de Santos para eu fazer
Fernando- O público que vai lá, no teatro? O que eu respondi pra
que fala a minha língua, que tem os ela foi: eu sou especialista em pis-
problemas que eu tenho em casa, é toleiras contemporâneas. E é ver-
a minha classe, é o povo brasileiro. dade, sabe? É o fundo do poço, que
PauloPontes- Só um esclarecimen- não pode.
to: o autor da pergunta natu- Paulo Pontes - Constatado que re-
ralmente quis dizer que a popula- almente o problema do teatro
ção brasileira não está representa- não é fácil e que a partir de 68 o
da na gente que vai a teatro, que processo de empobrecimento ten-
tem um poder aquisitivo maior deu sempre a crescer, todas as per-
etc. Mas essa gente gosta de teatro. guntas que restam sobre a mesa se
E tem uma coisa: acho que o apri- referem ao seguinte: Que fazer?
moramento do teatro vem de cima Gostaria que cada um dos convi-
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dados termisasse este debate res- gumas colocaçõ~s que :u fiz po.
dem ter dado a impressao de que
pondendo a es a pergunta.
eu sou um pessimista, mas não sou
Fernando - Continuar trabalhan- não. Sou um homem que tem urna
do, só isso. profunda fé_eque_todo di_aao acor.
Yan - Se nós soubéssemos dar fala assim: nao tem importân-
o que fazer, provavelmente não cia nenhuma, apesar de eles serem
estaríamos aqui. É uma cons- muitos, a gente caminha pra frente
tatação melancólica, mas é a ver- e nós vamos chegar lá. Quando cai
dade. O que se nos oferece com um, aparece outro, e a gente leva a
maior espontaneidade é constatar coisa pra frente. Porque a humani-
o que não está funcionando. E se a dade não vai se perder. Para se li-
saída não se nos oferece com tanta bertar da escravidão, o homem
facilidade, é que ela não está em teve que lutar muito, mas conse-
nossas mãos, ou está muito pouco. guiu. Foi muito tempo, não foi do
Ainda assim, acho que cada um dia para a noite, e tudo aqui no
individualmente, cada um dos ar- Brasil é muito novo, é muito jo-
tistas criadores que estão em ativi- vem, este é um país jovem. Então
dade, os críticos também, cada um nós vamos conseguir as coisas. ~
poderia muitas vezes, no decorrer difícil, mas enquanto a gente tiver
de sua carreira, ter feito um esforço essa coisa que a gente tem e nin-
maior, e talvez já estivéssemos al- guém pode tirar da gente, que é o
guns passos adiante. Mas, soluções bom humor, a gente chega lá. Mes-
mágicas não posso sugerir. mo rachando o bico, a gente chega
Plínio Marcos - Eu só queria que lá. _Por isso é bola pra· frente que
vocês considerassem o seguinte: al- atras vem gente. Tá?
Durante oito semanas, a cada segunda-feira, entre
s dias 7 de abril e 26 de maio de 1975, o Teatro Casa
rande do Rio realizou o I Ciclo de Debates da Cultura
Contemporânea. Reunindo cerca de 30 profissionais,
críticos e especialistas em cinema, teatro, música popu-
lar, televisão, artes plásticas, imprensa, literatura e publi-
cidade, o I Ciclo atraiu por sessão uma média de 1 400
pessoas, na maioria jovens, para participar das exposi-
ções e discussões sobre os problemas da cultura no Bra-
sil de hoje.
Os textos aqui publicados, íntegra dos debates reali-
zados, certamente servirão como material de análise aos
responsáveis pelo desenvolvimento intelectual deste
país.
Os debates cobrem as áreas de:
cinema
teatro
música popular
artes plásticas
televisão
jornalismo
literatura
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Participaram dos debates


ro rt p ino carta
rubens gerschman antõnio houais
frederico de morais alceu amoroso lima
paulo ponte affonso romano de santanna
prof. muniz sodré antõnio c,ndido
walter avancini antõnio callado
olfvio tavares de araújo darwin brandão
josé cario avelar franco paulino
alex vianny • japias u
león hirschman hugo weiss
fernando torres Chevalier
yan michalski villas-boas
plfnio marcos
albino pinheiro
érgio cabral
sérgio ricardo
chico buarque
ziraldo
zuenir ventura

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