Você está na página 1de 16

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE IGARAPÉ/MG

IMOBILIÁRIA, vem, mui respeitosamente, na pessoa de seu


patrocinador, apresentar

AÇÃO ANULATÓRIA TRIBUTÁRIA

Face ao FAZENDA, pessoa jurídica de direito público, QUALIFICAÇÃO, pelos fatos e


direitos que na sequência serão expostos.

I – SINOPSE FÁTICA

Altura é legítima proprietário de um imóvel registrado sob


matrícula nº, então registrado no Serviço Imobiliário de CIDADE, e que não foram
transcritos para o Registro TSL, desde abril de XXXX. Trata-se de um terreno de 15000
ha, na zona urbana de Igarapé, denominado residencial Candelária.

Desde a data de sua aquisição, a autora tem tentado regularizar o


referido imóvel para promover o loteamento do local, sem sucesso em virtude das
dificuldades impostas pela fazenda ora ré.

1
Como se trata de um local em que busca-se regularizar, até a
presente data não há qualquer tipo de infraestrutura, tais quais meio-fio, calçamento,
água e esgoto, energia elétrica, ou qualquer outro tipo de serviço público essencial.

Ocorre que, considerando o interesse em lotear o local, alguns


locais do imóvel foram invadidos e demarcados irregularmente, por posseiros
desconhecidos.

Neste aspecto, a autora tem promovido variadas ações para


reaver a posse destas terras, bem como finalizar a regularização do imóvel como um
todo.

Fato é, portanto, que o imóvel é de propriedade legal e de fato


da autora, e esta tem assumido todos os ônus relativos ao mesmo. Dentre eles, temos o
IPTU.

Acontece que a prefeitura de Igarapé tem realizado lançamentos


regulares sobre imóveis individualizados dentro do imóvel da autora, inclusive em nome
de terceiros que não possuem a legitimidade sobre estes mesmos bens. Porém, tais
lançamentos são um grande empecilho para que a Autora possa continuar o seu projeto
de regularização do imóvel como um todo.

Em função disto, autora busca a regularização de imóveis


específicos, principalmente em relação aos valores de IPTU lançados contra eles. Os
imóveis estão relacionados pelos índices cadastrais abaixo, em tabela:

2
Todos estes imóveis estão delimitados irregularmente dentro do
imóvel da Autora, objeto da presente lide, e possuem lançamentos que remontam aos
anos de 1980, no importe total de R$ XXXXXX.

Portanto, e mediante depósito judicial, a Autora busca discutir


parte destes lançamentos que se encontram prescritos, além de discutir também a
legalidade da exação, vez que o bairro Candelária não possui qualquer infraestrutura
que autorize a exigência do IPTU, conforme será demonstrado à seguir.

II – DO DIREITO
II.1 - DA PRESCRIÇÃO – IPTU – TRIBUTO COM LANÇAMENTO DE OFÍCIO
– JURISPRUDÊNCIA PACIFICADA

A discussão na presente anulatória tem por escopo o Imposto


sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU – que, nos termos da matriz
constitucional, possui regulamentação no CTN precisamente no artigo 32 e seguintes,
que assim dispõe:

Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade


predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio
útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como
definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.

Neste passo, trata-se, portanto, de tributo cujo lançamento


ocorre de ofício, ou direto, como vemos da doutrina basilar1:

[...] o fisco age por conta própria, diretamente, verificando a


ocorrência do fato gerador, determinando a matéria tributável,
calculando o montante do imposto devido, identificando o sujeito
passivo e promovendo sua notificação. É o lançamento por excelência,
em que a atuação privativa do agente administrativo fiscal é
inafastável. (...).
No lançamento direto, o risco de interpretação da legislação tributária
é sempre do fisco, bem como dele a responsabilidade pela entrega
1
Direito financeiro e tributário. HARADA, Kiyoshi – 26. ed. ver. atual. e ampl – São Paulo: Atlas, 2017.
Pág. 633

3
tempestiva, ao sujeito passivo da respectiva notificação. É o caso, por
exemplo, do IPTU. (grifo nosso)

Além disso, a jurisprudência pátria é firme no mesmo


entendimento, conforme colacionamos na sequência entendimento pacificado pelo
Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE


INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL - IPTU -
CONTRIBUIÇÃO PARA CUSTEIO DO SERVIÇO DE
ILUMINAÇÃO PÚBLICA - EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE - PRESCRIÇÃO - PRAZO QUINQUENAL -
TERMO INICIAL - DIA SEGUINTE À DATA DE VENCIMENTO
DO CRÉDITO - TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO DE
OFÍCIO - JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA - EXTINÇÃO DA DEMANDA DE ORIGEM - FIXAÇÃO
DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - POSSIBILIDADE -
RECURSO PROVIDO - DECISÃO AGRAVADA REFORMADA.
- A Exceção de Pré-Executividade é incidente processual de caráter
excepcional, de construção doutrinária e pretoriana, idealizada com a
finalidade inicial de impedir o prosseguimento de processo executivo
que apresente irregularidades consubstanciadas em matérias de ordem
pública, cognoscíveis de ofício pelo juiz, desde que já exista prova
pré-constituída do direito alegado.
- Sendo o débito exequendo de natureza tributária, deve ser observado,
no tocante à pretensão de ajuizamento de execução fiscal, o prazo
prescricional quinquenário de que trata o artigo 174 do Código
Tributário Nacional.
- Em se tratando de tributos cujo lançamento é feito de ofício, o termo
inicial desse prazo deve corresponder ao dia que sucede a data de
vencimento do crédito, sem que haja pagamento.
- O parcelamento do débito concedido de ofício pelo credor da
obrigação tributária não constitui hipótese de suspensão do prazo
prescricional.
- É possível a fixação de honorários advocatícios em Exceção de Pré-
Executividade, nos casos em que o acolhimento do incidente resultar
na extinção da execução.  (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0000.22.221004-9/001, Relator(a): Des.(a) Márcio Idalmo Santos
Miranda , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/05/2023,
publicação da súmula em 29/05/2023) (grifo nosso)

Portanto, temos por certo que, sendo lançamento de ofício, a


regra prescricional do IPTU está contida no artigo 174 do Código Tributário Nacional,
in verbis:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em


cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

4
Em resumo, o termo inicial do prazo prescricional para
exigência do IPTU inicia-se no dia seguinte a data estipulada para o vencimento da
exação. Inclusive, este é o entendimento do STJ conforme tese fixada no tema 980,
julgado sob o regime de julgamento de recursos repetitivos, como colacionamos na
sequência:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. IPTU. PRESCRIÇÃO.
TERMO INICIAL. DIA SEGUINTE AO VENCIMENTO DA
EXAÇÃO. PARCELAMENTO DE OFÍCIO DA DÍVIDA
TRIBUTÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO DE CAUSA
SUSPENSIVA DA CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO. MORATÓRIA
OU PARCELAMENTO APTO A SUSPENDER A EXIGIBILIDADE
DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NECESSÁRIA MANIFESTAÇÃO
DE VONTADE DO CONTRIBUINTE. PARCELAMENTO DE
OFÍCIO. MERO FAVOR FISCAL. APLICAÇÃO DO RITO DO
ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015. ART. 256-I DO RISTJ.
RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO DE BELÉM/PA A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.
1. Tratando-se de lançamento de ofício, o prazo prescricional de cinco
anos para que a Fazenda Pública realize a cobrança judicial de seu
crédito tributário (art. 174, caput do CTN) referente ao IPTU, começa
a fluir somente após o transcurso do prazo estabelecido pela lei local
para o vencimento da exação (pagamento voluntário pelo
contribuinte), não dispondo o Fisco, até o vencimento estipulado, de
pretensão executória legítima para ajuizar execução fiscal objetivando
a cobrança judicial, embora já constituído o crédito desde o momento
no qual houve o envio do carnê para o endereço do contribuinte
(Súmula 397/STJ). Hipótese similar ao julgamento por este STJ do
REsp. 1.320.825/RJ (Rel. Min. GURGEL DE FARIA, DJe
17.8.2016), submetido ao rito dos recursos repetitivos (Tema 903), no
qual restou fixada a tese de que a notificação do contribuinte para o
recolhimento do IPVA perfectibiliza a constituição definitiva do
crédito tributário, iniciando-se o prazo prescricional para a execução
fiscal no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
2. O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa
interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte
não anuiu.
3. O contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vontade,
em decorrência de uma opção unilateral do Estado, que resolve lhe
conceder a possibilidade de efetuar o pagamento em cotas parceladas.
Se a Fazenda Pública Municipal entende que é mais conveniente
oferecer opções parceladas para pagamento do IPTU, o faz dentro de
sua política fiscal, por mera liberalidade, o que não induz a conclusão
de que houve moratória ou parcelamento do crédito tributário, nos
termos do art. 151, I e VI do CTN, apto a suspender o prazo
prescricional para a cobrança de referido crédito.
Necessária manifestação de vontade do contribuinte a fim de
configurar moratória ou parcelamento apto a suspender a exigibilidade
do crédito tributário.

5
4. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015 (art. 256-I do RISTJ, incluído pela Emenda Regimental 24
de 28.9.2016), cadastrados sob o Tema 980/STJ, fixando-se a seguinte
tese: (i) o termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do
Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no dia seguinte
à data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o parcelamento de
ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da
contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu.
(REsp n. 1.641.011/PA, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
Primeira Seção, julgado em 14/11/2018, DJe de 21/11/2018.) (grifo
nosso)

Sobre a prescrição, trata-se de modalidade de extinção do


crédito tributário2, no qual o poder público perde o direito de ação em função do
decurso temporal. É um prazo para o exercício do direito arrecadatório. O instituto
prescricional tem por escopo retirar do pescoço do contribuinte a espada de Dâmocles,
para que este não venha a sofrer em função da inércia estatal.

No presente caso concreto, e conforme já informado alhures, a


Autora é a proprietária de direito e de fato dos imóveis arrolados nos índices cadastrais
tabelados anteriormente, de maneira a ser a contribuinte do IPTU junto da fazenda
municipal de Igarapé.

Neste passo, existem contra ela lançamentos da exação que


remontam a década de 80, e que estão sendo exigidos neste instante pela
municipalidade. Como se vê do relatório anexo, os valores abertos anteriores aos anos
de 2018 restam acobertados pelo manto da prescrição, não devendo mais serem exigidos
pela fazenda municipal, ora Ré.

Para tanto, a Autora anexa a esta peça as guias de IPTU


referente a todas as inscrições a qual se busca discutir a exação, no sentido de ver o seu
direito resguardado para não recolher tributo prescrito, mais precisamente referente a
anos anteriores ao exercício de 2018, cujo valor atualizado é de R$ 107.202,72 (cento e
sete mil, duzentos e dois reais, e setenta e dois centavos).

2
nos termos do artigo 156, V, do CTN.

6
Assim, a Autora busca a tutela jurisdicional para ver declarado a
prescrição dos lançamentos de IPTU anteriores à 2018, referentes aos imóveis arrolados
nos índices cadastrais já apontados anteriormente.

II.2 - INEXIGÊNCIA DO IPTU – INEXISTÊNCIA DE MELHORAMENTOS


URBANOS – BAIRRO QUE NÃO SE ENCONTRA EM ÁREA DE EXPANSÃO
URBANA - ILEGALIDADE

O parágrafo primeiro do artigo 32 do CTN, caput já citado


anteriormente, informa que para exigência do IPTU é necessário a existência de
melhoramentos indicados em seus incisos qual seja: meio-fio ou calçamento,
abastecimento de água, sistema de esgoto sanitário, rede de iluminação pública, e escola
primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 km. Estes são os termos
literais da legislação, como colacionamos in verbis:

Art. 32 (...)
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a
definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência
de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos
seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para
distribuição domiciliar;
V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3
(três) quilômetros do imóvel considerado.

A doutrina pátria é uníssona no sentido de que, para exigência


do IPTU, deve ser [...] observado o requisito mínimo da existência de 2 dos
melhoramentos públicos referidos no §1º do artigo 32 do CTN3.

Neste mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas


Gerais tem entendimento literal sobre o dispositivo legal em epígrafe, no sentido de
impedir a exigência do IPTU sobre imóvel situado em local onde não há os
melhoramentos elencados na lei, sob pena de ilegalidade da exação. Colacionamos
ementa abaixo:

3
HARADA, opus citatum, pág. 535.

7
EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO - TRIBUTÁRIO -
EXECUÇÃO FISCAL - LOTEAMENTO NAÕ REGISTRADO
EM CARTÓRIO - INEXISTÊNCIA - DESCUMPRIMENTO
DO §1º DO ART. 32 DO CTN - COBRANÇA INVIÁVEL DE
IPTU. I. O lançamento do IPTU é feito de ofício, anualmente,
com base em informações cadastrais do contribuinte junto ao
fisco municipal, com fato gerador previsto em lei, e alíquotas
publicadas em decreto.
II. Se o lote não possui registro em cartório e sequer foi
observado o disposto no art. 32, §1º do CTN, é ilegal a cobrança
de IPTU sob pena de enriquecimento ilícito do Município.
(TJMG - Ap Cível/Reex Necessário  1.0525.11.001081-2/001,
Relator(a): Des.(a) Vieira de Brito , 8ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 14/06/2012, publicação da súmula em
26/06/2012) (Grifo nosso)

Ainda:

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL -


EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - TRIBUTÁRIO -
MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE - IPTU - ART. 32, §§ 1º E 2º,
DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL - ZONA URBANA -
INEXISTÊNCIA DE MELHORAMENTOS - ZONA RE
PRESERVAÇÃO "ZP-1" - LEI MUNICIPAL N.º 7.166/1996 -
RESTRIÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO - BASE DE CÁLCULO -
VALOR VENAL - TOMBAMENTO - ISENÇÃO - LEI
MUNICIPAL N.º 3.802/1984 - LEI MUNICIPAL N.º 5.839/1990 -
DECRETO MUNICIPAL N.º 11.581/2003 - REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO - DISPENSABILIDADE -PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS LEGAIS.
1. Não incide IPTU sobre imóvel situado na área de tombamento da
Serra do Curral, demonstrada a circunstância por meio de prova
pericial, ao passo que a falta de requerimento administrativo não
afasta a possibilidade de reconhecimento judicial da circunstância.
2. Não incide IPTU sobre imóvel localizado em zona urbana do
Município, mas que não seja beneficiado pelos melhoramentos
indicados no § 1º do art. 32 do CTN, ou em que não haja loteamento
aprovado, nos termos do § 2º do mesmo dispositivo.
3. A definição do imóvel como "zona de proteção" (ZP-1"), embora
não lhe impeça a ocupação, submete-o a diversas contingências para
seu uso e parcelamento nos termos da Lei de Uso e Ocupação do Solo
municipal, retirando-lhe seu pleno valor venal.
4. Sentença confirmada, em reexame necessário, e recurso voluntário
prejudicado.  (TJMG -  Ap Cível/Reex Necessário  1.0024.09.576222-
5/001, Relator(a): Des.(a) Edgard Penna Amorim , 8ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 02/10/2014, publicação da súmula em
13/10/2014) (grifo nosso).

8
Pontuamos, contudo, que o STJ sumulou entendimento4 no
sentido de que: a incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela
lei local como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à existência
dos melhoramentos elencados no artigo 32, §1º, do CTN.

Ou seja, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça, ainda


que o imóvel não esteja localizado em área que possua dois dos melhoramentos
elencados na legislação, caso se trate de área de expansão urbana ou urbanizável, o
IPTU seria exigível. Caso contrário, a exação se tornaria ilegal, por afronta direta a
texto da lei.

No caso concreto, os imóveis cadastrados nos índices arrolados


nesta peça estão localizados no bairro Candelária. Trata-se de bairro que não possui a
menor das infraestruturas básicas, quanto menos os melhoramentos apontados no §1º do
artigo 32 do CTN. A referida área é um bairro que não possui calçamento, meio-fio,
abastecimento de água, sistema sanitário, ou qualquer tipo de rede de iluminação
pública, além de estar distante, a mais de três quilômetros, de qualquer escola primária
ou posto de saúde municipal.

Anexamos, à exordial, planta detalhada do local, demonstrando


a localização dos imóveis, foto de satélite e fotos locais, para demonstrar que não existe
a menor infraestrutura ou melhoramento no local.

Portanto Excelência, pergunta-se: considerando as fotos


anexadas a esta petição, não seria um absurdo a municipalidade exigir qualquer tipo de
tributo, inclusive o IPTU, naquele local?

Portanto, trata se de bairro totalmente esquecido e abandonado


pelo poder público municipal. Os já referidos imóveis não possuem matrícula
individualizada, pois a única matrícula referente ao bairro Candelária é aquela à qual
apontamos a propriedade da Autora, qual seja, a matrícula de número 59.020, de 1984,
então registrado no Serviço Imobiliário de Betim/MG, e que não foram transcritos para
o Registro de Igarapé.
4
Súmula do Superior Tribunal de Justiça de número 626.

9
Quanto a se tratar de área urbanizável ou de expansão urbana, o
plano diretor atual do município de Igarapé não faz qualquer referência a esta situação
em relação ao bairro Candelária.

Em última instância, o bairro Candelária não se enquadra, de


maneira alguma, na exigência do IPTU, seja por ordem expressa do artigo 32 parágrafo
primeiro do CTN, seja pela jurisprudência pacificada pelo superior tribunal de justiça
via súmula 626, vez que o bairro não tem nenhum dos melhoramentos elencados pela
lei, e não é uma área urbanizável ou de expansão urbana.

Resta cristalino, portanto, que a exigência do IPTU sobre os


imóveis apontados nesta ação é totalmente ilegal, cabendo a sua anulação incontinenti.

Considerando que a Autora recolheu os valores dos IPTUs


relativos aos últimos cinco anos, caberia ainda o direito de restituição.

Assim, autora busca deste alvo pretor que declare a nulidade de


todos os IPTUs relacionados nos índices cadastrais anexos, vez que se trata de imóveis
localizados em área que não possui nenhum melhoramento legal, não está localizado em
área de expansão urbana, e não possuem matrículas individualizadas, bem como
declarar o direito à restituir os valores pagos indevidamente.

II.3 - PEDIDO LIMINAR - DO DEPÓSITO JUDICIAL – SUSPENSÃO DA


EXIGIBILIADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – VALORES PRESCRITOS –
PODER DE CAUTELA DO JUIZ

Sobre a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, assim


dispõe o código tributário nacional em seu artigo 151, e inciso II:

Artigo 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


(...)
II - O depósito de seu montante integral;

10
Considerando o dispositivo legal em epígrafe, é perfeitamente
cabível a concessão de medida liminar em função de depósito judicial do montante em
discussão, conforme o entendimento do próprio tribunal de justiça do estado de Minas
Gerais. Neste sentido, colacionamos abaixo entendimento corrente:

EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. JULGAMENTO


ANTECIPADO DA LIDE. POSSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE
DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA LIVRE
PERSUASÃO RACIONAL. PROVA PERICIAL
DESNECESSÁRIA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DEPÓSITO NÃO COMPROVADO.
(...)
- O depósito do montante integral do débito, nos termos do artigo 151,
inciso II, do CTN e art. 38 da LEF, suspende a exigibilidade do
crédito tributário, impedindo o ajuizamento da execução fiscal por
parte da Fazenda Pública.
- Não comprovado o depósito do crédito tributário, a suspensão da
exigibilidade deste revela-se inviável, de sorte que a ação de execução
fiscal deve prosseguir.
(TJMG -  Apelação Cível  1.0024.11.086179-6/001, Relator(a): Des.
(a) Jair Varão , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/11/2012,
publicação da súmula em 07/12/2012)

O deferimento da medida liminar mediante depósito judicial está


dentro do chamado poder de cautela do magistrado. Segundo disposto no artigo 297
do Códex Processual em vigor, o Magistrado tem condições determinar medidas
necessárias para que a tutela jurisdicional seja efetivada satisfatoriamente, conforme
colacionamos in verbis:

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar


adequadas para efetivação da tutela provisória.

Trata-se, portanto, de poder a qual refere-se à atuação


discricionária do juiz no desempenho do chamado “poder geral de cautela”, em cujo
exercício lhe é permitido autorizar a prática, ou impor a abstenção de determinados
atos, não previstos em lei ou nesta indicados apenas exemplificativamente5.

Neste aspecto, a doutrina é firme no sentido de que tal poder


tem pouquíssimas limitações, até pelo simples fato de que durante o exercício da
atividade jurisdicional, haverá situações em que o Magistrado não encontrará guarida

5
Egas Dirceu Moniz de Aragã o in Medidas Cautelares Inominadas, RBDP 57/33

11
total que se adeque ao caso concreto, de forma que deverá tomar decisões adequadas e
fundamentadas em tal poder, conforme leciona Galeno LACERDA6:

No exercício desse imenso e indeterminado poder de ordenar “as


medidas provisórias que julgar adequadas” para evitar o dano à parte,
provocado ou ameaçado pelo adversário, a discrição do juiz assume
proporções quase absolutas. Estamos em presença de autêntica norma
em branco, que confere ao magistrado, dentro do estado de direito, um
poder puro, idêntico ao do pretor romano, quando, no exercício do
imperium, decretava os interdicta.

Em função disto, a jurisprudência pátria construiu-se no entorno


deste poder, até para que o provimento jurisdicional final ainda seja útil, como
colacionamos exemplo de recente julgado do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA PETIÇÃO.


MEDIDA CAUTELAR. DEFERIMENTO EX OFFICIO.
POSSIBILIDADE. LIMITES DO PEDIDO. OBSERVÂNCIA.
DESNECESSIDADE. CARÁTER PROVISÓRIO. EFICÁCIA DA
TUTELA JURISDICIONAL. PREVALÊNCIA. EXORBITÂNCIA.
AJUSTE. CABIMENTO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. O poder geral de cautela, positivado no art. 297 do CPC/2015,
autoriza que o juiz defira medidas 'ex officio', no escopo de preservar
a utilidade de provimento jurisdicional futuro.
(...)
(AgInt na Pet n. 15.420/RJ, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira,
Quarta Turma, julgado em 6/12/2022, DJe de 13/12/2022.)

É de se observar, portanto, que decisão do STJ vem na mesma


linha de seu próprio entendimento, onde o poder geral de cautela é utilizado em virtude
das peculiaridades da demanda, cuja jurisprudência foi consolidada ainda em 2012,
conforme vemos no julgado abaixo colacionado:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. INSTRUMENTO
PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. REEXAME DE
PROVAS. INVIABILIDADE. MEDIDA CAUTELAR.
RESGUARDO DO INTERESSE PÚBLICO. EFETIVIDADE
PROCESSUAL. ADEQUAÇÃO DO PROVIMENTO
JURISDICIONAL ÀS PECULIARIDADES DA DEMANDA.
ARTIGO 798 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CLÁUSULA
GERAL. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. CONHECIMENTO
DE OFÍCIO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. SUSPENSÃO
DA EXECUÇÃO, COM BASE NO PODER GERAL DE
CAUTELA. SITUAÇÃO EXCEPCIONALÍSSIMA.
6
Comentários ao Código de Processo Civil. v. VIII, t. I. Rio: Ed. Forense, 1980. p. 135.

12
POSSIBILIDADE, 1. As medidas cautelares resguardam, sobretudo, o
interesse público, sendo necessárias e inerentes à atividade
jurisdicional. O artigo 798 do CPC atribui amplo poder de cautela ao
magistrado, constituindo verdadeira e salutar cláusula geral, que clama
a observância ao princípio da adequação judicial, propiciando a
harmonização do procedimento às particularidades da lide, para
melhor tutela do direito material lesado ou ameaçado de lesão.
2. A efetividade do processo exige tutela jurisdicional adequada, por
isso o poder geral de cautela pode ser exercitado ex officio, pois visa o
resguardo de interesses maiores, inerentes ao próprio escopo da
função jurisdicional, que se sobrepõem aos interesses das partes.
3. A providência cautelar, ainda que de maneira incidental, pode ser
deferida em qualquer processo, não procedendo a assertiva de que a
verdadeira cláusula geral consubstanciada no artigo 798 do Código de
Processo Civil, mesmo em casos excepcionais, tem limites impostos
pelo artigo 739-A do Código de Processo Civil. Ademais, boa parte
das matérias suscitadas pelo executado são passíveis de conhecimento,
de ofício, pelas instâncias ordinárias, por serem questões de ordem
pública (...)
(REsp n. 1.241.509/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 9/8/2011, DJe de 1/2/2012.)

Neste aspecto, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais


construiu sua jurisprudência em sincronia com o STJ, de maneira a entender que a
utilização dos poderes de cautela visam a adequação da realidade da lide, de maneira
que, ao final do processo, a tutela jurisdicional concedida tenha sentido e eficácia.
Senão vejamos:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA - CELEBRAÇÃO DE ACORDO - CESSÃO DE
CRÉDITO - ALEGAÇÃO DE FRAUDE CONTRA CREDORES -
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - DECISÃO QUE SUSPENDE A
ORDEM DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ PARA LEVANTAMENTO
DE VALORES - CABIMENTO - PODER GERAL DE CAUTELA -
MANUTENÇÃO DA DECISÃO OBJURGADA - PEDIDO DE
APLICAÇÃO DE MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ -
DESCABIMENTO.
- O Poder Geral de Cautela constitui "verdadeira e salutar cláusula
geral, que clama a observância ao princípio da adequação judicial,
propiciando a harmonização do procedimento às particularidades da
lide, para melhor tutela do direito material lesado ou ameaçado de
lesão" (STJ - REsp nº 1.241.509/RJ).
(...)
(TJMG -  Agravo de Instrumento-Cv  1.0000.20.516276-1/009,
Relator(a): Des.(a) Roberto Vasconcellos , 17ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 07/12/2022, publicação da súmula em 07/12/2022)

Ainda, e considerando o poder geral de cautela, o juízo pode


conceder medidas liminares, mesmo que em situações que vão de encontro ao

13
procedimento especial imposto, desde que, obviamente, seja demonstrado os requisitos
impositivos de sua concessão, segundo vemos em julgado recente:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE


POSSE. SERVIDÃO DE PASSAGEM. FORÇA NOVA.
REQUISITOS PREVISTOS PELO ART. 562 CPC/15. NÃO
PREENCHIDOS. PODER GERAL DE CAUTELA.
POSSIBILIDADE. TUTELA PROVISÓRIA. ART. 300 CPC/15.
DEFERIDA. DECISÃO MANTIDA.
(...)
2. Diante da inaplicabilidade do procedimento especial, pode o
magistrado, verificando o atendimento dos requisitos estampados no
art. 300 do CPC/15, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo, deferir, com base no
poder geral de cautela, tutela provisória de urgência, com vistas a
conceder à reintegração provisória da posse.
(...)
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.270940-6/002,
Relator(a): Des.(a) Fausto Bawden de Castro Silva (JD Convocado) ,
9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/12/2022, publicação da
súmula em 14/12/2022)

É neste sentido que a Autora busca depositar em juízo o


montante discutido relativo aos valores prescritos, quais sejam, os lançamentos de IPTU
anteriores ao ano de 2018.

Como se vê das guias anexas, a fumaça do bom direito, ou


verossimilhança das alegações, está presente nas datas dos exercícios dos IPTUs
lançados anteriores a 2018. Isto porque, fato é que valores lançados há mais de 5 anos
restam prescritos conforme dicção legal explicada nos tópicos anteriores.

Considerando que a Autora fez o recolhimento dos IPTU dos


últimos 5 anos, é necessário suspender os demais valores, quais sejam, aqueles
anteriores aos anos de 2018, para discutir a prescrição sem correr o risco de se ver alvo
de procedimento executório pela fazenda municipal. Neste aspecto se consubstancia o
perigo da demora.

Além disto, a exigência de tributos vencidos contra si acarretaria


para a Autora inúmeros prejuízos relativos à concessão de crédito bancário,
procedimentos administrativos juntos das fazendas públicas, impedimento de emissão
14
de certidão negativa de débito, bem como a exigência de juros e correção monetária do
próprio tributo em si.

Ou seja, realizado o depósito judicial, a além da fazenda ter a


segurança de garantir o crédito aqui discutido, a Autora/Contribuinte estará segura
juridicamente para discutir o seu direito.

Assim, a autora pugna pela concessão da medida liminar para


suspender o IPTU discutido em relação à prescrição, vez que estão presentes os seus
requisitos legais, bem como seu montante integral resta depositado logo após o
protocolo desta ação.

III - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, a Autora pugna:

A) pela concessão da medida liminar pleiteada, mediante


depósito judicial do valor de R$ 107.202,72 (cento e sete
mil, duzentos e dois reais, e setenta e dois centavos), no
sentido de suspender a exigibilidade do crédito de IPTU
referente aos exercícios anteriores ao ano de 2018, relativos
aos índices cadastrais apontados anteriormente, para que
possam ser discutidos nesta lide sem o risco de eventual
execução fiscal contra a autora;

B) Pela extinção total do crédito de IPTU lançado contra os


imóveis relacionados nos índices cadastrais anexos, por total
afronta a legalidade, vez que não possuem nenhum dos
melhoramentos insculpidos no artigo 32, §1º, do Código
Tributário Nacional, com a declaração ao direito à restituição
de valores indevidamente recolhidos;

C) ou, ainda, no caso deste juízo não entender pela


ilegalidade da exação, pugna pela extinção dos lançamentos

15
realizados referentes aos exercícios anteriores a 2018, no
valor de R$ 107.202,72 (cento e sete mil, duzentos e dois
reais, e setenta e dois centavos), vez que acobertados pela
prescrição; e

D) pela condenação da fazenda em honorários


sucumbenciais.

Para tanto, altura requer ainda:

1. A citação da Fazenda Pública Ré, na pessoa de seu


Procurador, para que apresente sua resposta;

2. A produção de provas documentais, a iniciar-se por aquelas


anexados a esta vestibular;

3. A habilitação do sob pena de nulidade.

Dá à causa o valor de R$ 149.760,02 (cento e quarenta e nove


mil, setecentos e sessenta reais, e dois centavos)

Termos em que, pede deferimento.

Belo Horizonte, 26 de junho de 2023.

16

Você também pode gostar