Você está na página 1de 100

A arte de envelhecer

consiste em conservar
alguma esperança.
André Maurois
Cuidar de si e do outro
O cuidador no Alzheimer
Plano de trabalho do cuidador
Crescimento da população idosa
Nova qualidade de vida
Um nova expectativa de vida
Patologias no envelhecimento
Primeiros sintomas
Tríade
Alzheimer
Fases do Alzheimer
Dificuldades no cuidado do idoso com Alzheimer
Memória e distúrbios de linguagem
Cuidador e funções cognitivas
Na última fase, chamada de grave ou avançada, cuja duração é de um a três
anos, em média, há um grave comprometimento de todas as funções
cognitivas e, normalmente, o paciente requer cuidados em tempo integral
(Pavarini et al., 2008). Em geral, nesta última fase, há problemas de
deglutição, crises convulsivas, incontinências urinária e fecal (Bottino et al.,
2002). O paciente praticamente não se recorda de fatos recentes ou antigos,
não reconhece mais os familiares, não compreende uma explicação e repete
palavras sem sentido, no entanto, conserva a memória emocional que o
ajuda a colaborar com as pessoas que o assistem e que o estimam (Martínez,
2002). Em todas as fases, além dos déficits cognitivos e das alterações de
comportamento, os pacientes muitas vezes sofrem com “problemas de
discriminação social, mudança no papel social, solidão, problemas financeiros
e desconforto emocional, associados ou não a algum comprometimento
físico” (Ávila, 2003, p. 140).
Evitando o burnout em cuidadores
Na literatura sobre cuidadores, existe um termo similar que capta a sensação específica de atuar num
papel que se torna oneroso. Assim, o termo burden, usualmente traduzido como “sobrecarga” na
literatura científica brasileira (também equivalente a “fardo”), é conhecido e utilizado
internacionalmente para representar a sensação de sobrecarga física e emocional vivenciada pelo
cuidador (Luzardo, Gorini & Silva, 2006). Conforme a sensação de sobrecarga aumenta, a qualidade
afetiva da relação com o idoso tende a ficar cada vez menor. De acordo com Garrido e Almeida (1999),
alguns pesquisadores classificam esta percepção quanto a aspectos objetivos e subjetivos.
Demandas do cuidador
Segundo Neri e Sommerhalder (2006), ainda que a exigência do cuidado seja
mais forte no início do papel, a percepção da sobrecarga pode se estabilizar ou
até mesmo diminuir ao longo do tempo, devido a um efeito de adaptação. Isto
ocorre porque, com o passar do tempo, o cuidador melhora sua competência
para cuidar, modifica suas expectativas e estabelece novas maneiras de manter
seu equilíbrio psicológico. Estas autoras apontam, ainda, que os cuidados a serem
prestados variam muito ao longo do dia. Cuidar de um idoso com demência não é
um processo linear e em função disto, o cuidador experimenta em um único dia
os mais variados sentimentos, tanto positivos como negativos. Assim, a
intensidade do auxílio prestado pelo cuidador ocorre dentro de um continuum e
estas oscilações para cima e para baixo fazem com que o cuidador leve um tempo
para se dar conta de uma piora no desempenho do seu familiar. Além disso, o
cuidador entende que a doença de seu parente vai evoluir e aceita o aumento de
obrigações como sendo tarefas adicionais esperadas e naturais do seu papel de
cuidador. O problema disto é que o aumento nas demandas do cuidado contribui
para a exaustão do cuidador.
Cuidador de um idoso com Alzheimer
Segundo Andrade (2009), cuidar de pessoas com demência é uma tarefa muito mais estressante do que atender pessoas
com deficiências físicas ou com poucos problemas emocionais ou de conduta, pois o cuidador de um idoso com demência
tem que fazer mudanças significativas no seu estilo de vida, suas interações sociais tornam-se cada vez mais limitadas, a
relação interpessoal cuidador-enfermo sofre alterações e diminui a gratidão por parte do receptor dos cuidados. Não
obstante, Andrade (2009) aponta inúmeras variáveis que incidem na sobrecarga, como por exemplo, anos de duração da
doença, problemas de conduta do idoso (agressividade, incontinência, acusações e apatia), estilos de enfrentamento do
cuidador, recursos financeiros, apoio emocional, outros papéis que o cuidador desempenha e as emoções oriundas da
relação cuidador-paciente, onde maior frequência de emoções negativas implica em maior sobrecarga. No entanto,
situações difíceis tendem a levar a uma mistura de sensações muito negativas e muito positivas, porque conduzem a
questionamentos e respostas muito pessoais sobre diferentes aspectos da vida, podendo incluir momentos quando a
sensação de intimidade com a pessoa cuidada é muito forte (Stroebe, Folkman, Hansson et al., 2006).
Habilidades de enfrentamento
Outros autores trazem reflexões adicionais sobre diferentes classes de recursos que podem
ajudar a lidar com situações estressantes: a) estratégias de enfrentamento, que envolvem
esforços por parte do cuidador para controlar e modificar seus pensamentos e reações
emocionais, perante diferentes aspectos da situação de cuidado, e b) medidas de
gerenciamento, que dizem respeito a tentativas por parte do cuidador de mudar o que outra
pessoa faz (comportamentos do idoso cuidado, ou de outros familiares, por exemplo),
incluindo esforços para criar um contexto no qual é possível evitar que aconteça algo
específico que provoca estresse no cuidador (Blieszner et al., 2007). Ou seja, existem alguns
mediadores que podem atuar como amortecedores ou como intensificadores das pressões
que o cuidador experimenta (Sommerhalder & Neri, 2006). Essas autoras esclarecem que a
presença de mediadores como habilidades de enfrentamento e de gerenciamento da situação
podem atuar como amortecedores do estresse e que a falta destas habilidades e a falta de
ajuda atuam como intensificadores, porque aumentam as pressões sobre o cuidador.
Habilidades pessoais do cuidador
Habilidades que alguém usa para tornar mais positiva a forma como interpreta e age numa determinada situação dizem
respeito ao controle de pensamentos e emoções que podem levar a uma postura e envolvimento mais construtivos. Estas
habilidades são especialmente importantes para um cuidador de alguém com demência, porque, de forma geral, a pessoa
com demência, por si só, não tem como controlar seus comportamentos que causam impactos negativos para os demais.
Neste contexto, pode-se considerar que um dos recursos importantes para o enfrentamento do estresse, já usado em
outros estudos mencionados na revisão da literatura, é uma melhor compreensão da demência por parte do cuidador.
Neste caso, o aprimoramento das habilidades pessoais que alguém possui para enfrentar situações estressantes pode
envolver a capacidade de reconhecer um novo significado para um comportamento que usualmente seria interpretado
como antissocial, mas que agora deve ser visto como sendo um comportamento sem esta intencionalidade, por ter sido
emitido por uma pessoa com capacidades cognitivas alteradas. Quando os cuidadores ainda não compreendem as
alterações que estão acontecendo com seu parente, especialmente na fase inicial da doença, a maioria acredita que o
idoso perdeu a motivação ou não está sendo estimulado (Blieszner et al., 2007).
Relações interpessoais no cuidado com idosos
Habilidades sociais são constructos que enfatizam a funcionalidade do
comportamento (adequação ao contexto ou consequências obtidas) e o conteúdo
do comportamento (topografia de classes de comportamento) (Del Prette & Del
Prette, 1999). Assim, as habilidades sociais podem ser definidas como “o conjunto
dos desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas de uma
situação interpessoal, considerando-se a situação em sentido amplo” (Del Prette &
Del Prette, 1999, p. 47). Por outro lado, possuir habilidades sociais não garante que
as relações interpessoais sejam bem sucedidas porque, não necessariamente, o
indivíduo utiliza o repertório que possui, seja por questões de ansiedade, de crenças
equivocadas ou de dificuldades na leitura dos sinais do ambiente (Del Prette & Del
Prette, 2007). Portanto, diante de uma situação de cuidado, o indivíduo pode
comporta-se de maneira assertiva, não assertiva ou agressiva, a despeito do
repertório ou dos déficits em habilidades sociais que possui.
Comportamento assertivo
A assertividade “envolve a afirmação dos próprios direitos e expressão
de pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, honesta e
apropriada, que não viole o direito das outras pessoas” (Lange &
Jakubowski, 1976, p. 7, citado por Del Prette & Del Prette, 1999). Dos
inúmeros exemplos de contraposição entre comportamento assertivo,
não assertivo e agressivo, pode-se citar a questão da valorização de si
próprio. Neste caso, um indivíduo com comportamento assertivo é
capaz de valorizar-se, mas sem ferir o outro; se o comportamento for
não assertivo, este indivíduo irá desvaloriza-se; e se o comportamento
for agressivo, a pessoa irá valorizar-se, mas irá ferir os demais (Del
Prette & Del Prette, 1999).
Cuidador
Comportamento verbal
Os comportamentos verbais, segundo Del Prette e Del Prette (1999), dizem respeito à
comunicação verbal, que é composta por signos reguladores do intercâmbio verbal,
facilitando assim, a compreensão do que se fala. São exemplos de componentes verbais de
conteúdo:
• fazer/responder perguntas, solicitar mudança de comportamento, lidar com críticas,
pedir/dar feedback, opinar/concordar/discordar, elogiar/recompensar/gratificar,
agradecer, fazer pedidos, recusar, justificar-se, autorevelar-se/usar o pronome EU, usar
conteúdo de humor
Componentes verbais
A topografia da fala é representada por Del Prette e Del Prette (1999) por meio dos componentes
verbais de forma, tais como latência e duração, regulação (bradilalia, taquilalia, volume, modulação) e
transtornos da fala. Os componentes verbais de forma são elementos imprescindíveis para relações
interpessoais, porque, embora não estejam relacionados ao conteúdo do que se quer transmitir,
permitem melhorar “como” se quer transmitir tal conteúdo. Em situações estressantes que o cuidador
de um parente com demência enfrenta, especialmente em interações com a pessoa doente, um bom
desempenho em relação aos componentes verbais de forma é de suma importância, porque é preciso
tratar o outro sempre com respeito, buscando acalmar e demonstrar carinho, quando possível, para que
o parente idoso e outros familiares ouçam o cuidador e não construam obstáculos psicológicos que
dificultem as interações
Componentes não verbais
Os componentes não verbais também influenciam
significativamente as relações interpessoais, já que podem
chegar a representar 65% da comunicação (Del Prette & Del
Prette, 1999). A linguagem não verbal precede a linguagem
verbal desde os primórdios, até o desenvolvimento das
habilidades comunicativas das crianças e, curiosamente, não
desaparece quando a fala se instala nas pessoas. As emoções
são muito mais facilmente expressadas de forma não verbal
do que verbalmente. Isto se deve ao fato de que para muitos
sentimentos não há palavras que possam traduzir com
fidedignidade o que se está sentindo (Del Prette & Del Prette,
2005).
Comunicação não verbal
A comunicação não verbal, segundo Argyle (1967/1994), citado por Del Prette e Del Prette (1999), tem
três funções: comunicar atitudes e emoções, apoiar de forma não verbal a comunicação verbal e
substituir a comunicação verbal pela não verbal. Em alguns momentos, a comunicação não verbal pode
contradizer a verbal. É o caso quando se pergunta a alguém que está visivelmente bravo se está tudo
bem e, então, esta pessoa diz: “sim, está tudo bem”. Ou seja, pode-se observar que aquela pessoa não
está bem, mas por alguma razão, ela diz que sim. O interlocutor neste caso, mesmo ouvindo a
comunicação verbal não acredita que está tudo bem, porque a comunicação não verbal é uma
informação crível. O fato que a pessoa disse que está, sim, tudo bem, no entanto, cria uma demanda
interpessoal diferente do que se tivesse falado que estava bravo, porque o ouvinte precisa,
primeiramente, avaliar se deve e como deve abordar sua percepção de braveza do seu interlocutor.
Comunicação não verbal
Para Caballo (1993), a comunicação não verbal é algo inevitável na presença de outras
pessoas. Mesmo que o indivíduo seja incapaz de comunicar-se verbalmente ou não queira
falar, ele emite mensagens sobre si mesmo aos demais por meio de seu rosto e de seu
corpo, e as mensagens não verbais são recebidas de forma não consciente. As pessoas têm
impressões sobre os demais a partir da conduta não verbal, mesmo sem saber identificar o
que agrada ou o que irrita no outro. Para ilustrar melhor este fenômeno, segue uma tabela
que Argyle elaborou em 1975, citada por Caballo (1993), e que aponta o grau de
consciência que um indivíduo mantém quando se encontra imerso no terreno da
comunicação não verbal.
comunicação verbal
• Olhar e contato visual
• Sorriso
• Expressão facial
• Gestualidade
• Postura corporal
• Movimentos com a cabeça
• Contato físico
• Distância/proximidade
Adaptações no ambiente
Na maioria das vezes, o ambiente físico da moradia não está adequadamente
organizado em função das pessoas idosas. Quase sempre esse ambiente precisa
de adaptações para as naturais mudanças ocorridas com o envelhecimento do
organismo humano ou mesmo em decorrência de doenças que podem ocorrer à
pessoa nessa etapa da vida.
Algumas situações podem levar o idoso a quedas: tonturas, fraqueza, visão e
equilíbrio reduzidos, distúrbios de marcha, dentre outros.
As adaptações ao ambiente físico passam a ser necessárias, e devem trazer
segurança à pessoa idosa, de modo a diminuir riscos de acidentes, evitar quedas,
facilitar o decorrer de sua vida diária, considerando que a rotina deve ser a base
de suas atividades, além de facilitar a tarefa do cuidador, permitindo maior
autonomia e independência da pessoa idosa e de quem a acompanha.
Estruturando o ambiente
A recomendação, no entanto, é que essas modificações ambientais sejam feitas
gradualmente, para que a pessoa idosa vá se acostumando, participando delas,
percebendo a sua necessidade. Nesses termos, sugere-se que o cuidador:
• deixe o lugar onde a pessoa idosa mais transita ou fica livre de móveis, objetos e enfeites
que possam provocar
quedas;
• conserve os objetos de uso cotidiano do idoso sempre no mesmo lugar e com fácil
acesso, evitando que a pessoa fique confusa tentando localizá-los ou tenha que usar
escadas e banquinhos para pegá-los;
• evite que o piso da casa seja encerado, tornando-se escorregadio;
• evite o uso de tapetes e capachos em superfícies lisas que possam provocar
quedas;
• deixe livres, também, os locais de circulação;
• ilumine todos os cômodos da casa;
Cuidados no ambiente
• evite que o idoso use chinelos e sapatos com sola lisa, desamarrados ou mal ajustados,
pela facilidade de escorregões e quedas, que podem trazer consequências indesejadas;
• eleve a altura das cadeiras, poltronas, camas e vasos sanitários, para possibilitar que o
idoso sente, deite e levante sem fazer muito esforço ou tenha dificuldades para isso;
• utilize corrimão em escadas, preferencialmente de ambos os lados;
• coloque diferenciador de degraus para sinalização de término em toda a escada e em
desníveis de piso em casa, reduzindo as possibilidades de desequilíbrio e quedas da pessoa
idosa;
• coloque a cama em posição que o idoso possa subir e descer, sem incômodos, pelos dois
lados
Cuidados no ambiente
• retire tapetes, capachos, fios soltos, para facilitar a circulação,
tanto da pessoa idosa quanto da pessoa que a acompanha,
evitando quedas;
• mantenha os pisos de cozinha, banheiro, área de serviço (enfim,
todos os locais onde circula o idoso) sempre secos para evitar
escorregões;
• conserve em lugar seguro, fora do alcance da pessoa cuidada,
objetos cortantes e pontiagudos.
Capacidade de comunicação do idoso
A inquietação e a agitação apresentadas pela pessoa portadora da doença de Alzheimer são
características muito comuns da doença e podem ter múltiplas causas, algumas delas evitáveis.
As causas desses transtornos podem ter origem na dificuldade para lembrar e se expressar,
considerando que a doença vai reduzindo gradualmente a capacidade de comunicação, e em outras
causas, como desconforto, dor de cabeça, dor de dente, problemas digestivos (indigestão ou prisão de
ventre), ou no aparelho urinário, uso de um determinado medicamento, uso de bebidas cafeinadas
(café, chás), excesso de barulho, de discussões das pessoas em casa, em voz alta, por comportamentos
impositivos.
Manejo comportamental no idoso
Com relação à agressividade, também é comum que o idoso
passe por fases em que se apresenta irado e ou agressivo.
Embora façam parte da doença e sejam fases passageiras, é
importante que o cuidador tente identificar o que pode estar
desencadeando a agressividade, a agitação. E existem várias
possibilidades para isso. Por exemplo, ser forçado a aceitar
ajuda para fazer coisas que costumava fazer sozinho (o
banho); frustrar-se pela incapacidade de fazer que antes
fazia; não mais compreender o que ocorre em sua volta;
sentir medo e, até mesmo, visitar o médico.
Comportamento do idoso
Como esse idoso já está com sua capacidade de compreensão e de comunicação
comprometida, a única forma que lhe resta é agitar-se, inquietar-se, tornar-se agressivo,
como forma de expressar-se e demonstrar seus sentimentos.
Assim, é muito importante que o cuidador, com a dedicação que tem e com a capacidade
de atenção e observação, identifique o que pode estar provocando as alterações de
comportamento da pessoa cuidada, a fim de buscar a ajuda correta e poder realizar as
mudanças oportunas, visando ao seu desaparecimento ou, pelo menos, a diminuição
desses comportamentos.
Comportamento
1. o momento em que o idoso fica agitado, inquieto ou agressivo;
2. o local da casa, ou mesmo fora, em que isso ocorre;
3. o que acontece antes e depois do problema;
4. como age o idoso durante o tempo em que permanece com esse
comportamento.
Comportamento
Sugere-se ao cuidador que:
• identifique a causa (ou as causas) da alteração de comportamento do idoso portador da
DA;
• aja com calma, carinho e compreensão, percebendo que a atitude da pessoa cuidada não
é consciente;
• evite muitas visitas em casa de uma só vez;
• evite mudanças bruscas na rotina; da mesma forma, evite barulhos, ruídos, sons muito
altos, discussões em casa;
• tente distrair a pessoa, seja buscando novos assuntos, seja acariciando-a, abraçando-a,
para acalmá-la;
Comportamento
• fale tranquilamente e não discuta;
• simplifique as coisas e não a sobrecarregue com cobranças, seja de que ordem
for;
• peça ajuda ao médico, caso não consiga acalmá-la.
Não esqueça de que cada pessoa é um mundo; e o que funciona para uma pode
ser inútil para outra.
Alimentação
Tão importante quanto a medicação, que dá um certo alívio aos
sintomas da doença de Alzheimer, é a alimentação oferecida à
pessoa portadora de Alzheimer.
Oferecer, através dos alimentos, todas as necessidades
energéticas, de proteínas, de vitaminas, minerais e líquidos,
específicos para uma pessoa que tem a DA, é uma atitude de
cuidado e de atenção de quem a acompanha, especialmente
porque, como sabemos, um organismo desnutrido está mais
vulnerável a infecções e perda de autonomia, comprometendo a
efetividade do tratamento.
A perda de peso vem sendo considerada como uma característica
da DA, ainda que, com um bom suporte nutricional, possa vir
melhorar
Alimentação
Algumas situações relativas à alimentação podem ser vivenciadas pela pessoa
idosa e portadora da patologia. São exemplos de situações
vivenciadas/experimentadas pela pessoa idosa com a doença de Alzheimer:
falta de apetite ou recusa a comer alguma coisa;
• dificuldade para mastigar e engolir alimentos sólidos e, até mesmo, líquidos
(conhecida como disfagia), tanto na fase inicial da doença como, principalmente,
na fase avançada;
Alimentação
• esquecer-se de que acabou de comer e passar a queixar-se
de fome, às vezes até acusando o cuidador de não lhe
oferecer alimento;
• desejo de comer só doces e chocolates, recusando outro
alimento;
• continuar com apetite normal, mas perder peso a cada dia;
• recusar a carne como alimento, mesmo que faça parte da sua
dieta diária;
• estar com intestino preso (constipação), o que pode aumentar
a agitação e, até, agravar a confusão mental;
• falta dos dentes ou próteses desajustadas ou, ainda, gengivas
inflamadas.
Alimentação
• redução do paladar e do olfato (ou perda de sabor e cheiro dos alimentos);
• problemas gástricos (azia ou gastrite), que podem ser causados pelos efeitos colaterais
dos medicamentos que utiliza;
• dificuldades em realizar tarefas simples, como servir a própria refeição ou, até mesmo,
levar o garfo à boca.
• sinais de depressão, apatia, solidão, tristeza, que podem levar à perda de apetite;
• não sentir ou perceber que o alimento está muito quente ou frio, amargo ou azedo, o que
pode machucar o idoso ou causar-lhe intoxicação;
• não ter a sensação de que está com sede, o que pode levá-lo a desidratações, até mesmo
crônicas.
Alimentação
Naturalmente que são muitas as possibilidades de situações referentes à
alimentação de uma pessoa portadora de DA. Essas diferentes situações exigem
do cuidador uma atitude de paciência e de compreensão porque é possível que a
pessoa já não se lembre da importância do alimento e de desejar uma dieta
diversificada. Nesse sentido, algumas sugestões são apresentadas a seguir,
objetivando colaborar com o cuidador:
• mantenha uma rotina de horário e local para as refeições;
• tente fazer, do horário das refeições, um momento de calma e relaxamento,
encorajando o idoso a comer, saborear o alimento, mastigá-lo bem;
Alimentação
• procure variar as refeições e oferecê-las em
pequenas porções (cinco ou seis refeições por
dia), em intervalos de três horas, em média
(oriente-se com o nutricionista);
• ofereça líquidos, em média oito copos diários,
variando com chás, água, sucos, refrigerantes.
Ao oferecê-los, faça-o em pequenas quantidades e
sempre com o idoso sentado ou recostado em
almofadas e travesseiros, para evitar que se engasgue.
Alimentação
• ofereça os alimentos com consistência adequada às possibilidades de
mastigação e deglutição do doente (corte-os em pedaços bem pequenos –
quando ainda é possível a mastigação -, amasse-os ou triture-os, quando a
dificuldade aumentar);
• cuide da higiene bucal após as refeições, escovando os dentes, lavando a
prótese ou limpando a gengiva e a língua com gase embebida em Cepacol, ou
similar, com água, para que o idoso não fique com restos de comida na boca;
• leve o idoso a visitas periódicas ao dentista, para prevenir doenças dos dentes e
das gengivas.
Higiene
Manter uma aparência agradável e a autoimagem positiva
são elementos indispensáveis para a manutenção do bem-
estar individual, ainda que em situações atípicas.
No caso das pessoas portadoras da doença de Alzheimer, a
preocupação com essa autoimagem positiva deve ser
preservada por familiares e cuidadores.
É comum que algumas pessoas idosas tenham dificuldades
para realizar sua higiene pessoal (tomar banho, pentear os
cabelos, abaixar para lavar pernas e pés) por conta da rigidez
que apresentam.
Higiene
Apesar de ser uma tarefa simples e comum a todas as pessoas, o banho pode se
transformar em um momento de extremo estresse, e até perigoso para um idoso com
Alzheimer.
O banho tem funções importantes que vão além da limpeza do corpo, pois auxilia na
circulação, estimula as glândulas sudoríparas, abre os poros e elimina germes que são
fontes de contaminação. Um banho morno é capaz de promover relaxamento dos
músculos, favorecer a sensação de bem-estar e de descanso, daí sua importância para o
idoso portador de Alzheimer, ainda que alguns idosos resistam a ele. Essa resistência pode
originar-se de conduções inadequadas (como água muito quente ou muito fria) ou
vergonha, decorrente de formação moral rígida e hábitos recatados.
Higiene
No caso do portador de Alzheimer, essa resistência pode associar-se ao esquecimento do
banho, por considerá-lo desnecessário ou, ainda, por esquecer de como fazê-lo.
O banho pode ser de chuveiro ou de leito. Na medida do possível, escolha o banho de
chuveiro, pela sensação de conforto que a queda d’água proporciona. Para
isso, coloque:
• uma cadeira ou banco no interior do boxe para que a pessoa idosa tome o banho
sentada;
• barra de apoio ao lado do vaso sanitário para dar firmeza à pessoa, no sentar e
levantar;
Higiene
piso antiderrapante (ou tapete não escorregadio) para evitar quedas e consequências decorrentes;
• suporte de sabonete para facilitar a autonomia do idoso no ensaboar-se;
• boa iluminação;
• um chuveiro ajustável, para facilitar à pessoa o abrir e fechar a água;
• alças ou barras de apoio na lateral dos boxes;
• a porta do banheiro sem trincos e sem chaves, para evitar que o idoso se tranque por dentro e não
consiga destrancar;
• o banho de leito (na cama) só deve ser dado quando o idoso estiver impossibilitado de sair da cama.
Neste caso, aproveite o momento do banho de leito para observar a integridade da pele e para realizar
movimentos nas pernas, pés, dedos e braços da pessoa que você cuida;
Comunicação e linguagem
A comunicação com uma pessoa que sofre da doença de
Alzheimer pode ser muito difícil, à medida em que a
doença evolui. A pessoa portadora da DA passa a ter
dificuldades para compreender o que lhe dizem e para
expressar o que deseja, pela perda gradual da memória
e do vocabulário.
No sentido de auxiliar na comunicação cotidiana,
especialmente na interação do idoso com seu ambiente,
algumas atitudes são aqui sugeridas ao cuidador:
Comunicação
• evite tratar a pessoa portadora da doença de Alzheimer como se ela
fosse uma criança ou, ainda, falar dela como se ela estivesse ausente.
Além de despertar sentimento de inutilidade, pode despertar
frustração ou raiva;
• certifique-se de que ela ouve, vê e fala bem (o melhor possível),
checando os aparatos de que faz uso, como óculos, aparelhos de surdez
e, mesmo, próteses dentárias, pois tudo isso pode ajudar na
comunicação
Comunicação
• fale de maneira suave e pausada, transmitindo à pessoa com doença de Alzheimer o
máximo de segurança;
• escolha palavras simples, frases curtas e um tom de voz amável e tranquilo;
• mantenha-se na mesma altura da pessoa com quem fala. A sua posição, olhando-a nos
olhos enquanto fala, pode ajudar a chamar sua atenção;
• chame-a pelo nome, assegurando-se de que ela está prestando atenção;
• segure sua mão enquanto conversa com ela;
• fale apenas um assunto de cada vez, pois isto ajuda a não confundi-la;
Comunicação
• utilize outras formas de linguagem (gestos, expressões faciais,
carinho, abraço, afago nas mãos); lembre-se de que a
comunicação não se limita às palavras e as formas não verbais
podem ajudar, em
muito, a pessoa que tem Alzheimer;
• pergunte, fale, converse, mas dê tempo sufi ciente para a resposta;
não a apresse nem lhe cobre rapidez; ajude-a na palavra que está se
esforçando para lembrar e
pronunciar;
• demonstre que compreendeu o que ela tentou dizer;
• procure criar um ambiente tranquilo, sem ruídos, seja de rádio, de
televisão ou músicas barulhentas, pois isso ajudará na sua
concentração enquanto conversa;
• evite discutir ou dar-lhe ordens; da mesma forma, evite dizer o que
não deve ou não pode fazer; escolha falar sempre no positivo,
dizendo-lhe o que pode e o que deve fazer.
Incontinência ou perda voluntária
As funções corporais normais de qualquer ser humano incluem o controle sobre
o próprio organismo, especialmente sobre a bexiga e o intestino, para urinar e
defecar.
Os idosos, que tendem a apresentar múltiplos problemas e doenças, enfrentam a
perda do controle urinário e fecal, sendo mais frequente o primeiro, podendo
ocorrer os dois ao mesmo tempo.
Embora não seja considerada uma doença, a incontinência restringe, perturba e
constrange a pessoa idosa, interferindo nos aspectos emocionais e nos
relacionamentos.
Da mesma maneira, o cuidador enfrenta essa situação com alguma dificuldade
Incontinência ou perda voluntária
O importante é distinguir, com a orientação médica, e observação, a
incontinência decorrente de um cérebro já deteriorado e incapaz de
controlar a retenção da urina de uma incontinência decorrente de uma
infecção urinária.
Neste sentido, sugere-se ao cuidador que: elabore e mantenha uma
rotina para levar a pessoa ao banheiro (sanitário), não esperando que ela
peça, pelo menos a cada três horas;
Incontinência ou perda voluntária
• procure ser compreensivo
quando ocorrer a situação da perda
involuntária da urina e fezes;
conserve a calma e tranquilize a
pessoa. Ela, de fato, não fez de
propósito; procure lembrar os
momentos em que ocorrem esses
“acidentes” para planejar formas
de evitá-los;
Incontinência ou perda voluntária
• previna essas ocorrências noturnas, reduzindo a
quantidade de líquidos oferecida a partir do início da
noite;
• planeje as saídas com a pessoa prevendo facilidades de
banheiros, água e roupa adicional para troca, caso ocorra um
imprevisto, uma necessidade
Envelhecimento
O envelhecimento é processo adaptativo, lento e contínuo,
que se traduz numa série de modificações. A existência de
uma mudança depende de fatores fisiológicos, emocionais,
ambientais e funcionais, e está sujeito a uma grande
variabilidade interindividual, pois devemos reconhecer que
todos somos pessoas individuais, com necessidades e
capacidades particulares, e não um grupo no qual todos são
iguais por estarmos envelhecendo (KOFL, 2003).
As modificações iniciam-se pela expansão dos ventrículos,
que são os canais condutores do fluido espinal. Esse ocupa
cada vez mais espaço com o encolhimento cerebral, e as
partes que tendem a diminuir mais rapidamente são os lobos
frontais. Já os lobos temporal e occipital encolhem mais
lentamente (SQUIRE, 1987).
Envelhecimento
O hipocampo, que se localiza no lobo temporal e é crucial
para a memória, perde de 20% a 30% de seus neurônios em
um indivíduo octogenário (SQUIRE, 1987).
Envelhecimento
Desenvolvimento cognitivo
Há mudanças nas substâncias químicas que compõem nossa
função cerebral; os neurotransmissores, como a dopamina, que
nos mantêm alertas e em movimento, diminuem de 5% a 10% por
década, achado confirmado por estudos que utilizaram tomografia
por emissão de pósitrons (ANTONINI et al., 1993).
Desenvolvimento cognitivo
Cérebro
Funcionalmente, na vida diária, os idosos queixam-se da falibilidade de
sua atenção e de sua memória. Mas nosso cérebro varia intensamente
em termos de quais funções se modificam ao longo da terceira idade e
quais mantêm a capacidade, ou até mesmo atingem seu auge.
Habilidade Atenção
Iniciando com a atenção, função que inclui um sortimento de destrezas,
processos e estados cognitivos (PONSFORD & KINSELLA, 1992), mudanças
no desempenho com a idade em muitas habilidades que requerem
concentração intensa, diferentemente de grupos jovens capazes de se
desligar de fatores de distração em potencial e se concentrar. Isso ocorre
porque, com o envelhecimento, há diminuição na capacidade de inibir
estímulos interferentes, ou seja, de manter a atenção seletiva
(HASHER et al., 1999). Logo, a mais ínfima interrupção pode distraí-los,
fazendo-os dispersar do que estavam fazendo para outros pensamentos e,
no final, necessitando que outros o ajudem a trazer o pensamento de
volta ao ponto de partida.
Habilidade Atenção
A capacidade de dividir a atenção entre duas fontes é igualmente reduzida. Logo, falar ao
telefone e ouvir alguém dizendo algo ao lado é muito difícil. Não há dúvida de que o
desempenho em tarefas duplas é com frequência mais afetada pela idade do que o
desempenho em ambas as fontes separadamente (RIBY et al., 2004). Entretanto, os
resultados de vários estudos refletiriam um aumento de carga total em vez de um déficit
específico na capacidade de coordenar duas tarefas simultaneamente.
Com isso, se uma pessoa idosa já apresenta maior dificuldade em cada tarefa
individualmente, não é de se surpreender que ela enfrente mais dificuldade em
desempenhar as duas ao mesmo tempo (BADDELEY et al., 2009).
Memória
De acordo com o tempo de duração que uma informação
permanece no cérebro, o idoso tem desempenho
relativamente preservado da memória de curta duração e
menos conservado da memória de trabalho e prospectiva
(PARKINSON et al., 1985).
A memória de curta duração é aquela que permite reter uma
informação de segundos a minutos. Ela é muito limitada em
sua capacidade, mas está prontamente acessível ao
processamento consciente.
Memória
A memória de trabalho exige que a pessoa retenha e manipule simultaneamente
informações. Nos idosos há um declínio de desempenho desta função quando comparado
aos adultos jovens, visto que, em tarefas de memorização de palavras não relacionadas, e
que após tenham que ser lembradas em ordem alfabética o desempenho dos idosos
diminui (CRAIK, 1986). Por meio de mapeamento cerebral, ainda foi observado que sujeitos
mais velhos tendiam a apresentar ativação em ambos os hemisférios cerebrais quando
envolvidos em tarefa que levavam em consideração memória de trabalho e atenção visual,
diferentemente de jovens, que ativavam um único hemisfério (CABEZA et al., 2004).
Memória
“Lembrar-se de se lembrar” é o que se chama de
memória prospectiva, que é a capacidade para lembrar-
se de algo quando um evento ocorre ou lembrar-se de
algo em determinado momento – respectivamente,
memória prospectiva para evento e memória prospectiva
para tempo. À medida que se envelhece, os idosos se
deparam com o sentimento frustrante, mas quando usam
pistas externas e estratégias, ou seja, na presença de
estímulos de evocação em tarefas cotidianas, seu
desempenho se torna mais eficiente (RENDELL & CRAIK,
2000).
Memória
A memória de longo prazo é dividida, dependendo de seu conteúdo, em não declarativa e
declarativa (SQUIRE & KNOWLTON, 1995).
A memória não declarativa diz respeito ao conhecimento do qual não se precisa de acesso
consciente. São recordações automáticas em que as experiências anteriores facilitam o
desempenho de tarefas que não requerem a lembrança intencional(SQUIRE & KNOWLTON,
1995). Idosos se lembram de como fazer arroz, não se esquecem de como andar de
bicicleta ou dirigir um automóvel e, caso queiram, praticam esporte, a fim de apresentar
um desempenho ainda melhor. Portanto, a memória procedural mantém-se razoavelmente
bem com a habilidade motora melhorando com a prática à mesma taxa que a dos jovens
(HOWARD & HOWARD, 1989).
Memória
A memória declarativa é aquela em que o acesso à informação é consciente.
Referem-se ao conhecimento pessoal, eventos lembrados da própria vida
(memória declarativa episódica) ou conhecimento que se tem do mundo externo
(memória declarativa semântica). As lembranças declarativas episódicas, como a
recordação de livros recém-lidos, refeições que terminaram pouco tempo atrás,
em geral eventos lembrados da própria vida da pessoa, alteram-se ao longo dos
anos. Estudos que usaram material relativamente artificial, como a aquisição de
pares de palavras não relacionadas, ou retenção de figuras geométricas e, em
estudos com material realista que usaram o teste comportamental de memória,
corroboram essa afirmação (WILSON et al., 1989).
Memória
O esquecimento dos nomes das pessoas
costuma ser a queixa mais frequente da terceira
idade (BURKE et al., 1991). Idosos são capazes
de lembrar a profissão de uma pessoa, mas não
seu nome; é a sensação irritante de que algo
está “na ponta da língua”. Essa sensação
torturante de que se sabe, mas não se consegue
lembrar acontece com maior frequência com
substantivos próprios do que com substantivos
comuns, como profissões.
Memória
Burke et al. (1991) mostram que quando se apresenta a um idoso a imagem de alguém
muito conhecido, como do presidente Fernando Henrique Cardoso, ele tem a sensação de
que sabe o nome da pessoa, mas não consegue lembrar, havendo grandes chances de se
obter a resposta do idoso se lhe fizerem uma pergunta, cuja resposta seja uma palavra
parecida, por exemplo, “caroço”. A proximidade entre o som da palavra caroço e Cardoso é
o suficiente para atiçar a memória do idoso e ajudá-lo a resgatar o nome do presidente.
Mesmo quando apenas um som é parecido, por exemplo, quer se lembrar da palavra
“velcro” e vem “feltro”, o som “el” é suficiente para recordar a palavra perdida.
Memória
Substantivos são mais fáceis de
serem recordados, pois abarcam
vasta gama de informações, passíveis
de serem resgatados por diversos
caminhos; ao se esquecer da palavra
padeiro, pode-se chegar a ela pela
multiplicidade de informações, como
o avental branco, a farinha ou o
chapéu que ele usa (BURKE et al.,
1991).
Memória
Outra memória declarativa diz respeito ao conteúdo autobiográfico que costuma ficar intacto. O idoso
lembra-se de quem é e quem são os seus irmãos e parentes de modo geral, e onde frequentou a
primeira série ou onde foi seu último emprego (STRAUCH, 2010). Com o uso de mapeamento cerebral,
Maguire e Frith (2003) apresentaram estudo de ativação bilateral hipocampal em idosos quando
realizando tarefa de memória autobiográfica, enquanto jovens apresentaram somente ativação do
hipocampo esquerdo. Por outro lado, em atividades que envolviam associação de figuras relacionadas e
não relacionadas, jovens e idosos, nessa primeira parte da tarefa, apresentaram ativação frontal
esquerda. Já, na tarefa subsequente, apenas os jovens apresentaram ativação occipito-temporal
adicional (IIDAKA et al., 2001). Portanto, os mais velhos tentam compensar a alteração cognitiva usando
estratégias adicionais, refletidas em âmbito mais amplo de ativação cerebral, como visto no estudo de
Maguire e Frith. Entretanto, talvez isso não seja possível quando a tarefa é complexa, induzindo a
confiança em uma estratégia mais simples.
Memória
A memória semântica, que se mede por meio do conhecimento de
vocabulário, continua a crescer ligeiramente com a idade e, portanto,
torna- se algo mais extensivo em idosos do que em jovens (GIAMBRA et
al., 1995). O conhecimento de fatos históricos igualmente aumenta com
a idade (PERLMUTER et al., 1980), mas a velocidade e a confiabilidade do
acesso declinam.
Memória
Plasticidade cerebral no envelhecimento
Quando a neurociências começou a se concentrar em saber
exatamente o que acontecia no cérebro, um verdadeiro mundo novo
surgiu. Os cientistas descobriram que células que disparam juntas se
interconectam; logo, quando dois neurônios são ativados ao mesmo
tempo, eles efetivamente mudam de estrutura, formam ligações
mais fortes, permitindo assim formar lembranças e aprender. Logo,
se um sujeito vê uma pessoa e ouve seu nome um número suficiente
de vezes, os neurônios que tiverem registrado a fisionomia e os que
tiverem registrado o nome ficarão ligados e fisicamente alterados. E,
da próxima vez que vir a pessoa, esses neurônios se ativarão em
conjunto. Trata-se do princípio da plasticidade cerebral ou
neuroplasticidade (DOIDGE, 2007).
Plasticidade cerebral no envelhecimento
O termo plasticidade tem origem etimológica do grego plaiticós, que significa capacidade de algo ser
esculpido e moldado. Conceitua-se a plasticidade cerebral como mudança adaptativa na estrutura e
função do sistema nervoso, que ocorre em qualquer fase da ontogenia, como função de interações com
o meio ambiente interno e externo. A plasticidade neural é multidimensional, como processo dinâmico
que delimita as relações entre estrutura e função; como resposta adaptativa, impulsionada por desafios
do meio ou lesões e como estrutura organizacional intrínseca ao cérebro, a qual se mantém ativa, em
diferentes graus, durante toda a vida, inclusive na velhice. A plasticidade opera em vários níveis: o
neuroquímico, na modificação de neurotransmissores e neuromoduladores durante o crescimento e o
desenvolvimento; o hedológico, envolvendo diferentes padrões de conexão entre os neurônios e o
número de sinapses ativas; e o comportamental, modificando estratégias cognitivas de acordo com os
desafios ambientais (MUSZKAT & MELLO, 2012).
Neuroplasticidade
A neuroplasticidade é maior em criança; na adolescência inicia-se uma
imensa operação de “poda”, levando à morte nas conexões sinápticas
que não foram usadas; princípio do “use ou perca”. Durante os anos que
se sucedem na vida de uma pessoa, há uma “batalha” sendo travada
entre as redes neurais restantes, pois se pararmos de exercitar alguma
de nossas habilidades mentais, não só nos esquecemos delas, como
também o espaço no mapa cerebral dessa habilidade é entregue às
demais habilidades que praticamos (DOIDGE, 2007).
Em estudos usando equipamentos de neuroimagem cerebral e
observando os cérebros de idosos, os pesquisadores perceberam que os
neurônios não desaparecem em grande número no processo normal de
envelhecimento.
A maioria deles se preserva em longo prazo; e se lhe dermos uma
pequena chance, como estilo de vida saudável e estimulação, poderão
estar presentes e funcionando plenamente até a idade mais tardia
(STRAUCH, 2010).
Neuroplasticidade
Os estudos de neuroplasticidade fizeram ressurgir a chama do envelhecimento com postergação ou
mesmo sem declínio cognitivo. Logo, idosos procuram, na prevenção, o caminho mais promissor para
atingir o objetivo de se manterem saudáveis. Nessa perspectiva, a estimulação cognitiva (OLCHIK, 2008)
praticada por idosos são atualmente os principais domínios de interesse em um país que envelhece
rapidamente como o Brasil.
A eficácia de programas de estimulação da cognitiva (PEC) em idosos saudáveis é amplamente
investigada por vários estudos de metanálises, que demonstram que a participação nesses programas
melhora significativamente a memória objetiva (VERHAEGHEN, 1992) e a memória subjetiva; percepção
que uma pessoa tem de seu próprio desempenho de memória (FLOYD & SCOGIN, 1992). Esses
contribuem para o aumento da densidade sináptica e da plasticidade cerebral, pois requerem novas
aprendizagens ou o desenvolvimento de novas estratégias cognitivas (LA RUE, 2010).
Neuroplasticidade
Estimulação cognitiva
Já se demonstrou que as melhorias ocorridas após a
participação em programas de estimulação são mantidas ao
longo do tempo por períodos que variam de seis meses
(STIGSDOTTER-NELLY & BÄCKMAN, 1995) a três anos (SCOGIN
& BIENIAS, 1988).
A estimulação cognitiva promove o envolvimento em
atividades que visam à melhoria geral do funcionamento
cognitivo e social; frequentemente são realizadas em grupo,
pois os grupos dão ao sujeito uma identidade compartilhada,
papéis e apoio dos pares (WILSON, 2011).
Estimulação cognitiva
LINGUAGEM - Reconhecimento e nomeação de figuras
Criação de histórias a partir de figuras - Capacidade de comunicação
a) O profissional fornece três fichas com uma - Raciocínio lógico
figura em cada um para o participante; - Oportunidade para usar a criatividade e para
b) O participante deverá identificar as figuras; criar
c) após a identificação, o participante deve tentar - A memória instantânea
criar histórias ou frases contendo as três figuras. - Encorajar um envolvimento em atividades de
Material: Conjunto de cartões, cada uma com lazer
uma figura de um objeto comum. - Estimular o bom humor
Estimulação cognitiva
EVOCAÇÃO Evocação das palavras (com dicas, se necessário)
- Três figuras
Lembrar as três figuras trabalhadas no bloco de
linguagem.
Estimulação cognitiva
MEMÓRIA VISUOCONSTRUTIVO - Estimulação da memória visual (olhar para uma
- Quebra-cabeça figura e tentar reproduzí-la),
Apresentar a figura modelo e as peças do quebra- - Raciocínio lógico.
cabeça para serem ordenadas conforme o - Coordenação motora das mãos (manipular
modelo. Fornecer todas as dicas necessárias para objetos, encaixe das peças)
que o idoso consiga realizar a tarefa. - Reconhecimento de formas (contornos que se
Material: quebra-cabeça de 6 complementam).
peças.
Estimulação cognitiva
CÁLCULO E ATENÇÃO - Reconhecer e nomear as características
- Trabalhando com objetos geométricas de objetos (forma, cor).
geométricos - Reconhecimento de relações de grandeza
Material: 3 triângulos, 3 quadrados e 3 círculos, (maior, menor, igual)
em 3 - Identificação de classes: Agrupar as figuras por
tamanhos diferentes (pequeno, médio e grande) tamanho (menores ou maiores), por formato
e 3 cores diferentes (círculos, quadrados, triângulos), ou por cor.
- Memória de cálculo (contagem das figuras;
contagem dos lados dos polígonos)
Estimulação cognitiva
MEMÓRIA IMEDIATA A atenção
Memória motora interativa - Memória de curto prazo, recordar-se do gesto
a) O profissional faz um gesto. feito
b) Pede-se para o idoso repetir o gesto. - Coordenação motora
c) Pede-se ao idoso fazer um gesto, para os - Memória de evocação
outros repetirem. - Oportunidade para interação social
Experimentar diferentes níveis de dificuldade,
aumentando o número de gestos a serem
repetidos.
Idoso e medicação
O idoso portador da doença de Alzheimer
pode ter algumas dificuldades na ingestão
de medicamentos, a exemplo de:
esquecer, ou ter dificuldades para engolir;
• não aceitar o remédio;
• ingeri-los além da dosagem e em
horários irregulares;
• usar medicamentos de outras pessoas.
Idoso e medicação
Para os diferentes casos, sugere-se que o cuidador:
• faça uma lista de todos os remédios que estão sendo tomados pelo idoso, prescritos pelo
médico, anotando, ao lado de cada um, a finalidade. Peça ao médico (ou enfermeira) que
lhe forneça essas informações;
• faça um esquema anotando os horários de cada um e a dosagem;
• programe o horário dos remédios de tal forma que (na medida do possível) coincida com
as três principais refeições (café da manhã, almoço e jantar);
• utilize um despertador para os horários da medicação, para não atrasar ou adiantar a
ingestão do mesmo
Idoso e medicação
respeite rigorosamente o horário e a dosagem
recomendados pelo médico;
• observe prazos de validade do remédio;
• ofereça o medicamento com líquidos, para
facilitar a deglutição;
• dissolva o remédio (quando estiver na forma de
comprimidos e drágeas) em água, chá, suco ou
leite, caso o idoso tenha dificuldades para ingeri-
los. Recomenda- se, no entanto, uma consulta ao
médico, pois há medicamentos que não devem
ser diluídos ou quebrados.
Idoso e rotina sono
O sono e o repouso são considerados momentos absolutamente necessários à recuperação das energias
perdidas durante o dia. Trata-se de necessidade básica do ser humano, e tem importância para o bom
funcionamento do sistema nervoso central.
Cerca de 90% dos indivíduos idosos apresentam queixas e problemas de sono, ainda que a necessidade
de sono possa variar muito de uma pessoa para outra.
Muitos dos problemas ou mudanças relacionadas com o sono podem ser considerados normais no
processo do envelhecimento.
O sono fica mais leve e o idoso acorda com maior facilidade sob pretexto de qualquer barulho ou luzes
que se acendam próximas a ele.
Tendo dificuldade de manter o sono durante a noite, o idoso acorda várias vezes e não consegue voltar a
dormir
Idoso e rotina sono
Além disso, costuma deitar-se cedo e
acordar cedo, cochilando, às vezes, em
vários momentos durante o dia.
Em geral, as alterações do sono em idosos
estão ligadas a:
• Aumento de problemas de respiração
durante o sono, como:
Idoso e rotina sono
1. a síndrome da apneia noturna – quando, por várias vezes (pode chegar a mais
de cinco vezes por hora) durante a noite, a pessoa para de respirar por alguns
segundos.
Nesses casos, o idoso acorda cansado e pode ficar sonolento durante o dia;
2. a síndrome das pernas inquietas – quando o idoso experimenta uma sensação
incômoda nas pernas, que o obriga a movimentá-la muitas vezes para se sentir
aliviado;
3. o ronco excessivo.
Idoso e rotina sono
Dor e limitação de mobilidade, fazendo com que o idoso fique um tempo
maior no leito.
• Perturbações decorrentes de depressão e demência.
Os idosos portadores da doença de Alzheimer podem ter sono muito
perturbado; acordam várias vezes na noite, geralmente confusas,
querendo caminhar de um lado para outro sem saber por que o fazem. O
medo da noite é um dos sintomas mais comuns nos idosos,
representando fonte de estresse e fadiga para familiares e cuidadores
Idoso e rotina sono
O uso de sedativos e de hipnóticos (remédios para dormir) pode piorar o problema.
Só devem ser administrados com orientação de um médico que conheça muito bem a
pessoa doente;
• a ociosidade e o sedentarismo durante o dia podem piorar o padrão de sono. Para quem
cuida de uma pessoa portadora de Alzheimer, dormir à noite é um momento não só
desejado como necessário, ainda que difícil para ambos, cuidador e cuidado.
Idoso e rotina sono
Preste atenção nas queixas do idoso a respeito do sono, para descobrir o
tipo de problema;
• mantenha o ambiente o mais tranquilo possível, silencioso e com
iluminação indireta;
• mantenha a ventilação e a temperatura do quarto o mais agradável
possível; muito calor ou muito frio pode atrapalhar o sono;
• cuide para que não haja correntes de ar no quarto;
• mantenha colchões e travesseiros confortáveis; roupas de cama limpas
e macias, lençóis bem esticados para não machucar a pele
Nunca esqueça
Finalmente, é importante lembrar que o cuidador/cuidadora é parte essencial do cuidado; é o motor do
cuidado da pessoa dementada.
É que, mesmo com os desafios que enfrenta, é preciso sentir a beleza do mundo, o valor das relações de
afeto, o vínculo familiar, conforme ensina Dr. Olivieri (1994)3, quando afirma que “nada é igual ao amor
e ao conforto da família”.
Não se deve esquecer, no entanto, que o cuidador, que está atento ao doente que, de fato, precisa de
alguém para continuar vivendo, também deve olhar para as próprias necessidades, de descanso, de
lazer, de calor humano, de carinho e afeto, de apoio emocional, de orientação e ajuda no seu trabalho
diário, de assistência médica, para não se tornar refém da doença, comprometendo a oferta de uma
qualificada colaboração.
referências

Você também pode gostar