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Operações de Planeamento
Nota: o presente texto deve ser lido em conjunto com os diapositivos da disciplina.
Na realidade, os limites da intervenção do treinador, seja qual for o nível de desempenho dos
atletas sob a sua orientação, estão longe de puderem ser definidos apenas pela aplicação de
exercícios de treino e da orientação táctica durante a competição. A dificuldade que envolve a
preparação optimizada dos vários factores de treino e a sua conjugação num todo bem
estruturado e efectivo, determina a necessidade de o treinador ter uma visão simultaneamente
global e integradora de todos os elementos que influenciam de forma preponderante o
rendimento do atleta e da equipa, através de um planeamento sistemático e dinâmico.
O acto de planear não termina com o início da execução do plano, uma vez que deverá ser
entendido como um processo contínuo e dinâmico integrando mecanismos intrínsecos de
auto-avaliação que promovam adaptações constantes do plano.
Isto significa que o treinador age segundo estratégias que se enquadram num modelo básico
de desempenho competitivo próprio da sua modalidade, o qual fundamenta a possibilidade de
análise das condições existentes, sujeitas às contingências da equipa ou do atleta individual, à
luz de uma projecção sobre o que fazer para a obtenção de níveis elevados de sucesso.
No domínio dos elementos constituintes do factor físico, é imprescindível termos uma ideia
concreta acerca das exigências metabólicas e neuromusculares colocadas pelo exercício de
competição nas condições específicas em que o atleta será chamado a realizá-lo, definindo
assim perfis de sucesso e trajectos possíveis de evolução a partir das características
individuais, da idade e do potencial que lhe sejam inerentes.
levando em conta as necessidades próprias do atleta e o caminho que ele terá que percorrer
até atingir um nível de excelência de execução.
Quer a realização do diagnóstico técnico, quer as estratégias a implementar são, por isso,
subsidiárias da existência de um modelo técnico interiorizado pelo treinador e cuja influência
se repercute em todos os momentos e em todos os aspectos da sua actividade de orientação do
processo de treino.
Deste modo, quer ao nível do diagnóstico, quer ao nível da prescrição, estes modelos de
desempenho englobando os vários factores do treino constituem a referência fundamental
para a comparação entre o valor previsto de uma execução que decorre directamente da
aplicação e adaptação desses mesmos modelos e o valor efectivo da execução, ou seja, as
suas características reais.
Estes modelos não podem ser, no entanto, estruturas rígidas mas antes unidades conceptuais
flexíveis, adaptáveis às características do executante ou da equipa, podendo incorporar
consistentemente a evolução dos conhecimentos e das práticas de preparação que se vão
afirmando ao longo do tempo.
Convém esclarecer ainda, como aponta Bompa (1990), que a competição é a referência
essencial de qualquer modelo de desempenho desportivo.
Esta lista incompleta, qualquer um de nós se lembraria, certamente, de outras tarefas que são
habitualmente realizadas pelos treinadores, no quadro do seu trabalho no clube desportivo,
serve-nos para recordar, de facto, como uma gama tão vasta de actividades, às quais se
juntarão todas aquelas que estão intrinsecamente ligadas com a orientação, condução e
avaliação do processo de treino, necessita de um planeamento cuidado, de modo a que o
trabalho desenvolvido seja o mais útil e profícuo possível.
2. O estudo prévio
O primeiro passo a dar em qualquer processo de planeamento é, naturalmente, a avaliação da
situação existente.
Os dados da competição deverão ser comparados com os resultados das melhores equipas do
campeonato ou com as listas classificativas internacionais (rankings) existentes em muitas
modalidades individuais.
A análise dos dados estatísticos dos jogos permite determinar as causas do sucesso ou
do insucessos relativos da época anterior, apontando lacunas técnico-tácticas
particulares nalguns jogadores, insuficiente trabalho colectivo, erros de planeamento,
falta de homogeneidade no nível dos jogadores, definição de objectivos inalcançáveis
e outros.
O conhecimento acerca do grau de consecução dos objectivos definidos na época anterior tem
uma importância fundamental na previsão do comportamento do atleta na fase que se inicia.
Com efeito, podemos estar perante atletas que vêm de uma época bem sucedida, regular ou
mal sucedida. Qualquer uma destas hipóteses, nas suas graduações subtis, pode constituir um
factor condicionante de grande relevância do ponto de vista motivacional e afectivo. Um
atleta que começa um período de preparação com uma atitude de autoconfiança e ambição
marcantes devido aos resultados anteriores não poderá ser encarado da mesma maneira que
um atleta que inicia o novo ciclo desiludido com o anterior e provavelmente descrente das
suas possibilidades de evolução. Neste último caso, partindo do princípio que a definição de
objectivos foi adequada, será necessário determinar as razões pelas quais os objectivos não
foram alcançados.
Naturalmente que a própria definição de objectivos poderá ter sido irrealista o que será uma
oportunidade para uma reflexão prática sobre o impacto desta operação de planeamento sobre
o processo subsequente e o grau de adesão dos atletas ao plano de treino.
Esta documentação serve os seguintes propósitos: (1) regista o treino realizado; (2) permite
entender quais foram os resultados obtidos nos diversos testes, os exercícios de treino e as
características da carga que acompanharam ou precederam estados de preparação elevados;
(3) serve como ponto de partida para planeamentos futuros, uma vez que os conteúdos das
cargas na macro e na microestrutura do treino só se podem modificar quando é possível
comparar as tarefas planeadas com as realizadas.
O registo, por parte dos atletas, das características dos treinos que cumpriram –
cadernos de treino.
d. Definir o perfil actual do atleta ou grupo de atletas com os quais vamos trabalhar na
época que estamos a preparar, quanto aos seguintes aspectos:
Qualidades físicas
3. Definição de objectivos
3.1 Definição de objectivos e modelo de desempenho competitivo
A análise da época desportiva transacta, nas suas várias dimensões, permite partir de
pressupostos coerentes e idóneos para a definição de objectivos, dando-lhes estabilidade, ou
seja, fazendo com que não estejam constantemente sujeitos a alterações, para exigência
superior ou inferior, o que para o caso será igualmente negativo.
Deste modo, se conhecemos bem os atletas com os quais vamos trabalhar, assim como o
contexto onde se vai desenrolar a sua prática, facilmente adequamos o grau de dificuldade
dos objectivos às condições concretas da sua realização.
Clareza na formulação
Realismo e acessibilidade
Especificidade
Objectivos correntes
Objectivos operacionais
Presidem à selecção dos meios e métodos de treino no quadro do plano da sessão de treino,
clarificando as condições de execução e avaliação de cada exercício realizado. Permitem o
controlo efectivo do que ocorre ao longo da sessão de treino, optimizando os seus efeitos no
atleta, monitorizando tarefa a tarefa a resposta deste à dinâmica da carga prescrita,
permitindo, eventualmente decisões correctoras que melhor adeqúem a estrutura dos
exercícios aos objectivos que presidiram à respectiva escolha. Esta avaliação do
comportamento do atleta no treino inclui, naturalmente, a consideração de factores de
carácter subjectivo e motivacional.
Objectivos de preparação
Os objectivos de etapa, por seu lado, poderão ser também deste tipo ou, o que acontece
comummente, ser quer de desempenho, quer de preparação, sobrepondo-se. Os objectivos
correntes serão, obrigatoriamente, de preparação, não fazendo sentido balizar o ciclo semanal
de treino com objectivos que tenham a ver com o resultado em competição, o mesmo
acontecendo, naturalmente, com os objectivos operacionais.
A definição de objectivos é um processo que deverá ser partilhado entre treinador e atleta(s)
de modo a constituir um marco claro para a prática e um compromisso forte por parte deste(s)
último(s). Os objectivos partilhados devem gerar motivação e identificação com o processo
de treino. São, assim, um instrumento essencial para a integração do atleta no programa de
treino, na sua filosofia e nas suas ambições.
4. Calendário competitivo
O calendário competitivo constitui a base concreta da forma final assumida pela definição das
estruturas intermédias da periodização. Consoantes as modalidades e a estrutura com que
surge este calendário competitivo, assim poderão ser possíveis, em maior ou menor grau,
duas operações de planeamento a selecção e a hierarquização das competições presentes num
calendário competitivo. Estas operações são condicionadas pela estrutura do calendário
competitivo.
4.1 Selecção
A selecção das competições, possível em determinados desportos, pode permitir uma melhor
racionalização dos tempos necessários à preparação do atleta e a respectiva conjugação com a
manipulação da curva de forma. Os critérios de selecção das competições nem sempre serão
intrínsecos à lógica do processo de preparação, havendo interferência habitual de outros
factores que vão desde a existência de prémios monetários até ao nível competitivo ou
promocional de uma determinada competição.
4.2 Hierarquização
A distribuição das competições ao longo do ano pode surgir de muitas formas distintas.
Basicamente, podemos, no entanto, discriminar entre duas estruturas de calendário
competitivo que implicam estratégias de manipulação da curva de forma claramente
diferenciadas.
manter estáveis os níveis elevados de forma que terá adquirido previamente, durante um
período prolongado de tempo, o que é obviamente impossível de compatibilizar com uma
estratégia de optimização integrada máxima, localizada no tempo, de todas as componentes
do desempenho competitivo.
Neste âmbito, como será visto mais à frente ao tratarmos do chamado Período Competitivo,
os treinadores terão que assegurar a aquisição de um nível de treino adequado que permita
sustentar posteriormente uma plataforma de estado de preparação ou forma desportiva, de
carácter relativamente permanente, através de uma estabilização em ciclos semanais
uniformes do volume e da intensidade da carga de treino, variando apenas os conteúdos
tácticos respondem às necessidades da competição, quer do ponto de vista do plano
estratégico, já referido, quer a partir da avaliação dos jogos que se vão realizando.
Deste modo, podemos designar esta actuação dos treinadores como sendo uma estratégia de
prolongamento da forma desportiva.
Por outro lado, uma estrutura de calendário competitivo de carácter condensado ou agrupado
surge quando existe uma clara diferenciação entre as competições nas quais se pretende que o
atleta participe, sendo possível a localização das competições consideradas principais num
curto período de tempo, podendo aparecer dois ou mais destes momentos alvo para o
desempenho competitivo numa época desportiva.
A forma desportiva depende do estado de treino mas também da aptidão para a mobilização
total dos recursos individuais em situação de competição. Isto significa que um atleta pode
estar numa fase do seu desenvolvimento em que atingiu um elevado estado de treino, mas,
devido à fadiga ou à falta de preparação específica para a competição, permanecer num
estado de preparação ou de forma relativamente fraco, não estando, portanto, em condições
de mostrar aquilo que realmente vale em competição.
Esta falta de simultaneidade, entre os períodos de maior treino e os períodos em que o atleta
está em condições de obter boas marcas, é muito comum em qualquer modalidade desportiva,
e é sabido que há um tempo para a aplicação continuada e sistemática de cargas elevadas
tendentes a provocar efeitos de adaptação no atleta e um tempo em que a preocupação terá de
ser fazer emergir a forma, ou seja, promover a recuperação e afinar a preparação directamente
relacionada com uma determinada competição.
Assim, cada estrutura deve ser desenvolvida de forma relativamente autónoma, através da
selecção de meios de treino que se afigurem mais eficazes para o cumprimento dos objectivos
de etapa previstos. Entre toda a variedade de meios à disposição de um treinador, este tem a
competência para escolher aqueles que serão mais relevantes para o atleta ou a equipa sob a
sua orientação, pondo de lado todos os meios de preparação que possam ser considerados
supérfluos ou mesmo prejudiciais para a respectiva evolução.
Com praticantes que se encontrem nas primeiras etapas de formação desportiva, no entanto,
será conveniente utilizar um número elevado de exercícios de treino para cada objectivo de
preparação, número esse que tenderá a diminuir com o tempo.
Uma das operações de planeamento do treino mais importantes é a distribuição das cargas de
treino ou seja, a atribuição de valores referentes às componentes da carga de treino para cada
estrutura intermédia prevista.
Os critérios a seguir são fundamentalmente a evolução dos parâmetros da carga de uma forma
gradual e sistemática: o volume, a intensidade, a densidade e a duração.
8. Concretização do plano
8.1 Execução
Em qualquer actividade, existem elementos que resultam daquilo que se pensou e organizou e
existe o acaso, ou seja, a ocorrência de factores inesperados que nos conduzem a decisões que
não teríamos previsto vir a tomar. O objectivo principal do planeamento consiste,
precisamente, em conseguir que os elementos resultantes da actividade cuidadosamente
Faculdade de Motricidade Humana 18
Licenciatura em Ciências do Desporto – Teoria e Metodologia do Treino Desportivo
Operações de Planeamento no Treino Desportivo
Para todos os efeitos, qualquer processo de planeamento só poderá considerar-se como tal a
partir do momento em que é executado. A execução do plano deve aproximar-se no máximo
do previsto no plano inicial, embora seja sabido que a informação decorrente do processo de
treino, principalmente a referente às respostas do atleta em treino e em competição, levam a
uma dinâmica de correcção constante tendo como objectivo a melhor adequação possível às
condições concretas de desenvolvimento do potencial de desempenho por ele apresentadas.
Um controlo do treino correcto obriga a uma minuciosa monitorização do trabalho que se vai
realizando em cada sessão de treino, quer por parte do treinador, quer por parte do atleta. É
nesta perspectiva que muitos autores consideram que os cadernos de treino individuais são
um instrumento de controlo de grande interesse para o êxito do processo de treino.
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