● LITÍASE BILIAR: um problema de saúde ● Supersaturação de colesterol. Isso é
pública em países industrializados diretamente proporcional ao nível de colesterol ● Prevalência de 10-15% nos EUA e Europa. No do indivíduo. Brasil a prevalência é parecida. ● Aceleração da nucleação (mucina): ● Segunda doença do TGI que mais despende principal fase no processo de litogênese. A custos. A primeira é a DRGE. mucina acelera muito o processo da litogênese, ● 80% dos cálculos são de colesterol (também tem ou seja, pacientes que possuem muita mucina os pigmentados) tendem a ter mais cálculos biliares. ● Hipomotilidade vesicular: aumenta a precipitação da bile formando cálculos biliares. FATORES DE RISCO ● Isso tudo é apenas para entender a fisiopatologia ● A prevalência aumenta com a idade. Acima de dos cálculos, não muda nada em forma de 30 anos a probabilidade aumenta muito. diagnóstico e tratamento para diferenciar a ● Mulheres possuem prevalência maior, em torno etiologia específica da formação dos cálculos. de 3 para 1 em comparação com homens. Isso ocorre por ação do estrogênio, esse hormônio aumenta a concentração de colesterol no suco COLELITÍASE biliar e, consecutivamente, na bile. ● Colelitíase significa a presença de cálculos na ● Gravidez gera hipomotilidade vesicular, também vesícula biliar; é uma afecção muito comum e de por conta do estrogênio. Essa hipomotilidade incidência crescente, atingindo cerca de 20% da aumenta a chance de formação de cálculos população. As manifestações clínicas dependem, biliares. dentre outros fatores, da localização e do tamanho do cálculo e da anatomia do paciente. ● Obesos possuem aumento de colesterol e, consequentemente, saturação na bile. ● Após ser secretada pelos hepatócitos, a bile passa para as vias biliares, antes de chegar ao ● Demográfico - asiáticos e africanos menor duodeno. Os vários ductos microscópicos se incidência juntam até formarem, em última instância, o ● Dietéticos (dietas ricas em calorias, carboidratos ducto hepático comum. Este se junta ao ducto e baixo consumo de fibras) cístico, formando o ducto colédoco. A vesícula ● Histórico familiar biliar é uma estrutura sacular e tem a função de ● Estilo de vida (sedentarismo, multiparidade) armazenar e concentrar a bile, liberando-a no ● Condições associadas - síndrome metabólica, duodeno após as refeições, em resposta a vários cirurgia bariátrica, perda rápida de peso) estímulos, dos quais se destaca a ação hormonal estimulatória da colecistocinina (PRINCIPAL, mas tem a secretina também) PATOGÊNESE ● Relação entre colesterol, os ácidos biliares e os ● O trajeto da bile da fosfolipídios. A concentração de colesterol nesse vesícula ao duodeno sistema é de 4%. O resto são ácidos biliares e é feito através do fosfolipídios. Qualquer alteração que ocorra fino ducto cístico, nesse sistema (que tende para o aumento do com suas válvulas colesterol) vai propiciar a formação de cálculos de Heister, pelo biliares. ducto colédoco, e ● Cálculos de colesterol são os mais comuns pela papila ● Componentes da bile: ácidos biliares, duodenal ou papila fosfolipídios e colesterol de Water. Muitas ● Estado litogênico: aumento da saturação de vezes, o ducto colesterol (maior relação colesterol/ácido biliar pancreático principal, ou ducto de Wirsung, – fosfolipídio) desemboca no colédoco, formando o chamado ● A formação de cristais de colesterol requer canal comum. É importante saber que essa presença de um ou mais fatores anatomia, dita normal, é passível de múltiplas variações. ● Os cálculos biliares se formam quando há Litíase de colesterol: desequilíbrio entre os solventes e os solutos da bile, formados predominantemente por água, e têm como principais solutos envolvidos na gênese de cálculos o colesterol e os pigmentos ● Nesses casos, a USG endoscópica pode ser usada biliares. O solvente é representado pelos sais para a investigação de microcálculos e até de biliares e pela lecitina. Outros fatores que cristais biliares, que podem ocasionar quadros concorrem para a formação de cálculos são a clínicos de dor no hipocôndrio direito. A baixa atividade motora da vesícula, responsável pesquisa de microcristais na bile, através do pela estase de bile, e a presença de bactérias que aspirado duodenal, ou da própria via biliar, desconjugam os sais biliares. também pode ser realizada. O colecistograma oral praticamente não é mais utilizado para Dentre as principais situações associadas à diagnosticar a colelitíase, tendo apenas valor colelitíase, destacam-se: histórico. ● Sexo feminino, relacionado à atividade ● A colangiorressonância magnética é o exame hormonal tanto estrogênica quanto atualmente mais apropriado para o diagnóstico progestágena, que levam à hipomobilidade de coledocolitíase, enquanto a vesicular e a alterações na saturação de colangiopancreatografia endoscópica retrógrada colesterol; (CPRE), apesar de ter melhor definição, deve ser reservada mais à terapêutica que ao diagnóstico ● Aumento da atividade hemolítica, com nos casos de coledocolitíase. A Tomografia hipersaturação de pigmentos biliares; Computadorizada (TC) oferece uma melhor ● Diminuição do pool de sais biliares, devido a visão global do abdome, mas identifica, ressecções intestinais; aproximadamente, apenas 50% dos cálculos bi- ● Aumento da concentração biliar de colesterol, liares (Figura 4). como acontece na obesidade, e perda acentuada de peso; COLELITÍASE ASSINTOMÁTICA ● Doenças sistêmicas com interações ● A prevalência de cálculos biliares na população multifatoriais, como no diabetes mellitus. ocidental é bastante elevada, no entanto, não se observa índice tão elevado de pacientes com Classificação dos cálculos sintomas relacionados a esse quadro. Estima-se ● Os cálculos podem ser classificados como que 75% dos pacientes com colelitíase pigmentares (marrons ou negros) ou de assintomática permanecerão dessa maneira por colesterol (amarelos), dependendo de sua um período de 20 anos, enquanto, anualmente, composição. Os tipos de cálculos biliares 2% deles passarão a apresentar sintomas dependem da população estudada, sendo, em associados à presença dos cálculos. nosso meio, a maior parte de colesterol. Apesar ● A conduta nesses casos é amplamente variável e disso, sabe-se que, na população em geral, o tipo depende da idade, das condições clínicas do de cálculo mais comum é o de origem mista. Os paciente, de suas expectativas pessoais e da cálculos de colesterol puro com aspecto perolado filosofia do cirurgião. Algumas variáveis, são raros. Nos pacientes com doença hemolítica relacionadas aos achados ultrassonográficos, ou cirrose, os cálculos pigmentares negros são os podem guiar a conduta do médico entre a mais comuns, e nos indivíduos com infecção colecistectomia ou a conduta expectante. crônica da via biliar, são mais frequentes os ● Alguns serviços indicam a colecistectomia cálculos pigmentares de bilirrubinato de cálcio mesmo em pacientes assintomáticos, desde que ou ferrosos marrons. Um importante as condições clínicas sejam apropriadas. Outros precipitado biliar na patogênese da colelitíase é serviços indicam o tratamento cirúrgico somente a lama biliar, termo que se refere a uma mistura em pacientes sintomáticos ou pacientes de cristais de colesterol, grânulos de assintomáticos que sejam diabéticos ou bilirrubinato de cálcio e uma matriz de gel imunossuprimidos, devido à alta mortalidade mucinoso. Provavelmente, a lama serve de nicho provocada por colecistite aguda nesses casos. para o crescimento dos cálculos vesiculares. Indicam o procedimento cirúrgico, também, para aqueles com cálculos maiores que 2,5cm ou DIAGNÓSTICO menores que 0,5cm, pelo risco de colecistite ● O exame com maior especificidade e aguda no 1º e de pancreatite aguda no último. sensibilidade para a identificação de cálculos na ● O tratamento farmacológico para os cálculos vesícula biliar é a ultrassonografia (USG), que biliares, reservado para pacientes com alto risco tem uma especificidade e sensibilidade de 98% cirúrgico, baseia-se na supersaturação da bile para a identificação de colecistolitíase. As em sais biliares, e, geralmente, é utilizado o vantagens desse exame são o fato de ser inócuo, ácido desoxicólico por via oral. Esse tratamento sem radiação ionizante e sem uso de contraste, e só tem efeito nos pacientes com cálculos de a possibilidade de ser repetido quantas vezes colesterol puro radiotransparentes, que não forem necessárias. A principal desvantagem é sejam mistos e que não tenham bilirrubinato de que cálculos muito pequenos, menores que cálcio. Nos cálculos pequenos, esse tratamento 2mm, chamados de microcálculos, podem não alcança um melhor resultado. A vesícula biliar ser identificados. também tem de ser funcionante, o que é ● 10-20% da população geral verificado com o colecistograma oral. ● Maioria dos pacientes são assintomáticos, ● A presença de colelitíase assintomática não Apenas 20% apresentam sintomas demanda qualquer tipo de tratamento clínico. ● Incidência: Mulheres 2x mais comum que Quando ocorrem sintomas relacionados à homem, aumenta com a idade complicação da colelitíase como dor, por exemplo, esta deverá ser tratada com LITÍASE BILIAR antiespasmódicos e o paciente deve ser encaminhado para programação cirúrgica. ● CÁLCULOS VESICULARES: 80-90% colesterol, 10% pigmentados ou mistos ● LITÍASE DE COLESTEROL – LITÍASE BILIAR SINTOMÁTICA supersaturação de colesterol: Aceleração da CÓLICA BILIAR nucleação (mucina), Hipomotilidade vesicular ● A cólica biliar classicamente corresponde a um ● LAMA BILIAR – desequilíbrio entre produção quadro de dor abdominal que ocorre entre 30 e secreção da mucina, fluido viscoso composto minutos e 2 horas após uma refeição lauta de cristais de colesterol (geralmente rica em gorduras), que desaparece ● LITÍASE PIGMENTAR: 20% de todos espontaneamente antes de 6 horas subsequentes à refeição. A dor é profunda, contínua no ● PRETOS – estados hemolíticos: hipocôndrio direito (HCD), normalmente Cirrose, Crohn Ileal associada a vômitos biliosos. Pode haver ● MARROM – infecções crônicas das irradiação para o epigástrio ou para a região vias biliares dorsal. Se o quadro clínico permanecer 6 horas depois de seu início e não melhorar com DIAGNÓSTICO antiespasmódicos, pode-se pensar em colecistite ● História e exame físico aguda. ● Dor: intensidade, localização, tempo de duração ● Deve-se salientar que sintomas dispépticos inespecíficos como meteorismo, pirose e ● Taxa de complicações da litíase sintomática: 1-3 epigastralgia não têm relação com colelitíase, %/ano por essa razão, não são levados em conta para a ● Taxa de complicação da litíase assintomática: classificação dos pacientes como sintomáticos. 01-0,3 %/ano Nesses casos, é melhor solicitar estudo ● 90% dos pacientes que apresentam 1 episódio de endoscópico, para a exclusão ou o tratamento dor tem recorrência em 10 anos, sendo 2/3 em 2 pré-operatório de outras doenças, como a anos gastrite e a úlcera péptica. ● Exame físico pode ser normal a um desconforto ● O exame de USG na vigência da cólica em abdome superior demonstra a presença de um cálculo impactado ● Sintomas podem iniciar 15 minutos após comer no infundíbulo, o qual não se move às mudanças algo gorduroso e durar por até 5h de decúbito, sem alterações na parede do órgão. DX: úlcera duodenal, pancreatite aguda, apendicite O tratamento é feito com antiespasmódicos e retrocecal, obstrução duodenal, PNM de lobo inferior analgésicos, para o alívio da dor, e deve ser direito, isquemia vascular mesentérica, gastroparesia, indicada a colecistectomia eletivamente. Cerca síndrome coronariana aguda de 70% dos pacientes que apresentaram um episódio de cólica biliar, apresentarão um novo EXAMES LABORATORIAIS E IMAGEM quadro ou semelhante em 1 ano. ● Hemograma, enzimas hepáticas e canaliculares, bilirrubina, enzimas pancreáticas (dentro da normalidade nas colelitíases não complicadas) SÍNDROME DE MIRIZZI ● Ultrassom: método de escolha (S=95 para ● A síndrome de Mirizzi consiste na obstrução da cálculos > 15 mm) via biliar por um cálculo impactado no ducto cístico (na saída da vesícula). Pela descrição ● Deve ser avaliado em ao menos duas original, ocorre quando há compressão posições (pólipo é fixo e cálculo é mecânica do ducto hepático comum pelos móvel) cálculos impactados no ducto cístico, paralelo ● Achados: sombra acústica e focos àquele, levando a um quadro de icterícia ecogênicos móveis - É contínua ou intermitente e episódios de PATOGNOMÔNICO colangite. Existem algumas classificações na ● Espessamento da parede e líquido literatura; a mais utilizada é a proposta por pericolecístico – colecistite aguda Csendes que divide em 4 estágios que vão da ● Dilatação do colédoco e afilamento simples compressão extrínseca à fístula colecisto ponta de lápis – coledocolitíase biliar. ● Tomografia: menor sensibilidade que o ultrassom e deve ser reservada para EPIDEMIOLOGIA complicações ● RM: maior sensibilidade para ductos biliares COMPLICAÇÕES DE COLELITÍASE (dilatação + litíase biliar) ● COLECISTITE AGUDA: Pedra na vesícula fez ● Ecoendoscopia: maior sensibilidade para uma obstrução e começou a gerar um processo microlitíase (<2mm) infeccioso local ● CPRE: mesma sensibilidade que a RM porém é ● COLANGITE: Cálculo que obstruir o colédoco mais específica e mais terapêutica infecciona ● COLEDOCOLITÍASE: Formação de cálculo no TRATAMENTO colédoco COLELITÍASE SINTOMÁTICA ● PANCREATITE AGUDA: O cálculo passa do ● Colecistectomia VLA, menor tempo de cístico, passa pelo colédoco e lesou a papila internação (menor custo), menor taxa de duodenal maior, faz uma hipertensão complicações, menor tempo de recuperação, taxa de conversão para colecistectomia aberta é COLECISTITE AGUDA de 2-15% em pacientes masculinos/ maiores de ● A colecistite aguda é a inflamação da parede 60 anos, com cirurgia abdominal prévia e da vesícula biliar. Geralmente associada à colecistite aguda). colelitíase (de 90 a 95% dos casos), tem, como ● No tratamento da dor usar AINES e anti evento inicial, a obstrução da saída da espasmódicos. vesícula biliar, com quadro clínico de ● Jejum para evitar liberação de CCK cólica biliar persistente que não é resolvida ● Pacientes poucos sintomáticos e/ou com risco com antiespasmódicos. Com a permanência da cirúrgico alto podemos tratar com UDCA (reduz obstrução e da secreção de muco, há distensão saturação de colesterol na bile) informando o progressiva do órgão e edema de sua parede, que paciente que o risco de recidiva é de 30-50% comprime a microcirculação, causando desde isquemia até necrose. Nas fases mais avançadas, COLELITÍASE ASSINTOMÁTICA sem tratamento, pode haver perfuração da ● Não é indicado profilaticamente devido ao risco vesícula e peritonite generalizada. Os agentes anual (68% dos pacientes permanecem etiológicos mais comuns são Gram negativos assintomáticos em follow up de 25 anos) como E. coli e Klebsiella. ● Taxa de sintomas (2-4%) e taxa de complicações ● O quadro clínico típico é de dor no (0,1-03%) hipocôndrio direito por mais de 6 horas, ● Exceto: crianças com muitos anos de cálculos; ou cólica biliar que não se resolveu. obesos mórbidos (alto risco de cálculos e risco Podem ocorrer vômitos e febre. Nos casos de sintomas com perda rápida de peso); cálculos avançados ou complicados com perfuração, maiores que 3mm (risco de câncer de vesícula); encontram-se sinais de sepse. A icterícia não é vesícula em porcelana (risco de câncer de comum e acontece nos casos de síndrome de vesícula); anemia falciforme (cálculos por Mirizzi, coledocolitíase ou perfuração, além de hemólise); americanos nativos (risco de câncer hepatite transinfecciosa. No exame físico, o de vesícula); microlitíase (risco maior de achado característico é o sinal de Murphy, em pancreatite aguda) que há dor e parada da inspiração durante a ● Colecistectomia profilática é consenso entre compressão do hipocôndrio direito, podendo ou médico e paciente não estar acompanhado de sensibilidade e peritonismo nesta região. CASO CLÍNICO ● Mulher 40 anos, obesa, refere dor em epigástrio tipo cólica com irradiação para escápula logo após ingesta de alimentos gordurosos. Refere outros episódios anteriores. Relata episódios que iniciam 15 minutos após a ingestão e duram cerca de 3 horas. Nega febre e outros sintomas. ● O diagnóstico é confirmado pela USG ● Ao exame: abdômen plano flácido com discreto (85% de sensibilidade e 95% de especificidade) desconforto à palpação do HCD sem sinais de que, além da presença de cálculo impactado no irritação peritoneal (Murphy) infundíbulo, demonstra distensão do órgão, ● Laboratório: hemograma, enzimas canaliculares, edema de parede, coleções perivesiculares e amilase e lipase dentro da normalidade delaminação da parede da vesícula (sinal mais ● Ultrassom: vesícula com paredes dentro da específico). Encontra-se, também, o chamado normalidade mostrando-se duas sombras sinal de Murphy ultrassonográfico, quando acústicas móveis em leito vesicular ocorrem dor e parada da inspiração com a ● Conduta: cirurgia (colecistectomia vídeo colocação do transdutor ultrassonográfico sobre laparoscópica), tratamento medicamento não a vesícula biliar, visualizada diretamente. surtiria efeito ● O tratamento da colecistite aguda calculosa é eminentemente cirúrgico, com colecistectomia, de preferência por ● Se tiver complicações como peritonite difusa, videolaparoscopia com colangiografia perfuração, empiema como primeira intraoperatória. Geralmente, o uso de manifestação – cirurgia deve ser feita nas antibióticos deve cobrir bactérias Gram primeiras 24h negativas e anaeróbias. ● A colecistite aguda alitiásica pode acontecer em CASO CLÍNICO 3 a 5% das vezes, principalmente em doentes ● Paciente feminina, 50 anos, com vários críticos em terapia intensiva, diabéticos e episódios de dor em HCD, da entrada no pronto aqueles que fizeram uso de nutrição parenteral socorro referindo dor em HCD de forte recentemente. Muitas vezes tem apresentação intensidade com irradiação para escápula fulminante e, com frequência, evolui para associado com febre, náuseas e vômitos gangrena, empiema e perfuração. Devido à ● Exame físico: temperatura de 39 graus e abdome ausência de cálculos e à distensão fisiológica da plano doloroso a palpação com dor à palpação vesícula no jejum, há grande dificuldade no seu profunda com sinais de irritação peritoneal diagnóstico ultrassonográfico. Fisiopatologicamente, as alterações ● Hemograma com leucocitose, enzimas microscópicas são as mesmas, com quadro de canaliculares dentro da normalidade, amilase e edema de parede e de isquemia lipase elevadas porém menor que 3 x VN e US mostrando espessamento ● Complicação mais frequente: colecistite aguda da parede ● 90% devido a obstrução do ducto cístico maior que ● Fatores de risco: sexo feminino, múltiplos 4mm, líquido cálculos >10mm, idade > 50 anos pericolecístico ● Fisiologia + organismos frequentemente e sombra associados acústica ● Dor HCD por mais de 5 horas associado com móvel sinais de irritação peritoneal ● Conduta: NPO ● 1/3 pode ter vesícula palpável (nada por via oral, dieta zero) boa analgesia, ATB e aguardar 24-72h e colecistectomia ● Febre, taquicardia e calafrios videolaparoscopica ● Leucocitose leve a moderada (50%) ● Enzimas hepáticas e canaliculares podem estar COLECISTITE ACALCULOSA alteradas (Coledocolitiase é uma suspeita em casos de alteração nas enzimas) ● 2-15% das colecistites ● Murphy positivo ● Não é relacionada a litíase biliar (não tem cálculo) ● Amilase e lipase <3 (Maior que 3x a normalidade é pancreatite, nenhuma outra patologia faz isso) ● Mortalidade > 40% ● Complicações: necrose, empiema, perfuração, ● Alta taxa de complicação (perfuração/gangrena) fístula, síndrome de mirizzi ● Fisiopatologia: estase biliar e isquemia da mucosa DIAGNÓSTICO ● Choque séptico, trauma, grandes queimados, HIV ● História, exame físico, exame de imgem ● Sintomas vagos ● Ultrassom: espessamento da parede maior que 4mm + cálculos biliares + líquido pericistico ● US: espessamento da parede vesicular + líquido (90-95% de sensibilidade) pericolecístico + distinção vesicular (sem sombra acústica por não ter cálculo) ● Outros métodos de imagem caso necessários em casos de complicação ● Tratamento: colecistectomia, porém em pacientes críticos a colecistectomia percutânea pode ser a solução TRATAMENTO COLEDOCOLITÍASE ● Colecistectomia nas primeiras 24h (ideal entre ● A presença de cálculos na via biliar 1-5 dias) principal é conhecida como ● Tratamento clínico: dieta ZERO, hidratação coledocolitíase. Seu quadro clínico endovenosa, antibioticoterapia (cipro + caracteriza-se por náuseas, vômitos e dor do metronidazol, ampicilina/sulbactam, tipo biliar, até icterícia obstrutiva e piperacilina/tazobactam, cefalosporinas de 3ª colangite (cálculo obstruindo o colédoco geração + metronidazol ou clindamicina) e infeccionando). Pode ser classificada como ● Tratamento cirúrgico: até 72h após o primária, quando os cálculos se formam na diagnóstico – colecistectomia própria via biliar principal, ou secundária videolaparoscopica (forma mais comum), quando se formam na vesícula biliar e migram. ● Quando há formação de cálculos na própria via diagnóstico de coledocolitíase na maioria dos biliar principal, existem fatores predisponentes casos. como corpos estranhos, estenoses ou cistos nas ● A CPRE é um exame altamente específico para o vias biliares, levando ao mau esvaziamento ou a diagnóstico da coledocolitíase, mas, devido aos infecções crônicas, causando, assim, proliferação altos índices de morbidade (10%) e mortalidade de bactérias, desconjugação dos pigmentos (até 1%), atualmente é mais reservada à biliares e litogênese. Nesses casos, os cálculos terapêutica que ao diagnóstico. A eco- tendem a ser marrons ou negros. Já os cálculos endoscopia, ou USG endoscópica, é um ótimo secundários ocorrem em pacientes com outros exame para o diagnóstico diferencial da icterícia fatores de risco, como a presença de obstrutiva e, quando disponível, uma boa opção microcálculos (menores que 5mm) e de ducto para o diagnóstico da litíase da via biliar cístico curto ou vesícula séssil. Os cálculos são principal. da mesma composição dos cálculos vesiculares. ● O tratamento cirúrgico clássico consiste na ● Se o paciente já é colecistectomizado, os cálculos abertura do colédoco após colangiografia são classificados como retidos, contanto que a intraoperatória, retirada dos cálculos e cirurgia tenha sido realizada em até 2 anos, ou colocação de um dreno em “T” (dreno de Kehr) recidivantes, quando surgem após 2 anos da para a drenagem biliar e prevenção de fístulas e cirurgia. Dor no hipocôndrio direito, estenoses biliares. No intraoperatório, após náuseas e vômitos, quadro clínico similar manobra de Kocher e ampla exposição do ao da cólica biliar típica, podem ser colédoco e ligamento hepatoduodenal, é feita indicativos de coledocolitíase em uma coledocotomia, e explora-se todo o pacientes previamente colédoco com material apropriado, retirando-se colecistectomizados. O passado de todos os cálculos. pancreatite aguda eleva a prevalência de ● Realiza-se colangiografia complementar para coledocolitíase para 20% nos pacientes certificar-se de que todos os cálculos foram submetidos à colecistectomia, sendo uma retirados; por fim, coloca-se o dreno de Kehr por manifestação clínica comum associada à doença. meio da coledocotomia. Após novo controle ● Icterícia obstrutiva, em geral, com nível sérico radiológico, o dreno é retirado em algumas de bilirrubinas abaixo de 10mg/dL, com colúria, semanas. Em alguns casos, pode ser necessária hipocolia fecal e prurido cutâneo, constitui um papilotomia aberta ou anastomoses achado frequente, associado ou não a outros biliodigestivas. sintomas biliares, que podem advir de cólica ● Nos casos de coledocolitíase com colecistopatia biliar ou colecistite aguda sobreposta. A calculosa em que a litíase da via biliar principal coledocolitíase é a principal causa de foi descoberta no intraoperatório, pode ser colangite em nosso meio, levando ao realizada a exploração cirúrgica das vias biliares afastamento e prevenção sempre dessa ou a solicitação de papilotomia endoscópica séria complicação. pós-operatória. Na maioria dos casos de ● A avaliação completa da função hepática e colecistectomia convencional, opta-se pela exames de sangue rotineiros fazem parte da exploração cirúrgica e, nos casos laparoscópicos, avaliação inicial do paciente com suspeita de pela endoscópica. coledocolitíase. Entretanto, a confirmação ● Já nos casos de suspeita clínica de diagnóstica só pode ser obtida com coledocolitíase, após confirmação, o tratamento exames de imagem. O exame de imagem é cirúrgico. A colecistectomia é necessária, pois a mais sensível para o diagnóstico da vesícula é a fonte dos cálculos e deve ser coledocolitíase é a USG. Além de ser útil na retirada. Assim, pode-se realizar a papilotomia triagem dos pacientes ictéricos, é o melhor endoscópica com retirada dos cálculos exame para o diagnóstico de colelitíase, previamente à operação, geralmente associada a 95% dos casos de coledocolitíase. realizando-se a colecistectomia Pode identificar dilatação das vias biliares ou videolaparoscópica. Se os cálculos não podem outras situações clínicas associadas, mas só pode ser tratados por endoscopia, é realizada fechar o diagnóstico em, no máximo, 50% dos operação com colangiografia, e a conduta se casos. assemelha à dos casos de coledocolitíase ● A TC é mais útil no diagnóstico diferencial de diagnosticados no intraoperatório. outras doenças abdominais, principalmente as ● Os pacientes com coledocolitíase, já submetidos pancreáticas, mas consegue identificar a à colecistectomia, são mais bem tratados por coledocolitíase em alguns casos, quando é visto papilotomia endoscópica, sendo a exploração um cálculo radiopaco no interior do colédoco, na cirúrgica reservada quando há insucesso. Em fase sem contraste. A ressonância nuclear caso de algum fator predisponente à magnética, com a reconstrução das vias biliares coledocolitíase primária passível de tratamento, por meio da colangiorressonância, é um exame também deve haver correção para evitar com pouca morbidade, sem risco de infecção recidiva. ascendente das vias biliares, que proporciona o ● Cálculos dentro das vias biliares extra-hepáticas chegar a 50%. Os pacientes com tumores ● 10-15% das colelitieses periampulares ou mesmo do colédoco proximal ● 25% dos pacientes idosos tem coledocolitiase habitualmente possuem a bile estéril, de modo quando submetidos a colecistectomia que não costuma ocorrer colangite inicialmente, (exploração da via biliar) unicamente icterícia obstrutiva. ● Quadro clínico – dor biliar associada a icterícia ● A simples presença de bactérias não causa colangite, sendo obrigatório o componente de ● Diagnóstico: US tem baixa sensibilidade porém aumento da pressão intraductal. Os colédoco (vmedio 2,6-4,5mm) maior que 6mm microrganismos mais comumente encontrados deve-se pensar em calculo na via biliar são Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, ● RM técnica não invasiva mais confiável detecta enterococos e Bacteroides fragilis. O Ascaris cálculos menores que 3mm lumbricoides, por meio de suas migrações ● Principais complicações: colangite e pancreatite erráticas, pode atingir as vias biliares e causar aguda colangites ou formação de coledocolitíase ● Dor em HCD com cólica + icterícia por primária, entretanto esse quadro é cada vez mais obstrução do colédoco raro. Outros pacientes em risco para colangite aguda são indivíduos com cirrose hepática, pois o mecanismo de depuração de bactérias pelas CONDUTA células de Kupffer está ● Cálculos em vesícula e colédoco – tratamento prejudicado. terapêutico com CPRE antes ou dpois da ● O quadro clínico da colecistectomia colangite baseia-se na ● Se probabilidade de coledocolitiase simultânea tríade de Charcot, que for alta realiza-se papilotomia pre operatória e compreende febre, retirada dos cálculos; Se probabilidade baixa – icterícia e dor no colangio RM hipocôndrio direito, ● Se cálculos sintmoaticos de colédoco em presentes em 50 a 70% dos portadores desta pacientes já colecistectomizados – CPRE com afecção. Quando o doente passa a apresentar papilotomia e extração dos cálculos sinais de confusão mental e hipotensão, ● Sempre que houver falha na retirada dá-se o nome de pêntade de Reynolds. Esse endoscópica dos cálculos deve-se realizar quadro denota colangite grave (tóxica ou cirurgia de coledocolitiase supurativa) e se associa a piores prognósticos. A ● Todod paceinte com coledocolitiase deve ser febre e os calafrios associados à colangite são o submetido a coledococistectomia pois estudos resultado de bacteremia sistêmica, causada pelo mostram recidiva de 24% quando submetidos a refluxo colangiovenoso e colangiolinfático, daí a CPRE necessidade de aumento da pressão intraductal para estabelecer a colangite. ● Além do diagnóstico clínico, devem-se CASO CLÍNICO considerar alterações laboratoriais ● Paciente masculino com 67 anos, referindo dor epigástria em HDC tipo cólica associada com anuseas, vômitos e icterícia. Nega outras comorbidades. ● Exames laboratoriais: hemograma sem leucocitose, enzimas canaliculares e bilirrubinas pelo menos 1,5xVN com amilase e lipase dentro da normalidade ● US de abdome superior com ausência de características de colestase e sepse. A USG de vesícula e colédoco dilatado 8mm com abdome serve para identificar fatores afilamento em ponta de lápis obstrutivos nas vias biliares e de colelitíase. A ● Hipótese diagnoostica: coledocolitiase (não gravidade do caso dependerá do precisa de mais exames de imagem, sintomas comprometimento sistêmico e da resposta obstrutivos precisam de CPRE) inicial ao tratamento clínico. Casos leves são aqueles que apresentam mínima repercussão e ● Imagem ilustrativa (não tem a ver com o caso): boa resposta às medidas clínicas. Doentes que cálculo impactado na papila – papilotomia não apresentam resposta satisfatória à conduta (extração do cálculo e faz abertura da papila) clínica, mas também não apresentam disfunções orgânicas, são considerados casos moderados. A COLANGITE presença de sepse e de disfunções orgânicas ● A colangite bacteriana aguda é a infecção + caracteriza o quadro obstrução das vias biliares. Está grave. comumente associada à coledocolitíase. Nestes ● A descompressão da casos, a colonização crônica das bactérias pode via biliar é imprescindível para a resolução da colangite ● Refluxo colangio venoso e colangio linfático, aguda. Os procedimentos percutâneos ou translocação bacteriana causa sepse, principal endoscópicos, como a CPRE, ainda que complicação da colangite temporários, são os métodos de eleição na fase ● Tumor de cabeça de pâncreas pode levar a isso, aguda. tumor de papila tbm, parasitas (áscaris), ● Na indisponibilidade desses métodos, a colecistectomia com exploração das vias (lacera descompressão deverá ser feita por meio de o colédoco que estenosa) intervenção cirúrgica, e a conduta varia com a ● Grau 1: leve a moderada sem disfunção do órgão etiologia do quadro e o estado geral do paciente. (2-3 dias de ampicilina) Pacientes em estados mais graves necessitarão ● Grau 2: leve a moderada sem disfunção do órgão de procedimentos mais rápidos, como colocação (5-7 dias de cefalosporinas de ¾ geração, se de dreno de Kehr na via biliar principal ou, caso falência, usar fluoroquinolonas e o ducto cístico esteja permeável, carbapenemicos colecistostomias. Obstruções malignas em ● Grau 3: disfunção do órgão estágios avançados podem necessitar de derivações biliodigestivas. Após as medidas iniciais e o controle das comorbidades, o CASO CLÍNICO paciente necessitará de tratamento definitivo ● Mulher de 45 anos, procura emergência com para obter a remoção da causa da obstrução das quadro de dor em HCD, náuseas, vômitos, vias biliares e a drenagem definitiva. icterícia e febre. Sem passado de doenças. ● Exame físico: febre de 38,5, FC 110 PA100X50, ● Mortalidade de 50% nos anos 70 e 7% FR 18 e ictérica atualmente ● Abdome globoso com dor a palpação do HCD e ● Etiopatogenia: infecção + obstrução dor à descompressão súbita no local (Murphy ● Etiologia: qualquer causa de obstrução da via positivo), massa palpável biliar ● Lab: leucócitos 15000, BT6,5, albumina 2,5 ● Clínica: febre, dor abdominal e icterícia (tríade (>3,5), creatinina 2 (1,3) de Charcot), + confusão mental e hipotensão ● Achados: vesícula palpável na manobra de (pêntade de Reynolds) Murphy, hipótese diagnóstica de colangite, fazer ● Diagnóstico clínico + laboratorial + imagem exame de ultrassom (pode ter litíase biliar o que complica a colangite/colelitíase) ● Estratificar a gravidade ● Conduta de NPO, analgesia, boa hidratação ● Drenagem da via é o tratamento – CPRE ou endovenosa, antibioticoterapia, drenagem biliar cirurgia (diretrizes de Tóquio sugerem que a precoce drenagem biliar deve ser realizada o mais precocemente possível em pacientes com doença moderada (grau 2) ou grave (grau 3). Nos casos leves (grau 1), com resposta favorável a terapia medicamentosa, recomenda-se a drenagem biliar dentro de 24-48h