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Anomalias Congênitas
• Atresia biliar
o Atresia biliar cursa com sintomas, será comentada no final.
• Agenesia
o A agenesia da vesícula biliar é um achado bastante incomum, geralmente associada a outras
malformações da árvore biliar, que aí sim cursa com sintomas.
• Vesícula bilobada
o A vesícula bilobada tende a ocorrer a partir de septos que se desenvolvem na vesícula, pode
ser um septo transversal ou longitudinal e também costuma se apresentar de uma forma
incidental e assintomática.
• Localização aberrante
o Das anomalias congênitas, de longe a mais comum é a Localização aberrante, costuma se
manifestar na maioria das vezes de um aprofundamento da vesícula na superfície hepática; a
vesícula fica englobada pelo fígado. Costuma ser um achado incidental, pois não traz
manifestações clínicas e tem um curso silencioso.
Colelitíase
• É a formação dos cálculos dentro da vesícula biliar
• Doença mais prevalente do trato biliar.
• Fatores genéticos e ambientais fazem com que sua incidência varia muito de acordo com as
populações estudadas
• Epidemiologia
o 10 a 20% da população adulta
o Predomina no gênero feminino 2:1
▪ Igual em homens e mulheres nos casos de cálculos pigmentares
o Relaciona-se com a idade.
o + de 80% assintomática
o 5% em < de 40 anos
o + de 30% em > de 80 anos
• Fatores predisponentes
o Obesidade,
o Dieta hipercalórica
o Diabetes
o Doença de Crohn
o Cirrose hepática
o Doença hemolítica
o Infestação parasitária
o Vagotomia troncular
o Gestações múltiplas
o Tratamento prolongado com hormônios sexuais
• Composição dos cálculos
o Aproximadamente 90% são cálculos de colesterol, contendo mais de 50% de colesterol
cristalino monoidratado.
o Os cálculos de colesterol puros ocorrem em 5 a 10% dos casos
o Os restantes são cálculos pigmentares, compostos predominantemente por sais cálcicos de
bilirrubina
• Aspectos clínicos
o A maioria dos cálculos de vesícula (> 80%) é “silenciosa”, e a maioria dos indivíduos permanece
livre de dor biliar ou outras complicações durante décadas.
o Dor biliar geralmente em cólica, podendo ser contínua, no hipocôndrio direito
o Os cálculos menores são aqueles com maior chance de obstrução
o O íleo do cálculo biliar é uma complicação de cálculos grandes que acabam perfurando a
parede vesical e penetrando na alça interposta
Cálculos de Colesterol
• Colesterol cristalino monoidratado
1. Bile supersaturada
2. Hipomotilidade
3. Nucleação acelerada
4. Muco provoca agregação em cálculos
• Tem como principal constituinte o colesterol cristalino monoidratado.
• Diferenciando-se dos cálculos pigmentados, os cálculos de colesterol tem uma patogenia bem definida.
o A bile vai ter maior concentração de colesterol - bile supersaturada.
o A quantidade de colesterol não vai ser solubilizada pelos sais biliares e vai ficar hiper
concentrada na vesícula.
o Se houver hipomotilidade, essa estase na vesícula biliar vai facilitar a nucleação e cristalização
inicial do colesterol dentro da vesícula biliar
o A hipersecreção de muco vai favorecer e facilitar a agregação dessa precipitação, fazendo com
que esse cálculo cresça → propagação do cálculo.
o O muco aprisiona o cálculo e essa cristalização de tal forma que o cálculo vai crescendo.
• Morfologia do cálculo
o Facetados, amarelados, numerosos
o Cálculo fragmentado mostrando as diversas tonalidades e que eles são formados em etapas.
• Cálculo puro de colesterol
o É raro, perfaz 10% de todos os cálculos.
o Maiores, geralmente únicos, quando se fragmentam tem uma superfície translúcida e radiada.
o Um aspecto importante dos cálculos grandes é que não sofrem mobilização porque são
pesados e não impactam a nível de ducto cístico.
o Propenso a sofrer outro tipo de complicação
▪ Íleo do cálculo biliar
▪ Como são pesados, ficam depositados na parede vesical que, pelo peso do cálculo e
consequente compressão, a parede acaba sofrendo atrofia, que em casos extremos
pode evoluir e provocar perfuração da parede, migrando para dentro da cavidade
peritoneal e eventualmente para uma ala de delgado interposto.
▪ Evento raro, porém bastante clássico e exuberante.
▪ É uma complicação extrema e peculiar.
• Os cálculos de colesterol por serem maiores, crescem formando amoldamento, um cálculo amoldado
com o outro, como facetas que se encaixam
Cálculos Pigmentados
• Sais cálcicos de bilirrubina
o Elevação da bilirrubina não conjugada
o Relacionado a 2 processos principalmente:
▪ Síndromes Hemolíticas - cálculos pretos
▪ Infecções árvore biliar - cálculos marrons
• Se diferenciam do cálculo de colesterol por serem menores e numerosos.
• Os de colesterol costumam ser maiores, com várias tonalidades, mostrando que eles são formados com
o tempo (casca de cebola), mostrando o processo de formação.
• O problema dos cálculos menores (pigmentados) é que eles tendem a se mobilizarem mais e
impactarem no ducto cístico - muitas vezes não provocando a obstrução do ducto cístico.
Aspectos clínicos
• Um ataque de colecistite aguda começa com dor progressiva no quadrante superior direito ou no
epigástrio, frequentemente associada a febre leve, anorexia, taquicardia, sudorese, náusea e
vômitos.
• A maioria dos pacientes não apresenta icterícia, e a presença de hiperbilirrubinemia sugere
obstrução do ducto biliar comum.
• Uma leucocitose leve a moderada pode ser acompanhada por elevações leves nos valores de
fosfatase alcalina sérica
Colecistite crônica
• A colecistite crônica pode ser uma sequela de surtos repetidos de colecistite aguda leve a severa, mas,
em muitos casos, se desenvolve na ausência aparente de ataques antecedentes.
• Uma vez que está associada a colelitíase em mais de 90% dos casos, as populações de pacientes são as
mesmas observadas para os cálculos de vesícula
• Ocorre mais em mulheres ( 3: 1) e acomete pacientes preferencialmente na 5ª e 6ª décadas de vida.
• Os sintomas da colecistite calculosa crônica são semelhantes aos da forma aguda e variam de cólica
biliar até uma dor indolente no quadrante superior direito e desconforto epigástrico.
• Macroscopia
o O aspecto macroscópico é variado.
o A vesícula pode estar contraída ou ter tamanho normal ou mesmo aumentado.
o Parede espessada e inelástica (rígida).
o Aderências na serosa.
o “vesícula em porcelana”: vesícula biliar contraída, com extensa fibrose e calcificação da parede.
▪ Processo inflamatório crônico pode ser tão exuberante que a vesícula torna-se atrófica
e sofre extrema calcificação, adquirindo padrão fosco, brancacento e firme
▪ A importância desta condição, encontrada em menos de 0,5% das colecistectomias,
reside na sua associação com carcinoma (20% dos casos).
• Microscopia
o Infiltrado monomorfonuclear, com linfócitos, macrófagos, plasmócitos.
o Fibrose da parede (proliferação de fibroblastos acompanhando)
o A mucosa pode ser normal, plana ou ulcerada.
o Seios de Rokitansky-Aschoff: saculação do epitélio da mucosa pela parede, pode ser bastante
proeminente.
▪ Representam herniações diverticulares da mucosa por entre feixes da camada
muscular, estão presentes em 90% dos casos.
▪ A bile pode ficar impactada nos seios de Rokitansky-Aschoff. Nesses casos, ocorre
rompimento da camada mucoprotetora, atingindo o epitélio colunar, irritando
quimicamente iniciando um processo inflamatório crônico na parede
• Esse processo pode determinar uma sequência de eventos (1) lesão e necrose
do epitélio; (2) exposição da bile ao tecido conjuntivo subepitelial; (3) lesão
inflamatória bem desenvolvida e proeminente; (4) espessamento localizado na
parede, que pode simular carcinoma infiltrativo.
Pólipo de colesterol
• É um processo localizado e exuberante da colesterolose.
• Coleção de macrófagos espumosos que fagocitaram grande quantidade de colesterol da bile de uma
forma localizada, formando pólipos sésseis ou pediculados.
• Importância
o Diferenciação com lesões neoplásicas
o Pelos métodos de imagem não dá para definir o tipo de pólipo. O adenoma se desenvolve no
trato alimentar cursa com atipias, displasia e risco de transformação maligna.
o Quando é observada uma lesão polipoide na vesícula por exames de imagem, só é possível
saber a natureza (se há risco de progressão pra malignidade ou não) depois do exame
patológico.
• De uma forma em geral é um processo tranquilo, sem risco de malignização
Pólipos inflamatórios
• Tendem a se desenvolver em vesículas com processos inflamatórios, geralmente associado a cálculos.
• Se apresenta com crescimento localizado na parede, pode ser pediculado ou séssil.
• Hiperplasia de criptas, hiperplasia do epitélio e na lâmina própria uma maior quantidade de células
inflamatórias de tal forma que forma (se evidencia) um crescimento localizado na parede (pólipo)
Hiperplasia adenomiomatosa
• Processos exuberantes do tipo de seios de Rokitansky-Aschoff, com invaginações do epitélio associadas
a hiperplasia de células musculares lisas, fibrose, reação inflamatória, espessamento da parede que
o Localizado: adenomioma
▪ Região fúndica
▪ Nódulos de 0,5 a 2,5 cm de diâmetro, não encapsulados.
o Difuso: hiperplasia adenomiomatosa.
• Lesão hiperplásica caracterizada por proliferação do epitélio de revestimento que se invagina pela
camada muscular espessada → não deve ser confundida com colecistite crônica contendo seios de
Rokitansky-Aschoff
• É uma lesão entendida como um pseudotumor, havendo também um aumento da espessura da parede
• Tende a ocorrer no fundo da vesícula biliar.
• Importância
o Dx de processo neoplásico.
• Aspecto histológico
o Semelhante nas duas formas, notando-se epitélio colunar em meio a feixes de fibras
musculares lisas, sendo papilífero na superfície
o Discreta reação inflamatória, podendo ser visualizados colegranulomas.
• Lesão mais frequente em mulheres, e em 50% dos casos está associada a colelitíase.
Adenomas
• Neoplasia epitelial benigna, cursam com displasia do epitélio.
• Podem ser sésseis, pediculados, tubulares ou vilosos e podem apresentar displasia de baixo ou alto
grau.
• Podem sofrer transformação maligna.
• As outras lesões pseudotumorais (as 3 acima) tem como maior importância diferenciar do adenoma
que tem risco de malignização.
• Microscopia
o Processo exuberante dos seios de Rokitansky-Aschoff, invaginação do epitélio, proliferação
muscular e tal qual nós comentamos nos seios de Rokitansky-Aschoff, pode ficar com cálculo
impactado, a bile pode migrar, pode romper o epitélio, dar um processo inflamatório
exuberante, tudo isso podendo simular malignidades.
• O adenoma é constituído por células epiteliais colunares dispostas em camada única, podendo ser
observadas alterações nucleares, como aumento de volume e hipercromasia, ou mesmo áreas de
displasia. Quando os adenomas são múltiplos, denomina-se adenomatose papilífera ou papilomatose
multicêntrica, que pode estender-se para outros sítios do trato biliar
Tumores malignos
• Pode ser carcinoma da vesícula biliar
• Carcinoma dos ductos biliares extra-hepáticos.
Adenocarcinoma da vesícula
• Principal malignidade.
• Alta associação com cálculos biliares (95% dos casos), sendo um fator de risco.
o Por outro lado, um pequeno percentual dos pacientes que tem cálculo (0,5%) vai apresentar o
carcinoma.
o Ou seja, a maioria dos pacientes com adenocarcinoma de vesícula tem cálculo, e um
percentual muito pequeno dos pacientes de litíase é que vão desenvolver o carcinoma
• Patogenia
o Duas sequências
▪ Adenoma → adenocarcinoma: os adenomas têm atipias no epitélio e tem risco de
progressão, então podemos ter esse processo no cólon e na vesícula biliar.
▪ Metaplasia intestinal → displasia → adenocarcinoma: aqui temos um processo
inflamatório crônico de longa evolução da vesícula biliar que provoca uma metaplasia
intestinal, displasia e adenocarcinoma.
• Macroscopia
o Pode se apresentar crescendo como uma massa vegetante polipoide num padrão exofítico ou
mais comum de uma forma endofítica, que cresce infiltrando a parede (infiltrativo).
o Massas brancacentas foscas e firmes
o Quando tem padrão de crescimento exofítico, pode lembrar o aspecto de um pólipo viloso.
• Microscopia
o Proliferação de epitélio atípico com pseudoestratificação
o Núcleo grande em relação ao citoplasma
o Nucléolo evidente, figuras mitóticas aumentadas
o Presença de figuras mitóticas atípicas
o Infiltração da lâmina própria, muscular própria e tecido hepático adjacente.
o Proliferação de epitélio em padrão cribiforme
o Glândulas sem estroma interposto (“back to back”)
• Clínica
o O grande problema desse tumor é que ele é silencioso, e quando ele tem sintomas eles se
sobrepõem a sintomatologia da litíase. Então o paciente vem com histórico de litíase, as vezes
com cálculo, as vezes com dor, que são os mesmos sintomas que podem se apresentar em uma
fase inicial e que, por isso, podem ser negligenciados, pois não existem grandes diferenças
sintomatológicas do processo inflamatório crônico ou do carcinoma em fase inicial.
o Ele só vai ser diagnosticado quando a doença é avançada, a paciente começa com dor, na
forma de cólica, perda de peso, febre, vômitos, com sintomas constitucionais mais
importantes.
o Diagnostico pré-operatório é raro.
o Sintomas indistinguíveis da colelitíase.
o Pelo fato de o diagnostico ser tardio, geralmente o carcinoma já infiltrou tecido adjacente
(fígado) propiciando então uma disseminação metastática que na grande maioria das vezes
está presente no momento do diagnóstico.
• Tratamento
o O tratamento de eleição é o cirúrgico, e quando possível com ressecção do lobo hepático
correspondente. É o único tratamento efetivo, mas na maioria das vezes não tem a
possibilidade desse
o Tratamento cirúrgico no momento do diagnostico por ter curso silencioso e diagnostico tardio~
Atresia biliar
• Acomete 1 a cada 10 mil nascimentos vivos.
• É a principal causa de transplante hepático em crianças, sendo de 50 a 60% deles.
• A patogenia desse processo é ainda desconhecida, mas muitas dessas crianças nascem com as vias
biliares pérvias, e nos primeiros meses elas vão se apresentando com icterícia decorrente da obstrução
do fluxo biliar.
• Processo que se pode nascer com as vias biliares destruídas, mas uma parcela tem um processo
adquirido, com obstrução do fluxo biliar devido a destruição ou ausência de todo ou parte dos ductos
biliares extra-hepáticos.
• A etiologia ainda não é definida, mas a possibilidade de algum agente infeccioso ou fundo imunológico
pode se desenvolver.
• Quando possível, se faz uma derivação de um segmento a montante, possibilitando a drenagem da
bile, mas esse procedimento cirúrgico a tratamento da atresia biliar só se faz num pequeno percentual
(menos de 10% das vezes) enquanto na maioria das vezes o procedimento não se realiza pois nós não
temos um ducto patente a montante antes da obstrução, para que a derivação se desenvolva.
Coledocolitíase:
• O cálculo na maioria das vezes localizado no colédoco surgem de mobilização do cálculo da vesícula
biliar (cálculo biliar), mas ele pode eventualmente ser formado dentro da arvore biliar (colédoco) e
geralmente secundário a processos infecciosos, então os cálculos formados no colédoco são
pigmentados e não são de colesterol.
• O cálculo de colesterol é sempre formado dentro da vesícula biliar.
Colangite ascendente:
• Esse processo de obstrução de fluxo por calculo pode favorecer processos infecciosos ascendentes, que
entram as bactérias via intestinal, que fazem o percurso inverso, vão ganhando o colédoco, e vias
biliares menores adentrando no parênquima hepático e desencadeando um processo inflamatório
agudo super ativo.