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AulaBibliografia Concurso SEE/SP:

JULIA. Dominique. A Cultura escolar como objeto histórico. Tradução de Gizele de Souza.
IN: Revista Brasileira de História da Educação, v.1 - n.1 - jan./jun. 2001. Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/38749/20279.
Profa. Carollina Lima
Resumo
• A cultura escolar como objeto histórico.
• A cultura escolar, a cada período, deve ser examinada nas suas relações com o conjunto
das culturas [cultura política, cultura popular, cultura religiosa etc] que lhes são
contemporâneas.
• “A cultura escolar é descrita como um conjunto de normas que definem conhecimentos
a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão
desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos.”
• Recorte temporal: entre os séculos XVI e XIX.
• Três eixos (ou perspectivas) para se entender a cultura escolar como objeto histórico:
1) investigar normas e finalidades que regem a escola;
2) avaliar o papel desempenhado pela profissionalização do trabalho do educador;
3) analisar os conteúdos ensinados e as práticas escolares.
A Cultura Escolar como Objeto Histórico
• Normas e práticas não podem ser analisadas sem levar em conta o
corpo profissional de agentes(professores).
• Situa suas reflexões no contexto da produção da historiográfica em
Educação:
• Na década de 1970, o estudo sociológico das populações escolares,
conduziram numerosos historiadores, nas pegada Pierre Bourdieu e Jean-
Claude Passeron (A Reprodução, 1969).
• Nos anos de 1980, vários países comemoraram as grandes leis (oitocentistas)
que impuseram a obrigatoriedade escolar.
• Em ambas há a crença “de uma escola todo-poderosa, onde nada
separa intenções de resultados”. Portanto, “despreza as resistências, as
tensões e os apoios”.
• Propõe que para evitar a ilusão de um total poder da
escola, convém voltar ao funcionamento interno dela
= abrir a “caixa preta” da escola.
• 3 elementos são essenciais à constituição da cultura
escolar:
1) Espaço escolar específico,
2) Cursos graduados em níveis,
3) Corpo profissional específico.
Uma Questão Preliminar: Quais Fontes de Arquivos?
• “A partir de quais elementos e como podemos examinar a cultura escolar
de maneira rigorosa?”
• O historiador da educação oscila entre duas afirmações falsas: (1) não há
inovação pedagógica, tudo já existia antes, (2) ou há total novidade nas
ideias dos pensadores anteriores.
• PREMISSA: “a grande inércia que percebemos em um nível global pode
estar acompanhada de mudanças muito pequenas que insensivelmente
transformam o interior do sistema.” (p. 15)
• “A história das práticas culturais é, com efeito, a mais difícil de se
reconstruir porque ela não deixa traço.”(p.15) – (a dificuldade de reunir
fontes – escritas, orais, visuais – produzidas no espaço da escola).
• Problema crônico: descarte dos arquivos escolares pelas instituições.
Análise das normas e das finalidades que regem a escola
• Tipo de estudo mais tradicional da história da educação, pois atingimos mais facilmente
os textos reguladores e os projetos pedagógicos que as próprias realidades.
• Dois pontos:
1) os textos normativos devem sempre nos reenviar às práticas.
2) nos tempos de crise e de conflitos que podemos captar melhor o funcionamento
real das finalidades atribuídas à escola.
• Ex: Ratio studiorum 1599) - serviu de norma aos colégios até a supressão da Companhia
em 1773 = evolução entre as edições remete “às práticas que a experiência
progressivamente legitimou nos colégios” (p.22).
• A escola não apenas ensina saberes, mas também inculca comportamentos e hábitos
(habitus).
• “A cultura escolar desemboca aqui no remodelamento dos comportamentos, na
profunda formação do caráter e das almas que passa por uma disciplina do corpo e por
uma direção das consciências.” (p.22).
Projetos pedagógicos e realidade histórica
• os tempos de crise nos revelam também o quanto [...] resistências e
contradições atravessaram a aplicação das [novas] normas.
• “É que, no momento em que uma nova diretriz redefine as finalidades
atribuídas ao esforço coletivo, os antigos valores não são, no entanto,
eliminados como por milagre, as antigas divisões não são apagadas, novas
restrições somam-se simplesmente às antigas.” (p.23).
• Olhar para a CIRCULAÇÃO.
• A escola primária no século XIX visava associar cidadãos à nação e difundir
conhecimentos científicos.
• Professores primários enfrentaram contradições e limites em seu trabalho
(“a escola não pode fazer tudo” – p.24).
A profissionalização dos professores
• A análise histórica da cultura escolar deve estudar os critérios de recrutamento
de professores em cada nível escolar, seus saberes e habitus necessários.
• O processo de profissionalização dos professores teve etapas importantes, como
a divisão entre ensino elementar e instrução para a formação superior.
• 2 momentos: (1º) Domínio da Igreja (XVI – XVIII); (2º) Controle do Estado (pós-
XIX).
• No passado, a formação dos professores elementares não era padronizada, com
pouca profissionalização, dependendo da exigência das municipalidades e dos
recursos disponíveis.
• La Salle (irmão-professor), criador Irmãos das Escolas Cristãs, inovou ao fundar
um instituto de leigos dedicado a ensinar os rudimentos básicos aos mais pobres,
baseado em uma pedagogia escolarizada e no uso do francês como língua de
ensino. (ler, contar e escrever)
• A ideia de que os Estados devem criar e manter escolas é fundamental na
Reforma luterana. Ensinar crianças os princípios de uma vida cristã e
piedosa é considerado necessário.
• A influência dos reformados na instalação de escolas latinas foi mais
sensível do que no estabelecimento de um ensino elementar. A Reforma
favoreceu o desenvolvimento de um controle regular das escolas e dos
mestres pelas autoridades laicas, o que contribuiu para a emergência de
um perfil "profissional".
• Segunda etapa da profissionalização no ensino coincide com a
substituição das Igrejas e corporações municipais pelos Estados no controle
da educação no final do século XVIII.
• PRINCIPAL MUDANÇA: A passagem da seleção discricionária para o exame
ou concurso introduziu uma visibilidade baseada em provas escritas e orais,
definindo uma cultura profissional mínima para os professores.
• A cultura do professor ideal no século XIX era definida:
(1) pela evolução dos critérios de seleção nos exames e
concursos (incluindo os programas, assuntos das provas,
performances dos candidatos),
(2) pelos relatórios das bancas que expressavam as expectativas
e desejos dos examinadores.
• A profissionalização do professor primário levou mais tempo
para se estabelecer, com a figura do professor primário
adquirindo autonomia e competências distintas dos professores
secundários.
• A separação institucional entre os ensinos primário e
secundário acentuou a oposição de duas culturas, primária e
secundária.
Conteúdos ensinados e práticas escolares
• DISCIPLINAS ESCOLARES: “não são nem uma vulgarização nem a adaptação das
ciências de referência, mas um produto específico da escola, que põe em
evidência o caráter eminentemente criativo do sistema escolar.
• “o estudo histórico das disciplinas escolares mostra que, diante das disposições
gerais atribuídas pela sociedade à escola, os professores dispõem de uma ampla
liberdade de manobra: a escola não é o lugar da rotina e da coação e o professor
não é o agente de uma didática que lhe seria imposta de fora.” (p.33)
• Aliás, é a mudança de público que impõe frequentemente a mudança dos
conteúdos ensinados.
• Estudar as disciplinares escolares, levando em conta:
• os conteúdos ensinados, [olhar sobre os manuais]
• os exercícios,
• as práticas de motivação e de estimulação dos alunos, que fazem parte destas
“inovações” que não são vistas,
• as provas de natureza quantitativa que asseguram o controle das aquisições.
Conclusão
• O autor destaca três lacunas em sua exposição sobre a cultura escolar:
1) A inculcação dos habitus no espaço escolar, incluindo habitus cristãos,
cívicos e civilidade pueril e discreta, e como os manuais de piedade e
civilidade evoluíram ao longo do tempo.
2) As transferências culturais entre a escola e outros setores da
sociedade, como as aprendizagens de culturas "profissionais" foram
escolarizadas e como certos procedimentos são reintroduzidos na
formação dos adultos.
3) O impacto real da escola na sociedade, considerando o aumento
contínuo da formação, a concorrência dos meios de comunicação, a
individualização das crenças e a transmissão da cultura em meio a
rupturas culturais.
QUESTÕES
Questão 1:
De acordo com o texto de Dominique Julia (A cultura escolar como objeto
histórico), como a cultura escolar pode ser descrita em termos gerais?
a) Como um conjunto de normas que definem as culturas religiosa,
política e popular.
b) Como um conjunto de práticas que visam apenas a socialização dos
indivíduos.
c) Como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e
condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a
transmissão desses conhecimentos e comportamentos.
d) Como um conjunto de valores e crenças transmitidos pela escola para
moldar o pensamento dos alunos.
e) Como um conjunto de rituais e tradições escolares que visam unificar a
cultura das escolas.
Questão 2:
O que a metáfora da "caixa preta" da escola, mencionada no texto de
Dominique Julia (A cultura escolar como objeto histórico), representa?
a) Uma abordagem que desconsidera os resultados alcançados pela
escola.
b) A forma como a escola é vista pela sociedade em geral.
c) O lugar das normas em relação às práticas nos estudos de história
da educação.
d) Uma visão de que a escola é apenas o lugar de reprodução social.
e) O funcionamento interno da escola, incluindo suas práticas e
normas.
A imagem faz referência a uma metáfora presente no texto “A cultura
QUESTÃO 3 escolar com objeto histórico”, de Dominique Julia. Para o autor francês:

I. O historiador não precisa ser criativo ao buscar informações em fontes


pouco convencionais, já que “qualquer graveto serve”.
II. O historiador deve se ater apenas às fontes tradicionais e não explorar
novos objetos nos arquivos, incluindo as flechas de madeira.
III. O historiador é capaz de encontrar informações úteis mesmo em fontes
pouco convencionais, fazendo "flecha com qualquer graveto".
IV. O historiador pode enfrentar dificuldades ao investigar práticas
escolares pois, muitas vezes, elas que não deixam traços visíveis.

Estão corretas a afirmativas:


a) I e III.
b) II e VI.
c) III e VI.
d) I e VI.
Imagem gerada por IA. e) II e III.

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