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18 e 19

Março
2022

Alimentação entérica em
animais hospitalizados
Ana Luísa Lourenço
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Malnutrição

Anorexia/hiporexia
NPO Barendregt et al 2008 ! E Spen Eur E J Clin Nutr Metab

Sem plano nutricional adequado, sem instruções e sem registos precisos

Derdas de nutrientes e energia no vómito, diarreia ou urina


Dificuldade na absorção dos nutrientes
Necessidades aumentadas em resultado direto da doença (queimados, convulsões)
Estado hipermetabólico em resultado do quadro clínico
Malnutrição
Necessidade aumentadas devido a doenças, em situações particulares como convulsões ou queimaduras extensas. Normalmente não partimos deste
princípio, garantimos as RER e a partir daí vamos avaliando o peso e ajustando.

Quando iniciar a alimentação?

“Tão cedo quanto possível” “Estabilização”


Primeiramente, estabilizar o animal.

Quando iniciamos alimentação? Quanto mais rápido melhor!


Animais hipotérmicos
- É importante, mas não antes de estabilizar o animal.
- Cuidado com o equilíbrio eletrolítico.
Desidratados
- Animais hipotérmicos, nada vai funcionar, primeiro aquecer o animal. Não alimentar Com alterações hemodinâmicas graves
logo. Com alterações eletrolíticas e ácido-base graves
- Animais desidratados - repor os níveis antes da alimentação.
- Quando temos alterações hemodinâmicas graves - eletrolíticas ou AcidoB.
Estados hipermetabólicos: animais em jejum simples, este gato não
entra em lipidose hepática. Se metermos um gato obeso /doente)
nestas situações ele entra em lipidose hepática dentro de 24h.
Jejum simples é diferente de jejum associado a doença metabólica.
- Animal saudável em jejum adapta-se fisiologicamente. De modo a
proteger o animal desta falta de alimento, baixa as necessidades

Etapas metabólicas, consegue ficar assim durante período longo.


- Animais internados estão sobre stress, com alterações metabólicas
Avaliação nutricional com aumento da taxa metabólica, aumento do catabolismo e turnover
proteico. Os níveis de albumina são bom indicador. Em animais
Plano nutricional doentes estes níveis baixam muito rapidamente, porque consome
proteínas a ritmo muito elevado.
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento
 Quantidade do alimento
 Instruções de alimentação
• Preparação do alimento
• Introdução do alimento e água
• Maneio alimentar
 Monitorização
Reavaliação
Avaliação Nutricional

 Idade/gestação/lactação

Cachorro, animal gestante ou lactante a urgência e maior


https://wsava.org/wp-content/uploads/2020/01/Nutritional-Assessment-Checklist.pdf
CM
Avaliação Nutricional

PC CC

SUB-IDEAL EXCESSIVA
CM
Avaliação Nutricional

PC CC

SUB-IDEAL EXCESSIVA

Gatos igual! Pesagens no internamento devem ser 1 x/dia, à mesma hora do dia, antes da refeição da manhã.
Avaliação Nutricional

 Quadro clínico
• Doença
• Perdas

 Hábitos alimentares
 Preferências

WSAVA guias de alimentação. Há quanto tempo é que estes animais não comem ou comem pouco? Quando o tutor diz 3 dias, é 5 dias na realidade e
já não é hipo mas sim anorexia. Ter em conta que normalmente é mais grave
3 dias anoréxico – alto risco
5 dias em hiporexia – alto risco
Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação

Animais não alimentados, a introdução brusca de grande quantidade de alimento provoca


síndrome de realimentação.
Animais com baixa quantidade de ingestão, se fornecemos energia, dentro das células, as vias
metabólicas são ativadas de forma brusca com entrada de minerais e eletrólitos, principalmente
P, nas células – paragens cardíacas p.e.
Plano alimentar
Quais os hábitos alimentares – o que ele gosta,
 Seleção da via de alimentação preferências.
Ingestão voluntária
Ingestão assistida

Video
catarina a
Otimização do ambiente comer à
 Ambiente calmo mão e com
Caixa no
 Separação de espécies interior da
 Pessoa de confiança (dedicada a carícias e alimentação; tutor) box

 Adaptação do interior da box


(taça de casa, comedouro de casa etc). Pode ser o tutor quando visitar a estimular a ingestão.

Muitas situações em que temos recomendação de nada PO – anestesia ou situações de vomito. Nalgumas situações é erradamente indicado. Tem
de haver um follow up. A não administração faz atrofia da vilosidades intestinais e risco de translocação bacteriana.
Temos de ver se há dificuldade na absorção.
Ingestão voluntária
Ingestão assistida
Otimização da alimentação
 Alimento palatável - o mais palatável possível
• Tipo– seco vs húmido
• Textura – patê, pedaços,…
• Sabor
• Odor
aumenta o cheiro
• Temperatura
• Bem conservado - devemos colocar uma película
de água por cima e colocar a tampa
mesmo que os animais tenham tubo, Oferecer “à mão”
devemos sempre tentar oferecer à
mão primeiro
 Pessoa dedicada calma e paciente
Em casos de DRC, o mais habitual de darmos no
internamento é comida renal mas, muitas vezes eles não
gostam e não comem.
Nestas situações, é melhor comerem um pouco doutro tipo
de comida do que não comerem nada da renal.
Também associam, mtas x, o alimento renal a situações
más que tenham passado no internamento. Depois, em
casa, não os querem comer.
Ingestão voluntária
Ingestão assistida

Verificar a possibilidade de acesso


 Mobilidade do doente
 Acessibilidade ao alimento/água

Há animais que não se conseguem mexer, logo não se conseguem locomover até ao alimento.
O colar também restringe movimentos, p.ex
Ingestão voluntária
Ingestão assistida

Verificar a possibilidade de acesso


 Mobilidade do doente
 Acessibilidade ao alimento/água

Medicação
 Ajuda/problema

Em último recurso, não para resultados a longo prazo.


RER. Enquanto os animais não estiverem a ingerir os RER, não devemos dormir, porque há um problema.

Ingestão voluntária
Ingestão assistida

A ingestão assistida pode ser implementada logo no primeiro dia (é melhor, porque pode estar com hiporrexia há 5 dias ou anorexia há 3 dias). Se
ficasse naquela situação mais tempo - atrofia ainda maior das vilosidades intestinais.

Alimentação forcada NÃO!!! Só mesmo de forma correta e segura, em animais super colaborantes. Quando os cães toleram, mas normalmente
não recomendado!

Estimular ingestão entérica, mesmo em casos de vómitos (se não for muito intenso). Normalmente conseguimos controlar o vomito
farmacologicamente e damos por via entérica. Podemos usá-la parcialmente. Se usarmos a dose diária e dividirmos em 12 refeições e tentamos
dar algumas delas por via entérica.
Mesmo quando temos possibilidade de alimentação parentérica devemos usar sempre entérica também.
oluntária
Ingestão assistida

 Alimentação forçada
• Fazê-lo corretamente
• Animal super-colaborante
oluntária
Ingestão assistida

 Sondas

As sondas nasoesofágicas achava-se até há pouco serem


vantajosas em relação às nasogástricas, mas hoje em dia é
igual.
Variações de desidratação tem implicações grandes no peso, por exemplo, começam com 3kg e passam a 3,6kg – não significa que comeu, pode ser
devido a fluidotx.

oluntária
Ingestão assistida

 Sondas naso-gástricas /naso-esofágicas


As sondas nasogástricas ou nasoesofágicas menos do que 7 dias (em cada narina).
• < 7 dias
• Diâmetro < 8 French
• Dietas líquidas/patês tipo “recovery” ou “convalescence” (+++ água)
• Aplicação sem anestesia e minimamente invasiva
• Risco de lesão nasal com epistaxis, má aplicação, deslocação
• Necessidade de colar isabelino

- Vantagens: não precisamos de anestesia, só anestésico local e em estado mais crítico mais usadas.
- Diâmetros muito pequenos e alimentos mais limitados. Só para dietas líquidas ou pates especialmente formulados, porque são muito macios.
- Temos que administrar água antes da refeição, depois da refeição e o alimento com água.
- Risco real de sobrehidratação - mais baixo em animais com perdas acima da média, como diarreias, PU etc. Temos que contabilizar sempre a água que
está a ser administrada através da sonda. Se os fluídos não forem essenciais IV podemos fazer fluidoterapia PO
- Animais não toleram muito bem, e conseguem retirar a sonda.
oluntária
Ingestão assistida

 Sondas esofágicas
• Semanas a meses
• Diâmetro 10-20 French
• Dietas líquidas/patês tipo “recovery” ou “convalescence”
• Outros alimentos húmido ou secos (+ água)
• É possível utilizar em casa
• Aplicação com anestesia e invasiva, mas técnica simples
• Risco de infeção do estoma
oluntária
Ingestão assistida

 Sondas gástricas
• Semanas a meses
• Diâmetro >20 French
• Alimento húmido ou seco + água
• É possível utilizar em casa
• Aplicação com anestesia e invasiva, técnica mais complexa
• Risco de infeção do estoma e tecidos envolventes, migração
1Quando achamos que a situação se vai prolongar. Normalmente é melhor usar as NG ou NE.
Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento
Seleção dos alimentos: normalmente recovery etc são adequados: são altamente palatáveis, com elevado teor
em proteína e gordura, com baixos teores de HC – vantagem porque normalmente animais estão em stress
(com hiperglicemia), o que poderia provocar hiperglicemia com alimentos normais.
Animais com vómito - cuidado!- a gordura é um dos fatores que conduz ao vómito.
Plano alimentar

 Seleção do tipo alimento

 Seleção da via de alimentação


Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento (tipo)
 Quantidade do alimento
Plano alimentar

 Quantidade de alimento

Energia
Aqui a prof considera não usar o peso ideal. Exceto em animais com CC 1 ou 2/9. Primeiro devemos
atingir as nec energéticas de repouso para o atual, e depois para o peso ideal e depois depende da
evolução do peso do animal.

Plano alimentar

 Quantidade de alimento

Exemplo:
NER de gato 4kg = 70 x 40.75 = 198 kcal/dia

Exemplo:
NER de cão 40kg = 70 x 400.75 = 1113 kcal/dia

Necessidades energéticas de repouso (NER) = 70 x PC(kg)0.75 kcal/dia


Plano alimentar Peso (kg) NER (kcal/dia) Peso (kg) NER (kcal/dia)

 Quantidade de alimento

No internamento queremos que a dose que entra, seja igual à dose


que sai.
- Primeiro objetivo é que o animal não perca peso, a não ser que seja
gordo, mas no internamento não é objetivo fazer planos de PP.
Animais em crescimento ter em conta as diferentes necessidades
energéticas e nutricionais, e que mesmo que estejam no
internamento, devem aumentar o peso. Se animal mantiver menos
mal, é pior se ele perder.

https://wsava.org/global-guidelines/global-nutrition-guidelines/
Feeding Guide for Hospitalised Cats and Dogs (ES, CH, FR, PT)
Plano alimentar Peso (kg) NER (kcal/dia) Peso (kg) NER (kcal/dia)

 Quantidade de alimento

NER / nº kcal = g ou mL

1 kcal/ml
Exemplo gato 4kg :
198 / 1 = 198 g ou mL/dia
1 kcal/g
nº Exemplo cão 40kg :
1113/1 = 1113 g/dia

Exemplo cão 40kg :



4 kcal/g 1113/4 = 278 g/dia
https://wsava.org/global-guidelines/global-nutrition-guidelines/
Feeding Guide for Hospitalised Cats and Dogs (ES, CH, FR, PT)
Quando animal tem vómito e diarreia, diminuímos logo a dose diária? Não, primeiro diminuímos o volume por refeição. Depois sim podemos diminuir a
dose diária. Mas, primeiro, diminuímos o volume de cada dose (aumentamos frequência).

Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento (tipo)
 Quantidade do alimento
 Instruções de alimentação
• Preparação do alimento
• Introdução do alimento e água
• Maneio alimentar (sonda)
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Preparação do alimento

Consistência A consistência é importante e depende do tipo de sonda.

• Liquida (sondas <12 French)


• Dietas líquidas/patês tipo “recovery” ou “convalescence” (+ água)

• Semi-liquida (>12 French)


• Patês tipo “recovery” ou “convalescence”
• Alimentos húmidos (+ água)
• Alimentos secos (+ água)
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Preparação do alimento

196 kcal/lata 196kcal /Vol total (mL) nº kcal/mL


+ nº mL H2O

Lata com 196 kcal/lata, mas precisamos de água. Misturamos este alimento com volume de água necessário. Sabemos que no volume total
temos 196 kcal – quantos mL temos de administrar?
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Preparação do alimento

2 dias
100g = 400kcal 400kcal / Vol total (mL) nº kcal/mL
+ nº mL H2O

Mesma coisa com o alimento seco. A água não tem energia, o volume total tem mesma.
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Introdução do alimento

1º dia 100 % NER 1º dia 25 -50% NER


Ingestão voluntária

Sondas 1º dia 25 % NER


1º água temperatura corporal
2º dia 50% NER
(1-2 mL/kg)
3º dia 75% NER
(2-3 mL/kg)
4º dia 100% NER
2-3 tomas

 Número de refeições 3 refeições …. 12 refeições… infusão contínua 1ºs 3 dias


5 a 10 mL/kg PC/ refeição
Diferentes níveis, passamos para o seguinte quando o animal está a progredir sem vómito.

1º dia começamos com 25% (em animais em jejum há muito tempo).


Estômago vai ter capacidade reduzida e não devemos ultrapassar 5-10 mml/kg por refeição. Deve ser administração muito lenta.
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Introdução do alimento

Água lima e fresca ad libitum

Água = (alimento + (água da limpeza da sonda x 2) ) x nº de refeições

+ para hidratação se necessário


Sobrehidratação

Temos que saber quanta água no alimento por causa do problema da sobrehidratação.
Animal não tem necessidades acrescidas, até onde podemos ir por causa do risco de sobrehidratação? 2x das
doses RER. NER de 198 mL p.e. podemos ir até aos 400 mL. Normalmente as necessidades em água são
equivalentes às necessidades de energia – 600 kcal = 600 mL.
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Maneio alimentar (sonda)

• Ambiente calmo e operador paciente


tanto faz
• Homogeneizar o alimento - encher a seringa - aquecer
Aquecer o alimento e homogeneizar- encher a seringa
37ºC
• Encher seringa com água também aquecida
1-2 mL antes do alimento
5-10 mL depois do alimento
Vemos primeiro se o animal tolera água, administrados à T corporal. Refeição
• Administração lenta de 1-2ml/kg de água, vemos se tolera. Se tolerar, após 2 ou 3 tomas
2 mL/min toleradas de água podemos começar com comida.
Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Maneio alimentar (sonda)

• Colocar o animal com o terço anterior ligeramente elevado

• Abrir a sonda e iniciar de imediato a administração

• Administração lenta (flushing-alimento-flushing)


2 mL/min (inicio)

• Após a administração manter o doente na mesma posição, em repouso e em


ambiente calmo

com almofada na porção da frente por exemplo.


Plano alimentar
 Instruções de alimentação

• Maneio alimentar (sonda)


Animal começa a ficar irrequieto, stressado etc. É normal ele deglutir. Mas a prof está a falar em mastigar, lamber os lábios, salivação, há que
suspender a alimentação naquele momento.

Se existirem problemas com o paciente durante a administração?


 Suspender
 Verificar
 Reduzir
 Modificar

Obstução da sonda?

Pressão negativa (aspirar) ou positiva (empurrar) com a seringa


Água a 37ºC
Agua com enzimas digestivas
Liquidos com dióxido de carbono
Retirar a sonda e voltar a colocar.

Obstrução da sonda? Cuidado ao tentar empurrar. Usar água tépida para tentar dissolver, enzimas digestivas, líquidos com CO” (coca-
cola ou água das pedras).
Se nada funcionar, retiramos e voltamos a colocar.
Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento (tipo)
 Quantidade do alimento
 Instruções de alimentação
• Preparação do alimento
• Introdução do alimento e água
• Maneio alimentar
 Monitorização
Reavaliação
Monitorização

 Ficha individual

• Instruções e registo

Fichas que podemos deixar com o paciente e com


registo de cada alimentação, com todas as infos.
Oferecido vs ingerido
Etapas
Avaliação nutricional
Plano nutricional
 Seleção da via de alimentação
 Seleção do alimento (tipo)
 Quantidade do alimento
 Instruções de alimentação
• Preparação do alimento
• Introdução do alimento e água
• Maneio alimentar
 Monitorização
Reavaliação
Ingestão voluntária
Ingestão assistida

Bem nutrido Em risco de malnutrição Malnutrido

 Ingestão inconsistente das NER  Ingestão <2/3 NER


 Ingestão consistente das NER
 Perda de peso <10%  Perda de peso >10%
 Manutenção do peso corporal ou
evolução desejada  CC deprimida a normal (3-5/9)  CC muito baixa (< 3/9)
 Manutenção de CC ideal (4-5/9)  Perda ligeira a moderada de massa  Perda moderada a severa de massa
muscular muscular
 Massa muscular normal ou perda
ligeira  Normo albuminemia ou  Hipoalbuminemia moderada a grave
 Normoalbuminemia hipoalbuminemia borderline  Perda de nutrientes descontrolada
 Sem perdas de nutrientes  Perda moderada de nutrientes

Bem nutridos: ingere de forma consistente as RER, mantem peso, mantem CC, massa muscular estável ou perda ligeira
Em risco de malnutrição: PP animais em risco!!
https://wsava.org/global-guidelines/global-nutrition-guidelines/
Questões?

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