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Alcyon Ricardo Cardoso de Lima

oab/pr 29.217
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Parecer Jurídico Opinativo - Legal Opinion

Destinatário: Polo Four

Assunto: Contrato – Força Maior - Desfazimento


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Objetivo:

Ação Civil Pública n. 1998.01.1.016798-9


Autor: IDEC
Réu: Banco do Brasil.

Parecer versando sobre desdobramentos da sentença constante na Ação


Civil Coletiva que condenou os Bancos a ressarcirem os Poupadores
prejudicados por ocasião dos Planos Econômicos e seus expurgos
inflacionários.

Análise do posicionamento dominante no Judiciário (abril/2018) quanto à


prescrição do direito dos Poupadores, que ainda não promoveram execução
individual dos direitos reconhecidos em sentença.

Questões enfrentadas:

1. Pode ainda o poupador ingressar com ação de execução ?


2. Como se define o foro da execução ?
3. O que deve instruir a Petição Inicial ?

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Base Jurisprudencial e Normativa:

Importante divisor de águas na compreensão do tema se deu com o


pronunciamento definitivo do Supremo Tribunal Federal sobre a existência

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do direito a beneficiar-se dos direitos consagrados nas decisões obtidas por


IDEC e afins, nas seguintes hipóteses:

I- quando o poupador não estivesse previamente filiado à entidade autora


quando da propositura da Ação Civil Coletiva;

II- ou quando, mesmo filiado, não tivesse concedido prévia e escrita


autorização para que a entidade o representasse na Ação Coletiva;

A controvérsia finalmente foi pacificada no sentido de que os poupadores


não filiados às entidades autoras de Ação Civil Pública, bem como os
poupadores filiados que não concederam tal autorização escrita e prévia são
igualmente beneficiados pelos efeitos de sentença obtida nas referidas
ações e portanto, também tais poupadores estariam legitimados à promoção
da subsequente ação de execução do título judicial esculpido na sentença
coletiva. Ainda, ficou reconhecido que tal execução poderia ocorrer de
forma individualizada.

Duas controvérsias porém, ainda têm suscitado dúvida:

a-) Quais parâmetros regem a competência territorial para as inéditas


execuções individuais que de agora em diante aportarem ao Judiciário ? O
foro de domicílio atual do poupador ? Ou deverá tramitar na mesma vara
em que está a Cautelar de Protesto, cuja vigência do despacho evitou a
prescrição da pretensão executiva ? Ou seria ainda, o foro em que transitou
em julgado a sentença da Ação Coletiva correlata ao poupador ?

b-) até quando seria possível protrair, no tempo, o direito do ingresso de


referidas execuções;

Quanto ao ponto “a” tem-se consolidado o entendimento de que, ainda que


o poupador não esteja atrelado à competência territorial do juízo prolator da
coisa julgada, pode ele ajuizar sua execução, seja na Comarca de seu
domicílio, seja na que consta a ação civil coletiva, à livre escolha do
poupador.

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Esclarecendo o tema, decidiu o STJ

1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a sentença


proferida pelo Juízo da 12ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária
de Brasília/DF, na ação civil coletiva n.1998.01.1.016798-9, que condenou
o Banco do Brasil ao pagamento de diferenças decorrentes de expurgos
inflacionários sobre cadernetas de poupança ocorridos em janeiro de 1989
(Plano Verão), é aplicável, por força da coisa julgada, indistintamente a
todos os detentores de caderneta de poupança do Banco do Brasil,
independentemente de sua residência ou domicílio no Distrito Federal,
reconhecendo-se ao beneficiário o direito de ajuizar o cumprimento
individual da sentença coletiva no Juízo de seu domicílio ou no Distrito
Federal; (REsp 1391198/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2014, DJe 02/09/2014) 

https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/513048067/agravo-de-
instrumento-cv-ai-10431140054278001-mg/inteiro-teor-513048208?
ref=juris-tabs

Citando o leader case consagrado no Superior Tribunal de Justiça, veja-se


e.g. que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais reafirma sua própria
competência para julgar ação de poupador mineiro, invocando para tanto,
argumento emprestado de jurisdição afeta ao Tribunal de Justiça do Distrito
Federal (leia-se: 12ª Vara Cível de Brasília na Ação Coletiva dos autos nº
1998.01.016798-9) como lastro decisório afirmativo da competência
relativa e concorrente entre: o Estado que abriga sentença erga omnes
transitada em julgado; e o Estado em que porventura resida o poupador, se
diverso daquele.
Por oportuno, cite-se:

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1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a


sentença proferida pelo Juízo da 12ª Vara Cível da
Circunscrição Especial Judiciária de Brasília/DF, na ação
civil coletiva n.1998.01.1.016798-9, que condenou o Banco do
Brasil ao pagamento de diferenças decorrentes de expurgos
inflacionários sobre cadernetas de poupança ocorridos em
janeiro de 1989 (Plano Verão), é aplicável, por força da coisa
julgada, indistintamente a todos os detentores de caderneta de
poupança do Banco do Brasil, independentemente de sua
residência ou domicílio no Distrito Federal, reconhecendo-se
ao beneficiário o direito de ajuizar o cumprimento individual
da sentença coletiva no Juízo de seu domicílio ou no Distrito
Federal;  (REsp 1391198/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2014,
DJe 02/09/2014) 

Ora, no caso, como relatado, a parte exequente pediu a


execução individual da sentença proferida nos autos da ação
civil coletiva n.º1998.01.1.016798-9, como se vê às ff. 24/32,
sobre a qual se refere o citado REsp 1.391.198/RS, e como
prova de sua legitimidade "ad causam" juntou cópia de um
extrato da conta poupança n.º 100.074.746-5, que possuía
junto ao Banco do Brasil S/A.
 
Diante daquela decisão, rejeito as preliminares de
ilegitimidade ativa "ad causam" e de incompetência
territorial alegadas pela parte agravante (TJMG - 17ª
Câmara Cível. Julgado em 19/10/2017 Relator: Evandro
Lopes da Costa Teixeira)

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d19/10/2017, no AI: 10431140054278001 MG que

TJMG em 19/10/2017 que:

https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/513048067/agravo-de-
instrumento-cv-ai-10431140054278001-mg/inteiro-teor-513048208?
ref=juris-tabs

TÍTULO JUDICIAL NÃO SE LIMITA AO ÂMBITO DO


DISTRITO FEDERAL ONDE SE LOCALIZA O ÓRGÃO
JURISDICIONAL QUE A PROLATOU

AI 10431140054278001 MG

No que tange à temática da prescrição, tratada no item “b” supra, importa


remontar o evento ocorrido em 03/10/2014.

Nesta data, o juízo da Décima Sétima Vara Cível de Brasília-DF, analisou


pedido inicial em Ação de Protesto n. 2014.01.1.148561-3, promovida pelo
Ministério Público em favor dos poupadores do Banco do Brasil.

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O pedido foi acolhido em despacho. Os poupadores até então ali inertes,


passaram a ser abrigados por mais uma extensão quinquenal para promover
o cumprimento forçado da sentença.

Reconheceu-se também (ainda sob diminuta dissidência jurisprudencial)


que o Ministério Público compõe o rol de agentes legitimados à
representação processual dos poupadores, de forma genérica e indistinta.

A recontagem teve termo a quo pela data em que se propôs a Cautelar de


Protesto, qual seja, 26/09/2014.

Conclui-se portanto que, até 26/09/2019 prolongou-se o direito do


poupador ao ingresso de medida executiva individual.

Noutro ponto, importa registrar que, quanto aos juros remuneratórios, os


mesmos XXXXXXXXXXXX a instruir os cálculos da inicial executiva

para aferir o valor líquido e certo que deverá instruir a inicial de


cumprimento da sentença.

Assentou-se enfim que tais juros

FALAR TAMBÉM DOS JUROS REMUNERATÓRIOS;

em que Comarca e Foro deveriam

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medida cautelar de protesto (2014.01.1.148561-3), determinou a


notificação do requerido/Banco do Brasil para que tomasse ciência do teor
da mencionada cautelar, ajuizada pelo MPDFT com o objetivo específico
de interromper a prescrição das execuções individuais da sentença
proferida na Ação Civil Pública n. 1998.01.1.016798-8 (ID n. 1602786-
Pág. 145). Afirma que o réu foi notificado da existência do sobredito
protesto, em 15/10/2014 (ID n. 1602786- Pág. 150), de modo que a
interrupção da prescrição, por meio do despacho que ordenou a citação
(art. 202, inciso I, do CC/02), retroagiu à data da propositura da cautelar de
protesto (26/09/2014), nos moldes do art. 240, § 1º, do CPC/15. Defende,
assim, que interrompida a prescrição em 26/10/2014, teria direito ao
ajuizamento do presente cumprimento de sentença até 26.09.2019, razão
porque entende que a sua pretensão não estaria prescrita.

Ilustrando o tema, cita-se decisão publicada no Diário da Justiça de São


Paulo em 12/04/2018 conforme abaixo:

No que diz respeito à alegação de prescrição das execuções, a


Súmula 150 do STJ preceitua:

“Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da


ação”.

No entanto, conforme Informativo nº 0484 do STJ:

Trata-se, na origem, de pedido de cumprimento individual de


sentença proferida em ação civil pública que condenou
instituição financeira a pagar poupadores com contas iniciadas
e/ou renovadas até 15/6/1987 e 15/1/1989, os expurgos
inflacionários referentes aos meses de junho de 1987 a janeiro
de 1989, e juros de 0,5% ao mês.

O Min. Relator afirmou que para a análise da quaestio juris


deve-se ater aos seguintes aspectos:

I - na execução, não se deduz pretensão nova, mas aquela


antes deduzida na fase de conhecimento, com o acréscimo de

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estar embasado por um título executivo judicial que viabiliza


atos expropriatórios, consubstanciando a sentença marco
interruptor do prazo prescricional, daí por que a execução deve
ser ajuizada no mesmo prazo da ação (Súm. n. 150-STF);

(...)

Do exposto, concluiu que o prazo para o consumidor ajuizar


ação individual de conhecimento, a partir do qual lhe poderá
ser aberta a via da execução, independe do ajuizamento da
ação coletiva, e não é por essa prejudicada, regendo-se por
regras próprias e vinculadas ao tipo de cada pretensão
deduzida.

Porém, quando se tratar de execução individual de sentença


proferida em ação coletiva, como no caso, o beneficiário se
insere em microssistema diverso e com regras pertinentes,
sendo necessária a observância do prazo próprio das ações
coletivas, que é quinquenal, conforme já firmado no REsp
1.070.896-SC, DJe 4/8/2010, aplicando-se a Súmula n.150-
STF.

(...)

No caso, ainda que a prescrição quinquenal tenha ocorrido


contando-se a partir do trânsito em julgado da ação civil
pública, em 27 de outubro de 2009, em 26 de outubro de 2014,
encontra-se em vigor a Ação Cautelar de Protesto de
Interrupção de Prescrição, promovida pelo Ministério Público
do Distrito Federal (Proc. n.º 2014.01.1.0148561-3) distribuída
incidentalmente, para o reconhecimento dela somente a partir
de 2019.

Portanto, com o deferimento da medida desse protesto, fica


afastado, por ora, a alegação do decurso do prazo prescricional
e, por consequência, não impede o prosseguimento da
presente, por não se encontrar, para todos os efeitos, prescrita
a presente execução.

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Ante o exposto, dou PROVIMENTO EM PARTE À


IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO DA SENTENÇA DA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DO PROC. n.º 1998.01.016798-9 da
12ª Vara Cível de Brasília DF promovida por ANGELA
MARIA FERREIRA contra o BANCO DO BRASIL S/A e o
faço para apenas reconhecer a não incidência dos juros
remuneratórios, com a determinação à exequente, para
providenciar a sua exclusão dos seus cálculos iniciais. Diante
da sucumbência parcial, condeno o executado a pagar
honorários advocatícios ao Advogado da exequente, em 10%
do valor atualizado da execução, desde que observado a
exclusão dos juros remuneratórios, conforme acima
determinado, além de custas e despesas processuais se
comprovados os seus recolhimentos nos autos. Condeno o
executado a pagar honorários advocatícios que arbitro em 10%
sobre o valor atualizado do valor dos juros remuneratórios,
excluídos dos cálculos iniciais, ressalvado, no entanto, caso
deferido os benefícios da Assistência Judiciária, o previsto no
artigo 98, §3º, do Código de Processo Civil. Int.(DJSP p.
2166)

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Marcos Temporais Relevantes:

Trânsito em julgado em 27/10/2009.

Quinquênio operado em 28/10/2014.

Interrupção da Prescrição em

Prazo final novas execuções individuais até 26/09/2019

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Considerações Conclusivas:

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Vide apelação 0702277-80.2017.8.07.0001. Neste acórdão é bem definido


q a medida cautelar ajuizada pelo MP não aproveita aos consumidores
individuais.

Portanto até 26/09/2019 (ou antes disso, enquanto não reformada a decisão
que reconheceu o Ministério Público como parte legítima a intentar a
mencionada Medida Cautelar de Protesto), configura-se acertado afirmar
que, ainda é possível promover o cumprimento forçado da sentença.

Ademais, é lícito que o poupador decida quanto à escolha da comarca em


que irá requerer tal providência.

lhe que lhe convenha (e não apenas o da sentença coletiva e ainda que não
seja o de sua conta bancária à época dos expurgos) a fim de se ver
readmitido na propriedade dos valores monetários que lhe foram
subtraídos, além de juros e correções.

É o parecer, s.m.j..
Curitiba, 11 de abril 2.018

Alcyon Ricardo C. de Lima


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