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Competências empreendedoras: um

diferencial para as organizações neste


novo milênio
Por
Vander Lúcio Sanches
-
RC: 18863 - 22/08/2018
0
1302
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LEAL, Adriana Pinheiro [1], BICALHO, Rachel Ferreira Sette [2], SANCHES, Vander
Lúcio [3], MELO, Alan da Silva [4], MATOS, Salete [5], ANDRADE, Raquel Pessoa [6],
RIBEIRO, Kátia Glê Sanches [7]

LEAL, Adriana Pinheiro. Et al. Competências empreendedoras: um diferencial para


as organizações neste novo milênio. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 08, pp. 13-34, Agosto de 2018. ISSN:2448-0959

Contents [hide]

 Resumo
 INTRODUÇÃO
 2. REFERENCIAL TEÓRICO
 2.1 perspectivas teóricas acerca das competências empreendedoras
 2.2 O perfil do empreendedor
 2.3 As necessidades do empreendedor
 2.4 A importância das competências empreendedoras para as organizações
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 REFERÊNCIAS

Resumo
O presente artigo discorre acerca das competências empreendedoras e suas vertentes
aplicadas ao empreendedorismo. Tendo como cenário a contemporaneidade, bem como
suas especificidades, não poderíamos deixar de tratar o estudo como um debate atual,
procurando inserir o tema abordado no momento em que nos situamos economicamente.
Identifica-se a preocupação crescente por parte das organizações em desenvolver as
competências das pessoas que nelas atuam. Como o empreendedor muitas vezes está
inserido na lógica das organizações, cabe estudar o perfil do empreendedor, suas
necessidades e contribuições para a organização bem como para o empreendedorismo.

Palavras-chave: Empreendedorismo, Competências empreendedoras, Organizações


INTRODUÇÃO
Tendo em vista o mundo moderno e a crescente perspectiva de abertura de negócios
próprios incentivados pela economia atual, nos deparamos com a valorização do bem
mais precioso que compõe uma organização: o conjunto de pessoas que nela trabalha.
Com o advento do reconhecimento da importância das pessoas para a organização,
torna-se imprescindível o estudo de aspectos ligados a elas, tais como as habilidades,
comportamentos e características. Deste modo, devem-se articular as investigações
acerca do empreendedorismo com as competências empreendedoras, de modo que possa
ser feita uma avaliação das necessidades do mercado no âmbito das competências.

Para tanto, se faz necessário entender o empreendedorismo como um processo, não


como atividades isoladas e realizadas por etapas, pois existem elementos que incidem
diretamente sobre cada episódio no processo de empreender (KURATKO e
HODGETTS, 1998), sendo assim as competências empreendedoras fazem parte do
processo.

As pessoas que fazem parte do mundo empreendedor terão que ser preparadas para
enfrentar o mundo globalizado e informacional, ato que requer tanto o saber fazer, como
o saber ser. Tais elementos são determinantes de sobrevivência na atualidade,
contextualizada no aprender a aprender, é a possibilidade de gerar crescimento
organizacional por meio de recursos que contribuem para a formação de competências
(DEMO, 1994).

Para Maximiano (2004), o profissional disposto a acompanhar as mudanças


mercadológicas e reavaliar suas competências gerenciais, direciona suas ações para
enquadrar-se em uma nova realidade, que corresponde à atualidade. O empreendedor
atento às mudanças que ocorrem ao seu redor e disposto a acompanhar a evolução
mercadológica, aperfeiçoando-se, tende a prosperar dentro de um ambiente competitivo,
dinâmico e inovador.

Segundo Robbins e Coulter (1998), o empreendedor atua como principal consultor de


mudança seja está pessoal ou nas organizações. Ser um agente de mudanças e gerar
benefícios para si e para o ambiente passa a ser um atributo inerente ao comportamento
empreendedor, fazendo com que componha o hall de competências necessárias para o
sucesso.

As características que podem levar o empreendedor ao sucesso estão relacionadas ao


otimismo que estes deverão ter para visualizar tanto as oportunidades quanto as ameaças
que circundam o mundo empreendedor.

Para Lezana e Tonelli (1998), inúmeros aspectos envolvem a figura do empreendedor e


sua relação com a empresa, não existindo um arquétipo de empreendedor ou mesmo de
personalidade empreendedora. Porém, uma forma bastante usada de focalizar as
características ou traços de personalidade esperados dos empreendedores é a partir do
estabelecimento de um perfil empreendedor.

Instituir perfil é uma prática valorizada nos estudos que dizem respeito ao
empreendedorismo, na qual geralmente os perfis são positivamente associados ao êxito
dos empreendedores. Percebe-se uma concordância por parte dos cientistas sobre as
características dos empreendedores de sucesso: traço de personalidade, atitudes e
comportamentos que contribuem para alcançar o êxito nos negócios. Para Pereira e
Santos (1995, p. 45), “toda pessoa é fruto de uma relação constante entre talentos e
características que herdou e os vários meios que freqüentou durante a vida.” Sob esta
ótica, cabe inferir que os empreendedores trazem consigo marcas da vivência dos mais
variados ambientes pelo quais circulou, tais como escola, família, círculo de amizade e
sua leitura da sociedade.

Para Filion (1991) outro aspecto a ser abordado no contexto familiar propício ao
surgimento de empreendedores, são as chamadas diretrizes psicológicas, ou seja,
comportamentos, atitudes absorvidas pelas crianças através dos pais e demais pessoas
com as quais convive.

Mais pelo comportamento do que pelas palavras, os pais ensinam os filhos, ainda muito
pequenos, como encarar a vida em geral, o trabalho, as relações pessoais (…). No caso
de empreendedores é bem provável que muitos tenham recebido na infância, mensagens
apontando para a crença de que teriam de lutar por tudo que quisessem conquistar na
vida (OLIVEIRA, 1995, p. 146).

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 perspectivas teóricas acerca das competências
empreendedoras
De acordo com Luz (2000), o conceito de competências

envolve os saberes ou conhecimentos formais, que podem ser traduzidos em fatos e


regras, o saber-fazer, que pertence à esfera dos procedimentos empíricos, como as
receitas, os truques de ofício, e que se desenvolvem na prática quotidiana de uma
profissão e ocupação; finalmente, o saber-ser, compreendido como saber social ou do
senso comum, que mobiliza estratégias e raciocínios complexos, interpretações e visões
de mundo (LUZ, 2000, p. 44).

A noção de competência pode ser focalizada sob diferentes instâncias de compreensão:


em termos da pessoa (as competências do indivíduo), das organizações (core
competences) e dos países (sistemas educacionais e formação de competências).

Na atualidade muito se tem abordado as competências organizacionais. Sob este


enfoque Boog (1991, p.15) definiu este conceito como “o conjunto de qualidades e
características que a empresa desenvolve e aperfeiçoa, com continuidade, bens e
serviços que atendam às necessidades e encantem seus clientes e usuários.”

Para Ruas (2001) as competências organizacionais refletindo em todas as áreas, grupos


e pessoas na organização diferenciam as empresas umas das outras diante do mercado e
de seus clientes, gerando assim uma vantagem competitiva garantindo sua
sobrevivência.

Conforme Helaft e Peteraf (2003) as competências podem ser submetidas a um ciclo de


vida, pois são dinâmicas, podendo até mesmo seguir uma lógica de evolução: 1-
Substituição – competências que já cumpriram seu papel e são substituídas; 2- Redução
– seguem a mesma tendência da anterior, diferenciam-se pela prática mais extensa; 3-
Renovação – competências quando alimentadas regeneram e seguem seu curso de
evolução; 4- Replicação – possuem características de estabilidade, permanecendo sem
alterações quanto ao seu nível de impacto; 5- Redistribuição – é renovada e evolui a
partir de um evento externo forte, causando grande impacto positivo; 6 – Recombinação
– quando combinadas com outras competências apresentam efeitos positivos para a
organização.

No plano das organizações, destaca-se uma visão da empresa como portfólio de


competências. Estas seriam advindas da gênese e da formação da organização ao longo
do tempo, que seriam características de seu patrimônio de conhecimentos, o que lhe
confere vantagens competitivas no contexto em que está inserida. Neste contexto,
encontram-se as core competences, fundamentadas na idéia de que estas significariam a
capacidade de combinar, misturar e integrar recursos em produtos e serviços, de forma a
oferecer reais benefícios aos consumidores, tornando-se difíceis de serem imitadas e
introduzindo a organização em diferentes mercados (LUZ, 2000).

As competências pessoais são definidas como a capacidade da pessoa de agregar valor


ao patrimônio de conhecimentos da organização. A agregação de valor é algo que a
pessoa entrega a organização de forma efetiva. Assim, a agregação de valor não diz
respeito a atingir metas de produção, mas a melhoria em um processo ou introdução de
nova tecnologia. E a competência é visualizada pelo desempenho (LUZ, 2000).

Para Fleury e Fleury (2001, p. 21) a competência é conceitualizada como “um saber agir
responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo”. Tendo este conceito como norte, pode-se inferir que é necessário integrar
habilidades, conhecimentos e atitudes para gerar melhor desempenho à organização
gerando, assim, as competências.

Já a palavra empreendedorismo tem sua etimologia no francês entrepreneur,


significando “aquele que assume risco e começa algo novo” (DORNELAS, 2005, p. 9).
Chiavenato (2005) diz que “o empreendedor é a pessoa que inicia e/ou opera um
negócio para realizar uma idéia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades
e inovando continuamente” (CHIAVENATO, 2005, p. 3).

Segundo Drucker (1986) empreendedorismo está associado ao comportamento, tendo


como base conceito e teoria. Desta forma, o empreendedor frente à mudança, a codifica
como uma oportunidade e não como um obstáculo, de forma que consegue explorá-la,
concebendo uma nova forma de agir, implantando novas idéias, sendo um agente de
mudanças e potencializando sua competência voltada para gestão.

Para Kuratko e Hodgetts (1998) o empreendedor é visionário, tendo como atributo a


capacidade de iniciar e construir novos projetos, bem como acompanhar e desenvolver
negócios, explorar oportunidades e gerir empresas. Dentro desta perspectiva, o
empreendedor deverá ser hábil com o gerenciamento de riscos inerentes à empresa,
deverá ser capaz de liderar e formar grupos de empreendedores para somar
competências com a do empreendedor. Além disso, deverá ser capaz de enxergar
oportunidade onde os demais vêem caos e desorganização. Não basta apenas identificar
oportunidades, é necessário ao empreendedor manter o direcionamento de suas energias
rumo a uma visão de sucesso. O caminho de um empreendedor até a estabilidade,
porém, pode ser longo e difícil. Ele se movimenta diante de obstáculos significativos. E,
para enfrentá-los e superá-los, pode tanto agir repetidamente como mudar para uma
estratégia alternativa.

Dolabella (1999) correlaciona o conteúdo / conhecimento às habilidades necessárias ao


empreendedor conforme quadro 1:

Quadro 1 – Conteúdo e habilidades do empreendedor

Conteúdo Habilidades individuais requeridas


Know Why (motivações, atitudes Autoconfiança, motivação para realizar,
e valores) perseverança, vontade do risco.
Know How (habilidades) Habilidades técnicas.
Know Who (relações) Habilidades para o networking.
Know When (oportunidade) Experiência e intuição.
Know What (negócio) Percepção de oportunidades.

Fonte: Dolabella, 1999, p. 33.

Identificar as características que compõem o perfil do empreendedor é um estudo de


grande valia na contemporaneidade, pois indicar os passos para ser bem-sucedido é o
anseio de muitos no meio corporativo. Para tanto, Dornelas (2001, p. 31) apresenta
características pessoais referentes à empreendedores brasileiros que somadas às
competências inerentes de um administrador, juntamente com as influencias sócio
ambientais conceberá idéias inovadoras que possivelmente viabilizará o surgimento de
empresas: 1- são visionários e sabem tomar decisões; conseguem explorar ao máximo as
oportunidades; 3- São indivíduos que fazem a diferença por serem determinados,
dinâmicos, dedicados, otimistas e apaixonados pelo o que fazem; 4- são independentes e
constroem seu próprio destino; 5- são lideres e formadores de equipes, bem
relacionados e organizados; 6- planejam, possuem conhecimento, assumem riscos e
criam valor para a sociedade.

De acordo com Paiva Junior et al (2006), o protótipo moderno de excelência tem


exigido uma amostragem de gestão adaptada às perspectivas dos atores tanto internos
quanto externos das organizações. Esse novo panorama de configuração organizacional
pressupõe competências individualizadas, tendo em vista a ampliação e a
sustentabilidade. “Isto indica a exigência de conhecimentos além das ferramentas de
gestão, assim como uma postura reflexiva, proativa e de adaptação assegurando seu
êxito no mercado” (PAIVA JUNIOR et al, 2006, p. 18).

Ressaltando ainda a necessidade de uma postura reflexiva e crítica, contrapondo às


características apontadas sob uma perspectiva positiva, Argyris (1986) aponta como
desvantagem a capacidade de se relacionar bem com todos. Tendo como referência a
boa comunicação e o networking, o autor salienta que o uso destas características sem
crítica pode acarretar danos à organização. Embora estas habilidades componham
competências valorizadas no empreendedorismo, é necessário que sejam usadas a favor
da organização, mesmo que para isso o empreendedor se coloque em uma posição
desconfortável ou pouco simpática.

Para Paiva Junior et al (2006), as competências empreendedoras ponderam atuações


ativas do gestor com perfil empreendedor, como demonstra o quadro

Quadro 2 – Dimensões da competência empreendedora e suas definições

Dimensões da
Definições
competência
Ação de reconhecimento de uma oportunidade de negócios, seja
Competência de este uma nova atividade a ser desenvolvida pela empresa, uma
Oportunidade nova maneira de inserção de produtos/serviços já existentes, ou
mesmo uma nova empresa.
O relacionamento em rede é reconhecido como uma ação
fundamental para o desenvolvimento profissional. Ela demanda
Competência de
do empreender a capacidade de criação e fortalecimento de uma
Relacionamento
imagem de confiança, uma boa reputação, compromisso e
conduta junto a redes de relacionamentos.
Indica que os empreendedores são hábeis observadores tanto
das oportunidades do ambiente externo quanto dos aspectos
Competências internos da organização. Eles desenvolvem ações velozes e
conceituais intuitivas. Paralelamente, são capazes de perceber situações por
ângulos diferentes e de forma positiva, encontrando alternativas
inovadoras.
Compreendida como a eficácia em buscar e alocar talentos,
Competências recursos físicos, financeiros e tecnológicos eficientemente. Este
administrativas processo se desdobra nos mecanismos de planejamento,
organização, liderança, motivação, delegação e controle.
Relaciona-se às ações de escolha e implementação de
estratégias organizacionais e constituem uma área importante
Competências
do comportamento empreendedor. Refere-se tanto a
estratégicas
visualização de panoramas de longo prazo como ao
planejamento de objetivos e posicionamentos de médio prazo.
Estão relacionadas à manutenção da dedicação ao negócio,
sobretudo em situações adversas. Isto pode ser ilustrado pela
Competências de devoção ao trabalho árduo e pelo desejo de alcançar objetivos
comprometimento de longo prazo em detrimento dos ganhos de curto prazo.
Podem estar vinculadas a outras motivações como senso de
responsabilidade e manutenção de crenças e valores pessoais.
As ações de manutenção do equilíbrio entre vida pessoal e
Competências de
profissional repercutem significativamente na organização e na
equilíbrio
vida dos dirigentes na medida em que se adota uma postura
trabalho/vida
“ganha-ganha” onde uma não está em detrimento da outra.

Fonte: Paiva Junior et al (2006, p.11).

Segundo Robbins (2001), o empreendedorismo se caracteriza por ser uma ação por
meio da qual os sujeitos procuram chances, organizando as soluções imprescindíveis
para abrir seus próprios negócios e assumindo os riscos e recompensas desta ação, de
modo a atender às suas aspirações. Assim,

empreendedorismo ou espírito empreendedor (entrepreneurship) é um processo pelo


qual os indivíduos procuram oportunidades, satisfazendo necessidades e desejos por
meio da inovação, sem levar em conta os recursos que controlam no momento. É uma
característica que envolve iniciar um negócio, organizar os recursos necessários e
assumir seus respectivos riscos e recompensas (SOUZA, TRINDADE e FREIRE, 2010,
p. 45).

Para Dornelas (2003), o empreendedorismo possui como característica marcante um


caráter visionário. Sujeitos empreendedores

são indivíduos que fazem diferença, pois são capazes de transformar uma idéia em
realidade, sabem explorar o máximo as oportunidades, são determinados e dinâmicos
pelo fato de estarem sempre ultrapassando os obstáculos, são otimistas e apaixonados
pelo que fazem, são dedicados, são independentes e constroem seu próprio destino, são
líderes e formadores de equipes, são bem relacionados porque sabem construir uma rede
de contatos que os auxiliam nos ambientes internos e externos da empresa, são
organizados, planejam cada passo de suas atividades no negócio em que estão
envolvidos, possuem conhecimento, pois sabem que quanto maior o domínio sobre um
ramo de negócio, maior a chance de êxito, assumem riscos calculados, avaliando as
reais chances de sucesso e criam valor para a sociedade, gerando emprego e
dinamizando a economia (DORNELAS, 2003, pp 63-64).

Observa-se, assim, que as competências empreendedoras têm sido objeto de várias


pesquisas e assume diversas perspectivas, o que ainda não permitiu uma definição
universal. Contudo, importa pontuar que, embora não exista uma definição universal,
estudos apontam para características em comum, a saber: ação para instituir um negócio
moderno e interesse pelo que faz; emprego de recursos disponíveis com criatividade e
de modo a modificar o ambiente social e econômico; audácia para admitir riscos
avaliados e consciência de uma possibilidade de fracasso.

Atualmente o conceito de competências vai além de um olhar reducionista no que tange


as habilidades, competências e características empreendedoras, uma vez que, conforme
Carland et al (1984) o empreendedorismo está ligado ao conceito de competência, já
que faz parte da formação do empreendedor adquirir conhecimentos, habilidades,
experiências, capacidade criativa e inovadora.

Com a globalização é necessário dinamismo e adequação dos elementos necessários à


uma boa administração. Apenas identificar as competências não mais é suficiente para
agregar valor à organização, é de suma importância que haja articulação pela e para a
organização, sendo assim possível fazer uma diferenciação da organização pela via das
competências institucionalizadas.

2.2 O perfil do empreendedor


Neste novo milênio, são muitas as inovações despertadas, em ritmo gradativamente
maior, no que diz respeito aos exercícios de gestão nas organizações, nas quais essas
práticas são caracterizadas por uma flexibilidade em que as competências dos atores são
aproveitadas dos mais variados modos, amplitudes e complexidades (MEDDEB, 2003).

Dolabela (1999, p. 38) define que “é empreendedor, em qualquer área, alguém que
sonha e busca transformar seu sonho em realidade”. Portanto, podemos encontrar
empreendedores em quaisquer áreas de atuação, desde que sonhos e desejos dêem lugar
à concretização, gerando oportunidade e, por conseguintes projetos passíveis de
concretização.

Conforme Carvalho (2004), a partir de um conjunto que envolve relações, aspectos de


liderança, energia e percepções, empreendedores de sucesso desenvolvem três
categorias de visão, a saber: 1- Visões emergentes: percepções do empreendedor acerca
dos produtos a serem lançados no mercado; 2- Visão central: uma ou mais visões
emergentes, procurando por nichos, mercados e espaço para atuação. Nesse processo
destacam-se dois focos: o lugar que seu produto ou serviço alcançará no mercado e o
tipo de empreendimento que ele precisa criar para lançar seu produto ou serviço. Esta
visão pode dar origem à missão e objetivos, de onde pode originar a estratégia; 3-
Visões complementares: apóia a visão central e envolve processos gerenciais que
permitirão desenvolver habilidades referentes à comunicação e ao networking. Percebe-
se que o empreendedor tem que ser visionário, vislumbrar possibilidades e transformá-
las em probabilidades.

Desta forma, o empreendedor deve ampliar seus horizontes, identificando e


contemplando de maneira incisiva as oportunidades que surgem, podendo assim definir
metas e estratégias a médio e longo prazo.

Segundo Dornelas (2003), existe uma necessidade de fortalecimento dos laços entre os
atores e a organização, de forma a facilitar o acesso a novos recursos e mercados para
que se possa garantir a sustentabilidade do empreendimento. Isso exige, em
contrapartida, o desenvolvimento de um perfil empreendedor.

De acordo com Dutra (2001), fatores como o agravamento do quadro recessivo, junto ao
mercado emergente da globalização da economia, favorecem a abertura de mercado à
competição internacional, e vêm forçando as empresas a repensarem suas estruturas
organizacionais e suas estratégias de negócio. A reestruturação organizacional traz
elementos de racionalização, os quais têm introduzido novas técnicas administrativas –
Qualidade Total, Reengenharia, etc. Hoje, o novo cenário privilegia a tecnologia, a
flexibilidade, a agilidade, a participação, o enriquecimento das tarefas (também
chamado de empowerment) e o trabalho em grupo. Surgem novas tendências em relação
ao trabalho – abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo e complexo. Passa-se a
requerer qualificação profissional, com trabalhadores atualizados, mais experientes,
com ampla formação e conhecimentos diversos.

Para ser bem-sucedido na carreira é preciso algo mais. O novo profissional deve ter em
mente que o aprendizado deve ser contínuo. O empreendedor deve estar em constante
aprendizado e inovação, pois as características empreendedoras podem ser
desenvolvidas, não necessariamente são natas, conforme afirma Souza (2001): “a
formação empreendedora baseia-se no desenvolvimento do autoconhecimento com
ênfase na perseverança, na imaginação, na criatividade associadas à inovação”.
A capacidade de adaptação é fundamental. A avaliação de desempenho para os cargos
leva em conta o grau de resiliência do profissional, ou seja, sua capacidade de adaptar-
se a mudanças com o mínimo impacto e a mínima perda de qualidade e produtividade
(DUTRA, 2001).

A economia, as organizações e os trabalhadores são peças da mesma engrenagem. Para


acompanhar as mudanças em curso, o profissional tem que fazer em si próprio uma
reengenharia pessoal, para ficar tão flexível quanto as organizações (DUTRA, 2001).

Há uma mudança constante e evolutiva em termos de trabalho. Os cargos tradicionais,


empregos vitalícios e estáveis estão desaparecendo, dando lugar a novas formas de
trabalho: dinâmicas, mutáveis e altamente flexíveis, sendo redefinidas a cada instante. O
aspecto humano e a comunicação são fundamentais. O profissional que não se encaixar
neste novo perfil tende a ter menos competitividade no mercado de trabalho, colocando-
se em situação de risco (DUTRA, 2001).

Robbins (2001) coloca que há seis traços de personalidade que ajudam a desenvolver
este perfil: (1) necessidade de realização; (2) capacidade de controlar o próprio destino;
(3) disponibilidade para correr riscos calculados; (4) energia para dar conta dos
obstáculos e das grandes jornadas de trabalho; (5) urgência em resolver as coisas de
modo rápido; (6) boa convivência com incertezas e situações de pouca estrutura.

Dutra (2001) coloca que um sujeito empreendedor é aquele dotado de uma capacidade
de transmutar um conceito em realidade, em quaisquer esferas, desde a vida privada até
dentro da organização. Coadunando com Dutra (2001), Zuany et al (2010) dizem:

Essa figura indomável, vital em todos os momentos importantes da história, é movida


pela vontade, assume riscos e é capaz de convencer as pessoas dos benefícios de uma
nova proposta. Em algum momento de sua trajetória, o empreendedor inevitavelmente
descobre que precisa ser prático e obter resultados, por mais que sua formação seja
teórica (ZUANY et al, 2010, p. 11).

Segundo Dutra (2001), pesquisas realizadas por Hornaday (1982), Timmons (1994),
McClelland (1961), e Schumpeter (1978) foram respeitáveis por causa de seus subsídios
no que tange a traçar o perfil do indivíduo empreendedor, conforme apresentado no
quadro 3.

Quadro 3 – Características associadas a um perfil de empreendedor nas abordagens de


Hornaday (1982), McClelland (1961), Schumpeter (1978) e Timmons (1994)

HORNADAY e
SCHUMPETER MCCLELLAND
TIMMONS
• Tem iniciativa; • Tem iniciativa; • Tem iniciativa,
autonomia, autoconfiança,
• Tem independência de • Tem independência e otimismo, necessidade de
pensamento e ação; autoconfiança, tendo seu realização;
próprio conjunto de valores e
• Possui autoridade; lidera normas. Não desanima ante as • É líder; traduz
mais pela vontade do que dificuldades e acredita em sua pensamentos em ações;
pelo intelecto, capaz de capacidade de vencer os
conduzir os meios de • Sabe buscar, utilizar e
produção para novos canais; obstáculos; controlar recursos;

• Realiza previsões e • Planeja objetivos claros, • Tem alto nível de


julgamentos com base em desafiadores e com consciência de seu
sua experiência; significado pessoal; ambiente; usa-a para
detectar oportunidades de
• Tem capacidade de • Trabalha fortemente pela negócios;
combinar recursos ou fatores busca de informações, sobre o
produtivos; ambiente interno e externo de • É inovador e criativo;
forma a possibilitar o trabalho cultiva imaginação;
• Tem capacidade de criar e com estratégias para o
propulsionar um negócio; sucesso; • É pró-ativo diante do que
deve saber; define o que
• Desenvolve conhecimento • Possui exigência de deve aprender; cria método
acurado para as decisões e qualidade e eficiência; próprio de aprendizagem e
regras de conduta; aprende indefinidamente;
• Busca atividades que
• Planeja conscientemente forneçam “feedback” de seu • Fracasso é considerado
sua conduta; próprio desempenho; um resultado como outro
qualquer; aprende com
• Utiliza a intuição num dado • Tem persistência, eles;
momento de necessidade em responsabilizando-se
posição estratégica (sem a pessoalmente pelo • É um sonhador realista,
elaboração de todos os cumprimento dos objetivos; ou seja, sonha, mas é
detalhes a serem feitos); racional;
• Tem comprometimento
• Transforma sonho em sacrificando o pessoal para • Tem forte intuição, dando
possibilidade real; finalizar uma tarefa; mais importância para o
que faz e não para o que
• Supera a oposição ou • Planeja com visão do todo, sabe;
obstáculos do ambiente procurando simplificar os
socioeconômico reagente trabalhos e definir prazos, de • Tem um “modelo”, uma
(oposição legal, política, de forma a também possibilitar pessoa que o influencia;
costume social, obstáculos um monitoramento
econômicos do mercado sistemático; • Tem perseverança e
consumidor ou outros); tenacidade; grande energia
• Busca as oportunidades e e esforços para alcançar
• Tem capacidade de iniciar novas áreas de atuação; resultados;
a mudança econômica;
• Possui capacidade de • Tem alto
• Possui o desejo de persuasão, utilizando de comprometimento;
conquistar, o impulso de estratégias para influenciar os trabalha sozinho;
lutar; outros;
• É orientado para
• Procura dificuldades, muda • Trabalha para desenvolver e resultados no futuro, para o
por mudar, delicia-se com a manter uma “rede de longo prazo; sabe fixar
aventura; contatos”, com vistas a metas e alcançá-las;
realizar seus objetivos.
• Tem capacidade de • Diferencia-se e descobre
nichos;

• Tece “rede de relações”


ou contatos;

• Conhece bem o ramo em


que atua;

• Assume riscos
moderados;
• Corre riscos calculados
‘educar’ os consumidores ou
procurando ter controle sobre
de ‘ensiná-los’ a desejar • Cria situações para obter
fatores de sucesso
novas coisas. informações e
empresarial;
aprimoramento;

• Aceita dinheiro como


medida de desempenho;

• Tem alto grau de


“internalidade”;

• Tem alta tolerância à


ambigüidade.

Fonte: DUTRA, 2001, p. 50.

Por causa disso, cabe ao empreendedor a adoção de conduta e ações individualizadas,


buscando o sucesso de seus empreendimentos (ROBBINS, 2001), isto é,

a identificação dos fatores de sucesso de empreendedores deve se basear na análise do


seu perfil. As diferenças entre as pessoas, influencia nas decisões. Diferentes decisões
são tomadas por pessoas e levam ao sucesso ou ao fracasso de um empreendimento.
Desta forma o processo de tomada de decisão também reflete as idéias de
empreendedores. Portanto a compreensão do comportamento organizacional é essencial
para a sobrevivência de uma organização (BUENO, LEITE e PILLATI, 2004, p. 4752).

Nesse contexto, entende-se que as competências empreendedoras são de sumo valor,


uma vez que, ao se comportar de modo empreendedor, o sujeito mostra-se conivente
com o que lhe é peculiar em suas atividades nos planos particular e coletivo.

2.3 As necessidades do empreendedor


Lezana e Tonelli (1998) tratam a necessidade como uma forma de manifestação quando
há um desequilíbrio do organismo, propiciando tensão, insatisfação e desequilíbrio.

Ao citar necessidades humanas é imprescindível debater luz de Maslow (2000) que


trouxe contribuições em relação à motivação aplicada ao trabalho. Sampaio (2009)
afirma que, ao contrário do que possa parecer, Maslow não tinha muita segurança na
aplicação de sua teoria no mundo do trabalho, bem como não compreendia o aspecto
motivacional dos trabalhadores como algo que fosse suficiente para justificar o êxito das
organizações. Maslow apud Sampaio (2009), parte do princípio que o indivíduo é um
todo integrado e organizado, logo não se pode abordar a motivação de uma parte do
corpo ou órgão, mas da pessoa em sua totalidade. Ainda, segundo o autor, percebe-se
que não há uma distinção entre os motivos biológicos e os culturais.

Sampaio (2009) diz que a motivação tratada por Maslow está associada a um objetivo e
que este mesmo objetivo gera um incômodo até que seja atingido. Desta forma para
atingir os aspectos ligados à motivação, compreende-se, ao contrário do que se encontra
na maioria das publicações acerca do comportamento organizacional, as sete categorias
que englobam o que é denominado por Maslow como necessidades básicas,
classificadas a partir de sua finalidade, a saber:

Quadro 4 – Classificação das necessidades de acordo com Maslow

Necessidades Definições
Necessidades Impulsos acrescidos da dinâmica da homeostase e da idéia de
Fisiológicas apetite.
Necessidades de
Entende-se a ausência de ameaças percebidas no ambiente.
Segurança
Compartilhamento de afeto com pessoas em um círculo de
amizade e intimidade. Embora a sexualidade possa fazer parte
Necessidades de
do contexto de intimidade, o conceito de amor não se reduz ao
Pertença e de Amor
de sexo. Este último pode fazer parte das necessidades
fisiológicas.
Compreendem a imagem que a pessoa tem de si e o desejo de
obter a estima dos outros. São divididas em dois conjuntos: o
Necessidades de
desejo de realização, adequação, maestria e competência e a
Estima
busca de reputação ou prestígio, status, reconhecimento,
atenção, importância ou apreciação.
Necessidades de Compreendem a idéia de que as pessoas têm um potencial
Autorrealização interno que necessita tornar-se ato.
Necessidade de Desejo de entender, sistematizar, organizar, analisar, procurar
Conhecer (desejos de por relações e significados, de construir um sistema de
saber e de entender) valores, segundo Maslow (1954, p.97).
Impulsos à beleza, à simetria e, possivelmente à simplicidade,
Necessidades Estéticas
à intereza e à ordem.

Fonte: Sampaio Jader et al (2009, p.08).

Sampaio (2009) ressalta que as duas últimas necessidades descritas por Maslow são
negligenciadas por muitos autores tomando como verdade a pirâmide abaixo (figura 1),
que muitas vezes, equivocadamente, segue como referência na descrição das
necessidades elencadas por Maslow, na qual encontramos em sua base as necessidades
fisiológicas, que são as necessidades básicas para a manutenção da vida – alimento,
roupa, abrigo. Até que esta necessidade seja satisfeita, o indivíduo não almejará as
seguintes: necessidade de segurança, necessidade de social, necessidade de estima,
necessidade de auto-realização. À medida que as necessidades básicas são atendidas
outras tornarão importantes a ponto de motivar o comportamento do indivíduo.

Figura 1 – Hierarquia das necessidades de Maslow

Fonte:
Wikipedia.org.pt

Isto posto, conforme Sampaio (2009), Maslow desenvolveu uma teoria dinâmica, uma
teoria da preponderância hierárquica das necessidades e não uma teoria mecanicista da
hierarquia das necessidades. Necessidades básicas estão hierarquizadas, mas a
hierarquia não é universal nem rígida (SAMPAIO, 2009).

“Nós falamos muito de como esta hierarquia possui uma ordem fixa, mas finalmente
isto não é tão rígido como nós sugerimos. É verdade que a maioria das pessoas com que
temos trabalhado parecem ter as necessidades na ordem que foi indicada. Contudo há
várias exceções” (MASLOW, 1954, p.98).

Para Sampaio (2009) a motivação depende dos talentos e das características de cada
pessoa. Salienta ainda que pessoas autorrealizadas valorizam a criatividade e autonomia
no trabalho e o trabalho autorrealizador possibilita à pessoa sentir-se importante e
identificada com causas e trabalhos importantes. Desta forma pode-se inferir o anseio
do empreendedor de se autorrealizar e de suprir sua necessidade de estima, o que
determinaria comportamentos que o moveria para o êxito em seus empreendimentos.

O empreendedor possui inúmeras necessidades que influenciam seu comportamento.


Lezana e Tonelli (1998) descrevem a aprovação como a primeira necessidade do
empreendedor. Não raro o empreendedor deseja conquistar uma alta posição na
sociedade, ser respeitado pelos amigos, aumentar o status e o prestígio da família,
conquistar algo e ser reconhecido por isso. Isto posto, pode-se afirmar que
empreendedor tem necessidade de ser aprovado pelos seus conhecimentos, de obter a
aprovação dos demais, vendo na empresa a maneira de mostrar que é capaz.
Sheedy (1996, p. 34) infere a seguinte afirmação no que diz respeito à aprovação:

A necessidade de reconhecimento é uma das primordiais na vida do empreendedor, pois


sem ninguém para dar-lhe uma nota 10 e passá-lo para a próxima série, e sem ninguém
para reconhecer suas qualidades, realizações e integridade profissional, o empreendedor
talvez esteja convencido que suas realizações se devem à sorte e às circunstancias.

Outra necessidade identificada nos empreendedores, conforme as autoras, diz respeito à


independência, manifestada por meio de imposição do seu ponto de vista no trabalho,
possuir flexibilidade no trabalho e com a família, tendo assim condições de controlar
seu próprio tempo. Almejam também liberdade para ir de encontro com a oportunidade
e fazer surgir um empreendimento.

Lezana e Tonelli (1998) chamam atenção ainda para a necessidade de auto-


desenvolvimento, o que exige inovação, estando em constante aperfeiçoamento e
aproveitando as oportunidades. Muitos empreendedores criam seus próprios negócios
como conseqüência da grande necessidade de se desenvolverem, pois, as organizações
em que atuam nem sempre oferecem espaço para o desenvolvimento.

As necessidades ligadas à proteção estão relacionadas à segurança, “a empresa pode ser


vista como um meio para o empreendedor sentir-se seguro em relação a uma série de
fatores como desemprego, estabilidade entre outros” (URIARTE, 2000, p. 24).

A auto-realização é outra necessidade do empreendedor. Conforme Lezana e Tonelli


(1998) o empreendedor tem a empresa como um local onde suas capacidades podem ser
aperfeiçoadas e utilizadas, obtendo desta forma a realização pessoal.

A realização pessoal é fator importante em qualquer escolha de atuação, mas também


está sujeita a não ser contemplada por inteiro, caso o empreendedor crie uma imagem
incompatível com a sua realidade.

2.4 A importância das competências empreendedoras


para as organizações
Dentre às inúmeras transformações pelas quais a forma de gerir pessoas vem sofrendo
nos últimos anos, destaca-se a alteração no perfil das pessoas exigido pelas
organizações – ao perfil obediente e disciplinado prefere-se um perfil autônomo e
empreendedor (DUTRA, 2001).

Neste novo perfil percebe-se que entre as pessoas e organizações há um processo


contínuo de troca de competências: de um lado, a organização com seu conjunto próprio
de competências e, de outro, as pessoas, com seu conjunto de competências que pode ou
não estar sendo aproveitado pelas organizações.

Nos últimos anos, o tema competência tornou-se uma constante na pauta das discussões
acadêmicas e organizacionais. No âmbito das organizações, esta discussão justifica-se
pela crescente modificação contextual que vem ocorrendo diante dos processos de
globalização e competição acirrada. Muitos autores debatem o tema. Para os experts, a
lógica da competência vem acompanhar as transformações em curso na organização do
trabalho, particularmente no que se refere ao crescente uso dos trabalhos em grupo, das
redes e das novas tecnologias de informação e comunicação (FLEURY & FLEURY,
2001).

Segundo Braga (2003), as organizações estão cada vez mais direcionando seus
investimentos em desenvolvimento humano para ações que agreguem valor para a
empresa e também para as pessoas. Assim, há um movimento de busca de sistemas de
gestão que possam assegurar estes resultados. Os novos sistemas, em fase avançada de
desenvolvimento, adotam a lógica da competência, diferente do modelo anterior
baseado na noção de qualificações, que reflete principalmente a formação adquirida
pelos trabalhadores no sistema formal de educação. Já o novo modelo busca expressar e
valorizar o conjunto de saberes e competências consolidados na trajetória de vida
profissional do indivíduo.

A sociedade contemporânea é caracterizada por experimentar um fluxo elevado de


mudanças em todas as suas áreas. As organizações, por sua vez, vivenciam essas
constantes mudanças por meio de um dinamismo crescente, tornando-as mais
competitivas no mercado global. Assim o novo ambiente de negócios necessita de
profissionais com habilidades, capacidades e conhecimentos mais amplos e flexíveis. A
cultura das organizações pode favorecer ou dificultar o desenvolvimento de
determinadas competências, os valores, os circuitos de informações gerados, a
concepção de funções e papéis interferem no desenvolvimento das competências. Assim
é necessário que as organizações sejam capazes de se adaptarem ao novo mundo dos
negócios, propiciando o desenvolvimento da modernidade organizacional, o que
favorece a utilização das competências de seus empregados (BRAGA, 2003).

Em essência, organizações, como qualquer organismo vivo na natureza, dependem, para


sobreviver, da sua habilidade em adquirir adequado suprimento de recursos necessários
ao sustento da sua existência. Nesse esforço, tais organizações enfrentam a competição
de outras organizações e, uma vez que, comumente, existe escassez de recursos,
somente os mais adaptados sobrevivem (GUEDES, 2004).

Assim, o mercado de trabalho sempre procura e seleciona profissionais com diferentes


habilidades. Conforme essa definição, uma administração de sucesso deve apoiar-se em
três habilidades básicas: a técnica, a humana e a conceitual.

Guedes (2004) entende que

a habilidade técnica leva à compreensão e ao domínio de um determinado tipo de


atividade. Envolve conhecimento especializado, habilidade analítica dentro da
especialidade e facilidade no uso das técnicas e do instrumental da disciplina específica.
Esta é a habilidade típica de um profissional que executa seu trabalho pessoalmente,
como um engenheiro, professor, mecânico ou motorista. Quando as pessoas iniciam
suas carreiras nas empresas, normalmente utilizam em maior proporção à habilidade
técnica. Esta habilidade é adquirida por meio de experiência, educação e treinamento
profissional (GUEDES, 2004, p. 78).

A habilidade humana, em contrapartida, é a habilidade que demonstra a capacidade das


pessoas trabalharem com eficácia como membros de um grupo e de conseguirem
esforços cooperativos nos grupos no sentido de alcançarem os objetivos definidos.
Refere-se às aptidões para trabalhar com pessoas e para obter resultados através destas
pessoas. Requer capacidade para criar uma atmosfera de segurança, para comunicar e
encorajar a comunicação entre subordinados e para compreender as necessidades e
motivações dos membros do grupo (GUEDES, 2004, p. 78).

Finalmente, a habilidade conceitual, que pode também ser entendida como visão
sistêmica e que envolve a habilidade de visualizar a organização como um conjunto
integrado, implica na capacidade de se posicionar no ponto de vista da organização,
perceber como as várias funções são interdependentes e como uma alteração em uma
delas afeta todas as demais. Implica ainda na capacidade de visualizar a organização
dentro do seu ambiente externo, e compreender as forças políticas, econômicas,
tecnológicas e sociais que atuam sobre ela. Implica, não só em reconhecer essas
relações, mas em saber destacar os elementos significativos em cada situação, e em
identificar a alternativa mais adequada para ação ou decisão, considerando todos os
aspectos acima (GUEDES, 2004, p. 79).

Como parte das habilidades conceituais, o empreendedor tem de saber conviver,


compreender e lidar com situações complexas e ambíguas. Isso requer maturidade,
experiência e capacidade para analisar pessoas e situações.

É fácil de ver que, à medida que as pessoas sobem na hierarquia da organização, a


proporção da necessidade de cada uma dessas habilidades muda. É vital, para o
trabalhador, deter uma maior habilidade técnica no início de sua carreira, caso ele esteja
estabelecido nos níveis mais inferiores da organização. Dependendo do caso, esse tipo
de habilidade pode continuar sendo o mais importante, como ocorre com um consultor
jurídico ou um analista econômico. No entanto, na maioria dos casos, a tendência é no
sentido de aumento gradual da necessidade de habilidade humana e, finalmente, nos
níveis superiores de direção, há grande necessidade de habilidade conceitual ou visão
sistêmica, também conhecida como visão holística.

Guedes (2004) sustenta que as atividades do empreendedor, em qualquer organização,


seja ele um supervisor de primeira linha ou o dirigente executivo da organização, é
essencialmente o mesmo. Nesse sentido, não há uma distinção básica entre diretores,
gerente, chefes ou supervisores, como administradores. Qualquer que seja a posição, ou
o nível que ocupe, o empreendedor alcança resultados.

Onde quer que a cooperação das pessoas no intuito de alcançar um ou mais objetivos
comuns se torne organizada e formal, o componente essencial e fundamental dessa
associação é o empreendedorismo – a função de conseguir fazer as coisas por meio das
pessoas com os melhores resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que as culturas organizacionais desenvolvem configurações de sistemas
operacionais e processos a partir das próprias habilidades, admite-se que esse complexo
se constitui, ou não, em vantagens competitivas para a organização, dependendo, para
tanto, do posicionamento da administração em relação à estratégia de ação e gestão
administrativa que compreender mais eficiente e eficaz para aquela organização.
No entanto, para que esse processo ocorra é necessário que as organizações se dêem
conta de suas habilidades e conhecimentos. Para estas descobertas, a organização
precisa desnudar-se do que pensa que sabe a respeito de si própria, e adotar franca
postura de mensuração de sua cultura organizacional através do uso de ferramentas mais
adequadas a ela.

Neste novo milênio, o conhecimento está se transformando no recurso organizacional


mais importante das organizações. Uma riqueza muito mais importante e crucial do que
o dinheiro. Gradativamente, o capital financeiro – que predominou na Era Industrial –
está cedendo lugar para o capital intelectual, como a base fundamental das operações
organizacionais. Em um mundo no qual os tradicionais fatores de produção – natureza,
capital e trabalho – já esgotaram e exauriram a sua contribuição para os negócios, as
organizações estão investindo pesadamente no capital intelectual para aumentarem a sua
vantagem competitiva. Criatividade e inovação através de idéias, que se resumem em
empreendedorismo.

O fato é que as organizações bem-sucedidas estão se transformando em organizações


educadoras e em organizações do conhecimento, em que o empreendedorismo é
incrementado e desenvolvido por meio de processos inteligentes de gestão do
conhecimento. Estas organizações estão totalmente comprometidas em incrementar o
capital intelectual e aplicá-lo cada vez mais. O sucesso empresarial reside nesse filão.
Assim, o empreendedorismo está se tornando um conceito fundamental para as
organizações que miram o futuro.

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Graduada em Comunicação, Relações Públicas, Mestranda em Ciências Empresariais


[1]

pela UFF- Universidade Fernando Pessoa


[2]
Graduada em Psicologia. Mestrado em Administração

Professor orientador: Mestre em Economia e Doutorando em Ciência da Informação,


[3]

especialização em Contabilidade Governamental, Gestão de Agronegócio, EaD, Serviço


Social, Sociologia, Controladoria e Gestão de Tributos, graduado em Ciências
Contábeis, Serviço Social, Sociologia, Graduando em Administração e Matemática
[4]
Graduado em Ciências Contábeis pela UCDB, Especialização em Gestão Pública
[5]
Graduada em Ciências Contábeis pela COC, Especialista em Contabilidade
[6]
Graduada em Direito pela FEAD
[7]
Graduando em Serviço Social UNICESUAMAR, Contabilista

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