Você está na página 1de 4

Antígona: Direito Positivo versus Direito Natural

Jurisnaturalismo: O jurisnaturalismo, também conhecido como


direito natural, é uma teoria filosófica do direito que defende a
existência de leis universais, imutáveis e inerentes à natureza
humana. De acordo com essa teoria, essas leis são independentes
de qualquer legislação ou sistema jurídico estabelecido por uma
sociedade. O jurisnaturalismo sustenta que há princípios morais e
éticos fundamentais que transcendem as fronteiras culturais e
políticas, e que devem ser respeitados por todos os sistemas
jurídicos.
Juspositivismo: O juspositivismo, também conhecido como
positivismo jurídico, é uma teoria filosófica do direito que afirma
que as leis são criadas e estabelecidas pelos seres humanos e
dependem das instituições sociais, políticas e legais para sua
validade e aplicação. De acordo com essa teoria, as leis não são
derivadas de princípios universais, mas sim de regras e normas
estabelecidas pelas autoridades competentes (como legisladores,
governantes e tribunais). O juspositivismo defende a separação
entre o direito e a moral, argumentando que as leis são um produto
da vontade humana e não de princípios morais inerentes.
Em resumo, o jurisnaturalismo baseia-se na ideia de que existem
leis e princípios universais inerentes à natureza humana, enquanto
o juspositivismo sustenta que as leis são criadas pelos seres
humanos e dependem das instituições sociais, políticas e legais
para sua validade. Ambas as teorias têm implicações importantes
para a compreensão e aplicação do direito, e são frequentemente
discutidas e debatidas no estudo introdutório do direito.
Na história, Antígona desobedece a um decreto do rei Creonte, que
proíbe o enterro de seu irmão Polinices, que foi considerado um
traidor. Antígona acredita que é seu dever moral e religioso
enterrar seu irmão, independentemente das leis humanas impostas
por Creonte. Esse ato de desobediência civil é um exemplo do
pensamento jurisnaturalista, já que Antígona segue os princípios
morais e éticos universais, que ela acredita serem mais
importantes do que as leis estabelecidas pelo rei.
Um trecho que ilustra o pensamento jurisnaturalista pode ser
encontrado no diálogo entre Antígona e sua irmã Ismene:
Antígona: "Não vou trair o meu irmão. Não me importa que ele
seja traidor, ele é meu irmão e merece um enterro digno."
Por outro lado, Creonte, como rei de Tebas, representa o
juspositivismo. Ele acredita que as leis que ele cria e impõe devem
ser obedecidas, independentemente das convicções morais ou
religiosas individuais. O decreto de Creonte proibindo o enterro de
Polinices é um exemplo de juspositivismo, já que é uma lei criada
por uma autoridade humana (neste caso, o rei) e não se baseia em
princípios morais universais.
Um trecho que ilustra o pensamento juspositivista pode ser
encontrado no diálogo entre Creonte e o coro:
Creonte: "Aquele que governa em uma cidade e não se apega a
leis seguras nem a qualquer conselho sábio e justo, esse homem é
o maior dos males."
A peça "Antígona" é rica em exemplos de conflito entre
jurisnaturalismo e juspositivismo, com personagens tomando
decisões com base em suas crenças sobre a origem e a importância
das leis. Este contraste entre os personagens e suas motivações
destaca a complexidade e a interação dessas teorias no contexto do
estudo do direito.
Em "Antígona", de Sófocles, a maioria dos personagens
secundários tendem a se inclinar para o juspositivismo, seguindo
as leis estabelecidas pelas autoridades. No entanto, alguns
personagens mostram uma inclinação para o jurisnaturalismo,
mesmo que não seja tão explícito quanto em Antígona. Vamos
analisar alguns desses personagens:
1. Hêmon: Hêmon, filho de Creonte e noivo de Antígona,
inicialmente se inclina para o juspositivismo, mostrando lealdade
a seu pai e às leis estabelecidas. No entanto, ao longo da peça,
Hêmon começa a questionar as decisões de Creonte e a defender a
ação de Antígona, reconhecendo a importância dos princípios
morais universais. Essa mudança de perspectiva sugere que
Hêmon passa a adotar uma postura mais jurisnaturalista.
2. O coro: O coro, composto pelos anciãos de Tebas, desempenha
um papel importante na peça, servindo como uma espécie de
consciência coletiva. Eles tendem a seguir o juspositivismo no
início, apoiando Creonte e suas leis. No entanto, à medida que a
peça progride, o coro começa a questionar as ações de Creonte e a
ponderar sobre a validade das leis humanas em comparação com
os princípios morais universais. Nesse sentido, o coro oscila entre
as duas teorias, demonstrando a complexidade e a ambiguidade
dessas questões.
3. Tirésias: Tirésias é um adivinho cego que desempenha um
papel menor na peça, mas é crucial para a trama. Ele adverte
Creonte sobre as consequências de suas ações e insta o rei a
reconsiderar suas decisões. Embora não seja explicitamente um
defensor do jurisnaturalismo, Tirésias enfatiza a importância de
considerar princípios morais e éticos universais e a vontade dos
deuses em vez de se ater estritamente às leis humanas. Nesse
sentido, ele pode ser visto como um personagem que promove a
reflexão sobre as implicações do juspositivismo e seus limites.
Esses personagens adicionais destacam ainda mais a
complexidade das questões relacionadas ao jurisnaturalismo e ao
juspositivismo em "Antígona". A peça apresenta uma variedade de
perspectivas sobre a origem e a importância das leis, convidando o
público a refletir sobre esses conceitos e suas implicações na
sociedade e na moralidade humana.

Você também pode gostar