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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE DIREITO

AGUINALDO FERNANDES
GABRIELLI JUNKES
HENRIQUE MOREIRA
PAULO GERMANO

DESARMAMENTO CIVIL: UMA ABORDAGEM RACIONAL

CRICIÚMA/SC
2015/2
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INTRODUÇÃO

Um tema que vem sendo muito comentado nos últimos anos no Brasil, com a
ascendente violência, incluindo com armas de fogo, é a questão do desarmamento civil.
No apagar das luzes do ano legislativo, aprovou-se, em 2003, o Estatuto do
Desarmamento, um conjunto de normas novas que, como o próprio nome diz, visa retirar
as armas de fogo de posse da população civil. A promessa era de resolução dos
problemas de criminalidade com esse tipo de armamento, segundos as próprias ONGs
desarmamentistas na época, únicas convidadas para os “debates” sobre o tema antes da
aprovação do Estatuto.
Prova da falta de amparo popular dos que defendem o desarmamento é que
em 2005, um plebiscito perguntou à população brasileira o que esta queria, e o resultado
foi contrário ao que se esperava: o Estatuto do Desarmamento foi rejeitado por 64% da
população, o que representa mais votos que qualquer presidente na história já recebeu.
Apesar disso, a consulta popular foi simplesmente ignorada, uma vez que não interessava
aos que detinham o poder na época, por questão ideológica.
Este trabalho pretende aprofundar um pouco mais a questão do desarmamento
civil, que é motivo de debates cada vez mais frequentes por conta da violência crescente
e a busca de soluções para a mesma. Será exposto também como o mundo vem
encarando esse assunto e o que o Brasil pode aprender com estes países, tendo ou não
dado certo os seus objetivos: reduzir a criminalidade. Além disso, será apresentado o
principal projeto em tramitação na Câmara dos Deputados que trata sobre a revogação da
Lei 10.826/03 (o Estatuto do Desarmamento) e a volta da viabilidade para compra de
armas de fogo no Brasil por pessoas comuns.
A metodologia de pesquisa utilizada foi basicamente uma união entre os
conhecimentos sobre o assunto dos integrantes do grupo, bem como pesquisas na
internet e em livros sobre o assunto.
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DESENVOLVIMENTO

AS TEORIAS

Há, basicamente, duas teorias quando o assunto é política de posse de armas


por civis: a primeira afirma que o governo não deve restringir o porte, deve permitir aos
cidadãos comuns ter uma arma em casa; a segunda pensa que o Estado deve restringir e
fazer uma regulação do número de armas nas mãos de civis. Ambas as teorias
apresentam variações, há países com mais e menos restrições, mas qual é a situação
brasileira?
A discordância entre desarmamentistas e armamentistas começa aí: enquanto
os primeiros dizem que o Brasil permite a posse de arma, necessitando apenas o cidadão
passar por testes para consegui-lo. Os defensores de uma alteração legislativa
argumentam que o Brasil, teoricamente, permite a posse de arma para o cidadão comum,
mas conta com um fator subjetivo: a alegação de efetiva necessidade. Para o deputado
Rogério Peninha (PMDB-SC), criador do projeto que revoga o Estatuto do
Desarmamento, o problema da atual legislação é que a discricionariedade; uma vez que o
delegado da Polícia Federal, pressionado para emitir o número mínimo de autorizações
possível, quase sempre alega desnecessidade.

OS CONTRÁRIOS À MUDANÇA

Além de políticos como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),


as deputadas Jandira Feghali (PC do B – RJ), Maria do Rosário (PT-RS) e o governo
como um todo, o movimento em defesa da manutenção do Estatuto do Desarmamento
conta com o apoio de ONGs como o Instituto Sou da Paz e o Movimento Viva Rio. Estas
instituições acreditam que o porte de arma traz uma falsa ilusão de segurança, além de
que a arma sempre inicia na legalidade antes de chegar ao meio ilegal. Ainda, afirmam
que as armas de fogo transformam conflitos banais em crimes graves, pois a presença do
objeto pode transformar qualquer cidadão em criminoso numa situação de discussão ou
briga em bares, trânsito, etc. Exemplificam com dados como o da Justiça de São
Paulo/SP, a qual considera que 83% dos crimes cometidos na cidade são de motivação
fútil. Paradoxalmente, estimativas da Associação Brasileira de Criminalística indicam entre
5 e 8% a porcentagem de crimes solucionados no Brasil, o que por si só já torna os dados
da Justiça de São Paulo, no mínimo, duvidosos.
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O Instituto Sou da Paz, por exemplo, afirma que 87% das armas usadas em
homicídios são fabricadas no Brasil, dado utilizado para demonstrar que as armas ilícitas
vieram de meios anteriormente lícitos, argumento este que ignora a existência de
empresas ou locais clandestinos onde se fabricam e vendem armas de fogo, as quais
param nas mãos dos bandidos.
Aqueles que são a favor do Estatuto do Desarmamento, atualmente vigente no
país, defendem que uma minoria qualificada e treinada deve portar armas. Entretanto, um
dos quesitos do Estatuto é um tanto discriminatório: as taxas de expedição de porte e
registro da arma. Exemplificando, a expedição do porte da arma de fogo hoje está na cifra
de R$ 1.000. Seria o poder de capital um dos fatores de preparo para defender-se?

OS FAVORÁVEIS À MUDANÇA

A luta contra o desarmamento conta com o apoio de deputados da chamada


Bancada da Bala, como o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), o deputado Laudívio
Carvalho (PMDB-MG), deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), além de Rogério Peninha
Mendonça (PMDB-SC), autor do projeto que revoga o Estatuto do Desarmamento, e a
ONG Movimento Viva Brasil, cujo presidente Bene Barbosa é notório debatedor sobre o
assunto, inclusive, é autor do livro “Mentiram para Mim sobre o Desarmamento”, em que
explora profundamente o tema em colaboração com Flávio Quintela.
Os contrários à política do desarmamento mencionam o fracasso do Estatuto,
isso pois, em vez de diminuir o número de homicídios no Brasil, esses números só vêm
crescendo por uma razão simples: o Brasil vive um problema de criminalidade, não de
violência, e criminosos não compram armas legalmente. Outro problema é o de lógica na
relação dita direta entre armas legais e crimes; se ela fosse verdadeira, o Estado de
Alagoas, o que mais entregou armas à Campanha do Desarmamento, teria diminuído
suas taxas de homicídio e crimes violentos, mas Alagoas é o estado brasileiro com mais
assassinatos no país, enquanto que os dois estados mais armados, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, são os mais seguros.

A RELAÇÃO ARMAS X CRIMES

Parece lógico dizer que, se crimes são feitos, em grande parte, com armas de
fogo, logo, se as armas forem restringidas, os crimes perderão força. Essa lógica cai por
terra quando pensamos no fato de que quem vai transgredir a lei para cometer crimes, por
definição, não terá problema para transgredi-las quando for buscar uma arma no mercado
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negro; é um grande mito a ideia de que pessoas que querem usá-las para fins criminosos
comprarão estas armas em lojas mediante registro e testes, como faz um cidadão
comum, com o intuito de se proteger. Uma tese nesta linha diz que as armas hoje ilegais
já foram legais algum dia, mas basta analisar o número de armas legais no Brasil hoje,
que é pífio, para perceber que as ilegais estão crescendo de forma assustadoramente
mais rápida, segundo estimativas.
O estudo, publicado no livro “More Guns, Less Crime” (“Mais armas, menos
crime”), mais amplo sobre o assunto da relação entre armas legais e crimes foi feito por
John Lott e diagnostica que o efeito do desarmamento é contrário ao que se pensa: o
acesso mais fácil às armas de fogo faz com que os índices de criminalidade, não só não
aumentem, mas notadamente diminuem. Isso é perceptível em comparações de Estados
americanos entre si e suas respectivas taxas de homicídios. Não citado no estudo, mas
que também merece lembrança está o recente caso do Estado de Illinois: com uma das
mais rígidas leis de armas do país, uma lei que liberou o porte de armas aos cidadãos
teve consequências positivas no que cerne ao combate à criminalidade. De acordo com
os órgãos oficiais, Chicago, a maior cidade do estado, teve um decréscimo de 20% nas
prisões por assaltos em comparação com o ano anterior, 20% menos roubos de casas,
26% menos roubos de veículos e a taxa de homicídios caiu incríveis 56%.
Assunto estudado a fundo pela historiadora Joyce Lee Malcolm, o
desarmamento inglês é outro exemplo de fracasso para combater a criminalidade. A
autora fez uma viagem histórica pelo país, falando sobre a violência, criminalidade e leis
sobre armas de fogo desde a Idade Média até o século XXI, o resultado foi parecido com
as conclusões de John Lott: as leis de armas mais brandas aumentavam a criminalidade e
vice-versa. Com o desarmamento atual, a Inglaterra não obteve grandes aumentos na
taxa de homicídios por 100 mil habitantes, não obstante, a criminalidade cresceu quatro
vezes neste mesmo período.
Não é necessário ter uma arma num país armado para sentir os efeitos
positivos desta política. É o chamado “efeito auréola”, em que um ladrão, disposto a
assaltar, não enfrenta aglomerações de pessoas (os chamados arrastões), pois tem medo
de uma única vítima estar armada e reagir ao assalto. A relação custo-benefício faz um
criminoso pensar duas vezes antes de assaltar uma residência e, hoje, as chances de se
encontrar um brasileiro armado são mínimas.
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PESQUISA DE CAMPO

A OPINIÃO PÚBLICA EM RELAÇÃO À LEI 10.826/03

O Estatuto do Desarmamento tem duas versões sobre os debates anteriores à


sua aprovação: os que o apoiam dizem que ele foi amplamente debatido com a sociedade
civil e especialista; já os opositores afirmam nunca terem sido chamados para as
discussões acerca do tema e do Estatuto na Câmara.
Fato é que, às vésperas do fim do ano legislativo, a lei 10.826/2003 foi
aprovada e apenas em 2005 este assunto foi oficialmente discutido com o referendo
sobre armas de fogo daquele ano. A pergunta foi "O comércio de armas de fogo e
munição deve ser proibido no Brasil?" resultado assustou o governo na época com a
vitória de 64% para o “Não”, representando quase 60 milhões de votos.
Embora a população tenha rejeitado a ideia do desarmamento civil, o Estatuto
do Desarmamento continuou a viger (como está até hoje), a posição popular pôde ser
reforçada como contrária a ideia da lei de 2003 com a enquete promovida pelo site da
Câmara dos Deputados sobre a aprovação ou não do PL 3722/2012 (que revoga o
Estatuto do Desarmamento); o resultado foi de quase 87% a favor do projeto,
representando 321.111 votos.
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Figura 1 – Enquete realizada pela Câmara de Deputados

Disponível em: http://www2.camara.leg.br/enquetes/listaEnquete (2015).

O IMPACTO DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA VIOLÊNCIA

Ainda que expostos, neste trabalho, argumentos favoráveis e contrários ao


desarmamento civil, cabe ressaltar, principalmente, o impacto de tal controle pelo governo
na violência em nosso país. Conforme ilustra a tabela a seguir, embora o controle de
armas tenha sido extremamente rigoroso a partir de 2004, as estatísticas referentes ao
uso de arma de fogo aumentaram.

Relação no tempo entre o Estatuto do Desarmamento e os dados de mortes e


Tabela 1 –
homicídios por armas de fogo.
TOTAL DE TAXA DE
HOMICÍDIOS
ESTATUTO DO MORTES POR MORTALIDADE
COMETIDOS COM
DESARMAMENTO ARMA DE (/100MIL HAB) POR
ARMA DE FOGO
FOGO ARMA DE FOGO
INÍCÍO - 2004 37.113 34.187 20,7
EM VIGÊNCIA - 2012 42.416 40.077 21,9
Fonte: Mapa da Violência – 2015.

A ideia de que 83% dos homicídios são praticados por motivo fútil, presumindo
que seriam cometidos por cidadãos comuns, sem antecedentes, pode ser rebatida com
dados da Polícia Militar de Criciúma, atualizados no ano de 2015. Nos dois gráficos que
seguem vemos que, apesar do desarmamento, os crimes contra a vida na cidade
continuam sendo majoritariamente praticados com armas de fogo e, ao mesmo tempo,
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dois terços destes são praticados por agentes com antecedentes criminais, ou seja, cai
por terra a tese que diz que os homicídios no Brasil não são praticados por criminosos “de
carreira”.

Figura 2 – Quantidade de crimes contra a vida e o tipo de força utilizada em Criciúma/SC.

Fonte: Polícia Militar de Criciúma - 2015.

Figura 3 – Porcentagem de delitos cometidos contra a vida em que seus agentes possuem antecedentes
criminais.

Fonte: Polícia Militar de Criciúma – 2015.


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LEGISLAÇÃO

O Estatuto do Desarmamento (Lei Nº 10.826) é uma legislação especial que


“dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição”, aprovada
em dezembro de 2003. Altamente restritiva, a legislação promove uma série de requisitos
para posse e compra/venda de armas de fogo, com o objetivo de reduzir o número de
crimes cometidos com o artefato no país. A aprovação do Estatuto foi uma resposta dos
legisladores e governantes à população em relação a crescente violência e criminalidade;
conforme noticiou a EBC Brasil em dezembro de 2003, o presidente à época Luiz Inácio
Lula da Silva, ao sancionar a lei, afirmou que “o estatuto é "um presente de Natal" aos
milhões de brasileiros que dedicaram parte de sua vida para acabar com a violência no
país”.
Com a Lei Nº 10.826, um cidadão comum deve possuir os seguintes requisitos
para adquirir uma arma de fogo: ter, no mínimo, 25 anos, residência física e ocupação
lícita; aptidão técnica e psicológica; não ter antecedentes criminais, além de um bom
poder aquisitivo, já que há custos exorbitantes para registro, posse, emissões de 2ªs vias,
entre outros.

O PROJETO QUE REVOGA O ESTATUTO DO DESARMAMENTO

De autoria do deputado peemedebista catarinense, Rogério Peninha


Mendonça, o PL 3722/2012 é um projeto extenso, de 78 artigos, que visa retirar a
discricionariedade da lei atual, mantendo todas as outras avaliações objetivas para se
adquirir uma arma de fogo no Brasil; além de tratar da posse e porte, o projeto
regulamenta a atividade de caça e tiro esportivo, bem como de colecionadores de armas.
O indivíduo que quiser adquirir uma ou mais armas deve ter 21 anos ou mais, fazer os
testes psicológicos e técnicos que demonstrem aptidão para o manuseio da arma de fogo.
Este projeto está em fase final de apreciação em Comissões Especiais da Câmara dos
Deputados e pode ir à votação já nos próximos meses.
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CONCLUSÃO

A questão das armas legais e suas restrições por parte do Estado é um tema
relevante devido à atual situação da segurança pública brasileira. O objetivo desse
trabalho foi cumprido, uma vez que, além de demonstrar nossos conhecimentos sobre o
assunto, aprofundamos as pesquisas e ampliamos nosso entendimento no que cerne a
desarmamento civil e os lados da discussão, tão importante para a vida de qualquer
cidadão.
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REFERÊNCIAS

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Inicie a segunda referência aqui

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