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Geysler, Gerente Da Revista, 193-204
Geysler, Gerente Da Revista, 193-204
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MARCOS FERNANDO MACHADO DE MEDEIROS - JOMÁRIA DA MATA ALLOUFA - MARIA ARLETE DUARTE ARAÚJO
1 INTRODUÇÃO
A tecnologia da informação (TI) surgiu como ferramenta de apoio à gestão das empresas
no início da década de 90, sendo entendida como a ferramenta de “integração das operações da
empresa e entre empresas, com ganhos de agilidade e redução nos custos operacionais” (SILVA,
2003, p. 15-16).
A relação entre TI e gestão de organizações vem sendo estudada por diversos autores como
Turban; Mclean e Wetherbe (2004), Laudon e Laudon (2007), O’Brien (2003), Laurindo (2008),
Albertin (2005). É ponto comum hoje afirmar que a TI interfere no desempenho organizacional.
Tapscott (2001, p.22) afirma que “a tecnologia da informação também pode contribuir
para modificar a natureza das empresas, a forma de agregar valor ou de penetrar em novos
mercados”. Para Weill e Ross (2006, p. 01) “a informação, e conseqüentemente a TI, é um
elemento cada vez mais importante dos produtos e serviços organizacionais e da base dos processos
empresariais.” Afirmam ainda que “extrair mais valor da TI é uma competência organizacional
de importância crescente.” De outra forma, quem gerencia bem a sua informação tem melhores
resultados. Em alguns casos, fica praticamente impossível gerir uma organização sem o uso da
tecnologia da informação.
Segundo Morin (2010, p. 8), “a ciência é inseparável do contexto histórico e social”. Nos
estudos científicos, a tecnologia também tem papel de destaque nos dias atuais. Basta olhar os
avanços em áreas como engenharia genética, biomedicina, robótica e energia nuclear.
O propósito desse artigo é de realizar uma reflexão teórica de como a tecnologia da informação
influencia no fazer científico nos dias atuais.
Para atender esse objetivo, pretende-se fazer um resgate de alguns conceitos de tecnologia
da informação, de sua evolução nas organizações, da evolução da ciência, e do uso da tecnologia
pela atividade científica. Finaliza-se este artigo com as considerações finais e uma proposta de
estudo.
2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Diversos autores como Drucker, Schaff, Castells abordam que durante a década de 90 a
sociedade passou, e ainda vem passando nos dias de hoje, por algumas transformações.
Schaff (1993) considera essas transformações como a terceira revolução técnico-científica.
Nesta, as principais mudanças ocorreram nos campos da microeletrônica, microbiologia e energia
nuclear (tríade revolucionária).
Drucker (1994) afirma que a sociedade está mudando do capitalismo para a sociedade do
conhecimento, onde “o principal recurso é o conhecimento”. Ainda segundo Drucker (1994) o
conhecimento é o novo fator de produção, o que é corroborado por Rifkin (2000) quando ele
afirma que o capital intelectual é a força propulsora da nova era.
De acordo com Castells (2000, p. 49), neste mesmo período estava ocorrendo uma
transformação na “cultura material”, o que ele chamou de Revolução da Tecnologia da
Informação. Surge daí a economia informacional, onde a produtividade e competitividade
dependem basicamente da capacidade de as empresas gerarem, processarem e aplicarem de forma
eficiente a informação baseada em conhecimento.
Castells (2000, p. 49), afirma ainda que a tecnologia da informação compreende: “o conjunto
convergente de tecnologias em microeletrônica, computação, telecomunicações/radiodifusão, e
optoeletrônica”, incluindo também a engenharia genética.
Em um conceito mais amplo, Foina (2001, p. 31) afirma que a TI “é o conjunto de
métodos e ferramentas, mecanizadas ou não, que se propõe a garantir a qualidade e pontualidade
das informações dentro da malha empresarial”.
Foina (2001, p. 34), complementa: “a Tecnologia da Informação não faz outra coisa a não
ser coletar, tratar e distribuir informações pela empresa”.
Para Turban; McClean; Wetherbe (2004, p.40), tecnologia da informação “diz respeito ao
aspecto tecnológico de um sistema de informação. Ela inclui hardware, banco de dados, software,
redes e outros dispositivos.”
Na verdade, o conceito de tecnologia da informação se confunde e, muitas vezes, é utilizado
como sistema de informação. Segundo Stair; Reynolds (1998, p. 11),
sistemas de informação são uma série de elementos ou componentes inter-relacionados que coletam,
manipulam, armazenam e disseminam os dados e informações e fornecem um mecanismo de feedback.
INFORMAÇÃO
INFORMAÇÃO
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
PRÁTICAS DE TRABALHO
OBJETIVOS RECURSOS
RECURSOSHUMANOS
HUMANOS
ORGANIZACIONAIS
TECNOLOGIA
TECNOLOGIA
DA
DA
INFORMAÇÃO
INFORMAÇÃO
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De acordo com Laurindo e Rotondaro (2008), Ward e Grifftiths (1996) e Zwass (1998)
criaram uma classificação onde se dividiu a evolução da TI nas organizações em eras. São elas:
Processamento de dados;
Sistemas de informações gerenciais;
Sistemas de informações estratégicos;
Comunicação onipresente.
A era do Processamento de Dados pode ser considerada no período entre 1950 e 1970, que
tinha foco na eficiência operacional por meio da automação de processos manuais. Onde se
buscava solucionar os problemas do dia-a-dia da organização, obtendo, com isso, ganhos com a
redução dos custos dos processos.
A segunda, dos Sistemas de Informações Gerenciais, se originou em meados da década e 70
e foi até a década de 80. Tinha como foco a eficácia gerencial, por meio da disponibilização de
informação para os administradores. Esta era se caracterizou pela mudança na forma como os
sistemas eram desenvolvidos, além da grande evolução tecnológica a partir do surgimento dos
computadores portáteis (PCs).
Depois viria a era dos Sistemas Estratégicos (1980-1990) que tinha como eixo central a
competitividade, o desenvolvimento de aplicações que gerassem vantagem competitiva
sustentáveis.
Atualmente (década de 90 em diante) se fala muito em Comunicação Onipresente. Na
busca de uma maior eficácia da organização, gerada pela integração eletrônica e uso de sistemas
colaborativos. Tudo isso sendo possível a partir da Internet. Surgem as aplicações e empresas 24x7
(vinte e quatro horas do dia, sete dias da semana).
Para as organizações, é importante estar disponível aos clientes nos mais diversos canais
possíveis (físicos ou virtuais), a exemplo de bancos com seus serviços sendo prestados via telefone,
fax, celular, Internet e agências bancárias. Será que isso também ocorre na comunidade científica?
De que forma a Internet e os sistemas de informação têm modificado o modus operandi do fazer
científico?
Chauí (2004, p. 320) afirma que existem três concepções históricas de ciência. A racionalista
(ciência antiga), que tem como característica a objetividade, um modelo racional e dedutivo,
pode ser encontrado na matemática. A concepção empirista (ciência moderna) que entende a
ciência como uma interpretação de fatos observados e experimentados, utilizando o método
indutivo. Atualmente se fala em método construtivista, que se realiza a partir da construção de
modelos da realidade e não a sua própria explicação.
As ciências antigas são consideradas teoréticas, ou seja, não buscava intervir sobre a realidade,
apenas conhecê-la. Estas assumem um caráter qualitativo. Já as ciências modernas se caracterizam
pelo uso constante de tecnologia, aliás, segundo Chauí (2004, p. 324) não se pode separar uma
da outra, possuindo, portanto uma roupagem mais quantitativa.
Daí se faz necessário entender um pouco essa evolução da ciência.
Bombassaro (1992) divide essa evolução em duas fases chamadas de tendências
epistemológicas, onde são apresentadas as principais contribuições em cada fase, conforme figura
abaixo:
A apresentação desse quadro não pretende reduzir somente a estes aspectos a evolução do
processo de investigação científica, mas propor uma síntese de alguns pontos centrais que merecem
ser destacados.
Inicialmente, algumas contribuições de Popper. Morin (2010, p. 22) destaca a idéia de
Popper de seleção natural acerca da evolução da ciência, onde “as teorias resistem durante algum
tempo não por serem verdadeiras, mas por serem as mais bem adaptadas”.
Popper (1980) afirma que a cientificidade não se define pela certeza e sim pela incerteza. Eis
que se propõe o critério de demarcação baseado na falseabilidade das teorias. Segundo ele, “não
basta que uma teoria seja verificável, é preciso que ela possa ser falseada.”
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Neste ponto ele se distancia dos autores do Círculo de Viena, e esse aspecto é o que faz
destacar a sua obra, especialmente falando no critério de demarcação e seleção natural.
Já Duhem (apud Köche, 2005, p. 154) defende um continuísmo histórico, segundo ele:
os complementos desintegradores da tradição à qual a atividade da ciência normal está ligada, forçando
[...] a comunidade a rejeitar a teoria científica aceita em favor de uma outra incompatível com aquela,
sendo que tais mudanças, juntamente com as controvérsias que quase sempre as acompanham, são
características definidoras das revoluções científicas.
Assim, segundo a teoria de Kuhn as novas teorias se acumulam com as antigas e que são
maiores que elas. Reside nesse caso a existência de saltos ontológicos de um universo para outro.
Outra contribuição de Kuhn remete à definição de ciência normal.
A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômenos, pois a pesquisa
da ciência normal está dirigida para a articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos como
paradigmas (KUHN, 1975, p. 45).
cientificamente diferenciada dos positivistas, o que rendeu um debate entre Popper e Adorno em
1961 (FREITAG, 1993).
Não cabe aqui ir a fundo, detalhar cada período histórico aqui citado, o que é relevante
entender é que a ciência passa de um período teórico, centralizada no entendimento do mundo
e da natureza, para um período mais utilitarista, voltado para as relações da ciência com a
sociedade, ou seja, a ciência dita moderna, que existe atualmente e que se utiliza dos recursos da
tecnologia no fazer científico.
Conforme elucidado por Chauí (2004), a tecnologia é um saber teórico que se aplica
praticamente. Para ela, um objeto é tecnológico quando sua construção pressupõe um saber
científico e quando seu uso interfere nos resultados das pesquisas científicas.
Segundo Kuhn (1975),
a tecnologia desempenhou muitas vezes um papel vital no surgimento de novas ciências, já que os
ofícios são uma fonte facilmente acessível de fatos que não poderiam ter sido descobertos casualmente.
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materiais, mas a um sistema social. A tecnologia escolhida determina o tipo de vida social de um
grupo.
Se for feita uma analogia, para cada área do conhecimento científico se faz necessário um
tipo de tecnologia diferente. Laboratórios mais avançados para áreas como engenharias, biologia,
por exemplo, e tecnologias mais simples no processo de investigação e observação nas ciências
sociais. Isto se deve ao fato do tipo de análise realizado por esta ultima.
Corroborando com o pensamento de Fourez (1995) de que a tecnologia determina o
padrão social, Lévy (1997) afirma que a informática e as telecomunicações estão modificando a
forma de pensar e conviver em sociedade. Para ele,
Surge o que o autor chama de conhecimento por simulação, o uso de uma complexa
aparelhagem na pesquisa científica.
Demo (2001, p. 137), já fala em teleducação, o uso das tecnologias da informação para
disseminar o conhecimento. Com uma visão bem realista afirma:
a pesquisa, tanto em sua versão de princípio científico quanto na de princípio educativo, não rescindirá
dos meios cibernéticos.
O autor afirma que pode haver uma transformação, e não uma eliminação das escolas,
mudando a figura do professor e do aluno. O primeiro passará a ser um orientador, pois a
tecnologia será capaz de repassar o conteúdo e o segundo, o aluno, passará a exigir condições
efetivas de aprendizagem.
Demo (2001, p. 139) sugere as seguintes inovações transcritas abaixo:
O autor ainda apresenta dois desafios bastante pertinentes nos dias atuais: “como não
sucumbir ao entupimento de informação” e “como aprender de verdade”. Esses dois desafios
envolvem a forma como a informação é transmitida nos dias de hoje via web. Cada vez uma
quantidade variada de informações, mas com baixo grau de profundidade e veracidade.
Ainda em se tratando do processo de pesquisa on line, pode-se observar uma evolução das
técnicas estatísticas multivariadas com o advento dos sistemas computacionais tanto para realizar
as pesquisas como para tabular os dados. Pode-se utilizar os sistemas de informação desde o
momento da seleção da amostragem, definição dos objetivos, seleção da técnica estatística utilizada,
aplicação dos instrumentos de coleta e tabulação dos resultados seja qualitativamente ou
quantitativamente (FREITAS et al, 2006; HAIR et al, 2005).
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo não consegue, e nem tem pretensões de esgotar o tema. Embora o uso da
tecnologia já seja algo inevitável tanto no campo das ciências como no campo das organizações,
especialmente após a década de 90 com o advento da sociedade do conhecimento.
No campo educacional e científico Demo (2001) apresenta uma visão bastante crítica que
deve ser levada em conta nesse contexto atual. É a questão da massificação e dominação como
um movimento comercial e não diretamente em prol do cidadão. Evento igual a esse pode ser
observado no processo de industrialização da cultura de massa, observado por Adorno (1980).
Resgatando-se o objetivo central do estudo de verificar o nível de vinculação da tecnologia
à ciência, pode-se aferir que:
No campo do saber, a tecnologia tem um papel importante embora gere impactos
dicotômicos: provê acesso à informação de forma massiva e, ao mesmo tempo, torna as pessoas
cada vez menos informadas, capazes de realizar inferências e interpretações acerca dos fenômenos
e teorias. Eis o grande perigo nos dias atuais.
Mas os autores analisados concordam que não se faz mais ciência sem tecnologia, bem
como não existe mais sociedade sem ela.
No caso das pesquisas em ciências sociais, o uso de um ferramental tecnológico auxilia o
pesquisador, torna o processo mais ágil, com (talvez) um grau de confiabilidade maior. De fato
não se faz mais pesquisa sem tecnologia.
E o que isso gera de possibilidades? Que novos estudos podem surgir a partir destas
evidências?
Em primeiro lugar, as pesquisas em ciências ditas “normais” podem ser mais rápidas, ter
uma duração menor de tempo. Isso pode comprometer o fator qualidade do trabalho. Mas a
própria lógica dos programas de pós-graduação e as instituições que fomentam pesquisas é essa.
Publicações on line, relatórios on line, submissão e avaliação de projetos de pesquisa on line. Isso
gera uma economia de tempo e custo para estas organizações.
Em se tratando de novos estudos, tende-se cada vez mais a inserir tecnologia em todas as
áreas, vide exemplo do uso da TI inclusive em áreas como Medicina, a partir de estudos simulados
em robôs, entre tantos outros.
No campo mais social, pode surgir estudos do impacto das novas tecnologias na sociedade,
educação e consumo. Como a vigilância eletrônica, e-learning, compras on line inclusive pelos
governos. Aliás, o governo tende a ser um consumidor ativo de TI, na busca de melhores serviços
prestados ao cidadão. Enfim, diversos desdobramentos podem surgir a partir do tema.
NOTAS
1
Professor Assistente do Departamento de Agrotecnologia e Ciências Sociais; Doutorando em Administração -
PPGA/UFRN. E-mail: mfmedeiros@gmail.com.
2
Professora do PPGA/UFRN. E-mail: jalloufa@yahoo.com.br.
3
Professor Titular da UFRN, lotada no Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA. E-mail:
araujo.arlete2010@gmail.com.
REFERÊNCIAS
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