Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
> >OBJETIVOS
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
ABORDAGEM
SISTEMATIZADA
DO PACIENTE
POLITRAUMATIZADO
CONTROLE DE LESÕES
EXSANGUINANTES GRAVES
RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO
ATENDIMENTO PRIMÁRIO
CIRCULAÇÃO
INCAPACIDADE (AVALIAÇÃO
NEUROLÓGICA)
EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO
AMBIENTE
ESTUDOS LABORATORIAIS
RASTREAMENTO RADIOGRÁFICO
EXTENDED FOCUSED
MEDIDAS ADICIONAIS NA
ASSESSMENT WITH
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA SONOGRAPHY FOR TRAUMA
SONDAGEM VESICAL
SONDAGEM GÁSTRICA
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO
TRAUMA CERVICAL
ATENDIMENTO
TRAUMA TORÁCICO
SECUNDÁRIO
TRAUMA ABDOMINAL
TRAUMA ORTOPÉDICO
TRANSFERÊNCIA PARA
CENTRO DE TRAUMA
CASO CLÍNICO
CONCLUSÃO
11
PROTIPED
13
1
> >INTRODUÇÃO
O trauma pediátrico é importante causa de mortalidade em crianças
com idade superior a 1 ano. Nos Estados Unidos, mais de 10 mil
crianças e adolescentes morrem anualmente de lesões não intencionais
e intencionais, o que torna o trauma a principal causa de morte para
essa população.1 No Brasil, é a segunda causa de morte entre crianças
VIDEOAULA de 0 a 9 anos de idade e passa a ocupar a primeira posição na faixa
SOBRE O
CAPÍTULO etária de 10 a 39 anos.2
■■ primeiro pico — ocorre nos segundos a minutos imediatamente após o trauma, e somente
a prevenção pode diminuir essa mortalidade;
12
■■ segundo pico — ocorre de minutos a horas após a lesão, durante o período chamado de
golden hour, em que a avaliação e o tratamento rápido irão reduzir a mortalidade e melhorar
Politrauma na criança
3° pico: infecção e
falência de múltiplos
órgãos
Na chegada, deve-se monitorar o paciente, obter sinais vitais (frequência cardíaca, respiração,
saturação de oxigênio [SatO2], pressão arterial [PA] e temperatura) e providenciar oxigênio (O2)
suplementar, reavaliando-o a cada 5 minutos. A seguir, aborda-se o atendimento pela ordem
de prioridade, mas, em equipes treinadas, várias etapas podem ocorrer de forma simultânea.
13
Pode-se fazer a primeira avaliação rapidamente, ou seja, se a criança fala ou chora, não há
comprometimento de via aérea, a respiração não se encontra gravemente comprometida e
PROTIPED
o nível de consciência não está rebaixado.
Sempre que houver suspeita de lesão de coluna cervical, um segundo socorrista deve manter
a região do pescoço do paciente fixa, evitando sua rotação ou flexão durante a manobra de
elevação da mandíbula (“posição de cheirar”). Deve-se suspeitar de lesão cervical em toda
criança politraumatizada, especialmente no trauma de cabeça/pescoço ou em pacientes
com alteração do nível de consciência.1,6
Somente se deve utilizar a cânula orofaríngea (Guedel) quando a criança estiver inconsciente.
Deve-se introduzir o instrumento diretamente com o auxílio de um abaixador de língua, sem
realizar a inserção com rotação da cânula em 180º porque pode levar ao sangramento de
tecidos moles da orofaringe.1,6
Nos pacientes com esforço respiratório inadequado, com permeabilidade da via aérea
comprometida ou em coma (escala de Glasgow menor ou igual a 8), indica-se a intubação
endotraqueal. Nesse momento, abre-se o colar cervical e algum membro da equipe faz
a imobilização da coluna manualmente. A intubação nasotraqueal está contraindicada,
especialmente se houver trauma de face ou suspeita de trauma de base de crânio.1,6
14
A intubação do paciente vítima de trauma deve seguir os protocolos institucionais para
sequência rápida de intubação. O paciente deve ser pré-oxigenado. Deve-se considerar a
Politrauma na criança
atropina como pré-medicação em lactentes menores de 1 ano por apresentar uma resposta
vagal mais proeminente durante a intubação e em crianças de 1 a 5 anos que irão receber
suxametônio.1,7
QUADRO 1
PROTIPED
INTUBAÇÃO NO TRAUMA
Escolha adequada no
trauma com instabili-
1–2mg/kg. Dose
máxima 200mg.
■■ Taquicardia dade hemodinâmica, 13
■■ Hipertensão arterial broncoespasmo. Se
Início de ação em 1
Cetamina ■■ Hipersalivação; TCE com instabilidade
<2 minuto e duração
■■ Aumento de PIC hemodinâmica, usar
de ação de 10–30
(controverso). cetamina com ben-
minutos.
zodiazepínico como
pré-medicação.
TCE: traumatismo craniencefálico; PIC: pressão intracraniana. // Fonte: Adaptado de Misir e Mehrotra (2018).7
Deve-se dar atenção especial aos pacientes com TCE grave, que consistem
na indicação mais comum para intubação em crianças (cerca de 25% dos
casos). O objetivo é prevenir lesões neurológicas secundárias originadas de
hipoxia, hipercapnia, hipotensão, aumentos adicionais na PIC ou reduções
na pressão de perfusão cerebral (PPC). A laringoscopia e a intubação
traqueal podem resultar em aumento da PIC e da pressão arterial (PA).1,7
Pré-medicação:
■ Atropina (0,02mg/Kg): considear em <1 ano
ou 1–5 anos que irá receber succinilcolina
■ Lidocaína (1–1,5mg/Kg): usar em TCE
Sedativos:
■ Etomidato (0,1–0,3mg/Kg)
■ Midazolam (0,1–0,2mg/Kg)
■ Tiopental (1–3mg/Kg): TCE normovolêmico
■ Cetamina (1–2mg/Kg): quase afogamento,
queimaduras
Agentes paralisantes:
■ Succinilcolina: 1,5–2mg/Kg
■ Rocurônio: 0,6mg/Kg. Em doenças
neuromuscular, queimadura ou lesão
por esmagamento >24h evolução
FIGURA 2: Opções de fármacos para intubação de paciente vítima de trauma. // Fonte: Adaptada de
American College of Surgeons (2018).1
Quando há falha na intubação, deve-se considerar o uso de máscara laríngea para ventilação
de resgate até que profissional mais habilitado possa obter via aérea, ou por meio de
videolaringoscopia. Raramente se indica cricotireoidostomia cirúrgica para crianças menores
de 12 anos.1
/ /RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO
Por intermédio da inspeção do pescoço e do tórax, pode-se observar a presença de1,8
■■ desvio de traqueia;
■■ movimento anormal da parede torácica;
■■ uso de musculatura acessória;
■■ contusão ou laceração do tórax ou do pescoço.
As lesões com risco de vida geralmente estão associadas a achados específicos no exame
físico e devem ser tratadas na avaliação primária (Quadro 2).1,8
17
QUADRO 2
PROTIPED
RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO
LESÕES QUE DEVEM SER IDENTIFICADAS E TRATADAS NO ATENDIMENTO
PRIMÁRIO
13
Lesão Sinais e sintomas/diagnóstico Tratamento
1
Dispneia, taquicardia, hipotensão, Descompressão imediata com
desvio de traqueia, distensão veno- agulha no segundo espaço
Pneumotórax hiperten-
sa cervical, ausência de murmúrio intercostal na linha hemiclavi-
sivo
vesicular, timpanismo à percussão cular no lado afetado, seguida
do tórax envolvido. de drenagem definitiva.
Quadro clínico semelhante ao do Curativo ocluindo três lados,
pneumotórax hipertensivo. Conforme seguido de drenagem definitiva.
Pneumotórax aberto
a lesão, o ar entra pela ferida durante
a inspiração.
Dispneia. Movimento descoordenado Analgesia. Ventilação mecânica
Tórax instável do tórax. Radiografia com fraturas se houver insuficiência respi-
múltiplas. ratória.
Choque dependendo da quantidade Ressuscitação hídrica e drena-
de sangue acumulado, ausência de gem torácica.
Hemotórax murmúrio vesicular com macicez à
percussão. Radiografia de tórax com
derrame pleural.
Tríade de Beck (distensão venosa Pericardiocentese, ressuscita-
cervical, hipotensão, abafamento de ção hídrica e cirurgia.
Tamponamento cardíaco bulhas cardíacas). Pulso paradoxal.
Ultrassonografia com derrame
pericárdico.
ATIVIDADES
a para que não ocorram isquemia do membro e lesão nervosa, deve-se manter o torniquete
por, no máximo, 5 horas.
b recomenda-se a utilização de pinças hemostáticas na maioria dos sangramentos
massivos.
c o manejo da hemorragia externa deve ser feito já no atendimento pré-hospitalar com
compressão manual direta.
d nos casos de sangramentos massivos de extremidades em pacientes pediátricos,
contraindica-se o uso de torniquetes e se deve realizar a compressão manual direta.
19
4. Assinale a alternativa correta com relação ao manejo da via aérea em casos em
que há suspeita de lesão cervical. >> Resposta no final do capítulo
PROTIPED
a Quando houver suspeita de lesão da coluna cervical, um segundo socorrista deve
manter fixa a região do pescoço do paciente, evitando a rotação ou a flexão durante
a manobra de elevação da mandíbula.
b Quando a criança estiver consciente, recomenda-se a utilização da cânula orofaríngea. 13
c Quando a criança apresentar esforço respiratório inadequado, não se deve realizar 1
intubação endotraqueal.
d Quando houver suspeita de trauma de face, recomenda-se o uso de intubação
nasotraqueal.
a O pneumotórax aberto deve ser tratado com descompressão imediata com agulha
no segundo espaço intercostal na linha hemiclavicular no lado afetado, seguida de
drenagem definitiva.
b O hemotórax deve ser tratado por meio de ventilação mecânica e tratamento
medicamentoso. Nesse contexto, deve-se evitar a drenagem torácica.
c O tratamento para o pneumotórax hipertensivo consiste em curativo ocluindo três
lados, seguido de drenagem definitiva.
d O tórax instável exige analgesia e, caso ocorra insuficiência respiratória, indica-se a
ventilação mecânica.
/ /CIRCULAÇÃO
O objetivo da avaliação da circulação é determinar locais de sangramento e outras causas
de comprometimento hemodinâmico, como
QUADRO 3
FC: frequência cardíaca; PAS: pressão arterial sistólica. // Fonte: Adaptado de American College of Surgeons
(2018);1 American Heart Association (2016).6
Na fase aguda, a prioridade é controlar a hemorragia o mais rápido possível, por intermédio
de ressuscitação hídrica, uso de vasopressores e transfusão sanguínea para prevenir e
corrigir a coagulopatia.
As hemorragias externas devem ser controladas por meio de pressão manual direta sobre
os ferimentos sangrantes. A redução e a fixação de fraturas de ossos longos podem ajudar
na homeostasia. Os pacientes com fratura de pelve hemodinamicamente instáveis devem
ter a pelve fixada.
21
> >ACESSO VASCULAR
PROTIPED
O objetivo principal do acesso vascular é a obtenção de dois acessos vasculares curtos e
calibrosos em extremidades não lesadas em até 60 a 90 segundos após a chegada. Se o
acesso venoso periférico for difícil, deve-se realizar uma punção intraóssea.1,3,6
Como alternativa ao acesso vascular, tem-se o acesso venoso central guiado por ultrassonografia. 13
1
Fatores pré-existentes
► Genético
► Doenças prévias
► Uso de medicações
(especialmente antitrombóticos)
TRAUMA
Choque Ressuscitação
Ativação da
Hipóxia tecidual
hemostasia Cristalóides Concentrado
de hemácias
Acidose
Coagulopatia
dilucional
COAGULOPATIA
DO TRAUMA
PROTIPED
abaixo de 150 a 200mg/dL2
Os três tipos de resposta à ressuscitação hídrica que as crianças podem apresentar são
Os pacientes sem resposta e com resposta transitória são candidatos a transfusão adicional
de produtos sanguíneos e a ativação de protocolo de transfusão massiva (PTM), assim
como se deve considerar a realização de procedimento cirúrgico.
Há dados limitados sobre o uso de PTM em trauma pediátrico. Deve-se iniciar o PTM em
choque hemorrágico traumático com instabilidade hemodinâmica persistente ou sangramento
contínuo após 40mL/kg (ou 1.500mL para pacientes com mais de 30kg) de infusão de solução
cristaloides.1,2,6,7
Nesse ponto, após dose inicial de concentrado de hemácias, os hemocomponentes devem ser
administrados a pacientes pediátricos maiores (com mais de 30kg) em uma proporção de 1:1:1
unidade de concentrado de hemácias/plasma/plaquetas com crioprecipitado administrado
conforme níveis de fibrinogênio ou sangramento contínuo após a administração de um ciclo
de todos os três componentes sanguíneos.1,2,6,7
Para pacientes com menos de 30kg, o protocolo baseia-se em peso (mL/kg) na proporção
de 30:20:20.1,2,6,7 Não há consenso sobre essa abordagem em crianças, já que os estudos
não demonstraram diminuição da mortalidade.9
Tem-se utilizado cada vez mais a tromboelastografia (TEG), uma representação gráfica da
formação e da destruição do trombo, fornecendo informações 10 minutos após início do
exame. Ela permite uma abordagem de transfusão mais direcionada para as deficiências de
coagulação no momento.3,5,10
Outra medicação que pode ser usada em pacientes com hemorragia massiva é o ácido
tranexâmico, um antifibrinolítico que demonstrou diminuição de mortalidade quando
administrado até 3 horas do trauma em adultos. Em pediatria, um estudo envolvendo 766
pacientes em zona de combate, em que 66 receberam ácido tranexâmico, encontrou menor
mortalidade, sem aumento de complicações, quando comparado com grupo semelhante
que não recebeu a medicação.2,3,5,10
24
Para o tratamento com ácido tranexâmico, recomenda-se administrar 15mg/kg em
bolo nas primeiras 3 horas após o trauma e 2mg/kg/h nas próximas 8 horas em
Politrauma na criança
A ressuscitação com controle de danos (em inglês, damage control resuscitation [DCR]) é
uma estratégia de ressuscitação que busca evitar a tríade letal do trauma e tem como
focos principais o manejo de fluidos e a homeostase.3,10–12 A tríade letal é um ciclo vicioso
em que três elementos — hipotermia, acidose e coagulopatia — se alimentam e, caso não
reconhecidos precocemente e tratados de forma agressiva, podem se tornar irreversíveis.11
■■ acidose;
■■ coagulopatia;
■■ hipotermia;
■■ hemorragias não controladas;
■■ insultos cirúrgicos de grande porte.
PROTIPED
■■ hipotensão permissiva;
■■ reaquecimento;
■■ cirurgia com controle de danos.
Em pediatria, a estratégia de hipotensão permissiva não está bem avaliada. A diferença é que
crianças têm uma reserva fisiológica maior, o que permite que mantenham a PA sistêmica
dentro do normal mesmo com perdas sanguíneas em torno de 25 a 45% da volemia.3,11
O controle cirúrgico ainda permanece o padrão-ouro para a maioria dos pacientes com
politrauma e deve estar rapidamente disponível quando necessário. Deve-se estabelecer
um manejo cirúrgico para controle do sangramento que não responde ao manejo clínico.
O procedimento cirúrgico para controle de danos reduz a agressão primária pelo controle
da hemorragia e, após a restauração do equilíbrio fisiológico, realiza-se a reconstrução com
restauração da função em longo prazo.12
26
O manejo endovascular com embolização de vasos e colocação de endopróteses em lesões
vasculares tem diminuído o risco de procedimentos abertos,12 evitando, dessa forma, cirurgias
Politrauma na criança
QUADRO 4
Os pacientes com trauma de crânio com respiração inadequada ou escala de Glasgow menor
ou igual a 8 demandam intubação endotraqueal e ventilação controlada. Os pacientes com
evidência de herniação cerebral iminente devem receber períodos curtos de hiperventilação
(pressão parcial de gás carbônico [PCO2] de 25 a 35mmHg) até a reversão da dilatação pupilar
como medida temporária.13
27
Deve-se administrar solução hipertônica, que pode ser manitol de 0,5 a 1,0g/kg ou solução
salina hipertônica (SSH) (cloreto de sódio [NaCl] 3%) de 1 a 3mL/kg (máximo 250mL). No
PROTIPED
cenário de hérnia, não há estudos comparando a eficácia dessas duas soluções, mas, para
fins de comparação osmolar, 0,5g/kg de manitol corresponde a aproximadamente 2,5mL/
kg de NaCl 3%.13
13
/ /EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE 1
Nesse momento, deve-se realizar a exposição completa do paciente para definir todos os
possíveis traumas, procurando tomar cuidado com a hipotermia.
LEMBRAR
Os pacientes pediátricos são mais suscetíveis à hipotermia
porque têm uma superfície corporal maior em relação ao peso
corporal, a pele fina e o subcutâneo com pouca gordura.
ATIVIDADES
a Pele pálida e fria, FC normal e PAS diminuída, débito urinário diminuído e estado mental
confuso.
b Enchimento capilar prolongado, pele fria e moteada, FC aumentada e PAS normal,
débito urinário normal e estado mental ansioso/irritável.
c FC muito aumentada e PAS diminuída, indivíduo cianótico e com enchimento capilar
nitidamente prolongado, com oligúria e estado mental ansioso/confuso.
d FC muito aumentada e PAS diminuída, pele pálida e fria, oligoanúria e estado mental
confuso/letárgico.
28
8. Com relação à obtenção de acessos vasculares no atendimento primário a crianças
politraumatizadas, é correto afirmar que >> Resposta no final do capítulo
Politrauma na criança
10. Com relação à transfusão de hemocomponentes, é correto afirmar que >> Resposta no
final do capítulo
PROTIPED
I. O PTM deve ser iniciado em pacientes com menos de 30kg em choque hemorrágico
traumático com instabilidade hemodinâmica persistente ou sangramento contínuo
após 40mL/kg de infusão de solução cristaloides.
II. Os hemocomponentes devem ser administrados na proporção de 1:1:1 unidade de
concentrado de hemácias/plasma/plaquetas após uma dose inicial de concentrado 13
de hemácias, em pacientes com menos de 30kg.
1
III. O crioprecipitado deve ser administrado antes de cada ciclo de administração dos
componentes sanguíneos, conforme níveis de fibrinogênio.
IV. A proporção de concentrado de hemácias/plasma/plaquetas deve ser feita na
proporção de 30:20:20 unidades para pacientes com mais de 30kg.
a Apenas a I.
b Apenas a II e a IV.
c Apenas a III.
d Apenas a I e a II.
12. Com relação à DCR, é correto afirmar que >> Resposta no final do capítulo
a esse procedimento consiste, dentre outras coisas, no uso indiscriminado de cristaloides,
seguido do uso de hemoderivados em temperatura ambiente.
b o uso de agentes hemostáticos é contraindicado durante esse procedimento.
c o seu objetivo é retardar o surgimento da tríade letal do trauma.
d as suas fases principais são procedimento cirúrgico limitado para controle do sangramento
e da contaminação e fechamento rápido temporário, ressuscitação em UTI com
reaquecimento, transfusões e suporte hemodinâmico e reoperação com reparo
definitivo.
13. Assinale a alternativa correta com relação aos procedimentos indicados quando
há evidência de incapacidade na avaliação neurológica. >> Resposta no final do capítulo
a A hiperventilação está contraindicada em casos suspeitos de herniação cerebral
iminente.
b Os pacientes com trauma de crânio com respiração inadequada ou escala de Glasgow
menor ou igual a 8 demandam intubação endotraqueal e ventilação controlada.
c A administração de manitol entre 1,5 e 10g/kg está recomendada em casos de herniação
iminente, dentre outros procedimentos.
d A SSH de NaCl 3% é bem mais eficaz do que o manitol, segundo alguns estudos
comprovam.
30
14. Assinale a alternativa correta quanto à exposição completa do paciente para a
definição dos traumas. >> Resposta no final do capítulo
Politrauma na criança
■■ os estudos laboratoriais;
■■ o rastreamento radiográfico;
■■ a extended focused assessment with sonography for trauma (E-FAST);
■■ a sondagem vesical;
■■ a sondagem gástrica.
/ /ESTUDOS LABORATORIAIS
Os exames laboratoriais são adjuntos na avaliação inicial, mas não devem substituir o
exame clínico completo. Na primeira avaliação, os exames que apresentam maior impacto
no manejo do paciente são1,5,14,15
/ /RASTREAMENTO RADIOGRÁFICO
Deve-se realizar rastreamento radiográfico de maneira racional e de modo a não retardar a
reanimação. Podem ser solicitadas as radiografias anteroposterior de tórax e pelve e lateral
de coluna cervical, mas esse exames podem ser postergados para a avaliação secundária.1,16
31
/ /EXTENDED FOCUSED ASSESSMENT WITH SONOGRAPHY FOR
TRAUMA
PROTIPED
A E-FAST é um exame ultrassonográfico rápido de quatro quadrantes abdominais — quadrante
superior direito, quadrante superior esquerdo, região subxifoide e pélvis, acrescentando-se
a janela pulmonar. Esse exame é importante para a detecção de 13
1
■■ hemopericárdio;
■■ líquido intraperitoneal secundário a trauma abdominal;
■■ pneumotórax;
■■ hemotórax.
Entretanto, uma FAST negativa não exclui lesão intra-abdominal, já que 40% dos traumas
abdominais em criança não estão associados à presença de líquido livre, ou estão associados a
um volume não detectado pelo exame. Esses pacientes devem realizar rigorosa avaliação clínica
seriada e há indicação de tomografia sempre que existir suspeita de trauma abdominal.5,17,18
/ /SONDAGEM VESICAL
A sondagem vesical é importante para controle do débito urinário, que deve ser mantido
entre 1 e 2mL/kg/h em bebês e em crianças, e é maior do que 30mL/h em adolescentes.
Os pacientes com suspeita de lesão uretral (sangue no meato uretral, equimose em períneo,
sangramento em escroto, fratura pélvica) não devem ser sondados até a completa avaliação
da integridade uretral.1
/ /SONDAGEM GÁSTRICA
Nos pacientes politraumatizados, deve-se realizar sondagem orogástrica para descompressão
gástrica e diminuir o risco de aspiração. As crianças fazem distensão gástrica aguda tanto
pela deglutição de ar quanto pela ventilação com máscara, o que pode precipitar vômitos e
uma consequente aspiração.
Quando as principais lesões com risco de vida já foram identificadas e tratadas na fase inicial,
realiza-se um exame físico completo e sistemático, incluindo exame neurológico minucioso
e ortopédico, seguido de estabilização de fraturas.
A utilização do código SAMPLE é uma fórmula mnemônica útil para lembrar itens importantes
a serem detalhados na anamnese, conforme a seguir:1
■■ S — sinais e sintomas;
■■ A — alergias;
■■ M — medicações;
■■ P — passado médico;
■■ L — líquidos e alimentos ingeridos recentemente;
■■ E — eventos relacionados ao trauma.
/ /TRAUMA CRANIENCEFÁLICO
O trauma de crânio grave é a principal causa de morte e de sequelas em crianças traumatizadas.
As quedas de altura são a principal causa de TCE em menores de 13 anos, ao passo que
os acidentes automobilísticos, as lesões relacionadas aos esportes e à violência urbana
são mais comuns em crianças maiores e em adolescentes.
PROTIPED
A lesão primária é a causada pelo traumatismo propriamente dito. Geralmente, o TCE em
pediatria é provocado por trauma contuso. A despeito da radiação, que é uma preocupação
no paciente pediátrico, a tomografia computadorizada (TC) de crânio é o exame de maior
acurácia para diagnóstico em emergência. Uma vez identificada a lesão, o tamanho, a
localização e a progressão definem o manejo e o prognóstico clínico.
13
1
O TCE leve é manejado conforme os guidelines sugeridos por estudos multicêntricos que
identificaram desfechos clínicos relacionados à lesão intracraniana significativa, auxiliando
na determinação de qual paciente demanda observação e/ou TC (Figura 4).19,20
FIGURA 4: Manejo do TCE leve a moderado nas primeiras 24 horas. // Fonte: Adaptada de Astrand e
colaboradores (2016).19
34
MANEJO E RESSUSCITAÇÃO DO TRAUMA CRANIENCEFÁLICO MODERADO E GRAVE NO
PACIENTE POLITRAUMATIZADO
Politrauma na criança
■■ A — Via aérea com controle da coluna cervical — imobilizar lesão conhecida ou suspeita
de coluna cervical. A intubação está indicada no TCE com Glasgow menor ou igual a 8;
■■ B — Respiração e ventilação — evitar a hipoxia e a hiperventilação. A hipocapnia é um
potente vasoconstritor que reduz a PIC por meio da diminuição do fluxo sanguíneo cerebral,
o que leva à lesão secundária por isquemia cerebral. Portanto, a hiperventilação deve ser
evitada e somente está indicada quando há sinais de herniação;
■■ C — Circulação — tratar prontamente, pois a hipotensão é o maior fator contribuinte para
a isquemia;
■■ D — realizar exame neurológico com a identificação de alterações pupilares e postura
anormal e obter imagem imediata para a identificação das lesões intracranianas.
Recomenda-se a monitoração da PIC. A lesão secundária após um TCE grave resulta de uma
cascata fisiopatológica de eventos que ocasionam redução da perfusão cerebral, diminuição
da entrega de O2 e metabólitos, diminuição da eliminação de toxinas.13
Deve-se realizar a TC após a estabilização inicial para afastar lesões que demandem intervenção
cirúrgica. Entretanto, uma TC normal inicial (de 0 a 6 horas do trauma) não exclui HIC em
pacientes pediátricos em coma.13
Não se deve fazer uma segunda TC de rotina em 24 horas após a admissão, a menos
que haja evidência de deterioração neurológica ou aumento da PIC refratária.13
O limite para tratamento da HIC é PIC maior que 20mmHg por 5 minutos. Sugere-se como
alvo a manutenção da PPC (PPC = PAM-PIC) entre 40 e 50mmHg. Não se deve tolerar uma
PPC menor de 40mmHg. Para tratamentos da HIC, utilizam-se soluções hiperosmolares, como
a SSH a 3% e o manitol. Recomenda-se um bolo de SSH a 3% (NaCl 3% = NaCl 20% 15mL +
água destilada 85mL) de 2 a 5mL/kg, o que é efetivo e pode ser feito a cada 10 a 20 minutos.13
O uso da infusão contínua SSH a 3% é efetivo em doses de 0,1 a 1mL/kg/h, na menor dose
possível que controle a PIC. Deve-se tomar cuidado para não manter sódio (Na) sérico maior
do que 170 por mais de 72 horas para evitar complicações como trombocitopenia e anemia
e Na maior do que 160 para evitar trombose venosa profunda.13
35
O manitol é muito usado, mas não existem estudos ou evidências que norteiem o seu uso em
pediatria. Sedação e analgesia com fentanila e midazolam estão bem indicadas, mas o bolo
PROTIPED
dessas medicações durante as crises de HIC deve ser evitado, pois pode causar diminuição
da PPC. Deve-se manter profilaxia de crises convulsivas por sete dias no TCE grave, a qual
pode ser feita com fenitoína ou levetiracetam.13
Se o paciente permanecer com HIC refratária após terapias de primeira linha, deve-se repetir
a TC de crânio. Conforme achados, podem ser indicadas terapias de segunda linha, como13
■■ craniectomia descompressiva;
■■ barbitúricos;
■■ hipotermia moderada;
■■ hiperventilação;
■■ níveis altos de terapia osmolar.
TC de crânio
Abrir DVE
■ Checar volume intravascular
■ Vasopressor
■ Bolus SHT Bolus de NaCl 3%
Sedação neuromuscular/
EEG contínuo
Terapia hiperosmolar
adicional
ATIVIDADES
PROTIPED
a V—V—F—F
b F—F—F—V
c V—F—V—V
d F—V—V—F 13
1
16. Com relação à avaliação de paciente com suspeita de trauma abdominal, é possível
afirmar que>> Resposta no final do capítulo
a uma E-FAST negativa afasta lesão intra-abdominal.
b um aumento de transaminases (TGO maior do que 200U/L ou TGP maior do que 125U/L)
está associado a trauma contuso abdominal.
c a lesão do cinto de segurança (abrasão e hematoma infraumbilical) não aumenta o
risco de trauma abdominal.
d o melhor exame de imagem inicial é a ecografia abdominal se houver suspeita de lesão
pancreática.
17. Assinale a alternativa correta com relação às sondagens gástrica e vesical. >> Resposta
no final do capítulo
No manejo pré-hospitalar, deve-se considerar toda criança inconsciente com lesões cranianas,
de clavícula ou envolvida em acidente automobilístico como tendo trauma cervical, e se deve
realizar imobilização adequada da coluna cervical. Os principais fatores de risco associados
ao trauma cervical são:21
PROTIPED
■■ criança inconsolável;
■■ achados anormais no exame neurológico após exame completo.
Depois da estratificação de risco, a imagem ideal na pediatria para evitar exposição demasiada
à radiação é a radiografia cervical. Em crianças pequenas, a sensibilidade da radiografia 13
lateral é de 73%, mas aumenta para 90% em maiores de 8 anos. Por essa razão, deve-se 1
incluir o filme anteroposterior no exame, o que aumenta a sensibilidade para 90%. O exame
deve abranger de C1 a C7.
Uma vez identificada a lesão, deve-se consultar um especialista para adotar conduta adequada
quanto à imobilização ou à necessidade de realização de procedimento cirúrgico. Não existe
evidência suficiente que suporte o uso de corticosteroides nesse contexto.21
/ /TRAUMA TORÁCICO
O trauma torácico inclui lesões nos pulmões, no coração, na aorta e em grandes vasos,
na árvore traqueobrônquica e em estruturas da parede torácica. Contusões pulmonares,
pneumotórax, hemotórax e fraturas de costelas ocorrem mais comumente.
> >PNEUMOTÓRAX/PNEUMOMEDIASTINO/HEMOTÓRAX
A suspeita de pneumotórax é aumentada diante de
■■ taquipneia;
■■ diminuição do murmúrio vesicular;
■■ crepitação;
■■ lesão da parede torácica.
40
O pneumomediastino ocorre em até 10% dos pacientes com trauma torácico contuso e pode
resultar de ruptura alveolar subclínica. Lesões da árvore traqueobrônquica ou do esôfago
devem ser consideradas nessa situação, mas raramente estão presentes sem outros achados
do exame clínico.8
LEMBRAR
O hemotórax e o pneumotórax ocorrem com frequência juntos.
Lesões penetrantes podem causar hemorragia por lesão direta
em um vaso.8
Realiza-se a avaliação inicial com a radiografia de tórax, que apresenta alta sensibilidade
para o trauma torácico clinicamente significativo e serve como uma ferramenta de triagem
adequada para limitar a TC do tórax.8 Radiografias de tórax demonstrando ar no espaço pleural
com ou sem deslocamento da traqueia e das estruturas mediastinais indicam pneumotórax.
No hemotórax, ocorre derrame pleural.
PROTIPED
13
1
FIGURA 7: Hemotórax por ferimento por arma de fogo. Antes e após drenagem. // Fonte: Arquivo de
imagens das autoras.
LEMBRAR
A TC tem maior sensibilidade para a identificação de pneumotórax
e hemotórax, mas a radiografia torácica é melhor preditor de
lesões e desfechos clinicamente significativos.8
Nos casos de hemotórax, é importante evacuar o sangue, o que pode causar empiema ou
levar à cicatrização fibrosa. A colocação do dreno torácico descomprime o pulmão e serve
para monitorar o sangramento. Uma hemorragia superior a de 20 a 25% da volemia ou perdas
de 3 a 4mL/kg/hora devem levar à exploração cirúrgica.1,8
O pneumotórax aberto requer um curativo oclusivo de três lados para interromper o acúmulo
de ar através da ferida e a colocação imediata do dreno torácico para descomprimir o espaço
pleural. Não se deve colocar o dreno de tórax através da ferida existente.
43
A Figura 8 contém a imagem de um curativo de três lados com pneumotórax aberto.
PROTIPED
13
1
FIGURA 8: Curativo de três lados no pneumotórax aberto. // Fonte: Arquivo de imagens das autoras.
Lesões de alta energia nos espaços alveolares levam à edema, à hemorragia e à subsequente
inflamação, o que prejudica a ventilação, ocasionando hipoxia. Pequenas contusões começam
a cicatrizar em uma semana. Contusões pulmonares extensas podem levar à síndrome
do desconforto respiratório agudo e à insuficiência respiratória. Além disso, 20% dos
pacientes com contusões pulmonares evoluirão para pneumonia, mas não há indicação de
profilaxia antibiótica.8
FIGURA 9: Fraturas de costelas com contusão pulmonar. // Fonte: Arquivo de imagens das autoras.
PROTIPED
Lesões cardíacas contusas são raras porque a maioria das pessoas com essa condição
morre antes da chegada ao hospital. Os pacientes se apresentam com arritmia, baixo débito
cardíaco ou enzimas séricas cardíacas anormais.8
A maioria das lesões diafragmáticas ocorre quando o diafragma é submetido a altas pressões.
A ruptura é mais comum do lado esquerdo e mais frequente na área posterolateral.
/ /TRAUMA ABDOMINAL
A taquipneia por movimentação diafragmática prejudicada, a dor à palpação abdominal,
as equimoses e os sinais de choque são sinais e sintomas sugestivos de trauma abdominal.
O vômito pode ser um sinal tardio e estar associado a hematoma de duodeno e trauma
pancreático.14,15
47
O sinal do cinto de segurança (abrasão e hematoma infraumbilical — Figura 11) aumenta
a chance de lesão intra-abdominal em 13 vezes. Em associação com os sinais clínicos, as
PROTIPED
alterações laboratoriais podem levar à alta suspeição clínica.14,15
13
1
48
Politrauma na criança
FIGURA 11: Trauma abdominal — sinal do cinto de segurança. // Fonte: Arquivo de imagens das autoras.
LEMBRAR
A TC tornou-se o padrão de referência para avaliação da lesão
intra-abdominal. Em crianças, no entanto, TCs abdominais estão
associadas a um risco atribuível de câncer.23
PROTIPED
O fígado e o baço têm consistência e localização nos quadrantes superiores direito e esquerdo,
respectivamente; assim, os tipos de lesão são semelhantes. O baço é o órgão sólido mais
afetado nos traumas abdominais fechados.24
Quadro 5
grau II) e restrição de atividade de grau de lesão mais duas semanas (por exemplo, cinco
semanas para uma lesão grau III).25,26
Uma vez internadas, a monitorização clínica por meio da avaliação de sinais vitais, exame
clínico, estado hemodinâmico e Hb inicial parece identificar com segurança as crianças
necessitando de transfusão, evitando repetidas checagens de Hb. Além disso, vários estudos
suportam única dosagem após 6 horas da lesão ou nenhuma verificação após a obtenção
do valor inicial nos pacientes clinicamente estáveis.25,26
LEMBRAR
Para pacientes em choque hipovolêmico, sem resposta
à ressuscitação hídrica inicial, a cirurgia continua sendo o
tratamento padrão.25,26
Dados recentes sugerem que poucas crianças que param de sangrar serão readmitidas durante
esse período. Instruções específicas na alta e educação dos pais são importantes.26 Nenhuma
imagem adicional é necessária antes da alta ou durante a consulta de acompanhamento.
Todo paciente com suspeita de lesão abdominal deve ter uma urinálise. É importante ver a
primeira amostra de urina para identificar hematúria macroscópica. Para crianças, hematúria
macroscópica ou microscópica indica exame de imagem. Pode-se fazer a imagem dos rins
com ultrassonografia ou TC de abdome ou pelve com contraste endovenoso. Pode-se usar
a ultrassonografia na avaliação inicial por meio da FAST, entretanto é um exame usuário
dependente e não deve ser usado para diagnóstico definitivo de lesão renal. Em pacientes
estáveis, deve-se realizar TC de abdome ou de pelve com contraste endovenoso. Se houver
suspeita de lesão da bexiga, deve-se fazer uma cistografia retrógrada.
PROTIPED
Entre os órgãos sólidos abdominais, o pâncreas é o menos comumente afetado. Com uma
localização profunda no abdome e perto do estômago, do duodeno, do cólon e da vasculatura,
a força necessária para causar danos ao pâncreas pode levar a lesões de outras estruturas
abdominais. Um golpe direto sobre a parte superior do abdome, por exemplo, com guidom
da bicicleta, é o clássico mecanismo de lesão.
13
1
Os pacientes com lesão pancreática podem ter dor e sensibilidade epigástrica. O diagnóstico
clínico é muitas vezes desafiador no cenário do trauma, e o exame abdominal inicial pode
subestimar a gravidade da lesão. Lipase e amilase são comumente mensuradas, embora
apresentem baixa sensibilidade e especificidade para o trauma pancreático.
LEMBRAR
Se houver suspeita de lesão pancreática, o melhor exame de
imagem inicial é TC de abdome com contraste endovenoso.
Da mesma forma como acontece com os órgãos sólidos discutidos neste capítulo, a maioria
das lesões pancreáticas pode ser manejada sem cirurgia. Entretanto, esse tipo de lesão tem a
maior taxa de falha ao tratamento conservador e se relaciona com internações prolongadas
decorrentes de complicações, como pseudocistos.25,26
/ /TRAUMA ORTOPÉDICO
Para diagnóstico, manejo e prognóstico do trauma ortopédico em crianças, é necessário
entender as várias propriedades do esqueleto infantil, dentre elas, destacam-se
■■ ossos mais porosos e elásticos, o que torna as fraturas possíveis com energias menores;
■■ resolução mais rápida das fraturas, com grande capacidade de remodelação;
■■ deformidade dos ossos que leva a padrões típicos de fratura das crianças;
■■ incidência menor de fraturas cominutivas.
A palidez de um membro pode indicar lesão vascular e requer intervenção urgente. Os pulsos
de todas as extremidades devem ser palpados, e a má perfusão do membro indica emergência
ortopédica/vascular. A redução da fratura pelo especialista, nessas circunstâncias, pode
ocorrer na emergência, prevenindo a isquemia do membro.18
52
Os compartimentos musculares devem ser palpados para a identificação de possível
síndrome compartimental, o que também indica intervenção de urgência. Nesses casos,
Politrauma na criança
As fraturas de pelve em pediatria ocorrem em de 2,4 a 7,5% das crianças admitidas por
trauma contuso. Ocorrem em traumas de alta energia e geralmente estão associadas a
outras lesões. Em crianças, raramente são a causa de choque hemorrágico, pois a pelve é
mais elástica, e as fraturas geralmente ocorrem na asa do ilíaco e em ramos isquiopúbicos.
Alguns pacientes apresentam lesões mais graves com fraturas instáveis caracterizadas pela
ruptura do anel pélvico e demandam estabilização urgente. A maioria das fraturas de pelve
pediátricas evolui sem maiores complicações e raramente demanda intervenção cirúrgica.18
O trauma é uma doença sensível ao tempo, por isso a terapia precoce direcionada por metas
e o encaminhamento e transporte imediatos para o nível mais apropriado de assistência
são críticos para a sobrevivência e para os resultados funcionais gerais.27
PROTIPED
ESCORE DE TRAUMA PEDIÁTRICO
Valor 2 1 -1
Peso >20kg 10–20kg <10kg
13
Via aérea Normal Mantida/O2 Entubado
1
PAS >90mmHg 50–90mmHg <50mmHg
Nível de consciência Acordada Confusa Coma
Ferimento Ausente Mínimo Grave/penetrante
Fratura Normal Fechada Exposta/múltipla
PAS: pressão arterial sistólica; O2: oxigênio. // Fonte: Adaptado de American College of Surgeons (2018).1
ATIVIDADES
▼▼ Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. >> Resposta no final do capítulo
a V—F—V—V
b V—F—F—V
c F—V—F—F
d F—V—V—F
54
20. Na avaliação secundária, as lesões ortopédicas devem ser diagnosticadas e
documentadas. Em relação ao exame físico e ao manejo, analise as afirmativas a
Politrauma na criança
seguir.
I. A palidez de um membro pode indicar lesão vascular e requer intervenção urgente.
Os pulsos de todas as extremidades devem ser palpados.
II. Os compartimentos musculares devem ser palpados para a identificação de
síndrome compartimental, o que também indica intervenção de urgência. Nesses
casos, deve-se monitorar a CPK para a identificação da rabdomiólise.
III. As fraturas abertas ou expostas podem ocorrer. Os principais objetivos do manejo
são a prevenção da infecção e a estabilização da fratura. O antibiótico sistêmico
deve ser iniciado de 24 a 48 horas após o trauma.
a Apenas a I e a III.
b Apenas a II.
c Apenas a I e a II.
d Apenas a III.
a O dreno de tórax deve ser colocado através da ferida existente no pneumotórax aberto.
b A descompressão e a inserção do dreno torácico devem esperar a confirmação
diagnóstica por meio de radiografia nos casos de pneumotórax hipertensivo.
c A radiografia torácica é um melhor preditor de lesões e desfechos clinicamente
significativos, apesar de a TC ter maior sensibilidade para a identificação de pneumotórax
e hemotórax.
d As radiografias de tórax demonstrando ar no espaço pleural com ou sem deslocamento
da traqueia e das estruturas mediastinais indicam hemotórax.
55
23. Assinale a alternativa correta com relação à contusão pulmonar. >> Resposta no final do
capítulo
PROTIPED
a Contusão pulmonar demanda profilaxia antibiótica, já que 40% dos casos evoluirão
para pneumonia.
b Contusões pulmonares extensas podem levar à síndrome do desconforto respiratório
agudo e à insuficiência respiratória. 13
c Contusões pulmonares geralmente são acompanhadas de sinais externos de lesão 1
da parede torácica.
d Hemorragia, edema e inflamação do tecido pulmonar lesionado se manifestam por
meio de radiografia em pouquíssimo tempo.
24. Assinale a alternativa correta acerca das lesões cardíacas contusas. >> Resposta no
final do capítulo
25. Assinale a alternativa correta com relação ao trauma abdominal. >> Resposta no final do
capítulo
26. Uma lesão hepática de grau II é caracterizada por >> Resposta no final do capítulo
a lesão intraparenquimatosa envolvendo de 25 a 50% do lobo hepático ou de um a três
segmentos Couinaud em um único lobo.
b hematoma subcapsular em de 10 a 50% da área, hematoma intraparenquimatoso com
menos de 10cm de diâmetro, laceração capsular de 1 a 3cm de profundidade e menor
do que 1cm de extensão.
c hematoma subcapsular menor do que 10% e laceração capsular menor do que 1cm
de profundidade.
d hematoma subcapsular maior do que 50%, hematoma subcapsular roto ou com
sangramento ativo, hematoma intraparenquimatoso maior do que 10cm e laceração
maior do que 3cm de profundidade.
56
27. Uma lesão esplênica caracterizada por laceração envolvendo vasos segmentares
ou hilo, produzindo maior desvascularização, em mais de 25% do baço, pode ser
Politrauma na criança
28. A triagem dos pacientes vítimas de trauma deve ocorrer no ambiente pré-hospitalar
para orientar a transferência. Essa triagem deve se basear >> Resposta no final do capítulo
a na experiência do médico transportador.
b em um escore simples e fácil de calcular, mas sensível o suficiente para incluir todos
os pacientes que demandem um nível mais alto de serviços de trauma.
c na estrutura do sistema de trauma, devendo se basear em critérios clínicos e laboratoriais
durante o primeiro atendimento.
d no ETP. Os pacientes com ETP maior do que 8 devem ser transferidos para um centro
de trauma.
CASO CLÍNICO
Menina, 10 anos de idade, vítima de acidente automobilístico, com óbito na cena,
conduzida no banco traseiro com cinto segurança, chega à sala de emergência
com imobilização padrão, via aérea pérvia, com ventilação espontânea, SatO2
igual a 90%, com máscara não reinalante.
PROTIPED
a Apenas a I, a III e a IV.
b Apenas a I, a II e a V.
c Apenas a II, a IV e a V.
d Apenas a III e a IV. 13
1
> >CONCLUSÃO
O trauma pediátrico é importante causa de morbidade e mortalidade no meio médico. Para
melhorar o prognóstico de pacientes nessa condição, é fundamental a realização de um
atendimento inicial sistematizado, visando ao reconhecimento e ao tratamento de situações
com risco iminente de vida, assim como a definição de quais pacientes irão se beneficiar da
transferência para centros de tratamento de trauma.
ATIVIDADE 2 // RESPOSTA: D
► ► Comentário: O atendimento primário tem como objetivos o diagnóstico e o tratamento das
condições que ofereçam risco de vida iminente ao paciente. A ordem de prioridade inclui X
(controle de lesões exsanguinantes graves), A (vias aéreas com proteção da coluna cervical),
B (respiração e ventilação), C (circulação e controle de hemorragia), D (incapacidade, estado
neurológico) e E (exposição, controle do ambiente). Embora exista essa ordem de prioridade,
em equipes treinadas, várias dessas etapas podem ser realizadas de forma simultânea.
Na chegada, deve-se monitorizar o paciente, obter sinais vitais (pulso, respiração, SatO2,
PA e temperatura) e providenciar O2 suplementar, reavaliando-o a cada cinco 5 minutos. A
primeira avaliação pode ser feita rapidamente, ou seja, se a criança fala ou chora, não há
comprometimento de via aérea, a respiração não se encontra severamente comprometida
e o nível de consciência não está rebaixado.
ATIVIDADE 3 // RESPOSTA: C
58
► ► Comentário: Quanto ao controle de lesões exsanguinantes graves, a hemorragia externa deve
ser manejada com compressão manual direta já no atendimento hospitalar. O uso de pinças
Politrauma na criança
ATIVIDADE 4 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: Quando houver suspeita de lesão da coluna cervical, um segundo socorrista
deve manter a região do pescoço do paciente fixa, evitando a rotação ou a flexão durante
a manobra de elevação da mandíbula. O uso de cânula orofaríngea só é recomendado se
o paciente estiver inconsciente. Nos pacientes com esforço respiratório inadequado, com
permeabilidade da via aérea comprometida ou em coma, indica-se o uso de intubação
endotraqueal. A intubação nasotraqueal está contraindicada, especialmente se houver trauma
de face ou suspeita de trauma de base de crânio.
ATIVIDADE 5 // RESPOSTA: C
► ► Comentário: O etomidato é uma boa escolha por não levar à instabilidade hemodinâmica.
Todos os demais fármacos levam à hipotensão.
ATIVIDADE 7 // RESPOSTA: C
► ► Comentário: De acordo com a classificação da perda sanguínea elaborada do ATLS e
do PALS, perda sanguínea de classe III corresponde a uma perda de 30 a 40% da volemia e
se caracteriza por FC muito aumentada e PAS diminuída, pele cianótica e com enchimento
capilar nitidamente prolongado, presença de oligúria e estado mental ansioso/confuso.
ATIVIDADE 8 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: O objetivo principal da obtenção de acessos vasculares no atendimento
primário a crianças politraumatizadas é a obtenção de dois acessos vasculares curtos e
calibrosos em extremidades não lesadas em até 60 a 90 segundos após a chegada. Caso
o acesso venoso periférico seja difícil, deve-se realizar uma punção intraóssea. Como
alternativa, pode-se usar o acesso venoso central guiado por ultrassonografia. A menor taxa
de complicações no trauma pediátrico se dá com o acesso venoso femoral, o qual, contudo,
é contraindicado diante da suspeita de trauma abdominal ou pélvico importante. Nesses
casos, deve-se considerar o acesso subclávio ou a jugular interna.
ATIVIDADE 9 // RESPOSTA: D
► ► Comentário: A reposição hídrica e a transfusão de hemocomponentes têm como objetivos
otimizar a oxigenação adequada para órgãos vitais e prevenir o choque. Na reanimação
inicial, utilizam-se soluções cristaloides isotônicas aquecidas, como o RL e o SF 0,9%, e o
volume inicial deve ser administrado tão rapidamente quanto possível, infundindo-se 20mL/
kg. Pode-se repetir mais duas vezes essa etapa rápida, mas, ao iniciar a terceira infusão de
20mL/kg ou se as condições da criança piorarem, deve-se considerar a administração de
sangue total 20mL/kg ou concentrado de hemácia 10mL/kg. Se o choque persistir apesar
dessas medidas, deve-se avaliar a necessidade de intervenção cirúrgica para interromper
hemorragia interna.
59
ATIVIDADE 10 // RESPOSTA: B
► ► Comentário: A transfusão precoce de hemácias e plasma fresco é prioridade para manter
PROTIPED
a demanda de O2 arterial e restaurar a coagulação. Deve-se considerar a administração de
hemácias quando a Hb for menor do que 7g/dL. Em caso de hemorragia massiva com risco
de vida, devem-se transfundir hemácias do tipo O Rh negativo. Quanto ao plasma fresco, a
sua transfusão deve ser associada o mais precocemente possível à transfusão de hemácias 13
para compensar o défice de fatores de coagulação, e a dose recomendada inicialmente é de
10 a 15mL/kg. Recomenda-se a transfusão de plaquetas quando a contagem de plaquetas 1
estiver abaixo de 50.000/L. Nos casos de TCE, deve-se manter a contagem de hemácias
acima de 100.000/L. A dose recomendada para a transfusão é de 1U para cada 10kg.
ATIVIDADE 11 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: Deve-se iniciar o PTM em choque hemorrágico traumático com instabilidade
hemodinâmica persistente ou sangramento contínuo após 40mL/kg de infusão de solução
cristaloides no caso de pacientes com menos de 30kg e/ou 1.500mL/kg para pacientes
com mais de 30kg. Nesse ponto, após uma dose inicial de concentrado de hemácias, os
hemocomponentes devem ser administrados a pacientes pediátricos com mais de 30kg
em uma proporção de 1:1:1 unidade de concentrado de hemácias/plasma/plaquetas com
crioprecipitado administrado conforme níveis de fibrinogênio ou sangramento contínuo após
a administração de um ciclo de todos os três componentes sanguíneos. No caso de pacientes
com menos de 30kg, o protocolo baseia-se em peso (mL/kg) na proporção de 30:20:20.
ATIVIDADE 12 // RESPOSTA: D
► ► Comentário: O objetivo da DCR é evitar a tríade letal do trauma, e esse procedimento tem
como focos principais o manejo de fluidos e a homeostase. Ele consiste em controle imediato
da hemorragia, uso limitado de cristaloides, uso de hemoderivados aquecidos, protocolos
de transfusão massiva balanceada, hipotensão permissiva, uso de agentes hemostáticos e
cirurgias para controle rápido do sangramento. As suas três fases principais são procedimento
cirúrgico limitado para controle do sangramento e da contaminação e fechamento rápido
temporário, ressuscitação em UTI com reaquecimento, transfusões e suporte hemodinâmico
e reoperação com reparo definitivo.
ATIVIDADE 13 // RESPOSTA: B
► ► Comentário: Os pacientes com trauma de crânio com respiração inadequada ou escala
de Glasgow menor ou igual a 8 demandam intubação endotraqueal e ventilação controlada.
Caso haja evidência de herniação cerebral iminente, os pacientes devem receber períodos
curtos de hiperventilação, com PCO2 de 25 a 35mmHg até a reversão da dilatação pupilar
como medida temporária. Deve-se administrar solução hipertônica, que pode ser manitol,
de 0,5 a 1,0g/kg, ou SSH de NaCl 3%, na quantidade de 1 a 3mL/kg e um máximo de 250mL.
Não há estudos comparando a eficácia dessas duas soluções no cenário de hérnia, mas,
para fins de comparação osmolar, 0,5g/kg de manitol corresponde a aproximadamente
2,5mL/kg de NaCl 3%.
ATIVIDADE 14 // RESPOSTA: D
60
► ► Comentário: Ao realizar a exposição completa do paciente para definir todos possíveis
traumas, deve-se tomar cuidado com a hipotermia, uma vez que pacientes pediátricos são
Politrauma na criança
mais suscetíveis a desenvolvê-la, pois têm superfície corporal maior em relação ao peso
corporal, pele fina e subcutâneo com pouca gordura. Recomenda-se aumentar a temperatura
da sala, aquecer fluidos e sangue administrado e umidificar O2, cobrindo o paciente após a
realização do exame completo.
ATIVIDADE 15 // RESPOSTA: C
Comentário: A primeira alternativa é verdadeira. A segunda alternativa é falsa, pois se deve
realizar a TC crânio após a estabilização inicial para afastar lesões que demandem intervenção
cirúrgica. Entretanto, não se deve excluir a HIC por uma TC normal inicial (de 0 a 6 horas do
trauma) em pacientes pediátricos em coma. A terceira e a quarta alternativas são verdadeiras.
O limite para tratamento da HIC é PIC maior do que 20mmHg por 5 minutos. Trata-se a HIC
com soluções hiperosmolares e se recomenda bolo de SSH a 3%, o qual é efetivo e pode ser
feito a cada 10 a 20 minutos.
ATIVIDADE 16 // RESPOSTA: B
► ► Comentário: A FAST tem sensibilidade de 66% e especificidade de 95%. Uma FAST negativa
não exclui lesão intra-abdominal, já que 40% dos traumas abdominais em criança não se
associam à presença de líquido livre, ou estão associados a um volume não detectado pelo
exame. Esses pacientes devem realizar rigorosa avaliação clínica seriada e há indicação de
tomografia sempre que existir suspeita de trauma abdominal. A lesão do cinto de segurança
aumenta a chance de lesão intra-abdominal em 13 vezes. Diante da suspeita de lesão
pancreática, o exame de escolha é a tomografia abdominal com contraste.
ATIVIDADE 17 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: A sondagem vesical é importante para o controle do débito urinário, que deve
ser mantido entre 1 e 2mL/kg/h em bebês e em crianças. Os pacientes com suspeita de
lesão uretral não devem ser sondados até a completa avaliação da integridade uretral. Nos
pacientes politraumatizados, deve-se realizar sondagem orogástrica para descompressão
gástrica e para diminuir o risco de aspiração. A sonda nasogástrica é contraindicada nos
traumas de face e diante da suspeita da fratura de base de crânio.
ATIVIDADE 18 // RESPOSTA: C
► ► Comentário: As quedas de altura são a principal causa de TCE em menores de 13 anos. Já
em crianças maiores e em adolescentes, os acidentes automobilísticos são mais comuns. As
lesões relacionadas aos esportes e à violência urbana são mais comuns em crianças maiores
e em adolescentes. Na avaliação inicial, a escala de Glasgow pode auxiliar na classificação
do TCE, sendo que Glasgow entre 13 e 15 indica TCE leve, Glasgow entre 9 e 12 sugere TCE
moderado e Glasgow menor ou igual a 8 indica TCE grave. Geralmente, a causa primária
do TCE em pediatria é o trauma contuso. A despeito da radiação, que é uma preocupação
no paciente pediátrico, a TC de crânio é o exame de maior acurácia para diagnóstico em
emergência.
ATIVIDADE 19 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: A primeira alternativa é verdadeira. A segunda alternativa é falsa, pois a
coluna tem processo de maturação completo após os 8 anos de idade, quando passa a ter
padrão de lesão semelhante ao dos adultos. A terceira e a quarta alternativas são verdadeiras.
61
ATIVIDADE 20 // RESPOSTA: C
Comentário: As lesões devem ser diagnosticadas e documentadas na avaliação secundária.
PROTIPED
A palidez de um membro pode ser indicativo de lesão vascular e requer intervenção urgente,
sendo que os pulsos de todas as extremidades devem ser palpados. É necessário também
realizar a palpação dos compartimentos musculares, para identificar a presença de síndrome
compartimental, o que também indica intervenção de urgência. Nesses casos, deve-se
monitorar CPK para a identificação da rabdomiólise. Fraturas abertas ou expostas podem 13
ocorrer. Os principais objetivos do manejo são a prevenção da infecção e a estabilização da 1
fratura. Deve-se iniciar o antibiótico sistêmico até a terceira hora após o trauma.
ATIVIDADE 21 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: Em crianças, a traqueia é estreita e, por isso, pequenas alterações no
diâmetro das vias aéreas produzem desconforto respiratório. Crianças com menos de 10
anos têm menor capacidade residual funcional e maior demanda de O2; assim, a hipoxemia
se desenvolve mais rapidamente do que em adultos. Além disso, o mediastino não é fixado
e há maior chance de deslocamento visceral, que levam à diminuição de pré-carga e à
hipotensão. A parede torácica pediátrica é complacente e as costelas são flexíveis, o que
pode promover a transmissão direta de força para o parênquima pulmonar sem que ocorra
fratura de costelas e, como resultado, as contusões pulmonares ocorrem mais comumente.
As fraturas de costela, quando ocorrem, anunciam lesões internas mais significativas.
ATIVIDADE 22 // RESPOSTA: C
► ► Comentário: Realiza-se a avaliação inicial do paciente com a radiografia de tórax, que
apresenta alta sensibilidade para o trauma torácico clinicamente significativo e serve como
ferramenta de triagem adequada para limitar a TC do tórax. Radiografias de tórax demonstrando
ar no espaço pleural com ou sem deslocamento da traqueia e das estruturas mediastinais
indicam pneumotórax, sendo que no hemotórax ocorre derrame pleural. Apesar de a TC
ter maior sensibilidade para a identificação de pneumotórax e de hemotórax, a radiografia
torácica é melhor preditor de lesões e desfechos clinicamente significativos. Os principais
objetivos do manejo são descomprimir o tórax e restaurar a ventilação. O pneumotórax
hipertensivo pode ser fatal, e a descompressão e a inserção de dreno torácico devem ser
imediatas já no atendimento primário, sem a necessidade de radiografia para confirmação
diagnóstica se houver alta suspeição clínica. Nos casos de hemotórax, deve-se evacuar o
sangue, o que pode causar empiema ou levar à cicatrização fibrosa. A colocação do dreno
torácico descomprime o pulmão e serve para monitorar o sangramento. O pneumotórax
aberto requer um curativo oclusivo de três lados para interromper o acúmulo de ar através da
ferida e a colocação imediata do dreno torácico para descomprimir o espaço pleural, sendo
que o dreno de tórax não deve ser colocado através da ferida existente.
ATIVIDADE 23 // RESPOSTA: B
62
► ► Comentário: As contusões pulmonares geralmente ocorrem sem sinais externos de
lesão da parede torácica ou fraturas de costelas. Lesões de alta energia nos espaços
Politrauma na criança
ATIVIDADE 24 // RESPOSTA: D
► ► Comentário: Lesões cardíacas contusas são raras porque a maioria dos pacientes com
essa condição morre antes da chegada ao hospital. Recomenda-se a realização de ECG em
todos os pacientes com suspeita de lesão cardíaca. A dosagem de troponina I é indicada
em adultos, e a combinação de ECG e troponina I normais exclui lesão cardíaca contusa
nessa população. Já em pediatria não há uma recomendação específica, mas um trabalho
retrospectivo demonstrou associação do aumento da troponina com a mortalidade e a
severidade do trauma. Os objetivos do manejo são a analgesia adequada, o monitoramento
da arritmia e o suporte inotrópico, se necessário. Os pacientes hemodinamicamente instáveis
devem ser submetidos a ecocardiografia para identificar rupturas estruturais no coração.
ATIVIDADE 25 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: Os sinais e sintomas sugestivos de trauma abdominal são taquipneia por
movimentação diafragmática prejudicada, dor à palpação abdominal, equimoses e sinais de
choque. O vômito pode ser um sinal tardio e estar associado a hematoma de duodeno e trauma
pancreático. O sinal do cinto de segurança aumenta a chance de lesão intra-abdominal em 13
vezes. Além dos sinais clínicos e associados a eles, as alterações laboratoriais podem levar à
alta suspeição clínica. A TC é um padrão de referência para avaliação da lesão intra-abdominal,
mas, em crianças, TCs abdominais associam-se a um risco atribuível de câncer.
ATIVIDADE 26 // RESPOSTA: B
► ► Comentário: Uma lesão hepática de grau II caracteriza-se por hematoma subcapsular em de
10 a 50% da área, hematoma intraparenquimatoso com menos de 10cm de diâmetro, laceração
capsular de 1 a 3cm de profundidade e menor do que 10cm de extensão. Classifica-se como
de grau IV uma lesão intraparenquimatosa envolvendo de 25 a 50% do lobo hepático ou de
um a três segmentos Couinaud em um único lobo, ao passo que hematoma subcapsular
menor do que 10% e laceração capsular menor do que 1cm de profundidade indicam uma
lesão de grau I, e hematoma subcapsular maior do que 50%, hematoma subcapsular roto
ou com sangramento ativo, hematoma intraparenquimatoso maior do que10cm e laceração
maior do que 3cm de profundidade indicam uma lesão de grau III.
ATIVIDADE 27 // RESPOSTA: D
63
► ► Comentário: Pode-se classificar como grau IV uma lesão esplênica caracterizada por
laceração envolvendo vasos segmentares ou hilo, produzindo maior desvascularização, em
PROTIPED
mais de 25% do baço. Uma lesão de grau V caracteriza-se por fratura completa do baço e lesão
do hilo vascular com desvascularização. Uma lesão de grau I caracteriza-se por hematoma
subcapsular menor do que 10% e laceração capsular com menos de 1cm de profundidade. A
lesão grau II caracteriza-se por hematoma subcapsular em de 10 a 50% da área, hematoma
intraparenquimatoso menor do que 5cm de diâmetro e laceração capsular de 1 a 3cm de 13
profundidade, sem envolver vasos trabeculares. 1
ATIVIDADE 28 // RESPOSTA: B
► ► Comentário: O trauma é sensível ao tempo, por isso a terapia precoce direcionada por
metas e o encaminhamento e o transporte para o nível mais apropriado de assistência são
críticos para a sobrevivência. Deve-se fazer a triagem ideal por escore simples e fácil de
calcular, mas sensível o suficiente para incluir todos os pacientes que demandem um nível
mais alto de serviços de trauma. O ETP é projetado para a triagem da criança com lesão
traumática e correlaciona-se bem com a gravidade da lesão, a mortalidade, a utilização de
recursos e a necessidade de transporte para um centro de trauma pediátrico. Os pacientes
com ETP menor ou igual a 8 se beneficiam de tratamento em centro especializado.
ATIVIDADE 29 // RESPOSTA: A
► ► Comentário: Deve-se atender todo paciente politraumatizado de forma sistematizada.
Nos pacientes politraumatizados com esforço respiratório inadequado, com permeabilidade
da via aérea comprometida ou em coma (Glasgow menor ou igual a 8), indica-se intubação
endotraqueal, mantendo-se a coluna cervical imobilizada. Diante da suspeita de pneumotórax
hipertensivo, a descompressão deve ser imediata com agulha no segundo espaço intercostal
na linha hemiclavicular no lado afetado, seguida de drenagem definitiva. Nos pacientes
hemodinamicamente estáveis, indica-se a realização de TC abdominal com contraste
quando houver suspeita clínica de trauma abdominal e/ou FAST positiva. Deve-se estabilizar
o paciente antes de encaminhá-lo para a realização de TC, garantindo uma via aérea pela
intubação, melhorando a ventilação com descompressão do tórax e a reposição volumétrica
até a melhora da taquicardia.
64
> >REFERÊNCIAS
Politrauma na criança
1. American College of Surgeons. ATLS: advanced 11. Tran A, Campbell BT. The art and science of
trauma life support. 10th ed. Chicago: ACS; 2018. pediatric damage control. Semin Pediatr Surg.
2017 Feb;26(1):21–6. https://doi.org/10.1053/j.
2. Silva APP, Barcellos LG. Choque hemorrágico no sempedsurg.2017.01.005
trauma pediátrico. In: Associação de Medicina
Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de 12. Giannoudi M, Harwood P. Damage control resusci-
Pediatria; Piva JP, Carvalho WB, organizadores. tation: lessons learned. Eur J Trauma Emerg Surg.
PROTIPED Programa de Atualização em Terapia 2016 Jun;42(3):273–82. https://doi.org/10.1007/
Intensiva Pediátrica: Ciclo 6. Porto Alegre: Art- s00068-015-0628-3
med Panamericana; 2014. p 47–77. (Sistema de
Educação Continuada a Distância, v. 1) 13. Kochanek PM, Tasker RC, Bell MJ, Adelson PD,
Carney N, Vavilala MS, et al. Management of
3. Gilley M, Beno S. Damage control resuscitation pediatric severe traumatic brain injury: 2019 con-
in pediatric trauma. Curr Opin Pediatr. 2018 sensus and guidelines-based algorithm for first
Jun;30(3):338–43. https://doi.org/10.1097/ and second tier therapies. Pediatr Crit Care Med.
MOP.0000000000000617 2019 Mar;20(3):269–79. https://doi.org/10.1097/
PCC.0000000000001737
4. King DR. Initial care of the severely injured patient.
N Engl J Med. 2019 Feb;380(8):763–70. https:// 14. Springer E, Frazier SB, Arnold DH, Vukovic AA.
doi.org/10.1056/NEJMra1609326 External validation of a clinical prediction rule for
very low risk pediatric blunt abdominal trauma.
5. Spahn DR, Bouillon B, Cerny V, Duranteau J, Am J Emerg Med. 2019 Sep;37(9):1643–8. https://
Filipescu D, Hunt BJ, et al. The european gui- doi.org/10.1016/j.ajem.2018.11.031
deline on management of major bleeding and
coagulopathy following trauma: fifth edition. Crit 15. Arbra CA, Vogel AM, Plumblee L, Zhang J, Mauldin
Care. 2019 Mar;23(1):98. https://doi.org/10.1186/ PD, Dassinger MS, et al. External validation of
s13054-019-2347-3 a five-variable clinical prediction rule for identi-
fying children at very low risk for intra-abdominal
6. American Heart Association. PALS: pediatric injury after blunt abdominal trauma. J Trauma
advanced life support. Dalas: AHA; 2016. Acute Care Surg. 2018 Jul;85(1):71–7. https://
doi.org/10.1097/TA.0000000000001933
7. Misir A, Mehrotra S. Fluid and medication consi-
derations in the traumatized patient. Curr Pediatr 16. Arbuthnot MK, Mooney DP, Glenn IC. Head and
Rev. 2018 July;14(1):9–27. https://doi.org/10.21 cervical spine evaluation for the pediatric surge-
74/1573396313666170815101504 on. Surg Clin North Am. 2017 Feb;97(1):35–58.
https://doi.org/10.1016/j.suc.2016.08.003
8. Reynolds SL. Pediatric thoracic trauma: re-
cognition and management. Emerg Med Clin 17. Miele V, Di Giampietro I, Ianniello S, Pinto F, Trinci
North Am. 2018 May;36(2):473–83. https://doi. M. Diagnostic imaging in pediatric polytrauma ma-
org/10.1016/j.emc.2017.12.013 nagement. Radiol Med. 2015 Jan;120(1):33–49.
https://doi.org/10.1007/s11547-014-0469-x
9. Kinslow K, McKenney M, Boneva D, Elkbuli A. Mas-
sive transfusion protocols in paediatric trauma 18. Loubani E, Bartley D, Forward K. Orthopedic
population: a systematic review. Transfus Med. injuries in pediatric trauma. Curr Pediatr Rev.
2020 Oct;30(5):333–42. https://doi.org/10.1111/ 2018;14(1):52–8. https://doi.org/10.2174/1573
tme.12701 396313666170911140044
10. Drucker NA, Wang SK, Newton C. Pediatric trau- 19. Astrand R, Rosenlund C, Undén J; Scandina-
ma-related coagulopathy: balanced resuscitation, vian Neurotrauma Committee. Scandinavian
goal-directed therapy and viscoelastic assays. guidelines for initial management of minor and
Semin Pediatr Surg. 2019 Feb;28(1):61–6. https:// moderate head trauma in children. BMC Med.
doi.org/10.1053/j.sempedsurg.2019.01.011 2016 Feb;14:33. https://doi.org/10.1186/s12916-
016-0574-x
65
20. Homme JJL. Pediatric minor head injury 2.0:
moving from injury exclusion to risk stratification. //COMO CITAR ESTE DOCUMENTO
PROTIPED
Emerg Med Clin North Am. 2018 May;36(2):287–
304. https://doi.org/10.1016/j.emc.2017.12.015 Barcellos LG, Silva APP. Politrauma na
criança. In: Associação de Medicina Intensiva
21. Leonard JR, Jaffe DM, Kuppermann N, Olsen CS,
Brasileira, Sociedade Brasileira de Pediatria;
13
Leonard JC; Pediatric Emergency Care Applied Re-
Piva JP, Carvalho WB, organizadores. PROTIPED
search Network. Cervical spine injury patterns in
children. Pediatrics. 2014 May;133(5):e1179–88. Programa de Atualização em Terapia Intensiva
Pediátrica: Ciclo 13. Porto Alegre: Artmed 1
https://doi.org/10.1542/peds.2013-3505
Panamericana; 2021. p. 9–56. (Sistema de
22. Braun CK, Schaffer A, Weber B, Huber-Lang Educação Continuada a Distância, v. 1). https://
M, Kalbitz M, Preßmar J. The prognostic value doi.org/10.5935/978-65-5848-322-9.C0003
of troponin in pediatric polytrauma. Front Pe-
diatr. 2019 Nov;7:477. https://doi.org/10.3389/
fped.2019.00477