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Aprendizagens em desenvolvimento nos capítulos desta Unidade

Perceber
Estabelecer como as formas
comparações Compreender de discurso relatado
entre o Romantismo e como a descrição intervêm na construção de
o Realismo/Naturalismo, pode contribuir para efeitos de objetividade e de
percebendo as peculiaridades a criação do ritmo em subjetividade na descrição,
de cada período literário, narrativas longas em gêneros narrativos
especialmente em como o romance. como o romance.
relação à literatura
brasileira.

Retomar
Reconhecer Analisar as o processo
temas semelhantes diferenças de de construção do
em obras literárias sentido entre orações romance, identificando
de períodos diversos, subordinadas adjetivas suas principais etapas na
procurando estabelecer restritivas e explicativas, finalização do projeto
contrapontos na e perceber como elas “... como um
abordagem que seus atuam no processo de romance”.
autores fazem desses caracterização.
temas.
Identificar
Reconhecer períodos
Perceber
características Reconhecer compostos e
a importância
próprias da poesia a singularidade distingui-los de
das expressões
parnasiana na obra da obra de Machado períodos simples,
fáticas nas situações
de Olavo Bilac. de Assis no conjunto percebendo suas
dialogais (orais ou que
da produção literária peculiaridades.
procuram mimetizar
o oral). brasileira do Realismo /
Naturalismo.

PASSO 3

Definição de estratégia para aprimorar seu aprendizado


Agora que já sabe o que precisa rever, com a ajuda do professor, defina o que você poderia fazer para
melhorar e consolidar suas aprendizagens com base nos itens relacionados.

PASSO 4

Socialização de suas respostas com os colegas


Converse com os colegas sobre a autoavaliação. Vocês vão descobrir que aprendizagens em comum já
conquistaram, o que precisam retomar, e poderão compartilhar estratégias que pretendem pôr em prática
para retomar os conteúdos necessários.

199
ADOLESCÊNCIA
É o começo da
identificação com o
outro, chave de bons
relacionamentos e da
vida em sociedade de
uma forma geral.

Suzana Herculano-Houzel
Monkey Business Images/Shutterstock

Grupo de adolescentes.

200
As atividades e os estudos propostos nos capítulos desta
UNIDADE 3 Unidade foram elaborados para ajudar você a:

• Analisar determinados aspectos da organiza-


CAPÍTULO ção de textos em que predominam a exposi-

5 ção e a explicação.
• Reconhecer características da literatura sim-
bolista produzida nas últimas décadas do sé-
ra
ito

culo XIX.
ed
da
vo
qui

• Perceber a especificidade da poesia de Augusto


rt/Ar

dos Anjos no panorama da produção literária da


Andrea Ebe

segunda metade do século XIX no Brasil.


• Analisar algumas das características discursi-
vas e textuais do texto de vulgarização científi-
ca, percebendo como pode mobilizá-las para
a compreensão de textos desse gênero.
• Identificar, de forma exploratória, algumas
das características do gênero entrevista oral,
para compreender sua estrutura e seu funcio-
namento.

• Reconhecer algumas características da re- CAPÍTULO

6
portagem e sua relação (semelhanças e dife-
renças) com a notícia.
• Analisar a estrutura da entrevista oral, bus-
a

cando compreender sua organização textual.


r
ito
a ed
ivo d

• Identificar características da produção lite-


Pierro/Arqu

rária pré-modernista por meio da análise de


extratos de Os sert›es, de Euclides da Cunha.
Mauricio

• Identificar formas de expressão de causa e


consequência em textos expositivo-explica-
tivos, procurando reconhecer sua função na
construção de relações de sentido.
• Conhecer outras formas de que a língua
dispõe para exprimir causa e consequência.

Você verá que os gêneros textuais enfocados nos capítulos caracterizam-se pelo predomínio da expo-
sição. No Capítulo 6, em especial, você estudará um dos principais gêneros do jornalismo: a reportagem.
Para concluir a Unidade, sugerimos que você e seus colegas reúnam as produções de texto para compor
um dossiê sobre a adolescência, esse período da vida de intensas transformações e descobertas que você
está vivenciando.
Bom trabalho!

201
Para
COMEÇO de
conversa

1 Você provavelmente já assistiu a filmes ou leu livros que tratam de personagens adolescentes. Cite alguns
títulos e discuta com a turma como essas personagens costumam ser retratadas nessas histórias.

2 Observe estas imagens de pôsteres de filmes e seus títulos e levante hipóteses quanto ao assunto de
cada um deles.
Reprodução/
Summit Entertainment

me
ão/Rio Fil
Bros.
Reprodução/Warner

Reproduç

a) Em linhas gerais, esses filmes tratam de conflitos na adolescência. Quais poderiam ser esses conflitos?
b) Converse com os colegas e façam um levantamento a respeito dos conflitos mais comuns na vida
de adolescentes.
c) Que outros assuntos e preocupações costumam ser característicos nessa etapa da vida?

3 Em sua opinião, ter contato com obras que falam sobre a adolescência pode ajudar os jovens a supe-
rarem seus conflitos? Por quê? Discuta com a turma.

202
4 Agora, leia atentamente o texto a seguir, que trata

John Kobal Foundation/Hulton Archive/Getty Images


da adolescência, e depois responda às questões
propostas.

Adolescência
Adolescentes eram, no máximo,
miniaturas de gente
Em 1955, o mundo conheceu Jim Stark, um ra-
paz boa-pinta de topete, jaqueta vermelha e olhar
penetrante que arrumava encrenca por onde pas-
sava. Interpretado por James Dean, o protagonista
de Juventude Transviada (rebelde sem causa, na
tradução literal do título em inglês) tornou-se o
símbolo não apenas de uma época ou de uma ge-
ração, mas de uma fase da vida que não havia sido
devidamente retratada até então: a adolescência.
Mas, afinal, o que é ser adolescente? Etimologi-
camente, adolescência vem do verbo “adolescere”,
que significa brotar, fazer-se grande. É preciso di-
ferenciá-la da puberdade, apesar de ambas acon-
tecerem simultaneamente. Puberdade designa
somente as transformações corpóreas pelas quais
passam meninos e meninas prestes a se transfor-
marem em adultos. Essas mudanças físicas nunca James Dean (1931-1955), ator norte-americano
passaram despercebidas na história da humani- conhecido por sua atuação em filmes dos anos 1950,
é considerado por muitos um símbolo da juventude.
dade, e Platão já escrevia sobre os “novos jovens”.
Porém nem sempre a sociedade considerou de forma diferente seus membros entre 13 e 19 anos. Na
Idade Média não havia nem mesmo o conceito de infância, e as crianças eram consideradas como que
adultos em miniaturas. Foi a instituição da escola que separou a infância como fase distinta. Só mais
tarde, na sociedade contemporânea, o adolescente passou a ser considerado como tal, principalmente
graças à psicologia, que associou as mudanças corpóreas a rebeldias, insatisfações e conflito de gerações.
Superinteressante. Adolescência. Disponível em: <super.abril.com.br/historia/adolescencia>. Acesso em: out. 2015.

a) O texto menciona algumas características atribuídas aos adolescentes de uns tempos para cá. Você
concorda com o que é dito?
b) É provável que você esteja na faixa etária mencionada — entre 13 e 19 anos —, o que significa que
você ainda está nessa fase de transformações. Que tipo de mudanças você tem percebido mais
intensamente acontecerem com você e com outras pessoas de sua idade?
c) A rebeldia é uma característica frequentemente lembrada pelos especialistas quando se fala em
adolescência.
●● Você se considera rebelde? Por quê?
●● De onde viria, em sua opinião, essa impressão de que a rebeldia é uma característica da adolescência?
d) Depois de ler o texto e observar as imagens destas duas páginas, discuta com seus colegas: para
você, o que é ser adolescente hoje?

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 203


Andrea Ebertt/Arquivo da editora
CAPÍTULO

5
Texto de
vulgarização
científica
PRIMEIROS PASSOS

1 “Mimado, manhoso, rebelde.” Recentemente, você foi alvo de algum comen-


tário desse tipo por parte de seus pais ou responsáveis? Pode contar o motivo
e como você se sentiu?

2 Você se lembra de alguma coisa que tenha desejado muito fazer na vida e
que, de uma hora para outra, pareceu chata, monótona, cansativa?

3 Na resposta à questão anterior, você é capaz de explicar o motivo que levou


você à mudança de opinião?

4 Seus pais ou responsáveis citam a palavra “juízo” quando conversam com


você? Em caso positivo, em que situações principalmente?

Phoenixns/Shutterstock
ages
s/Getty Im
Paul Burn

Adolescentes demonstrando tédio.

204
O texto a seguir procura explicar como cientistas estudiosos da adolescência
entendem o que ocorre com o cérebro nesse período da vida. Leia-o atentamente. NÃO ESCREVA
NO LIVRO

TEXTO 1

O cérebro em nova Somente no final da adolescência é que amadu-


recem as regiões do córtex que permitem um com-
transformação portamento sensato e responsável, graças à capaci-
Suzana Herculano-Houzel dade de raciocínio consequente e de utilização das 40
emoções na hora de tomar decisões. São as regiões
Se você ainda pensa que a adolescência é aquela
do córtex órbito-frontal, responsáveis inclusive pelo
fase indesejável da vida em que o comportamento
arrependimento e sua antecipação. Só então o ado-
desanda porque o cérebro, pronto após as modifi- lescente passa a considerar sozinho as consequên-
cações da infância, é inundado por hormônios, pen- cias dos próprios atos ANTES de agir. É nessa época 45
5 se de novo. Descobertas recentes da neurociência também, no final da adolescência, que o chamado
mostram que se trata, na verdade, de um período Circuito Social do cérebro amadurece e permite que o
de grande reorganização cerebral, em que os hor- adolescente se torne uma pessoa sociável, empática,
mônios são responsáveis apenas por uma pequena solidária, capaz de se colocar no lugar dos outros e
parte do comportamento — o interesse sexual, e usar essa informação na hora de agir. 50
10 ainda assim somente porque mudanças no cérebro O autoconhecimento que a neurociência hoje
o deixam sensível aos tais hormônios. traz para o adolescente pode ajudá-lo a conhecer e
Tudo começa com alterações no hipotálamo, que aceitar seus limites. É importante saber que é nor-
disparam o estirão de crescimento e mais tarde pro- mal — e desejável — precisar de estímulos novos,
vocam o amadurecimento sexual tanto do cérebro e procurá-los na literatura, no cinema, na música, 55
15 quanto do corpo, por meio da liberação dos hormô- no esporte, nas amizades; que usar drogas na ado-
nios sexuais. No início da adolescência, o sistema lescência é uma péssima ideia porque o sistema
de recompensa, que nos faz sentir prazer e querer sobre o qual elas agem está em uma fase crítica
mais do que é bom, perde mais de um terço da sua de sua formação; que a impulsividade é natural e
capacidade de ativação. Resultado: o tédio, quando passageira, e que ainda NÃO somos capazes de 60
20 nada do que antes era bom nos satisfaz. Apesar de encontrar sozinhos todos os fatores, ou ao menos
ser ruim a curto prazo, o tédio tem um papel im- os mais importantes, para pesar na hora de tomar
portantíssimo: ele nos faz abandonar os brinquedos decisões — porque as partes necessárias do cérebro
da infância e começar a procurar novas atividades. ainda não estão prontas.
Nessa fase surge também o gosto por correr riscos. E é importante saber que, mesmo assim, é preciso 65
25 É aqui, aliás, que as drogas costumam entrar na vida que o adolescente tome suas próprias decisões, por-
dos jovens: como elas ativam diretamente o sistema que é só assim que se aprende — e os pais e outros
de recompensa, oferecem o prazer instantâneo que o adultos confiáveis são ótimos consultores nessas
cérebro tanto procura. O problema é que se o siste- horas, porque seu cérebro já aprendeu a enxergar
ma, ainda em formação, continuar a se desenvolver todas as consequências possíveis dos seus atos. A 70
30 com elas, será muito difícil largar o vício. adolescência é uma fase de aprendizado intenso, em
A seguir, entre 12 e 15 anos, o córtex pré-frontal que — ainda bem — o jovem tem direito a vários
passa a exercer com crescente autonomia suas fun- erros no caminho.
ções adultas: permitir o raciocínio abstrato, aguçar a HERCULANO-HOUZEL, Suzana. O cérebro em nova transformação.
Superinteressante, 23 maio 2015. Disponível em:
memória e a concentração e controlar os impulsos — <http://super.abril.com.br/comportamento/o-cerebro-em-nova-
35 por exemplo, fazendo o adolescente segurar o ímpeto transformacao>. Acesso em: jan. 2016.

de xingar a mãe ou cometer outra besteira impulsiva.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 205


Suzana Herculano-Houzel é profes-
sora da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, onde dirige o Laborató-
rio de Neuroanatomia Comparada.
Além das atividades de pesquisa
stado

que desenvolve, escreve artigos e


ncia E
/A gê

ensaios para divulgação de ciências.


otta M
io b

Para entender o texto


1 Segundo a autora, qual é a opinião mais generalizada sobre o que ocorre
durante a adolescência? Essa opinião coincide com o que a ciência tem des-
coberto a respeito dessa época da vida? Responda no caderno.

2 Uma das principais características do adolescente, o tédio, teria qual função


nessa fase da vida, de acordo com o texto? Responda no caderno.

3 Você concorda com a ideia do texto sobre essa sensação de tédio? Responda
no caderno.

4 Da linha 12 à linha 50, explicam-se as alterações pelas quais passa o cérebro


do adolescente. Vamos fazer uma síntese ou resumo dessa explicação. Para
isso, responda no caderno, com suas palavras, a respeito desse trecho.
a) O início da transformação.
b) As modificações no sistema de recompensa.
c) Autonomia do córtex pré-frontal.
d) Amadurecimento total do córtex.

5 De acordo com o texto, o que essas descobertas podem trazer para o ado-
lescente?

6 Você, que é estudante do Ensino Médio e responde às questões desta seção,


provavelmente é um adolescente. Converse com seus colegas, com a ajuda
do professor, sobre as seguintes questões:
a) Você já passou ou ainda está passando por essa fase do tédio, conforme
explicado no texto?
b) O que desperta sua atenção e o leva a se interessar por alguma atividade?
c) Você concorda ou não com algumas das ideias apresentadas, especialmen-
te as que procuram explicar as transformações da adolescência? Explique.
d) Você acha “um tédio” conversar sobre essas questões? Por quê?
e) Por fim, com a ajuda do professor, registre suas conclusões no caderno.

206 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


As palavras no contexto
1 Reescreva no caderno os trechos destacados de cada período substituindo-os
por palavras ou expressões equivalentes.

Se você ainda pensa que a adolescência é aquela fase indesejável da vida


em que o comportamento desanda porque o cérebro, pronto após as modi-
ficações da infância, é inundado por hormônios, pense de novo. (linhas 1-5)
Tudo começa com alterações no hipotálamo, que disparam o estirão de
crescimento [...] (linhas 12-13)
É aqui, aliás, que as drogas costumam entrar na vida dos jovens [...]
(linhas 25-26)

2 Algumas expressões do texto remetem a conceitos da biologia e das neuro-


ciências. Por exemplo:

[...] os hormônios são responsáveis apenas por uma pequena parte do


comportamento. (linhas 7-9)
A seguir, entre 12 e 15 anos, o córtex pré-frontal passa a exercer com
crescente autonomia suas funções adultas [...] (linhas 31-33)
a) No caderno, tente explicar o sentido dessas expressões.
b) Localize outros exemplos de expressões relacionadas à biologia ou às neu-
rociências e, no caderno, tente explicá-las também.
c) O que precisou fazer para conseguir formular essas explicações?
d) Algumas dessas palavras ou expressões são explicadas no próprio texto.
Em sua opinião, por quê? Responda no caderno.
e) É preciso conhecer profundamente o sentido dessas palavras ou expres-
sões para conseguir compreender o sentido global do texto? Em sua opi-
nião, o que pode explicar essa característica desse texto?

Marine’s/Shutterstock
Linguagem e texto
1 O texto 1, O cérebro em nova transformação, foi extraído do site de uma revista
de divulgação de ideias científicas ao grande público. Você conhece essa revista?

2 Muitos dos temas abordados nos textos veiculados nesse site são também
publicados na versão impressa da revista. Quem seriam os leitores supostos
tanto do site quanto da revista? Escreva sua resposta no caderno.
Pilha de revistas.
3 É possível afirmar que o texto sobre a adolescência traz informações de ca-
ráter científico. Por quê? Justifique sua resposta no caderno com base em
elementos do próprio texto.

4 Localize no texto sobre a adolescência palavras ou expressões que projetam o


enunciador e o enunciatário. Então, responda no caderno: nesse texto, com que
finalidade essas palavras ou expressões são empregadas, de maneira geral?

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 207


5 Alguns recursos de linguagem empregados no texto sobre a adolescência
são bem semelhantes aos que se empregam em textos literários, mesmo que
o assunto seja de natureza científica. Qual desses recursos é o mais evidente
para você? Escreva sua resposta no caderno.

6 Responda no caderno: de que forma o texto sobre a adolescência dialoga


com os conhecimentos produzidos pelas ciências?

Depois de discutir as respostas a essas questões com os colegas e o professor,


acompanhe as explicações a seguir para compreender melhor o que é um texto
de vulgarização científica.

O texto de vulgariza•‹o cient’fica


O texto de autoria da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, embora trate
de assuntos de natureza científica, não tem como leitor suposto um cientista,
mas um leitor comum, não especializado. Ele tem as seguintes características:
1. Procura empregar o mínimo possível termos ou o jargão científico.
2. Organiza-se como texto jornalístico, como uma reportagem (você estudará
a reportagem no próximo capítulo).
3. Recorre à linguagem figurada e a expressões da linguagem cotidiana (como
as que você assinalou na questão 1, da seção “As palavras no contexto”) para ten-
tar explicar da forma mais simples possível os conceitos científicos. Além disso,
quando empregados no texto, termos ou expressões técnicos como as que vimos
na questão 2 da seção “As palavras no contexto” podem ser compreendidos por
inferência ou explicações fornecidas no próprio texto. E essas expressões não
comprometem a compreensão global das informações veiculadas.
Quando se escreve sobre um assunto científico, procurando adequar a lingua-
gem a um leitor que não tenha conhecimentos científicos (ou seja, tornando esse
conhecimento acessível a muitas pessoas, tornando-o popular), produz-se um texto
de vulgarização científica (TVC). Esses textos costumam também receber outras
designações, como textos de divulgação científica ou textos de popularização
de ciências.
A seguir, leia outro exemplo de texto de vulgarização científica.

TEXTO 2

Animais extintos: -morcego-de-frutas-mariana desapareceu da Terra


devido à intervenção humana e aos rigores da na-
miniatura de morcego tureza. Os homens atacaram com armas de fogo e 5

O pequeno morcego comedor de frutas já era uma destruíram o habitat do morcego, enquanto a na-
tureza mandou impiedosos furacões. Mesmo no
espécie rara na ilha de Guam. Os caçadores trataram
auge da sobrevivência, o pequeno-mariana sempre
de colocá-lo na lista dos animais extintos
foi um animal raro. Prova disso é que os cientistas
Leandro Steiw
coletaram apenas três espécimes desde que os colo- 10
Nativo da ilha de Guam, um dos territórios dos nizadores espanhóis, japoneses e americanos pisa-
Estados Unidos no oceano Pacífico, o pequeno- ram na ilha do povo chamorro, a partir do século 16.

208 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


O último exemplar conhecido data de 1968 — com o advento das armas de fogo, que tornaram a
e foi abatido por caçadores. Desde então, outros caça bem mais fácil.
15 pequenos-marianas foram procurados na região e Aquela última fêmea vista por olhos humanos,
na vizinha ilha Mariana do Norte, mas jamais foram morta pelos caçadores em 1968, estava acompa-
encontrados. Só restou o parente mais próximo, nhada de um morcego jovem. Era provavelmente 45
o morcego-de-frutas-mariana (Pteropus marianus um filhote, que conseguiu escapar dos tiros. Não
marianus), maior em comprimento e em enverga- houve tempo de observar se a mãe estava carre-
20 dura, que ainda sobrevoa as matas de Guam. gando o morceguinho ou se os dois voavam juntos.
O pequeno morcego media cerca de 15 centíme- Segundo os especialistas do Instituto de Admi-
tros da cabeça ao rabo e de 65 a 71 centímetros de nistração da Conservação (um centro de estudos 50
uma asa à outra. A cor do abdome e das asas variava ligado à Faculdade de Tecnologia da Virgínia, nos
do marrom ao marrom-escuro, com alguns pelos Estados Unidos), isso pode indicar que os cuidados
25 brancos, enquanto o pescoço era coberto por um maternos duravam vários meses depois do nas-
manto marrom ou dourado. Boa parte dos hábitos cimento. A fim de evitar o mesmo triste destino
do morceguinho é conhecida pela observação do para os primos sobreviventes, o governo de Guam 55
primo mariana. Quando não estava dormindo du- limitou a caça dos marianas e criou quatro reser-
rante o dia, ele encontrava tempo para interagir com vas selvagens, totalizando 1 700 hectares. Mesmo
30 outros morcegos, em busca de reprodução, ou para assim, a espécie continua ameaçada.
defender território, pois o macho podia ter várias
STEIW, Leandro. Animais extintos: miniatura de morcego.
parceiras. Depois do pôr do sol, voava em grupos por Superinteressante. São Paulo, nov. 2004. Disponível em: <super.abril.com.
br/ecologia/animais-extintos-miniatura-morcego-445806.shtml>.
várias horas para se alimentar de frutas e flores, como Acesso em: dez. 2015.
mamões, figos e cocos. Por causa de suas preferên-
35 cias alimentares, o pequeno-mariana tinha um papel
relevante na polinização de plantas e distribuição
Pequeno-morcego-de-frutas-mariana
de sementes. Ele também era importante no cardá- Nome científico: Pteropus tokudae
pio dos chamorros, que consideravam a espécie um Ano da extinção: 1968
prato delicioso, o que pode ter acelerado a extinção Habitat: ilha de Guam
40 desses mamíferos voadores. A situação se agravou
Reprodução/<super.abril.com.br/>
Michael Fitzsimmons/Alamy/Latinstock

Página do site da
Ilha de Guam, território dos Estados Unidos, revista em que foi
em 2014. Essa ilha localiza-se no noroeste do publicado o texto
oceano Pacífico. que você leu.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 209


Para entender o texto
1 De quantos tipos de morcego trata o texto? Quais? Cite-os no caderno.

2 No texto apontam-se dois fatos e formula-se uma hipótese para explicar o


desaparecimento do pequeno-mariana. Identifique em seu caderno:
a) os fatos;
b) a hipótese.
c) Por que se trata de uma hipótese?

3 O texto explica por que é preocupante o desaparecimento do pequeno-ma-


riana. Copie em seu caderno o trecho em que se fornece essa explicação.

4 O autor do texto fala em “impiedosos furacões”. O adjetivo destacado per-


mite concluir a opinião desse autor sobre o destino dos pequenos-mariana.
Explique no caderno.

5 Releia os trechos abaixo:

I.
Mauricio Pierro/Arquivo da editora

[...] Os homens atacaram com armas de fogo e destruíram o habitat do mor-


cego, enquanto a natureza mandou impiedosos furacões. [...] (linhas 5-7)
II.
[...] Mesmo no auge da sobrevivência, o pequeno-mariana sempre foi um
animal raro. [...] (linhas 7-9)
Se quiséssemos transformar os dois períodos num só, que tipo de conjunção
poderia ser utilizado? Responda no caderno.

6 O assunto fundamental do texto é a extinção de uma espécie animal, mas a


matéria também traz várias informações sobre o local onde aconteceu o fato.
Em uma folha avulsa, escreva um texto curto, a partir das informações da maté-
ria, descrevendo esse local, sem mencionar a extinção dos pequenos-marianas.

As palavras no contexto
1 No trecho “[...] destruíram o habitat do morcego [...]”(linha 6), a palavra des-
tacada é um termo latino ainda em uso na língua portuguesa. Pesquise e
escreva no caderno outras palavras e expressões latinas ainda em uso em
português e o sentido de cada uma delas.

2 No segundo parágrafo descrevem-se o pequeno morcego e seus costumes. Tra-


ta-se de uma descrição objetiva ou subjetiva? Justifique sua resposta no caderno.
,

3 Logo abaixo do título do texto o morcego é chamado de “pequeno morce-


go”. Na linha 27, de “morceguinho”. Em sua opinião, há diferença de sentido
entre as duas expressões? Justifique no caderno.

210 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


“Só restou o parente mais próximo [...], que

Worldwide Picture Library/Alamy/Latinstock


4
ainda sobrevoa as matas de Guam” (linhas
17-20). Qual a diferença entre voar e sobre-
voar? Em seu caderno, dê exemplos de mais
três pares de palavras em que o termo deri-
vado apresenta o prefixo sobre.

Morcego-vampiro
(Desmodus rotundus),
bastante comum em
Caxambu (MG).

Di‡logo com a literatura

Simbolismo no Brasil
Apesar de vários antecedentes que prepararam o surgimento do Simbolismo
entre nós, considera-se o ano de 1893 o marco inicial desse estilo de época no
Brasil. É nesse ano que Cruz e Sousa publica dois livros: Missal — coletânea de
poemas em prosa — e Broquéis — poemas em verso. Observe o gráfico:

Estilos de época
Portugal
1189/1198 1434 1527 1580 1756 1825 1865 1890 1915
o

mo

mo

oco

al.

smo
smo

smo
rism

dism

atur
anis

sicis

B a rr

erni
anti

boli
ado

Arca

l./N
Hum

Clas

Mod
Ro m

Sim
Trov

Rea

Brasil 1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922


info ura de
ção

oco

nism l.
o
smo

smo
smo

smo
Parn ./Natura
d ism
rma

B a rr

b o li

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a n ti

erni
asia
Arca
at

Sim

Mod
R om

Mod
Liter

l
Re a

Pré-

1893 — Publicação de Missal e Broquéis (Cruz e Sousa).


1902 — Publicação de Os sertões (Euclides da Cunha).
Você vai conhecer um texto com uma linguagem bastante diferente dos
textos que leu neste capítulo. Trata-se de um poema que caracteriza a voz
de uma pessoa, de forma vaga, imprecisa, de acordo com a subjetividade do
eu lírico.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 211


TEXTO 3

Cristais
Cruz e Sousa

Mais claro e fino do que as finas pratas


O som da tua voz deliciava... dolência: mágoa, dor;
Na dolência velada das sonatas sofrimento, aflição.
Como um perfume a tudo perfumava. lascivo: sensual, libidinoso,
desregrado.
Era um som feito luz, eram volatas silfo: na mitologia céltica, é o
Em lânguida espiral que iluminava, “gênio do ar”.
sonata: peça musical.
Brancas sonoridades de cascatas... velado: coberto com véu;
Tanta harmonia melancolizava. oculto; disfarçado.
volata: série de sons
Filtros sutis de melodias, de ondas executados com rapidez.
De cantos voluptuosos como rondas voluptuoso: sensual; em que há
prazer ou volúpia.
De silfos leves, sensuais, lascivos...
Como que anseios invisíveis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.
CRUZ E SOUSA. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 86.

João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Florianópo-


lis (SC). Filho de escravos alforriados, recebeu educação
esmerada, pois tornou-se protegido dos antigos senho-
res de seus pais.
rquivo da editora

Exerceu o cargo de professor e jornalista no Rio de


Janeiro, onde ingressou no grupo simbolista, tornan-
do-se logo respeitado como mentor do grupo. Ca-
ile/A

sou-se com Gavita, que enlouqueceria em 1896. Vá-


-sím
Fac

rios de seus poemas têm a loucura como tema.


Suas obras mais famosas são Broquéis (1893); Faróis (1900);
Missal (1893) e Evocações (1898).

1 Observe que o eu lírico descreve uma voz e, para caracterizá-la, ele a compara
a finas pratas. Com base nisso, responda no caderno:
a) Que elemento comum ele percebe entre a voz e as finas pratas?
b) Comparar um som a prata (um metal) é uma comparação convencio-
nal? Por quê?

2 Sonata é uma composição musical feita para ser executada por um ou mais ins-
trumentos, diferentemente de uma composição vocal. Com base nessa definição,
interprete os dois últimos versos da primeira estrofe.

212 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


3 Além de deliciar, a voz perfumava. Sabe-se que a voz é percebida pela au-
dição. O perfume, pelo olfato. Ao fundir essas duas sensações, o eu lírico
constrói uma sinestesia, que é a associação de palavras ou expressões que
transmitem a ideia de sensações diferentes numa só impressão (voz que per-
fumava). A sinestesia relaciona planos sensórios diferentes.
a) Localize outras duas sinestesias no poema.
b) Essa maneira de perceber a realidade tem os mesmos fundamentos que o
estilo realista-naturalista? Justifique sua opinião no caderno.

4 Na terceira estrofe, compara-se a voz a “rondas / de silfos leves, sensuais,


lascivos...”. Explique a comparação no caderno.

5 No poema prevalece a expressão de sensações visuais, auditivas ou olfativas?


Comente sua resposta no caderno, relacionando-a ao assunto do soneto.

6 Identifique e copie em seu caderno os elementos responsáveis pela sonorida-


de do poema, além das rimas.

7 Leia um trecho da matéria Como o homem fala, de Lúcia Helena de Oliveira:

“É claro que uma bela voz vai depender de fatores físicos, como estruturas
do aparelho fonador perfeitas e bem-proporcionadas”, cita Pontes. “No entanto,
mais importante do que isso é saber guiar a onda sonora até a caixa de ressonân-
cia certa. É essa sensibilidade que os cantores têm de especial”. De fato, o jogo
de caixas de ressonâncias é responsável pelos atributos estéticos da voz. É o
trajeto da onda sonora, abafada em algumas faixas, ampliada em outras,
que resulta em um tom aveludado como o de um locutor de rádio de
fim de noite ou grasnante como o de um imitador do Pato Donald.
No final, cada um cria maneiras exclusivas de gerar seus sons, com
esse ou aquele conjunto de movimentos musculares.
“Por isso, a voz é uma espécie de impressão digital sonora”, com-
Theo/Arquivo da editora
para a fonoaudióloga paulista Mara Behlau, a única especialista creden-
ciada a dar pareceres em tribunais brasileiros sobre identificação de vozes.
OLIVEIRA, Lúcia Helena de. Como o homem fala. Superinteressante. São Paulo, set. 1990.
Disponível em: <super.abril.com/ciencia/como-o-homem-fala>. Acesso em: jan. 2016.

Tanto o trecho da revista transcrito nesta questão quanto o poema de Cruz e


Sousa tocam em um mesmo assunto, mas há diferenças enormes entre eles.
Responda no caderno:
a) Qual é o objetivo do autor de cada texto: informar ou provocar emoção
estética?
b) Os dois autores se preocupam com a musicalidade de seu próprio texto?
c) Qual é a forma exterior do texto: prosa ou poesia?
d) Que expressão do segundo texto resume o assunto do poema?

8 Como você interpreta o título do poema?

Uma vez que estamos tratando de musicalidade, vamos ler parte do poema
Violões que choram, um dos mais conhecidos de Cruz e Sousa. Ao empregar figuras
de linguagem, o poeta procura não só descrever o som de violões, como também
sugerir esses sons por meio de palavras. Confira a seguir.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 213


TEXTO 4

Violões que choram


Cruz e Sousa

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,


Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
5 Noites de além, remotas, que eu recordo.
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.
Sutis palpitações à luz da lua.
10 Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
15 E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram.
20 Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.
25 Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Mauricio Pierro/Arquivo da editora

Vagam nos velhos vórtices velozes


Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
[...]
CRUZ E SOUSA. Obra completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1995. p. 122-123.

dormente: entorpecido.
ignoto: desconhecido.
plangente: que chora, triste, lastimoso.
soturno: triste, sombrio, lúgubre.
sutil: delicado, delgado.
volúpia: grande prazer.
vórtice: redemoinho.
vulcanizado: ardente, inflamado.

214 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


Caracter’sticas do Simbolismo
Música, eis uma das palavras-chave para os simbolistas, que tinham como
lema esta frase do poeta francês Paul Verlaine: “A música antes de tudo”. O
simbolista buscava alcançar a musicalidade em seus poemas, conforme vimos
em Violões que choram.
Os simbolistas reagiam fortemente contra os princípios cientificistas dos
realistas, naturalistas e parnasianos, seus contemporâneos, propondo uma poesia
baseada na expressão de estados emocionais subjetivos, misteriosos, ilógicos, ou
seja, aquilo que só admite expressão simbólica. A razão e a lógica, instrumentos
de análise da realidade, cedem sua vez à intuição, à subjetividade. Por isso, mais
importante que nomear é sugerir.

Museus Castro Maya, Rio de Janeiro/Arquivo da editora


Em muitos aspectos, os
simbolistas retomaram va-
lores do Romantismo, po-
rém de forma mais radical,
principalmente no que diz
respeito à religiosidade e ao
misticismo (disposição para
crer no sobrenatural). No
entanto, nota-se entre eles a
mesma preocupação formal
dos parnasianos: a musica-
lidade no texto. Por isso, no
Simbolismo predomina a
produção poética. Mesmo a
pouca prosa simbolista que
se escreveu deve ser classifi-
cada como prosa poética.
O Simbolismo em literatu-
ra é simultâneo ao impressio- Ninando no jardim, de
Eliseu D’Angelo Visconti
nismo na pintura. Observe, acima, uma tela impressionista. (1866-1944), 1916. Nesta
Na Europa, o início do Simbolismo foi marcado com a publicação da obra tela, que segue influências
impressionistas, observe
Flores do mal, do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), obra que influen- as pinceladas grossas, que
ciaria não só esse movimento literário como alguns posteriores. procuram produzir uma
“impressão” da cena, sem
No Brasil, o Simbolismo encontrou sua voz mais forte no poeta catarinense
contornos marcados; a
Cruz e Sousa, do qual já lemos dois textos. Cruz e Sousa publicou, em 1893, os preferência pelas cenas
livros Missal (prosa poética) e Broquéis (poesia). cotidianas, em ambientes
abertos em que se pode
A fusão de poesia e prosa, uma característica do Modernismo, foi antecipada notar bem a luz local.
pelos simbolistas, um grupo pequeno de poetas que em nosso país se agregou
em torno de Cruz e Sousa.
Na literatura europeia o Simbolismo teve grande repercussão, porém o mesmo
não ocorreu no Brasil. Os leitores reagiram friamente ao novo estilo e continuaram a
consumir poemas parnasianos. Só bem mais tarde a produção simbolista foi reavaliada
pela crítica e hoje é considerada fundamental para a formação de nosso Modernismo.
Além de Cruz e Sousa, destacou-se em nosso Simbolismo o poeta Alphonsus
de Guimaraens. Seu poema mais conhecido é o apresentado a seguir.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 215


TEXTO 5

Ismália

Theo/Arquivo da editora
Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
5 No sonho em que se perdeu, E como um anjo pendeu
Banhou-se toda em luar... As asas para voar...
Queria subir ao céu, Queria a lua do céu, 15
Queria descer ao mar... Queria a lua do mar...
E, no desvario seu, As asas que Deus lhe deu
10 Na torre pôs-se a cantar... Ruflaram de par em par...
Estava perto do céu, Sua alma subiu ao céu,
Estava longe do mar... Seu corpo desceu ao mar... 20

GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1976. p. 70-71.

Houve manifestações simbolistas também em prosa. No entanto, não se trata


de uma prosa com enredo e personagem. Por isso, os textos são chamados de
poemas em prosa.

Augusto dos Anjos: entre o


Parnasianismo e o Simbolismo
Na página 208 você leu um texto que trata de morcegos. O poema abaixo
relaciona-se ao mesmo assunto, mas sob uma perspectiva bem diferente...
TEXTO 6

O morcego
Augusto dos Anjos

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. A Consciência Humana é este morcego!


Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Na bruta ardência orgânica da sede, Imperceptivelmente em nosso quarto!
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 30. ed. Rio de Janeiro:
Livraria São José, 1965. p. 59.

“Vou mandar levantar outra parede...”


— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
ferrolho: trava; fecho.
Pego de um pau. Esforços faço. Chego ígneo: que é de fogo ou a ele se
assemelha.
A tocá-lo. Minh’ alma se concentra. orgânico: relativo a organismos vivos.
Que ventre produziu tão feio parto?!

216 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA


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Augusto dos Anjos (1884-1914) nasceu em Engenho Pau d’Arco (PB),

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onde viveu até os 24 anos. Formou-se em Direito no Recife (PE), mas não

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exerceu a profissão. Lecionou Literatura na Paraíba e no Rio de Janeiro.

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Transferiu-se para Minas Gerais, onde ocupou o cargo de diretor do Gru-
po Escolar de Leopoldina, cidade em que morreu de tuberculose.
Em 1919 foi publicado seu livro Eu e outras poesias. Sua obra em prosa
foi divulgada apenas em jornais.

9 Elabore o esquema de rimas do soneto. Em seu caderno, explique o efeito


delas em um poema.

10 No caderno, delimite os assuntos do texto, segundo esta possibilidade de leitura:


a) o ataque do morcego; b) a reação do eu lírico; c) a identificação do morcego.

11 Como você interpreta o quinto verso do poema? Responda no caderno.

12 “A Consciência Humana é este morcego!” Analise essa metáfora no poema,


levando em conta o que disse Stéphane Mallarmé (1842-1898), um dos pri-
meiros poetas simbolistas franceses:
Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma
poesia, que consiste no prazer de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.
MOISÉS, Massaud. O Simbolismo. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 36.

13 Volte à questão anterior e responda no caderno:


a) Qual é sua opinião sobre a ideia de Mallarmé?
b) Você concorda com essa ideia em relação ao poema de Augusto dos Anjos?

14 Faça uma comparação entre o poema O morcego e o texto Animais extintos:


miniatura de morcego. Responda no caderno: o que você percebe?

15 Na mesma obra em que figura o poema O morcego há versos como estes, de


Augusto dos Anjos:
E muitas vezes, à meia-noite, rio
Sinistramente vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!
Quando se publicaram esses poemas, a reação foi esta: “poesia de mau gos-
to”. Nessa época, ainda era grande a influência de Olavo Bilac e de Alberto
de Oliveira, bastante respeitados pela elite intelectual. Com base no que você
conhece da obra de Bilac, o que seria de bom gosto para essas pessoas?
Responda no caderno.

Como veremos nos capítulos seguintes, a prosa do Pré-Modernismo preo-


cupou-se com a realidade histórica imediata, mas no terreno da poesia o estilo
parnasiano continuou desfrutando grande prestígio junto ao público, com voca-
bulário sofisticado e temas distantes da realidade histórica em que se vivia.
Apenas um poeta importante rompeu com essas características: Augusto
dos Anjos, cuja obra apresenta caráter único na literatura brasileira.

UNIDADE 3 ADOLESCÊNCIA 217


Você já observou que o misticismo e a subjetividade dos simbolistas se
opunha à poesia racionalista e objetiva dos parnasianos. Augusto dos Anjos
situa-se entre essas duas tendências. Por isso, é difícil enquadrar sua obra em
um ou outro estilo.
Ele é parnasiano na forma, simbolista na sonoridade — embora seja uma
sonoridade áspera —, expressionista pelas distorções e pelo exagero. Mas ne-
nhuma dessas classificações dão conta de apreender toda a complexidade de
sua poesia chocante, pessimista, plena de termos científicos e de referências
à decomposição da matéria, capaz de incorporar de maneira inédita o voca-
bulário científico — em moda na época, mas visto como pouco adequado ao
terreno da poesia.
Pois foi esse vocabulário que marcou a obra de Augusto dos Anjos.
A seguir, transcrevemos um dos mais conhecidos poemas de Augusto dos
Anjos. Leia-o em voz alta e apreenda a sonoridade do soneto.

TEXTO 7

Versos íntimos
Augusto dos Anjos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Reprodução/Memorial Angusto dos Anjos, Sapé, PB.


Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi sua companheira inseparável.

5 Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


10 O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Pintura retratando o poeta Augusto dos Anjos, do artista paraibano
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Flávio Tavares, de 2006.

Apedreja esta mão vil que te afaga,


Escarra nessa boca que te beija!
ANJOS, Augusto dos. Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 280.

chaga: ferida.
quimera: fantasia, sonho.
vil: desprezível, infame.

A obra de Augusto dos Anjos introduz elementos de um novo estilo que se


inaugura em nossa literatura a partir de 1902, o Pré-Modernismo.

218 CAPÍTULO 5 TEXTO DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA

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