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QUI 136 – QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL I

EXPERIMENTO EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO


4 COM SOLVENTES QUIMICAMENTE
ATIVOS E DETERMINAÇÃO DE
TEMPERATURA DE FUSÃO
1. INTRODUÇÃO

1.1. EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO COM SOLVENTES ATIVOS.

A extração líquido-líquido convencional permite principalmente a separação de substâncias


orgânicas neutras. No caso de a substância orgânica apresentar característica básica ou ácida, é
possível aumentar a eficiência da extração aproveitando-se dessa característica e desenvolvendo um
método especial de extração. Esse método, denominado extração por solventes quimicamente
ativos, baseia-se na facilidade com que certas substâncias podem ser transformadas em derivados
com solubilidades bastante diferenciadas das substâncias originais. Por exemplo, considere uma
solução etérea contendo um ácido carboxílico, um fenol, uma amina e uma cetona. As quatro
substâncias que constituem a mistura podem ser separadas utilizando-se de suas propriedades ácidas
ou básicas (Figura 1).

Figura 1. Extração por solventes quimicamente ativos.


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Quando a solução etérea contendo os compostos mencionados anteriormente é tratada com


solução de NaHCO3, o ácido carboxílico é convertido no sal de sódio correspondente (um
carboxilato de sódio), segundo a reação mostrada a seguir.

RCOOH + NaHCO 3 RCOONa + CO 2 + H2O

O sal do ácido carboxílico é mais solúvel em água, o que provoca a sua migração para a fase
aquosa. Para obtenção do ácido carboxílico, deve-se acidificar a fase aquosa com HCl, ocasionando
a seguinte reação:

RCOONa + HCl RCOOH + NaCl

Nesse caso, o ácido carboxílico deve ser extraído da fase aquosa através da adição de solvente
orgânico. Ou, se o ácido carboxílico for um sólido pouco solúvel em água e precipitar, pode ser
separado por filtação.
Na fase orgânica original restaram o fenol, a amina e a cetona (Figura 1). A essa fase pode-
se adicionar uma solução aquosa de NaOH, que irá reagir com o fenol (uma substância cujo caráter
ácido é menor que o do ácido carboxílico) resultando na formação de um fenóxido de sódio.
Analogamente ao que foi descrito para o sal do ácido carboxílico, o fenóxido de sódio pode ser
separado e, posteriormente, reconvertido ao fenol através da reação com HCl, segundo as reações
mostradas a seguir.

OH ONa

+ NaOH + H2O

ONa OH

+ HCl + NaCl

Assim, na fase orgânica ainda restaram a amina e a cetona (Figura 1). Com a adição de uma
solução aquosa de HCl à fase orgânica, ocorrerá a reação de conversão da amina ao cloridrato
correspondente, que por ser um sal é mais solúvel em água, e migrará para a fase aquosa.

RNH2 + HCl RNH3Cl

Após a separação das fases, a cetona estará presente na fase orgânica e o cloridrato na fase
aquosa. A posterior reação da fase aquosa com NaHCO3 e a extração com éter etílico fornecerá a
amina, segundo a reação mostrada a seguir.

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RNH3Cl + NaHCO3 RNH2 + NaCl + CO2 + H2O

Para a separação final dos componentes presentes nas respectivas fases etéreas pode-se
proceder a destilações ou, se conveniente, à evaporação do éter.

1.2. TEMPERATURA DE FUSÃO

A temperatura de fusão (tf) de uma amostra em análise é determinada a partir do momento


em que se observa a formação da primeira gota de fase líquida (Figura 2) até a temperatura em que
o último cristal desaparece, situação entre aquelas representadas pelos tubos 4 e 5 na Figura 2.
Portanto, o que normalmente se obtém é uma faixa de fusão. Durante a análise da amostra, com o
aquecimento, podem ocorrer mudanças estruturais nos cristais sem que surja uma fase líquida,
como exemplifica o tubo 2 na Figura 2. Essas alterações visuais da amostra não constituem ainda a
sua fusão.
Em geral, a faixa de temperatura de fusão não excede 2 ºC para uma substância pura. Uma
pequena quantidade de impurezas na amostra é suficiente para alargar consideravelmente essa faixa
de temperatura, além de abaixar a temperatura inicial de fusão. Assim, essas medidas podem ser
utilizadas para avaliar a pureza de uma dada amostra.
Deve-se considerar também que algumas substâncias sólidas podem apresentar diferentes
arranjos cristalinos, que possuem cada um a sua temperatura de fusão. Os valores de temperatura de
fusão de substâncias conhecidas estão descritos na literatura, sendo dados de referência úteis na
caracterização de amostras químicas.

Figura 2. Transformações ocorridas no intervalo de fusão.

É comum existirem compostos diferentes com temperaturas de fusão iguais. Assim, deve-se
recorrer a outras propriedades físicas para se conhecer inequivocamente a identidade de um
composto sólido. Um procedimento muito utilizado para verificar a identidade de dois sólidos que
apresentam mesma temperatura de fusão consiste em misturar pequenas quantidades do sólido
desconhecido com o conhecido e determinar a temperatura de fusão da mistura. Se houver variação

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no valor da temperatura de fusão após a mistura, conclui-se que os sólidos são substâncias
diferentes.
A temperatura de fusão pode ser determinada empregando-se o tubo de Thiele. Ele consiste
em um tubo de vidro desenhado para conter um óleo de aquecimento e um termômetro ao qual se
liga um tubo capilar que contém a amostra (Figura 3). Ele é usualmente aquecido com um bico de
Bunsen, sendo que a velocidade de aumento da temperatura deve ser controlada.

Figura 3. Tubo de Thiele.

Embora existam diversos instrumentos comerciais para determinação da temperatura de


fusão (Melt-Temp, Fisher-Johns, Thomas-Hoover e Koffler Micro Melting, etc, Figura 4) todos
envolvem basicamente a mesma técnica e utilizam sistema elétrico de aquecimento, que permite o
aumento gradual e preciso da temperatura, um termômetro ou termopar e um artefato ótico (jogo de
lentes e/ou objetivas) para observação da amostra. Duas temperaturas são obtidas: a primeira é o
ponto em que a primeira gota de líquido se forma entre os cristais e a segunda, aquela em que toda a
amostra transforma-se em um líquido límpido (Figura 2).

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Figura 4. Aparelhos para determinação da temperatura de fusão.


Quando a temperatura de fusão da substância é desconhecida, o procedimento mais comum
envolve inicialmente a determinação de uma temperatura de fusão aproximada, através do
aquecimento da amostra a uma taxa de 10 ºC min-1, e, então, a determinação da temperatura de
fusão com maior exatidão, utilizando-se uma velocidade de aquecimento mais lenta, a uma taxa de
1-2 ºC min-1.

2. OBJETIVO

O presente experimento tem como objetivo utilizar a técnica de extração líquido-líquido


com solventes ativos para separação dos componentes de uma mistura constituída por ácido
benzóico e naftaleno e determinar a temperatura de fusão para verificar a pureza dos compostos
obtidos após os procedimentos de extração.

3. MATERIAL E REAGENTES

- béquer de 50 mL - espátulas
- erlenmeyer de 125 mL - banho de gelo
- funil de separação de 125 mL - ácido benzóico
- funil de vidro - ácido clorídrico (concentrado e 10 %, v/v)
- proveta de 10 mL - éter dietílico
- proveta de 25 mL - hidróxido de sódio (10 %, m/v)
- papel filtro - m-nitroanilina
- suporte para funil - naftaleno
- papel indicador universal - sulfato de magnésio (ou sulfato de sódio) anidro
- Funil de buchner - lamínulas de vidro

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4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

4.1. SEPARAÇÃO DE NAFTALENO E ÁCIDO BENZÓICO POR EXTRAÇÃO LÍQUIDO-


LÍQUIDO

Atenção: antes de iniciar os procedimentos experimentais, verifique possíveis vazamentos na


torneira e na tampa do funil de separação, utilizando água destilada.

O procedimento da separação da mistura está ilustrado no Esquema 1 e está descrito em detalhes a


seguir.

4.1.1. Em um béquer de 50 mL, dissolva 1,00 g da mistura1 contendo ácido benzóico e


naftaleno em 15 mL de éter dietílico. Transfira essa solução para um funil de separação de 125 mL.

4.1.2. Ao funil de separação contendo a solução etérea, adicione 15 mL de solução aquosa


de NaOH (10 % m/v) e agite, tomando o cuidado de “aliviar” a pressão dentro do funil. Deixe as
fases separarem e colete a fase inferior (aquosa) em um erlenmeyer de 125 mL, previamente
identificado como FA-1.

4.1.3. Repita o processo descrito no item 4.2 por mais 2 vezes, sempre coletando a fase
aquosa no mesmo erlenmeyer (FA-1). Faça mais uma extração, utilizando 5 mL de água destilada.
Novamente colete a fase aquosa no erlenmeyer FA-1. Reserve o erlenmeyer FA-1 para posterior
procedimento de extração.

1
A mistura contém 0,50 g de cada componente.
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Esquema 1. Procedimento de separação por extração líquido-líquido da mistura de ácido benzóico


e naftaleno.

4.1.4. A solução etérea que ficou no funil de separação deve ser transferida para um
erlenmeyer de 50 mL. Em seguida, adicione sulfato de magnésio (ou sulfato de sódio) anidro em
quantidade suficiente para que a fase etérea fique seca (observa-se que o sulfato de magnésio ou
sulfato de sódio fica “solto” quando isso acontece). Filtre a fase orgânica seca por gravidade,
coletando a solução em um béquer de 50 mL previamente pesado e identificado como NAF. Deixe
esse béquer em capela de exaustão para a evaporação do solvente e, então, pese o béquer novamente
e determine a massa de sólido obtida.

4.1.5. Resfrie o Erlenmeyer contendo a FA-1 em banho de gelo. Mantenha o Erlenmeyer em


banho de gelo e adicione lentamente HCl concentrado à fase aquosa FA-1, até obter pH
aproximadamente igual a 1. Para verificar o pH, utilize o papel indicador universal. Durante a
adição do ácido, mantenha o erlenmeyer FA-1 em banho de gelo. Após observar a formação de um
precipitado branco, filtre essa mistura a vácuo com auxílio de um funil de buchner. Lave o material
que foi retido no funil com água destilada e transfira-o para um béquer previamente pesado e
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identificado como ABZ. Leve esse material para uma estufa a 60 °C e mantenha-o nessa
temperatura por 10 min. Após esse período, pese o béquer contendo o material seco. Por fim,
determine a temperatura de fusão do sólido obtido.

4.2. DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE FUSÃO DO NAFTALENO E DO ÁCIDO


BENZÓICO APÓS SEPARAÇÃO

4.2.1. Adicione uma ponta de espátula do naftaleno (NAF) a uma lamínula e cubra-a com outra
lamínula. Coloque esse sistema no aparelho para determinação da temperatura de fusão.

4.2.2. Programe a taxa de variação da temperatura para 10 ºC min-1 e inicie a análise. Observe
atentamente as mudanças ocorridas com o sólido durante o aquecimento e anote as temperaturas
inicial e final do intervalo de fusão.

4.2.3. Após análise, resfrie o sistema.

4.2.4. Repita os procedimentos descritos nos 4.2.1 a 4.2.3 para a o naftaleno (NAF), mas repita o
item 4.2.3 com uma taxa de variação de temperatura de 1 a 2 ºC min-1.

4.2.5. Faça a determinação da temperatura de fusão do ácido benzoico (ABZ) conforme descrito
nos itens 4.2.1 a 4.2.4.

5. BIBLIOGRAFIA

Dias, A.G.; da Costa, M.A.; Guimarães, P.I.C. “Guia Prático de Química Orgânica. Volume I –
Técnicas e Procedimentos: Aprendendo a Fazer”. Editora Interciência, Rio de Janeiro, 2004.
Marques, J.A.; Borges, C.P.F. “Práticas de Química Orgânica”. Editora Átomo, Campinas, 2007.
Pavia, D.L.; Lampman, G.M.; Kriz, G.S.; Engel, R.G. “Química Orgânica Experimental – técnicas
de escala pequena”. Editora Bookman, 2ª ed, São Paulo, 2009.
Hart, H.; Craine, L.E.; Hart, D.J. “Organic Chemisty Laboratory Manual – A short Course”.
Houghton Mifflin Company, Tenth Edition, Boston, 1999.

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