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talento humano, sinergicamente organizado, e a or A gestão educacional dos sistemas de ensino e
ganização competente do trabalho e emprego criati de suas escolas constitui uma dimensão e um enfo
vo de recursos os mais diversos. que de atuação na estruturação organizada e orien
Com esse entendimento em mente, a gestão edu tação da ação educacional que objetiva promover a
organização, a mobilização e a articulação de todas
cacional corresponde à área de atuação responsá
as condições estruturais, funcionais, materiais e hu
vel por estabelecer o direcionamento e a mobilização
manas necessárias para garantir o avanço dos pro
capazes de sustentar e dinamizar o modo de ser e de cessos SoCioeducacionais. Estes se justificam na me
fazer dos sistemas de ensino e das escolas, para rea dida em que são orientados para a promoção efetiva
lizar ações conjuntas, associadas e articuladas, visan da aprendizagem pelos alunos, de modó a contribuir
do o objetivo comum da qualidade; do ensino e seus para que se tomem capazes de enfrentar adequada
resultados. Sem essa orientação, todos os esforços e mente, dentre Outros aspectos, os desafios da socie
gastos são despendidos sem muito sucesso, median dade complexa, globalizada e da economia, que pas
te a atuação orientada por: a) adotarem perspecti sa a centrar-se cada vez mais no conhecimento para
vas burocráticas, isoladas e eventuais; b) focaliza o seu desenvolvimento.
rem projetos isolados, na busca de soluções tópicas e A partir da perspectiva de visão de conjunto, me
localizadas, e sem participação, na fase de planeja diante uma figura de quadrantes, é possível visuali
mento, dos envolvidos na ação para implementá-los; zar objetivamente a distribuição em eixos à medi
da em que são realizadas ações ou atendidas deman
c) enfatizarem a realização de atividades, sem orien
das de áreas complementares entre si no exercício da
tação clara e empenho determinado pela realização
gestão, como é o caso da estrutura e do funcionamen
de objetivos e promoção de resultados significativos. to (eixo horizontal) e das condições materiais e das hu-
No entanto, estes aspectos, dentre outros, têm <>cor- 2g manas (eixo vertical) no trabalho da gestão educa
rido na educação brasileira, evidenciando-se a íal------- cional. Na medida em que estas são efetivadas com
Série Cadernos de Gestão
bre outros, e em vista do que ocorre o desequilíbrio A gestão educacional constitui, portanto, uma áreãi
das ações e, portanto, a falta de efetividade na obten importantíssima da educação, uma vez que, por meiolp-
ção de resultados. dela, se observa a escola e se interfere sobre as quesa
Conforme se pode observar na Figura 01, pon- tões educacionais globalmente, mediante visão de coii^
tuando-se a atenção da condição em um eixo e esta junto, c se busca abranger, pela orientação com vi|
belecendo-se uma linha de ligação com o ponto de rea são estratégica e ações interligadas, tal como em rede
lização das demais condições, nos seus respectivos pontos de atenção que, de fato, funcionam e se maii;
eixos, pode-se observar a tendência ao desequilíbrio têm interconectados entre si, sistematicamente, re
de atenção, em um caso hipotético, em que o atendi forçando-se reciprocamente.
mento às questões materiais ganhou nível de aten
ção 8, enquanto que se registrou atenção de nível 6 Tendo como pano de fundo as novas demanda:
para as questões estruturais, nível 4 para as de fun que a escola enfrenta, e às quais a ela compete res
cionamento e nível 3 para as humanas. ponder, são analisadas questões fundamentais e o|
novos desafios afetos à gestão educacional. Muitos
Figura 01 — Eixos de realização das áreas do trabalho de desses desafios já se acham assimilados conceituais
gestão escolar mente, ou pelo menos genericamente, pela comunií
Condiçoes dade educacional, por se constituírem em aspiração
humanas
da sociedade, já absorvida na proposição da Lei dq
10 Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/9(1 A
I 9
1 8
I 7 como é o caso da democratização da educação e sei
6
5
desdobramentos. No entanto, sua prática em nossl
4
contexto é ainda um livro aberto a aprendizagens
2
| Estrutura ;( tfXagfel jfK 27 28 básicas que demandam muita observação, reflexão,^
, , 3
10 98765.. „ _
2 1, 1 2 3456789 10
estudo, mesmo porque, tendo em vista a complexil
Série Cadernos de Gestão
a questão da mudança paradigmática da gestão edu vemos a realidade e de como dela participamos. No
cacional, de modo a estabelecer diretamente o contex geral, em toda a sociedade, observa-se o desenvolvia
to das questões da descentralização do ensino, da ges mento da consciência de que q autoritarismo, a cení
tão democrática e da autonomia na gestão escolar, que tralização, o conservadorismo, a fragmentação e a ótfr
são objeto deste livro. Delineia-se, dessa forma, o pano ca do dividir para conquistar, do perde-gariha ess
de fundo dessas questões, que são aqui tratadas como tão ultrapassados por conduzirem ao desperdício, ap
expressões da participação plena2 por aqueles que fa imobilismo; ao ativismo inconsequente, à divisão de
zem parte do movimento educacional. poder, que o destrói, e ao fracasso em médio e lon=
De modo a estabelecer esse contexto, questões go prazos quando se pensa em promover mudanças
atuais da gestão educacional são objeto de análise, evolutivas e ganhos de desenvolvimento; sobretudo^
como, por exemplo, o desenvolvimento de um corpo por essa orientação corresponder a uma fragmenta^
teórico sobre essa gestão, a mudança de consciência ção do ser humano e sua alienação em relação à exí
social sobre a escola, a escola como organização so periência vital e a uma distorção dos rumos estrutuj
cial, a visão estratégica sobre a escola, o reconheci rais de sua formação. 1
mento da importância da gestão educacional. Emerge, portanto, dessa conscientização, um nos
vo paradigma3, que procura superar tais limitações,,
No equilíbrio da atenção entre diferentes dimensões que na busca de uma atuação mais efetiva.
se manifestam em uma realidade educacional reside o en
Essa mudança de paradigma é marcada por uma
foque da gestão efetiva.
forte tendência à adoção de práticas interativas, parj
ticipativas e democráticas, caracterizadas por movi
1.1. A dinâmica de mudança e suas implicações
quanto à gestão 29 O mentos dinâmicos e globais pelos quais dirigentes;
funcionários e clientes ou usuários estabelecem alian
Série Cadernos de Gestão
2.0 V'ol. III desta série, sob o título A gestão participativa na es 3. A esse respeito, veja-se o Vol. I desta série, sob o título Ges?
cola, explicita mais amplamente a questão. tão educacional: uma questão paradigmática, que examina essa
questão. *4
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacional
tos partem do pressuposto de que qualquer difi rém, ela se consolida gradualmente e oferece grande 1
culdade específica é, em si, global por afetar e di impacto sobre o que acontece na escola. Aliás, obser-1
zer respeito, direta ou indiretamente, a todas as pes va-se o interesse de grupos e organizações em cola-1
soas, e por estar interligada a todos os aspectos de borar com a escola, constituindo-se essa colaboração
uma realidade. um campo fértil para a realização de parcerias e um ■
Em meio a esse processo de mudança, não ape grande desafio para os gestores escolares atuarem dei
nas a escola desenvolve a consciência sobre a neces forma colaborai iva com a comunidade.
sidade de orientar o seu processo interno de mudan São, portanto, demandadas mudanças urgentes]
ça, de modo a acompanhar as novas condições exter na escola, a fim de que esta garanta a formação com-1
nas, como a própria sociedade cobra que o faça. As petente de seus alunos, de modo que sejam capazes ]
sim é que a escola encontra-se, hoje, no centro de aten de enfrentar criativamente, com empreendedorismo 1
ções da sociedade. Isto porque se reconhece que a e espírito crítico, os desafios cada vez mais comple-1
educação, na sociedade globalizada e economia cen xos e instigantes da sociedade. Considerando essas 1
trada no conhecimento, é dotada de grande valor questões, não basta à escola ensinar o aluno a prepa- 1
estratégico para o desenvolvimento de qualquer so rar-se para níveis mais elevados de escolaridade, de 1
ciedade e da qualidade de vida de seus cidadãos. So modo que o ensino volte-se para demandas internas41
bretudo, no entanto, é importante reconhecer que a da escola. O que a escola precisa fazer, em todas as 1
educação é condição necessária para a formação de experiências que realiza, é promover o desenvolví- ;
indivíduos, sem a qual estes não se alçam a níveis mento de competências significativas do aluno, tendo j
mais elevados de desenvolvimento humano, como pes como foco as necessidades evolutivas que o mesmo ;i
soas e cidadãos.
Destaca-se que essas atenções não estão sendo 32 ---------------------------
Série Cadernos de Gestão
realizadas de maneira plena e ainda estão, muitas ve 4. Infelizmente, observa-se que esta tem sido uma realidade na prá- i
ticadeensino-aprendizagem e organização curricular e do projeto 1
zes, orientadas por um velho e já enfraquecido para pedagógico de escolas, que se têm orientado muito mais para a coe- j
digma orientador da cobrança a governos, em vez de rência lógica interna do conhecimento construído, do que para o 1
estabelecimento da coerência desse conhccimento«curn a realida- j
participação ativa para promoção da educação, junto de. que estaria supostamente representando, lêssa representação ]
com os governos, a partir do princípio de que edu c a capacidade de as experiências educacionais levarem os alunos í
a conhecerem a realidade e a si mesmos na realidade, constitui-se J
cação não é apenas responsabilidade de governo, mas em objetivo do processo ensino-aprendizageni. juntamente com o j
de todas as instituições e membros da sociedade. Po- desenvolvimento de seu potencial pessoal.
í
|
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacionai
enfrenta e enfrentará, em cada estágio de sua vida, Todo esse movimento, no sentido de rever a cor
que, em última instância, demandam que ele apren cepção de educação, de escola e da relação escola-sc
da a compreender a vida, a sociedade e a si mesmo ciedade, tem demandado dos estabelecimentos d
inserido nesse contexto e dele participante como in ensino um esforço especial de gestão, de organizaçã
fluente e influído. A cada estágio de desenvolvimen dos processos soçioeducaeionais e de articulação d
to, novas necessidades e possibilidades de expres seu talento e energia humana, de recursos e proces
são e compreensão emergem, formando ciclos con sos, corn vistas à promoção de experiências de foi
tínuos e cada vez mais aprofundados de aprendi mação de seus alunos, capazes de transformá-los efe
zagem e desenvolvimento. Por conseguinte, a edu cidadãos participativos na sociedade. J
cação, no contexto escolar, se complexifica e exige or
ganização da ação educacional e esforços cada vez 1.2. Superação de modelo estático e segmentado
mais redobrados e renovados, como um processo de de escola e de sua direção
vida e de trabalho, vinculados ao mundo real, para Até bem pouco tempo, o modelo de direção dl
o que é fundamental a participação da comunida escola que se observava como predominante era ceó
de tanto interna quanto externa do estabelecimen tralizado na figura do diretor, que agira como tuté
to de ensino. lado aos órgãos centrais, competindo-lhe zelar pelí
Por outro lado, a própria sociedade, embora mui cumprimento de normas, determinações e regulamen
tas vezes não demonstre ter bem claro qual o tipo de tos deles emanados. Dessa forma, atuava sem voz pró
educação de que seus jovens necessitam, tendo em pria para determinar os destinos da escola e, portam
vista a diversidade de pontos de vista expressa por to, desresponsabilizado dos resultados de suas ações
seus diversos segmentos, vem gradualmente exigin Seu papel nesse contexto era, por assim dizer, o dc
do maior competência da escola e que esta demons- 33 34 gerente de operações ditadas, a partir dos níveis e
tre ao público essa competência, com bons resulta gãos.centrais, mediante “programas detalhados e uni
Série Cadernos de Gestão
Série Cadernos de Gestão
dos de aprendizagem pelos seus alunos e bom uso formes para a realização generalizada em todas ai
de seus recursos. Por outro lado, também tem demons escolas” (SILVA, 2001: 110). *
trado tendência a contribuir para a realização des Essa situação, é importante destacar, cria mm
se processo, mediante trabalho voluntário e realiza perspectiva estática, burocratizada e hierarquiza^
ção de parcerias. da do sistema de ensino e das escolas, por orientar-sé
pelo estabelecimento de uniformidade do sistema de
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacional
ensino — em vez de pela sua unidade — reforçando pa ciação a este entendimento, estabelece-se uma con
drões não de resultados e sim de formas de desem cepção, segundo a qual direitos são separados de de
penho que desconsideram a necessidade de criativi veres, e governo é separado da sociedade, daí por qul
dade, iniciativa e discernimento em relação a dinâ o governo seria responsável pela escola e pelos será
micas interpessoais e sociais, envolvidos na reali processos, sendo a sociedade constituída de usuários
zação do processo educacional. Nesse contexto, o tra a quem cabe receber os benefícios oferecidos.
balho do diretor escolar constituía-se, sobretudo, em Diante dessa compreensão, que corresponde a<
repassar informações, assim como controlar, super paradigma positivista, adotou-se uma íundament^
visionar, “dirigir” o fazer escolar, em acordo com as ção teórica de caráter normativo, determinado por po-
normas estabelecidas pelo sistema de ensino5. Bom larizaçoes, como por exemplo, entre certo-errado, per-
diretor era o que cumpria essas obrigações plena e feitó-imperfeito, função-disfímção, p roduto-proccssd
zelosamente, de modo a garantir que a escola não fu ensino-aprendizagem. Adotou-se o método de admi
gisse ao estabelecido em âmbito central ou em nível nistração científica, orientado exclusivamente pelõl
hierárquico superior. princípios da racionalidade limitada; da inearida
Essa situação explicar-se-ia pelo entendimen de; da influência estabelecida de fora para dentro-
to limitado de que a escola é do governo, visto como do emprego mecanicista de pessoas e recursos para
uma entidade superior e externa à sociedade. Esse realizar objetivos organizacionais de sentido limia
entendimento, é possível conjeturar, pode estar as tado, dentre outros aspectos. Com esse enfoque, adã
sociado à leitura ao pé da letra da determinação cons ministrar correspondería a comandar e controlar, mc^
titucional de que educação é dever do Estado, inter diante uma visão objetiva de quem atua sobre a uni=
pretando-se de forma inadequada essa determina dade e nela intervém de maneira distanciada, até mesí
36 mo para manter essa objetividade e a própria autos
ção legal, no sentido de que caberia à sociedade ape- 3 5
ridade funcional. E, para manter essa objetividade^
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nas o direito de educação e não a responsabilida
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nidade das pessoas e de processos sociais, gerando, xo, a partir de normas, regulamentos e planos limita
dessa forma, um acentuado espírito de alienação. dos e funcionais. Também segundo esse enfoque, os ;
Mediante a adoção de tais pressupostos, resul problemas recorrentes seriam sobretudo encarados :
tou a hierarquização e verticalização na condução dos como carência de insumos, sobretudo os financeiros -i
sistemas de ensino e das escolas, a desconsideração e os de pessoas, em desconsideração à falta de orien- '
aos processos sociais neles vigentes, a burocratiza- tação de seu processo.e dinamização da energia social ;
ção dos processos, a fragmentação de ações e sua in necessária para promovê-lo.
dividualização e, como consequência, a desrespon- Cabe destacar que os sistemas de ensino como j
sabilização de pessoas em qualquer nível de ação, pe um todo, e os estabelecimentos de ensino, como uni- •
los resultados finais de seu trabalho. A esses pressu dades sociais, são organismos vivos e dinâmicos e co- 3
postos e suas implicações está associada a adminis mo tal devem ser entendidos. Ao serem vistos como ■:
tração por comando e controle, centrada na autorida organizações vivas, caracterizadas por uma rede de j
de funcional, em detrimento da formação de espa relações entre todos os elementos que nelas interfe- :
ços de participação coletiva e atuação criativa de su rem, direta ou indiretamente, a sua direção deman- 1
jeitos responsáveis por suas ações. da um novo enfoque de organização. |
Verifica-se que a realidade em geral e os ambien E é a esta necessidade que a gestão procura res- 1
tes educacionais, por sua dinâmica vital, são consti ponder. Ela abrange, portanto, a dinâmica das inte- ]
tuídos por processos interativos, caracterizados pela rações, em decorrência do que o trabalho como prá- |
diversificação e pluralidade de interesses e objeti tica social passa a ser o enfoque orientador da ação I
vos, num contínuo embate entre diferentes dimen do dirigente, executada nas organizações de ensino de ;
forma compartilhada e em equipe. O mesmo se orien- <
sões easpectos. Essas condições criam nas organiza 37
ta por uma "perspectiva mais humana, integrada e J
ções sociais e processos interpessoais nelas ocorren-
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Daí por que a importância de se delinear as ideias previsto, atendido e acompanhado em âmbito ex-|
básicas dos múltiplos aspectos da gestão, que devem terno e central; c) os ideais democráticos que de-d
ser entendidos de forma associada, uma vez que a vem orientar a educação; a fim de que contribua pa- 1
realização de uns, necessariamente remete à de ou ra a correspondente formação de seus alunos, ne- j
tros, estabelecendo um processo de desenvolvimen cessitam de ambiente democrático e participativo; j
to em rede. d) a aproximação entre tomada de decisão e ação 1
não apenas garante a maior adequação das decisões i
e efetividade das ações correspondentes, como tam- i
A gestão democrática ocorre na medida em que as práticas bém é condição para a formação de sujeitos de seu :
escolares sejam orientadas por filosofia, valores, princípios destino é a maturidade social.
e ideias consistentes, presentes na mente e no coração das
pessoas, determinando o seu modo de ser e de fazer.
Portanto, há três ordens de entendimento napro- |
posição de descentralização: a) uma de natureza ope- !
racional, que aponta para uma solução para os gran- j
1.3.1. 0 processo de descentralização des sistemas de ensino, que falham por não pode- ■
do ensino rem diretamente gerir as condições operacionais do
ensino; b) outra de caráter social, que reconhece a i
O movimento de descentralização em educa
importância da dinâmica social da escola, com uma
ção é internacional e emerge com características de
cultura própria e, portanto, demandando decisões lo
reforma nos países cujo governo foi caracterizado
cais e imediatas ao seu processo, a fim de promover
pela centralização, sobretudo aqueles que tiveram
o melhor encaminhamento do processo educacio
regimes autoritários de governo. Esse movimento está nal; c) mais outra ainda, de caráter político, que en
relacionado a vários entendimentos: a) de que as es- 41 tende o processo educacional como formativo, de
colas apresentam características diferentes, em vis
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cais7 e grande participação das famílias. Dessa for nentes fortes de criação de um senso de responsa
ma, existe um entendimento claro e explícito de que bilidade das mesmas pelas escolas como centros im
são as comunidades locais que mantêm a educação e portantes e significativos de formação dessas crian
suas escolas e se sentem por elas responsáveis. Des ças e jovens. Essa consciência, é válido destacar, não
sa forma, “...cada vila ou cidade constitui um siste se associa ao entendimento distorcido pelo enfoque
ma escolar inteiramente autônomo. O Estado ape unilateral, de desresponsabilização por governos so
nas dá algumas diretrizes de caráter extremamente bre a realização da educação, mas sim corresponde a
geral e compensações financeiras para as cidades e uma maior consciência de todos sobre essa respon
vilas pobres, enquanto o governo federal apenas pro sabilidade complexa da sociedade toda. Este enten
move programas, mobiliza debates e corrige graves dimento traduz-se no mote sábio identificado em
desequilíbrios” (CUNHA, 1995: 60). comunidades não desenvolvidas, mas extremamen
Verifica-se, em contextos descentralizados, a cons te amadurecidas socialmente: “é necessário toda uma
ciência das comunidades sobre a importância da edu aldeia para educar uma criança”.
cação para a formação de suas crianças e jovens, e
Diagnósticos realizados sobre a educação brasi
que a geração de recursos locais para a manutenção
de escolas e seu sistema constituem-se em compo leira revelam que nela ocorrem problemas crôni
cos, de longa data, e são mantidos, apesar de esforços
para minimizá-los, uma vez que são mantidas as ten
7. Nos Estados L indos, as escolas são mantidas com recursos de dências de decisão centralizadora. Esses problemas,
três origens, cuja distribuição traduz o seu caráter descentraliza
do: cerca de 42,S' < de recursos despendidos nas escolas são locais, conforme apontado por Costa (1997: 16), são:
a partir de impostos de propriedade; 49,2% dos recursos provêm • Um alto grau de ineficiência e ineficácia tradu
de âmbito estadual, que exerce o papel de promover equidade en 43
tre as escolas distritais, e 8% dos recursos são federais despendi zido por índices de repetência e evasão, ou seja, de
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prometimento local é possível promover a efetivi a) das políticas educacionais que delineiam, b) dos
dade do ensino, tendo em vista não apenas a distân programas que propõem para realizá-las e c) das nor
cia dos governos federal e estadual, e até mesmo dos
sistemas municipais de ensino, em relação à escola,
mas sobretudo porque são as pessoas com atuação di 8. Coordenadores estaduais da Renageste/Consed - Rede Nacio
nal de Referência em Gestão Educacional, do Conselho Nacional
reta ou indireta nas ações que fazem a diferença e so de Secretários de Educação, reunidos em Brasília, em setembro
de 1997.
Concepções e processos democráticos de gestão educacional
Heloísa Lück
Por certas características de descontinuidade e De qualquer modo, como em qualquer outro mo
inconsistências, parece estar ocorrendo no Brasil, em vimento social, a descentralização é um processo su
geral, um movimento que nem correspondería à des jeito a contradições. Portanto, as contradições re
centralização propriamente dita, que pressuporia o gistradas na educação brasileira não invalidam a im
empoderamento local, de forma organizada e articu portância da questão e do movimento, uma vez que
lada com os sistemas de ensino, e nem à desconcen- apenas evidenciam um aspecto natural do proces
tração. Por exemplo, a esse respeito, é interessante so, que demanda maior atenção, habilidade e deter
apontar que em 2004 o MEC lançou e promoveu no minação para promovê-lo. E necessário perspicá
Brasil um programa para fortalecimento específico cia e discernimento, a fim de se reconhecer expres
de Conselhos Escolares, uma das estratégias de pro sões diversas e em níveis variados de manifestação.
moção da gestão colegiada (em vez de promover o A desconcentração se constitui em uma dessas ma
fortalecimento de uma política de promoção de ges nifestações, no conjunto do movimento pela des
tão democrática na escola, pela organização de me centralização. Conforme amplamente indicado na
canismos de gestão colegiada), desconsiderando as ex literatura (BULLOCK & THOMAS, 1997; MAR
periências locais de desenvolvimento de práticas TINS, 2002) sobre a descentralização, esta se proces
de participação na gestão da escola, com outras for sa simultaneamente com um processo de descon
mas, como, por exemplo, Associação de Pais e Mes centração, isto é, enquanto se descentralizam cer
tres; Associação de Pais, Alunos e Mestres; Associa tos aspectos, centralizam-se outros.
ção de Apoio à Escola; Associação Escola-Comuni-
A desconcentração, apesar de constituir um avan
dade; Cooperativa Escolar; Conselho Deliberativo
Escolar, dentre outros. Portanto, ainda que bem-in ço, no sentido político e operacional da gestão, apre
tencionadas, tais ações centrais, de certa forma cen- 49 senta limitações, dentre as quais se destaca o fato de
50
tralizam o que já se encontrava em processo de des -que “não provoca o compartilhamento de poder e
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vez, promove junto ao nível de gestão do sistema a mitirá o acompanhamento individualizado de cada
criação de mecanismos de controle de resultados so estudante, em qualquer parte do país. As informa
bre a escola, evidenciando a manutenção da concep ções serão registradas no Programa Gerador de Ca
ção e viés centralizadores. Criam-se, por exemplo, me dastro (PGC) e transmitidas para o banco de dados
canismos centrais de monitoramento e avaliação da do Inep/MEC” (folder do MEC). O foco do progra
escola e suas ações, como controle sobre a escola e ma assenta-se na centralização de dados no Inep, a
seus resultados, sem preocupar-se com a criação, a partir de mecanismos eletrônicos, tal como numa fá
partir da escola, da cultura de monitoramento e ava brica, passando por alto sobre as práticas educacio
liação locais, como estratégias importantes de ges nais e motivacionais da frequência escolar, estabe
tão, em todos os níveis de ação. Isto é, os gestores lecendo a questão como um mecanismo meramente
em nível macro realizam apropriação de informações administrativo e desconsiderando a sua dimensão pe
da escola, sem envolvê-la no trato das mesmas. dagógica e educacional, cuja gestão seria melhor pro
Este é o caso, por exemplo, do Programa Siste movida localmente.
ma Nacional de Acompanhamento da Frequência Esco A Figura 02, a seguir apresentada, divulgada pela
lar - Safe, lançado pelo MEC em 2005, pelo qual se Diretoria de Estatística da Educação Básica, do Inep,
objetiva estabelecer o controle da frequência de cada ilustra a intenção de centralização, estabelecendo
aluno à escola, por via eletrônica, com controle dire a relação direta da escola com o Inep, para a coleta
to pelo Inep, sem passar pelos sistemas municipais de dados sobre a frequência escolar, envolvendo ou
e estaduais de ensino, desconsiderando as questões tras organizações apenas nos casos em que as esco- ■
culturais e pedagógicas do controle de frequência, o las não tenham disponíveis recursos de comunica
desenvolvimento de consciência local sobre o valor ção eletrônica. Observe-se na figura a desconside
51 52
da frequência à escola e da autorresponsabilidade, ração em relação às secretarias estaduais e munici
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condição importantíssima para o desenvolvimento so pais de educação como mantenedoras e, portanto, di
cial. Segundo o programa, “todos os alunos da edu retamente responsáveis pela gestão da escola e pela
cação básica, incluindo as redes estaduais, munici qualidade do ensino.
pais e particulares, serão cadastrados, num total apro
ximado de 55 milhões de alunos. Cada aluno recebe
rá um Número de Identificação Social (NIS). Isso per
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacional
cação mundial em tempo real. Acrescente-se ainda o para sua efetivação, implica existência ou construção
fato de haver enormes diferenças socioculturais es- de competência para tanto, daí por que a impossibi
tabelecedoras de grandes distâncias de nível de com lidade da homogeneidade apontada. Aliás, a descen
petência e formação, assim como de entendimento so tralização se justifica, dentre outros aspectos, justa
bre a problemática educacional - aliás, esses mesmos mente pela diversidade, cujo aproveitamento e con
fatores, por si sós, justificariam a necessidade e a im sideração se tornam necessários para a maior efeti
vidade do ensino. A cotisideração a essa diversidade *•'
Concepções e processos democráticos de gestão educacional
Heloísa Lück
cisão e orientação do ensino, dos centros para as peri cesso educacional como aquisição de conhecimen
tos. Com esse procedimento o professor reforça o seu
ferias, os movimentos de democratização da gestão
poder de influência sobre o aluno, como um valor
educacional devem focalizar a escola e o desenvolvi
mento de uma cultura democrática efetiva e eficaz, li
derada por um processo de gestão escolar orientada 10. A questão do poder e do empoderamento a partir da participa
pela autonomia, conforme a seguir analisado. ção é expandida no Vol. III desta Série Cadernos de Gestão, inti
tulado A gestão participativa na escola.
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacional
em si, sem contribuir para o empoderamento deste. A mesma lógica serve para o relacionamento en
Perceba-se que nesse caso o que ocorrería é a esco tre professores, funcionários e gestores da escola. Quan
la estar a serviço do professor e não do aluno, pois se do o exercício do poder é orientado por valores de
não ocorrer o seu empoderamento, não ocorreu edu caráter amplo e social, como o são os educacionais,
cação e, sim, domesticação. estabelece-se um clima de trabalho em que os pro
Na medida, porém, em que o professor consi fissionais passam a atuar como artífices de um resul
dere que o papel do processo educacional é o de le tado comum a alcançar, de que resulta o aumento do
var o aluno a desenvolver seu potencial, mediante o poder para todos. Nesse caso, as pessoas trabalham
alargamento e aprofundamento de seus conhecimen com a maior competência possível, visando a que a
tos, habilidades e atitudes, de forma associada, pas escola atinja, da forma mais plena, os seus objetivos
sa a envolver o aluno em uma participação ativa, pela
sociais e o atendimento das necessidades educacio
qual exercita processos mentais de observação, aná
nais ampliadas de seus alunos. Nesse caso, pode-se
lise, crítica, classificação, organização, sistematização,
dizer que o direcionamento do poder é orientado para
dentre outros, e, fazendo perguntas, conjecturando
soluções a problemas, sugerindo caminhos, exerce o exterior ao sistema escolar, isto é, a sociedade. Po
poder sobre o processo educacional e sobre como e rém, nesse processo, pelo desenvolvimento da com
o que aprende. Dessa forma, constrói o seu empode petência e do papel social, todos são empoderados
ramento. Com essa prática, do ponto de vista do alu em conjunto.
no, ocorre a democratização da escola, tanto em re Como o poder da competência gera novas alter
lação a seu processo como em relação aos seus resul nativas para o enfrentamento de desafios, o melhor
tados, pois o aluno é levado ao sucesso escolar. Cabe aproveitamento de oportunidades na superação de
destacar que não pode ser considerada como demo dificuldades e criação de novas e mais promissoras
crática uma escola em que os alunos fracassam, e 59 60 perspectivas de ação, ele tende a aumentar gradati
que não pode ser democrática uma escola que não o
vamente. Assim, a atuação efetivamente competen
Série Cadernos de Gestão
Série Cadernos de Gestão
é para todos11.
te dos professores cria uma cultura proativa pela qual
se evita o errado comportamento de atribuir ao sis
tema e a qualquer outra pessoa ou situação a culpa por
11. Seguindo essa lógica de raciocínio, podemos afirmar que não é
democrática a escola onde ocorrem reprovações e sobretudo as condições difíceis, em vez de considerá-las como de
reprovações repetidas, pois o que ocorrería é a prática de demo safios e enfrentá-las com responsabilidade.
cracia para uns e não para outros e como democracia é um princí
pio, se aplica à todos.
Heloísa Lück Concepções e processos democráticos de gestão educacional
A democratização da escola correspondería, por considerados como pilares sobre os quais se assen
tanto, na realização do trabalho escolar orientado pe ta a eficácia escolar.
la realização e desenvolvimento da competência de O conceito de autonomia da escola está relacio
todos, em conjunto. Mediante essa orientação, dá- nado a tendências mundiais de globalização e mu
se conta de três aspectos apontados nas análises de dança de paradigma que têm repercussões signifi
democratização da escola: a) democratização como cativas nas concepções de gestão educacional e nas
ampliação do acesso e sucesso do aluno na esco ações dela decorrentes. Descentralização do poder,
la; b) democratização dos processos pedagógicos; democratização do ensino, autogestão, instituição de
c) democratização dos processos de gestão escolar parcerias, flexibilização de experiências, sistema
(HORA, 1994).
de cooperativas, multidisciplinaridade são alguns
dos conceitos relacionados a essa mudança. Enten-
1.3.3. A autonomia da gestão escolar
de-se como fundamental, nesse conjunto de concep
No contexto da atenção sobre a gestão educacio ções, a mobilização de massa crítica devidamen
nal, autonomia constitui-se em um dos conceitos mais te capacitada, para se promover a transformação e
mencionados, sendo focalizada nos programas de ges sedimentação de novos referenciais de gestão edu
tão de sistemas de ensino, como também em progra cacional para que os sistemas de ensino e a escola
mas do Ministério de Educação e Desporto, como atendam às novas necessidades de formação social
condição para a realização de princípio constitucio a que cabe à escola responder, conforme anterior
nal e da legislação educacional12, de democratização mente apontado.
da gestão escolar. Isto porque a autonomia de ges A autonomia da gestão escolar evidencia-se co
tão da escola, a existência de recursos sob controle mo uma necessidade quando a sociedade pressiona
local, junto com a liderança pelo diretor e participa- 62 as instituições para que promovam mudanças ur
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sas mudanças. Mas, acima de tudo, adotando-se uma cidade de agir independentemenh do sistema. A ex
perspectiva política e formadora, para que se desen pressão desse entendimento foi observada pela auto
volva o sentido de cidadania e de responsabilidade ra em ocasiões diversas em que diretores escolares
social de todos, pelos destinos das organizações em negavam a autoridade de seu Secretário de Educação
que atuam e das quais são usuários. sobre várias questões, como, por exemplo, a de con
Tendo em vista a complexidade da questão, tor vocá-los para reunião na Secretaria de Educação -
na-se necessário, no entanto, que se reflita sobre o não compareceríam, sem antes consultar as bases
significado de autonomia e de autonomia da gestão para decidir se deveríam comparecer a essa reunião.
escolar e se explore as suas repercussões no âmbi Há diretores escolares que até mesmo boicotam orien
to da escola e sobre os processos educacionais, uma tações centrais e ações de monitoramento e avaliação,
vez que concepções diversas e até mesmo conflitan mesmo aquelas em que são demonstradas como estra
tes estão sendo expressas, gerando desentendimen tégias importantes para a própria gestão da escola e
to e confusão sobre a questão, de que resultam ações melhoria de seus processos educacionais.
menos eficazes, e até mesmo resultando em grandes Em decorrência de tais situações, pode-se depre
desgastes institucionais. Julga-se que se promoven ender a atribuição de conotações nem sempre ade
do um melhor entendimento da questão toma-se pos quadas à autonomia no âmbito do ensino, em vista
sível o melhor emprego de esforços de gestão e seus do que se torna conveniente analisá-la mais deta
resultados, superando-se a prática do exercício vazio lhadamente.
e descomprometido do discurso sobre a autonomia e
do seu entendimento como um valor em si mesmo, A aproximação entre tomada de decisão e ação não apenas
ou de distorções produzidas em associação a orien garante a maior adequação das decisões e efetividade das
tações corporativistas, em detrimento aos interesses 63 64 ações correspondentes, como também é condição de for
mação de sujeitos de seu destino e maturidade social.
sociais amplos.
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