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NUTRIÇÃO DE PEIXES

Angélica P. do Carmo Alves


Mestranda em Produção e Nutrição de Não Ruminantes

2018
Introdução
• A aquicultura é uma das atividades que mais cresce no mundo por
fornecer um produto de alto valor nutricional e de alto valor
comercial.

Fonte: Panorama da Aquicultura 2015


Introdução
• Elaboração de fórmulas balanceadas e nutricionalmente completas

• Requerimentos nutricionais dos peixes são semelhantes aos dos


animais terrestres.
Organismos aquáticos naturais
• Nutrientes
Rações preparadas
Hábitos alimentares e comportamentais de
peixes
• Conhecimento dos hábitos alimentares dos peixes determinam sua
necessidade nutricional.
Manejo Nutricional de Peixes
• Alimentação pode representar cerca de 60-80% dos custos de
produção.

• Alta exigência de proteína quando comparado as demais espécies.

• Manejo nutricional adequado ao sistema de cultivo e a espécie de


peixe = minimiza custos e aumenta a produtividade
Energia
Energia
• A energia não é uma molécula, é a capacidade que nosso corpo tem
para fazer força ou provocar deslocamentos.

• Peixes não necessitam de energia para a manutenção da temperatura


corporal (animais heterotérmicos)

• Energia para outras aAvidades: movimentos natatórios, formação de


novos tecidos e equilíbrio osmóAco.
Partição de energia
Energia bruta

Energia Fezes

Energia digestível

Energia brânquias e
energia urina

Incremento
calórico
Energia
Energia mantença
Metabolizável Energia líquida

Produção
Necessidade de energia
• Peixe vs outros animais.
Classe animal Exigência de energia (Kcal ED/Kg)
Aves 3100 a 3250
Suínos 3200 a 3300
Peixes onívoros 2600 a 2900
Peixes carnívoros 2900 a 3100
Fonte: Sperandio (2004)

Peixes necessitam de menos energia pois “gastam” menos com


locomoção (água), excreção e com incremento calórico.
Necessidade de energia
• Os peixes regulam o consumo de ração pela ingestão energé6ca.

• Dietas deficientes em energia aumento no consumo de


alimentos u6lização da proteína para gerar energia.

• Dietas com excesso de energia limitação no consumo de


proteínas e vitaminas acúmulo de gordura corporal.
Necessidade de energia

• Sob jejum, a energia é derivada das reservas corporais.

• É balanceada com a relação energia/proteína,

–A energia da dieta é dividida entre lipídeos e carboidratos.

Relação ideal: energia/proteína adequada


aos peixes é de 6 a 8 Kcal/g proteína
Nutrientes: fonte de energia
• Carboidratos
• Lipídeos
• Proteína

Preferência

Proteína -> Lipídeos -> Carboidratos


CARBOIDRATOS
CARBOIDRATOS

• Também chamados de sacarídeos, glicídios, glicoses, hidrato de carbono ou


açúcares.

• Dentre os alimentos energé:cos u:lizados em rações para peixes, os mais


comuns são o milho, o sorgo e o trigo.

• Fonte energé:ca de menor custo


• Quando comparado com:
• Lipídeos,
• Proteínas
Tipos de carboidratos
• Monossacarídeos:
• São a unidade básica dos carboidratos.
glicose
• Dissacarídeos:
• Duas moléculas de monossacarídeos ligadas por uma ligação
glicosídica.

lactose (glicose +galactose)


Tipos de carboidratos
• Polissacarídeos:
• São longas cadeias complexas de monossacarídeos ligados pela
ligação glicosídica.
• Mais de 10 moléculas de monossacarídeos
Funções dos CHO’s
• Estrutural
• celulose
• quitina
• Fonte de energia
• Alguns tecidos utilizam exclusivamente a glicose como fonte de
NADH e FADH2 (ATP).
• Reserva de energia e homeostase
• A glicose pode ser configurada em estruturas que apresentam
um alto valor energético (glicogênio)
Carboidrato na dieta de peixes
• Os principais carboidratos ingeridos:
• Monossacarídeos e Dissacarídeos:
• Glicose e frutose livre
• Maltose, isomaltose e sacarose
• Polissacarídeos:
• Amido e glicogênio,
• Celulose e hemicelulose.
Metabolismo de carboidratos em peixes
• Digestão, absorção e transporte
§ Digestão rela2vamente rápida.
§ Não apresentam α-amilase salivar
§ Maior parte da digestão ocorre no intes2no (lipases, proteases e
carboxilases)

• Carboxilases mais presentes em herbívoros = mais eficientes em degradar


CHO`s que carnívoros

• Peixes herbívoros possuem bactérias intes2nais que auxiliam as enzimas na


digestão
Limitantes na u+lização de CHO`s

Suas estruturas, digestão e absorção apresentam grandes


complexidades e limitantes em peixes;

• Peixes não apresentam α-amilase salivar


• Deficiência de dextrinase e isomaltase
• SGLT pouco eficiente
• Tamanho do trato digestório
Funções das fibras
• Solúveis: pectina, goma, mucilagem Menor viscosidade
Menor tx passagem
• Aglutinante do bolo fecal
• Permite uma consistência mais rígida dos alimentos no intestino.
• Retenção da glicose e lipídeos,
• Interagem com monossacarídeos, proteínas e lipídeos, reduzindo a
biodisponibilidade desses nutrientes.

• Insolúveis: lignina, celulose, hemicelulose


• Aumenta o volume do bolo fecal,
Maior viscosidade
• Estimula o funcionamento intestinal, Maior tx passagem
• Melhora a motilidade do trato digestório.
• Melhora o trânsito intestinal.
LIPÍDIOS
Lipídios
• Principais cons*tuintes corporais
• Nutrientes insolúveis em água
Funções dos Lipídios
1. Estrutural
Componente da membrana celular,
2. Reserva de energia
Tecido adiposo,
3. Isolante térmico do metabolismo
Epidermes e tecido adiposo.
4. Geração de energia metabólica pela β – oxidação
5. Síntese dos eicosanóides.
Sistema imune,
Sistema inflamatório,
Pressão arterial, etc…
Ácidos Graxos
• Os ácidos graxos são os principais cons1tuintes lipídicos.

• Fazem parte de todas as estruturas simples e composta dos lipídios


presentes no alimento.

• Possui de 4 a 24 carbonos, podendo ser divididos em:


• cadeias curta (4-6)
• cadeias médias (8-12)
• cadeias longas (12 ou +)

• Além do tamanho da cadeia de carbono, os ácidos graxos se diferenciam


pelo número e pela posição das duplas ligações.
Exigência nutricional

• A exigência de lipídios na dieta e o perfil lipídico dependem da:

• Espécie

• Hábito alimentar

• Temperatura
Espécie

• U$lização de energia
– Necessidade do metabolismo
– Aproveitamento dos carboidratos.

• Capacidade de deposição de gordura

• A$vidade das enzimas hepá$cas, – Elongase e dessaturase.


Hábito Alimentar
• Carnívoro, herbívoro, onívoro?

– Relacionado com a capacidade de aproveitamento dos carboidratos

• A disponibilidade de alimento influencia na capacidade das elongases


e desaturases, definindo desta forma as exigências nutricionais.
Temperatura
• Peixes de regiões temperadas requerem maior concentração de
energia na dieta quando comparado com peixes tropicais.

• Peixes de regiões temperadas necessitam de um perfil mais rico em


ácidos graxos poliinsaturados do que os peixes tropicais.
– Para manter mais estável a temperatura corporal,
– Para não ter o tecido adiposo congelado,
– Para manter a integridade e elas>cidade dos tecidos
(membrana celular).
PROTEÍNA
Proteínas:
• Compostos orgânicos formados por diferentes
sequências de aminoácidos ligados por uma ligações
pep8dicas.
Aminoácidos
• Aminoácidos:
• Molécula com um esqueleto de carbono que
apresenta um grupo carboxílico e um grupo
amino funcional.
Proteínas:
• As proteínas podem diferenciar quanto ao tamanho e
composição de aminoácidos:

• Tamanho:
• Uma proteína pode facilmente conter mais de
100 aminoácidos em sua estrutura.
• Composição:
• Pode haver até 20 diferentes aminoácidos em
uma proteína.
Proteína
• É o nutriente que representa o maior custo presente na
dieta.

• Entre 22 a 56% de proteína bruta (PB)


Importância das proteínas na nutrição de
peixes
• As proteínas presentes na dieta estão relacionadas a
quase todas as funções de um organismo.

Proteína da dieta
Metabolismo

Consumo
Crescimento

Digestão e absorção
Desenvolvimento
Função no metabolismo:
– Energé3ca:
• Estrutural: • Síntese e degradação
• Colágeno e tecido conec3vo, dos aas.

• Hormonal: – Enzimá3ca:
• Insulina
• Lipases,
• Serina-proteases.
• Defesa:
• an3corpos
– Transportadora:
• Hemoglobina,
• Mioglobina.
Função no crescimento
• Formação de tecidos e fibras:
• Crescimento,
• Ganho de peso.

• As proteínas são precursoras de hormônios relacionados


com o crescimento animal:
• Hormônio do crescimento (GH),
• Hormônios da Areóide (T3 e T4),
• Insulina, entre outros.

• Fonte de energéAca.
Função no desenvolvimento
• Desenvolvimento de células, tecidos e órgãos :
• As proteínas iniciam a maturação dos ovos para a reprodução
em peixes:
• FSH e LH.
ü São responsáveis pelo esBmulo da
diferenciação celular,
ü Precursoras de receptores de
membrana celular,
ü Estão relacionadas com a expressão
gênica.
Exigência proteica
• A maior necessidade de proteína na dieta de peixes esta relaciona com a
facilidade do metabolismo animal em desaminar os aminoácidos.

• A desaminação é o primeiro passo para:


• Transformação de proteínas,
• Síntese de aminoácidos,
• U=lização de aminoácidos como fonte de energia.
Requerimento nutricional de proteína bruta na dieta de
diferentes espécies

Espécies PB (%)
Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) 32
Pacu (Piaractus mesopotamicus) 26
Tambaqui (Colossoma macropomum) 26
Pintado (Pseudophastytomus coruscan) 42
Channel Catfish (Ictalurus punctatus) 32
truta-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) 38
carpa-comum (Cyprinus carpio) 35
FONTE: NRC, 1993 e NRFFA 2002.
Concentrações de PB
Juvenil e
Hábito alimentar Alevinos
adulto

Carnívoros 50 – 55% 40 – 45%

Onívoros 32 – 38% 28 – 36%

Herbívoros 30 – 36% 22 – 32%

É importante salientar que essas concentrações são “grosseiras” e


devem ser utilizadas somente quando não houver trabalhos realizados
com a espécie.
Principais fontes proteicas
• Farinha de peixe:
• Altamente palatável para espécies carnívoras e onívoras.
• Nacional
• Baixa qualidade e valor proteico muito variável.
• Custo acessível.
• Importada
• Alta qualidade, valor proteico maior e mais estável.
• Alto custo.
Digestão das proteínas
Quebra da estrutura complexa de uma proteína,
disponibilizando aminoácidos, os quais, são possíveis de
serem absorvidos e metabolizado.
BOCA à ESTÔMAGO à INTESTINO à FEZES

Fezes Proteínas não digeridas ou aminoácidos não absorvidos


Estômago - Intestino

Estômago Intestino
Quebra das Quebra dos peptídeos Absorção
(Enzimas) proteínas em em aminoácidos e
peptídeos peptídeos menores
Proteína ideal
Proteína composta por um perfil de aa’s capaz de
prover sem excesso ou falta, os requerimentos de todos os
aa’s necessários para a manutenção animal e a máxima
deposição protéica, proporcionando a absorção completa
dos aa’s pelas células epiteliais sem disputa pelos sítios de
absorção.
Principais fontes proteicas
• Farinha de minhoca:
• Altamente proteica e palatável.
• Custo não viável para a maioria
das produções.

• Farinha de vísceras e/ou resíduos:


• Qualidade da farinha depende do
processamento.
Principais fontes proteicas

• Farelo de soja:
• Alta qualidade (proteína).
• Necessidade de pequenos reajustes no perfil de
aminoácidos.
• É necessário realizar um tratamento térmico.
• Baixo custo (quando comparado com outras fontes).
• Pouco palatável para espécies carnívoras.
Vitaminas e Minerais
Vitaminas
• Compostos orgânicos, necessários em pequenas quantidades e que
atuam como catalisadores metabólicos.

• Estão envolvidas em diversas reações metabólicas, sendo


indispensáveis ao crescimento, reprodução e processos fisiológicos
dos peixes.
Vitamina A
Fontes
• Carotenoides (vegetal) e retinol esterificados (animal)
• Adicionado as rações na forma de acetato, palmitato
• 90% é encontrada no fígado
• Plasma, olhos, gordura e aparelho reprodutivo
Deficiência
• Redução no crescimento, degeneração da retina, anemia
Excesso
• Mortalidade, redução no crescimento e distúrbios no
desenvolvimento (deformações ósseas).
Vitamina D
• Ergocalciferol (D2): vegetais
• Colecalciferol (D3): animais
• Hidroxiladas no fígado

Mobilização, transporte, absorção e uso do cálcio e fósforo

Peixes não são capazes de sintetizar mas de armazenar (D3): fonte de vit. D para
humanos

Fontes
• Dieta/Suplementos vitamínicos
• Alimentos naturais
Tocoferol (vitamina E)

Fontes
• Dietas – óleos vegetais, 0gado, gema de ovo, leveduras,
gérmen ou farelo de glúten.
• Suplementos comerciais – ésteres de acetato e succinato
(forma esterificada).

Absorção e transporte (tocoferol livre)


• IntesDno
• Quilomícrons / LDL, VLDL, HDL
Vitamina C (ácido ascórbico)

• Antioxidante metabólico, exógeno:


• De fácil manipulação, e
• De rápida resposta.
• Grande instabilidade molecular: facilmente oxidada
• Comercializado na sua forma protegida.
• Zinco,
• Cobre,
• Ácido palmítico, e
• Fósforo (ascorbil polifosfato).
Ácido ascórbico (vitamina C)
• Metabolismo de energia:

Papel da vitamina C no metabolismo de energia e na formação de


colágeno:
– Fundamental na larvicultura:
1. Rápido crescimento com um desenvolvimento normal,
2. Em peixes carnívoros ocorre uma alta taxa de
canibalismo.
O rápido desenvolvimento de larvas de peixe carnívoro
reduz o canibalismo e melhora a sobrevivência.
Tocoferol x ác. ascórbico
• Deficiência das duas vitaminas:
Minerais
• Os minerais são elementos inorgânicos importantes para a
manutenção dos tecidos vitais por participarem de diversas reações
metabólicas, constituintes dos tecidos entre outras funções.

• Diferente de outros animais os peixes absorvem minerais da água,


mas no entanto em cativeiro necessitam de suplementação dietética
para atender as exigências da espécie.
Minerais

• Constituintes das estruturas esqueléticas


• Regulam o equilíbrio ácido/básico e a pressão osmótica,
• Atuam como ativadores de enzimas, cofatores enzimáticos.

• A suplementação potencializa a ação de algumas vitaminas e maximiza o


crescimento dos animais. Interação entre minerais e vit.

• Excesso ou deficiência podem provocar alterações patológicas específicas


para cada elemento.
Minerais
• São divididos em macronutrientes e elementos traços:

Macrominerais Elementos traços


Cálcio, Ferro, Flúor,
Fósforo, Molibidênio,
Cobre,
Magnésio, Alumínio,
Zinco,
Sódio, Níquel,
Manganês,
Potássio, Vanádio,
Selênio,
Cloro, Arsênico,
Iodo,
Enxofre. Crômio/cromo
Cobalto, .

12 minerais exigidos
Cálcio e Fósforo
• São minerais importantes;
• No metabolismo energético, e para a formação da estrutura óssea
(mineralização óssea):
• Em peixes, os ossos são compostos por:
• 37% de cálcio e 16% de fósforo.
• O manejo nutricional e alimentar corrente garante o crescimento dos
animais em condições de saúde adequadas, permitindoque os peixes
resistam âs condições impostas pelo sistema de criação, dificultando
o aparecimento de doenças.

• O fornecimento adequado de rações aos peixes, tanto pela escolha


apropriada da ração, quanto pela estratégia de alimentação,
contribuem pela redução no desperdício de alimento, diminuindo a
poluição ambiental e o custo de produção.
Obrigada!
angelica.ufla@hotmail.com

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