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FORMAÇÃO CÍVICA

A Formação Cívica, segundo as novas orientações, visa o desenvolvimento da


consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação
de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeada-
mente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação,
individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade.
Será, assim, o espaço privilegiado para a educação para a cidadania, fim último de
todo o currículo e da própria passagem pela escola. Para essa formação concorre não
só toda a vivência e relações que se estabelecem na escola, como as aprendizagens
feitas nas várias disciplinas ou áreas curriculares.
De acordo com estas orientações, parece afastada a ideia de uma formação cívica,
fundamentalmente académica, baseada numa disciplina, no sentido estrito e tradi-
cional do termo. Parece posta de lado a perspectiva de ensino de uns quantos princí-
pios de civilidade, assente num programa geral, em aulas expositivas e, exclusiva-
mente, em livros e fichas de trabalho, em favor de uma perspectiva mais aberta de
formação, de aprendizagem pela vivência e por experiências de vida organizadas
“civicamente” na escola.
A perspectiva parece estar próxima, se não daquilo que tem sido a prática domi-
nante das escolas portuguesas, pelo menos do que tem sido uma forte tendência
teórica em Portugal, desde o início do século XX.
António Sérgio defendia, em 1915 (reeditado em 1954 e 1984):

“(...) quem se não contente com fogos de vista há-de pegar no educando e obrigá-lo a
agir, proporcionando-lhe ocasiões de actividade, já que a actividade unicamente pela
actividade se estimula e se conduz. Nem exortações, nem ciências, nem poesias, nem
doutrinas nos dispõem a ser activos: só por meio de acções actuais nos preparamos para
acções futuras... (p. 35)

(...) se a escola lhe não fornece condições para genuínos actos sociais, semelhantes às
que depois, adulto, encontrará, a doutrina moral resulta oca, verbalista, cadavérica e,
pelo tanto, ineficaz; é de necessidade absoluta que o aluno se habitue a cooperar pelo
bem de uma comunidade, e que a escola reproduza o mais possível a estrutura da vida
social adulta. (...) Ou eu falei algaravia ou se vos vai clareando o objectivo do sistema,
que é afazer a rapaziada – na idade em que os hábitos se formam e com os hábito o
carácter – às responsabilidades do civismo. Não é esta uma ciência teórica, mas uma arte
de acção, uma arte prática; tão disparatado se me antolha o querer incuti-lo só com
livros, apotegmas, prelecções, como ensinar por esse modo o jogo do pau, a dactilografia
ou a guitarra (...) (p. 41)

(...) Não vos canseis com os problemas de compêndios e programas: cumpre revolucionar
os próprios métodos, o ambiente social em que a criança vive, apelar para as acções e
para os hábitos pelas acções instituídos.” (p. 84)
A. Sérgio, 1984

Poder-se-ão, assim, considerar três níveis complementares de abordagem desta


“área” na escola:
– um primeiro nível surge associado ao tratamento dos conteúdos das dife-
rentes áreas curriculares, incluindo duas vertentes: por um lado, toda a
REORGANIZAÇÃO CURRICULAR DO ENSINO BÁSICO / ÁREAS CURRICULARES NÃO DISCIPLINARES

aprendizagem deve ser considerada, em si mesma, um contributo para a formação


do cidadão, seja ela mais instrumental ou conceptual; por outro, variadíssimos
conteúdos e momentos de aprendizagem são susceptíveis de se tornar uma
oportunidade para uma abordagem às questões das normas, dos valores e das
atitudes;
– um segundo nível, pelo qual passa de uma forma muito acutilante a formação
cívica na escola, diz respeito às relações interpessoais que se estabelecem
na própria escola: as relações entre adultos, entre adultos e crianças e entre as
próprias crianças; elas constituem modelos essenciais na formação do aluno e
do cidadão; devem, pois, ser pensadas e cuidadas como elemento fundamental
de formação cívica, de forma coerente com os princípios que a escola adopte
neste domínio;
– finalmente, e porque a convivência democrática na escola, a participação cívica
e o exercício da cidadania exigem determinação e programação, devem conside-
rar-se actividades próprias para esse espaço/tempo de “formação cívica”,
ou seja, actividades com o fim específico de promover a intervenção e aprendi-
zagem cívica dos alunos.

Na perspectiva dessas actividades específicas para promover a formação cívica


dos alunos, apresenta-se de seguida, um conjunto de sugestões, organizadas em
três domínios:
– Debate de problemas e questões do mundo actual
– Participação na vida da escola
– Participação na vida da comunidade

Actividades com o fim de promover a formação cívica dos alunos

❏ Debate de problemas e questões do mundo actual


Realizados em grupo, na turma ou em grupos alargados (assembleias),
a partir de:

■ Problemas surgidos na turma e/ou escola

■ Notícias trazidas pelos alunos sobre factos vividos

■ Notícias trazidas pelos alunos a partir dos meios de comunicação social

■ Textos lidos; textos escolhidos para o efeito

■ Actividades e projectos realizados


❏ Participação na vida da escola
❏ Participação dos alunos na planificação,
■ Reuniões/Assembleias de sala organização, realização e avaliação do tra-
balho da sala ou de iniciativas da escola
❏ Discussão/regulação de problemas de
■ Reuniões/Assembleias de disciplina
escola (de ano ou grupos de ❏ Debates
turmas) ❏ Lançamento de campanhas
❏ (…)
❏ Manutenção dos jardins
❏ Tratamento de animais
■ Distribuição de responsabilida-
❏ Decoração da escola
des e tarefas ao nível da turma
❏ Jornal/Jornal de parede
e/ou escola
❏ Cantina
❏ (…)
❏ Jornais; jornais de parede
■ Mecanismos de comunicação e ❏ Placards
troca de saberes ❏ Apresentações de trabalhos entre salas
❏ Conferências
❏ Limpeza (espaços inteiros e extensivos)
❏ Arranjo
❏ Decoração
■ Campanhas internas à escola ❏ Arborização
❏ Amizade
❏ Solidariedade
❏ (…)

❏ Participação na vida da comunidade


(actividades de curta ou longa duração – permanentes ou esporádicas)
❏ Património natural e construído
❏ Tradições (usos e costumes)
❏ Actividades económicas
■ Conhecimento do meio local
❏ Profissões
❏ Qualidade do ambiente
❏ (…)
❏ Saúde
■ Participação em campanhas de insti- ❏ Alimentação
tuições locais ❏ Ambiente
❏ Solidariedade
❏ (…)
❏ Festas
■ Realizações conjuntas ❏ Comemorações
❏ Feiras
❏ (…)
■ Apoio/colaboração regular com insti- ❏ Apoio de creche, lar da 3.a idade
tuições da comunidade ❏ Jornal/rádio local
❏ (…)

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